Arquivos Secretos da Inquisição - Lágrimas da Espanha 1/4
As perseguições de judeus durante a Baixa Idade Média fizeram com que muitos
adotassem o Cristianismo e a condição de convertidos. As dúvidas sobre a sinceridade
destas conversões levaram os Reis Católicos a criar, em 1481, em Sevilha, um
tribunal religioso: a Inquisição.
Este organismo tinha autorização para perseguir os hereges e cuidar da ortodoxia
católica, embora estivesse controlado pela monarquia. Converteu-se num tribunal
ideológico e impôs o terror generalizado, já que as suas atuações implicavam
processos secretos e penas muito duras.
Os julgamentos contra aqueles que eram acusados de heresia eram frequentemente
realizados nas praças, à vista do povo. A Inquisição favoreceu, ainda, a autoridade
do rei em todos os territórios da monarquia. A Inquisição seria abolida em 1834.
1:31:31
A Primeira Cruzada
por gran1circo1pravda3.535 visualizações
A FACE OCULTA DE LUTERO (O QUE OS PROTESTANTES NÃO DIZEM)-15min.
Martinho Lutero, em alemão Martin
Luther, (Eisleben, 10 de novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de
1546) foi um sacerdote católico agostiniano que caiu em Heresia, devido
por si só ter criado 95 teses na intenção de impor toda Igreja a
seguir, a Igreja Católica que já tinha 1500 anos na sua época. Suas
teses foram estudadas e rejeitadas pela Igreja, a insistência de Lutero
ocasional a sua excomunhão.
Lutero revoltado contra a Igreja Católica
fundou uma Igreja em seu nome, A LUTERANA e colocou em práticas todas
suas 95 teses. Alguns chamam isso de REFORMA, mas reforma se dar quando
você pega a fé que já existiu e sem modificar o sentido da uma
ajeitadinha, mas quando você pega toda a fé, retira e bota outra forma
de crê no lugar não é reforma e sim REVOLUÇÃO esse é o nome REVOLUÇÃO
PROTESTANTE, mas vamos dizer que foi uma Reforma, sendo que mais a
frente Lutero foi reformado por outro CALVIN e assim é até hoje, temos
mais de 50 mil denominações que continua a se dividir, todas usam a
mesma Bíblia, com a falácia sobre o nome de Jesus, mas não se entendem
entre si, notem que só se entendem quando o assunto é CONDENAR A IGREJA
CATÓLICA, qualquer pessoas de bem e bem intencionada desconfiaria disso,
o quando a Igreja Católica é rejeitada, perseguida e condenada, MAS É A
ÚNICA QUE EM 2000 MIL ANOS INSISTEM EM EXISTIR DE FORMA UNIDA.
Martinho Lutero foi anti-semita:Como era o pensamento de Lutero (Fundador do Protestantismo)?
"A
Alemanha deve ficar livre de judeus, aos quais após serem expulsos,
devem ser despojados de todo dinheiro e joias, prata e ouro, e que
fossem incendiadas suas sinagogas e escolas, suas casas derrubadas e
destruídas (...), postos sob um telheiro ou estábulo como os ciganos
(...), na miséria e no cativeiro assim que estes vermes venenosos se
lamentassem de nós 0e se queixassem incessantemente a Deus". -- de
Martinho Lutero. (conselho que foi literalmente seguido quatro séculos
mais tarde por Hitler, Göring e Himmler.
O historiador Robert Michael
escreve que Lutero estava preocupado com a questão judaica toda a sua
vida, apesar de dedicar apenas uma pequena parte de seu trabalho para
ela. Seus principais trabalhos sobre os judeus são Von den Juden und
Ihren lügen ("Sobre os judeus e suas mentiras"), e Vom Schem Hamphoras
und vom Geschlecht Christi ("Em Nome da Santa linhagem de Cristo") -
reimpressas cinco vezes dentro de sua vida - ambas escritas em 1543,
três anos antes de sua morte. Nesses trabalhos Lutero afirmou que os
judeus já não eram o povo eleito, mas o "povo do diabo".
A sinagoga era
como "uma prostituta incorrigível e uma devassa maléfica" e os judeus
estavam "cheios das fezes do demônio,... nas quais se rebolam como
porcos"Lutero aconselhou as pessoas à incendiarem às sinagogas,
destruindo os livros judaicos, proibir os rabinos de pregar, e apreender
os bens e dinheiro dos Judeus e também expulsá-los ou fazê-los
trabalhar forçosamente. Lutero também parecia aconselhar seus
assassinatos, escrevendo "É nossa a culpa em não matar eles."
O que a Bíblia diz a respeito de Jesus e a Igreja?
Colossenses, 1:18. Ele é a Cabeça do corpo, que é a Igreja; é o princípio, Primogênito dentre os mortos, de sorte que em tudo tem a primazia.
Com base na passagem acima veja!
I Coríntios, 12:20.
Mas, de fato, há muitos membros e, no entanto, um só corpo. 21. O olho
não pode dizer à mão: "Não preciso de ti", nem a cabeça dizer aos pés:
"Não preciso de vós".
UNIDADE E UMA SÓ IGREJA
Efésios, 4:4. Há
um só corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual
fostes chamados. 5. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo ALERTA PARA NÃO PARTICIPAR DA DIVISÃO!
I Coríntios 12:
25.para que não haja divisão no corpo, mas, pelo contrário, os membros sejam igualmente solícitos uns pelos outros.
O QUE DIZ A BÍBLIA EM RELAÇÃO A DIVISÃO
São Mateus, 12:
25.
Conhecendo seus pensamentos, Jesus lhes disse: "Todo reino internamente
dividido ficará destruído; e toda cidade ou família internamente
dividida não se manterá.
(São Lucas 11,17)
Mas, conhecendo
seus pensamentos, ele disse-lhes: "Todo reino dividido internamente será
destruído; cairá uma casa sobre a outra. Fonte: www.youtube.com/user/lucasmalha
Reforma Protestante
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
As 95 Teses de Lutero, Disputatio pro declaratione virtutis indulgentiarum, 1522
O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o Protestantismo e o início de massacres e perseguições por parte da Igreja Católica Romana como por exemplo a noite de Massacre da noite de São Bartolomeu.
Pré-Reforma
A Pré-Reforma foi o período anterior à Reforma Protestante no qual se
iniciaram as bases ideológicas que posteriormente resultaram na reforma
iniciada por Martinho Lutero.
A Pré-Reforma tem suas origens em uma denominação cristã do século XII conhecida como Valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon que se converteu ao Cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia
para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser
sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua atividade e aos bens, que
repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o
direito de cada fiel de ter a Bíblia
em sua própria língua, considerando ser a fonte de toda autoridade
eclesiástica. Eles reuniam-se em casas de famílias ou mesmo em grutas,
clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica Romana, já que negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que consideravam como sendo idolatria.4
No seguimento do colapso de instituições monásticas e da escolástica nos finais da Idade Média na Europa, acentuado pelo Cativeiro Babilônico da igreja no papado de Avinhão, o Grande Cisma
e o fracasso da conciliação, se viu no século XVI o fermentar de um
enorme debate sobre a reforma da religião e dos posteriores valores
religiosos fundamentais.
No século XIV, o inglês John Wycliffe,5 considerado como precursor da Reforma Protestante, levantou diversas questões sobre controvérsias que envolviam o Cristianismo, mais precisamente a Igreja Católica Romana. Entre outras idéias, Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas,
algo que, na sua visão, era incompatível com o poder político do papa e
dos cardeais, e que o poder da Igreja devia ser limitado às questões
espirituais, sendo o poder político exercido pelo Estado, representado
pelo rei. Contrário à rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a
pobreza dos padres e os organizou em grupos. Estes padres foram
conhecidos como "lolardos". Mais tarde, surgiu outra figura importante deste período: Jan Huss. Este pensador tcheco iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. Seus seguidores ficaram conhecidos como Hussitas.6
Razões políticas na Reforma
A Reforma protestante foi iniciada por Martinho Lutero, embora tenha sido motivada primeiramente por razões religiosas,7 também foi impulsionada por razões políticas e sociais789
os conflitos políticos entre autoridades da Igreja Romana e
governantes das monarquias européias, tais governantes desejavam para si
o poder espiritual e ideológico da Igreja e do Papa,1011 muitas vezes para assegurar o direito divino dos reis;
Práticas como a usura eram condenadas pela ética católica romana, assim a burguesiacapitalista
que desejava altos lucros econômicos sentiria-se mais "confortável" se
pudesse seguir uma nova ética religiosa, adequada ao espírito
capitalista, necessidade que foi atendida pela ética protestante e
conceito de Lutero de que a fé sem as obras justifica (Sola fide);111012131415
Algumas causas econômicas para a aceitação da Reforma foram o desejo
da nobreza e dos príncipes de se apossar das riquezas da igreja romana e
de ver-se livre da tributação papal que, apesar de defender a
simplicidade, era a instituição mais rica do mundo.16
Também na Alemanha, a pequena nobreza estava ameaçada de extinção em
vista do colapso da economia senhorial. Muitos desses pequenos nobres
desejavam as terras da igreja. Somente com a Reforma, estas classes
puderam expropriar as terras;171819
Durante a Reforma na Alemanha, autoridades de várias regiões do Sacro Império Romano-Germânico pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e mesmo assassinavam sacerdotes católicos das igrejas,20 substituindo-os por religiosos com formação luterana;21
Lutero era radicalmente contra a revolta camponesa iniciada em 1524 pelos anabatistas liderados por Thomas Münzer,21 que provocou a Guerra dos Camponeses.
Münzer comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois
propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada,21 Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade divina,21 motivo pelo qual eles romperam.16 Lutero escreveu posteriormente: "Contras
as hordas de camponeses (...), quem puder que bata, mate ou fira,
secreta ou abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento,
prejudicial e demoníaco que um rebelde".21
Essas teses condenavam a "avareza e o paganismo" na Igreja, e pediam um debate teológico sobre o que as indulgências significavam. As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Após um mês se haviam espalhado por toda a Europa.24
Após diversos acontecimentos, em junho de 1518 foi aberto um processo por parte da Igreja Romana contra Lutero, a partir da publicação das suas 95 Teses. Alegava-se, com o exame do processo, que ele incorria em heresia. Depois disso, em agosto de 1518, o processo foi alterado para heresia notória.25
Finalmente, em junho de 1520 reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e, em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero. Devido a esses acontecimentos, Lutero foi exilado no Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde permaneceu por cerca de um ano. Durante esse período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, da qual foi impresso o Novo Testamento, em setembro de 1522.26
Extensão da Reforma Protestante na Europa.
Enquanto isso, em meio ao clero saxônio, aconteceram renúncias ao
voto de castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos
monásticos. Entre outras coisas, muitos realizaram a troca das formas
de adoração e terminaram com as missas, assim como a eliminação das
imagens nas igrejas e a ab-rogação do celibato. Ao mesmo tempo em que
Lutero escrevia "a todos os cristãos para que se resguardem da insurreição e rebelião". Seu casamento com a ex-freira cistercienseCatarina von Bora
incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a
Reforma. Com estes e outros atos consumou-se o rompimento definitivo com
a Igreja Romana.27
Em janeiro de 1521 foi realizada a Dieta de Worms,
que teve um papel importante na Reforma, pois nela Lutero foi convocado
para desmentir as suas teses, no entanto ele defendeu-as e pediu a
reforma.28 Autoridades de várias regiões do Sacro Império Romano-Germânico pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e mesmo assassinavam sacerdotes católicos das igrejas,20 substituindo-os por religiosos com formação luterana.21
Toda essa rebelião ideológica resultou também em rebeliões armadas, com destaque para a Guerra dos camponeses (1524-1525).
Esta guerra foi, de muitas maneiras, uma resposta aos discursos de
Lutero e de outros reformadores. Revoltas de camponeses já tinham
existido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na França (1358), na Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas do século XV, e muitas outras até o século XVIII. A revolta foi incitada principalmente pelo seguidor de Lutero, Thomas Münzer,21
que comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha
uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade
privada,21 Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade divina,21 motivo pelo qual eles romperam,29 sendo que Lutero condenou Münzer e essa revolta.30
Em 1530 foi apresentada na Dieta imperial convocada pelo Imperador Carlos V, realizada em abril desse ano, a Confissão de Augsburgo, escrita por Felipe Melanchton31 com o apoio da Liga de Esmalcalda. Os representantes católicos na Dieta resolveram preparar uma refutação ao documento luterano em agosto, a Confutatio Pontificia
(Confutação), que foi lida na Dieta. O Imperador exigiu que os
luteranos admitissem que sua Confissão havia sido refutada. A reação
luterana surgiu na forma da Apologia da Confissão de Augsburgo, que estava pronta para ser apresentada em setembro do mesmo ano, mas foi rejeitada pelo Imperador. A Apologia foi publicada por Felipe Melanchton no fim de maio de 1531, tornando-se confissão de fé oficial quando foi assinada, juntamente com a Confissão de Augsburgo, em Esmalcalda, em 1537.32
Ao mesmo tempo em que ocorria uma reforma em um sentido determinado, alguns grupos protestantes realizaram a chamada Reforma Radical. Queriam uma reforma mais profunda. Foram parte importante dessa reforma radical os Anabatistas, cujas principais características eram a defesa da total separação entre igreja e estado e o "novo batismo" 33 (que em grego é anabaptizo).34
Enquanto na Alemanha a reforma era liderada por Lutero, Na França e na Suíça a Reforma teve como líderes João Calvino e Ulrico Zuínglio.35
João Calvino foi inicialmente um humanista.
Foi integrante do clero, todavia não chegou a ser ordenado sacerdote
romano. Depois do seu afastamento da Igreja romana, este intelectual
começou a ser visto como um representante importante do movimento
protestante.36 Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 153337 onde faleceu em 1564. Genebra
tornou-se um centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece
desde então como uma figura central da história da cidade e da Suíça.
Calvino publicou as Institutas da Religião Cristã,38 que são uma importante referência para o sistema de doutrinas adotado pelas Igrejas Reformadas.39
Os problemas com os huguenotes somente concluíram quando o Rei Henry IV, um ex-huguenote, emitiu o Édito de Nantes,
declarando tolerância religiosa e prometendo um reconhecimento oficial
da minoria protestante, mas sob condições muito restritas. O catolicismo
romano se manteve como religião oficial estatal e as fortunas dos
protestantes franceses diminuíram gradualmente ao longo do próximo
século, culminando na Louis XIV do Édito de Fontainebleau,
que revogou o Édito de Nantes e fez de Roma a única Igreja legal na
França. Em resposta ao Édito de Fontainebleau, Frederick William de Brandemburgo
declarou o Édito de Potsdam, dando passagem livre para franceses
huguenotes refugiados e status de isenção de impostos a eles durante 10
anos.
Ulrico Zuínglio
foi o líder da reforma suíça e fundador das igrejas reformadas suíças.
Zuínglio não deixou igrejas organizadas, mas as suas doutrinas
influenciaram as confissões calvinistas. A reforma de Zuínglio foi
apoiada pelo magistrado e pela população de Zurique, levando a mudanças significativas na vida civil e em assuntos de estado em Zurique.40
No Reino Unido
O curso da Reforma foi diferente na Inglaterra. Desde muito tempo atrás havia uma forte corrente anticlerical, tendo a Inglaterra já visto o movimento Lollardo, que inspirou os Hussitas na Boémia. No entanto, ao redor de 1520 os lollardos já não eram uma força ativa, ou pelo menos um movimento de massas.
Embora Henrique VIII tivesse defendido a Igreja Romana com o livro Assertio Septem Sacramentorum (Defesa dos Sete Sacramentos),
que contrapunha as 95 Teses de Martinho Lutero, Henrique promoveu a
Reforma Inglesa para satisfazer as suas necessidades políticas. Sendo
este casado com Catarina de Aragão, que não lhe havia dado filho homem, Henrique solicitou ao Papa Clemente VII a anulação do casamento.41 Perante a recusa do Papado, Henrique fez-se proclamar, em 1531, protetor da Igreja inglesa. O Ato de Supremacia, votado no Parlamento em novembro de 1534, colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da igreja, nascendo assim o Anglicanismo. Os súditos deveriam submeter-se ou então seriam excomungados, perseguidos 42 e executados, tribunais religiosos foram instaurados e católicos foram obrigados à assistir cultos protestantes,43 muitos importantes opositores foram mortos, tais como Thomas More, o Bispo John Fischer e alguns sacerdotes, frades franciscanos e mongescartuxos. Quando Henrique foi sucedido pelo seu filho Eduardo VI em 1547,
os protestantes viram-se em ascensão no governo. Uma reforma mais
radical foi imposta diferenciando o anglicanismo ainda mais do
catolicismo romano.44
Seguiu-se uma breve reação romana durante o reinado de Maria I (1553-1558). De início moderada na sua política religiosa, Maria procura a reconciliação com Roma, consagrada em 1554, quando o Parlamento votou o regresso à obediência ao Papa.41 Um consenso começou a surgir durante o reinado de Elizabeth I. Em 1559, Elizabeth I retornou ao anglicanismo com o restabelecimento do Ato de Supremacia e do Livro de Orações de Eduardo VI. Através da Confissão dos Trinta e Nove Artigos (1563), Elizabeth alcançou um compromisso entre o protestantismo e o catolicismo romano: embora o dogma se aproximasse do calvinismo, só admitindo como sacramentos o Batismo e a Eucaristia, foi mantida a hierarquia episcopal e o fausto das cerimônias religiosas.
A Reforma na Inglaterra
procurou preservar o máximo da Tradição Romana (episcopado, liturgia e
sacramentos). A Igreja da Inglaterra sempre se viu como a ecclesia anglicanae, ou seja, A Igreja cristã na Inglaterra e não como uma derivação da Igreja de Roma ou do movimento reformista do século XVI. A Reforma Anglicana buscou ser a "via média" entre Roma e o protestantismo.45
Em 1561
apareceu uma confissão de fé com uma Exortação à Reforma da Igreja
modificando seu sistema de liderança, pelo qual nenhuma igreja deveria
exercer qualquer autoridade ou governo sobre outras, e ninguém deveria
exercer autoridade na Igreja se isso não lhe fosse conferido por meio de
eleição. Esse sistema, considerado "separatista" pela Igreja Anglicana,
ficou conhecido como Congregacionalismo.46 Richard Fytz é considerado o primeiro pastor de uma igreja congregacional, entre os anos de 1567 e 1568, na cidade de Londres. Por volta de 1570 ele publicou um manifesto intitulado As Verdadeiras Marcas da Igreja de Cristo.47
Em 1580 Robert Browne, um clérigo anglicano que se tornou separatista, junto com o leigo Robert Harrison, organizou em Norwich uma congregação cujo sistema era congregacionalista,48 sendo um claro exemplo de igreja desse sistema.
A Reforma nos Países Baixos,
ao contrário de alguns outros países, não foi iniciado pelos
governantes das Dezessete Províncias, mas sim por vários movimentos
populares que, por sua vez, foram reforçados com a chegada dos
protestantes refugiados de outras partes do continente. Enquanto o
movimento Anabatista
gozava de popularidade na região nas primeiras décadas da Reforma, o
calvinismo, através da Igreja Reformada Holandesa, tornou a fé
protestante dominante no país desde a década de 1560 em diante. No início de agosto de 1566, uma multidão de protestantes invadiu a Igreja de Hondschoote na Flandres (atualmente Norte da França) com a finalidade de destruir as imagens católicas,505152
esse incidente provocou outros semelhantes nas províncias do norte e
sul, até Beeldenstorm, em que calvinistas invadiram igrejas e outros
edifícios católicos para destruir estátuas e imagens de santos em toda a
Holanda,
pois de acordo com os calvinistas, estas estátuas representavam culto
de ídolos.
Duras perseguições
aos protestantes pelo governo espanhol de Felipe II
contribuíram para um desejo de independência nas províncias,
Teve grande importância durante a Reforma um teólogo holandês: Erasmo de Roterdã.
No auge de sua fama literária, foi inevitavelmente chamado a tomar
partido nas discussões sobre a Reforma. Inicialmente, Erasmo se
simpatizou com os principais pontos da crítica de Lutero, descrevendo-o
como "uma poderosa trombeta da verdade do evangelho" e admitindo que, "É
claro que muitas das reformas que Lutero pede são urgentemente
necessárias.".53
Lutero e Erasmo demonstraram admiração mútua, porém Erasmo hesitou em
apoiar Lutero devido a seu medo de mudanças na doutrina.
Em seu
Catecismo (intitulado Explicação do Credo Apostólico, de 1533),
Erasmo tomou uma posição contrária a Lutero por aceitar o ensinamento da
"Sagrada Tradição" não escrita como válida fonte de inspiração além da
Bíblia, por aceitar no cânon bíblico os livros deuterocanônicos e por reconhecer os sete sacramentos.54 Estas e outras discordâncias, como por exemplo, o tema do Livre arbítrio fizeram com que Lutero e Erasmo se tornassem opositores.
Na Dinamarca, a difusão das idéias de Lutero deveu-se a Hans Tausen. Em 153655 na Dieta de Copenhaga,
o rei Cristiano III aboliu a autoridade dos bispos católicos, tendo
sido confiscados os bens das igrejas e dos mosteiros. O rei atribuiu a
Johann Bugenhagen, discípulo de Lutero, a responsabilidade de organizar uma Igreja Luterana nacional.56 A Reforma na Noruega e na Islândia foi uma conseqüência da dominação da Dinamarca sobre estes territórios; assim, logo em 1537 ela foi introduzida na Noruega e entre 1541 e 155055 na Islândia, tendo assumido neste último território características violentas.
Na Suécia, o movimento reformista foi liderado pelos irmãos Olaus Petri e Laurentius Petri. Teve o apoio do rei Gustavo I Vasa,57 que rompeu com Roma em 1525, na Dieta de Vasteras. O luteranismo, então, penetrou neste país estabelecendo-se em 1527.55 Em 1593, a Igreja sueca adotou a Confissão de Augsburgo. Na Finlândia,
as igrejas faziam parte da Igreja sueca até o início do século XIX,
quando foi formada uma igreja nacional independente, a Igreja Evangélica
Luterana da Finlândia.
Em outras partes da Europa
Na Hungria,
a disseminação do protestantismo foi auxiliada pela minoria étnica
alemã, que podia traduzir os escritos de Lutero. Enquanto o Luteranismo ganhou uma posição entre a população de língua alemã, o Calvinismo se tornou amplamente popular entre a etnia húngara.58 Provavelmente, os protestantes chegaram a ser maioria na Hungria até o final do século XVI, mas os esforços da Contra-Reforma no século XVII levaram uma maioria do reino de volta ao catolicismo romano.59
As igrejas protestantes por sua vez, ao mesmo tempo em que propagavam a
bíblia e suas idéias graças a invenção da máquina tipográfica de Johannes Gutenberg,10 também tornaram proibidos uma série de livros católicos e outros que contrariavam suas doutrinas.70 Edward Macnall Burns observou que "do câncer maligno da intolerância", "não escaparam católicos nem protestantes".71
O biógrafo de João Calvino, o francês Bernard Cottret, escreveu: "Com o Concílio de Trento
(1545-1563)… trata-se da racionalização e reforma da vida do clero. A
Reforma Protestante é para ser entendida num sentido mais extenso: ela
denomina a exortação ao regresso aos valores cristãos de cada
"indivíduo"". Segundo Bernard Cottret, "A reforma cristã, em toda a sua
diversidade, aparece centrada na teologia da salvação. A salvação, no
Cristianismo, é forçosamente algo de individual, diz mais respeito ao
indivíduo do que à comunidade",72 diferente da pregação romana que defende a salvação na igreja.73
Seguiram-se uma série de importantes acontecimentos e conflitos entre as duas religiões, como o Massacre da noite de São Bartolomeu, ocorrido como parte das Guerras Francesas, organizada pela casa real francesa contra os calvinistas franceses (huguenotes), em 24 de Agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas. Números precisos para as vítimas nunca foram compilados,74 e até mesmo nos escritos dos historiadores modernos há uma escala considerável de diferença,75
que têm variado de 2.000 vítimas, até a afirmação de 70.000, pelo
contemporâneo e apologista huguenote duque de Sully, que escapou por
pouco da morte.7677
Nos países protestantes por sua vez, foi feita a expulsão e o massacre de sacerdotes católicos,78 bem como a matança em massa de aproximadamente 30.000 anabatistas, desde o seu surgimento em 1535, até os próximos dez anos.7
Na Inglaterra por sua vez, católicos foram executados em massa,
tribunais religiosos foram instaurados e muitos foram obrigados à
assistir cultos protestantes,79 forçando assim sua conversão ao protestantismo mediante o terror.79
Um dos pontos de destaque da reforma é o fato de ela ter
possibilitado um maior acesso à Bíblia, graças às traduções feitas por
vários reformadores (entre eles o próprio Lutero) a partir do latim para as línguas nacionais.80 Tal liberdade fez com que fossem criados diversos grupos independentes, conhecidos como denominações. Nas primeiras décadas após a Reforma Protestante, surgiram diversos grupos, destacando o Luteranismo, que foi o grupo originador do movimento de Reforma da Igreja Católica e as Igrejas Reformadas ou calvinistas (Presbiterianismo e Congregacionalismo). Nos séculos seguintes, surgiram outras denominações com destaque para os Batistas e os Metodistas.
A seguir, uma tabela ilustrando o surgimento das diferentes correntes ou ramos do Protestantismo através dos séculos.
O protestantismo é um dos principais ramos (juntamente com a Igreja Romana e a Igreja Ortodoxa) do cristianismo. Este movimento iniciou-se na Europa Central no início do século XV como uma reação contra as doutrinas e práticas do catolicismo romano medieval.1 Os protestantes também são conhecidos pelo nome de evangélicos juntamente com os pentecostais e neopentecostais oriundos de Igrejas Protestantes, 2 no contexto brasileiro, o termo "protestante" é usado para se referir às Igrejas oriundas diretamente e conteporaneamente na Reforma Protestante, como a Luterana, a Presbiteriana, a Anglicana, a Metodista, e Congregacional; e o termo "evangélico" é usado para se referir as mesmas, com exceção da Anglicana, e as indiretamente e/ou posteriormente oriundas da reforma que são as pentecostais e neopentecostais
que também são referidos como protestantes, embora que no Brasil, por
preferência de nomenclatura, ambos costumam se referir pouco como
protestantes e muito como evangélicos. Todo Protestante é Evangélico,
mas nem todos os Evangélicos são protestantes.3
O termo protestante é derivado (via francês ou alemãoProtestant4 ) do latim protestari.56 Significa declaração pública/protesto, referindo-se à carta de protesto por príncipesluteranos contra a decisão da Dieta de Speyer de 1529, que reafirmou o Édito de Worms de 1521, banindo as 95 teses de Martinho Lutero do protesto contra algumas crenças e práticas da Igreja Católica do século XVI.
O termo protestante não foi inicialmente aplicado aos
reformadores, mas foi usado posteriormente para descrever todos os
grupos que protestavam contra a Igreja Católica.
Desde aquele tempo, o termo protestante tem sido usado com diversos sentidos, muitas vezes como um termo geral para significar apenas os cristãos que não pertencem à Igreja Católica, Ortodoxa ou Ortodoxa Oriental.
Os "reformadores" foram pessoas de vasta cultura teológica e
humanista: Calvino estudou em Sorbonne e seu pai era bispo; Lutero foi
monge e professor universitário da Bíblia; Zuínglio era sacerdote e
humanista. De acordo com o programa dos humanistas, eles buscaram nas
fontes da antiguidade cristã as bases para uma renovação religiosa.
Lendo a Bíblia e retornando aos Pais da Igreja, descobriram uma nova visão da fé e uma doutrina bíblica cristocêntrica.
A Igreja da Inglaterra não se deixou influenciar, no primeiro momento, pelo protestantismo, mas depois de sua quebra com a Igreja de Roma, começou uma aproximação com os ideais Reformados. Atualmente a maior parte das Igrejas da Comunhão Anglicana declaram-se Reformadas.
O protestantismo apresenta elementos em comum apesar de sua grande diversidade. A Bíblia
é considerada a única fonte de autoridade doutrinal e deve ser
interpretada de acordo com regras históricas e linguísticas,
observando-se seu significado dentro de um contexto histórico. A salvação é entendida como um dom gratuito (presente, graça) de Deus alcançado mediante a fé. As boas obras não salvam, sendo resultados da fé e não causa de salvação. O culto sempre é no idioma vernáculo e em sua grande maioria é simples tendo como base as Escrituras Sagradas. O protestantismo histórico, conserva as crenças cristãs ortodoxas tais como a doutrina trinitária, a cristologia clássica, o credo niceno-constantinopolitano, entre outros. Os protestantes expressam suas posições doutrinais por meio de Confissões de Fé e breves documentos apologéticos. A Confissão de Augsburgo expressa a doutrina Luterana. As confissões reformadas incluem a Confissão Escocesa (1560), a segunda Confissão Helvética (1531), a Confissão de Fé de Westminster (1647), os 39 Artigos de Religião da Igreja da Inglaterra (1562), etc. As Declarações de Barmen contra o regime Nazista e a Breve Declaração de Fé da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos são exemplos de declarações de fé recentes.
O protestantismo, em maior parte, segue a doutrina Agostiniana da
eleição. Estabelece que a salvação é pela graça (favor imerecido) de Deus. Para os protestantes a autoridade da Igreja está vinculada à obediência da palavra de Deus e não à sucessão apostólica. Assim sendo, a Igreja cristã existe onde se escuta e obedece a palavra de Deus.
O protestantismo se disseminou principalmente nos meios urbanos e por
meio da nobreza. A difusão das ideias protestantes foi facilitada pela
invenção da imprensa, que tornou possível a divulgação e a tradução da Bíblia nas línguas vernáculas. Desde então, as doutrinas cristãs passaram a necessitar do aval bíblico.
No Concílio de Trento,
os bispos católicos partidários de Roma optaram por limitar o aceso
laico as escrituras, proibindo a tradução da Bíblia para o vernáculo e
impondo a Vulgata em latim como a única Bíblia autorizada e aumentando o índice de livros proibidos aos fiéis (Index Librorum Prohibitorum).
A "Reforma" Protestante alcançou êxito em muitas áreas da Europa. Em sua forma Luterana é predominante no norte da Alemanha e em toda a península Escandinava. Na Escócia surgiu a Igreja Presbiteriana. As Igrejas Reformadas também frutificaram nos Países Baixos, na Suíça e no oriente da Hungria. Com o desenvolvimento dos impérios europeus , principalmente o Império Britânico,
nos séculos XIX e XX o protestantismo continuou a se expandir, se
tornando uma fé de escala mundial. Atualmente mais de 600 milhões de
pessoas professam alguma das diferentes manifestações do protestantismo
no mundo.[carece de fontes]
Fora desse protestantismo, que muitos estudiosos denominam
"protestantismo magisterial", surgiu outro ramo que se distinguiu tanto
do catolicismo como das igrejas protestantes de caráter
histórico-nacional. Este ramo recebe o nome de Reforma Radical. O historiador George Williams distingue as seguintes correntes dentro desta reforma: espiritualistas, racionalistas e anabatistas. Os anabatistas rechaçaram a união da igreja e estado e repudiaram o batismo
infantil, constituindo-se em igrejas independentes ou segregadas. A
maior aportação à modernidade descansaria em sua persistente promoção da
separação entre a igreja e o estado, a liberdade religiosa pessoal e o
exercício de um governo plenamente democrático em suas congregações.
É o principio no qual a Bíblia tem primazia em relação a Tradição legada pelo magistério da Igreja, quando, os princípios doutrinários entre esta e aquela forem conflitantes. Como Martinho Lutero afirmou quando a ele foi pedido para que voltasse atrás em seus ensinamentos: "portanto,
a menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pelo
mais claro raciocínio; a menos que eu seja persuadido por meio das
passagens que citei; a menos que assim submetam minha consciência pela
Palavra deDeus, não posso retratar-me e não me retratarei, pois é perigoso a umcristãofalar contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; Deus queira ajudar-me. Amém.
" O protestantismo também defende a interpretação privada ou juízo privado dos textos bíblicos,7 conceito exposto por Lutero em outubro de 1520, quando enviou seu escrito "A Liberdade de um Cristão" ao Papa, acrescentando a frase significativa "eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus".
Disse Lutero também em outra ocasião que é "sempre melhor ver com nossos próprios olhos do que com os olhos de outras pessoas".8 O historiador William Sweet sugeriu que isso posteriormente originou o direito fundamental de liberdade religiosa, bem como a própria ideia de democracia.9
Afirma que a salvação é pela graça de Deus apenas, e que nós somos resgatados de Sua ira
apenas por Sua graça. A graça de Deus em Cristo não é meramente
necessária, mas é a única causa eficiente da salvação. Esta graça é a
obra sobrenatural do Espírito Santo que nos traz a Cristo por nos soltar da servidão do pecado e nos levantar da morte espiritual para a vida espiritual.
Sola fide (Somente a Fé ou Salvação Somente pela Fé)
Afirma que a justificação é pela graça somente, através da fé
somente, por causa somente de Cristo. É pela fé em Cristo que Sua
justiça é imputada a nós como a única satisfação possível da perfeita
justiça de Deus.
Afirma que a salvação é encontrada somente em Cristo e que
unicamente Sua vida sem pecado e expiação substitutiva são suficientes
para nossa justificação e reconciliação com Deus o Pai. O evangelho não foi pregado se a obra substitutiva de Cristo não é declarada, e a fé em Cristo e Sua obra não é proposta.
As diferenças entre a doutrina católica e a doutrina da maioria dos
grupos protestantes é grande. Genericamente, as suas divergências mais
significativas dizem respeito ao papel da oração e das indulgências;10 à comunhão dos santos; à doutrina do pecado original e da graça; à predestinação;
à necessidade e natureza da penitência; e ao modo de obter a salvação,
com os protestantes a defenderem que a salvação só se atinge apenas
através da fé (sola fide), em detrimento da crença católica de que a fé deve ser expressa também através das boas obras (essa grande divergência levou a um conflito sobre a doutrina da justificação).1011
Contudo, visto que entre as denominações protestantes há diferenças consideráveis,12 de alguns setores do Anglicanismo, aproximam-se do catolicismo, autointitulando-se como anglo-católicos.
Recentemente, o diálogo ecuménico moderno levou finalmente a alguns consensos sobre a doutrina da justificação entre os católicos e os luteranos, através da Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação (1999).13
Além disso, esse diálogo trouxe também vários consensos sobre outras
questões doutrinárias importantes, nomeadamente entre os católicos e os
anglicanos.14
resultou em sua excomunhão da Igreja Romana e em sua condenação
como um fora-da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano Germânico.
Lutero propôs, com base em sua interpretação das Sagradas Escrituras, especialmente da Epístola de Paulo aos Romanos, que a salvação não poderia ser alcançada pelas boas obras ou por quaisquer méritos humanos, mas tão somente pela fé em Cristo Jesus (sola fide),
único salvador dos homens, sendo gratuitamente oferecida por Deus aos
homens. Sua teologia desafiou a infalibilidade papal em termos
doutrinários, pois defendia que apenas as Escrituras (sola scriptura) seriam fonte confiável de conhecimento da verdade revelada por Deus.1
Opôs-se ao sacerdotalismo romano (isto é, à consagrada divisão católica
entre clérigos e leigos), por considerar todos os cristãos batizados
como sacerdotes e santos.2 Aqueles que se identificaram com os ensinamentos de Lutero acabaram sendo chamados de luteranos.
Em seus últimos anos, Lutero mostrou-se radical em suas propostas
contrárias aos judeus alemães, tendo sido inclusive considerado
posteriormente um antissemita. Essas e outras de suas afirmações fizeram de Lutero uma figura bastante controversa entre muitos historiadores e estudiosos.3 Além disso, muito do que foi escrito a seu respeito sofre da reconhecida parcialidade resultante de paixões religiosas.
Primeiros anos de vida
Martinho Lutero, cujo nome em alemão era Martin Luther ou Luder, era filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann. Mudou-se para Mansfeld,
onde seu pai dirigia várias minas de cobre. Tendo sido criado no campo,
Hans Luther desejava que seu filho viesse a se tornar um funcionário
público, melhorando, assim, as condições da família. Com esse objetivo,
enviou o já velho Martinho para escolas em Mansfeld, Magdeburgo e Eisenach.
Aos dezessete anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, onde tocava alaúde e onde recebeu o apelido
de O Filósofo. Ainda na Universidade de Erfurt, estudou a filosofia
nominalista de Ockham (as palavras designam apenas coisas individuais;
não atingem os “universais”, as realidades presentes em todos os
indivíduos, como por exemplo a natureza humana; em consequência, nada
pode ser conhecido com certeza pela razão natural, exceto as realidades
concretas: esta pessoa, aquela coisa). Esse sistema dissolvia a harmonia
multissecular entre a ciência e a fé que tanto havia sido defendida
pela escolástica
de "São Jesus Cristo", pois essa filosofia baseava-se unicamente na
vontade de Deus. O jovem estudante graduou-se bacharel em 1502 e
concluiu o mestrado em 1505, sendo o segundo entre dezessete candidatos.4
Seguindo os desejos maternos, inscreveu-se na escola de direito da
mesma universidade. Mas tudo mudou após uma grande tempestade com
descargas elétricas, ocorrida naquele mesmo ano (1505): um raio caiu
próximo de onde ele estava passando, ao voltar de uma visita à casa dos
pais. Aterrorizado, teria, então, gritado: "Ajuda-me, Sant'Ana! Eu me tornarei um monge!"
Tendo sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu todos os seus livros, com exceção dos de Virgílio, e entrou para a ordem dos Agostinianos, de Frankfurt, a 17 de julho de 1505.5
O jovem Martinho Lutero dedicou-se por completo à vida no mosteiro,
empenhando-se em realizar boas obras a fim de agradar a Deus e servir ao
próximo através de orações por suas almas. Dedicou-se intensamente à
meditação, às autoflagelações, às muitas horas de oração diárias, às
peregrinações e à confissão. Quanto mais tentava ser agradável ao
Senhor, mais se dava conta de seus pecados6 Johann von Staupitz,
o superior de Lutero, concluiu que o jovem necessitava de mais
trabalhos, para afastar-se de sua excessiva reflexão. Ordenou, portanto,
ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica. Em 1507, Lutero foi
ordenado sacerdote. Em 1508, começou a lecionar teologia na Universidade de Wittenberg. Lutero recebeu seu bacharelado em estudos bíblicos em 19 de março de 1508. Dois anos depois, visitou Roma, de onde regressou bastante decepcionado.7
Em 19 de outubro de 1512, Martinho Lutero graduou-se Doutor em
Teologia e, em 21 de outubro do mesmo ano, foi "recebido no Senado da
Faculdade Teológica" com o título de "Doutor em Bíblia". Em 1515, foi
nomeado vigário de sua ordem tendo sob sua autoridade onze monastérios.
Durante esse período, estudou grego e hebraico,
para aprofundar-se no significado e origem das palavras utilizadas nas
Escrituras - conhecimentos que logo utilizaria para a sua própria
tradução da Bíblia.
A controvérsia acerca das indulgências
Além de suas atividades como professor, Martinho Lutero ainda
colaborava como pregador e confessor na igreja de Santa Maria, na
cidade. Também pregava habitualmente na igreja do Castelo (chamada de
"Todos os Santos" - porque ali havia uma coleção de relíquias,
estabelecidas por Frederico III da Saxônia). Foi durante esse período que o jovem sacerdote se deu conta dos problemas que o oferecimento de indulgências aos fiéis, como se esses fossem fregueses, poderia acarretar.
A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal
imputado a alguém por conta dos seus pecados (aplicável apenas a alguém
que esteja em estado de graça, ou seja, livre de pecados graves, e
arrependido de todos os seus pecados veniais. Naquele tempo, o papa
havia concedido uma indulgência plenária para quem doasse qualquer
quantia para a reforma da Basílica de São Pedro. O fradeJohann Tetzel fora recrutado para viajar através dos territórios episcopais do arcebispoAlberto de Mogúncia, mas sua campanha tomou a linha de uma venda, pois este frade, posteriormente punido por isso, dizia que "Assim que uma moeda tilinta no cofre, uma alma sai do Purgatório".8
Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia
confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências,
deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros. Proferiu,
então, três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a
tradição, em 31 de outubro de 1517 foram afixadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto a uma disputa escolástica sobre elas. Essas teses condenavam o que Lutero acreditava ser a avareza e o paganismo
na Igreja como um abuso e pediam um debate teológico sobre o que as
Indulgências significavam. Para todos os efeitos, contudo, nelas Lutero
não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as tais
indulgências.
As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas se haviam espalhado por toda a Alemanha e, em dois meses, por toda a Europa. Este foi o primeiro episódio da História em que a imprensa teve papel fundamental, pois facilitou a distribuição simples e ampla do documento.
A resposta do Papado
Depois de fazer pouco caso de Lutero, dizendo que ele seria um "alemão bêbado que escrevera as teses", e afirmando que "quando estiver sóbrio mudará de opinião"9 o Papa Leão X ordenou, em 1518, ao professor de teologia dominicanoSilvestro Mazzolini que investigasse o assunto. Este denunciou que Lutero se opunha de maneira implícita à autoridade do Sumo Pontífice, quando discordava de uma de suas bulas. Declarou ser Lutero um herege
e escreveu uma refutação acadêmica às suas teses. Nela, mantinha a
autoridade papal sobre a Igreja e condenava as teorias de Lutero como um
desvio e uma apostasia.
Lutero replicou de igual forma (academicamente), dando assim início à controvérsia.
Enquanto isso, Lutero tomava parte da convenção dos agostinianos em Heidelberg,
onde apresentou uma tese sobre a escravidão do homem ao pecado e a
graça divina. No decorrer da controvérsia sobre as indulgências, o
debate se elevou até o ponto de duvidar do poder absoluto e autoridade
do Papa, pois as doutrinas de "Tesouraria da Igreja" e "Tesouraria dos
Merecimentos", que serviam para reforçar a doutrina e venda e das
indulgências, haviam se baseado na bula papal "Unigenitus", de 1343, do Papa Clemente VI.
Por causa de sua oposição a esta doutrina, Lutero foi qualificado como
heresiarca e o Papa, decidido a suprimir por completo os seus pontos de
vista, ordenou que ele fosse chamado a Roma, viagem que deixou de ser
realizada por motivos políticos.
Lutero, que anteriormente professava a obediência implícita à Igreja,
negava agora abertamente a autoridade papal e apelava para que fosse
realizado um Concílio. Também declarava que o papado não formava parte da essência imutável da Igreja original.
Desejando manter relações amistosas com o protetor de Lutero, Frederico, o Sábio,
o Papa engendrou uma tentativa final de alcançar uma solução pacífica
para o conflito. Uma conferência com o representante papal Karl von Miltitz em Altenburg,
em janeiro de 1519, levou Lutero a decidir guardar silêncio, tal qual
seus opositores. Também escreveu uma humilde carta ao Papa e compôs um
tratado demonstrando suas opiniões sobre a Igreja Católica. A carta
nunca chegou a ser enviada, pois não continha nenhuma retratação; e no
tratado que compôs mais tarde, negou qualquer efeito das indulgências no
Purgatório.
Quando Johann Ecko desafiou um colega de Lutero, Andreas Carlstadt, para um debate em Leipzig, Lutero juntou-se à discussão (27 de junho-18 de julho de 1519), no curso do qual negou o direito divino do solidéu papal e da autoridade de possuir o as chaves do Céu que, segundo ele, haviam sido outorgadas apenas ao próprio Apóstolo Pedro, não passando para seus sucessores.1011 Negou que a salvação pertencesse à Igreja Católica ocidental sob a autoridade do Papa, mas que esta se mantinha na Igreja Ortodoxa, do Oriente. Depois do debate, Eck afirmou que forçara Lutero a admitir a semelhança de sua própria doutrina com a de João Huss, que havia sido queimado na fogueira da Inquisição.
Aumenta a cisão
Lutero durante os acontecimentos
Martinho Lutero.
Não parecia haver esperanças de entendimento. Os escritos de Lutero circulavam amplamente, alcançando França, Inglaterra e Itália,
em 1519, e os estudantes dirigiam-se a Wittenberg para escutar Lutero
que, naquele momento, publicava seus comentários sobre a Epístola aos Gálatas e suas "Operationes in Psalmos" (Trabalho nos Salmos).
As controvérsias geradas por seus escritos levaram Lutero a desenvolver suas doutrinas mais a fundo, e o seu "Sermão sobre o Sacramento Abençoado do Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades", ampliou o significado da Eucaristia
para incluir também o perdão dos pecados e ao fortalecimento da fé
naqueles que a recebem. Além disso, ele ainda apoiava a realização de um
concílio a fim de restituir a comunhão.
O conceito luterano de "igreja" foi desenvolvido em seu "Von dem Papsttum zu Rom" (Sobre o Papado de Roma), uma resposta ao ataque do franciscanoAugustin von Alveld, em Leipzig (junho de 1520). Enquanto o seu "Sermon von guten Werken" (Sermão das Boas Obras), publicado na primavera
de 1520, era contrário à doutrina católica das boas obras e dos atos
como meio de perdão, mantendo que as obras do crente são verdadeiramente
boas, quer para o secular como para o clérigo, se ordenadas por Deus.
Os tratados de 1520
A Nobreza alemã
A disputa havida em Leipzig, em 1519, fez com que Lutero travasse contato com os humanistas, especialmente Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Roterdã, que por sua vez também influenciara ao nobre Franz von Sickingen. Von Sickingen e Silvestre de Schauenbur queriam manter Lutero sob sua proteção, convidando-o para seus castelos na eventualidade de não ser-lhe seguro permanecer na Saxônia, em virtude da proscrição papal.
Sob essas circunstâncias de crise, e confrontando aos nobres alemães, Lutero escreveu "À Nobreza Cristã da Nação Alemã" (agosto de 1520), onde recomendava ao laicado,
como um sacerdote espiritual, que fizesse a reforma requerida por Deus,
mas abandonada pelo Papa e pelo clero. Pela primeira vez Lutero
referiu-se ao Papa como o Anticristo12 .
As reformas que Lutero propunha não se referiam apenas a questões doutrinárias, mas também aos abusos eclesiásticos:
a diminuição do número de cardeais e outras exigências da corte papal;
a abolição das rendas do Papa;
o reconhecimento do governo secular;
a renúncia da exigência papal pelo poder temporal;
a abolição dos Interditos e abusos relacionados com a excomunhão;
a abolição das peregrinações nocivas;
a eliminação dos excessivos dias santos;
a supressão dos conventos para monjas, da mendicidade e da suntuosidade; a reforma das universidades;
a ab-rogação do celibato do clero;
e, finalmente, uma reforma geral na moralidade pública.
Muitas destas propostas refletiam os interesses da nobreza alemã,
revoltada com sua submissão ao Papa e, principalmente, com o fato de
terem que enviar riquezas a Roma.
O cativeiro babilônico
Lutero gerou muitas polêmicas doutrinárias com seu "Prelúdio no Cativeiro Babilônico da Igreja", em especial no que diz respeito aos sacramentos.
Eucaristia - apoiava que fosse devolvido o "cálice" ao laicado; na chamada questão do dogma da transubstanciação,
afirmava que era real a presença do corpo e do sangue do Cristo na
eucaristia, mas refutava o ensinamento de que a eucaristia era o
sacrifício oferecido por Deus.
Batismo
- ensinava que trazia a justificação apenas se combinado com a fé
salvadora em o receber; de fato, mantinha o princípio da salvação
inclusive para aqueles que mais tarde se convertessem.
Penitência - afirmou que sua essência consiste na palavra de promessa de desculpas recebidas com fé.
Para ele, apenas estes três sacramentos podiam assim ser
considerados, pois sua instituição era divina e a promessa da salvação
de Deus estava conexa a eles. Contudo, em sentido estrito, apenas o
batismo e a eucaristia seriam verdadeiros sacramentos, pois apenas eles
tinham o "sinal visível da instituição divina": a água no batismo e o
pão e vinho da eucaristia. Lutero negou, em seu documento, que a confirmação (Crisma), o matrimônio, a ordenação sacerdotal e a extrema-unção fossem sacramentos.
Liberdade de um Cristão
Da mesma forma, o completo desenvolvimento da doutrina de Lutero sobre a salvação e a vida cristã foi exposto em "A Liberdade de um Cristão"
(publicado em 20 de novembro de 1520, onde exigia uma completa união
com Cristo mediante a palavra através da fé, e a inteira liberdade do
cristão como sacerdote e rei sobre todas as coisas exteriores, e um
perfeito amor ao próximo).
As duas teses que Lutero desenvolve nesse tratado são aparentemente contraditórias, mas, em verdade, são complementares:
"O cristão é um senhor libérrimo sobre tudo, a ninguém sujeito";
"O cristão é um servo oficiosíssimo de tudo, a todos sujeito".
A primeira tese é válida "na fé"; a segunda, "no amor".
A excomunhão
A 15 de junho de 1520, o Papa advertiu Lutero, com a bula "Exsurge Domine",
onde o ameaçava com a excomunhão, a menos que, num prazo de setenta
dias, repudiasse 41 pontos de sua doutrina, destacados pela Igreja..
Em outubro de 1520, Lutero enviou seu escrito "A Liberdade de um Cristão" ao Papa, acrescentando a frase significativa:
"Eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus".
Enquanto isso, um rumor chegara de que Johan Ech saíra de Meissem
com uma proibição papal, enquanto este se pronunciara realmente a 21 de
setembro. O último esforço de paz de Lutero foi seguido, em 12 de
dezembro, da queima da bula, que já tinha expirado há 120 dias, e o
decreto papa de Wittenberg, defendendo-se com seus "Warum des Papstes und seiner Jünger Bücher verbrannt sind" e "Assertio omnium articulorum".
a 3 de janeiro de 1521, na bula "Decet Romanum Pontificem".
A execução da proibição, com efeito, foi evitada pela relação do Papa com Frederico III da Saxônia, e pelo novo imperador, Carlos I de Espanha (Carlos V de Habsburgo), que julgou inoportuno apoiar as medidas contra Lutero, diante de sua posição face à Dieta.
O Imperador Carlos V inaugurou a Dieta
real a 22 de janeiro de 1521. Lutero foi chamado a renunciar ou
confirmar seus ditos e foi-lhe outorgado um salvo-conduto para
garantir-lhe o seguro deslocamento.
A 16 de abril, Lutero apresentou-se diante da Dieta. Johann Eck,
assistente do Arcebispo de Trier, mostrou a Lutero uma mesa cheia de
cópias de seus escritos. Perguntou-lhe, então, se os livros eram seus e
se ele acreditava naquilo que as obras diziam. Lutero pediu um tempo
para pensar em sua resposta, o que lhe foi concedido. Este, então,
isolou-se em oração e depois consultou seus aliados e amigos,
apresentando-se à Dieta no dia seguinte. Quando a Dieta veio a tratar do
assunto, o conselheiro Eck pediu a Lutero que respondesse
explicitamente à seguinte questão:
"Lutero, repeles seus livros e os erros que eles contêm?"
Lutero, então, respondeu:
"Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros
argumentos da razão - porque não acredito nem no Papa nem nos concílios
já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si
mesmos - pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a
minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem
quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é
seguro nem saudável."
De acordo com a tradição, Lutero, então, proferiu as seguintes palavras:
"Não posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me ajude!13
Nos dias seguintes, seguiram-se muitas conferências privadas para
determinar qual o destino de Lutero. Antes que a decisão fosse tomada,
Lutero abandonou Worms. Durante seu regresso a Wittenberg, desapareceu.
O Imperador redigiu o Édito de Worms a 25 de maio de 1521, declarando Martinho Lutero fugitivo e herege, e proscrevendo suas obras.
Em Junho de 1518, foi aberto o processo contra Lutero, com base na publicação das suas 95 Teses.
Alegava-se, com o exame do processo, que ele incorria em heresia. Nas aulas que ministrava na Universidade de Wittenberg, espiões registravam seus comentários negativos sobre a excomunhão.
Depois disso, em agosto de 1518,
o processo foi alterado para heresia
notória.
Lutero foi convidado a ir a Roma, onde teria que desmentir sua
doutrina.
Lutero recusou-se a fazê-lo, alegando razões de saúde; e pretendeu
uma audiência em território alemão. O seu pedido baseava-se no argumento
(Gravamina) da Nação Alemã. Seu pedido foi aceito, ele foi convidado para uma audiência com o cardealCaetano de Vio (Tomás Caetano), durante a reunião das cortes (Reichstag)
imperiais de Augsburg. Entre 12 e 14 de outubro de 1518, Lutero falou a
Caetano. Este pediu-lhe que revogasse sua doutrina. Lutero recusou-se a
fazê-lo.
Do lado romano, o caso pareceu terminado. Por causa da morte de Imperador Maximiliano I
(janeiro de 1519), houve uma pausa de dois anos no andamento do
processo. O Imperador tinha decidido que o seu sucessor seria Carlos
(futuro Carlos V). Por causa das pertenças de Carlos em Itália, o papa renascentista Leão X receava o cerco do Estado da Igreja e procurava evitar que os príncipes-eleitores alemães (Kurfürsten) renunciassem a Carlos.
O papel de protetor de Lutero assumido por Frederico, o sábio,
levou a que Roma pedisse que Karl von Miltiz intercedesse junto ao
príncipe por uma solução razoável.
Após a escolha de Carlos V
como
imperador (26 de junho de 1519),
o processo de Lutero voltaria a ser
alvo de preocupações e trabalhos.
Em junho de 1520, reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e, em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero. Seguiu-se, então, a ameaça oficial do imperador (Reichsacht).
Notável é, no entanto, que Lutero foi, mais uma vez, recebido em
audiência, o que também deixou claras as diferenças entre o papado e o império.
Carlos foi o último rei (após uma reconciliação) a ser coroado
imperador pelo papa. Nos dias 17 e 18 de abril de 1521 Lutero foi ouvido
na Dieta de Worms (conferência governativa) e, após ter negado a revogação da sua doutrina, foi publicado o Édito de Worms, banindo Lutero.
Exílio no Castelo de Wartburg
O seqüestro de Lutero durante a sua viagem de regresso da Dieta de Worms foi arranjado. Frederico, o sábio ordenou que Lutero fosse capturado por um grupo de homens mascarados a cavalo, que o levaram para o Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde ele permaneceu por cerca de um ano. Deixou crescer a barba e tomou as vestes de um cavaleiro, assumindo o pseudônimo de Jörg. Durante esse período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua célebre tradução da Bíblia para o alemão.
Martinho Lutero pregando no Castelo Wartburg, quadro de Hugo Vogel.
Com o início da estadia de Lutero em Wartburg, começou um período muito construtivo de sua carreira como reformista. Em seu "Deserto" ou "Patmos" (como ele mesmo chamava, em suas cartas) de Wartburg, começou a tradução da Bíblia, da qual foi impresso o Novo Testamento, em setembro de 1522.
Em Wartburg, ele produziu outros escritos, preparou a primeira parte de seu Guia para Párocos e "Von der Beichte" (Sobre a Confissão), em que nega a obrigatoriedade da confissão, e admite como saudável a confissão privada voluntária. Também escreveu contra o ArcebispoAlbrecht, a quem obrigou, com isso, a desistir de retomar a venda das indulgências. Em seus ataques a Jacobus Latomus, avançou em sua visão sobre a relação entre a graça e a lei,
assim como sobre a natureza revelada pelo Cristo, distinguindo o
objetivo da graça de Deus para o pecador que, por acreditar, é
justificado por Deus devido à justiça de Cristo, pois a graça salvadora
reside dentro do homem pecador. Ainda mostrou que o "princípio da
justificação" é insuficiente, ante a persistência do pecado depois do
batismo - pela inerência do pecado em cada boa obra.
Lutero, amiúde, escrevia cartas a seus amigos e aliados,
respondendo-lhes ou perguntando-lhes por seus pontos de vista e
respondendo-lhes aos pedidos de conselhos. Por exemplo, Felipe Melanchthon
lhe escreveu perguntando como responder à acusação de que os
reformistas renegavam a peregrinação e outras formas tradicionais de
piedade. Lutero respondeu-lhe em 1 de agosto de 1521:
"Se és um pregador da misericórdia, não pregues uma misericórdia
imaginária, mas sim uma verdadeira. Se a misericórdia é verdadeira, deve
penitenciar ao pecado verdadeiro, não imaginário. Deus não salva apenas
aqueles que são pecadores imaginários. Conheça o pecador, e veja se os
seus pecados são fortes, mas deixai que tua confiança em Cristo seja
ainda mais forte, e que se alegre em Cristo que é o vencedor sobre o
pecado, a morte e o mundo. Cometeremos pecados enquanto estivermos aqui,
porque nesta vida não há um só lugar onde resida a justiça. Nós todos,
sem embargo, disse Pedro (2ª Pedro 3:13), estamos buscando mais além um novo céu e uma nova terra onde a justiça reinará".
Enquanto isso, alguns sacerdotes saxônicos haviam renunciado ao voto de castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos monásticos. Lutero, em seu De votis monasticis (Sobre os votos monásticos), aconselhava-os a ter mais cautela, aceitando, no fundo, que os votos eram geralmente tomados "com a intenção da salvação ou à busca de justificação". Com a aprovação de Lutero em seu "De abroganda missa privata (Sobre a abrogação da missa privada), mas contra a firme oposição de seu prior,
os agostinianos de Wittenberg realizaram a troca das formas de adoração
e terminaram com as missas. Sua violência e intolerância certamente
desagradaram Lutero que, em princípios de dezembro, passou alguns dias
entre eles. Ao retornar para Wartburg, escreveu "Eine treue Vermahnung … vor Aufruhr und Empörung" (Uma sincera admoestação por Martinho Lutero a todos os cristãos para que se resguardem da insurreição e rebelião). Apesar disso, em Wittengerg, Carlstadt e o ex-agostiniano Gabriel Zwilling
reclamavam a abolição da missa privada e da comunhão em duas espécies,
assim como a eliminação das imagens nas igrejas e a ab-rogação do
celibato.
Regresso a Wittenberg e os Sermões Invocavit
No final do ano de 1521, os anabatistas de Zwickau se entregam à anarquia.
Contrário a tais concepções radicais e temendo seus resultados, Lutero
regressou em segredo a Wittenberg, em 6 de março de 1522. Durante oito
dias, a partir de 9 de março (domingo de Invocavit) e concluindo no domingo seguinte, Lutero pregou outros tantos sermões que tornaram-se conhecidos como os "Sermões de Invocavit".
Nessas pregações, Lutero aconselhou uma reforma cuidadosa, que leve
em consideração a consciência daqueles que ainda não estivessem
persuadidos a acolher a Reforma.
A consagração do pão foi restaurada por um tempo e o cálice sagrado foi
ministrado somente àqueles do laicado que o desejaram. O cânon
das missas, devido ao seu caráter imolatório, foi suprimido. Devido ao
sacramento da confissão ter sido abolido, verificou-se a necessidade que
muitas pessoas ainda tinham de confessar-se em busca do perdão. Esta
nova forma de serviço foi dada a Lutero em "Formula missæ et communionis" (Fórmula da missa e Comunhão), de 1523. Em 1524 surgiu o primeiro hinário de Wittenberg, com quatro hinos.
Como aquela parte da Saxônia era governada pelo Duque
Jorge, que proibira seus escritos, Lutero declarou que a autoridade
civil não podia promulgar leis para a alma. Fez isso em sua obra: "Über die weltliche Gewalt, wie weit man ihr Gehorsam schuldig sei" (Autoridade Temporal: em que medida deve ser obedecida).
Em abril de 1523, Lutero ajudou 12 freiras a escaparem do cativeiro no Convento de Nimbschen. Entre essas freiras encontrava-se Catarina von Bora,
filha de nobre família, com quem veio a se casar, em 13 de junho de
1525. Desta união nasceram seis filhos: Johannes, Elisabeth, Magdalena,
Martin, Paul e Margaretha. Dos seis filhos, Margaretha foi a única que
manteve a linhagem até os dias de hoje. Um descendente ilustre da
família Lutero é o ex-presidente alemão Paul von Hindenburg.
"A Alemanha
deve ficar livre de judeus, aos quais após serem expulsos, devem ser
despojados de todo dinheiro e joias, prata e ouro, e que fossem
incendiadas suas sinagogas e escolas, suas casas derrubadas e destruídas (…), postos sob um telheiro ou estábulo como os ciganos (…), na miséria e no cativeiro assim que estes vermes venenosos se lamentassem de nós e se queixassem incessantemente a Deus". – "Sobre os judeus e suas mentiras" de Martinho Lutero.17181920
O historiador Robert Michael
escreve que Lutero estava preocupado com a questão judaica toda a sua
vida, apesar de dedicar apenas uma pequena parte de seu trabalho para
ela.212223 Seus principais trabalhos sobre os judeus são Von den Juden und Ihren lügen ("Sobre os judeus e suas mentiras"), e Vom Schem Hamphoras und vom Geschlecht Christi
("Em Nome da Santa linhagem de Cristo") - reimpressas cinco vezes
dentro de sua vida - ambas escritas em 1543, três anos antes de sua
morte.23
Nesses trabalhos Lutero afirmou
que os judeus já não eram o povo eleito, mas o "povo do diabo".23
A sinagoga era como "uma prostituta incorrigível e uma devassa maléfica" e os judeus estavam "cheios das fezes do demónio,... nas quais se rebolam como porcos"22 Lutero aconselhou as pessoas a incendiarem as sinagogas, destruindo os livros judaicos, proibir os rabinos de pregar, e apreender os bens e dinheiro dos Judeus e também expulsá-los ou fazê-los trabalhar forçosamente.20 Lutero também parecia aconselhar seus assassinatos,24 escrevendo "É nossa a culpa em não matar eles."25
A campanha contra os judeus de Lutero foi bem sucedida na Saxónia, Brandemburgo, e Silésia.
Josel de Rosheim (1480-1554), que tentou ajudar os judeus na Saxónia,
escreveu em seu livro de memórias a situação de intolerância foi causada
por
"(…) esse sacerdote cujo nome é Martinho Lutero - (…) seu corpo e
alma vinculada até no inferno!! - que escreveu e publicou muitos livros
heréticos no qual disse que quem ajudasse judeus seriam condenados à
perdição."26
Josel teria pedido a cidade de Estrasburgo para proibir a venda das
obras antijudaicas de Lutero; porém seu pedido foi-lhe negado quando um
pastor luterano de Hochfelden
argumentou em um sermão que os seus paroquianos deviam assassinar
judeus. O anti-semitismo de Lutero persistiu após a sua morte, ao longo
de todo o ano 1580, motins expulsaram judeus de vários estados luteranos
alemães.2327
A opinião predominante28 entre os historiadores é que a sua retórica antijudaica contribuiu significativamente para o desenvolvimento do anti-semitismo na Alemanha,2930313233 e na década de 1930 e 1940 auxiliou na fundamentação do ideal do nazismo de ataques a judeus.34
Em 5 de outubro de 1933, o Pastor Wilhelm Rehm de Reutlingen declarou publicamente que "Hitler não teria sido possível, sem Martinho Lutero".36Julius Streicher, o editor do jornal Nazista Der Stürmer, argumentou durante sua defesa no julgamento de Nuremberg "que nunca havia dito nada sobre os judeus que Martinho Lutero não tivesse dito 400 anos antes".37
Em novembro de 1933, uma manifestação protestante que reuniu um recorde de 20.000 pessoas, aprovou três resoluções:38
"É difícil compreender a conduta da maioria dos protestantes nos
primeiros anos do nazismo, salvo se estivermos prevenidos de dois fatos:
sua história e a influência de Martinho Lutero (para evitar qualquer
confusão, devo explicar aqui que o autor é protestante). O grande
fundador do protestantismo não foi só anti-semita apaixonado como feroz
defensor da obediência absoluta à autoridade política. Desejava a
Alemanha livre de judeus (…) – conselho que foi literalmente seguido
quatro séculos mais tarde por Hitler, Göring e Himmler.18
Por outro lado, especialmente Shirer recebeu críticas por essa sua observação, sendo acusado de não conhecer suficientemente a história alemã e por ter interpretado incorretamente certos acontecimentos ou mesclado suas opiniões pessoais em seu livro.40
Também os cristãos luteranos afirmam que a Igreja Luterana tem esse
nome em homenagem ao seu mais famoso líder, porém não acata todos os
escritos teológicos de Lutero, principalmente os escritos que atacam os
judeus. Desde os anos 1980, alguns órgãos da Igreja Luterana formalmente denunciaram e dissociaram-se dos escritos de Lutero sobre os judeus. Em novembro de 1998, no 60º aniversário de Kristallnacht, a Igreja Luterana da Baviera emitiu uma afirmação:
"é
imperativo para a Igreja Luterana,
que sabe que é endividada ao
trabalho e a tradição de Martinho Lutero,
de levar a sério também as
suas declarações anti-judaicas,
reconhece a sua função teológica, e
reflete nas suas consequências.
Temos que nos distanciar
de cada
[expressão de] antissemitismo na teologia Luterana."
A guerra dos camponeses
(1524-1525) foi, de muitas maneiras, uma resposta aos discursos de
Lutero e de outros reformadores. Revoltas de camponeses já tinham
existido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na França (1358), na Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas do século XV, e muitas outras até o século XVIII.
Mas muitos camponeses julgaram que os ataques verbais de Lutero à
Igreja e sua hierarquia significavam que os reformadores iriam
igualmente apoiar um ataque armado à hierarquia social. Por causa dos
fortes laços entre a nobreza hereditária e os líderes da Igreja que Lutero condenava, isso não seria surpreendente.
Já em 1522, enquanto Lutero estava em Wartburg, seu seguidor Thomas Münzer,
comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma
sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade
privada,46 Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade divina,46 motivo pelo qual eles romperam.47
Lutero, desde cedo, argumentou com a nobreza e os próprios camponeses
sobre uma possível revolta e também sobre Müntzer, classificando-o como
um dos "profetas do assassínio" e colocando-o como um dos mentores do movimento camponês. Lutero escreveu a "Terrível História e Juízo de Deus sobre Tomas Müntzer", inaugurando essa linha de pensamento.
Na iminência da revolta (1524), Lutero escreveu a "Carta aos Príncipes da Saxônia sobre o Espírito Revoltoso",
mostrando a tirania dos nobres que oprimiam o povo e a loucura dos
camponeses em reagir através da força e a confiar em Müntzer como
pregador. Houve pouca repercussão sobre esse escrito.
Ainda em 1524, Müntzer mudou-se para a cidade imperial de Mühlhausen, oferecendo-se como pregador. Lutero escreveu a "Carta Aberta aos Burgomestres, Conselho e toda a Comunidade da Cidade de Mühlhausen",
com o propósito de alertar sobre as intenções de Müntzer. Também esse
escrito não teve repercussão, pois o conselho da cidade se limitou a
pedir informações sobre Müntzer na cidade imperial de Weimar.
O principal escrito dos camponeses eram os "Doze Artigos",
onde suas reivindicações eram expostas. Neles havia artigos de fundo
teológico (direito de ouvir o Evangelho através de pregadores chamados
por eles próprios) e artigos que tratavam dos maus tratos (exploração
nos impostos, etc.) impostos a eles pelos nobres. Os artigos eram
fundamentados com passagens bíblicas e dizia-se que se alguém pudesse
provar pelas Escrituras que aquelas reivindicações eram injustas, eles
as abandonariam. Entre aqueles que se consideravam dignos de fazer tal
coisa estava o nome de Martinho Lutero.
De fato, Lutero escreveu sobre os "Doze artigos" em seu livro "Exortação à Paz: Resposta aos Doze artigos do Campesinato da Suábia",
de 1525. Nele, Lutero ataca os príncipes e senhores por cometerem
injustiças contra os camponeses e ataca os camponeses pela rebelião e
desrespeito à autoridade.
Também esse escrito não teve repercussão e, durante uma viagem pela região da Turíngia, Lutero pôde testemunhar as revoltas camponesas, o que o motivou a escrever o "Adendo: Contra as Hordas Salteadoras e Assassinas dos Camponeses", onde disse:
"Contras
as hordas de camponeses (…),
quem puder que bata, mate ou fira, secreta
ou abertamente,
relembrando que não há nada mais peçonhento,
prejudicial e demoníaco que um rebelde".46
Tratava-se de um apêndice de "Exortação à Paz …",
mas que, rapidamente, tornou-se um livro separado. O Adendo foi
publicado quando a revolta camponesa já estava no final e os príncipes
cometiam atrocidades contra os camponeses derrotados, de modo que o
escrito causou grande revolta da opinião pública contra Lutero. Nele,
Lutero encorajava os príncipes a castigarem os camponeses até mesmo com a
morte.
Essa repercussão negativa obrigou Lutero a pregar um sermão no dia de pentecostes, em 1525, que se tornou o livro "Posicionamento do Dr. Martinho Lutero Sobre o Livrinho Contra os Camponeses Assaltantes e Assassinos", onde o reformador contesta os críticos e reafirma sua posição anterior.
Como ainda havia repercussão negativa, Lutero novamente se posicionou sobre a questão no seu "Carta Aberta a Respeito do Rigoroso Livrinho Contra os Camponeses", onde lamenta e exorta contra a crueldade que estava sendo praticada pelos príncipes, mas reafirma sua posição anterior.
Por fim, a pedido de um amigo, o cavaleiroAssa von Kram, Lutero redigiu "Acerca da Questão, Se Também Militares Ocupam uma Função Bem-Aventurada", em 1526, com o propósito de esclarecer questões sobre consciência do cristão em caso de guerra e sua função como militar.
A discordância com João Calvino
João Calvino (Retrato de Calvino jovem, da coleção da Biblioteca de Genebra)
No movimento reformista (também chamado de Reforma), Lutero não concordou com o "estilo" de reforma de João Calvino. Martinho Lutero queria reformar a Igreja Católica,48
enquanto João Calvino, acreditava que a Igreja estava tão degenerada,
que não havia como reformá-la. Calvino se propunha a organizar uma nova
Igreja que, na sua doutrina (e também em alguns costumes), seria
idêntica à Igreja Primitiva. Já Lutero decidiu reformá-la, mas
afastou-se desse objetivo, fundando, então, o Protestantismo, que não seguia tradições, mas apenas a doutrina registrada na Bíblia, e cujos usos e costumes não ficariam presos a convenções ou épocas. A doutrina luterana está explicitada no "Livro de Concórdia", e não muda, embora os costumes e formas variem de acordo com a localidade e a época.
Falecimento
O ex-monge agostiniano Martinho Lutero teve morte natural, embora não
haja um consenso entre os seus biógrafos acerca da sua causa de morte. O
historiador Frantz Funck-Brentano, por exemplo, escreveu em sua obra
"Martim Lutero":
"Os dois médicos, que o tinham tratado nos últimos momentos,
não
puderam chegar a um acordo sobre a causa de sua morte,
opinando um por
um ataque de apoplexia, outro por uma angina pulmonar."49
A propósito, em 1521, por ocasião da Dieta de Worms (uma espécie de
audiência imperial), foi publicado pelo Imperador Carlos V o Edito de
Worms, pelo qual qualquer pessoa, ao menos teoricamente, estaria livre
para matar Lutero sem correr o risco de sofrer qualquer sanção penal, já
que, pelo referido Edito do Imperador, Lutero foi banido do Império
como um fora-da-lei. Por receio de que algo de mal pudesse acontecer a
Lutero durante viagem de regresso de Worms, Frederico III (ou Frederico,
o Sábio), Príncipe-Eleitor da Saxônia, ordenou que Lutero fosse
capturado e levado para o Castelo de Wartburg, onde estaria a salvo.
Provavelmente, foi por causa desse risco de morte
que Lutero passou a
correr que seu amigo disse que "tentaram matá-lo".
Foi o autor de uma das primeiras traduções da Bíblia para alemão,
algo que não era permitido até então sem especial autorização
eclesiástica. Lutero, contudo, não foi o primeiro tradutor da Bíblia
para alemão. Já havia várias traduções mais antigas. A tradução de
Lutero, no entanto, suplantou as anteriores porque foi uma forma
unificada do Hochdeutsch (dialetos alemães da região central e sul) e foi amplamente divulgada em decorrência da sua difusão por meio da imprensa, desenvolvida por Gutenberg, em 1453.
Lutero introduziu a palavra alleyn 51 , 52 que não aparece no texto grego original53
no capítulo 3:28 da Epístola aos Romanos. O que gerou controvérsia.
Lutero justificou a manutenção do advérbio como sendo uma necessidade
idiomática do alemão como por ser a intenção de Paulo54 .
O latim, língua do extinto Império Romano, permanecia a lingua franca
européia, imediatamente conotada com o passado romano unificado, sendo
também a língua da Vulgata traduzida por São Jerônimo no século V, tal
como tinham sido transmitidos às províncias do Império. Por mais
longínquas que fossem, nos menos de cem anos que separam a oficialização
da religião cristã pelo Imperador Romano Teodósio I em 380 d.C. e a deposição do último imperador de Roma pelo Germânico Odoacro, em 476 d.C. (data avançada por Edward Gibbon e convencionalmente aceita como ano da queda do Império Romano do Ocidente),
toda a região do antigo Império, ao longo dos seguintes 500 anos, e de
forma mais ou menos homogênea, se cristianizou. O fim da perseguição à
religião cristã pelo império romano se deu em 313 d.C. (Ver: Édito de Milão, Concílio de Niceia, Constantino I, A história do declínio e queda do império romano, Jerónimo de Estridão).
No entanto, o domínio do latim era, no século XVI, no fim da Idade Média (terminada oficialmente em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos Otomanos) e princípio da chamada Idade Moderna, apenas o privilégio de uma percentagem ínfima de população instruída, entre os quais os elementos da própria Igreja.
A tradução de Lutero para o alemão foi simultaneamente um ato de
desobediência e um pilar da sistematização do que viria a ser a língua
alemã, até aí vista como uma língua inferior, dos servos e ignorantes. É
preciso adicionar que Lutero não se opunha ao latim, e chegou mesmo a
publicar uma edição revisada da tradução latina da Bíblia (Vulgata).
Lutero escrevia tanto em latim como em alemão. A tradução da Bíblia
para o alemão não significou, portanto, rejeição do latim como língua
acadêmica.
Foi também autor da polêmica obra "Sobre os judeus e suas mentiras" (Von den Juden und ihren Lügen). Pouco conhecida, mas muito apreciada pelo próprio Lutero, foi sua resposta a "Diatribe" de Erasmo de Roterdã intitulada De servo arbitrio (Título da publicação em português: Da vontade cativa).
Martinho Lutero defendia o princípio da mortalidade da alma contrastando com a crença de João Calvino, que chamou à crença de Lutero "sono da alma".
Reabilitação de Lutero?
Segundo a Revista editada em conjunto pela Igreja Evangélica Metodista Portuguesa e a Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, Portugal Evangélico, em sua edição nº 93255 , de 2008, o PapaBento XVI,
poderia vir a reabilitar Lutero. Segundo o texto, "Vozes autorizadas do
Vaticano adiantavam que o Papa reabilitaria Martinho Lutero
argumentando que nunca teria sido sua intenção dividir a Igreja mas sim
lutar contra os abusos e práticas de corrupção da mesma". E complementa
dizendo que "O CardealWalter Kasper, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos,
antecipava que estas declarações dariam nova coragem ao diálogo
ecuménico e contradiriam, até certo ponto, as afirmações feitas em Julho
do ano anterior denegrindo a fé, a ortodoxa e protestante, ao não
considerar estes dois ramos do cristianismo como verdadeiras Igrejas".
Porém, nesse mesmo ano, o site Agência Ecclesia, agência de notícias da Igreja Católica em Portugal, desmentiu essa notícia citando uma declaração do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi dada ao jornal britânico Financial Times.56
Segundo o religioso, essa afirmação “não tem nenhum fundamento” e que o
termo “reabilitação” nunca seria o correto neste caso. Depois dessas
notícias não houve mais informações até o momento sobre uma possível
reabilitação de Lutero pela Igreja Católica.
Declaração conjunta sobre a doutrina da Justificação pela Fé
"quer
mostrar que, com base no diálogo, as Igrejas luteranas signatárias e a
Igreja católica romana estão agora em condições de articular uma
compreensão comum de nossa justificação pela graça de Deus na fé em
Cristo. Esta Declaração Comum (DC) não contém tudo o que é ensinado
sobre justificação em cada uma das Igrejas, mas abarca um consenso em
verdades básicas da doutrina da justificação e mostra que os
desdobramentos distintos ainda existentes não constituem mais motivo de
condenações doutrinais".
A declaração pode ser resumida neste trecho:
"Confessamos
juntos que o pecador é justificado pela fé na acção salvífica de Deus
em Cristo; essa salvação lhe é presenteada pelo Espírito Santo no
baptismo como fundamento de toda a sua vida cristã. Na fé justificadora o
ser humano confia na promessa graciosa de Deus; nessa fé estão
compreendidos a esperança em Deus e o amor a Ele".58
Sobre os Judeus e Suas Mentiras
Sobre os Judeus e Suas Mentiras (do alemãoVon den Juden und ihren Lügen) é um tratado escrito em Janeiro de 1543 pelo teólogo protestante Martinho Lutero, em que defende a perseguição dos Judeus, a destruição dos seus bens religiosos, assim como o confisco do seu dinheiro.
Ainda que, inicialmente, Lutero tenha tido uma visão mais favorável dos Judeus, a recusa destes em se converter ao movimento protestante que se iniciara levou Lutero a adoptar diversas acusações e incentivar um anti-semitismo, juntamente com outras obras e ideais.
O Tratado
Lutero escreve que aqueles que continuam aderindo ao Judaísmo "devem ser considerados como sujeira.",1 escreveu ainda que eles são "cheios de fezes do diabo ... que eles chafurdam como um porco" 2 e a sinagoga é "uma prostituta incorrigível" 3
Ele argumenta que as suas sinagogas e escolas devem ser incendiadas, os
seus livros de oração destruídos, rabinos proibidos de pronunciar
sermões, casas arrasadas, e propriedade e dinheiro confiscados. Eles não
devem ser tratados com nenhuma clemência ou bondade,4 não permitir nenhuma proteção legal,5 e esses "vermes venenosos" devem ser dirigidos a trabalho forçado ou expulsos para sempre.6 Ele também parece tolerar o assassinato de Judeus, escrevendo "temos culpa em não matá-los." 7
Trechos
“(…) Finalmente, no meu tempo, foram expulsos de Ratisbona,
Magdeburgo e de muitos outros lugares… Um judeu, um coração judaico, são
tão duros como a madeira, a pedra, o ferro, como o próprio diabo. Em
suma, são filhos do demônio, condenados às chamas do Inferno. Os judeus
são pequenos demônios destinados ao inferno.”8
“Queime suas sinagogas. Negue a eles o que disse anteriormente.
Force-os a trabalhar e trate-os com toda sorte de severidade … são
inúteis, devemos tratá-los como cachorros loucos, para não sermos
parceiros em suas blasfêmias e vícios, e para que não recebamos a ira de
Deus sobre nós. Eu estou fazendo a minha parte.”9
“Resumindo, caros príncipes e nobres que têm judeus em seus
domínios, se este meu conselho não vos serve, encontrai solução melhor,
para que vós e nós possamos nos ver livres dessa insuportável carga
infernal – os judeus.”10
Controvérsias
O tratado ainda gera várias controvérsias principalmente no que diz
respeito a supostas influências que os escritos antissemitas de Lutero
exerceram sobre as doutrinas racistas do regime nazista, bem como no antissemitismo alemão. A visão acadêmica prevalecente desde a Segunda Guerra Mundial é que o tratado exerceu uma grande influência na atitude da Alemanha em direção aos seus cidadãos judeus nos séculos entre a Reforma e o Holocausto. Quatrocentos anos depois que foi escrito, os Nacionais-Socialistas expuseram Sobre os judeus e suas mentiras durante seus comícios e reuniões em Nuremberg, e a cidade de Nuremberg apresentou uma primeira edição a Julius Streicher, editor do jornal Nazista Der Stürmer, o jornal que o descreve como o tratado mais radicalmente antisemítico já publicado. 11
O renomado historiador Michael H. Hart afirma que Lutero “embora
se rebelasse contra a autoridade religiosa, poderia ser extremamente
intolerante com quem dele discordasse em assuntos religiosos.
Possivelmente foi devido em parte à sua intolerância o fato de as
guerras religiosas terem sido mais ferozes e sangrentas na Alemanha do
que, digamos, na Inglaterra. Além disso Lutero era feroz anti-semita,
tendo talvez, a extraordinária virulência de seus escritos sobre os
judeus preparado o caminho para o advento de Hitler na Alemanha do
século XX”.12 . O próprio Hitler em seu Mein Kampf considerou Lutero uma das três maiores figuras da Alemanha, juntamente com Frederico, o Grande, e Richard Wagner.13 . Em seu livro Why the Jews? (Por Que os Judeus?), Dennis Prager e Joseph Telushkin escrevem: “[...]
os escritos posteriores de Lutero, atacando os judeus, eram tão
virulentos que os nazistas os citavam frequentemente. De fato, Julius
Streicher (nazista), argumentou durante sua defesa no julgamento de
Nuremberg que nunca havia dito nada sobre os judeus que Martinho Lutero
não tivesse dito 400 anos antes”.14
Alguns historiadores consideram Lutero
o primeiro autor a delinear o anti-semitismo moderno.
Contra toda esta visão, o teólogo Johannes Wallmann
escreve que o tratado não teve nenhuma continuidade da influência na
Alemanha, e não foi de fato basicamente ignorado durante os séculos 18 e
19.15Hans Hillerbrand
argumenta que concentrar-se no papel de Lutero no desenvolvimento do
anti-semitismo alemão é subestimar "a mais grande peculiaridade da
história alemã." 16 . O historiador escocês Niall Ferguson, autor The War of the World seu trabalho de 2006, observa que aos anos 1930 os Judeus da Alemanha estiveram entre os mais integrados na Europa.
Os cristãos luteranos afirmam a Igreja Luterana tem esse nome em
homenagem de seu mais famoso líder, porém não acata todos os escritos
teológicos de Lutero, principalmente os escritos que atacam os judeus.
Desde os anos 1980, alguns órgãos da Igreja Luterana formalmente denunciaram e dissociaram-se dos escritos de Lutero sobre os judeus. Em Novembro de 1998, no 60o aniversário de Kristallnacht, a Igreja Luterana da Baviera emitiu uma afirmação: "é
imperativo para a Igreja Luterana, que sabe que é endividada ao
trabalho e a tradição de Martinho Lutero, de levar a sério também as
suas declarações anti-judaicas, reconhece a sua função teológica, e
reflete nas suas consequências. Temos que nos distanciarmos de cada
[expressão de] antissemitismo na teologia Luterana."17
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
O Mercador de Veneza, obra de William Shakespeare - 120min.
O Mercador de Veneza, obra de William Shakespeare: retrato de seu tempo histórico?
"Os judeus não têm olhos? Os judeus não têm mãos, órgãos, dimensões, sentidos, inclinações, paixões?
Não ingerem os mesmos alimentos, não se ferem com as armas, não estão sujeitos às mesmas doenças,não se curam com os mesmos remédios, não se aquecem e refrescam com o mesmo verão e o mesmo inverno que aquecem e refrescam os cristãos?
Se nos espetardes, não sangramos? Se nos fizerdes cócegas, não rimos?
Se nos derdes veneno,não morremos?
E se nos ofenderdes, não devemos vingar-nos? Se em tudo o mais somos iguais a vós, teremos de ser iguais também a esse respeito. Se um judeu ofende a um cristão, qual é a humildade deste? Vingança. Se um cristão ofender a um judeu, qual deve ser a paciência deste, de acordo com o exemplo do cristão?
Ora, vingança.
Hei de por em prática a maldade que me ensinastes, sendo de censurar se eu não fizer melhor do que a encomenda." (Ato III, cena I) O Mercador de Veneza - William
Shakespeare
Shakespeare foi
talvez o melhor escritor de sua época a descrever as fragilidades do
caráter humano e a instabilidade como que a vida se apresenta diante de
cada um, do servo ao príncipe, do fanfarrão a jovem náufraga, e
utilizou-se, provavelmente, das mazelas que observou ao seu redor.
No trecho
acima vemos a fala da personagem Shylock, um agiota judeu, em um lampejo
de sensatez do escritor ao humanizar o personagem e trazer uma crítica a
postura dos seus oponentes. O Mercador de Veneza, mostra momentos de
vilania de Shylock, sua ganância, sua ansia por vingança e sua
fragilidade de caráter quando para não perder suas posses opta até mesmo
por mudar de religião, entretanto, este não deixa de colocar a falta
de caráter de outros personagens, como Antonio e mesmo Pórcia.
Essa é uma
característica do autor, a sensatez em dar todas as matizes
de personalidade aos seus personagens, portanto, não podemos assumir com
certeza, mesmo com a dureza com que Shylock é apresentado, que este é
um texto unicamente com a intenção de propagar o antissemitismo.
As obras
são o que são, mas também o que fazemos delas, por isso, a personagem
foi durante anos apresentada em teatro e cinema de modo
tendencioso. Shakespeare viveu em um meio e período de perseguição
religiosa, e o texto mostra muito de seu momento histórico, no
período em que a obra fora escrita, em Veneza por exemplo, os judeus
eram obrigados a andar de chapéu vermelho para serem identificados. A
conversão de Shylock é nada mais nada menos do que o retrato da
perseguição religiosa que ocorria no período Elizabetano, bem como seu
caráter vil era a imagem que era feita do povo judeu.