sábado, 15 de fevereiro de 2014

KIERKEGAARD : Franklin Leopoldo e Silva - (+playlist)p


Kierkegaard por Franklin Leopoldo e SilvA

 
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Kierkegaard e Pascal: 
as vertigens da razão e o mistério da fé - Café filosófico.


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Como é difícil compreender a existência, desvendar a realidade humana  e nela adaptar-se  diante de tantas informações oficiais  contraditórias  , quando seriamente  buscamos a superação dos excessos  herdados ou impostos   por uma sociedade que não valoriza  , mas anula e exclui  a singularidades dos diferentes mais sensíveis 
Publicado em 08/04/2013-Licença padrão do YouTube
Sejam felizes todos os seres.Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
 

A ALEGRIA E O TRÁGICO EM NIETZSCHE - Roberto Machado





A Alegria e o Trágico Em Nietzsche - Roberto Machado 

Privilegiando os temas do niilismo e
do eterno retorno, Roberto Machado mostra que um dos principais
objetivos de Nietzsche ao criar uma filosofia trágica é defender uma
alegria incondicional com a vida, uma aprovação jubilatória da
existência. São muitos os textos de Nietzsche que vão neste sentido. É
privilegiado, nesta exposição, o lugar onde o tema da alegria é
apresentado com maior relevância: o livro que, para ser condizente coma
ideia de trágico e a tentativa de escapar da racionalidade conceitual da
filosofia, utiliza uma forma de expressão artística, ou melhor,
poético-dramática, que permite considerá-lo o ápice da filosofia de
Nietzsche.

Roberto Machado
 é doutor em Filosofia pela
モUniversité Catholique de Louvainヤ, na Bélgica. Publicou, entre outros,
os livros: Nietzsche e a verdade. Rio, Rocco, 1984; Deleuze e a
filosofia. Rio, Graal, 1990 (esgotado). Zaratustra, tragédia
nietzschiana. Rio, Zahar, 1997; 3ª edição 2001. O nascimento do trágico:
de Schiller a Nietzsche, Rio, Zahar, 2006. Foucault, a ciência e o
saber, Rio, Zahar, 2006.

A CONTRAÇÃO DO TEMPO E O ESPAÇO DO ESPETÁCULO - Marilena Chauí e Olgária Matos



A contração do tempo e o espaço do espetáculo Marilena Chauí e Olgária Matos 




Marilena Chauí
A Nervura do Real - 22min.


Público - Privado - Despotismo - 9min.

Marilena Chauí
Liberdade de Expressão - 14min.


portalpead

portalpead·512 vídeosPublicado em 24/04/2013
 
Sejam felizes todos os seres.Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O DEUS DE ESPINOSA - - AudioBook - 32:10



Baruch Espinosa - AudioBook - O Deus de Espinosa. 

   A CONCEPÇÃO IMANENTE DE DEUS EM ESPINOSA
Pablo Joel Almeida - Filosofia (UEL)Prof. Dr. Carlos Alberto Albertuni (Orientador)

 1631
A CONCEPÇÃO IMANENTE DE DEUS EM ESPINOSA
Pablo Joel Almeida - Filosofia (UEL)
Prof. Dr. Carlos Alberto Albertuni (Orientador)


RESUMO

O filósofo holandês Baruch de Espinosa parte do imanentismo e do princípio da unidade substancial para chegar a uma concepção de Deus, sendo que este então seria, por sua vez, também imanente e detentor do título de única substância. Desse modo, a intenção primordial de nossa comunicação é analisar como se dá a relação entre estes conceitos, no caso, imanentismo, Deus e substância, como se definem e se situam ao longo da Ética de Espinosa. Para isso, também analisaremos conceitos que agregam conhecimentos básicos para nosso propósito, principalmente as definições de atributo e modo, sendo estes partes fundamentais constituintes da definição de substância e consequentemente, parte vital para a realização de nossa intenção. Assim, através desse percurso, é possível chegarmos à conclusão sobre a definição do Deus espinosista, ou seja, de um Deus que é imanente e única substância existente, a partir da qual todo o mundo existe e por ela é determinado a existir.
Palavras-Chave: substância; imanência; Deus


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TEXTO COMPLETO

Entender ou pelo menos verificar o conceito de Deus e tudo o que
este mesmo representa, e a forma como interfere na vida das pessoas e
na construção das possibilidades de entendimento que possuímos das
coisas e do mundo, sempre foi um grande atrativo dos filósofos, seja qual
for a concepção de Deus (ou deuses), vigente na época histórica em que
este ou aquele filósofo vivia. Dessa maneira, a questão de Deus sempre
perpassou pelas páginas de grandes autores e filósofos, ganhando
maneiras e formas de visão e entendimento, ora comuns, ora totalmente
disformes da hipótese como este conceito, no caso Deus, era encarado na
época, e desse modo temos que Espinosa se encaixa neste segundo
aspecto, já que sua maneira de pensamento sobre Deus, destoa, para
dizer o mínimo, da maneira como Deus era concebido no século XVII.


Ao contrapor a concepção mais comum de Deus e assumir a ideia
de que Deus é a única substância existente, e que este Deus, é imanente
e não transcendente, como é o Deus cristão, por exemplo, Espinosa acaba
ao mesmo tempo em que rompe com uma concepção mais aceita e
compreendida, criando um sistema que se baseia em um monismo
natural, e que atribui a uma natureza comum e única, não só o conceito
de Deus em si, mas sua potência e força para existir, em outras palavras,
esta única substância, além de Deus, é este mundo, ou seja, a natureza.


Assim sendo, antes mesmo de adentrarmos na questão de Deus
propriamente dita, é necessário refazermos o movimento do autor na
parte I de sua Ética, que é exatamente o lugar onde encontramos sua
definição de Deus, substância e de todos os aparatos que envolvem o
mesmo, de tal maneira, que passemos então a este ponto, e iniciemos
com as ideias que envolvem Deus e o definem minuciosamente, que
seriam as concepções de substância, atributo e modo, para em segundo
momento tratarmos tudo isso como o conceito imanente de Deus em Espinosa.

Espinosa parte da seguinte idéia: “Per substantiam intelligo id quod in se est et per se concipitur; hoc est id cuius conceptus non indiget conceptu alterius rei, a quo formari debeat633” (SPINOZA, 2010, p.12). Entretanto, far-se-á necessário, outras duas definições, para que possamos assim, iniciar uma compreensão mais detalhada do caráter da substância na teoria de Espinosa. O filósofo inseriu logo a seguir a definição de atributo, sendo este: “(...) id quod intellectus de substantia perdipit tamquam eiusdem essentiam constituens634” (SPINOZA, 2010, p.12), e a definição de modos da substância, sendo estes: “(...) substantiae affectiones, sive id quod in alio est, per quod etiam concipitur635“ (SPINOZA, 2010, p.12).

 
Para desatar esse nó, será preciso pontuar de forma clara as diferenças e as relações que estes três conceitos possuem, para dessa forma, partirmos para passos mais largos dentro da teoria metafísica de Espinosa.


Em Espinosa, o conceito de substância adquiriu uma forma diferenciada do modo como vinha sendo utilizado ao longo da história da filosofia, devido ao fato dessa substância englobar todo o universo de coisas que existem, e juntamente com os outros conceitos dados anteriormente, (no caso atributos e modos), caracterizar a existência das coisas colocadas como dependentes e necessárias à substância.
Sendo assim, a substância existe por si só, e não depende de mais nada para existir, e exprime sua essência na necessidade pura de existir, além de conter vários atributos e modos que complementam o aspecto da substância, como podemos ver na seguinte passagem de Victor Delbos (2002, p. 47)


633 Tradução: “Por substância compreendo aquilo que existe em si mesmo e que por si mesmo é concebido, isto é, aquilo cujo conceito não exige o conceito de outra coisa do qual deva ser formado”.


634 Tradução: “(...) aquilo que, de uma substância, o intelecto percebe como constituindo a sua essência”.


635 Tradução: “(...) as afecções de uma substância, ou seja, aquilo que existe em outra coisa, por meio da qual também é concebido.”


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Há, todavia, dois usos iguais da noção de substância? Entre a substância caracterizada por seu atributo principal e a substância constituída por uma infinidade de atributos, entre a substância que é a realidade de uma essência única e singular e a substância que é a unidade de todas as essências (...).
Os atributos da substância por sua vez, adquirem um caráter poderoso de exprimir em formas a existência da substância, ou seja, o atributo nada mais é do que a expressão de uma parte da substância, captada pelo nosso intelecto como parte existente e necessária desta mesma substância; como exemplo de atributo, podemos utilizar a concepção antropológica de Espinosa, que coloca o homem, como a expressão de dois atributos da substância: o pensamento representado pelo intelecto humano, e a extensão, representado pela capacidade corpórea do homem, ou seja, pelo corpo636·. Desse modo, temos que o atributo ocuparia um lugar médio na relação entre a substância e seus modos, já que os atributos de certa maneira, são as aparições da substância junto ao nosso intelecto e nossa percepção.


Em último momento, pelo menos no que é de valia para nossa investigação, encontramos a oportunidade de especificar o que seria então o que Espinosa chama de modos da substância. Os modos, seriam todas as coisas que, de certo modo, representam a própria existência da substância, enquanto existência real e não metafísica. Se colocarmos em pauta este ponto, podemos inferir que os modos, de certa maneira, nos mostram a substância, já que é através dos modos, que os atributos são representados, exprimindo tanto o aspecto crucial da substância quanto do próprio atributo em si. 

Justificando isto através do método que utilizando-nos de termos que ficaram clássicos devido ao texto cartesiano, no primeiro caso, ou seja, no pensamento, teríamos o que Descartes chama de res cogitans enquanto que em relação ao corpo, teríamos o que Descartes chama de res extensa. Ainda na criação de uma relação com o filósofo francês, vale lembrar que para Espinosa a res extensa e a res cogitans são atributos da substância, enquanto que para Descartes, esses dois elementos também são substâncias, daí a clássica diferença entre os dois filósofos, já que para Descartes existem três substância; Deus, a res cogitans (pensamento, alma) e a res extensa (corpo), enquanto que para Espinosa existe apenas uma, como já colocado no nosso trabalho.


1635
Espinosa utiliza, ou seja, o método geométrico637 temos a seguinte interpretação de que:
(...) há em matemática as definições fundamentais, implicando a existência de seus objetos e definições secundárias, expressando simplesmente a essência de seus objetos, em outros termos: há definições de coisas e definições de palavras. As primeiras são verdadeiras. As segundas, em si mesmas, são apenas inteligíveis. “Mas tornam-se verdadeiras pela demonstração. (FRAGOSO, 2004, p. 86).

 
Fica clara então, a função de cada conceito na tentativa de Espinosa para construir seus argumentos. A substância é uma idéia verdadeira, mas nós só chegamos a ela quando conseguimos, através do método matemático, inteligir a mesma, através de seus atributos e de seus modos. Tudo aquilo que é modo, existe noutra coisa, ou seja, na substância, e por ela é determinado a agir, assim como os atributos também fazem parte da substância, devido a estes dois pontos é que somos capazes de inteligí-los, já que somos modos da substância, e a representação de dois dos seus atributos, como já explicitado anteriormente no texto.


Todos os conceitos formam uma unicidade, gerando a conclusão de todo o contexto espinosista, como explica Hadi Rizk (2006, p. 44) quando afirma que: “Primeiro é preciso compreender que substância e atributos são inseparáveis. De fato, distinguimos uns atributos dos outros a fim de conceber que cada um deles forma uma realidade infinita, independente das outras, causa de si”.
637 Lembrando que Espinosa se utilizará de forma aberta de um método pautado na geometria e matemática, pois acredita ser este a melhor forma de analisar as coisas e gerar a seu verdadeiro aspecto e resultado.


1636
Assim, os atributos exprimem uma natureza infinita, já que a substância é proveniente de infinitos atributos que são concomitantemente infinitos, e que produzem modos finitos ou infinitos, assim sendo, os atributos da substância são incontáveis, ao contrário de seus modos, que por ventura de seu caráter possível de finitude638, possuem uma relação numérica com a realidade, que não se faz presente nem nos atributos e muito menos na substância única. Ainda citando Hadi Rizk (2006, p. 21): “(...) a potência infinita de Deus se exprime em virtude de seu caráter infinito, numa infinidade de coisas naturais, que aparecem como seus efeitos, ou seus modos particulares”.


Dessa maneira, construímos a idéia de que existe uma substância única infinita, repleta de infinitos atributos infinitos, que geram infinitos modos, entretanto, estes modos são finitos ou infinitos, e representam as maneiras como os atributos se mostram ao nosso intelecto, levando em consideração sempre, a idéia de que os atributos por definição se resumem àquilo da substância que o nosso intelecto possui a capacidade de compreender.


Em resumo, temos a relação substância – atributo – modos, e que de forma decrescente, representam a maneira da existência das coisas, exprimindo a essência das mesmas; em outras palavras, os modos e os atributos da substância, exprimem a essência da existência, já que exprimem a essência da substância existente, gerando uma relação primordial entre a essência e a existência. Temos então que os atributos es modos da substância podem ser finitos ou infinitos, dependendo da natureza do mesmo e de sua relação com o atributo que representa. Entretanto, como isso não é o ponto central de nosso trabalho, e como os exemplos dados no texto são de modos finitos da substância, no caso o corpo e a alma, acredito não ser necessário me alongar mais sobre este assunto, e para um esclarecimento um pouco mais produtivo, acrescento uma fala de Marilena Chauí (2005, p. 101), quando faz o seguinte comentário sobre os modos da substância: “ Tradicionalmente, maneiras variadas e variáveis de ser e de atuar de uma substância (seriam os comportamentos de uma substância). Espinosa altera essa concepção tradicional dizendo que o modo é um efeito determinado e uma expressão determinada da substância, isto é, o modo é um ser real e não uma maneira variável de existir de uma substância. O movimento e o repouso, por exemplo, são modos infinitos da substância divina; as ideias verdadeiras que formam o intelecto divino são modos infinitos da substância. Nosso corpo é um modo finito do atributo Extensão; nossa alma é um modo finito do atributo Pensamento.”


1637
os modos existem como expressão da essência da substância única e infinita.
Para então construir o elo que nos levará ao próximo passo deste trabalho, entraremos posteriormente em questões mais avançadas, já que todo esse apanhado sobre a substância, seus atributos, seus modos, e a maneira como se relacionam e se coligam será de essencial importância para o avanço dos nossos estudos sobre a questão do Deus imanente de Espinosa, sendo que nosso próximo degrau é a análise dessa mesma substância, mas esta já devidamente nomeada pelo filósofo como Deus.
Espinosa admite que exista apenas uma substância, e que esta substância existe pela sua necessidade, e não é determinada a existir por nada, além do fato, de que tudo o mais que existe, existe como parte necessária e absoluta dessa mesma substância, em outras partes, tudo o que existe é parte desta única substância. Espinosa atribui a esta substância o nome de Deus. “Per Deum intelligon ens absolute infinitum, hoc est, substantiam constantem infinitis attributis, quorum unumquodque aeternam et infinitam essentiam exprimi639t” (SPINOZA, 2010, p. 12).


Assim sendo, segundo Espinosa, Deus é aquilo que existe por si só, e por mais nada é determinado a existir, e todo o mundo, ou tudo aquilo que existe, existe em Deus e é parte essencial de Deus, ou seja, Deus é tudo e tudo é Deus ao mesmo tempo. Dessa forma, chegamos à clássica afirmação de Espinosa do Deus Sive Natura640, que em outras palavras corresponde à idéia da totalidade de Deus como única substância existente.
Se levarmos em consideração que Espinosa admite que o mundo todo exista em Deus e tudo o que existe é parte de Deus, então essa


639 Tradução: “Por Deus compreendo um ente absolutamente infinito, isto é, uma substância que consiste de infinitos atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita”.
640 Deus, ou seja, a Natureza.

assimilação e aproximação que o filósofo faz relacionando os dois conceitos se mostra totalmente correta, já que se Deus está presente em tudo, e esse todo é a natureza, então a natureza é o próprio Deus, ou Deus é a própria natureza, só variando a interpretação básica de colocação ortográfica641.
Devido a esta interpretação, não é de se estranhar o grande problema que Espinosa teve com interpretações e colocações de organizações religiosas, sejam elas de origem judaíca (já que Espinosa era judeu de formação), ou posteriormente à publicação de suas obras, por outras instituições como o catolicismo e as emergentes religiões protestantes, já que esta posição de pensamento, rompe com qualquer tipo de interpretação comum do Deus das religiões supracitadas neste parágrafo.


Esse rompimento se dá no sentido mais simples e estrito das interpretações do Deus de Espinosa explicado logo acima, quando relacionado aos conceitos de Deus das principais religiões existentes no mundo. O Deus religioso é transcendente, ou seja, se encontra em certo universo separado, e o mundo é uma criação sua, controlado por ele, e que atua de acordo com a vontade própria deste mesmo Deus, em outras palavras, o mundo e Deus são duas entidades separadas, unidas apenas por uma forma de dominação do segundo para com o primeiro.


641 Ao longo da história da filosofia, ou mesmo do pensamento humano, Espinosa foi taxado por muitos como um pensador panteísta. O panteísmo é uma corrente de pensamento que acredita que Deus está presente em todas as coisas da natureza, e qualquer mal contra essa natureza é um mal para com o próprio Deus. Entretanto, acredito ser necessário um maior cuidado quanto a esta denominação, e para isso, concordo com a posição de Delbos (2002, p.171-172), quando este afirma que: “Essa metafísica é correntemente tratada de panteísmo; termo justo, se se quer dizer que para Espinosa não há seres que possam ter sua existência fora de Deus e que a existência deles é produzida por Deus necessariamente; termo inexato se deve dar a crer que entre o Ser infinito ou Deus e os seres finitos não existe nenhuma diferença, pois Deus, tomado absolutamente, é causa, e domina o conjunto de seus modos como a causa domina seus efeitos; termo vago, se se restringe a dar a entender que a necessidade da relação que une o mundo a Deus, torna-nos inseparáveis um do outro, pois é a maneira como é concebida essa necessidade que é antes de tudo característica do sistema. (...) Seu panteísmo é portanto determinado por um racionalismo realista, que põe no ser como princípios do conhecimento, e antes de tudo o Objeto supremo, ou seja, a Substância absolutamente infinita.”


1639
É fácil então perceber o quanto esta definição clássica de Deus vai contra a definição espinosista do mesmo. O Deus de Espinosa possui caráter imanente, ou seja, não está separado do mundo, pelo contrário, esta intimamente e necessariamente ligado a ele, formando apenas uma coisa, uma substância, ou seja, o mundo e Deus são a mesma coisa, já que o mundo é uma produção, e não uma criação. O mundo é uma expressão necessária e absoluta da potência intrínseca de Deus.
Omnia quae sunt in Deo sunt et per Deum concipi debent (...), adeoque (…) Deus rerum, quae in ipso sunt, est causa; quod est primum. Deinde extra Deum nulla potest dari substantia (…), hoc est (…) res, quae extra Deum in se sit; quod erat secundum. Deus ergo est omnium rerum causa immanens, non vero transiens642 (SPINOZA, 2010, p. 42).


Hadi Rizk (2006, p.22), também comenta sobre o caráter imanente de Deus sobre a realidade e sobre todas as coisas existentes quando afirma que:
(...) a potência infinita, à medida que é uma causa produtora de efeitos, não é separável de todas essas coisas nas quais ela existe ao agir. Toda coisa, de fato, parece ter de Deus uma parte da potência infinita e é essa parte que constitui a sua própria potência. Assim se pode adiantar que, ao afirmar o seu ser, a coisa finita exprime a força do infinito.


Para compreender melhor esse pensamento monista ao qual Espinosa nos conduz, faz-se necessário a explicitação de algumas características de Deus, e da possibilidade que ele possui de operar por ou para algo e de que maneira isso acontece, já que tudo se liga por uma
642 Tradução:

 “Tudo o que existe, existe em Deus, e por meio de Deus deve ser concebido (...); portanto (...), Deus é causa das coisas que nele existem, que era o primeiro ponto. Ademais, além de Deus, não pode existir nenhuma substância (...), isto é (...), nenhuma coisa, além de Deus, existe em si mesma, que era o segundo ponto. Logo, Deus é causa imanente, e não transitiva, de todas as coisas.”
relação de produção necessária e não por uma criação voluntária de uma força incompreensível para o nosso intelecto e que está separado e é inatingível para nós.


1640É imprescindível lembrar, que para Espinosa, esse Deus, transcendente com vontade e agente no mundo não existe. Tudo o que acontece, acontece por uma necessidade da potência de Deus, e não por uma vontade, daí que Deus no pensamento espinosista não possui o domínio de suas ações, mas elas acontecem de uma maneira obrigatória, ou seja, independente de um possível querer de Deus. Tomemos o pensamento de Marilena Chauí (2.005, p. 45-46) para explicitar esta questão:
Deus não age por vontade e entendimento, nem orientado por fins, pois vontade e entendimento não são atributos de sua essência, mas modos infinitos de um de seus atributos (o Pensamento), e a finalidade é uma projeção imaginária da ação humana em Deus, projeção que, aliás, não corresponde sequer à própria causa das ações humanas, pois os homens também não agem movidos por fins. Deus é uma causa eficiente que age segundo a necessidade interna e espontânea de sua essência, jamais uma causa final e jamais movido por causas finais, pois isso levaria a supor a existência de algo fora Dele que o incitaria a agir, mas nada existe fora de Deus ( pois há uma única substância infinita) e nada pode incitá-lo ou coagi-lo a agir, uma vez que Sua ação não é senão a manifestação necessária de Sua essência.


Desse modo, e concluindo de forma breve e sucinta o pensamento de Espinosa sobre Deus e sobre seu caráter imanente, temos que a ideia é de um mundo sem relações de dominação entre uma entidade e outra. O Deus de Espinosa é a própria natureza, enquanto necessidade e potência. Deus é a própria potência de existir segundo sua essência, e que se forma como Natureza Naturada643, fazendo com que tudo o que existe, exista em Deus e por ele seja concebido e não criado. A Natureza Naturante644 é uma produção da potência necessária e da essência de Deus, e não uma criação de um ser carente e portador de defeitos e qualidades.


1641Não podemos nos submeter ao erro, de relacionarmos qualidades humanas, como modos finitos, a uma substância que existe por uma potência infinita e por uma necessidade, que não sofre paixões e que não possui uma vontade para agir ou algo assim. Dessa maneira, Deus é uma substância desprovida de humanidades e atribuir este caráter a este mesmo Deus, é cometer um erro, que leva o homem a uma concepção incorreta e nebulosa de Deus.


643 Natura Naturada no original. Entende-se por Natureza Naturada: “Os modos infinitos e finitos imanentes à substância divina, produzidos pela atividade dos atributos, que constituem o mundo em que vivemos.” (CHAUÍ, 2005, p.101).


644Natura Naturante no original. Entende-se por Natureza Naturante: “A substância divina com seus atributos infinitos como causa de si e causa imanente de todas as coisas.” (CHAUÍ, 2005, p.101).

1642

BIBLIOGRAFIA
CHAUÍ, Marilena de Souza. Espinosa – uma filosofia da liberdade. 2º edição; São Paulo: Editora Moderna, 2.005.
DELBOS, Victor. O espinosismo – curso proferido na Sorbonne em 1912-1913; São Paulo: Discurso Editorial, 2.002.
FRAGOSO, Emanuel A. Da Rocha. (Org.). Spinoza: cinco ensaios por Renan, Delbos, Chartier, Brunschivcg e Boutroux; Londrina: Eduel, 2.004.
RIZK, Hadi. Compreender Spinoza; Petrópolis: Vozes, 2.006.
SPINOZA, Benedictus de, 1.632 – 1.677. Ética – demonstrada à maneira dos geômetras. 3ª edição (Bilíngue: latim/português); Belo Horizonte: Autêntica, 2.010.

 

O Deus de Espinosa

Assim vemos que o homem, como parte da Natureza inteira, da qual depende e pela qual também é governado, não pode fazer nada por si mesmo para sua salvação e seu bem-estar.

Antes de tudo, daí segue que somos verdadeiramente servidores, e mesmo escravos de Deus, e que a nossa maior perfeição é sê-lo necessariamente. Pois se fôssemos deixados a nós mesmos, e não na dependência de Deus, poderíamos realizar muito pouco, ou mesmo nada; e a justo título tiraríamos disso uma causa de entristecimento. Todo o contrário é o que vemos agora, a saber, que dependemos do perfeitíssimo de tal maneira que somos uma parte do todo, isto é, Dele mesmo; e, por assim dizer, contribuímos em certa medida para a realização de tantas obras habilmente ordenadas e prefeitas que dependem dele.

Por fim, esse conhecimento nos leva também a não temer a Deus, como outros temem que o Demônio, que eles mesmos fingiram, para lhes fazer mal. Como poderíamos temer a Deus, que é o próprio sumo bem, pelo qual todas as coisas têm alguma essência são o que são, incluindo a nós que vivemos nele?

Daí se segue que Deus não estabeleceu nenhuma lei para os homens a fim de recompensá-los quando obedecem a ela. Ou, para dizer mais claramente, as leis de Deus não são de tal natureza que seja possível transgredi-las. Pois as regras que Deus estabeleceu na Natureza, de acordo com as quais todas as coisas devêm e duram – se quisermos chamá-las leis – são tais que jamais podem ser transgredidas: por exemplo, que o mais fraco deve ceder ante o mais forte, que nenhuma causa pode produzir mais do que contém em si mesma, e outras similares, que são de tal jaez que jamais mudam, jamais começam, mas tudo está ajustado e ordenado sob elas.

E, para dizer brevemente algo sobre isto, todas as leis que não podem ser transgredidas são leis divinas. Razão: porque tudo quanto os homens decidem para o seu bem-estar, não segue que seja também para o bem estar da Natureza inteira, mas, ao contrário, pode ser para a destruição de muitas coisas.

Por isso concluímos finalmente que Deus, para fazer-se conhecer aos homens, não pode nem precisa usar palavras, nem milagres, nem nenhuma outra coisa criada, somente a si mesmo.

Como o que foi do antes, quisemos dar a conhecer não somente que não existem demônios, mas também que as causas (ou, melhor dizendo, o que chamamos de pecados) que nos impedem de alcançar a perfeição estão em nós mesmos.

Porém, se não há nenhum necessidade de que se deva supor os demônios, por que então supô-los? Não precisamos, como outros, supor os demônios para encontrar as causas do ódio, da inveja, da ira e outras paixões semelhantes, pois já encontramos suficientemente, sem recorrer a tais ficções.

Extraídas de um Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar. São Paulo: Autêntica Editora, 2012.

4 respostas a “O Deus de Espinosa”

  1. Oi Paulo, tudo bem?

    Os seguintes trechos da obra de Espinosa me despertaram algumas reflexões sobre o tema.
    Espinosa é conhecido como um dos principais expoentes do panteísmo, da identificação entre Deus e natureza (Deus sive natura), e da definição de uma natureza naturante e da natureza naturada, criador e criatura.

    Hegel, na sua obra Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Epítome, bem alerta para um equívoco na leitura de Espinosa.

    Identificar Deus com natureza não significa dizer que Deus é o mundo, pois o mundo é apenas uma parcela de natureza (algo finito, portanto), enquanto Deus, sendo totalidade e absoluto, é também o mundo (o mundo está em Deus), mas não é apenas o mundo (uma vez esse mundo, sendo algo finito, é tão somente uma parcela de algo que é infinito e absoluto).
    Com Espinosa, o problema teológico da justificação do mal e da injustiça ganha novos contornos, mas não é definitivamente resolvido (se é que podemos dizer que algo resta permanentemente resolvido tratando-se de sistemas metafísicos).

    Se o mundo é uma expressão/manifestação de Deus (natureza, absoluto), então o mal e a injustiça também são manifestações dessa totalidade, uma vez que nada escapa da presença desse Deus/Natureza/Absoluto.

    Porém, se Deus é absolutamente justo e perfeito, como justificar a presença do mal e da injustiça no mundo?

    O mal não seria realmente mal e injusto, mas sim essencialmente uma coisa positiva? Em outras palavras, o erro estaria nos limites da percepção e do entendimento humano, os quais não seriam capazes de ver além da cortina das aparências?
    Deus seria um relojoeiro cego (alguém que cria um relógio, dá corda, deixa esse funcionando e vai embora, sem não mais se importar com o seu funcionamento)?

    Deus tira férias ou está ausente quando o mal predomina?

    Como solucionar tais questões?

    O idealismo alemão quebrou a cabeça tentando resolver essas questões, especialmente com Schelling e Hegel. Para Schelling (Investigações sobre a essência da liberdade humana), o mal é apenas uma dimensão/parte do bem ilimitado.

    De certa forma, Schelling resgata os ensinamentos de Plotino, que na sua obra As Enéadas já ensinava algo semelhante.

    Com Hegel, o problema alcança novos patamares. Se Deus/Espírito Absoluto é algo essencialmente bom, justo e perfeito, e o mundo e a história são expressões de seu desenvolvimento, como é possível existir o mal no mundo (teodicéia)?
    Para Hegel, isso só é possível porque a história do mundo caminha para alcançar e concretizar a ideia de liberdade.

    Liberdade significando libertar-se de algo que vela e encobre; de outro modo, Deus/Espírito Absoluto está se desenvolvendo/conhecendo por meio da história, com o fim de tornar-se aquilo que Ele já é, ou seja, um ser perfeito, absoluto, justo e perfeito!
    O erro, a injustiça e a presença do mal no mundo são apenas etapas que o Espírito Absoluto precisa necessariamente percorrer (concretizar) para alcançar o pleno conhecimento de si mesmo, libertando-se do véu que o encobre.

    O fim da história seria justamente quando a ideia de liberdade se concretizasse plenamente, ou seja, quando o Espírito Absoluto reconhecesse plenamente a si mesmo.
    Como o reconhecimento é uma tarefa que envolve o outro, o Espírito Absoluto precisa se reconhecer por meio do desenvolvimento da história, a qual nada mais é que a concretização da ideia de liberdade.

    Assim, é óbvio que a lógica tradicional não funciona para explicar um dos problemas teológicos fundamentais, que é a coexistência do mal e da injustiça num mundo que é habitado (ou é a própria manifestação/expressão) de Deus (tido como ser absolutamente perfeito, justo, onipresente e onisciente).

    Algo é e não é ao mesmo tempo, e tais condições não se excluem mutuamente; o bem e o mal estão no mundo, e isso de forma alguma exclui a presença e a manifestação de Deus no mundo.
    Em razão dessa constatação, Hegel elabora a lógica dialética, a qual somente tem sentido e significado num sistema totalizante, em que cada acontecimento, cada ente, nada mais é que expressão e manifestação do Espírito Absoluto, que caminha rumo à concretização plena da ideia de liberdade, a qual somente acontecerá no fim da história, na qual o Espírito Absoluto terá plena consciência de si mesmo.
    Por enquanto é isso aí,
    forte abraço do amigo André.

  2. André, no tange a Espinosa, embora ele afirme que Deus é o sumo bem, perfeitíssimo etc., fato é que ele tem o bem e mal como ficções humanas (entia rationis), assim como a ideia de pecado, demônios etc.. Quanto a saber porque Deus, apesar de perfeitíssimo etc., permitir o mal no mundo (teodiceia), certamente ele responderia que essa objeção parte de uma percepção humana, sempre equivocada, relativamente aos desígnios de Deus, visto que as coisas cognoscíveis são infinitas e não podem ser conhecidas, absolutamente, pelo intelecto humano, que é finito. Textualmente: “No que respeita à segunda objeção, de que por que Deus não criou os homens tais que não pequem, basta dizer que tudo o que se disse sobre o pecado tão só se diz em relação a nós, como quando comparamos duas coisas entre si ou sob diferentes perspectivas.”

  3. Apenas para reforçar algumas afirmações, cito os seguintes trechos extraídos da obra Filosofia da história de Hegel:
    […] a história do mundo é nada mais que o desenvolvimento da ideia de liberdade.
    […] a história do mundo, com todos os acontecimentos que se sucedem e seus desenvolvimentos, é o processo de desenvolvimento e realização do espírito - essa é a verdadeira Teodicéia, a justificação de Deus na história. Somente essa percepção pode reconciliar o espírito com a história do mundo, ou seja, com a ideia de que o que aconteceu, e está acontecendo todos os dias, não apenas tem a participação de Deus, mas é essencialmente Sua obra. (Great books of the western world, Vol.46, Hegel, The philosophy of right; The philosophy of history , p.369.University of Chicago, 1952).

    Kelsen, em sua obra O que é a justiça, no ensaio intitulado “A doutrina do direito natural perante o tribunal da ciência” (p.169 e seguintes, São Paulo, editora Martins Fontes, 2001), afirma:
    “Para Hegel, a ideia de que a razão dirige o mundo é uma aplicação da “verdade religiosa” de que o mundo não está abandonado ao acaso mas é controlado pela “Divina Providência”, pela “Providência de Deus”.”

    “É elemento essencial de uma interpretação teológica dos fenômenos supor que Deus não apenas transcende o mundo, mas também que é imanente ao mundo, que é a manifestação de sua vontade. Como sua vontade é boa, é o valor absoluto, a realidade deve ser considerada perfeita e o valor deve ser imanente à realidade. Essa visão é o núcleo da filosofia de Hegel, segundo a qual a história do mundo é a realização da Razão, que representa o lógico absoluto, assim como o valor ético. Se essa suposição for verdadeira, então todo evento histórico deve ser considerado obra do Espírito do Mundo e, como tal, racional e bom.”
    Abraços, André.

  4. Trecho de um poema do Fernando Pessoa, 

    O mistério das cousas, que tem e não tem a ver com tudo isso:

    “Não acredito em Deus porque nunca o vi.
    Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
    Sem dúvida que viria falar comigo
    E entraria pela minha porta dentro
    Dizendo-me, Aqui estou!
    (Isto é talvez ridículo aos ouvidos
    De que, por não saber o que é olhar para as cousas,
    Não compreende quem fala delas
    Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
    Mas se Deus é as flores e as árvores
    E os montes e sol e o luar,
    Então acredito nele,
    Então acredito nele a toda a hora,
    E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
    E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
    Mas se Deus é as árvores e as flores
    E os montes e o luar e o sol,
    Para que lhe chamo eu Deus?
    Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
    Porque, se ele se fez, para eu o ver,
    Sol e luar e flores e árvores e montes,
    Se ele me aparece como sendo árvores e montes
    E luar e sol e flores,
    É que ele quer que eu o conheça
    Como árvores e montes e flores e luar e sol.
    E por isso eu obedeço-lhe,
    (Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
    Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
    Como quem abre os olhos e vê,
    E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
    E amo-o sem pensar nele,
    E penso-o vendo e ouvindo,
    E ando com ele a toda a hora.”
Enviado em 30/07/2011
artigo: http://marcosself.wordpress.com/2011/...
 http://pauloqueiroz.net/o-deus-de-espinosa-citacoes/
 www.uel.br/eventos/.../a_concepcao_imanente_de_deus_em_espinosa.pd...
 
Sejam felizes todos os seres.Vivam em paz todos os seres
.Sejam abençoados todos os seres.
 

DEUS E O HOMEM (+playlist)


Deus e o homem 2:19:40

 
Nesta aula, diversas concepções de Deus 
são colocadas lado a lado, para permitir uma reflexão 
sobre a nossa natureza humana.



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