quinta-feira, 14 de abril de 2011

A IGREJA CATÓLICA E O ESTADO BRASILEIRO - Hélio Bicudo

A Igreja Católica e o Estado Brasileiro 
Por:
  Hélio Bicudo
Ouando a sociedade dos homens buscou desvencilhar-se da hegemonia da Igreja na organização do Estado, tivemos, depois das tensões resultantes das divergências entre o poder dos reis e o do clero, ao invés de uma sociedade voltada para a paz, perseguições que em nada diferiam daquelas em que se empenharam setores das Igrejas católica ou reformadas, na eliminação de quantos discordavam daquilo que importava na manutenção de um status quo que se queria paralisado no tempo. Num e noutro caso, afastava-se o povo de qualquer participação na organização do Estado. Entretanto, esses embates foram, a pouco e pouco, permitindo o surgimento de uma consciência cidadã que tinha em mira uma verdadeira participação do povo na condução pública de seus problemas. Reconheceu-se, então, o papel que as religiões tiveram no aperfeiçoamento da pessoa humana. É a partir daí que podemos ver, nas Constituições políticas dos Estados democráticos, que essa importantíssima contribuição das Igrejas cristãs foi contemplada em dispositivos que desenham os direitos fundamentais do homem e determinam os objetivos do Estado.  
Os direitos da pessoa humana,
geralmente ignorados nas antigas civilizações, 
somente começaram a ser valorizados 
através do ministério de Jesus Cristo. 
 Amai-vos uns aos outros 
é a pedra de toque dos Direitos Humanos.
Sobretudo, deve-se ter em consideração que o Estado laico, que advém de todas essas lutas e que encontrou sua melhor definição no Iluminismo, não pode ser entendido como o Estado ateu que, como aconteceu no Estado totalitário, seja de esquerda, seja de direita, adota a ratio política da negativa de Deus. O Estado laico é o Estado que se estrutura segundo normas que, embora não tenham qualificativos religiosos, não podem negar a sua origem nas palavras e escritos que, como vimos, têm seus princípios no Ministério de Cristo. A doutrina social da Igreja, as intervenções dos últimos Papas perante os problemas concretos contemporâneos, o Concilio Vaticano II, a ação dos bispos e as iniciativas de diversos grupos e comunidades revelam o reencontro do catolicismo com os direitos e liberdades fundamentais. As Constituições brasileiras, editadas a partir da Primeira República, recolheram, no tocante à estrutura organizatória da República, as ideias do liberalismo positivista. Um dos pontos considerados fundamentais no programa político então aconselhado se constituía na defesa de uma república laica e democrática.
O laicismo, produto de uma visão individualista e racionalista, desdobra-se em vários postulados como, entre outros, a separação entre o Estado e a Igreja. Mas contempla também a igualdade e a liberdade de cultos e a laicização do ensino. Relativamente à autoridade política, a religião deixa de ser um tema público para se enquadrar na esfera dos assuntos privados, a não ser quanto à vigilância da própria liberdade religiosa.   Assim, uma sociedade politicamente democrática, assente no relativismo político, postula também uma sociedade religiosamente liberal, tolerante para com todos os credos, aceites e praticados pelos cidadãos.
Não obstante, é preciso acentuar que, a despeito da coincidência no essencial entre a visão cristã das relações da pessoa com o poder público e o propósito de garantia dos direitos do homem, foi patente nos séculos XVIII e XIX, o grave conflito que opôs os defensores desse propósito e a Igreja católica. O conflito adveio de certas circunstâncias históricas, identificáveis no enciclopedismo e nas fundamentações nominalistas e laicistas dos direitos naturais, invioláveis e sagrados, no modo revolucionário como o liberalismo se implantou na Europa e na inserção constantiniana da Igreja desse tempo. Contudo, essas tensões iriam desaparecer ou atenuar-se, na medida em que essas circunstâncias iam sendo ultrapassadas e que os direitos do homem e as correspondentes instituições jurídico-objetivas adquiriam dinamismo próprio e, por outro lado, segundo o que também a Igreja procurava libertar-se, ou seja, das amarras do poder e abrir-se em missão cada vez mais para o mundo. A doutrina social da Igreja, as intervenções dos últimos Papas sobre os problemas concretos contemporâneos, o Concilio Vaticano II, as ações dos bispos e as iniciativas de diversas comunidades revelam o reencontro dos católicos com os direitos e liberdades fundamentais, assim como importantes contribuições para a mudança de mentalidades e de estruturas em numerosos países, sobretudo na América Latina.   Em resumo, a doutrina católica dos direitos do homem afirma: O direito à vida em quaisquer circunstâncias; O reconhecimento de consciência de liberdade e dignidade dos homens;  O primado das pessoas sobre as estruturas; A conexão entre direitos e deveres e entre justiça e caridade; A opção preferencial pelos pobres; A relação necessária entre libertação humana e liberdade cristã; A relação também necessária, na perspectiva do bem comum, entre os princípios da solidariedade de todas as pessoas e da subsidiariedade do Estado; A função social da propriedade; A relação, ainda, entre o desenvolvimento integral da cada homem e o desenvolvimento solidário de toda a humanidade.  Constituição de 1988 e o direito à vida. Muito embora esses princípios se encontrem inscritos nos primeiros artigos da Constituição de 1988, chamada a Constituição Cidadã, como se vê dos fundamentos sobre os quais se assenta a República (arts, 1º e 2º), de seus objetivos fundamentais (art. 3º) e dos princípios que regem suas relações internacionais (art. 4º) e do rol dos direitos e garantias fundamentais (art. 5º), muitas vezes temos resvalado para um anticlericalismo sectário, alimentado pelo Poder Executivo e que encontra ressonância no Parlamento e até mesmo em nossos tribunais superiores. Tomando como exemplo o direito à vida, porque dele decorrem todos os demais, a Constituição de 1988 é enfática ao afirmar a sua inviolabilidade (art. 5º). No entanto, são recorrentes as iniciativas, muitas delas de inspiração do próprio Poder Executivo, mediante propostas de seus ministérios ou secretarias respaldadas em resoluções adotadas nos encontros promovidos pelo Partido dos Trabalhadores. Por outro lado, a Igreja se vê tolhida na sua atuação em defesa da vida, sendo pura e simplesmente impedida de contribuir, com sua experiência milenar, para um entendimento compatível com as imposições do tempo sem, contudo, deixar de lembrar a relevância da existência humana no plano universal. É sabido como, no Congresso Nacional, se organizam as comissões especiais para o estudo e a apresentação de propostas a serem apreciadas pelos plenários da Câmara de Deputados ou do Senado Federal. Se a intenção é a de aprovar determinada matéria, os membros dessas comissões são escolhidos a dedo. Reservam-se alguns assentos àqueles que possam ser contrários, para dar a impressão de que se preserva o direito de participação.  A esse respeito, um pesquisador poderá levantar nos arquivos do Parlamento brasileiro inúmeros exemplos. Vai daí ser plenamente justificável o temor de representantes da Igreja católica relativamente à aprovação de projetos que objetivam descriminalizar o aborto ou conceder amparo legal à união de pessoas do mesmo sexo. Nos dois casos, atenta-se contra o direito à vida. No primeiro, diretamente, e no segundo, por vias transversas, pois não se pode ver na união de pessoas do mesmo sexo a promoção da vida, finalidade da união do homem e da mulher e, portanto, não deixa de ser o seu reconhecimento legal um atentado, ainda que indireto, à vida. Ora, o direito à vida vem explicitamente contemplado no mencionado art. 5º da Constituição Federal, considerado o direito do qual todos os outros decorrem. Tenha-se, ainda, em atenção que são considerados direitos fundamentais, na forma do mesmo art. 5º, “os direitos e garantias expressos nesta Constituição que não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. Pois bem, o Estado brasileiro ratificou em 1992 a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, subscrita em San Jose da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, ressalvando, entretanto, o reconhecimento da competência jurisdicional da Corte Interamericana de Direitos Humanos, ressalva essa tornada sem efeito em 10 de dezembro de 1998, quando aquele tratado passou a sujeitar o Brasil em todos os seus termos. Estabelece a Convenção Americana, em seu art. 4º, n. 1, que toda pessoa tem direito a que se respeite sua vida. Este direito estará protegido pela lei e, em geral, a partir da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente. Trata-se de norma que se insere, nos termos do § 2º do art. 5º, já citado, no rol dos direitos e garantias individuais enunciados pela Constituição brasileira. E, como tal, não pode ser alterado ou tornado sem efeito, sequer por emenda constitucional. É uma das chamadas cláusulas pétreas, que não podem ser alteradas. Aliás, a emenda constitucional que pretendeu realizar a reforma do Poder Judiciário, mas que não passou de leve maquiagem, estabelece que os tratados de Direitos Humanos para ganharem o status constitucional devem ser submetidos a processo idêntico àqueles a que se submetem os projetos de emenda constitucional. Esse dispositivo mostra, claramente, que se trata de novos tratados, pois os anteriores, editados na versão do § 2º, já se arrolaram dentre os direitos fundamentais, desde que ratificados pelo Congresso Nacional. Com o novo dispositivo os atuais legisladores quiseram dificultar a passagem de um tratado de direitos humanos para o rol dos direitos fundamentais, o que importa em concluir que o Estado brasileiro foge de suas responsabilidades internacionais. Se assim é, e sem dúvida o é, não pode ser revogado ou alterado o disposto no art. 4º, n. 1, da Convenção Americana, já incorporado na Constituição Federal. E não pode, porque diz a Constituição, em seu art. 60, §4º, que não será objeto de deliberação a proposta de emenda constitucional tendente a abolir: IV – os direitos e garantias individuais. Em remate, o Congresso, pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, rejeitará, in limine, proposta de emenda tendente a abolir direitos e garantias individuais. Basta que haja a intenção apreendida, no sentido de abolir um direito, para que, sequer, seja objeto de deliberação. Uma proposta nesse sentido, acaso não seja rejeitada in limine, pode suscitar o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 102, I, “a”, c.c. art. 103, IX, ambos da Constituição Federal. Os mesmos argumentos valem para a pretensão de legalizar a união de pessoas do mesmo sexo que, segundo já foi exposto, importa em atentado indireto ao direito à vida. Chegados a este ponto, convém indagar quais os instrumentos legais para se obter, mediante a imposição do cumprimento de obrigações internacionais livremente assumidas, uma vez esgotados os recursos que objetivam sua defesa, a participação dos cidadãos na defesa dos direitos fundamentais. Nesse particular, é bom lembrar que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos estabelece que o Sistema Interamericano de Defesa dos Direitos Humanos recebe, pela Comissão Interamericana, denúncias de violações desses direitos, cometidas pelos Estados Partes desse tratado e de outras convenções e protocolos adicionais posteriores, a qual os examina e processa, podendo enviar recomendações ao Estado violador, as quais devem ser cumpridas de boa-fé, na forma do disposto no Direito Internacional dos Direitos Humanos. Se não o forem, a Comissão Interamericana poderá levar o caso à Corte Interamericana, cujas decisões devem ser obrigatoriamente cumpridas pelos Estados Partes, na forma do art. 68, n.1, da Convenção Americana. Note-se que não se trata do cumprimento de uma sentença estrangeira, mas de uma decisão de um tribunal internacional, cuja jurisdição foi aceita pelo Estado Parte. Assim, essas decisões devem ser cumpridas em nível nacional como se tratasse de uma decisão emanada de seu Poder Judiciário. Em conclusão, se o Estado brasileiro admitir violações dos direitos fundamentais, entre estes, do direito à vida, inscrito em sua Constituição política e na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, poderá ser submetido a procedimento perante a Comissão, a qual deverá fazer recomendações com o objetivo de sanar ditas violações e impedir que novas, no mesmo sentido, venham a ser feitas e, se não obedecidas, remeter o caso ao pronunciamento da Corte Interamericana. Contudo, hoje em dia, não obstante, no caso brasileiro, a Constituição vigente tenha adotado como um dos fundamentos do Estado a dignidade da pessoa humana (art.1º, III), que entre seus objetivos fundamentais estejam o de construir uma sociedade livre, justa e solidária e de promover o bem de todos, sem prec onceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, I e IV), o que revela a força do fermento cristão, a Igreja católica vem sendo objeto de discriminações que se refletem em posições e atitudes adotadas pelo Governo brasileiro, muitas vezes acoroçoadas pelas manipulações dos meios de comunicação de massas. É nessa linha que prevalecem as ideias da chamada legalização do aborto e do casamento de pessoas do mesmo sexo. E procuram impor, mediante apelos a alegados direitos reprodutivos que permitem à mulher livrar-se de filhos indesejados ou de pseudodireitos à constituição de famílias, segundo concepções incompatíveis com o próprio direito natural.   Se a Igreja ou quaisquer pessoas se voltam contra essas pretensões que, ao contrário de se constituírem em princípios para uma vida digna e construtiva da sociedade humana, comprometem-na desde que desprezam a preservação da vida e a base da comunidade humana que é a Família, são discriminadas e qualificadas de retrógradas. E o que é de pasmar, essa discriminação passa pelo Congresso Nacional que, nos debates sobre o problema da vida – problema ínsito na prática do aborto ou na legalização da união de homossexuais – conforma suas comissões temáticas segundo imposições de aguerridas organizações, sejam feministas, sejam quanto à instituição de pseudofamílias. E mais ainda. A Presidência da República permite e estimula a atuação, nos ministérios da mulher e da discriminação racial, a apresentação, em nome do Governo, de projetos que, não podendo alterar os termos da Constituição, procuram solapar seus termos mediante normas infraconstitucionais que legalizam, sob os mais variados pretextos, o aborto e a união de pessoas do mesmo sexo. Esquecem, com isso, toda a tradição histórica que se alimentou de lições da Igreja, de que o bem supremo a ser preservado em quaisquer condições é o direito à vida, base e fundamento de todos os direitos. E está na Constituição, em seu art. 5º, quando se assegura a inviolabilidade do direito à vida.   A Igreja católica, que reúne a maioria da população brasileira, vem sendo tolhida, não nas suas manifestações, mas numa atuação em que o Governo (Executivo, Legislativo e Judiciário) possa dizer, em igualdade com outras correntes de pensamento, tudo quanto se faz de mister para o melhor esclarecimento de ideias que não levam à construção, mas ao largo do tempo, à destruição da comunidade dos homens, onde o egoísmo se sobrepõe ao altruísmo. Como se vê, à Igreja católica, cuja doutrina penetrou em nossa legislação maior, que elegeu a pessoa humana como o verdadeiro sujeito de direitos, não se concedem os instrumentos para que possa atuar com eficácia, a fim de que princípios eternos não se desvaneçam na fumaça do tempo. •











HÉLIO BICUDO é jurista.
É presidente da Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos.
Fundador do Partido dos Trabalhadores (PT),
foi vice-prefeito de São Paulo na gestão Marta Suplicy (PT).

 Fonte:
Revista Interesse Nacional
 
  http://interessenacional.uol.com.br/artigos-integra.asp?cd_artigo=100#

quarta-feira, 13 de abril de 2011

DORA FERREIRA DA SILVA - ENTREVISTA

Entrevista :

Dora Ferreira da Silva,

Revista Cult – Maio/99

Marco Antonio 
dora ferreira da silva ims  Entrevista de Dora Ferreira da Silva, Revista Cult – Maio/99
Três vezes ganhadora do Prêmio Jabuti por sua poesia, premiada pela Academia Brasileira de Letras por sua Poesia reunida, tradutora de autores como Rilke, Saint-John Perse, San Juan de la Cruz, Hörderlin, T. S. Eliot, Valéry e Jung, Dora foi casada com o filósofo Vicente Ferreira da Silva. Com seu marido e Milton Vargas, fundou em 1955 a revista Diálogo, que teve 16 edições. 

A revista Cavalo azul, fundada após a precoce morte de Vicente, teve 12 edições e era voltada a literatura e poesia (foto: Acervo/IMS).
Donizete Galvão

Tradutora e poeta, Dora Ferreira da Silva mantém sua fidelidade à poesia como via para se chegar ao sagrado. Oito livros editados, duas vezes premiada com o Jabuti, várias traduções, ela acaba de lançar Poesia Reunida pela Topbooks (484 páginas, R$42,00) –que inclui sua obra completa, um prefácio de Gerardo de Mello Mourão e uma fortuna crítica com ensaios de Ivan Junqueira, José Paulo Paes e Vilém Flusser, entre outros. 

Dona de uma voz poética em que se juntam emoção e pensamento, lirismo e reflexão, à sua volta multiplicam-se os poetas. Todos ávidos por suas palavras que reafirmam o papel da poesia em tempos sombrios. Aos 80 anos, Dora chegou àquele ponto em que não precisa das vaidades da vida literária. É contemporânea do eterno, como disse um dos seus maiores amigos, o filósofo português Agostinho da Silva.

dora ferreira da silva oleo  Entrevista de Dora Ferreira da Silva, Revista Cult – Maio/99
detalhe de um quadro a óleo de Edmar José de Almeida - Retrato de Dora Ferreira da Silva (1972).

CULT – Você mal chegou a conhecer seu pai. No entanto, a presença/ausência dele permeia toda a sua obra. Por que você diz ter sido a Koré de seu pai?

Dora Ferreira da Silva – Você começa pelo nervo da questão. Ser a Koré (mito associado à virgindade) de meu pai é um fato em que acredito agora
Depois de ler tantos livros e ter estudado a obra de Jung. Todos nós poetas temos nossos mitologemas. Um dos meus mitologemas é a relação de Koré com Hades, das bodas com o deus sombrio. Para traduzir em termos biográficos, meu Hades foi meu pai. Um dos primeiros poemas que escrevi começa com um verso que diz: “Nunca vi teu rosto”. O poema prossegue e de uma maneira não-linear trata rapto de Perséfone. O fato de não ter conhecido meu pai despertou em mim uma paixão pelo desconhecido, pelo mundo das sombras, pelo sonho. 

Quando menina, minha mãe abria a janela do quarto e eu pedia que a deixasse fechada.Quero sonhar mais um pouco, dizia. Era minha atração por um mundo escuro e crepuscular. No escuro, podia sonhar, inventar e divagar a vontade. Hoje, podemos dizer, sem o mínimo de escândalo, que o primeiro amor da menina é seu pai. E do menino, a mãe. Toda ausência do meu pai foi preenchida com meu imaginário. 

No meu livro Poemas da estrangeira há uma série que denominei “Retratos da alma” que mostra a evolução do meu animus (elemento masculino na mulher, de acordo com a psicologia junguiana). Há um rei assírio, um antiquário neurastênico e exigente em cuja loja de antiguidades apareço coberta por uma pirâmide. São formas do animus negativo. Não no sentido do mal, mas no do que é invisível e não lhe dá amor. Você tem de inventá-lo. Num dos meus versos digo: “Pai, filho imaginário do meu pensamento”. Meu pai é meu filho. Criado por mim.

CULT – Ingmar Bergman, ao comentar sobre um personagem de O sétimo selo, disse que tinha visões quando criança. Você que nasceu no mesmo dia, mês e ano que Bergman, também teve uma imaginação fértil e povoada de visões?

Dora Ferreira da Silva – Estes dados biográficos sobre Bergman estou sabendo agora por você. A minha imaginação sempre foi grande. Não só a de olhos fechados, mas sobretudo a de olhos abertos.

Eu gostava de ficar na penumbra, criando histórias em quadrinhos. Criava imagens e estourava de dar risadas. Minha mãe vinha perguntar porque estava rindo. Tinha de mentir para não ser chamada de louca, boba, distraída. Logo cedo eu percebi a marca da diferença que me fazia sofrer. Não uma diferença da qual eu me orgulhasse ou que me fizesse sentir especial. Queria ser igual a todo mundo. Fazer parte do conjunto. A diferença me custou varadas, repreensões. Era chamada de psicana por minha mãe. Era uma diferença que me magoava e me humilhava. Só mais tarde, quando comecei a ler, surgiu uma identificação com os estranhos, os inadequados. Identificava-me como o Harry Haller de O lobo da estepe ou com a Nastássia Filipovna de O idiota de Dostoievski. Foi só então que encontrei minha verdadeira família. 

Nos Poemas em fuga, escrevo uma Carta a Ingmar Bergman. Aquela carta veio do meu plexo solar. Veio com choro e soluços. Sempre seguia os filmes de Bergman como se seguisse a trilha de um irmão. Afligia-me com suas peripécias. Dizia: agora ele está muito mal, agora melhorou. Só bem mais tarde soube que ele nasceu em 1 de julho de 1918. Somos irmãos astrais. Todo este embate duro com a infância me fez forte e fraca ao mesmo tempo.

Cult – Foi este sentimento de inadequação que deu impulso para você começar a escrever?

Dora Ferreira da Silva – Não. O impulso teve origem na minha família. Meu pai, Theodomiro Ribeiro, escrevia poemas. Numa época, roubei de minha mãe as cartas dele. Ele escrevia uns sonetos bonitos que nunca publicou. Do lado materno, também havia escritores, um tio que era musicista nato, um primo pianista. A música sempre teve importância enorme para mim. Eu mesma dedilhei um pouco de todas as artes: o balé, o canto coral – tinha uma voz pequena, mas afinada -, o desenho. Cheguei a estudar com Valdemar da Costa. Faziam parte desse grupo Maria Leontina, Lothar Charoux e Mabel Vargas. 

Adorava também os esportes. Sempre nadei muito. Tenho uma fascinação pelo elemento água. Viemos para São Paulo quando tinha uns dois anos. Fomos morar no final da rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros. Mais tarde vi a casa em que morei no exato momento em que ela estava sendo demolida. Foi uma torrente de lágrimas. Aquela casa viu meus primeiros pânicos, as primeiras surpresas diante do céu. Falei do crepúsculo porque me assaltava um medo ao fim do dia. Entrava para a casa aos gritos e chorando. Dizia para minha mãe: “O sol caiu de um barranco e se machucou todo”. Todo aquele vermelho do sol se pondo era sangue para mim. Minha mãe retrucava que o sol não se machucava, era um astro. Astro para mim era apenas uma palavra. Uma abstração.

Quando viajava para Conchas, na casa do meu avô, também escrevia cartas com poemas para minha mãe. Minha avó grega, Marietta, já tinha morrido. Meu avô era a cara do Pirandello. Chamava-se Luigi Locchi. Tinha uma farmácia, cheia de frascos e vidros. Era para mim um alquimista. Talvez venha daí meu interesse pela alquimia. Andava em lombo de burro para curar as pessoas nas roças. Hoje, na cidade há uma praça com seu nome. Enfim, fiquei muito ligada a esse mundo de Conchas. A água sendo retirada do poço. A seguir, sendo coada para tirar os bichinhos. Nesta altura, eu já tinha herdado os livros de meu pai. 

Tinha lido os poetas românticos como Álvares de Azevedo. O primeiro poema que escrevi de Conchas, no papel timbrado Pharmacia Locchi, chamava-se Os segredos do céu: “Céu por que não me confessas teus segredos/Aclarando os mistérios que te cercam?”. Contava os versos nos dedos, tentando escrever em decassílabos. Escrevia na mais perfeita inocência, numa espécie de paraíso. Sem saber o que era editar. Era um impulso forte, vindo do coração. Na verdade, não descobri a literatura e, depois, a poesia. Descobri a poesia direto. Vida e poesia para mim estão permanentemente entrelaçadas.

Cult – Como você conheceu seu marido, Vicente Ferreira da Silva?

Dora Ferreira da Silva – Conheci Vicente no meu primeiro baile. Usei um vestido branco e minha mãe tinha permitido o uso do batom. Achei estranho ver aquela moça no banheiro usando batom. Quem nos apresentou foi o Milton Vargas. Disse que queria apresentar um “gênio” para outro “gênio”. Aos quinze anos, não havia para nós nada menos do que a genialidade. Éramos todos geniais. 

O Vicente era dois anos mais velho do que eu. Foi um encantamento súbito. Aconteceu como se fosse um raio. Ele estudava direito, sempre com um livro de matemática do lado. Aprendeu matemática com o professor Fantapié. Chegou a ser assistente do filósofo norte-americano William Van Orman Quine. Vicente sempre detestou o direito. Nunca exerceu a profissão. Estudava e escrevia sem parar. Deve ter publicado perto de mil páginas, mas escreveu o triplo. Tenho pastas e pastas dele com aquela caligrafia sempre ascendente. No nosso primeiro encontro fizemos um jogo do absurdo. Um fazia uma pergunta e o outro respondia da maneira mais arbitrária e maluca. Ríamos muito. Casei-me aos 19 anos. Vicente estudava e escrevia. 

Nunca soube ganhar dinheiro. Foi professor de Lógica Matemática na Faculdade de Filosofia da USP. Hoje, a matéria é valorizada. Na época era abominada como um quebra-cabeças. Preparou-se muito para a titulação. Sua tese se chamava Dialética das Consciências. A política e stava muito polarizada entre esquerda e direita. Vicente não era da direita. Era um anarquista. Já minha visão era marxista, via a política de uma maneira universalista. Acho meu lado político está todo no livro Uma via de ver as coisas. Enfim, Vicente não conseguiu o título. Oswald de Andrade também não. Estudiosos como Ernesto Grassi fizeram preleções sobre a obra de Vicente na Universidade de Roma. 

A recusa do título não perturbou a obra filosófica de Vicente. Pelo contrário. Se tivesse sido professor, talvez não tivesse escrito tanto. Vicente fundou o Colégio Livre de Estudos Superiores. O pessoal remanescente da Semana de 22, como Oswald de Andrade, participava. Iam professores da USP como Ítalo Bettarello, anarquistas, freis dominicanos como Frei Rosário e Frei Benevenuto Santa Cruz (que fundou e dirigiu a editora e livraria Duas Cidades). Surgiam discussões acaloradas e em meio à polêmica os freis saíam movimentando seus hábitos brancos. Antônio Cândido fez uma bela conferência sobe os Quartetos de T. S. Eliot.

ag49silva11  Entrevista de Dora Ferreira da Silva, Revista Cult – Maio/99
Vicente Ferreira da Silva – Filósofo brasileiro (1916-1963)
CULT Foi com Rilke que você se entusiasmou pela tradução? Elegias de Duíno é considerada até hoje uma tradução insuperável. Qual foi seu método para traduzir Rilke?

D.F.S Rilke era um poeta pouco traduzido. Creio que não havia tradução em português. Li a tradução inglesa de Stephen Spender. Schwarczenbach, nosso professor de alemão, fazia muitas críticas. “O Rilke diz coisas ininteligíveis. É um poeta que não vai durar nem uma geração. Vamos traduzir Goethe e Schiller”, dizia. Eu não arredava. Fui adiante com a edição em alemão e a inglesa. Foi uma tradução apaixonada feita no escritório dessa casa nos momentos em que havia aquele impulso para traduzir. Sinceramente, eu sabia pouco do alemão para traduzir Rilke. Agora eu sei os poemas de cor (recita versos em alemão). 

São poemas longos, difíceis, com um conteúdo complexo. Há um outro mitologema muito importante para mim: o de que os reinos dos vivos e dos mortos se comunicam. Olhe que eu não sou espírita. O amor que tradutor sente por um poeta faz com que ele estabeleça uma relação, um vaso comunicante com sua poética. Acho que Rilke, de certa forma, me ajudou a traduzi-lo. Por isso, quando não gosto de um poeta não insisto em traduzi-lo. Com Apollinaire, foi assim. Reconheço o valor dele para a literatura, mas não senti afinidade. Seria uma tradução apenas profissional. Quem descobriu minhas traduções foi Francisco de Almeida Salles. 

Numa visita, viu os poemas em uma mesa. Ficou entusiasmado e enviou para o suplemento Letras & Artes, editado por Jorge Lacerda no Rio de Janeiro. As Elegias saíam uma após a outra. Os leitores começaram a esperar pelas próximas edições. Lembro que Sábato Magaldi foi um desses entusiastas de primeira hora. Depois, fui procurada por um grupo de admiradores de Rilke para fazer uma edição de luxo. O editor importou tipos. Nonê de Andrade, filho de Oswald de Andrade, desenhou um anjo para cada exemplar. Ganhei 10 exemplares. Fiquei apenas com um e meu anjo desapareceu. Houve críticas elogiosas, uma delas de José Geraldo Vieira. Mais tarde a Editora Globo quis publicar uma edição mais barata para estudantes do curso de literatura. Já deve estar na quadragésima edição.

CULT – Tradução e criação poética tiveram para você a mesma importância?

Dora Ferreira da Silva – Caminharam sempre juntas. Continuei trabalhando junto com o Vicente. Muitas vezes ele me pedia que contasse o que tinha lido. Respondia que era impossível contar um poema. A tradução ocupa um lugar tão importante quanto à criação. Era movida por entusiasmo. Queria escrever como eles. Como já tinham escrito, buscava traduzi-los. Para mim, a tradução é, sim, um trabalho de recriação. A tradução literal não é poesia. Falta um élan, uma coisa ígnea como esta chama da lareira. Esta chama é a paixão. Traduzi Milosz, Saint-John Perse, San Juan de la Cruz, D. H. Lawrence, Hölderlin, Angelus Silesius, T.S. Eliot. Só em 1970, depois de ter feito uma leitura de meus poemas, meus amigos me incentivaram a publicá-los. 

Publiquei Andanças que reúne poemas de 48 a 70. Para minha surpresa, ganhei o Prêmio Jabuti. Até então eu não tinha a menor ligação com o público leitor. Nunca escrevi pensando em um leitor ideal. Houve também comentários muito positivos de Ernesto Grassi, do crítico italiano Enzo Pacce e na Colóquio Letras de Portugal saíram dois artigos de Euryalo Cannabrava. Carlos Drummond de Andrade também foi um leitor muito fiel. Nunca o conheci pessoalmente. Falávamos por telefone ou por cartas. 

Tenho cartas dele sobre todos os livros que lhe mandei. Em Poemas da Estrangeira publiquei o poema que dedicou a mim. Liguei para perguntar se poderia usar. Disse-me: “Nunca estarei tão bem como quando perto de você”. Foi sempre muito generoso e estimulante.

CULT – Como eram as reuniões em sua casa? Era como se fosse um salão literário?

Dora Ferreira da Silva – Não era um salão literário como o de D. Olívia Penteado. Era o contrário de um salão. Tudo muito informal, sem periodicidade. Juntavam-se as pessoas mais díspares e as coisas aconteciam espontaneamente. Muitas vezes, o Vicente fazia conferências ou lia parte dos seus escritos. Gilberto Kujawski escreveu um artigo sobre esses encontros. 

Os poetas liam seus poemas( entre outros, Carlos Felipe Moisés, Rodrigo de Haro, Roberto Piva e Rubens Rodrigues Torres Filho nos anos 60). Ouvíamos música. Quando o Vicente se impacientava, era eu que fazia sala. Passavam por ali professores vindos da Europa. Já a história de que havia um ritual de iniciação para os escolhidos, no sótão, é pura invenção. Minha filha Inezita (Inês Ferreira da Silva Bianchi) e a Ritinha, filha da Neli Dutra, sempre se reuniam lá. Não era uma parte misteriosa da casa. A revista Diálogo foi fundada pelo Vicente com a minha colaboração. Ele era a alma, o espírito e o centro da revista. Tínhamos colaboradores de todos os lados. 

Depois da morte de Vicente, não tinha mais sentido continuar a revista sem ele. Foi daí que surgiu a revista Cavalo Azul. Foi inspirada nos cavalos etruscos que conduzem os mortos para o outro mundo. Mais uma vez aparece um mitologema: orfandade e viuvez trabalhadas de maneira parecida. É espantoso como a palavra diz a coisa, vai ao núcleo do imponderável. Para editar Cavalo Azul, tive a ajuda do Vilém Flusser e do Anatol Rosenfeld. Foi uma colaboração bem estreita. Guimarães Rosa colaborou com um conto magnífico chamado As garças. Veio três vezes a esta casa da Rua José Clemente. 

As pessoas eram avisadas por telefone e todos compareciam. Um homem fascinante, muito aberto. Sempre alegre, elegante como um diplomata. Quando pedimos uma foto, mandou uma em que estava vestido esportivamente, montado em um cavalo e olhando para trás. Foi a partir dessa foto que escrevi o poema A Guimarães Rosa, que está em Andanças. Dedicamos o número 8 inteiro de Diálogo à sua obra. Havia uma disponibilidade maior naquela época para esses encontros. Houve, acredito, um esfriamento das camadas interiores. Vejo o artista como um ser em ebulição. Seu parente mais próximo é o vulcão.

CULT – Havia um outro grupo do qual participava Agostinho da Silva. 
Como foi?

Dora Ferreira da Silva – Demorei a chamar o Agostinho de Agostinho. No início, ele era Dr. Agostinho. Era de uma grande erudição, um helenista. Traduzia do grego e do latim. Escreveu muitos livros. Entre eles Cartas a Diotima e um sobre São Francisco de Assis. Tinha uma biblioteca popular. Saía pela cidade com os livros, fazendo palestras e conversando com as pessoas. Tinha uma visão universalista da política. Isso incomodou o ditador Salazar. Agostinho veio exilar-se no Brasil. No grupo também estavam Jayme Cortesão e suas filhas Saudade e Judite. Agostinho fundou diversas universidades no Brasil, deu aulas na Universidade de Brasília. Era um animador cultural. Conhecia pessoas do mundo inteiro. 

Os diálogos dele como Vicente começavam cedo e iam até a noite. Uma pena não terem sido gravados. Tinha heterônimos. Um deles era Matheus Maria de Guadalupe. Soube que no Porto há um monumento dedicado a ele. Achei que um monumento na terra não combinava com ele. Por isso, escrevi Epitáfio para Agostinho da Silva:
“Quatro pétalas brancas sobre o Mar?/
Não! Quatro gorros de marinheiros portugueses/
Flutuam para sempre naquela imensidão”. 

 Pensei em Agostinho ao falar sobre Saint-John Perse na Biblioteca Mário de Andrade. Ele também fez conferências naquele local.

agostinhodasilva 238x300  Entrevista de Dora Ferreira da Silva, Revista Cult – Maio/99
George Agostinho Baptista da Silva (Porto, 13 de Fevereiro de 1906 — Lisboa, 3 de Abril de 1994), foi um filósofo, poeta e ensaísta português
CULT – Você tem uma –preferência pelo verso livre? O que você acha das formas fixas?

Celso Luís Paulini e eu fizemos muitos exercícios com sonetos. Partíamos de um primeiro verso e cada um desenvolvia o seu. Acho, entretanto, um recurso fácil. As formas fixas são aprisionantes. Gerardo Mello Mourão me escreveu uma carta em que diz que a poesia joga com as formas, não com a fôrma. Traduzir O cemitério marinho de Paul Valéry foi um jogo de muito prazer. Trabalhei em decassílabos. Saint-John Perse também foi outra descoberta. Tinha sido presenteada com um livro dele. Achei que não era poeta para mim. Muitas palavras, difícil, com referencial complexo. Levei para a praia. Numa tarde de tempestade, comecei a lê-lo em voz alta caminhando sob a chuva. Mais tarde comecei a traduzi-lo. 

Para compreender Perse é preciso rastrear suas fontes, os textos sagrados da China e da Índia, conhecer Píndaro que ele também traduziu. Sua forma é livre, não se deixa aprisionar. Há novidades estilísticas nos seus versos. Você me diz que o acha hierático. Ele é hierático. Tem fascínio pelo Egito e pelo Oriente. O hieratismo dele não é mero pastiche. É poesia de alta qualidade. Tenho capacidade de gostar de coisas muito diferentes.

CULT – Como você, que acaba de traduzir O arquipélago de Hölderlin, responde a interrogação dele: para que poetas em tempos de carência?

Dora Ferreira da Silva – Mircea Eliade abriu nossos olhos e nossas idéias sobre religião. Tínhamos uma visão muito pobre, ofensiva mesmo, como a de uma catequista, sobre a religião. No meu caso, a parte espiritual é como um elemento condutor ou propulsor de minha vocação poética. Acho que o papel do poeta é parecido com o daqueles que levam a tocha na Olimpíada. Mesmo que o mundo esteja dessacralizado, temos que acreditar que a vida é forte, transforma-se e cria novas saídas. 

Penso na imagem de uma flor brotando nos interstícios de uma pedra. Acredito nas diversas manifestações do divino, no anima mundi. Temos que viver este não-ser, esta noite, esta dor como uma passagem. A fidelidade de cada um a si mesmo é o que se pede. Dar o pouco que se tem, ser fiel à sua voz interior, é o que se pede aos poetas na tentativa de suprir essa carência dos deuses.
Donizete Galvão é autor de Do silêncio da pedra (1996), A carne e o tempo(1997), Ruminações(2000) e Mundo mudo (2003), entre outros.
E-mail: dgalvao@uol.com.br
In,
 Fonte:

Revista Cult – Maio/99

Notas de Rodapé
http://www.notasderodape.com.br/index.php/cultura/entrevista-de-dora-ferreira-da-silva-revista-cult-%E2%80%93-maio99.html
Marco Antonio // sáb, 24 jul, 10 //
E-mail: dgalvao@uol.com.br
In,
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.