“Partindo do princípio que o Universo é finito e que, portanto, os recursos de potenciais simuladores também o são, há sempre a possibilidade de o simulado conhecer os simuladores”. Essas são as últimas linhas de um artigo publicado por físicos da Universidade de Cornell, EUA, onde criam as diretrizes iniciais para a comprovação da hipótese de que o Universo é uma gigantesca simulação computacional a partir de uma simulação numérica da chamada “grade cromodinâmica quântica”, associada às forças básicas da natureza que unem prótons e nêutrons no núcleo do átomo. Tal conclusão leva a importantes implicações filosóficas gnósticas como, por exemplo, a atualização por meio da tecnologia de uma ambição humana revelada pela Teurgia e Alquimia na Antiguidade: imitar Deus para tentar encontrá-lo. Dessa vez, por meio da simulação algorítmica.
"Talvez Deus não queira ser observado.
Acho que Ele não gosta de curiosos” (Einstein)
Dessa vez é um grupo de físicos da Universidade de Cornell, nos EUA, que afirma que conseguiu aperfeiçoar as diretrizes iniciais de um método que comprovará que o Universo é uma gigantesca simulação computacional. Não fosse o fato de que pesquisadores da Universidade de Washington concordaram após investigar os dados da equipe de Cornell, poderíamos dizer que tudo isso não passa de um boato. Em novembro do ano passado, físicos da Universidade de Bonn, Alemanha, anunciaram que procuravam uma “assinatura cósmica” a partir de uma simulação computacional por meio de minúsculos espaços cúbicos (grade de Gauge) que forneceria uma nova visão das partículas de alta energia. Dessa maneira, eles levariam à frente a hipótese do professor da Universidade de Oxford, o filósofo e matemático Nick Bostrom, que em artigo publicado em 2003 sustentava uma fórmula probabilística de que uma outra civilização poderia ter simulado o nosso Universo (veja links abaixo). Pois em novembro do ano passado Silas Beane, Zohreh Davoudi e Martin Savage publicaram o artigo “Contraints on the Universe as a Numerical Simulation” (Cornell University Library, arXiv.org) onde observam as consequências da hipótese do Universo como simulação numérica a partir da possibilidade de que a próxima geração de computadores de alta performance possa simular a chamada “grade de cromodinâmica quântica” e, dessa forma, observar como os raios cósmico se refletem nessa estrutura. O mistério dos Quarks Essa “grade de cromodinâmica quântica” está associada à força fundamental da natureza que dá origem à força nuclear forte entre prótons e nêutrons, os núcleos e suas interações. Nisso tudo estão os misteriosos “quarks” que constituiriam os prótons e nêutrons. Nunca foram observados diretamente (efeito de “confinamento”), mas eles são somente “vistos” (quer dizer, estimados matematicamente) em colisões provocadas em poderosos aceleradores de partículas. Pela teoria padrão da física moderna os quarks seriam os tijolinhos que formariam uma quantidade enorme de partículas (hádrons) de existência efêmera, com vida extremamente curta. A Cromodinâmica quântica tenta descrever essas interações fortes ao procurar uma simetria especial, um campo criado entre as cargas “de cor” dos quarks – na verdade não seriam “cores” como percepção visual, mas um certo posicionamento do quark na rede. De acordo com o artigo, o que a equipe de Cornell pretende é “investigar a hipótese de que somos uma simulação com o pressuposto de que o desenvolvimento de simulações do Universo tem um paralelo com o desenvolvimento dos cálculos da Rede Cromodinâmica Quântica” (BEANE, Silas, DAVOUDI, Zohreh e SAVAGE, M. obra citada, p. 4). Universo simulado e o Mal O notável no artigo da equipe de físicos de Cornell é a recusa da chamada Teoria das Cordas (modelo físico onde a partícula como base da física tradicional é substituída pela noção de “corda” – blocos fundamentais extensos e unidimensionais) como modelo para explicar a unificação das forças que, segundo os autores, partiriam de um esquema reducionista “simples e bonito”. Segundo eles, a exploração do modelo de universo simulado na paisagem do vácuo estaria além desse reducionismo, ao mostrá-lo como finito. Os físicos concluem o artigo dessa maneira: “partindo do princípio que o Universo é finito e que, portanto, os recursos de potenciais simuladores também o são, segue que o volume que contém uma simulação será finito e o espaçamento de rede tem que ser diferente de zero e, portanto, em princípio, há sempre a possibilidade de o simulado conhecer os simuladores” (p. 12.). Apesar de o artigo afirmar que “ao contrário dos filósofos, nós precisamos que as hipóteses sejam observáveis”, essas linhas finais guardam uma riqueza filosófica importante. O Universo simulado teria um fim? Primeiro, a finitude do Universo e da extensão da própria simulação. Em artigo publicado pela revista Nature em 2003, os dados do satélite Wilkinson Microwave Probe da NASA identificaram que a radiação de fundo deixada pelo Big Bang indica que as escalas máximas de temperatura observadas no céu seriam menores do que produzidas por um Universo infinito. O espaço não seria suficientemente grande para conter as ditas ondas. Pelo contrário, um universo finito composto por pentágonos curvos unidos em uma esfera se encaixaria com as observações: se alguma onda saísse do dodecaedro, voltaria para a face oposta ao mesmo. Há implicações filosóficas nessa hipótese do Universo ser um modelo computacional finito: a confirmação da suspeita dos gnósticos de que o cosmos físico é, na verdade, imperfeito não pela sua incompletude, mas por conter, em si, o Mal por ser uma cópia imperfeita da Plenitude. Para o Gnosticismo, a criação do mundo já é Queda pela presença ontológica do Mal na sua própria constituição, existência e dinamismo. Identificar o Mal com a existência material não significa incorrer na concepção religiosa tradicional da oposição entre matéria/espírito, Verdade/Mentira, Bem/Mal etc., num dualismo onde a matéria é considerada moralmente má por ser a fonte do pecado e da decadência espiritual. Ao contrário, o Mal para o Gnosticismo tem uma concepção Ontológia e não moral, isto é, o Mal é a essência constitutiva do próprio cosmos físico. Isso significa que ele possui algo de corrompido e falso desde o início. A manifestação do Mal estaria presente na própria reversibilidade irônica entre o Bem e o Mal em todos os sistemas: um vanish point onde os sistemas ao assumirem um dado grau de complexidade revertem-se contra si mesmos, e de forma perversa e maligna tornam-se inúteis e inertes. Um fantasma que assombra todas as máquinas, uma entropia máxima do Universo quando, de tão complexo, volta-se contra si mesmo. Algoritmos podem voltar-se contra si mesmos? Exemplos não faltam. A Guerra pensada como solução final para a busca da Paz cria um sistema militar tão complexo que se volta contra si mesmo, tornando-se uma máquina autônoma que produz guerras continuamente. Algo como a narrativa do livro de Franz Kafka O Processo onde a máquina processual é tal gigantesca e complexa que nem o próprio sistema consegue mais se lembrar dos motivos que levaram o protagonista a ser processado. Ou então a ameaça dos sistemas algorítmicos que de forma invisível começam a controlar nossas vidas. O caso do comportamento dos algoritmos da livraria virtual Amazon no início de 2011 foi um exemplo do caos que pode ser estabelecido quando complexos algoritmos operacionais se tornam inteligentes o suficiente para funcionarem sem intervenção humana. O algoritmo que regula os preços da loja pareceu entrar em guerra consigo mesmo: os valores dos produtos começaram a aumentar em competição uns com os outros, chegando o livro The Making of Fly(sobre a biologia molecular de uma mosca) a custar US$ 26,3 milhões. E algoritmos programados para vender automaticamente ações da bolsa frequentemente precisam ser interrompidos por “gatilhos de segurança” que são acionados quando alguns deles “fogem do controle”. Essa reversibilidade irônica entre Bem e Mal em todo e qualquer sistema apenas confirmaria essa finitude dos recursos potenciais de simulação do Universo. Tal qual um objeto refletido em um espelho despedaçado que gera centenas de reflexos em seus fragmentos ou um fracta na geometria que reproduz em seu fragmento o objeto original em sua totalidade, da mesma forma a finitude da simulação cósmica é refletida na entropia de todos os sistema tecnológicos, sociais, políticos ou econômicos. Onde estão os simuladores? Filme "Show de Truman": fugir da simulação por meio de outra simulação A segunda parte da conclusão dos físicos da Universidade Cornell é igualmente rica em implicações filosóficas: a possibilidade do simulado conhecer os simuladores, isto é, a hipótese de um Pluriverso onde, tal qual Dorothy no filme “O Mágico de Oz” descobrimos quem está por detrás da cortina manipulando os mecanismos de uma simulação. Essa consequência prevista na hipótese dos físicos tem uma direta analogia com a Teurgia e a Alquimia no mundo antigo. Nós, humanos, não passaríamos de simulacros do Humano Primal, assim como o mundo dos nossos sentidos é um simulacro do Mundo das Formas. Através do autoconhecimento ou gnose poderíamos então retornar à Luz é à vida eterna possuída por Antropos, esse humano essencial. A Teurgia surge como a primeira forma de alcançar isso através da manipulação da matéria onde, assim como o Demiurgo, podemos dar vida e alma a uma forma material e inferior. Se temos dentro de nós uma parte desse Anthropos, podemos retornar a ele exercendo as mesmas habilidades reservada aos deuses:imitatio dei por generatio animae, imitar Deus criando vida. Pois a simulação de uma simulação (uma meta-simulação) que os físicos pretendem realizar poderia ser a atualização tecnológica desse velho conteúdo esotérico. Mas com uma diferença: dessa vez, não criando vida, mas simulando-a já que partimos agora do pressuposto que Deus/Demiurgo não fez a vida – na verdade a simula em um gigantesco simulacro computacional cósmico. Ao invés de imitatio dei por generatio animae teríamos agora imitatio dei por generatio illudo (imitar Deus criando ilusão). Um bom exemplo cinema é a estratégia de Truman para fugir do Reality Show televisivo da sua vida em “Show de Truman”: dentro de um mundo simulado, produz a “pura aparência”. Diante das câmeras escondidas que monitoram sua vida, Truman simula que dorme no porão da sua casa. No seu lugar coloca um boneco e desaparece: contra um sistema de simulação, eventos igualmente simulados. A hipótese dos físicos da Universidade de Conell parecer pretender isso: para encontrar o Grande Simulador, só através da simulação.
Del Mito a la Razon - 81 min.
Brian Greene: "A física pode estar perdendo a conexão com a realidade" O físico americano busca uma equação que explique o comportamento das galáxias e o das menores partículas conhecidas TIAGO MALI 19/09/2014 18h26 - Atualizado em 19/09/2014 20h44
Brian Greene
(Foto: Divulgação )
O físico americano Brian Greene trabalha há três décadas para fazer o que Albert Einstein não conseguiu. Ele é o mais conhecido de um grupo de teóricos que tentam formatar uma única equação que possa prever, ao mesmo tempo, o comportamento das galáxias e o das menores partículas que conhecemos. A teoria que desenvolvem, chamada de Teoria das Cordas, tem gerado cálculos cada vez mais complexos, elogiados pela elegância matemática. O problema é que, depois de tanto tempo, ninguém conseguiu confirmar com experimentos o que a matemática sugere — cobrança que tem assombrado os envolvidos. Em visita ao Brasil para palestras no evento Fronteiras do Pensamento, o professor da Universidade de Columbia recebeu ÉPOCA em seu hotel em São Paulo, onde falou sobre seu trabalho atual, que envolve a possibilidade de existirem múltiplos universos, e das dificuldades de confirmação da Teoria das Cordas. Pessimista, ele não vê uma verificação experimental de sua teoria num futuro próximo e diz que, se tivesse que apostar, apostaria que não viverá para vê-la. Nesta entrevista, o autor do best-seller O universo elegante falou ainda sobre o descompasso entre teoria e prática e sobre a possibilidade de que nunca consigamos entender as leis fundamentais do universo. ÉPOCA – O senhor diz que é fundamental entender o que veio antes do “bang” do Big bang. O que sabemos disso? Brian Greene – Há duas respostas. A primeira é que não existe “antes”. Assim como você não pode continuar a caminhar mais para o Norte quando atinge o polo Norte, talvez o tempo também comece a contar apenas no Big Bang. Outras ideias, no entanto, sugerem que há um antes. Uma das teorias, a inflação eterna, afirma haver um multiverso, múltiplos universos espalhados em um cosmos muito maior. De alguma forma, esse processo estaria acontecendo para sempre com o nosso universo sendo apenas uma de múltiplas expansões de energia. ÉPOCA – Os múltiplos universos parecem estar sendo mais bem aceitos pelos físicos. Por quê? Greene – A hipótese ainda é muito controversa. Alguns apontam como a direção certa, mas outros acham que ela é completamente nonsense e que nem sequer pode ser chamada de ciência. Minha opinião é que a matemática naturalmente sugere o multiverso como uma possibilidade e que, por isso, devemos manter a busca por ele. Mas, sem evidência, continua sendo uma ideia. ÉPOCA – Essa ideia não vem da dificuldade que vocês têm de explicar o comportamento de partículas e forças? Não seria uma forma escapar dizendo que tudo é aleatório? Greene – A verdade é que não sabemos por que o universo tem as características exatas que ele tem. E, sim, isso é uma motivação. Se existe um multiverso, resolve-se o problema de por que o elétron tem certas propriedades e comportamentos. A resposta será que não existem princípios fundamentais por trás disso, porque em outros universos ele se comportaria de maneira diferente. Se tivéssemos uma explicação para as massas das partículas, a intensidade das forças no mundo, todos os detalhes que conseguimos medir hoje e que não entendemos, teríamos menos motivos para considerar o multiverso. Admitir múltiplos universos significa admitir que nosso mundo é apenas uma de múltiplas possibilidades, com múltiplas forças diferentes e configurações. Muitas pessoas acham esse tipo de argumentação que estou fazendo, francamente, repugnante, anticientífica. Mesmo assim, pode ser que seja essa a verdade. ÉPOCA – No livro A realidade oculta, o senhor detalha algumas das possibilidades de que existam múltiplos universos. Quais poderiam ser confirmadas por experimentos? Greene – O multiverso da teoria das cordas [que pressupõe dimensões além das 3 que conseguimos enxergar], é interessante porque o [acelerador de partículas] LHC, na fronteira da Suíça com a França, pode gerar evidências disso. Quando as partículas colidem fortemente, um pouco dos restos dessas colisões pode ser ejetado da nossa dimensão. Se isso acontecer, poderíamos medir que existe menos energia aqui, indicando que a partícula acabou caindo em um outro universo. É uma possibilidade excitante. ÉPOCA – E a hipótese da inflação eterna? Greene – Talvez seja a mais testável. Imaginando que nosso universo seja uma bolha de sabão, ele pode ser atingido por outras bolhas de sabão cósmicas. Se houver essa colisão, a matemática mostra que deverá haver rastros na radiação cósmica de fundo de microondas [tipo de radiação que permeia todo o universo]. ÉPOCA – O senhor escreve também sobre a possibilidade de vivermos num universo holográfico. Como é isso? Greene – Nesta hipótese, o mundo que conhecemos aqui, de cadeiras, mesas e coisas tridimensionais seria equivalente a um universo que vive numa superfície de duas dimensões que nos rodeia no limite do cosmos. É como se fôssemos sombras, não teríamos existências independentes. O que é notável é que todo esse mundo tridimensional pode ser perfeitamente descrito usando dados numa superfície bidimensional. Estamos aprendendo que há tanta redundância na informação do mundo real que a descrição em duas dimensões seria mais nítida e mais econômica do que a que a realidade que presenciamos. Então, a versão bidimensional seria a versão primária e nós seríamos a segunda versão, uma projeção holográfica. ÉPOCA – Seria impossível confirmar isso, não? Greene – Verificação experimental para qualquer uma dessas ideais é um grande desafio. Mas o interessante sobre a ideia holográfica é que as técnicas por trás dela têm sido aplicadas para tentar entender dados experimentais. Por exemplo, no Colisor Relativístico de Íons Pesados [grande acelerador de partículas em Nova York]. As técnicas conseguem descrever os dados com precisão. Isso nos dá então alguma confiança que os conceitos usados estão na direção certa. ÉPOCA – Uma hipótese ainda mais estranha que o senhor coloca é vivermos numa Matrix, como no filme. Como seria possível saber disso? Greene – Como você viu no filme, não foi fácil para o Neo ou o Morpheus entender o que estava acontecendo (risos). Claramente, se simulações de computador continuarem a melhorar você pode imaginar isso acontecendo. Veja o quão longe fomos em poucas décadas. Em 500 anos, em mil anos, quando o poder computacional for além de qualquer coisa que possamos imaginar, acho que será possível, sim, criar um mundo artificial no qual seus habitantes não entenderiam que vivem num computador. Pelo menos em princípio, essa proposição curiosa, senão assustadora, existe. ÉPOCA – A ideia de um universo infinito é mais aceita pelos físicos. Mas isso implicaria automaticamente em outros planetas idênticos ao nosso? Greene – Se você fizer uma pesquisa com físicos, muitos vão achar que o espaço é infinito, mas ainda não sabemos ao certo. Porém muitos não se debruçam sobre o fato de que um universo infinito leva a concluir que teríamos cópias de nós mesmos na vastidão desse infinito. Quando confrontados com isso, alguns recuam, outros já me disseram que ficam depressivos ao pensar que eles perderiam a sua individualidade. Outros, como eu, acham isso estonteante. Mesmo assim, é muito difícil de provar que o universo seja infinito. Nossas observações sempre estarão limitadas a certa distância. ÉPOCA – Poderíamos provar o oposto? Greene – Se você procurar cópias múltiplas da mesma galáxia, isso poderia significar que é a mesma luz que está circulando em um universo finito, com a forma de donut, e entrando no seu telescópio múltiplas vezes. Tem gente tentando fazer essas observações, mas ainda não acharam nada muito convincente. ÉPOCA – Há três décadas físicos trabalham intensamente na teoria das cordas e até agora não temos verificação experimental. Não é hora de mudar de rumo? Greene – Qualquer teoria que tente unir gravidade e mecânica quântica [que explica o movimento das partículas muito pequenas] está no mesmo barco: é muito difícil de testar porque a fusão das duas só pode ser observada em energias muito altas ou distâncias muito pequenas, muito além do alcance de qualquer máquina que possamos construir hoje. Dito isto, há alguns sinais que podemos achar no LHC. Se ele encontrar partículas supersimétricas [novo tipo de partícula sugerido pela teoria] ou um buraco negro microscópico, isso seria uma evidência circunstancial forte. Há também cálculos que mostram que a teoria das cordas resultaria em variações muito particulares de temperaturas no cosmos, em um padrão bem peculiar. São todas possibilidades. Mas ninguém tem uma bola de cristal para dizer quando e se isso irá acontecer. ÉPOCA – Muitos esperavam que a supersimetria já tivesse sido encontrada pelo LHC. Se o aparelho não achar essas partículas, o senhor desiste da hipótese? Greene – Não. Não seria científico desistir da supersimetria. Eu interpretaria o resultado dizendo que, até a escala de energia que aquela máquina pode atingir, a supersimetria não se manifesta. Uma máquina mais poderosa poderia provar que as partículas estão em outro lugar. ÉPOCA – Seria bem caro construir um acelerador mais potente Greene – Há rumores de que o governo chinês poderia ter um papel importante em construir essa máquina. Concordo que há obstáculos práticos para continuar essa exploração, mas só porque você não pode olhar sob o carpete não significa que não tenha nada ali. ÉPOCA – Mas há limites para o que podemos observar. Não podemos enxergar nada além da distância que a luz percorreu depois do Big Bang, por exemplo. Esses limites não impedem uma teoria que unifique tudo? Greene – Esse é um problema real. Talvez os dados que podemos ter acesso sejam insuficientes para determinar a descrição do que é o Universo. É, de fato, uma restrição. Frente a isso, há duas reações: desistir ou fazer o melhor que você pode para contornar o problema. A segunda estratégia tem nos levado muito longe. Nos anos 1920, a mecânica quântica foi usada para descrever o movimento das partículas. Agora, todos esses aparelhos aqui [aponta para o smartphone] só existem por conta da mecânica quântica aplicada. Não é só que entendemos mais, podemos usar isso para melhorar o mundo. Vou continuar seguindo essa estratégia até bater em algum muro. Ainda não batemos num muro. ÉPOCA – Mas e se o mundo simplesmente não puder ser reduzido a uma única teoria? Não faria sentido ter duas teorias diferentes? Greene – Alguns acham que sim. Há um artigo de um grande físico, Freeman Dyson, onde ele argumenta que poderíamos usar a relatividade geral para coisas grandes, física quântica para as coisas pequenas e tudo bem, é bom o suficiente. O problema com essa perspectiva, é que há situações em que as duas coisas estão juntas, como no momento do Big Bang ou no centro de um buraco negro. E, se as duas teorias não trabalharem juntas, essas situações estarão além da nossa capacidade de compreensão. Seria o mesmo que dizermos que não precisamos entender certos aspectos do universo. ÉPOCA – Com a dificuldade de fazer testes práticos, parece que a física se apoia cada vez mais em axiomas que matematicamente fazem sentido para seguir. Mas a matemática é uma construção humana, e pode levar a múltiplos lugares não necessariamente corretos, não? Greene – Talvez a matemática seja uma construção humana. Neste caso, eu me pergunto se... [ pausa de 5 segundos] as ideias que estamos tendo são mais um produto da nossa neurofisiologia do que o reflexo da realidade exterior. É uma possibilidade. É possível que no futuro encontremos alienígenas, mostremos a matemática, e eles nos digam: "no começo tentamos isso também, mas é limitado, está aqui o jeito correto". Mas pode ser que a matemática seja, na verdade, a linguagem da natureza. Ela pode estar entrelaçada com a realidade externa. Alguns chegaram ao ponto de dizer que a matemática é a realidade e que todas as coisas no mundo físico são apenas encarnações das ideias matemáticas fundamentais. ÉPOCA – Isso soa platônico. Sem confirmações, os físicos não podem estar entrando num mundo das ideias? Greene – Certamente. Pode ser que, nos próximos 50 ou 100 anos, as coisas evoluam assim. É possível que, se não construirmos nenhuma máquina nova, se não conseguimos fazer observações astronômicas mais poderosas, a física teórica pode se tornar um empreendimento completamente matemático, sem conexões diretas com o que podemos observar. Seria uma situação infeliz porque a física foi feita para ser uma ciência focada na realidade exterior. Mas talvez haja um período no qual a tecnologia ficará muito atrás das questões propostas pela teoria e que depois ela consiga alcançá-la. A questão fundamental é: vamos ter testes reais para essas ideias? Ou as ideias estão simplesmente fora de alcance da tecnologia? ÉPOCA – O senhor acha que viverá para ver testes confirmando ou refutando essa hipótese? Greene – Eu gosto de pensar que sim, mas, se eu fosse apostar, apostaria que não. Há uma primeira esperança sobre os testes do LHC. Mas o LHC encontrar ou não a partícula da supersimetria não prova nem desprova nada. Infelizmente, a teoria tem essa flexibilidade que permite acomodar qualquer um dos resultados. ÉPOCA – Não te incomoda? Unificar as teorias é o que você tem tentado há décadas. Greene – Sim, sim, me incomoda. Eu preferiria saber. Por outro lado, gosto de pensar que isso é parte de uma jornada que está acontecendo há milhares de anos, tentando aprofundar nosso entendimento da realidade. Se nossa geração contribuir com alguma coisa para essa jornada, mesmo que não na direção certa, ainda assim estamos fazendo algo importante. ÉPOCA – No que o senhor está trabalhando agora? Greene – Estou fazendo vários cálculos relacionados ao multiverso. O que acontece quando os universos colidem e quão estáveis seriam esses outros universos. Na educação, estou trabalhando no World Science U, uma plataforma para ensinar física que vai além do que temos nas classes, para ensinar de uma maneira mais poderosa. É um jeito de aproximar a ciência da arte, explicando, mas não de um jeito tradicional. Será uma forma que se guia pelo dramático e o poder do audiovisual para comunicar coisas de um jeito não intelectual.
O Monstro da Via Láctea - 45 min.
Discovery Channel - Entenda o seu Mundo - 51 min.
Genismo:
jocax@usp.br [Genismo]ÉPOCA –
Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
Documentários Completo em Português: A Historia Da Cocaína
Documentários Completo em Português: A Historia Da Cocaína
Coca é um dos estimulantes mais antigos, mais poderoso e mais perigoso do mundo natural. Três mil anos antes do nascimento de Cristo, o antigo Incas nos Andes mastigado folhas de coca para acelerar seu batimento cardíaco e respiração, assim, para neutralizar os efeitos de viver em más ar da montanha.
Nativos peruanos mastigado folhas de coca somente durante cerimônias religiosas. Esse tabu foi violado quando os soldados espanhóis invadiram o Peru em 1532 força de trabalho indígena nas minas de prata espanholas foram mantidos fornecimento de folhas de coca, porque era mais fácil de controlar e explorar.
A cocaína foi sintetizada pela primeira vez (extraído de folhas de coca) em 1859 pelo químico alemão Albert Niemann. Não foi até 1880, quando começou a se tornar popular na comunidade médica.
O psicanalista austríaco Sigmund Freud, que usou a droga, pessoalmente, foi o primeiro a promover o uso de cocaína como um tônico geral para curar a depressão e impotência sexual.
Em 1884, ele publicou um artigo intitulado "Über Coca" (On Coca), na qual promoveu os "benefícios" de cocaína, chamando-a de uma substância "mágica".
Freud, no entanto, não era um observador objetivo. Cocaína usada regularmente prescrito para sua namorada e seu melhor amigo e recomendado para uso geral.
Embora observando que a cocaína tinha levado a "física e decadência moral," Freud continuou a promover cocaína entre os seus amigos mais próximos, um dos quais acabaram por sofrer de delírios paranóicos com "cobras brancas estavam rastejando em sua pele."
Ele também acreditava que "a dose tóxica humana (cocaína) é muito alta, e parece haver uma dose letal." Contrariamente a esta crença, um dos pacientes de Freud morreu de overdose que lhe ordenou.
Em 1886, a droga ganhou popularidade quando John Pemberton incluiu folhas de coca como um ingrediente em seu novo refrigerante: a Coca-Cola. Os efeitos eufóricos e energizantes para os consumidores ajudou a impulsionar a popularidade da Coca Cola no início do século.
A partir da década de 1850 até o início dos anos 1900, as pessoas de todas as classes sociais comumente usados com cocaína e ópio elixires (poções mágicas ou médicas), tônicos e vinhos. Celebridades que promoveram os efeitos "milagrosos" de tônicos e elixires de cocaína, incluída inventor Thomas Edison e atriz Sarah Bernhardt. Naquela época, a droga tornou-se popular na indústria do cinema silencioso e mensagens para a cocaína que sai de Hollywood influenciou milhões de pessoas.
O consumo de cocaína aumentou na sociedade e os perigos da droga tornou-se gradualmente mais evidente. A pressão pública forçou em 1903 a empresa Coca Cola eliminar folhas de coca seu refrigerante.
Em 1905, cheirando cocaína tornou-se popular e, em menos de cinco anos, os hospitais e os médicos começaram a relatar em sua literatura, os casos de dano nasal causado pelo uso desta droga.
Em 1912, o governo dos Estados Unidos informou 5.000 mortes relacionadas com a cocaína em um ano; e em 1922 a droga foi oficialmente proibida.
Nos anos 70, a cocaína surgiu como a nova droga da moda para artistas e empresários. Parecia o companheiro perfeito para uma viagem pela via rápida. Fornecido "energia" e as pessoas ajudaram a permanecer "alerta".
Em algumas universidades americanas, a percentagem de estudantes que tinham experimentado cocaína aumentou dez vezes entre 1970 e 1980.
No final de 1970, os traficantes começaram a estabelecer uma elaborada rede de contrabando de cocaína para os Estados Unidos.
Tradicionalmente, isto era uma droga de rico, devido ao elevado custo de manutenção do vício de cocaína. No final dos anos 80, a cocaína não era mais uma opção para os ricos. Até então, ele tinha a reputação na América do Norte para ser o mais viciante e perigoso, ligada à pobreza, crime, drogas e morte.
No início dos anos 90, os cartéis da droga produzir e exportar 500 a 800 toneladas de cocaína por ano, que acompanha não só os Estados Unidos mas também Europa e Ásia. Os maiores cartéis foram desmantelados pela aplicação da lei agências de aplicação da lei, em meados dos anos 90, mas eles foram substituídos por grupos menores com mais de 300 organizações que são conhecidos por ser ativa no contrabando de drogas atualmente.
História da cocaína
A cocaína é consumida pela humanidade há pelo menos cinco mil anos. (Escohotado, 1996). Porém, a planta da qual a substância é proveniente, a coca, natural dos altiplanos andinos, já era utilizada por civilizações pré-incaicas florescidas no século X a.C. (Escohotado, 1996; Johanson, 1988). A origem etimológica da palavra 'coca' provém da língua aymara e significa "planta" ou "arbusto" (Escohotado, 1996). Para as civilizações pré-incaicas, a planta deu poderes aos homens para vencerem um deus maligno e os incas entendiam que a 'Mama Coca', tal como a denominavam, fora um presente dos deuses para que os homens, ao mascar suas folhas, pudessem suportar a fome e a fadiga (Escohotado, 1996). O consumo das folhas era um privilégio da nobreza e sua utilização por soldados, mensageiros e camponeses, salvo autorização real expressa, era considerado crime de lesa majestade (Escohotado, 1996). Os nativos andinos não sabiam extrair das folhas o princípio ativo, mas aprenderam a conserva-lo, misturando à planta substâncias alcalinas (cal) (Johanson, 1988). Apesar de levada ao conhecimento europeu já nos primeiros anos da colonização espanhola, por Américo Vespúcio (1505), Fernandez de Oviedo (1535) e Nicholas Monardes (1565) (Karch, 1998), as folhas de coca não conseguiram popularidade nesse continente até o século XIX (provavelmente devido à deterioração da planta durante o transporte), permanecendo um costume indígena exclusivo até então (Grinspoon et al, 1985; Johanson, 1988). A primeira publicação científica sobre o assunto, no entanto, apareceu na revista Institutiones Medicae, escrita por Herman Boerhaave, em 1708 (The Vaults of Erowid, 2001). O interesse europeu pelas propriedades farmacológicas da folha de coca apareceu com efusividade na virada para o século XIX: eminentes botânicos, farmacologistas e médicos da primeira metade do século atribuíram-lhe denominações tais como "tesouro da matéria médica", "saudável e condutora da longevidade", "evocadora da potência do organismo, sem deixar sinal algum de debilidade conseqüente" (Escohotado, 1996). Opositores da euforia causada pela descoberta da substância já eram encontrados nesse período, comparavam a coca ao ópio e alertavam para o potencial uso abusivo da mesma (Grinspoon et al, 1985; Escohotado, 1996). A medicina adotou definitivamente a substância após a obtenção do princípio ativo puro, isolado por Albert Niemann, em 1859 (Karch, 1998). Antes, em 1855, o químico Gaedecke já havia extraído um resíduo oleoso das folhas de coca, ao qual denominou eritroxilina (Johanson, 1988). As indicações da cocaína para o tratamento das farmacodependências, como estimulante incapaz de danos secundários, ideal para exaltar o humor, espantar a depressão e "deixar as damas plenas de vivacidade e charme", foram publicadas nas principais revistas médicas da época, na Europa e nos Estados Unidos (Escohotado, 1996). Suas propriedades anestésicas foram utilizadas no tratamento de dores de dente e garganta, em bloqueios anestésicos e abriu uma nova fronteira nas cirurgias oftalmológicas (Karch, 1998). Era utilizada pelas vias oral, inalatória ou por meio de injeções intradérmicas (Escohotado, 1996). Os primeiros produtos comerciais da substância começaram a surgir no início da segunda metade do século XIX (Escohotado, 1996; Karch, 1998). Tais produtos consistiam em infusões revigoradoras de folhas de coca, pastilhas para aliviar dores dentárias, tônicos e bebidas, alcóolicas e não-alcóolicas, que recebiam cocaína em sua composição. Duas bebidas atingiram grande notabilidade: o Vinho de Coca Mariani, produzido pelo médico corso que batizou com seu sobrenome a bebida e a Coca-Cola, do boticário norte-americano J. S. Pemberton, que a vendia para o combate à cefaléia e como tonificante. Com o advento da Lei Seca, Pemberton substituiu o álcool da fórmula por noz de cola (continente de cafeína), gaseificou a água e anunciou-a como "a bebida dos intelectuais e abstêmios" (Escohotado, 1996). Uma garrafa de 6 onças da bebida continha, em média, 2 miligramas de cocaína (Spillane, 1999). Em 1909, havia nos Estados Unidos 69 tipos de bebidas que continham cocaína em sua fórmula (Escohotado, 1996). Entre 1880 e 1884 o Therapeutic Gazzette publicou 16 relatos de cura da dependência do ópio pela cocaína (Grinspoon et al, 1985). Mas foi a monografia de Sigmund Freud, Über Coca, em 1884, que sintetizou aquilo que vinha sendo falado e escrito pela comunidade científica nas últimas décadas. O trabalho do então desconhecido cientista, exaltava a capacidade da substância de exaltar o humor, combater o 'morfinismo' e o 'alcoolismo', transtornos gástricos, caquexia e a asma, além de ser afrodisíaco e anestésico local. Em artigos subseqüentes, considerou improvável a existência de uma dose letal para a substância e colocou suas experiências com a mesma no tratamento da histeria e hipocondria (Escohotado, 1996). Dois laboratórios, Merck (1862) e Parke Davis (1870), passaram a comercializar a cocaína e dirigiram-na à classe médica na forma apresentações tais como extratos fluídos, vinhos, oleatos e salicilatos, inaladores, sprays nasais e cigarros contendo a cocaína em suas composições (Grinspoon et al, 1985; Johanson, 1988; Escohotado, 1996). Numa de suas campanhas, a Parke Davis publicou aos médicos: "Esperamos que seja mais freqüente a aplicação dos maravilhosos efeitos da cocaína na terapêutica geral, dos quais destacamos a melhora do estado de ânimo, o aumento das faculdades físicas e mentais, assim como o aumento da resistência ao esforço [...] Seria uma lástima que tão destacadas propriedades não fossem exploradas" (Escohotado, 1996). Nessa época, o cultivo da planta foi levado para colônias inglesas, tais como Jamaica, Madagascar, Camarões, Índia, Ceilão (atual Sri Lanka) e especialmente Java (Grinspoon, 1985; Negrete, 1992). A reação ao tratamento de panacéia dispensado à cocaína, embora presente desde o início do século XIX, só ganhou relevância no final desse (Spillane, 1999). Sintomas psicóticos e depressivos, insônia e relatos de abuso e dependência, onde o consumo era classificado por seus usuários como uma 'tentação irresistível' golpearam os elogios incondicionais que a substância vinha recebendo até aquele período (Escohotado, 1996). Por volta de 1890, pelo menos 400 casos agudos ou crônicos de danos físicos e psíquicos relacionados à cocaína já haviam sido publicados na literatura médica (Grinspoon et al, 1985). Em 1901 a Coca-Cola retirou a cocaína de sua fórmula (Karch, 1998). Emil Kraepelin (1902), durante uma conferência para clínicos da Universidade de Heidelberg, ao falar sobre a importância do papel do médico para "a prevenção e o alívio da interminável miséria causada pela doença mental", apontou o alcoolismo, a sífilis e o abuso da morfina e da cocaína, como "os mais importantes pontos de ataque". Por volta de 1905, o consumo inalado da cocaína já era bastante difundido nos E.U.A. e o primeiro caso de lesão da mucosa nasal foi publicado pela literatura médica em 1910 (Karch, 1998). As sociedades médicas, no início partidárias, e depois convertidas em ferozes opositoras da cocaína, passaram a criticar a venda da cocaína pela indústria farmacêutica, afirmando que esses haviam promovido a substância de uma maneira irresponsável e não-científica (Spillane, 1999) . A partir da segunda década do século XX, observou-se um declínio no consumo da cocaína nos Estados Unidos e na Europa até atingir níveis insignificantes. Para tal, alguns fenômenos foram determinantes: o fortalecimento do puritanismo e da ideologia proibicionista nos Estados Unidos, culminado no aparecimento de leis restritivas e punitivas (Harrison Narcotics Act, 1914; Boggs Act, 1951; Narcotics Control Act, 1956), que baniram a cocaína e a heroína do mercado livre, controlaram as importações desses produtos, perseguiram os médicos que prescreviam tais substâncias e fecharam várias clínicas para tratamento de dependentes (Escohotado, 1996). A depressão econômica que se estendeu até os anos 40, deixando menos dinheiro para gastos supérfluos (Grinspoon et al, 1985). O surgimento, na Europa, de medidas socio-educativas e de saúde pública, visando à prevenção e ao tratamento desses pacientes (Escohotado, 1996). E por fim, a anfetamina, um novo e potente estimulante de longa duração, foi sintetizada em 1932. A substância não possuía qualquer restrição punitiva por parte dos estados nacionais, era barata e parece ter substituído o consumo de cocaína em alguma proporção (Johanson, 1988). Alguns fatores são apontados como contribuintes para o recrudescimento do consumo de cocaína e heroína no início dos anos 70: o aparato repressivo montado pelo Estado norte-americano concentrava seus esforços no combate à maconha e ao LSD, permitindo que outras substâncias fossem introduzidas no país (Escohotado, 1996). A partir de 1973, o consumo de anfetamina passou a ser controlado, deixando um universo de consumidores carentes de uma substância com as mesmas propriedades (Johanson, 1988). Os movimentos contraculturais beat e hippie, dos anos 50 e 60, além de entenderem a experiência com substâncias psicoativas como uma forma percepção, contestação e saída do sistema autoritário em que viviam as nações da Guerra Fria (tune in, turn on and drop out), contribuíram para a modificação dos valores autoritários da classe média e para a aproximação com os setores marginalizados da sociedade (negros, homossexuais, loucos enclausurados e bandidos) (OSAP, 1991; Escohotado, 1996). Durante o seu ressurgimento, a cocaína era considerada uma 'droga leve', incapaz de causar sintomas de dependência física e por isso foi pouco visada num primeiro momento (OMS, 1975; OSAP, 1991). O narcotráfico colombiano se profissionalizou a partir dos anos 70 (Uprimny, 1997). Utilizando sua experiência anterior no contrabando de ouro e esmeraldas e aproveitando as conexões existentes para a distribuição da maconha, introduziu crescentes quantidades de cocaína em território norte-americano, aumentando a disponibilidade e reduzindo posteriormente o preço do produto (The Economist, 2001). Desse modo, a cocaína se apresentou aos anos 80 como um estimulante relativamente inócuo e eminentemente urbano (Grinspoon et al, 1985). O alto custo inicial da substância, seu snob appeal e reputação de 'droga das elites' conferiram-lhe uma imagem de algo desejável (Grinspoon, 1985). O estilo de vida de uma nova geração, nascida durante os anos efervescentes do movimento hippie, mas ideologicamente oposta a esse, estava associado à cocaína : essa geração ficou conhecida como yuppies (young urban professionals) (American Heritage Dictionary, 2000). Jovens profissionais bem sucedidos e totalmente integrados ao sistema de produção vigente, possuíam empregos invejáveis e sob medida para workarolics e identificavam-se com os ícones do consumismo (Grinspoon, 1985). O consumo de cocaína inalada era visto como provedor de energia, auto-estima e ambição social, atributos essenciais para esses jovens executivos (Gold, 1993). O consumo de cocaína atravessou os anos 80 popularizando-se. Atingiu extratos sociais mais baixos, faixas etárias cada vez menores (Escohotado, 1996) e preços mais acessíveis, chegando a custar 250% menos, no final da década (The Economist, 2001). O narcotráfico colombiano, responsável pela produção e distribuição da cocaína pelo mundo, atingiu níveis avançados de organização e notoriedade internacional (Shannon, 1991; Morganthau et al, 1991). No final dos anos 80, era responsável por 80% da cocaína distribuída nos Estados Unidos e faturava cerca de 200 bilhões de dólares anuais (Arbex, 1996). Nesse contexto de popularização, uma nova apresentação da substância surgiu em território norte-americano, após um período embrionário na América do Sul. Foi denominado crack e seu impacto sobre a cultura norte-americana e mundial gerou grande interesse por parte da mídia e da comunidade científica. O hábito de fumar a pasta de folhas de coca era praticamente desconhecido na América do Sul antes dos anos 70 (Negrete, 1992). A partir dessa época, começou a ganhar popularidade no Peru, espalhando-se para os outros países produtores no decorrer da década (Maass et al, 1990). Nos Estados Unidos, o uso da pasta de coca foi descrito pela primeira vez em 1974, numa comunidade restrita da Califórnia (Wallace, 1991) e atingiu alguma popularidade no final da década (Siegel, 1987, Wallace, 1991; Morgan et al, 1997). A pasta básica de coca (sulfato de cocaína) é obtida por meio da maceração ou pulverização das folhas de coca com solvente (álcool, benzina, parafina ou querosene), ácido sulfúrico e carbonato de sódio (Maass et al, 1990; Escohotado, 1996). Desde os primeiros relatos, chamava a atenção dos pesquisadores a intensidade e a curta duração dos sintomas de euforia, seu preço muito inferior ao da cocaína refinada, as impurezas do amálgama e o 'microtráfico' feito pelo usuário para a manutenção do próprio consumo (Maass et al, 1990). A pasta básica era chamada nos países andinos de basuco, evocando a natureza da mistura (alcalina) e a potência de seus efeitos psicotrópicos (bazuca) (Negrete, 1985). Essa experiência, inicialmente restrita à América Andina, foi considerada por alguns autores como a precursora do surgimento do crack nos Estados Unidos (Hamid, 1991a; Ellenhorn et al, 1997; Reinarman, 1997). O crack surgiu entre 1984 e 1985 nos bairros pobres de Los Angeles, Nova York e Miami, habitados principalmente por negros ou hispânicos e acometidos por altos índices de desemprego (Del Roio, 1997, Reinarman, 1997). Era obtido de um modo simples e passível de fabricação caseira (Ellenhorn et al, 1997) e utilizados em grupo, dentro de casas com graus variados de abandono e precariedade (crack houses) (Geter, 1994). Os cristais eram fumados em cachimbos e estralavam (cracking) quando expostos ao fogo, característica que lhes conferiu o nome (Ellenhorn et al, 1997). A utilização produzia uma euforia de grande magnitude e de curta duração, seguida de intensa fissura e desejo de repetir a dose (OSAP, 1991). O perfil inicial desses consumidores, eminentemente jovem, era o seguinte (Hamid, 1991b): usuários de cocaína refinada, atraídos inicialmente pelo baixo preço do crack, usuários de maconha e poliusuários, que adicionaram o crack ao seu padrão de consumo e aqueles que adotaram o crack como sua primeira substância. Juntaram-se a essa população, usuários endovenosos de cocaína, geralmente mais velhos, que após o advento da AIDS, optaram pelo crack em busca de vias de administração mais seguras, sem prejuízo na intensidade dos efeitos (Dunn et al, 1999b). O baixo preço da substância também atraiu novos consumidores, de estratos sociais mais baixos, que pagavam por dose consumida e por isso faziam inúmeras transações (Blumstein et al, 2000). No entanto, sua pureza, algumas vezes inferior, a curta duração dos efeitos e a compulsão por novas doses, por vezes produziam um gasto mensal superior ao efetuado com a cocaína refinada (Caulkins et al, 1997; Ferri, 1999). O crack modificou profundamente a economia doméstica do tráfico drogas, bem como seu modo de atuação. Hamid (1991a, 1991b) relata que antes do aparecimento do crack em Nova Iorque, a distribuição de substâncias era feita por grupos de minorias étnicas culturalmente coesas, fazendo seus lucros circularem dentro daquela comunidade, na forma de bens e serviços. Com a chegada do crack e seu padrão compulsivo de uso, a busca por divisas voltou-se para a obtenção de mais substância, em detrimento da comunidade onde o comércio se dava. Além disso, um importante paradigma, a separação entre vendedor e consumidor, foi abandonado: os consumidores assumiram papeis na distribuição e muitos traficantes viram-se dependentes do crack. A partir daí surgiu um novo modo para a distribuição: atomizado e executado por jovens e suas gangues, porém fortemente organizado e hierarquizado, onde cada um exercia um papel específico. O ambiente de violência e criminalidade pronunciado, pode ser explicado por alguns fatores. O novo negócio fomentou competitividade entre os grupos (Hamid, 1991a, Blumstein et al, 2000). Era comandado por adolescentes marginalizados e excluídos do mercado de trabalho, sem outra perspectiva econômica (Morgan et al, 1997; Blumstein et al, 2000), naturalmente mais imaturos e impulsivos e muitas vezes dependentes da substância (Hamid, 1991b, Blumstein et al, 2000). O comércio do crack causou deterioração e desestabilização econômica de bairros, onde as vendas se concentravam, associado à falta da presença do Estado como provedor de políticas sociais e de segurança, atuando exclusivamente como agente repressor e estigmatizador do tráfico e seus usuários (Hatsukami, 1996). O fácil acesso a armas de fogo cada vez mais poderosas (Hatsukami, 1996), fez dessas o principal meio para os membros das gangues garantirem autoproteção, resolverem as disputas de mercado, defenderem os produtos e ativos ilegais, além de lhes conferirem status e poder na comunidade onde atuavam (Blumstein et al, 2000). O caráter abusivo e compulsivo do consumo do crack, gerador de fissura e busca desenfreada por uma nova dose (Gossop et al, 1994; Hatsukami et al, 1996). A chegada do comércio do ilegal do crack catalisou e amplificou déficits sociais latentes, que apareceram sob a forma de comportamentos violentos, tais como venda de objetos pessoais, furtos, roubos, disputa de gangues, assassinatos e prostituição (Hamid, 1991a). A presença do crack começou a ser relatada em outros países no final dos anos 80 (figura 1.1 e figura 1.2). A Espanha é tida a porta de entrada do tráfico de cocaína e haxixe na Europa (OGD, 2000). O país vem detectando a presença crescente da cocaína, principalmente na camada jovem da população (Bosch, 2000). O crack é mais prevalente na região sul do país (Sevilha), decrescendo, gradativamente, até alcançar as cidades do Norte (Barcelona) (Barrio et al, 1998). Portugal e França apresentam índices insignificantes de consumo de cocaína, em termos de saúde pública, além de não fazerem menções sobre o crack (EMCDDA, 1999). A Itália (EMCDDA, 2000) detectou a presença do crack entre minorias de imigrantes (senegaleses), envolvidos no mercado do tráfico e habitando áreas marginalizadas. O consumo, restrito às minorias imigrantes, apresentou algum aumento entre os italianos. No Reino Unido, o crack surgiu em bairros pobres e marginalizados, habitado por minorias de imigrantes, causando disputas de espaço pela distribuição e criminalidade (Bean, 1993; Ditton, 1993; Pearson, 1993, Shapiro, 1993). A substância era relativamente conhecida pelo público jovem (Denham, 1995) e passou a ser utilizada por boa parte dos antigos usuários de cocaína (Strang et al, 1990), com predomínio maior entre os negros caribenhos (Gossop et al, 1994). Recentemente, a imprensa (Police crack down..., 2001) noticiou um aumento do consumo. A Alemanha (EMCDDA, 2000) observou a chegada do crack a partir da primeira metade dos anos 90. Produzido artesanalmente e para consumo próprio, no início, o crack é hoje mais prevalente que a cocaína naquele país, com grande penetrância entre os usuários de heroína. A Holanda parece não ter sentido a presença do crack até 1993 (Cohen, 1997), permanecendo restrito a minorias de imigrantes do Suriname (Cohen, 1995). Em 1998 o consumo de cocaína não-injetável (cocaína refinada e crack) era considerado tão prevalente quanto de heroína (Ameijden et al, 2001). Os países escandinavos (EMCDDA, 1999) têm grande predileção pelas anfetaminas, a substância mais consumida naqueles países, após a maconha (1-3%). Não há relatos sobre o crack nesses países. Figura 1.1 - Prevalência do consumo mundial de cocaína, países produtores e principais rotas de tráfico Fonte: UNODCCP. Global Illicit Drug Trends; 2001. Um padrão insignificante de consumo de cocaína foi observado nos países do Leste Europeu, sem referências à presença do crack (UNODCCP, 2001). Na Austrália, o crack parece ter causado pouca ou nenhuma repercussão (Mugford, 1997). O consumo de cocaína, no entanto, vem aumentando desde o início dos anos 90, apesar dos baixos índices (1,4%). Já nos países asiáticos, tais como Japão, China e Filipinas o consumo de estimulantes se dá preferencialmente com as anfetaminas, não havendo espaço para congêneres (NIDA, 1999; NIDA, 2001). Algum sinal do crack e drogas sintéticas (club drugs) tem sido detectado na Índia, em substituição ao consumo local de mandrax (OGD, 2000). A África do Sul é o maior mercado consumidor de cocaína do continente africano (OGD, 2000). Começou a sentir a presença do crack por volta de 1993, com índices crescentes de consumo, principalmente nas zonas miseráveis de Joanesburgo (Jeter, 2000). Os últimos relatos, no entanto, apontam para a estabilização ou mesmo redução do consumo nesse país (NIDA, 2001). Figura 1.2 - Comportamento do consumo mundial de cocaína em 1999 Fonte: UNODCCP. Global Illicit Drug Trends; 2001. Há poucas informações sobre a chegada do crack ao Brasil, em sua maioria provenientes da imprensa leiga ou de órgãos policiais. A apreensão de crack, realizada pela Polícia Federal, entre 1993-1997, aumentou 166 vezes (Procópio, 1999). A apreensão de pasta básica, no mesmo período e considerada por região, apresentou níveis decrescentes, excetuando-se a região sudeste, onde aumentou 5,2 vezes (Procópio, 1999). A cidade de São Paulo foi a mais atingida. A primeira apreensão da substância no município registrada nos arquivos da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes (DISE), aconteceu em 1990 (Uchôa, 1996). Algumas evidências apontam para o surgimento da substância em bairros da Zona Leste da cidade (São Mateus, Cidade Tiradentes e Itaim Paulista), para em seguida alcançar a região da Estação da Luz (conhecida como "Cracolândia"), no centro (Uchôa, 1996). A partir daí espalhou-se para vários pontos da cidade, estimulado pelo ambiente de exclusão social (Uchôa, 1996) e pela repressão policial no centro da cidade (Dimenstein, 1999). O preço do crack, apesar de similar ao da cocaína refinada em termos de unidade de peso, possuía apresentações para o varejo que variavam de 1,00 a 50,00 reais, tornando-o acessível para uma faixa grande de consumidores (Dunn et al, 1998). Além disso, parece ter havido uma redução na oferta de outras drogas (Nappo et al, 1994). Procópio (1999), a partir de uma revisão em jornais de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, apresentou algumas considerações sobre o esquema de distribuição. Entre essas, figuram a ascensão de indivíduos cada vez mais jovens ao comando do tráfico, fragmentado e organizado em bandos (gangues), com divisão de tarefas ("dono da bocada", "chefe da distribuição", "avião", "fogueteiro") e normas rígidas de disciplina e punição, com alta prevalência de armas de fogo, caracterizando uma conduta marcadamente violenta, em decorrência da competição por espaço na distribuição e para fazer frente ao esquema de repressão ao tráfico. Apesar de desenhado a partir de dados parciais e em sua maioria sem sistematização científica, o panorama observado guarda semelhanças com a presença do crack em outros países. Não há informações amplas sobre a evolução do consumo de crack no Brasil. Um importante fenômeno observado aqui (Dunn et al, 1996; Dunn et al, 1999b) e em outros países (Gossop et al, 1994; Barrio et al, 1998; Ameijden et al, 2001), durante os anos 90, foi a transição de vias de administração entre os usuários de cocaína. Tal fenômeno caracteriza-se pela substituição da via de administração, por meio da qual um indivíduo se iniciou no consumo de alguma substância, por uma nova via, que passa a ter sua predileção (Dunn et al, 1999b). Quanto às drogas injetáveis no Brasil, cocaína é praticamente a única substância utilizada (Carvalho et al, 2000; Seibel et al, 2000), tendo em vista a presença irrelevante de heroína no país (Dunn et al, 1999b; Carvalho et al, 2000). Até o final dos anos 80 o padrão inicial de consumo de cocaína era feito principalmente pela via intranasal e em menor proporção, pela via injetável (Dunn et al, 1999b). Nos países europeus, o consumo inicial de heroína dava-se principalmente pela via injetável (Gossop et al, 1994; Barrio et al, 1998; Ameijden et al, 2001). Após esse período, verificou-se um aumento daqueles que iniciavam seu consumo pela forma inalatória, em detrimento da injetável (Gossop et al, 1994; Dunn et al, 1999b, Kuebler, 2000; Ameijden et al, 2001). Uma porção dos usuários que utilizavam as vias injetável e intranasal migraram para a via inalatória, ao passo que essa foi a que menos perdeu adeptos (Dunn et al, 1999b). Alguns fatores influenciaram essa transformação: a severidade e o tempo prolongado de consumo de cocaína, o baixo preço e a disponibilidade do crack e a percepção crescente dos riscos associados ao modo injetável (HIV) (Dunn et al, 1999b). Nos últimos anos, instituições ligadas à infância e a imprensa vêm notando uma redução do consumo em São Paulo (Dimenstein, 2000). Notícias sobre as apreensões de substâncias psicoativas pela polícia, mostraram um aumento expressivo das apreensões de maconha (507%) e discreto com relação à cocaína e crack (10%) (Apreensão de maconha..., 2001; Maconha, cocaína..., 20001). Os mesmos artigos também observaram a redução da procura por tratamento na rede pública municipal entre esses indivíduos. Tais informações, apesar de sugerirem uma diminuição do consumo devem ser analisadas com cautela: a redução nas apreensões policiais pode tanto significar uma queda do consumo, como também decorrer do surgimento de esquemas mais protegidos de tráfico, adaptados ao esquema de repressão, inclusive por meio da corrupção desse (Bean et al, 1993). A queda na procura por atendimento pode ser resultado de um redirecionamento da demanda para outras opções de tratamento. Dessa forma, o consumo do crack vem apresentando comportamentos de queda e ascensão em diversos países (figura 1.2), com desdobramentos futuros ainda incertos.
Departamento de Psicobiologia
UNIFESP/EPM
Cocaína
1. Histórico e Formas de Preparação da Cocaína A cocaína é um alcalóide presente numa planta sul-americana, a coca, cujo nome científico é Erythroxylon coca. O "vinho de coca", preparado à base da planta, foi considerado na Europa uma bebida muito reconfortante e de grande uso social. O Papa Pio XI agraciou o principal fabricante deste vinho. Um dos mais adeptos da cocaína foi Freud. Ele próprio ingeriu a cocaína para provar a energia e vitalidade produzidas pela droga. A cocaína foi usada como medicamento até o início do século. Existiram surtos do uso desta droga no passado, mas depois que foram demonstrados os seus efeitos prejudiciais ao organismo, houve uma proibição do seu uso e um declínio na ingestão da cocaína. Hoje em dia, vive-se o pico de uma nova epidemia . Existem várias formas de cocaína. O "chá de coca", preparado à base das folhas, é muito utilizado no Peru. Nesta forma, pouca droga é absorvida e portanto muito pouco chega ao cérebro. Através de vários procedimentos, usando produtos como solvente e ácido sulfúrico, obtém-se o sal de cocaína ("pó" ou "neve"). Como ele é solúvel, pode ser aspirado ou usado via endovenosa, dissolvido em água Tratando o sal de cocaína com bicarbonato, obtém-se um bloco sólido, que é conhecido com o nome de "crack". Este nome "crack" advém do barulho produzido neste processo de solidificação e na quebra deste bloco em pequenos pedaços. Ele também pode ser preparado a partir da pasta de cocaína. Esta forma é pouco solúvel em água, mas se volatiza quando aquecida, sendo fumada em cachimbos. 2. O que a cocaína faz no Organismo ? A cocaína interfere na ação de substâncias que existem no nosso cérebro, os "neurotransmissores", como a dopamina e a noradrenalina. A cocaína eleva a quantidade dessas substâncias, porque ela inibe a recaptação pelo neurônio, aumentando a concentração desta substância na fenda sináptica, isto é, no espaço entre os neurônios nos quais se processa a neurotransmissão. Com isso, todas as funções que esses neurotransmissores possuem ficam amplificadas e podem também aparecer ações que não existem nas concentrações normais. Com a ingestão da cocaína ocorre uma sensação de euforia e prazer. Ela produz aumento das atividades motoras e intelectuais, perda da sensação de cansaço, falta de apetite, insônia. Numa dose exagerada (overdose) aparecem sintomas de irritabilidade, agressividade, delírios e alucinações. Pode ocorrer também aumento de temperatura e da pressão arterial, taquicardia e degeneração dos músculos esqueléticos. Este excesso pode levar até à morte, que ocorre por convulsões, falência do coração ou depressão do centro controlador da respiração. Se a droga for usada pela via endovenosa ou respiratória os efeitos são quase imediatos. Isto porque ela vai direto para o cérebro, sem passar pelo fígado, onde é degradada. Isto provoca aumento da probabilidade de overdose. No caso da via endovenosa, além do risco de overdose, há também o perigo de infecção através do uso de seringas contaminadas, principalmente com o vírus da AIDS, da hepatite e de outras doenças transmissíveis. 3. Como a cocaína é eliminada do organismo ? A cocaína é rapidamente metabolizada pelo fígado e seus metabólitos inativos são detectáveis na urina. 4. Tolerância e dependência à cocaína Não há comprovado efeito de tolerância devido ao uso crônico e não existe Síndrome de Abstinência característica, quando cessa a ingestão. No entanto, o componente psicológico é muito forte e ocorre, na maioria das vezes, uma vontade incontrolável de consumir a droga, que é a chamada "fissura".
Cocaína & Crack
O hábito de mascar folhas de coca entre a população nativa dos Andes existe a pelo menos 5000 anos. Tal hábito visava a amenizar o cansaço e a fome. As baixas concentrações da substância nas folhas tornam improváveis as chances de dependência entre seus usuários. Os casos de dependência tornaram-se mais freqüentes a partir do século XIX quando a cocaína foi isolada de suas folhas.
FIGURA 1: A cocaína é extraída das folhas da coca, que contém cerca de 0,5 - 2% da substância. Nos países andinos ainda prevalece o hábito de mascar as folhas com o intuito de aliviar o cansaço e a fome. Devido à baixa concentração de cocaína, o comércio e o consumo de folhas de coca (mascadas ou como chás) são considerados legais nesses países.
FIGURA 2: A coca (Erythroxylon coca), um arbusto que cresce nas encostas dos Andes e de cujas folhas onde se extrai a cocaína. www.erowid.org
Outros nomes
Cocaína: Neve, brilho, pó, Carolina, branquinha
Crack: Pedra
Aparência
Cocaína: Pó branco e brilhante, que pode ser cheirado ou injetado.
Crack: Pedras brancas de vários tamanhos e formas.
FIGURA 3: As apresentações mais comuns da cocaína: a cocaína refinada ou "pó" e o crack. A primeira apresentação é um sal (cloridrato de cocaína), utilizado pelas vias intranasal ou injetável.
O crack é a cocaína na sua forma de base livre.
Quando o cloridrato de cocaína é aquecido em meio básico
(água e bicarbonato de sódio), a cocaína se desprende
de sua forma salina e precipita na forma de cristais de cocaína livre.www.erowid.org
Efeitos
A cocaína é um estimulante. O consumo de cocaína provoca aceleração da velocidade do pensamento, inquietação psicomotora (dificuldade para permanecer parado, até quadros mais sérios de agitação), aumento do estado de alerta e inibição do apetite. Alterações do humor são passíveis de grande variabilidade, indo da euforia (desinibição, fala solta) a sintomas de mal-estar psíquico (medo, ansiedade e inibição da fala) (quadro 1).
A duração do efeito depende da via de administração escolhida: cerca de 30 minutos quando cheirada e menos de 10 minutos quando fumada ou injetada . Ao final o usuário geralmente fica 'fissurado', isto é, com vontade de consumir mais.
FIGURA 4: A cocaína pode ser consumida por qualquer via de administração.
A via injetável e a fumada (crack) colocam grandes quantidade de cocaína no sangue e geram efeitos estimulantes mais intensos e de curta duração.
O crack é fumado em cachimbos improvisados ou de vidro.
Já a cocaína em pó, utilizada por via intranasal (cheirada) ou o hábito de mascar as folhas produzem efeitos menos intensos, porém de maior duração. Quanto mais intenso e curto é o efeito desencadeado, maiores as chances de dependência pelo usuário. www.erowid.org
Principais sintomas decorrentes do consumo de cocaína
Sintomas psíquicos
Aceleração do pensamento
Inquietação psicomotora
Aumento do estado de alerta
Inibição do apetite
Labilidade do humor, variando da euforia ao mal-estar
Sintomas físicos
Aumento da frequência cardíaca
Aumento da temperatura corpórea
Aumento da frequência respiratória
Aumento da transpiração
Tremor leve de extremidades
Contrações musculares involuntárias (especialmente língua e mandíbula)
Tiques
Dilatação da pupila (midríase)
Riscos à saúde
A cocaína pode causar dependência;
Durante o consumo pode levar a problemas cardíacos, como o infarto do coração;
O consumo de grandes quantidades pode causar convulsão;
Consumir com frequência durante vários meses pode levar a depressão, ansiedade, deixar a pessoa irritada, impulsiva e cansada.
Cheirar cocaína com frequência pode danificar o interior do nariz.
Como a SENAD pode auxiliar organizações da sociedade civil sem fins lucrativos que atuam na prevenção e tratamento do uso de drogas, que necessitam de financiamento e/ou capacitação?
A missão da Senad não é ser um órgão financiador de ações de prevenção, tratamento e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, e sim de articulador de políticas e ações nesta área.
É sua competência, no entanto, transferir recursos do Fundo Nacional Antidrogas para aplicação em Projetos considerados relevantes na implantação da Política Nacional Antidrogas.
Podem solicitar subvenção social instituições públicas e privadas de caráter assistencial, sem fins lucrativos, que atuem nas áreas de prevenção, pesquisa, eventos, publicações, recuperação, tratamento e reinserção social de dependentes químicos.
As solicitações são examinadas quanto ao tipo de projeto, aplicação dos recursos, documentação da instituição e verificação da disponibilidade de recursos financeiros.
No que se refere à capacitação de profissionais, a Senad articula o desenvolvimento de cursos nos diferentes aspectos de sua atuação, alguns diretamente oferecidos aos interessados, outros em convênio com instituições públicas e privadas, em geral na modalidade à distância. Além disso, a Senad participa em reuniões, congressos, seminários e outros eventos nos quais tem a oportunidade de interagir com a comunidade científica, com os gestores das políticas públicas, com as instituições, com as organizações não governamentais e com o público em geral.
A orientação para o envio de pedidos de recursos e a divulgação dos cursos e eventos promovidos pela Senad encontram-se no nosso site: www.senad.gov.br
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Atenciosamente
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25/01/2009 Eles bebem, elas sofrem Pesquisa em 8 mil lares do país mostra que metade dos casos de agressão está ligada ao consumo de bebidas Paloma Oliveto // Do Correio Braziliense Brasília - "Meu marido é ótimo, mas quando bebe vira outra pessoa". A frase é velha conhecida de quem trabalha com mulheres vítimas de violência doméstica. Frequente na literatura médica, a combinação álcool e agressão foi constatada estatisticamente em uma dissertação de mestrado inédita da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O psicólogo Arilton Martins Fonseca pesquisou 7.939 domicílios brasileiros em 108 cidades com mais de 200 mil habitantes, incluindo o Distrito Federal. A conclusão: em 34,9% dos lares foram constatados casos de agressão, sendo que na metade dos casos, houve envolvimento de bebida.
"À medida que rebaixa o senso crítico,
o álcool potencializa a agressividade",
diz Fonseca.
A pesquisa provou que o estado de embriaguez não só favorece mais a ocorrência de atos violentos dentro de casa, como faz com que eles se repitam com maior frequência. Nas casas onde houve registros de agressão contra a mulher quando o homem estava sóbrio, o número de episódios foi menor (veja quadro). "A diferença no tempo da duração da violência é gigante e foi um dos fatores que mais me chamaram a atenção", afirma o psicólogo. Porém, ele deixa claro que a culpa da violência doméstica não é da bebida simplesmente. "Esse comportamento é inerente ao agressor." A mesma opinião tem a subsecretária da Secretaria Especial de Políticas para a Mulheres, Aparecida Gonçalves. Segundo ela, se o álcool fosse o responsável pela violência, o agressor bateria em qualquer pessoa. No entanto, ele foca a violência na mulher e nos filhos. De acordo com o autor do estudo, o álcool é uma droga bifásica. A princípio, causa desinibição, que vem seguida pela depressão do sistema nervoso central. Nesta segunda etapa, a pessoa alcoolizada fica sonolenta e com os reflexos lentos.
"O homem aproveita a primeira fase, quando está menos crítico e mais desinibido, para resolver de forma violenta coisas que estão engasgadas.
Na verdade, ele usa o álcool como desculpa", diz.
O pior é que a maioria das vítimas aceita a desculpa.
"A tendência da mulher é minimizar a agressão por causa da bebida.
Quando existe o álcool, está presente o mecanismo do perdão",
constata.
Fonte: O Diário de Pernambuco
Conhecendo a cocaínacomo o que ela é hoje, é difícil acreditar que a substância já foi promovida como uma droga milagrosa, vendida e elogiada por algumas das maiores mentes na história da medicina, incluindo Sigmund Freud e pioneiro cirurgião William Halsted. Segundo o historiador Howard Markel, a cocaína foi promovida até mesmo por Thomas Edison, pela Rainha Vitória e pelo Papa Leão XIII.
Em 1884, Sigmund Freud era um jovem médico em Viena, lutando para ganhar a vida e ser mundialmente famoso. Ele só precisava de uma descoberta: e achou que a tivesse encontrado. Ele escreveu sobre a cocaína para sua futura esposa: “Se tudo correr bem, vou escrever um ensaio sobre ela e espero que ganhe seu lugar na terapêutica, ao lado da morfina e superior a ela. Eu tomo pequenas doses regularmente contra a depressão e contra a indigestão, e com o mais brilhante de sucesso”. Foi uma estreia explosiva que ecoaria um século depois, quando a cocaína ressurgiu como um tipo diferente de droga milagrosa: o tipo que poderia ajudá-lo a festar a noite toda, sem efeitos nocivos ou risco de vício. A história nos conta, no entanto, que tal entusiasmo passou, e a explosão deixou destroços de vidas humanas para trás. Freud não foi o primeiro a escrever sobre a cocaína. A droga é derivada da planta de coca, que os nativos da América do Sul mascaram durante séculos e ainda mascam. Em 1880, uma série de empresas teve sucesso em criar uma versão concentrada da planta: cloridrato de cocaína, dezenas a centenas de vezes mais poderoso do que mastigar uma folha de coca. Na década de 1880, a literatura médica consistia em relatos de casos da droga. Médicos escreviam sobre tentativas e erros com pacientes. De acordo com o historiador Markel, Freud devorou esses relatórios e escreveu seu próprio. O resultado, em 1884, foram 70 páginas de homenagem ao pó branco que Freud pensou que podia ser uma cura para o vício da morfina. De alguma forma em seu êxtase, ele mencionou apenas de passagem que a droga poderia também servir como um analgésico tópico potente – forma a qual ainda é usada às vezes. O cirurgião pioneiro William Halsted, na época com 32 anos, já era conhecido em Nova York quando leu o artigo de Freud e foi imediatamente atraído para explorar o uso da cocaína como analgésico. Além de altas taxas de infecção, a cirurgia na década de 1880 era um negócio brutal. Éter e clorofórmio eram usados como anestésicos, mas, de acordo com Markel, médicos e enfermeiros tinham que lutar, literalmente, com o paciente para mantê-lo parado. Buscando um método melhor, Halsted começou a injetar cocaína em seus próprios membros, assim como de amigos, alunos e colegas. Ele de fato descobriu um meio valioso de amortecimento das terminações nervosas, mas a descoberta veio a um preço elevado. Alguns meses depois, quando um paciente entrou na sua sala de operações com uma fratura na perna, o cirurgião estava destroçado física e mentalmente. Markel conta que Halsted estava tão drogado de cocaína que sabia que não poderia operar. Então, tomou um táxi e foi para casa, permanecendo lá durante os próximos sete meses, se drogando. Sem dúvida, diz o historiador, houve muitos viciados como Halsted, mas em grande parte os problemas foram escondidos por uma onda de publicidade positiva. Leia também 10 Inacreditáveis propagandas de cocaína e outras drogas “Havia todo tipo de alegações de saúde sendo feitas”, explica Markel. “Se você tivesse dor de estômago, se estivesse nervoso, se fosse letárgico, se precisasse de energia, se tivesse tuberculose, asma, todos os tipos de coisas; a cocaína curaria o que quer que fosse que você tivesse”. Naquela época, as drogas não estavam presas atrás das paredes das farmácias. A cocaína era vendida em bebidas, pomadas, mesmo margarina. O produto mais popular era um vinho com cocaína desenvolvido por um químico francês. Na imagem no topo deste artigo era vendido como pastilhas para curar dor de dente em crianças. Em Atlanta, um veterano da Guerra Civil chamado John Syth Pemberton criou um vinho parecido. Viciado em morfina depois de sofrer ferimentos de guerra, John estava interessado na cocaína como um tratamento para o vício da morfina. Ele também era um grande homem de negócios. Quando a cidade em que vivia proibiu a venda de álcool, ele inventou uma versão doce, não alcoólica: a Coca-Cola. Na mesma época, em Viena, a saúde do próprio Freud estava se deteriorando devido ao uso de cocaína. Ele sofreu uma arritmia cardíaca grave e bloqueios nasais. Em uma carta de 1896, confessou seu vício e jurou parar. Freud talvez não tenha sido realmente viciado, mas não estava sozinho no crescimento do cuidado com a droga “milagrosa”. Markel conta que no início dos anos 1890, a literatura médica era cheia de relatos de pessoas que usavam muita cocaína e tinham se tornado viciadas. O cirurgião Halsted era uma delas (o que não o impediu de ser brilhante em sua profissão). Sendo assim, os anúncios sumiram. Em 1903, não havia mais cocaína na Coca-Cola. Em 1914, a droga já era vista como algo indesejável e, muitas vezes, ligada a estereótipos ruins de pessoas (ou até mesmo malucos). Um artigo infame do jornal americano The New York Times, escrito pelo médico Edward Huntington Williams, alertou para um novo perigo da cocaína: demônios. Williams descreveu um chefe de polícia que alegou que sua munição teve pouco efeito sobre esses usuários de drogas e muitas unidades policiais optaram por utilizar armas mais potentes. Mais tarde, em 1914, o Congresso americano aprovou a Lei de Narcóticos Harrison, proibindo o uso não médico da cocaína, bem como de outras drogas, como a maconha. Havia começado a longa carreira da cocaína como uma fora da lei. Uma vez proibida, o uso da cocaína caiu, embora Markel conte que houve um pequeno aumento durante a proibição. Até a década de 1970, no entanto, as histórias de criminosos e viciados foram largamente esquecidas. Com o esquecimento, houve uma explosão de uso que superaria à ocorrida um século antes. Novamente, começou com a elite. “Para ser um usuário de cocaína em 1979, tinha que ser rico, moderno e elegante”, conta Mark Kleiman, professor de política pública. As pessoas não estavam preocupadas com as desvantagens – o que, todos sabemos hoje, foi um grande erro. A gota d’água para muitos foi a morte de Len Bias em 1986, ex-jogador de basquete, que morreu de ataque cardíaco depois de uma noite de festa e cocaína com amigos. Os legisladores reagiram com uma ferocidade que atingiu os usuários mais pobres e não brancos. Em 1986 e novamente em 1988, o Congresso americano aprovou leis de condenação obrigatória que levaram a uma explosão na população carcerária dos EUA. Estudos apontam que, desde esse pico, em meados dos anos 80, o número de usuários de cocaína caiu pela metade. Hoje, o uso de cocaína é dominado por viciados (estima-se, nos EUA, que 50% a 60% de toda a cocaína sejam consumidas por pessoas que foram presas no ano passado). A cocaína tem sido elogiada e amaldiçoada, não uma só vez, mas em dois ciclos frenéticos, com um século de distância. E o que é mais incrível: as drogas sempre mostraram seu poder de afetar totalmente a percepção humana. Freud nunca reconheceu o papel da cocaína em seus males físicos, assim como os usuários de drogas sempre procuram desculpas ou benefícios para seus vícios. “É incrível o que as pessoas fazem para negar os perigos das coisas que tendem a gostar”, argumenta Markel. [CNN]
Crack, o barato mortal A pedra de crack, resultado de uma pasta de cocaína em pó misturada com solventes (álcool, benzina ou parafina), surgiu nos bairros pobres de grandes cidades do EUA nos anos 1980, mas tem antecedentes em países andinos, onde anos antes já se fazia o "basuco", que chegou ao Brasil com o nome de paco ou oxi - basta trocar os solventes do crack por ácido sulfúrico ou querosene. O crack costuma ser fumado - a versão de uso que se popularizou. A droga é barata e "eficiente". Uma pedra custa 5 reais no Brasil. Em 15 segundos uma baforada de crack provoca ondas de prazer e sensação de onipotência dez vezes maiores que a cocaína ao liberar endorfina no cérebro. A ilusão acaba logo e os "noias" ("noia" é o diminutivo da paranoia alucinatória provocada pela droga) fazem qualquer coisa para repeti-la - roubo, prostituição e desagregação familiar são alguns efeitos colaterais. No centro de polêmicas recentes entre a polícia e o sistema de saúde pública, não faltam divergências sobre o modo mais eficaz de combate e tratamento de dependentes. Pesquisa recente realizada pelo Datafolha revelou que 2% dos brasileiros com mais de 16 anos (cerca de 3 milhões de pessoas) dizem já ter experimentado a droga.
Conhecendo a cocaína como o que ela é hoje, é difícil acreditar que a substância já foi promovida como uma droga milagrosa, vendida e elogiada por algumas das maiores mentes na história da medicina, incluindo Sigmund Freud e pioneiro cirurgião William Halsted.
Segundo o historiador Howard Markel, a cocaína foi promovida até mesmo por Thomas Edison, pela Rainha Vitória e pelo Papa Leão XIII.
Em 1884, Sigmund Freud era um jovem médico em Viena, lutando para ganhar a vida e ser mundialmente famoso. Ele só precisava de uma descoberta: e achou que a tivesse encontrado.
Ele escreveu sobre a cocaína para sua futura esposa: “Se tudo correr bem, vou escrever um ensaio sobre ela e espero que ganhe seu lugar na terapêutica, ao lado da morfina e superior a ela. Eu tomo pequenas doses regularmente contra a depressão e contra a indigestão, e com o mais brilhante de sucesso”.
Foi uma estreia explosiva que ecoaria um século depois, quando a cocaína ressurgiu como um tipo diferente de droga milagrosa: o tipo que poderia ajudá-lo a festar a noite toda, sem efeitos nocivos ou risco de vício.
A história nos conta, no entanto, que tal entusiasmo passou, e a explosão deixou destroços de vidas humanas para trás.
Freud não foi o primeiro a escrever sobre a cocaína. A droga é derivada da planta de coca, que os nativos da América do Sul mascaram durante séculos e ainda mascam.
Em 1880, uma série de empresas teve sucesso em criar uma versão concentrada da planta: cloridrato de cocaína, dezenas a centenas de vezes mais poderoso do que mastigar uma folha de coca.
Na década de 1880, a literatura médica consistia em relatos de casos da droga. Médicos escreviam sobre tentativas e erros com pacientes.
De acordo com o historiador Markel, Freud devorou esses relatórios e escreveu seu próprio. O resultado, em 1884, foram 70 páginas de homenagem ao pó branco que Freud pensou que podia ser uma cura para o vício da morfina.
De alguma forma em seu êxtase, ele mencionou apenas de passagem que a droga poderia também servir como um analgésico tópico potente – forma a qual ainda é usada às vezes.
O cirurgião pioneiro William Halsted, na época com 32 anos, já era conhecido em Nova York quando leu o artigo de Freud e foi imediatamente atraído para explorar o uso da cocaína como analgésico.
Além de altas taxas de infecção, a cirurgia na década de 1880 era um negócio brutal. Éter e clorofórmio eram usados como anestésicos, mas, de acordo com Markel, médicos e enfermeiros tinham que lutar, literalmente, com o paciente para mantê-lo parado.
Buscando um método melhor, Halsted começou a injetar cocaína em seus próprios membros, assim como de amigos, alunos e colegas.
Ele de fato descobriu um meio valioso de amortecimento das terminações nervosas, mas a descoberta veio a um preço elevado.
Alguns meses depois, quando um paciente entrou na sua sala de operações com uma fratura na perna, o cirurgião estava destroçado física e mentalmente. Markel conta que Halsted estava tão drogado de cocaína que sabia que não poderia operar.
Então, tomou um táxi e foi para casa, permanecendo lá durante os próximos sete meses, se drogando. Sem dúvida, diz o historiador, houve muitos viciados como Halsted, mas em grande parte os problemas foram escondidos por uma onda de publicidade positiva.
Leia também 10 Inacreditáveis propagandas de cocaína e outras drogas
“Havia todo tipo de alegações de saúde sendo feitas”, explica Markel. “Se você tivesse dor de estômago, se estivesse nervoso, se fosse letárgico, se precisasse de energia, se tivesse tuberculose, asma, todos os tipos de coisas; a cocaína curaria o que quer que fosse que você tivesse”.
Naquela época, as drogas não estavam presas atrás das paredes das farmácias. A cocaína era vendida em bebidas, pomadas, mesmo margarina. O produto mais popular era um vinho com cocaína desenvolvido por um químico francês. Na imagem no topo deste artigo era vendido como pastilhas para curar dor de dente em crianças.
Em Atlanta, um veterano da Guerra Civil chamado John Syth Pemberton criou um vinho parecido. Viciado em morfina depois de sofrer ferimentos de guerra, John estava interessado na cocaína como um tratamento para o vício da morfina.
Ele também era um grande homem de negócios. Quando a cidade em que vivia proibiu a venda de álcool, ele inventou uma versão doce, não alcoólica: a Coca-Cola.
Na mesma época, em Viena, a saúde do próprio Freud estava se deteriorando devido ao uso de cocaína. Ele sofreu uma arritmia cardíaca grave e bloqueios nasais. Em uma carta de 1896, confessou seu vício e jurou parar.
Freud talvez não tenha sido realmente viciado, mas não estava sozinho no crescimento do cuidado com a droga “milagrosa”.
Markel conta que no início dos anos 1890, a literatura médica era cheia de relatos de pessoas que usavam muita cocaína e tinham se tornado viciadas. O cirurgião Halsted era uma delas (o que não o impediu de ser brilhante em sua profissão).
Sendo assim, os anúncios sumiram. Em 1903, não havia mais cocaína na Coca-Cola. Em 1914, a droga já era vista como algo indesejável e, muitas vezes, ligada a estereótipos ruins de pessoas (ou até mesmo malucos).
Um artigo infame do jornal americano The New York Times, escrito pelo médico Edward Huntington Williams, alertou para um novo perigo da cocaína: demônios. Williams descreveu um chefe de polícia que alegou que sua munição teve pouco efeito sobre esses usuários de drogas e muitas unidades policiais optaram por utilizar armas mais potentes.
Mais tarde, em 1914, o Congresso americano aprovou a Lei de Narcóticos Harrison, proibindo o uso não médico da cocaína, bem como de outras drogas, como a maconha. Havia começado a longa carreira da cocaína como uma fora da lei.
Uma vez proibida, o uso da cocaína caiu, embora Markel conte que houve um pequeno aumento durante a proibição.
Até a década de 1970, no entanto, as histórias de criminosos e viciados foram largamente esquecidas. Com o esquecimento, houve uma explosão de uso que superaria à ocorrida um século antes.
Novamente, começou com a elite. “Para ser um usuário de cocaína em 1979, tinha que ser rico, moderno e elegante”, conta Mark Kleiman, professor de política pública. As pessoas não estavam preocupadas com as desvantagens – o que, todos sabemos hoje, foi um grande erro.
A gota d’água para muitos foi a morte de Len Bias em 1986, ex-jogador de basquete, que morreu de ataque cardíaco depois de uma noite de festa e cocaína com amigos.
Os legisladores reagiram com uma ferocidade que atingiu os usuários mais pobres e não brancos. Em 1986 e novamente em 1988, o Congresso americano aprovou leis de condenação obrigatória que levaram a uma explosão na população carcerária dos EUA.
Estudos apontam que, desde esse pico, em meados dos anos 80, o número de usuários de cocaína caiu pela metade. Hoje, o uso de cocaína é dominado por viciados (estima-se, nos EUA, que 50% a 60% de toda a cocaína sejam consumidas por pessoas que foram presas no ano passado).
A cocaína tem sido elogiada e amaldiçoada, não uma só vez, mas em dois ciclos frenéticos, com um século de distância.
E o que é mais incrível: as drogas sempre mostraram seu poder de afetar totalmente a percepção humana. Freud nunca reconheceu o papel da cocaína em seus males físicos, assim como os usuários de drogas sempre procuram desculpas ou benefícios para seus vícios. “É incrível o que as pessoas fazem para negar os perigos das coisas que tendem a gostar”, argumenta Markel. [CNN]
Como a cocaína era usada antes de ser proibida
A droga, vendida livremente, tratava de dor de dente a depressão e contava com entusiastas como Sigmund Freud e o papa Leão 13
Déborah de Paula Souza | 15/03/2012 15h48
Sigmund Freud podia comprar cocaína em qualquer farmácia de Viena. O pai da psicanálise adorava o seu efeito erótico. Numa de suas cartas apaixonadas a Martha Bernays (com quem depois se casou e conviveu por 53 anos), escreveu: "Ai de você, minha princesa, quando eu chegar. Vou beijá-la até você ficar bem corada e alimentá-la até que fique rechonchuda. E se você for bem teimosa, verá quem é mais forte: uma delicada jovem que não quer comer o suficiente ou um grande e selvagem homem que tem cocaína no corpo". Em outras cartas, desculpou-se com a amada pelo ardor das confissões, alegando que a cocaína destravava sua língua.
De acordo com o psicanalista argentino Emilio Rodrigué, autor da biografia Sigmund Freud, o Século da Psicanálise, o médico vienense passou a consumir cocaína a partir dos 28 anos - e fez isso por mais de uma década. Não fosse seu ímpeto em elogiar a substância na fase inicial das pesquisas, teria lugar de honra na psicofarmacologia moderna, já que foi um dos pioneiros a experimentar e fazer registros científicos de psicoativos. No século 19, seu artigo Über Coca (Supercoca) sintetizou o clima de esperança dos cientistas com a nova droga. Freud recomendava o uso como estimulante, para distúrbios digestivos, fraqueza, no tratamento de dependentes de álcool e morfina, contra a asma, como afrodisíaco e, por fim, como anestésico. Seu estudo abriu o caminho para que seu colega Carl Koller entrasse para a história da medicina como o descobridor da anestesia local. Rodrigué diz, brincando, que Freud teria antecipado a Coca-Cola ao escrever um bilhete chamando o médico de "querido amigo Coca Koller".
Os primeiros testes da anestesia local de Koller foram feitos em uma rã - bastaram algumas gotas de colírio à base de cocaína nos olhos do bicho para que fosse operado sem trauma nem dor. O trabalho causou comoção numa convenção de oftalmologia em 1884. Koller levou a fama pela anestesia ocular, mas, no mesmo ano, nos Estados Unidos, o pai da cirurgia moderna, William Stewart Halsted (1852-1922), desenvolveu uma espécie de bloqueador neural. Com injeções de cocaína em alguns nervos, conseguia anestesiar determinada área. Publicou mais de mil casos bem-sucedidos de cirurgias indolores, mas como testava drogas em si mesmo, acabou viciado em cocaína e morfina.
No final do século 19, uma paciente de Freud morreu de overdose e, entre 1885 e 1990, novos relatos clínicos revelaram tudo o que a comunidade científica precisava saber para abandonar de vez o uso da cocaína como medicamento. A reputação de Freud só não foi destruída porque era impossível controlar abusos de pacientes. O "pó mágico" era consumido livremente, fabricado por grandes laboratórios e considerado um remédio de largo espectro - era encontrado até em forma de pastilhas para dor de dentes. Os laboratórios Merck e Parke Davis apresentavam a droga em versões variadas: pó, extratos fluidos, inaladores, sprays e tônicos. Além dos medicamentos, doses generosas de cocaína estavam presentes em cigarros e bebidas, como o Vinho Mariani e a Coca-Cola, que foi lançada em 1886 e só retirou o alcaloide da fórmula em 1903.
Drinque do papa
As propagandas do fim do século 19 pregavam que a cocaína "tornava os homens mais corajosos e enchiam as damas de vivacidade e charme". Para ter uma ideia da popularidade da droga, o papa Leão 13 (1810-1903) estampava o rótulo do Vinho Mariani, um poderoso coquetel à base de cocaína e álcool criado pelo químico francês Angelo Mariani em 1863 -, que se tornou a bebida predileta do Sua Santidade. O médico Howard Markel, autor de Anatomy of Addiction (Anatomia do Vício), afirma que Mariani foi um dos primeiros a fazer fortuna com a cocaína - o "drinque do papa" conquistou rapidamente intelectuais e celebridades. A lista dos admiradores inclui os escritores Julio Verne, Henrik Ibsen, Alexandre Dumas e Arthur Conan Doyle (o criador do detetive Sherlock Holmes, um usuário notório). Thomas Edison e o ex-presidente americano Ulysses S. Grant completam a lista. Antes de morrer de câncer na garganta, em 1885, Grant redigiu suas memórias sob o efeito desse "vinho tônico". E é muito provável que tenha exagerado as façanhas e os efeitos da bebida.
À venda: A cocaína, exposta em anúncios do fim do século 19
A moda da cocaína no século 19 não poderia ter acontecido se o princípio ativo da folha de coca não tivesse sido isolado por Albert Niemann em 1859. Três séculos antes, a planta de coca, in natura, já havia desembarcado na Europa por meio dos navegadores espanhóis. Talvez os deuses americanos, aos quais era consagrada (leia ao lado), tivessem tentado protegê-la do desastre, pois não fez nenhum sucesso entre os europeus. As folhas chegavam murchas e perdiam suas propriedades na longa viagem. Durante 3 séculos, permaneceu intocável, para uso exclusivo da comunidade andina - que a consome até hoje. Qualquer turista em Cuzco e Machu Picchu toma chá de folhas ou chupa balas de coca para driblar os efeitos perversos da altitude.
O primeiro país a proibir a cocaína foram os Estados Unidos, em 1914. No Brasil, a primeira lei que restringiu a droga, junto com o ópio e a morfina, chegou em 1921 - fruto de um acordo internacional firmado em Haia dez anos antes. A maconha foi proibida em 1930 e as primeiras prisões por porte de droga foram registradas em 1933, no Rio de Janeiro. Até então, não havia controle policial e o uso era tolerado em prostíbulos frequentados por "rapazes finos".
Mesmo proibida, a cocaína nunca deixou de ser consumida, claro. Apenas 3 países produzem coca: Peru, Colômbia e Venezuela. O Brasil participa do ciclo criminoso com o refino e a distribuição da droga. Nos anos 1970, novas leis tentaram combater o narcotráfico colombiano, que, sob comando de Pablo Escobar, era responsável por 80% da cocaína distribuída nos EUA. A droga ficava cada vez mais barata e combinou com o espírito competitivo dos negócios da década seguinte. Consumo e tráfico explodiram na década de 1980. "As drogas ilegais representam o terceiro mercado mais lucrativo do mundo. Só perdem para petróleo e armas", diz Ana Cecília Roselli Marques, pesquisadora do Instituto Nacional de Tecnologia e Ciência para Políticas sobre Álcool e Drogas. A proibição da cocaína mostra que os defensores da restrição de drogas que ainda são vendidas legalmente podem ter esperança.
A planta dos deuses
Os deuses devem estar loucos. Eles colocaram a folha de coca na Pacha Mama (a mãe Terra) para que pudesse curar os homens, animá-los para o trabalho e para as grandes travessias de montanhas e desertos. E também para que fizesse uma ponte entre homens e deuses. Essa era a crença das antigas tribos indígenas do Peru. No Império Inca (século 13), só a elite tinha acesso à respeitável planta do poder. Ela era então utilizada em rituais de cura, festas e funerais - existem registros de desenhos da folha em cerâmicas cerimoniais. Os sacerdotes do Sol mastigavam e queimavam folhas de coca em honra às divindades. E elas respondiam com fartas colheitas, saúde e proteção.
A coca é um arbusto que pode atingir até 3 m de altura. Produz um fruto vermelho e flores pequenas, mas é a folha que concentra poderes anestésicos e energéticos, que trazem a sensação de vigor e saciedade. Essas características, descobertas pelos indígenas, fazem parte da cultura peruana. Até hoje os camponeses têm o hábito de mascar folhas ou usá-las em infusões. Com a chegada dos colonizadores no século 16, o vice-rei da Espanha no Peru, Francisco Toledo, proibiu o uso entre os nativos. Voltou atrás ao perceber que trabalhavam muito mais sob o efeito da coca.
Crack, o barato mortal
A pedra de crack, resultado de uma pasta de cocaína em pó misturada com solventes (álcool, benzina ou parafina), surgiu nos bairros pobres de grandes cidades do EUA nos anos 1980, mas tem antecedentes em países andinos, onde anos antes já se fazia o "basuco", que chegou ao Brasil com o nome de paco ou oxi - basta trocar os solventes do crack por ácido sulfúrico ou querosene.
O crack costuma ser fumado - a versão de uso que se popularizou. A droga é barata e "eficiente". Uma pedra custa 5 reais no Brasil. Em 15 segundos uma baforada de crack provoca ondas de prazer e sensação de onipotência dez vezes maiores que a cocaína ao liberar endorfina no cérebro. A ilusão acaba logo e os "noias" ("noia" é o diminutivo da paranoia alucinatória provocada pela droga) fazem qualquer coisa para repeti-la - roubo, prostituição e desagregação familiar são alguns efeitos colaterais. No centro de polêmicas recentes entre a polícia e o sistema de saúde pública, não faltam divergências sobre o modo mais eficaz de combate e tratamento de dependentes. Pesquisa recente realizada pelo Datafolha revelou que 2% dos brasileiros com mais de 16 anos (cerca de 3 milhões de pessoas) dizem já ter experimentado a droga.
http://youtu.be/2D9GB9v28Zc
Documentário - A História das Drogas (History Channel) - 88 min.
Na mídia, a história dos 450 kg de cocaína no helicóptero dos Perrella virou pó
Por Renato Rovai
novembro 27, 2013 01:47
Ontem os portais destacavam com excessivo cuidado que o helicóptero de um deputado havia sido apreendido com 450 kg de cocaína. Depois informaram que o piloto havia viajado sem autorização dos proprietários. E agora, registram que o piloto nega o fato.
Deputado e 450 quilos de cocaína. Será esse um fato tão comum que não merece tanto destaque? Principalmente se vier a se levar em consideração que este deputado é filho de um senador aliadíssimo de um candidato a presidente da República?
Estamos falando dos Perrellas e do presidente do PSDB, Aécio Neves. Aliados políticos históricos.
Mas vamos lá. Vamos imaginar que um dos filhos de Marta Suplicy fosse deputado. E um helicóptero dele fosse apreendido pela PF com 450 quilos de cocaína. Você acha que este fato teria a mesma cobertura discreta e cuidadosa que o dos Perrellas está tendo? Você acha que o Uol daria apenas registros aqui e ali do caso? Ou acha que a casa da atual ministra teria filas de repórteres tentando pular o muro para falar com ela?
Talvez o exemplo não seja o melhor. Tentemos, pois, outro exercício hipotético. Imagine que ao invés do helicóptero do filho de Marta Suplicy fosse o de um irmão do senador carioca Lindbergh. O que você acha que aconteceria? Quantos minutos isso renderia no Jornal Nacional? Quantas páginas do jornal O Globo?
Mas podemos ir ainda mais longe. Imagine que o helicóptero fosse de alguém que tivesse relação com o ex-presidente Lula. Alguém, por exemplo, que tivesse feito churrasco na casa dele uma ou outra vez. O que será que aconteceria com Lula e com o suposto churrasqueiro de Lula?
Como você acha que seria a cobertura dessa história se o avião fosse do Zeca Dirceu, deputado pelo Paraná e filho de José Dirceu? Ou de um filho do vereador Donato, que ontem voltou à Câmara para enfrentar do legislativo a quadrilha do ISS? Ou se fosse da Miruna, filha de José Genoíno?
Não se deve responsabilizar os Perrellas, Aécio ou quem quer que seja sem que seja realizada uma investigação cuidadosa. E não é disso que se trata aqui. Há, porém, indícios, que ensejam uma cobertura bem mais atenta do que a que foi feita até agora pelos principais veículos da mídia tradicional. São 450 quilos de cocaína. Não são meia dúzia de sacolinhas. É coisa de uma quadrilha extremamente profissional. E essa imensa quantidade de droga era transportada num helicóptero de uma família tradicional da política mineira.
A questão é que a cobertura midiática só tem se interessado por aquilo que leve à criminalização do PT. Independente do mérito. O que importa não é mais o crime, mas a legenda do criminoso. E por isso Demóstenes Torres flanava todo pimpão por aí. Fazendo discursos moralistas e ao mesmo tempo armando falcatruas com Cachoeira.
Aliás, você ouviu falar de Cachoeira e Demóstenes por aí? Você viu a indignação da direção do PSDB com a investigação do escândalo do metrô de SP? Pois é. É disso que se trata. Eles sabem que são midiaticamente impunes.
Colômbia: guerrilhas & drogas
As drogas
A Colômbia tornou-se a principal fornecedora da cocaína (um alcalóide derivado das folhas de coca, uma planta denominada Erythroxylon coca) para o mercado norte-americano a partir do final dos anos 70, quando os Estados Unidos retiraram-se do Sudeste Asiático após sua derrota no Vietnã em 1975. Até então os usuários e viciados consumiam - particularmente a heroína -, em sua maior parte, do Triângulo de Ouro (formado pela Birmânia, atual Mianmá, a Tailândia e o Laos), onde os produtores chegaram a contar com a proteção especial de Khun Sa, cognominado o “príncipe da Morte”, chefe de um exército particular, o Mong Tai Army. A heroína vinha também das plantações de papoula da Anatólia turca, do Afeganistão e demais regiões da Asia Menor.
A Colômbia concorre com a Ásia: os traficantes colombianos aceleraram o aumento da produção de cocaína na Colômbia, como no vizinho Peru, para ocupar o espaço aberto pela produção oriental. Calcula-se que o negócio internacional da droga gire hoje ao redor de um trilhão de dólares (8% do comercio global, superior as exportações mundiais de ferro, de aço e de motores de automóveis), cabendo à Colômbia o fornecimento de 80 a 85% da cocaína consumida nos Estados Unidos.
A droga nos Estados Unidos: o uso de drogas na América, por sua vez, resultou de uma mudança de costumes, fazendo com que o mercado consumidor norte-americano se tornasse no maior e mais ávido por drogas no mundo inteiro. Nos anos 20 a grande preocupação das campanhas moralistas era o combate às bebidas alcóolicas, fazendo aprovar a Lei Seca que proibiu o seu consumo em todo o território dos Estados Unidos, até ser revogada em 1933. O Movimento Hippie dos anos 60 - a década do Sex, drugs and rock and roll -, resultante da profunda crise moral e ética provocada pela intervenção norte-americana numa guerra extremamente impopular, fez com que a recorrência à droga fosse entendida por amplos setores da classe média e dos intelectuais - especialmente pelos ideólogos da contra-cultura -, como uma contestação à sociedade em que viviam. Da maconha, um fumo proletário de iniciação, foi um salto para excitantes mais pesados, como a “burguesa” cocaína, e a “aristocrática“ heroína.
A religião química: naquela década tormentosa e desafiadora um catedrático de Harvard, o professor Thimoty Leary, dedicou-se a fazer apologia do uso do LSD (o ácido lisérgico), um poderosíssimo agente alucinógeno, iniciando o “drug cult” entre a elite literária e artística e mesmo empresarial dos Estados Unidos. Thimoty foi um seguidor de Aldous Huxley, um escritor inglês que vivia nos Estados Unidos, que no seu livro “The Doors of Perception”, (As portas da percepção, 1954), relatou suas “viagens” com a mescalina, recomendando as drogas como uma “religião química”, para aqueles “que, por alguma razão, não conseguiam transcender a si mesmos por seus meios ou pela veneração”.
As Leis Anti-droga: a legislação norte-americana de combate as drogas data do início do século 20. A Lei Harrison contra os narcóticos é de 1914. Foi complementada tempos depois pela Lei do controle sobre as drogas narcóticas de 1956, e pela Emenda de controle sobre o abuso de drogas de 1965 ( Drug Abuse Control Amendment). A mais recente delas é a Anti-drug Mesure de 1987, que fixou penas severíssimas mesmo para a maconha. Nada serviram porém a não ser para punir com prisão, com penas cada vez mais elevadas, os envolvidos no tráfico.
As drogas como costume: uma das razões da persistência do seu consumo é que as drogas foram incorporadas à rotina de quase todas as classes sociais. Seus usuários pretextam utilizá-las devido a sociedade norte-americana resultar de um capitalismo ultra-competitivo que a torna cada vez mais atomizada, individualista, egocêntrica e narcisista.
Usam cocaína, especialmente os gerentes e executivos, para se sentirem capazes de superar a letargia e o cansaço, habilitando-os a concorrer, como um estimulante para render o máximo possível. E, é claro, como um imaginário equilíbrio psicológico qualquer, mesmo que isso implique em arriscar-se à dependência, ao vício , à violência e às atitudes anti-sociais. Hábito este que chegou até a plebe norte-americana, o povo slum dos subúrbios das grandes cidades, que encontrou no proletário crack, uma maneira de acompanhar o modismo.
Disto resulta, desta infeliz democratização do consumo de estupefacientes, que as apreensões das remessas de drogas, apesar dos enormes gastos feitos pelos E.U.A - 20 bilhões de dólares entre 1980/90 - terem sido pouco significativas. Calcula o General Accounting Office do Congresso dos E.U.A que, das 780 toneladas métricas da produção mundial de cocaína, somente 230 (ou 29,5%) delas foram capturadas. No caso da heroina o desempenho foi ainda menor: das 300 toneladas métricas produzidas, só 32 delas foram apreendidas.
A caça ao traficante: incapaz de solucionar o problema, a política oficial norte-americana voltou-se para responsabilizar os narcotraficantes e os produtores das drogas. Aos hispânicos, a gente latina em geral, a quem os americanos desprezam. Assim a Colômbia, além de receber um conceito negativo que o governo norte-americano atribui todos os anos aos países que estão envolvidos com drogas, tornou-se o centro da vilania e uma ameaça aos valores universais permanentes.
Os privilégios do narcotráfico: esta pecha lançada sobre a Colômbia, de ser conivente com os criminosos, reforçou-se ainda mais depois que o governo local concedeu - em troca da lei anterior que determinava a extradição dos condenados pelo narcotráfico, os barões da coca, para os Estados Unidos -, que eles cumprissem pena na Colômbia em condições especialíssimas. Pablo Escobar, o mais conhecido dos traficantes, considerado o cápo dos cápos, foi detido num casarão-fortaleza construído somente para ele. Mesmo assim, insatisfeito, ele fugiu da prisão, sendo morto tempos depois numa perseguição policial. Até então ele tinha sido o principal responsável por uma onda de assassinatos visando juízes, promotores e políticos colombianos que combatiam o narcotráfico, fazendo com que o estado fosse abertamente enfrentado por uma avalanche de atentados à bombas e mortes por encomenda.
Publicado em 17 de ago de 2014-Licença padrão do YouTube http://educaterra.terra.com.br/voltaire/atualidade/colombia5.htm http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/drogas_historia_cocaina.htm Criei este vídeo com o Editor de vídeos do YouTube (http://www.youtube.com/editor) http://hypescience.com/a-historia-da-cocaina-de-cura-milagrosa-a-assassina-impiedosa/ http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/como-cocaina-era-usada-antes-ser-proibida-
http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2013/11/27/na-midia-a-historia-dos-450-kg-de-cocaina-no-helicoptero-dos-perrela-virou-po/
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