sexta-feira, 15 de outubro de 2010

VOTO NULO

  

Fui obrigado a votar, contra minha vontade. Contra a minha vontade fui obrigado a aceitar candidatos a diversos cargos políticos, "vagas" no corpo político do país; um corpo deformado, hiperdesenvolvido, mistura de Godzilla com o homem-elefante e seu capuz, escondendo a cara.

Por falar em país, que país é esse? Um Brasil que dobrou sua população em poucas décadas, uma população, desculpem-me, extremamente "popular", onde a elite - não estou falando de dinheiro - mingua e a outra parte, que alguém já chamou de "plebe ignara", se multiplica com a energia descontrolada de um povo em formação.

São milhões, cheios de duplas sertanejas e falando um português simplificado ao máximo; crédulos por natureza, esperando a redenção que eliminará os que não cabem em seus horizontes atrofiados - essa é, inclusive, a verdadeira causa da proliferação de tanto culto evangélico: o Dia da Ira, em que os exércitos do "senhor dos exércitos" varrerão da face da terra os que lêem, os que não gostam de duplas sertanejas, os que se vestem melhor, não pelo preço das roupas, mas pelo simples fato de que as roupas caem bem em seus corpos, seja que roupa for.

Tive que entrar na fila, entrar na pequena cabine e escolher alguns candidatos, surgidos não se sabe de onde e que, se dependessem de mim, não seriam candidatos a coisa nenhuma. 

Fico pasmo com a docilidade, às vezes apenas resignada, de pessoas em pé, acreditando em seus eleitos ainda não eleitos e, o que é pior, acreditando em seu próprio tino eleitoral. Porque o povo elege indiscriminadamente gente que seria barrada em qualquer baile de debutante ou portaria de clube; gente que só de andar por alguma rua à noite acaba provocando o latido de todos os cachorros do bairro.

Esses eleitos se sentarão nas cadeiras das diversas câmaras, senado, e gastarão mais de noventa por cento do seu tempo de mandato na manutenção desse mesmo mandato.

Porque essa é a divisão do tempo do político, que nenhuma pesquisa mostra: noventa por cento do seu tempo é dedicado à manutenção do poder. Tiramos mais cinco por cento para a vida pessoal e, na maioria dos casos, o que sobra é investido na confecção do "pé-de-meia", porque o futuro é incerto, meu, e Deus não dá asa a cobra, de forma que, quando a bicha ganha um belo par de asas, ela não pára de voar.

Quem realmente acredita que um sujeito, que disputa quase a tapa uma eleição, está nessa porque deseja servir o país da melhor maneira possível? Um ou outro... tá bem, aquela mulher expulsa do partido do governo; mas ali o que sobra em idealismo falta em discernimento, e falta muito. Tá bem, o Robin Hood na sua verde floresta... Robin já foi malvado... E o passado, será que passou mesmo? Poderia, talvez, citar mais alguns exemplos, antigos e atuais, mas não vem ao caso. O que vem ao caso é o fato de que não tive, tenho ou terei candidatos e, no entanto, fui obrigado a comparecer às urnas, como todo mundo.

Meu candidato não existe mas, se existisse, ele montaria sua plataforma sobre projetos como: o de aumentar drasticamente o salário dos professores do ensino fundamental e exigir proficiência à altura, seja por meio de concursos, seja por meio de curso superior, o que for. Para isso basta diminuir, também drasticamente, o salário dos políticos. 

A ideia é buscar, formar, pescar todo possível elemento que venha tomar parte no desenvolvimento de uma elite cultural. A idéia é aumentar o número de pessoas de elite ou na elite. A miséria continuará sendo tratada com todos os paliativos costumeiros, caridosos, conhecidos e amplamente testados, mas sua imobilidade social não deve prejudicar a formação de uma elite cultural que, diga-se de passagem, é a única coisa que se move e promove algum movimento num país.

Não aceito muito bem a divisão de uma sociedade em termos de classes sociais. Isso me soa um dogma meio arcaico precisando de ar puro, mas sou obrigado, pela tradição, a usar a expressão classe média. Mesmo assim quero deixar clara minha simplória definição de classe média: são as pessoas que pagam as contas. Pagam as contas do país, o salário dos políticos, o salário de seus empregados, todos os impostos, todas as taxas, todos os seguros obrigatórios, todas as contas de água, luz, telefone, o escambau. Meu candidato vai ser aquele que proteger, amparar, facilitar as coisas ao máximo para a classe média. 

A outra classe já têm protetores, pastores, teóricos, aduladores e adulações saindo pelo ladrão (como diria o Leão da Montanha, do velho desenho animado: "saída despistada pela esqueeerda..."). Há ainda uma outra classe, mais acima, mas essa não precisa de nada. Evidentemente agora estou falando de classes econômicas, mas é só.

Meu candidato ia proibir outras atividades paralelas aos cargos públicos. Pastores, militares, artistas, médicos ou sei lá o quê, recolham suas bíblias, patentes, violões e blocos de recibos - ou melhor: antes de assumir, provem a própria probidade, ou estão sumariamente fora.

Meu candidato não será veículo de um paternalismo governamental. Isso é difícil. A idéia é muito arraigada popularmente, é idéia chave nas esquerdas, que são crédulas e acreditam num paternalismo geral: a idéia é que algo, alguém(s), alguma coisa tem o dever de cuidar das pessoas.

O governo é a instituição que administrará toda a vida econômica e, por extensão, a vida social de um povo. Administrar é um eufemismo para controlar e os mecanismos de controle sempre tendem à brutalidade burocrática, à brutalidade executiva e à simplificação, também brutal, do sistema jurídico, do código legal que se transforma rapidamente em mecanismo repressor. E isso não é uma especulação; é o que aconteceu em vários lugares e em várias ocasiões. Chama-se História da Administração das Utopias Políticas

Um povo bem cuidado é um povo resolvido, dizem. E um povo, para honrar o nome mítico de "o povo", evidentemente tem que ser formado por pessoas muito semelhantes, pessoas cujas necessidades são básicas e iguais, cujos desejos o são igualmente e, o mais importante: pessoas que pensam igual. Se elas não pensam por igual, faz-se necessário, mais cedo ou mais tarde, corrigir a nota dissonante. Eliminar as divergências sempre foi a saída clássica.

A esquerda acredita em estatísticas e lida só com números gigantescos; o discurso militante que manipula os números da miséria e do desemprego, da insatisfação e da penúria, é de uma arrogância extrema, ainda que quase sempre invisível porque, aparentemente, se baseia num sentimento humanitário.

Alguém realmente acredita que se possa manipular essa realidade (a vida, ou chame como quiser) que se espelha em números na casa dos milhões? Alguém acha que qualquer órgão, instituição, poder público, ou o que for, pode resolver, mesmo por meio do melhor planejamento possível, um quebra-cabeça com milhões de peças? 

Solucionar essa coisa definida como problema social - mas que não é um problema social, é mais que isso - e cuja magnitude é muito superior aos números impressos que a representam? Alguém acredita mesmo que alguém tenha acesso, mesmo teórico, às causas reais da miséria? Se isso não é arrogância pura e simples, é arrogância e má fé.

E ainda: meu candidato iria acabar com o voto obrigatório. Não gosto de ser obrigado a nada, muito menos a escolher alguma coisa no lixo. E a elite moral desse país, ou seja, as pessoas de bem e com bons sentimentos que, felizmente, são numerosas, poderiam tentar bloquear essa malta de aventureiros que aspira ao poder, obrigado.



Fonte:
Digestivo Cultural
Nota do Editor
Leia também "Por que votei nulo".

Guga Schultze
Belo Horizonte, 12/10/2006
 
Sejam felizes todos os seres. 
Vivam em paz todos os seres. Sejam abençoados todos os seres.

CUBISMO INICIA ARTE CONTEMPORÂNEA



CUBISMO: 
O VERDADEIRO INICIO DA ARTE CONTEMPORÂNEA

De fato, do cubismo nasceu a arte geométrico-construtiva, uma vez que nele se inspirou Piet Mondrian para criar o neoplasticismo, de que derivaria a arte concreta, a arte neoconcreta brasileira e a optical art; o papier collé, introduzido nos quadros cubistas por Braque e Picasso, estão na origem das colagens de Kurt Schwitters que, mais tarde, com seus merzbilder, criaria as primeiras ‘instalações’; também, através de Picabia e Duchamp, que aderiram ao cubismo, dá origem ao dadaísmo e ao futurismo, movimentos que tiveram grande influência do desenrolar da arte moderna, principalmente o primeiro, inspirador da arte pop americana. 

 Georges  Braque
Georges Braque


Georges Braque
Georges Braque

O cubismo influiu sobre as vanguardas russas do começo do século, desdobrando-se ali no suprematismo, de Malevitch, no construtivismo, Pevsner e Gabo, bem como nos contra relevos de Tatlin e Rodchenko. Deve-se acrescentar ainda a antecipação, ali verificada, da arte objeto, uso de novos materiais e a reciclagem dos chamados objetos do cotidiano, de que são exemplos as ‘esculturas’ (bandolins, guitarras, etc.) construídas por Picasso por volta de 1911 e 12.

 Picasso - músicos


 Braque - Guitarrra


Em face de tão raro fenômeno, cabe perguntar por que teve o cubismo papel tão decisivo e fecundador a arte do século 20. A resposta está obviamente na natureza desse movimento, nos fatores que o engendraram, na nova atitude em face a arte, adotada pelos seus dois protagonistas, o espanhol Pablo Picasso e o francês Georges Braque.


 Picasso 
Nu na floresta

Picasso
O beijo

Picasso -Arlequim

 Picasso
Nu lilás

Picasso - Nú azul

Picasso  - Beijo
De nenhum movimento artístico é possível dizer em que data exata nasceu, uma vez que se trata de um processo, de uma síntese de fatores convergentes que vão aos poucos ganhando corpo e se definindo. Com o cubismo não foi diferente. Críticos e historiadores, na sua maioria, admitem que dois fatores mais importantes que determinaram o nascimento do cubismo foram, de um lado, a influência de Cézanne sobre Braque e, de outro, a descoberta da escultura negra por Picasso. Naturalmente, a ação desses fatores foi estimulada esgotamento da linguagem impressionista. 

Assim, o sentido de construção formal, comum à pintura de Cézanne e à escultura negra, forneceu aos jovens Braque e Picasso as armas necessárias para agirem à linguagem invertebrada do impressionismo agonizante. Deve admitir, com Guillaume Apollinaire, que o fauvismo de André Derain e Henri Matisse já havia aberto o caminho para uma arte mais construída e menos sujeita à imitação do mundo exterior. 

O pontilhismo de Seurat, por sua objetividade construtiva, também de algum modo preparou o terreno para a mudança futura. Mas nem um nem outro tocava no cerne da questão que deflagrou a reviravolta estética promovida pelo cubismo.

Fonte:

www.historiadaarte.com.br©
 Autoras: Simone R. Martins e Margaret H. Imbroisi
 Desing: Márcio Lopes
 
Sejam felizes todos os seres. 
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

W. A. Mozart - Symphony № 34, C-dur, K338

FelizFeliz dia das Crianças !Feliz dia das Crianças ! dia das Crianças !

Feliz dia das Crianças !

OS MILAGRES DA MEDITAÇÃO " BODISATVA"


A meditação e seus pequenos milagres

zazen

A meditação é uma prática, um experimentar e sentir o nosso lado interno. 
George Braque

Esta prática consiste essencialmente em uma redução de ritmo do nosso corpo e da nossa mente. Ao sentar-se confortavelmente, com a espinha ereta, relaxado e vigilante, focando a entrada e saída do ar das narinas, já produzimos um pequeno milagre: corpo estático, talvez pela primeira vez em anos, dando-nos chance de respirar tranquilamente, sem outro objetivo que não respirar e observar a respiração.

Quando os pensamentos e emoções vierem, apenas observe, sem se deixar levar por eles, aguardando que passem como nuvens no céu, e voltando a observar a respiração tantas vezes quantas forem necessárias. Esta é uma primeira técnica e não tem a nada a ver com perfeição: basta voltar à respiração tantas vezes quanto preciso. Alguns minutos pela manhã e alguns minutos à noite, seu bem estar vai determinar a extensão do tempo.

O segundo milagre é termos criado um observador interno, um artifício, que de agora em diante mantém seus pensamentos e emoções no seu radar interno, como que projetados em uma tela, tirando deles a força que possam ter, e ajudando-o a controlar seus impulsos, notadamente aqueles que causam dano a você e aos outros.

Com a prática, este controle não terá a sensação de privação de algo, mas a sensação de ter criado um espaço, um pouco mais de liberdade frente aos impulsos que antes nos controlavam de forma danosa. 

Este é o terceiro milagre.
O quarto milagre é que todos os seus padrões repetitivos de pensamento e ação ficarão a cada dia mais claros, e sua própria força vital lhe mostrará o caminho para se libertar deles.

Se você combinar esta prática com a criação de relações cordiais e respeitosas, o resultado é uma vida mais serena e alegre, e, com o tempo, uma visão mais precisa da realidade, que o ajude a reduzir o sofrimento nesta vida. Quando o momento chegar, aparecerá um professor interno, que o levará a procurar um professor externo, cuidadoso e compassivo, para ajudá-lo a explorar este lindo e poderoso caminho.
 Harmonia das esferas
 Fonte:
Retiro de Meditação Shamatha. Saiba mais…

Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

SABERDORIA E COMPAIXÃO

 


Alguém já disse que não controlamos o mundo, mas que podemos controlar nossa resposta. Quanto à primeira parte desta frase, imagino que não leve muito tempo e esforço para entender que nosso controle do mundo é realmente limitado, embora em nosso dia a dia possamos operar crendo que este controle é amplo e possível, sempre. 

Se pudéssemos olhar esta questão com cuidado, talvez nos déssemos conta da exata e precisa maneira em que este controle, de modo geral muito limitado, é possível, e abriríamos mão de tentar controlar além deste ponto, evitando sofrimento a nós e ao outro. Poderiamos quem sabe levar a vida de maneira mais leve, sem dar tanta solidez às situações do dia a dia, entendendo-as como de fato são, efêmeras como fumaça e sonhos, insubstanciais. 

Quem sabe pudéssemos aprender a rir um pouco de nós mesmos, do ridículo a que não raro nos expomos, da perda de dignidade que não raro nos impomos.

Na segunda parte da frase, a situação não é muito diferente. Embora à primeira vista nossa resposta seja um ato soberano e livre, temos respostas mais ou menos programadas, verdadeiros padrões cristalizados, difíceis de mudar, verdadeiras prisões sem grades; além disso, nós as usamos de modo geral inconscientemente, impensadamente, sem dar tempo para refletir como o gesto ou a palavra podem causar danos a nós e ao outro. Pode ser que, aqui também, um olhar cuidadoso começasse a nos dar um pouco mais de precisão acerca do que é possível fazer para evitar sofrimento desnecessário, retardando respostas, descobrindo que sempre há alternativas, para fazermos melhores escolhas.

Esse olhar cuidadoso deveria ser parte de um verdadeiro currículo, em casa, na escola, na igreja. William James diz que isto seria a educação por excelência. Poderíamos chamá-lo de “a arte da atenção plena”, ou de como transformar sua vida em uma obra de arte, mais leve, serena e amorosa.

É um olhar atento, introspectivo, que pode ser aprendido e treinado para, quem sabe pela primeira vez, olharmos para dentro, e entender que o mundo em que vamos viver, a cada segundo, está também determinado por nossa visão de mundo, não raro equivocada, e por nossas respostas.
Basta alguma fé, um pouco de esforço, um mínimo de disciplina, um amigo cuidadoso para nos ajudar nos primeiros passos, e pode ocorrer que, mesmo nas técnicas mais introdutórias de meditação, alguns resultados possam ser colhidos, e dar início a um ciclo virtuoso, que mesmo com altos e baixos, acaba por se instalar definitivamente.

Com a mente sob algum controle, podemos nos familiarizar cada vez mais com nossos automatismos danosos e com nossas visões distorcidas. Aprendemos que temos uma tremenda liberdade para escolher o que vamos fazer, o que vamos sentir e o que vamos pensar. Se juntarmos a isso um pouco de cuidado com o outro, uma certa clareza de que nossos sofrimentos são universais, nossa natureza mais essencial será acessada, o humano mais sublime será desobstruído. E certamente brotará. Como diz o Lama Samten, a lucidez se manifestará como um destemor, uma não aflição.
Carlos Ernesto de Oliveira

Fonte:
De:
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  3. A meditação e seus pequenos milagres
Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

NOSSA SENHORA DO BRASIL




 
Nossa Senhora do Brasil

Minha interpretação da Composição de  Bruno / Felipe

Quem não crer em nada?

É na força da oração
É na prova do perdão
A salvação da hora

(Refrão)
Me cobre com seu manto
Enxuga o meu pranto
Perdoa , não sei rezar

Estenda-nos sua mão
Abre nosso coração
Ensina -nos  amar

Estenda o seu manto
De paz e acalanto
  De amor  puro , verdadeiro

Bendita a graça 
De abrir os corações
Deste povo brasileiro

 Estrela,
Fonte de amor e luz, 
Nos conduz na longa estrada,
Fé , alimenta alma dá poder e calma

Quem não crer em nada?

Vem na força da oração
Prova do belo perdão
Seu manto  de luz  anil

Salvação a toda hora
Na lágrima de Alegria
- Nossa Senhora nos guia.

Estenda o seu manto
De paz e acalanto
  De amor  puro ,verdadeiro

Bendito seja , hoje e sempre
Este povo brasileiro
Viva!
 VIVA !!!
Sejam felizes todos os seres. 
Vivam em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres.

OLAVO BILAC



Biografia
Um dos mais notáveis poetas brasileiros, prosador exímio e orador primoroso, nasceu e morreu no Rio de Janeiro, respectivamente, em 1865 e 1918. Aluno da Faculdade de Medicina até o quinto ano, depois de brilhante concurso que ali fez para interno, e apesar do auspicioso futuro que todos lhe auguravam, desistiu do curso médico para tentar o de direito em São Paulo. Atraído, porém, pela vida fluminense, voltou ao Rio estreiando, com grande êxito, na imprensa literária.

A irradiação do seu nome foi rápida, e fulgurou com a publicação de Poesias (incluindo Panóplias, Via Láctea e Sarças de Fogo - 1888). Foi um dos mais ardorosos propagandistas da abolição, ligando-se estreitamente a José do Patrocínio. Em 1900 partiu para a Europa como correspondente da publicação Cidade do Rio. Daí em diante, raro era o ano em que não visitava Paris.

Exerceu vários cargos públicos no estado do Rio de Janeiro e na antiga Guanabara, tendo sido inspetor escolar, secretário do Congresso Panamericano e fundador da Agência Americana. Foi um dos fundadores da Liga da Defesa Nacional (da qual foi secretário geral), tendo lutado pelo serviço militar obrigatório, que considerava uma foram de combate ao analfabetismo. Conferencista de platéias elegantes, sua obra tornou-se leitura obrigatória, sendo declamado nos círculos literários.

Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, na cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.
Considerado o maior nome parnasiano brasileiro, foi bastante influenciado pelos poetas franceses. Suas poesias revelam uma grande emoção, nada típica dos parnasianos, um certo erotismo e influência marcante da poesia portuguesa dos séculos XVI e XVII. A correção da linguagem, o rigor da forma e a espontaneidade são as principais características de seus versos.

Além de Poesias também publicou Crônicas e Novelas, Conferências Literárias, Ironia e Piedade, Bocage, Crítica e Fantasia, e, em colaboração, Contos Pátrios (infantil), Livro de Leitura, Livro de Composição, Através do Brasil (os últimos três, pedagógicos), Teatro Infantil, Terra Fluminense, Pátria Brasileira, Tratado de Versificação, A Defesa Nacional (coleção de discursos), Últimas Conferências e Discursos, Dicionário Analógico (inédito) e Tarde (póstuma, coleção de 99 sonetos).

Seu volume de Poesias Infantis, encomendado pela Livraria Francisco Alves, é uma coleção de 58 poemas metrificados falando sobre a natureza e a virtude. Segundo suas próprias palavras, "era preciso achar assuntos simples, humanos, naturais, que, fugindo da banalidade, não fossem também fatigar o cérebro do pequenino leitor, exigindo dele uma reflexão demorada e profunda".
É autor do Hino à Bandeira Nacional.


Olavo Bilac
POEMAS


A Vida
Na água do rio que procura o mar;
No mar sem fim; na luz que nos encanta;
Na montanha que aos ares se levanta;
No céu sem raias que deslumbra o olhar;

No astro maior, na mais humilde planta;
Na voz do vento, no clarão solar;
No inseto vil, no tronco secular,
— A vida universal palpita e canta!

Vive até, no seu sono, a pedra bruta . . .
Tudo vive! E, alta noite, na mudez
De tudo, — essa harmonia que se escuta

Correndo os ares, na amplidão perdida,
Essa música doce, é a voz, talvez,
Da alma de tudo, celebrando a Vida! 


O Tempo

Sou o Tempo que passa, que passa,
Sem princípio, sem fim, sem medida!
Vou levando a Ventura e a Desgraça,
Vou levando as vaidades da Vida!

A correr, de segundo em segundo,
Vou formando os minutos que correm . . .
Formo as horas que passam no mundo,
Formo os anos que nascem e morrem.

Ninguém pode evitar os meus danos . . .
Vou correndo sereno e constante:
Desse modo, de cem em cem anos
Formo um século, e passo adiante.

Trabalhai, porque a vida é pequena,
E não há para o Tempo demoras!
Não gasteis os minutos sem pena!
Não façais pouco caso das horas!



Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".


Publicado no livro Poesias, 1884/1887 (1888).

Poema integrante da série Via Láctea.


O Cometa

Um cometa passava... Em luz, na penedia,
Na erva, no inseto, em tudo uma alma rebrilhava;
Entregava-se ao sol a terra, como escrava;
Ferviam sangue e seiva. E o cometa fugia...

Assolavam a terra o terremoto, a lava,
A água, o ciclone, a guerra, a fome, a epidemia;
Mas renascia o amor, o orgulho revivia,
Passavam religiões... E o cometa passava.

E fugia, riçando a ígnea cauda flava...
Fenecia uma raça; a solidão bravia
Povoava-se outra vez. E o cometa voltava...

Escoava-se o tropel das eras, dia a dia:
E tudo, desde a pedra ao homem, proclamava
A sua eternidade ! E o cometa sorria...


O Universo
(Paráfrase)

A Lua:

Sou um pequeno mundo;
Movo-me, rolo e danço
Por este céu profundo;
Por sorte Deus me deu
Mover-me sem descanso,
Em torno de outro mundo,
Que inda é maior do que eu.

A Terra:

Eu sou esse outro mundo;
A lua me acompanha,
Por este céu profundo . . .
Mas é destino meu
Rolar, assim tamanha,
Em torno de outro mundo,
Que inda é maior do que eu.

O Sol:


Eu sou esse outro mundo,
Eu sou o sol ardente!
Dou luz ao céu profundo . . .
Porém, sou um pigmeu,
Quer rolo eternamente
Em torno de outro mundo,
Que inda é maior do que eu.

O Homem:

Por que, no céu profundo,
Não há-de parar mais
O vosso movimento?
Astros! qual é o mundo,
Em torno ao qual rodais
Por esse firmamento?

Todos os Astros:

Não chega o teu estudo
Ao centro disso tudo,
Que escapa aos olhos teus!
O centro disso tudo,
Homem vaidoso, é Deus!                     



Este, que um deus cruel arremessou à vida,
Marcando-o com o sinal da sua maldição,
— Este desabrochou como a erva má, nascida
Apenas para aos pés ser calcada no chão.

De motejo em motejo arrasta a alma ferida...
Sem constância no amor, dentro do coração
Sente, crespa, crescer a selva retorcida
Dos pensamentos maus, filhos da solidão.

Longos dias sem sol! noites de eterno luto!
Alma cega, perdida à toa no caminho!
Roto casco de nau, desprezado no mar!

E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto;
E, homem há de morrer como viveu: sozinho!
Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão!
sem lar!



 Delírio

Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci....


Por estas noites

Por estas noites frias e brumosas
É que melhor se pode amar, querida!
Nem uma estrela pálida, perdida
Entre a névoa, abre as pálpebras medrosas

Mas um perfume cálido de rosas
Corre a face da terra adormecida ...
E a névoa cresce, e, em grupos repartida,
Enche os ares de sombras vaporosas:

Sombras errantes, corpos nus, ardentes
Carnes lascivas ... um rumor vibrante
De atritos longos e de beijos quentes ...

E os céus se estendem, palpitando, cheios
Da tépida brancura fulgurante
De um turbilhão de braços e de seios.


Penetrália

Falei tanto de amor!... de galanteio,
Vaidade e brinco, passatempo e graça,
Ou desejo fugaz, que brilha e passa
No relâmpago breve com que veio... 


O verdadeiro amor, honra e desgraça,
Gozo ou suplício, no íntimo fechei-o:
Nunca o entreguei ao público recreio,
Nunca o expus indiscreto ao sol da praça. 


Não proclamei os nomes, que baixinho,
Rezava... E ainda hoje, tímido, mergulho
Em funda sombra o meu melhor carinho. 


Quando amo, amo e deliro sem barulho;
E quando sofro, calo-me, e definho
Na ventura infeliz do meu orgulho.


A Pátria

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! 

Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa, 




É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos! 


Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!

Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...

Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!

Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!




As Ondas

Entre as trêmulas mornas ardentias,
A noite no alto-mar anima as ondas.
Sobem das fundas úmidas Golcondas,
Pérolas vivas, as nereidas frias:

Entrelaçam-se, correm fugidias,
Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,
Vestem as formas alvas e redondas
De algas roxas e glaucas pedrarias.

Coxas de vago ônix, ventres polidos
De alabastro, quadris de argêntea espuma,
Seios de dúbia opala ardem na treva;

E bocas verdes, cheias de gemidos,
Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,
Soluçam beijos vãos que o vento leva... 



 
Dualismo

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vórtice vesano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas das virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

E, no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora. 



 
Língua Portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!



Música Brasileira

Tens, às vezes, o fogo soberano
Do amor: encerras na cadência, acesa
Em requebros e encantos de impureza,
Todo o feitiço do pecado humano.

Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza
Dos desertos, das matas e do oceano:
Bárbara poracé, banzo africano,
E soluços de trova portuguesa.

És samba e jongo, xiba e fado, cujos
Acordes são desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos:

E em nostalgias e paixões consistes,
Lasciva dor, beijo de três saudades,
Flor amorosa de três raças tristes.



In: BILAC, Olavo. Poesias infantis.
18.ed. Rio de Janeiro: F. Alves,

Publicado no livro Tarde (1919).
In: BILAC, Olavo. Poesias. Posfácio 
R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro,

Publicado no livro Poesias, 1884/1887 (1888).
Poema integrante da série Via Láctea.
In: BILAC, Olavo. Obra reunida. Org. e introd.
 Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
p.117. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira)


Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.