sábado, 27 de abril de 2013

TAO TE CHING



Musica Chinesa - Relax - 61m.
 
 Tao Te Ching
 
 Tao Te Ching edição Wang Bi, Japão 1770

O Tao Te Ching ou Dao de Jing (em chinês: Loudspeaker.svg? 道德經) , comumente traduzido como O Livro do Caminho e da Virtude, é uma das mais conhecidas e importantes obras da literatura da China. Foi escrito entre 350 e 250 a.C.[1]. Sua autoria é, tradicionalmente, atribuída a Lao Tzi (literalmente, "Velho Mestre"), porém a maioria dos estudiosos atuais acredita que Lao Tzi nunca existiu e que a obra é, na verdade, uma reunião de provérbios pertencentes a uma tradição oral coletiva versando sobre o tao (a "realidade última" do universo)[2]. A obra inspirou o surgimento de diversas religiões e filosofias, em especial o taoismo e o budismo chan (e sua versão japonesa, o zen.

Origens

Lao Tzu encontra Yin Xi, o guardião do portão do Tibete
Como a maior parte das figuras mitológicas dos fundadores de religiões, a vida do escritor do Tao Te Ching, Lao Tzu, é envolto em lendas. Segundo a tradição, Lao Tzi nasceu no sul da China cerca de 604 a.C, tendo sido superintendente judicial dos arquivos imperiais em Loyang, capital do estado de Ch'u. Desgostoso pelas intrigas da vida na corte, Lao Tzi decidiu afastar-se da sociedade, seguindo para as Terras do Oeste. Montado em uma carroça guiada por um boi, seguiu viagem, mas, ao atravessar a fronteira, um dos seus amigos, o policial Yin-hsi, o reconheceu e lhe pediu que escrevesse seus ensinamentos antes de partir. Lao Tzi, então, escreveu o pequeno livro conhecido posteriormente como Tao Te Ching e partiu em seguida. Segundo a história, morreu em 517 a.C. Lao Tzi foi canonizado pelo imperador Han entre os anos 650 a.C. e 684 a.C.

Trata‑se de um texto filosófico relativamente curto, com pouco mais de 5 000 caracteres, que era originariamente conhecido como Lao Tse (老子, que significa "Velho Mestre") ou como "o Texto de 5 000 palavras" (五千字文, wǔqiān zìwén). O seu nome actual vem das palavras que iniciam cada uma das duas secções principais em que é hoje normalmente dividido, chamadas Livro do Tao (道經, dào jīng) e Livro do Te (德經, dé jīng). A palavra Ching (經, jīng) designa um livro considerado como um clássico. Tao (道, dào), que significa "via" ou "caminho", é o nome usado para designar o que há de mais profundo e misterioso na realidade, e Te (德, dé), que significa "virtude" ou "conduta", é o nome usado pelos taoistas para designar a sua manifestação no mundo. A escola de pensamento taoista (道家, dào jiā) ficou explicitamente identificada com a palavra Tao, por ter atribuído conotações novas a este termo, associando‑o a uma abordagem diferente do conceito de Realidade Última. Os mais recentes estudos apontam que o Tao Te Ching tenha sido escrito entre 460 a.C. e 380 a.C.

A versão mais antiga que se conhece do Tao Te King foi encontrada em 1993, em Guodian, na China, num túmulo datado do período de meados do século IV ao início do século III a.C. Está escrita numa série de réguas de bambu, cada uma das quais contém cerca de vinte caracteres. O texto passa de uma régua para outra sem qualquer pontuação ou divisão em parágrafos ou capítulos. De todas as versões que chegaram até os nossos dias, a que é normalmente considerada como sendo a mais fiável é a que acompanha os comentários ao Tao Te King escritos por Wang Pi (王弼, wángbì; n.226 – f. 249 d.C.).[3]

Difusão no ocidente

A primeira tradução do Tao Te Ching para uma língua ocidental ocorreu somente no século XVIII, por obra de missionários jesuítas na China. Essa tradução foi apresentada na Real Sociedade de Londres para o Melhoramento do Conhecimento Natural em 1788. Desde então, o Tao Te Ching tornou-se cada vez mais conhecido no ocidente, sendo, atualmente, um dos livros mais traduzidos no mundo, ao lado da Bíblia e do Bagavadguitá[4].

Interpretação

As diversas correntes do pensamento religioso e filosófico através dos tempos atribuíram milhares de interpretações diferentes ao sentido do Tao Te Ching. Porém, o tema principal do livro é localizado em seu primeiro provérbio: "O Tao que pode ser dito não é o Tao Verdadeiro". O Tao Te Ching situa a origem de todas as coisas no Tao (Caminho, Senda), que, longe do conceito de Deus das religiões deístas, é um princípio inimaginável, inenarrável, eterno e absoluto, que não pode ser compreendido, já que qualquer tentativa de classificá-lo cria uma dicotomia que não pode existir em algo eterno e absoluto. Já que o Tao não pode ser compreendido, o Tao Te Ching enfatiza que não existem meios de manipulá-lo. Logo, os seres devem viver uma vida simples, sem grandes questionamentos morais ou filosóficos, onde se enfatize o "não agir" (a "não acção", wu wei, 無為), isto é, deixar-se guiar pelo curso natural e lógico dos eventos do universo. O homem que segue este princípio acaba liberto das vicissitudes da vida, e se torna o "Homem Santo" celebrado no taoismo.
Uma filosofia deste tipo logicamente quebra todos os conceitos e tentativas do homem de controlar seu destino e sugere que toda tentativa de se criar uma religião, uma sociedade política ou moral acaba sempre sendo infrutífera.

Cosmogonia no Tao Te Ching

As ideias cosmogónicas e metafísicas do Tao Te Ching, de acordo com algumas ramificações do taoismo, podem ser definidas da seguinte forma:
Tudo nasce do vazio indiferenciado, imensurável, insondável, que nunca pode ser exaurido: "o Tao sem nome", que se move em torno de si mesmo sem parar. Deste "Tao sem nome" (que não existe), nasce o que existe (e tem nome): o Caminho (Tao). Não vemos o Tao como um por causa dos nomes com que designamos o que vemos com os nossos sentidos - as "10 000 coisas" (o caractere chinês que significa "10 000", Tenthousandchinese.jpg, é usado, como aliás também no grego, para significar uma míriade, ou seja, um número grande e indefinido.) É com o aparecimento dos nomes que aparecem todas as coisas e o um se transforma em muitos.

A Virtude (Te) é a manifestação do Tao através da sua misteriosa operação: o chamado "agir não agindo" - a acção involuntária que caracteriza a natureza das coisas - "O modo de Caminhar".


Lao Zi
A partir destas ideias cosmogónicas e metafísicas, Lao Tzi deduz um sistema de moral e regras de conduta que tem, por objectivo, conformar as acções humanas com a ordem natural do universo. O homem nasceu do Tao mas, depois, começou a desviar-se dos seus atributos, ou seja, perdeu a virtude - o saber como caminhar. É uma queda que lembra a queda que se seguiu à expulsão de Adão e Eva do paraíso, segundo a Bíblia. O Caminho do Tao é o caminho de volta ao estado de graça em harmonia com o Tao (o chamado "regresso precoce").

Tao é normalmente traduzido como Caminho ou Via. Mas apenas por parecer ser "o melhor que se pôde arranjar". De facto, o caminho não se distingue do caminhante ou do caminhar. Não há criador. O universo (o Céu e a Terra) apareceu (e aparece continuamente) a partir do Tao primordial. O que existe aparece do que não existia antes e é eterno. O universo é como um organismo vivo resultante da expansão vitalizada do Tao (a ordem natural, a providência). O Tao manifesta-se continuamente no fluxo e refluxo constante de todas coisas que existem e que foram criadas pela sua actividade.

O Tao não tem personalidade. O que vitaliza o universo são dois princípios ou substâncias que combinados são o Tao: o yang (luz, calor, criativo, masculino) - que existe especialmente concentrado no Céu - e o yin (sombra, frio, receptivo, feminino) - que existe especialmente concentrado na Terra.
Vários filósofos taoistas chineses entendem os versículos que expõem as ideias cosmogónicas sobre o início do universo como sendo, de facto ou também, a descrição do modo como a consciência da realidade externa emerge na nossa mente.

Quando vemos uma cor ou ouvimos um som, há um momento breve inicial em que o nosso cérebro ainda não fez um julgamento sobre a nossa percepção; não sabemos ainda que som ou cor é, nem sequer temos ainda uma consciência clara que estamos a ouvir ou ver alguma coisa. Estamos no domínio "do sem nome", do vazio indiferenciado que nunca pode ser exausto ou descrito. Depois, quando emerge a consciência e o pensamento, que tem por base a linguagem, passamos ao domínio "do que tem nome" e vemos, então, todas coisas diferenciadas, cada uma com o seu nome. É com o aparecimento dos nomes que aparecem todas as coisas e o um se transforma em muitos.

Em termos mentais, o Caminho do Tao é o caminho de volta a esse breve "estado de graça" inicial. Um estado em que qualquer trabalho mental interior é eliminado e em que regressamos à nossa espontaneidade natural. As práticas dos budismos chan e zen, que tiveram a sua origem nas ideias taoistas, têm, como objectivo, exactamente atingir esse estado mental primordial de fusão paradoxal com o um.

Trechos

Cap.1
O Tao de que se pode falar não é o verdadeiro e eterno Tao.
O nome que pode ser dito não é o verdadeiro nome.
O que não tem nome é a origem do Céu e da Terra
E o nomear é a mãe de todas as coisas.

Sem a intenção de o considerar,
Podemos apreender o mistério e as suas subtilezas,
Através da sua ausência de forma.
Tentando considerá-lo, só podemos ver a sua manifestação
Nas formas que definem o limite das coisas.

Ambos provêm da mesma fonte e são o mesmo.
Diferem apenas devido ao aparecimento dos nomes.
São o mistério mais profundo,
a porta para todos os mistérios.
Cap.40
As dez mil coisas nascem a partir do que existe (e tem nome)
E o que existe nasce do que não existe (e não tem nome).
Cap.4
O Tao é como o espaço vazio dentro de um vaso;
Mas, por mais que o enchamos, nunca ficará cheio.
É incomensurável, como se fosse o Antepassado de todas as coisas.
Cap.41
Quando um estudioso mais sábio ouve falar no Tao,
Abraça-o com zelo.
Quando um estudioso médio ouve falar no Tao,
Pensa nele de vez em quando.
Quando um estudioso inferior ouve falar no Tao,
Ri-se às gargalhadas.
Se ele não risse
O Tao não seria o Tao (o Caminho).
Cap.11
Trinta raios convergem para o meio de uma roda
Mas é o buraco em que vai entrar o eixo que a torna útil.
Molda-se o barro para fazer um vaso;
É o espaço dentro dele que o torna útil.
Fazem-se portas e janelas para um quarto;
São os buracos que o tornam útil.

Por isso, a vantagem do que está lá
Assenta exclusivamente
na utilidade do que lá não está.
Cap.48
Na busca do conhecimento, todos os dias algo é adquirido,
Na busca do Tao, todos os dias algo é deixado para trás.
E cada vez menos é feito
até se atingir a perfeita não-acção.
Quando nada é feito, nada fica por fazer.

Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.
E não interferindo.
Cap.3
Não exaltar os homens com habilidade superior
Evita que as pessoas rivalizem entre si;
Não dar valor às coisas raras
Evita que surjam ladrões;
Não lhes mostrar o que pode excitar os seus desejos
É o modo de manter os seus corações em paz.

Por isso, o sábio governa simplificando-lhes as mentes,
Enchendo-lhes a barriga,
Enfraquecendo-lhes a ambição
Fortalecendo-lhes os ossos,
Mantendo-os sem conhecimentos e desejos que os desviem do Caminho,
De modo a que os que têm nunca ousem sequer interferir.
Se nada for feito, tudo estará bem.
Cap.60
Governa-se um estado
Como se frita um peixe pequeno.
(Para fritar um peixe pequeno, é só deixá-lo fritar; não é preciso virá-lo ou interferir de outro modo qualquer. E usa-se lume brando.)

A dificuldade de traduzir a língua chinesa

A língua chinesa (e sobretudo a mais antiga) é muito concisa. São frequentes frases sem verbos como "eu grande tu pequeno" ou "eu grande tu" (= sou maior do que tu). Para a traduzir, é necessário compor a frase com pronomes, advérbios, preposições, conjunções, que não estão na língua original.

Enquanto nas línguas ocidentais a gramática é uma estrutura sólida com a qual se podem construir períodos e parágrafos complexos, a gramática chinesa é fluida e flexível. Hoje usam-se sinais de pontuação, mas isso é muito recente. Por isso, como não existem maiúsculas, é, por vezes, complicado perceber onde começa cada frase. No estilo clássico, utilizavam-se as rimas de palavras para indicar o fim das frases.

Os caracteres são elementos que formam frases com grande versatilidade. Cada caractere (ou palavra) é um elemento móvel na estrutura e influencia o significado e a função dos outros e é influenciada por eles. Só quando se percorreu e analisou toda uma frase de um texto chinês antigo se "decifra" o seu significado. Dependendo do contexto, a palavra «mestre» pode significar também "para servir o mestre", "para seguir o mestre" etc. Uma palavra antes de um verbo pode constituir o tema de uma frase mas pode também ser um determinante do verbo, como, por exemplo, em "dez andar", que significa "andar dez passos". A palavra "eu" pode significar eu, me, mim, o meu, a minha. O plural só é indicado em caso de necessidade, quando não se entende pelo sentido de uma frase.

"Bom chá" é um chá que é bom, mas a "chá bom" segue-se um termo de comparação (bom, nessa posição, significa maior do que). "Cão carne" pode significar duas coisas diferentes conforme o contexto: carne de cão ou carne para o cão. Mas "vaca carne" é carne de vaca, porque a vaca é um animal herbívoro.
Na língua escrita de estilo antigo, cada palavra, em geral, era escrita usando um único caractere (monossilábico); era um estilo muito mais conciso e literário do que é a língua falada. (Por isso, os europeus julgaram, inicialmente, que o chinês era uma língua monossilábica. Mas a língua falada é mais dissilábica e polissilábica.)

Como o Tao Te Ching foi escrito usando a escrita de estilo antigo, o texto é extremamente conciso e não é de interpretação fácil mesmo para um chinês. O significado de cada monossílabo, no meio de uma série continua de caracteres sem pontuação, não surge espontaneamente; as frases têm uma estrutura mais difícil de detectar. As palavras que rimam sugerem as frases que estão presentes; mas nem sempre elas estão lá e nem sempre a estrutura fica perfeitamente clara. Sabe-se também que na época de Lao Tzi não havia uma escrita unificada, porque a China não estava ainda politicamente unificada, e que o significado e pronúncia de muitos caracteres se foi alterando com o tempo.[3]

Exemplos

Na busca do conhecimento, todos os dias algo é adquirido,
Na busca do Tao, todos os dias algo é deixado para trás.

E cada vez menos é feito
até se atingir a perfeita não acção.
Quando nada é feito, nada fica por fazer.

Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.
E não interferindo.

Tao Te Ching 道德經 (Cap.48)
Em chinês:
Taoteching48.jpg
agir aprender dia aumentar
agir Tao dia perder
perder gera novo perder
continua até à não acção
não acção contudo não sem acção
agarrar céu debaixo normal pelo sem trabalho
enquanto isto tendo trabalho
não suficiente para agarrar céu debaixo
O Espírito do Vale é imortal.
É a misteriosa vagina maternal.
A porta por onde sai a raiz do Céu e da Terra.
Uma raiz tão fina quanto um fio de seda.
Mas o que a partir dela se eleva nunca se esgota.

Tao Te Ching 道德經 (Cap.6)
Em chinês:
Taoteching6.jpg
(Vale, ravina com água) (espírito) (não) (morre)
(correcto) (nome) (obscuro) («garganta funda feminina»)
(obscuro) («garganta funda feminina») (dele) (porta)
(correcto) (nome, significado) (Céu) (Terra) (raiz, objecto fino e longo)
(fio de algodão macio) (fio de algodão macio) (parece) (existir)
(uso, utilidade) (sai dele) (não) (esforço)
Nota: Espírito do Vale é outra designação para o Tao.

Calligraphic Dao..png
Ideograma de tao
Tradução
Tradução literal: caminho, o caminho
Nome em chinês
Chinês:

Tao (em chinês: 道; Wade-Giles: tao; pinyin: dao) significa, traduzindo literalmente, o caminho, mas é um conceito que só pode ser apreendido por intuição. O tao não é só um caminho físico e espiritual; é identificado com o absoluto que, por divisão, gerou os opostos/complementares yin e yang, a partir dos quais todas as "dez mil coisas" que existem no Universo foram criadas.
É um conceito muito antigo, adotado como princípio fundamental do taoísmo, doutrina fundada por Lao Zi.

O tao é a espontaneidade natural

O conceito de tao é algo que só pode ser apreendido por intuição. É algo muito simples, mas não pode ser explicado. É o que existe e o que inexiste. Só que nós temos demasiados conceitos dentro da cabeça para o entender como um todo uno.

O tao é o caminho da espontaneidade natural. É o que produz todas as coisas que existem. O te (德, a virtude) é o modo de caminhar espontâneo que dá às coisas a sua perfeição.

O tao não transcende o mundo; o tao é a totalidade da espontaneidade ou "naturalidade" de todas as coisas. Cada coisa é simplesmente o que é e faz. Por isso, o tao não faz nada; não precisa de o fazer para que tudo o que deve ser feito seja feito. Mas, ao mesmo tempo, tudo que cada coisa é e faz espontaneamente é o tao. Por isso, o tao "faz tudo ao fazer nada".

O tao produz as coisas e é o te que as sustenta. As coisas surgem espontaneamente e agem espontaneamente. Cada coisa tem o seu modo espontâneo e natural de ser. E todas as coisas são felizes desde que evoluam de acordo com a sua natureza. São as modificações nas suas naturezas que causam a dor e o sofrimento.

O modo de caminhar taoista

Se entendermos bem a natureza das coisas e conseguirmos esquecer tudo o que aprendemos que tenta ir contra ela, conseguimos fazer tudo o que é possível, com o mínimo esforço. Porque acabamos por deixar as coisas seguirem o seu curso natural. Não fazemos nada (claramente por nossa vontade própria) mas nada fica por fazer.
Na busca do conhecimento, todos os dias algo é adquirido,
Na busca do tao, todos os dias algo é deixado para trás.

E cada vez menos é feito
até se atingir a perfeita não-ação.
Quando nada é feito, nada fica por fazer.

Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.
E não interferindo.

Tao Te Ching (道德經), Cap. 48
Devemos agir de acordo com a nossa vontade apenas dentro dos limites da nossa natureza e sem tentar fazer o que vai para além dela. Devemos usar o que é naturalmente útil e fazer o que espontaneamente podemos fazer sem interferir na nossa natureza. E não tentar fazer aquilo que não podemos fazer ou tentar saber aquilo que não podemos saber. A felicidade é essa "não-ação" (無為, wu wei).

Para conseguirmos entender o curso natural das coisas e seguirmos o caminho temos que conseguir desaprender muitos conceitos. Para podermos desaprendê-los é preciso que antes os tenhamos aprendido. Mas temos que passar a um estado muito parecido com o estado inicial em que estávamos antes de o termos aprendido.
"O tao que pode ser expressado, não é o tao absoluto".
Se abrirmos os olhos de repente, há um brevíssimo momento durante o qual o nosso cérebro ainda não analisou o que está a ver. Ainda não distinguiu as cores e as formas nem descodificou o que se está a passar à nossa frente. Os taoistas procuram viver o mais perto possível desse estado. É uma renúncia à análise, sempre imperfeita, da realidade.
Trinta raios convergem para o meio de uma roda
Mas é o buraco em que vai entrar o eixo que a torna útil.

Molda-se o barro para fazer um vaso;
É o espaço dentro dele que o torna útil.

Fazem-se portas e janelas para um quarto;
São os buracos que o tornam útil.

Por isso, a vantagem do que está lá
Assenta exclusivamente
na utilidade do que lá não está.

Tao Te Ching (道德經), Cap. 11
TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse
 
Tradução do Mestre Wu Jyn Cherng
Sociedade Taoísta do Brasil (http://www.taoismo.org.br)
 
AGRADECIMENTOS
Este trabalho é dedicado ao meu mestre, Sr. Maa Ho Yang, ao qual sou muito grato por
tudo que me ensinou. Wu Juh Cherng
 
Gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos à Andréa de Moraes, Mônica
Simas e Francisco Mourão pela atenciosa revisão.
 
Wu Juh Cherng
 
INTRODUÇÃO
O Tao Te Ching
é um texto profundo e ao mesmo tempo simples porque apresenta por meio da linguagem aquilo que se experimenta na sua ausência. A profundidade é o próprio caminho do mistério, a experiência do sagr
ado que corresponde à vivência espiritual. A simplicidade, um dos três tesouros dos
 ensinamentos de Lao Tse, conduz à naturalidade que orienta o indivíduo no macrocosmo.
 Portanto, a leitura do Tao Te Ching  implica um desafio: esvaziar-se e ser natural com o 
a água que flui no vale
 
. O desvendamento do texto deve fluir gradualmente, levando à contemplação de suas palavras. Se estas não parecem suficientemente claras, isso se deve ao fato de a sociedade contemporânea, na qual prolifera o pensamento, dificultar a ampliação da consciência. Nesse contexto, a contemplação já é por si um ato transgressor.
 
Esta tradução do Tao Te Ching, diretamente do chinês para o português, resgata a tradição taoísta e oferece a decifração necessária de conceitos fundamentais, repeitando a estrutura original do texto em chinês clássico em detrimento de frases mais convencionais em língua portuguesa. Desse modo, o leitor pode estabelecer nexos,coordenar e reconstituir relações entre os conceitos, traduzindo-os em experiências e
proporcionando à leitura a suave alegria da vivência de um ensinamento.
 
Reverenciado como escritura sagrada pelos mistérios que revela, o ensinamento contido neste livro corresponde a uma tradição que integra filosofia, ciência e religião à experiência.
 
Os três tesouros segundo a tradição taoísta são: humildade, simplicidade e afetividade.
 
O termo taoísta é formado por dois ideogramas chineses:Tao que significa caminho,
exprimindo a idéia de origem de todas as coisas; e Dia o que significa ensinamento.
Portanto, taoísmo corresponde à tradição que vem do passado, que revela a origem. Por
isso , o Caminho da Imortalidade , objetivo dos taoístas, é denominado Via do
Retorno, indicando a volta ao princípio. Nesse caminho, a virtude se efetiva através da
mediação de consciência e da compreensão dinâmica do universo para resgatar a ordem
natural da vida.
 
A escola taoísta tem como base o estudo de três obras, simbolizadas na imagem de uma
árvore. A raiz é o I Ching
 
O Livro das Mutações
, o tronco é o Tao Te Ching
 
Livro do Caminho e da Virtude
e a flor é o Nan Hua Ching
 
–O Livro da Flor do Sul
. O Tao Te Ching é a estrutura central do taoísmo.
 
Lao Tse revela um ensinamento que abrange o tempo infinito. Lao Tse corresponde à
transmissão e conservação da tradição taoísta na imagem do mestre, manifestação do
absoluto.
 
Segundo o cânon taoísta, Lao Tse nasceu na província de Na Hue, na cidade de Guo
Yang, no 25º dia da segunda lua do ano Ken-Tzen da era Wu-Tin (no período entre
1324 1408 A.C.). As circunstâncias do seu nascimento foram extraordinárias. De
acordo com a tradição, sua gestação demorou oitenta e um anos. Lao Tse foi concebido quando sua mãe engoliu uma pérola de luz, transformação da Transparência Sublime em sopro, através da essência do Sol. Seu pai era um famoso alquimista da dinastia San que ascencionou com mais de cem anos, envolvido pelos dragões celestiais. Sua mãe era considerada a encarnação do Sopro Yin do Céu-Anterior, sendo ao mesmo tempo sua mestra. Lao Tse nasceu do lado esquerdo das costelas da sagrada mãe, no jardim da família sob uma árvore de nome Li (ameixeira), com cabelos brancos e orelhas grandes. 
 
Por isso, recebeu o nome de Lao Tse (filho velho) e Li Er (orelha grande da ameixeira).
Lao Tse tem também sentido de Senhor do Fim e do Princípio, já que velho representa o fim enquanto filho representa o início.
 
Sua juventud e foi vivida no condado de K ́u localizado entre Long San (Monte Dragão)
e Guo Sue (Rio Guo). Quando o imperador tirano Zhou assumiu o poder, Lao Tse
mudou-se para a região sul do Chi San, no território do Rei Wen, fundador da dinastia
Chou. Foi convidado pelo rei Wen para ser responsável pela biblioteca real. Mais tarde,
foi nomeado para o cargo de historiador real, permanecendo como tal até o 19º dia da
quinta lua do 25º ano da era do rei Zhao, quando solicitou dispensa e retornou à sua
terra natal, acompanhado do escudeiro Shü Jia. No mesmo ano, Lao Tse iniciou sua
grande viagem para o ocidente, com intuito de chegar aos reinos da atual Índia,
Afeganistão e Itália. Durante a viagem, permaneceu algum tempo na fronteira de Yü
Men e aceitou o oficial-chefe da fronteira como discípulo.
 Ditou-lhe vários escritos,entre eles o Tao Te Ching.
 
. Muitos anos depois, teve sua ascensão no deserto de Gobi, durante a qual emanou raios de luz em cinco cores, transformando-se em corpo de luz dourada e desaparecendo no céu.
Após sua ascensão, Lao Tse habitou o Tai Wei Gon (Palácio da Sublime Sutileza) do Céu-Anterior e dividiu seu corpo para retornar novamente à terra, encarnado como filho único do senhor Li Po Yang da província Shu. 
 
Na sua nova jornada veio acompanhado do dragão azul do Imperador Celestial Chin Hua, transformado em carneiro azul. Depois de uma longa peregrinação, seu discípulo Yi Shi, o oficial da fronteira, foi atraído por um carneiro de pêlo azul dourado. Yi Shi encontrou, na aldeia da família Li, a nova encarnação de Lao Tse. 
 
Diante de seu discípulo, a criança Lao Tse, de três anos de idade, revelou sua verdadeira imagem. Seu corpo cresceu, transformando-se em luz dourada branca. Cercado de inúmeros imortais celestiais, Lao Tse pronunciou mais um ensinamento: o Tratado Maravilhoso do Princípio Solar do Tesouro do Espírito (Ling Bao Yuan Yang Miao Ching). Após concluir seu ensinamento, os duzentos membros da família Li ascencionaram seguidos por Lao Tse e Yi Shi. Isso aconteceu no dia 28 de abril de 1118 A.C.
 
Depois do segundo nascimento e ascensão, Lao Tse ainda retornou inúmeras vezes para transmitir os ensinamentos e para ordenar as novas tradições. Por isso, é chamado pelos taoístas como Sublime Patriarca do Caminho.
 
Lao Tse propõe a apreensão do mistério: suas palavras superam a própria forma, o próprio texto. O desvendamento gradual do ensinamento, aqui oferecido, tenta trazer a apreensão daquilo que, para ele, constitui exatamente o indizível.
Wu Juh Chern
 
A Transparência Sublime (Tai Chi
n): a Transparência de Jade (Yü Chin) e a Transparência Superior
(São Chin) formam o conceito teológico de Absoluto taoísta.
 
O Mistério dos Mistérios é o Portal para todas as Maravilhas

TAO TE CHING - Livros Grátis

www.livrosgratis.com.br/arquivos_livros/le000004.pdf
 
 Li-Sol-30
 Fontes:
  Wikipédia
 www.livrosgratis.com.br/arquivos_livros/le000004.pdf
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres.