quinta-feira, 23 de setembro de 2010

COMPLEXIDADE



Complexidade


Complexidade é uma noção utilizada em filosofia, epistemologia (por autores como Anthony Wilden e Edgar Morin), física, biologia (por Henri Atlan), sociologia, informática ou em ciência da informação. A definição varia significativamente segundo a área de conhecimento. Frequentemente é também chamada teoria da complexidade, desafio da complexidade [1] ou pensamento da complexidade [2].

Trata-se de uma visão interdisciplinar acerca dos sistemas complexos adaptativos, do comportamento emergente de muitos sistemas, da complexidade das redes, da teoria do caos, do comportamento dos sistemas distanciados do equilíbrio termodinâmico e das suas faculdades de auto-organização.
Esse movimento científico tem tido uma série de consequências não só tecnológicas mas também filosóficas. O uso do termo complexidade é portanto ainda instável e na literatura de divulgação frequentemente ocorrem usos espúrios, muito distantes do contexto científico, particularmente em abstrações ao conceito (crucial) de não-linearidade.

O termo é também usado por alguns como sinônimo de epistemologia da complexidade, um ramo da filosofia da ciência inaugurado no início dos anos 1970 por Edgar Morin, Isabelle Stengers e Ilya Prigogine .[3]

Existe também uma teoria de complexidade computacional, que é um filão científico mais estável e melhor definido e que evoluiu separadamente daquele referente ao conceito de sistema não linear, mas afinal está sutilmente ligado a este.

 Epistemologia da complexidade

A epistemologia da complexidade é um ramo da epistemologia que estuda os sistemas complexos e fenômenos emergentes associados. Trata-se pois de um termo rico de significados e portanto ambíguo, que vem se afirmando nas últimas décadas sobretudo no que diz respeito à transformação em curso no mundo da pesquisa científica, em razão da crescente tendência a negar os pressupostos de linearidade nos sistemas dinâmicos e a indagar mais profundamente o seu comportamento. [4][5]

Pedro Demo, um dos pensadores brasileiros contemporâneos de maior destaque nessa temática, autor de livros como "Metodologia do conhecimento científico", "Complexidade e Aprendizagem: a dinâmica não linear do conhecimento" e "Introdução à sociologia: complexidade, interdisciplinaridade e desigualdade social" (todos pela editora Atlas), afirma que Edgar Morin é considerado o "fundador da ciência da complexidade" na Europa. De fato, a obra de Morin é a mais extensa e a mais profunda no que se refere à temática da epistemologia da complexidade, especialmente depois de ter concluído a série de seis livros sobre "O Método" (ver bibliografia).

Para Morin, a ciência moderna ou clássica, na busca de sua autonomia em relação ao pensamento religioso da escolástica medieval, acabou por separar-se em vez de apenas distinguir-se da filosofia, do senso comum, das artes e da política. A ciência de base quantitativa se sobrepôs então às diversas formas de conhecimento, inclusive porque favorecia interesses das classes emergentes com as revoluções burguesas.

Os Estados nacionais só puderam ser organizados a partir do conhecimento estatístico, do controle quantitativo da economia, dos territórios e das populações. Toda a industrialização serviu-se fortemente dos aspectos quantificáveis das ciências naturais na geração de tecnologias, a ponto de ter contribuído decisivamente para o surgimento da tecnociência, uma forma de conhecimento científico dirigido por critérios tecnológicos. A extensão dos critérios metodológicos das ciências naturais às ciências sociais levou à formação de um grande paradigma ocidental, que se caracteriza por ser disjuntor-e-redutor, ou seja, por separar (disjuntar) ciência e filosofia (incluindo aqui humanidades, artes e todo o conhecimento não quantificável), e por reduzir (reducionismo) o que é complexo ao que é simples (por exemplo, por meio da busca da menor parte da realidade física, os átomos, e depois as partículas dentro dos átomos).

O pensamento disjuntor-redutor simplifica a realidade e com isso ganha espaço que historicamente pertenceu ao pensamento religioso, dogmático. O pensamento disjuntor-redutor estabelece-se como um grande paradigma, aparentemente confiável. Na realidade, a física subatômica já introduziu incertezas quanto aos limites do reducionismo. A fenomenologia já mostrou as insuficiências e ingenuidades do positivismo, da pretensão de captar-se uma realidade "objetiva" independente do olhar e dos pressupostos do pesquisador. Em meados do século XX as ciências da terra, a ecologia, a cosmologia e outras formas de conhecimento começam a buscar o diálogo pluridisciplinar.

A partir de então, aquela crise que o paradigma disjuntor-redutor havia sofrido com a emergência da física subatômica (teoria da relatividade, princípio de incerteza, etc) e com a emergência da fenomenologia nas primeiras décadas do século XX é reforçada pelos diálogos multi, inter e transdisicplinares. É nesse contexto da história da ciência que emerge o pensamento complexo ou paradigma da complexidade, que visa associar sem fundir, distinguindo sem separar as diversas disciplinas e formas de ciência, assim como as diversas formas de conhecimento e inclusive outras instâncias da realidade, como Estado, Mercado e Sociedade Civil.

O pensamento complexo não se limita ao âmbito acadêmico: 
transborda para os diversos setores das sociedades
E com isso questiona todas as formas de pensamento unilateral, 
dogmático, unilateralmente quantitativo ou instrumental.

A incerteza faz parte do paradigma da complexidade, como uma abertura de horizontes, e não como um princípio que imobiliza o pensamento. Pensar de forma aberta, incerta, criativa, prudente e responsável é um desafio à própria democracia. Daí a noção de democracia cognitiva, que visa estabelecer o diálogo entre as diversas formas de conhecimento. Este é o caminho do pensamento complexo, um caminho que, embora tenha diversos princípios, oriundos da antiguidade, da modernidade e da pós-modernidade, é um caminho que se faz no seu próprio transcurso, no seu próprio fazer e repensar-se continuamente.

O pensamento complexo

A complexidade e suas implicações são as bases do denominado pensamento complexo de Edgar Morin, que vê o mundo como um todo indissociável e propõe uma abordagem multidisciplinar e multirreferenciada para a construção do conhecimento. Contrapõe-se à causalidade linear por abordar os fenômenos como totalidade orgânica.

Segundo Edgar Morin (Introdução ao Pensamento Complexo, 1991:17/19): "À primeira vista, a complexidade (complexus: o que é tecido em conjunto) é um tecido de constituintes heterogêneos inseparavelmente associados: coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Na segunda abordagem, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal. Mas então a complexidade apresenta-se com os traços inquietantes da confusão, do inextricável, da desordem, da ambigüidade, da incerteza...

Daí a necessidade, para o conhecimento, de pôr ordem nos fenômenos ao rejeitar a desordem, de afastar o incerto, isto é, de selecionar os elementos de ordem e de certeza, de retirar a ambigüidade, de clarificar, de distinguir, de hierarquizar... Mas tais operações, necessárias à inteligibilidade, correm o risco de a tornar cega se eliminarem os outros caracteres do complexus; e efetivamente, como o indiquei, elas tornam-nos cegos."

Proposta

A proposta da complexidade é a abordagem transdisciplinar dos fenômenos, e a mudança de paradigma, abandonando o reducionismo que tem pautado a investigação científica em todos os campos, e dando lugar à criatividade e ao caos.


Princípios

Sendo transdisciplinar, não é possível uma definição sucinta 
do termo e suas aplicações. 
Alguns dos conceitos que compõem o tecido da complexidade:
  • auto-organização
  • amplificação por flutuações
  • artificialeza
  • autoconsistência
  • autopoiese: capacidade de um sistema de organizar 
  • de tal forma que o único produto seja ele mesmo.
  • auto-semelhança
  • imprecisão
  • conectividade
  • construtivismo
  • correlação
  • criticabilidade
  • dialógica
  • diversidade
  • emergência
  • fluxo
  • imprevisibilidade
  • inclusão
  • metadimensionalidade
  • onijetividade
  • paradoxo
  • aderência
  • potencialidade
  • retorno
  • ressonância
  • rizomas
  • virtualidade

Temas da complexidade

Auto-organização, fractalidade e emergência
A noção de emergência está ligada à teoria dos sistemas. Um sistema constitui-se de partes interdependentes entre si, que interagem e tranformam-se mutuamente, desse modo o sistema não será definível pela soma de suas partes, mas por uma propriedade que emerge deste seu funcionamento. O estudo em separado de cada parte do sistema não levará ao entendimento do todo, esta lógica se contrapõe ao método cartesiano analítico que postulava justamente ao contrário.
Nesta perspectiva o todo é mais do que a soma das partes. Da organização de um sistema nascem padrões emergentes que podem retroagir sobre as partes. Por outro lado o todo é também menos que a soma das partes uma vez que tais propriedades emergentes possam também inibir determinadas qualidades das partes.
[Mudança, evolução e realimentação
Um sistema realimentado é necessariamente um sistema dinâmico, já que deve haver uma causalidade implícita. Em um ciclo de retroação uma saída é capaz de alterar a entrada que a gerou, e, consequentemente, a si própria. Se o sistema fosse instantâneo, essa alteração implicaria uma desigualdade. Portanto em uma malha de realimentação deve haver um certo retardo na resposta dinâmica. Esse retardo ocorre devido a uma tendência do sistema de manter o estado atual mesmo com variações bruscas na entrada. Isto é, ele deve possuir uma tendência de resistência a mudanças. O que, por sua vez, significa que deve haver uma memória intrínseca a um sistema que pode sofrer realimentação
Campo, cultura, ecologia e ambiente
Caos, desordem e incerteza
Os trabalhos de divulgação de Ilya Prigogine talvez sejam as melhores fontes para entender rigorosamente o papel do caos e sua relação com a incerteza. As teorias do caos, popularizadas pelo "efeito borboleta", (a qual a alusão em que o bater de asas de uma borboleta no pacífico poder causar um tufão em outro lugar distante do planeta é apenas uma alegoria estilística para a interpretação real do fenômeno), estão relacionadas à não-lineariedade e à sensibilidade às condições iniciais.

Assim, relações deterministas, às vezes muito simples, podem gerar, após muitas interações, divergências de trajetórias significativas partindo de condições iniciais muito próximas. Daí se afirmar que há um comportamento caótico, já que não há padrão para determinar no longo prazo (ou após muitas interações) qual o comportamento da trajetória a partir de condições iniciais aproximadas, ainda que para, por exemplo, 40 casas decimais! Porém, surpreendentemente, se do ponto de vista individual há o caos, muitas vezes há um padrão estatístico com relação à distribuição de probabilidade das trajetórias, o que permite alguma inteligibilidade e tratamento científico do caos.
Ampliação da consciência e relação corpo-mente
Desconstrução, novas organizações, criatividade e pedagogias críticas
Paraconsistência e lógicas não-convencionais
Transdisciplinaridade, meta-sistemas e pensamento complexo
Virtualidade, novas tecnologias
 Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Primavera - Vivaldi ( As quatro estações )


FELIZ PRIMAVERA !!!

Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

CONCEITO DE CONSCIÊNCIA

Sobre o conceito de Consciência em Filosofia da Mente


Andréa Vermont S. R. da Cunha (Doutoranda –Instituto Packter)
Mariluze Ferreira de Andrade e Silva (Orientadora)

RESUMO: Dentre as discussões abordadas na Filosofia da Mente contemporânea, nota-se, nas últimas décadas, um interesse crescente pelo debates concernentes à noção de . Discute-se, sobretudo, com o avanço dos programas de pesquisa advindos da Neurociência e da Inteligência Artificial, a possibilidade de inserção dos estudos sobre a mente consciente no campo do saber científico. No entanto, as teorias que habitam a área da Filosofia da Mente parecem estar longe de chegar a um consenso quanto ao tema em questão.

Afinal de contas, até que ponto poderia fornecer uma explicação científica para o domínio consciente dos estados mentais?Em termos mais precisos, estaríamos confinados a conceber a como uma propriedade irredutivelmente subjetiva, não-analisável, indecomponível (não relacional), que faz com que os estados de sejam, de maneira privilegiada, acessíveis apenas para o próprio sujeito, do ponto de vista da primeira pessoa? Ou estaríamos diante de um fenômeno que pode ser objetivado, passível de receber uma definição e uma explicação causal, necessariamente formulada na terceira pessoa?

1 Trabalho apresentado como parte da pesquisa do Doutorado em Filosofia da Mente, pelo             Instituto Parkter – Porto Alegre-R.S

INTRODUÇÃO

O conceito de consciente que usamos hoje nasceu com o "pai" da , o austríaco Sigmund Freud. Sendo que em sua primeira descrição apresentou o nosso aparelho psíquico em três instâncias (níveis): o inconsciente, o subconsciente e o consciente.
    O consciente é a parte do nosso aparelho psíquico que tem a noção da realidade do nosso meio ambiente imediato. É a zona responsável pelo contato com o mundo exterior.
Ao consciente corresponde a zona da razão conhecida através da introspecção (descrição das próprias experiências ou padrões de comportamento).

    No passado, acreditava-se que, em alguma parte do corpo, havia uma substância responsável pela formação da . Essa idéia "queimava os neurônios" dos pensadores gregos da antiguidade, os quais achavam que a mente e a tinham assento nos pulmões, sendo o ar o elemento responsável pela sua produção.

    Mesmo quando os conceitos se modificaram em meados do sexto século A.C., e o cérebro passou a ser reconhecido como o centro das atividades mentais, ainda assim persistiu a idéia da existência de uma substância determinante dessas atividades, a responsabilidade tendo sido transferida para o líquido céfalo-raquiano.

    Aliada a essa concepção, surgiu outra indagação: Existe um "centro cerebral da "?
    No século XVII, por assim pensar ou talvez por receio das poderosas pressões teológicas da época, René Descartes enunciou estar à mente assentada na glândula pineal e que, através dela, a "alma" (uma espécie de etéreo consciente superior, mais tarde representada, metaforicamente, por um homúnculo – símbolo herdado dos teó medievais), se comunicava com o soma. Assim, "alma" e mente (e, por inferência, a ) se dissociavam do cérebro e do corpo. Estava criado o dualismo. Três séculos depois, Daniel Dennett, em seu livro "Consciousness Explained", ao se referir à teoria de Descartes como sendo "O Teatro Cartesiano", contestaria, com veemência, a sua validade.

    Mas as tentativas para "localizar" a prosseguiram: Ao constatar que pacientes com a síndrome do "split-brain" (cada um dos hemisférios cerebrais funciona separadamente), ainda assim se identificavam como uma única pessoa, Derek Parfit concluiu que isto só poderia ser explicado pela existência de uma "região executiva da ", para onde convergiriam todas as informações geradas no cérebro. Recentemente, Joseph Bogen situou o mecanismo de formação da (não ela em si) no núcleo intralaminar do tálamo. Conquanto tais estudos sejam relevantes, tudo indica que a não está circunscrita a essa ou aquela área, mas se espalha, difusamente, pelo cérebro, em consonância com uma de suas principais características: ser, simultaneamente, uni temporal e múltiplo espacial.

Teorias da

     Poderíamos neste momento de nossa pesquisa e na intenção de criar um vasto liame conceitual, discorrer a respeito de uma série de postulados á respeito de “Teorias” que dizem respeito à em sua formação, conteúdo e outras abordagens.

     Mais nos ateremos em apenas dois postulados que tenham mais consonância com a pesquisa em Filosofia da Mente e com o módulo de estudo em questão. A razão desta teorização através de mais autores intenta enriquecer a discussão sobre a , para posteriormente estarmos seguramente fundamentados para discussão sobre primária e elaborada e suas implicações.
    Discutiremos então a Teoria Subjetivista de e a Teoria Reducionista de , o que em muito enriquecerá nossa pesquisa.

    Temos uma teoria subjetivista da , defendida por , que se apóia na idéia de que os nossos estados de (experiências sensoriais, pensamentos, etc.) são estados intrinsecamente subjetivos e, portanto, quanto a esse aspecto, irredutíveis a qualquer definição e explicação de caráter científico, cuja formulação estaria ancorada no ponto de vista da terceira pessoa. Presume-se, na abordagem proposta por Searle, que os referidos estados de – enquanto estados irredutivelmente subjetivos – somente possam ser revelados para o próprio sujeito, do ponto de vista da primeira pessoa.

    Outra teoria que consideraremos é a de Daniel Dennett, que apoiado em programas de pesquisa em Neurociência e em Inteligência Artificial, irá adotar uma teoria reducionista da , que busca, do ponto de vista da terceira pessoa, analisar a estrutura da mente consciente em termos funcionais, ou seja, tal teoria caracteriza-se pelas tentativas de definir e explicar os estados e processos mentais conscientes em termos de uma atividade funcional específica (não necessariamente exercida pelo cérebro enquanto um órgão biológico), que envolva, por exemplo, a capacidade de um sistema de receber estímulos ambientais, processar um conjunto de informações e exercer uma resposta comportamental para qual seja requerida algum nível de inteligência. Para Dennett, nosso cérebro pode ser comparado a uma espécie de computador e a – enquanto uma propriedade funcional – a certo tipo de software, uma “máquina virtual” em nosso cérebro. Enquanto Dennett empenha-se em mostrar que a é um fenômeno de terceira pessoa e, por isso mesmo, passível de ser analisado cientificamente, Searle chamaria nossa atenção para a irredutibilidade do “caráter subjetivo” intrínseco à experiência consciente, acessível apenas do ponto de vista da primeira pessoa. Tal “caráter subjetivo” (denominado de qualia – termo em latim para designar as qualidades fenomenológicas de nossa experiência consciente, tais como, perceber o vermelho, sentir o sabor do amargo, ouvir um ruído barulhento, etc.) torna-se, para Searle, o aspecto essencial de nossos estados de .

     Searle acusa Daniel Dennett de negar, em sua teoria funcionalista da , a existência de fenômenos como os qualia, isto é, de negar a existência de experiências subjetivas, fenômenos de primeira pessoa, e assim por diante. Searle é categórico em afirmar que: “O problema da , tanto na filosofia quanto nas ciências naturais, consiste em explicar tais sentimentos subjetivos” (p. 118). Mas, como superar o desafio de explicar tais “sentimentos subjetivos”? Conceber propriedades subjetivas em termos de “propriedades intrínsecas” significa concebê-las em termos de propriedades não-relacionais, o que pode sugerir, em princípio, a idéia um tanto quanto inadequada em ciência de que uma coisa possa ser explicada em seus próprios termos (ou em si mesma).

     Para pensar a , Dennett parte de uma ontologia extrinsecalista ou funcional, apoiando-se na tese de que não há algo como “propriedades intrínsecas”.

     A concepção de Dennett pressupõe a idéia de que as propriedades de uma coisa são “propriedades extrínsecas” (analisáveis, decomponíveis, relacionais, etc.). Em uma teoria extrinsecalista, a propriedade de uma coisa não é aquilo que está intrinsecamente presente na coisa, enquanto uma “essência real”, mas sim, aquilo que possibilita a descrição (identificação, classificação, quantificação, etc.) da coisa. Dennett propõe, em sua teoria funcionalista da , que a propriedade de “ser consciente” possa ser pensada como uma propriedade extrínseca (ou funcional), passível de definição e explicação causal, possibilitando, então, que determinados estados e processos exercidos pelo cérebro (ou mesmo por algum outro sistema capaz de exercer tais processos) sejam identificados, classificados, enfim, descritos objetivamente enquanto estados e processos mentais conscientes. O desafio ao qual Searle se refere – de explicar tais sentimentos subjetivos intrínsecos à experiência consciente – somente seria um desafio legítimo para Dennett, caso esse último traísse a sua ontologia funcionalista, abrindo uma exceção para a mente consciente, concebendo-a em termos de propriedades intrínsecas. Conforme o próprio Dennett faz questão de ressaltar: “Postular qualidades internas especiais que são não apenas privadas e intrinsecamente valiosas, mas também que não podem ser confirmadas nem investigadas é apenas obscurantismo” (p. 126).

      Se Searle atém-se às qualidades subjetivas da experiência consciente em função das “evidências” intuitivas da primeira pessoa, Dennett nega tais qualidades para não auto-contradizer a sua própria ontologia extrinsecalista. Além disso, Searle supõe que o acesso privilegiado do sujeito aos seus próprios estados de (experiências sensoriais, pensamentos, etc.) comportaria certa infalibilidade, isto é, do ponto de vista da primeira pessoa, o autor presume que o sujeito jamais poderia estar errado quanto ao estado de em que se encontra naquele momento, pois, de acordo com a abordagem em questão, no que se refere à , a aparência é a realidade. Ao confrontar, no ponto de vista da primeira pessoa, a aparência com a realidade, Searle exclui a possibilidade do erro, justamente aquilo que, em princípio, parece ser condição para a corrigibilidade de qualquer ponto de vista, algo imprescindível para a possibilidade de refutação de qualquer teoria, para a formulação de novas hipóteses ou conjecturas teóricas.

      Ao contrário de Searle, Dennett coloca em questão a existência dos qualia, ao afirmar que: “… aparentemente, para nós, os qualia existem. Mas isto é um julgamento errôneo que fazemos sobre o que, de fato, acontece” (p. 119). Colocando em questão o que para Searle é uma “evidência”, Dennett restabelece quanto ao que nos é revelado do ponto de vista da primeira pessoa, a distinção entre aparência e realidade. Não poder fazer tal distinção significa “não poder errar”, não poder estar errado é algo que tornaria a própria evolução da vida e da inteligência impossíveis, pois, sem feed-back negativo a vida seria impossível, já que essa evolui em sistemas abertos; e sem ensaio-e-erro-e-novo-ensaio… a inteligência também seria impossível, já que essa evolui em sistemas capazes de aprender com a experiência.

     Portanto, se os motivos de Searle para defender uma “ontologia subjetiva” da justificam-se, em princípio, na peculiaridade das qualidades subjetivas intrínsecas à experiência consciente e na “evidência intuitiva” através da qual tais qualidades subjetivas nos são reveladas, os motivos de Dennett para questionar tal subjetivismo encontram justificativa em sua ontologia extrinsicalista e na legitimidade da distinção entre aparência e realidade para aquilo que nos é revelado do ponto de vista da primeira pessoa.

Primária e elaborada

       Podemos distinguir dois tipos de nos animais, segundo Edelman, a mais simples delas é a primária, apoiada, anatomicamente, nos sistemas córtico-talâmico e límbico (com o auxílio de núcleos do tronco cerebral). O primeiro organiza a informação enquanto o segundo atribui valores.
       primária é um estado de ou entendimento dos acontecimentos, que considera apenas um ‘estar ciente’ em relação ao Mundo presente, não estando ligada a nenhum sentido de passado ou futuro.

     A primária está embasada em um pequeno intervalo de memória, determinado no tempo presente, sendo que nela não encontraremos uma noção explícita ou conceito de um EU pessoal e nem lhe sendo rogada a capacidade de modular um objeto no passado ou futuro, ou como parte de uma cena. Na elaborada estou apenas ‘ciente’, mas não contextualizado; como numa fotografia eu capto única e tão somente o agora. Isto não significa que um animal com primária não desenvolva memória de longo prazo ou aja segundo ela, significa apenas que, em regra geral, ele não tem desta memória ou lança mão dela para planejar ou agir no futuro.
    Nesta primeira forma de , o animal constrói categorias conceituais de suas percepções (cheiros, imagens, emoções, etc.).

    Há fortes indícios de que a maioria dos mamíferos e aves possui este tipo de , que deve ter surgido há cerca de 300 milhões de anos. Sugere-se ainda que animais de sangue frio tivessem dificuldades para desenvolvê-la, por não possuírem um aparato bioquímico estável capaz de sustentá-la. Uma hipótese de trabalho, ainda não comprovada empiricamente, é que animais, para os quais olharem nos olhos de outros tem algum significado, possuiriam esta capacidade.

    O outro tipo de , evolutivamente mais recente, é a elaborada que evoluiu apartir da anterior e se diferencia dela por permitir uma percepção de continuidade no tempo: eu sou o mesmo que fui no passado e serei no futuro. A do indivíduo reconhece seus próprios atos/e ou afetos, tendo lucidez de estar consciente (consciente da ). Nesta forma de , há uma memória simbólica, um gigantesco avanço no processamento de informações pelo cérebro. É um saber não inferencial ou apriorístico dos acontecimentos, sendo inserido dentro de um contexto, não apenas como uma fotografia, mas com ligações e inferências temporais, espaciais e fenomenológicas. O indivíduo consciente torna-se também capaz de introspecção – a possibilidade de refletir sobre si mesmo. Este progresso é possibilitado pela emergência de duas novas estruturas cerebrais, as áreas de Brocca, que evoluiu do córtex motor, e Wernicke, que evoluiu do córtex auditivo. Nos seres humanos, elas respondem respectivamente pela produção da fala e pelo entendimento da linguagem.

    A elaborada seria então aquela que envolve o reconhecimento por um sujeito pensante, dos seus próprios atos ou afetos, um modelo do que é pessoal, do passado e do futuro, tal como presente. Exibe uma forma direta de estar ciente. É aquilo que como seres humanos possuímos para além da primária.

    Para que esta forma de seja própria apenas dos seres humanos, ela deveria ter evoluído muito rapidamente, em algumas centenas de milhares de anos, o que não seria muito provável. Porém, ainda que nenhum dos grandes macacos tenha a linguagem ou mesmo as áreas de Brocca e Wernicke desenvolvidas como o Homo sapiens, a comunicação por meio dos gestos, comum nos grandes primatas, é uma precursora da linguagem oral e parece ter surgido há bem mais tempo, entre 25 a 30 milhões de anos atrás. Também sabem que, se os olhos de outro animal estão voltados para uma direção, é para lá que está dirigida sua atenção. Esta capacidade de perceber que há outra mente por trás de outros olhos chama-se “teoria da mente” e é considerado um atributo da elaborada. Nos seres humanos, uma anormalidade no desenvolvimento das partes do cérebro responsáveis por esta habilidade leva ao autismo, uma patologia do desenvolvimento infantil com graves déficits no relacionamento social.

Primária e elaborada: Implicações práticas

        Quaisquer que tenham sido as pressões ou razões para o desenvolvimento da entre os seres vivos, estas mesmas pressões favoreceriam o desenvolvimento de diversos avanços como a cultura e a capacidade de simbolizar e exteriorizar percepções. A entrada no mundo simbólico só foi possível com o advento da linguagem nos seres humanos, segundo a , e Edelman, por sua vez, vai relacionar o advento da fala e da linguagem com o surgimento da elaborada e do "eu". De acordo com Edelman (1998), a capacidade de atribuir significados às coisas já está presente antes da epigênese da fala, isto é, antes do aparecimento da linguagem. Isto implica que o significado é anterior ao significante. Portanto, assim como o "bootstrapping perceptivo" (conexão entre as imagens percebidas pelos sentidos e a memória categoria-valor) estaria na origem da primária, o "bootstrapping semântico" (epigênese da fala e advento da linguagem) estaria na origem da elaborada.

      Também a Cultura pode ser considerada uma aquisição herdada do processo evolutivo da , sendo a cultura um método de aprender pelo aprendizado dos outros sem pagar o preço que eles pagaram para tal. Um exemplo eloqüente é o de um de grupo de elefantes africanos que, inocentes, se deixaram abater após terem destruído algumas plantações. Depois de assistirem à matança, animais que nunca tinham sido agredidos ou alvejados por armas de fogo passaram a temer os seres humanos, o que não é cultura, mas aprendizado. Quando os filhotes deste bando, muito depois da caça ter sido banida da região, continuaram a temer os humanos, repetindo o comportamento aprendido dos mais velhos, temos, então, uma forma de proto-cultura. (Wright, 2000, pp.282-97). No entanto, a cultura dos animais não produz mitos, lendas ou obras de arte como nos humanos, mas sabe criar hábitos alimentares, regras sociais e criações tecnológicas.

      Outra consideração que podemos refletir a respeito do impacto da Teoria de Edelman sobre elaborada e primária na prática é que, não somos os mesmos sempre, estamos em constante modificação através de processos de conexões neuronais, muitas vezes provocados pelas necessidades de resposta de adaptação ao meio externo, e também por movimentos subjetivos: lembranças, crenças, sentimentos, aprendizagens, etc.

      A partir desta Teoria poderíamos postular algumas reflexões: Somos os mesmos indefinidamente? Como podemos nos posicionar em nossas relações, considerando a inconstância ou da fluidez da , da plasticidade dos organismos, considerando a plasticidade do outro, assim como a de nosso próprio ser? Por outro lado, constatando a existência desta constante dialética Heraclitiana podemos afirmar que sempre fomos e sempre seremos de determinada maneira? Podemos acreditar na capacidade de mudança semântica e simbólica em nossa forma de percepcionar nosso próprio mundo?

Concluímos esta pesquisa com a certeza de que apenas começamos a descortinar o universo da e que à medida que evoluirmos nossos estudos poderemos inclusive inferir, dentre outras coisas, a respeito dos nossos processos existenciais, epistemológicos e outros, questionando até que ponto são dirigidos e influenciados ou não pela .
 Fonte: 
CONSCIENCIA.ORG
Sobre o conceito de em Filosofia da Mente  1
On the concept of conscience in Philosophy of Mind
Andréa Vermont S. R. da Cunha (Doutoranda –Instituto Packter)
Mariluze Ferreira de Andrade e Silva (Orientadora)
Sejam felizes todos os seres. 
Vivam em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres.

JA ,JA, JA - JORGE ANTUNES JÁ !



Jorge Antunes rumo ao Senado

O pioneiro da música eletrônica fala sobre seu projeto político-cultural e suas preocupações musicais atuais. 

Por Clóvis Marques

Jorge Antunes

Jorge Antunes é quase uma lenda viva da música brasileira culta. Aos 68 anos, o pioneiro da música eletrônica e incansável militante das causas sociais candidata-se ao Senado pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), apresentando entre outras propostas as de extinção do próprio Senado, para o estabelecimento do unicameralismo no país, debate sobre a obrigatoriedade do voto e uma série de ações de democratização da cultura e irradiação da experiência musical.
Nascido em 1942 em ambiente operário, no bairro carioca de Santo Cristo, formado em violino com Carlos de Almeida na UFRJ, aluno de Henrique Morelenbaum, Eleazar de Carvalho, José Siqueira e César Guerra-Peixe, já em 1961 Antunes começou a se interessar pela música eletrônica, compondo no ano seguinte a primeira obra exclusivamente com sons eletrônicos criada no Brasil, sua Valsa sideral. Pesquisador de correspondências entre a audição e os outros sentidos, doutor em música e professor titular da Universidade de Brasília, participante de movimentos de vanguarda, ele conviveu e trabalhou nas Américas e na Europa com sumidades como Alberto Ginastera, Luis de Pablo, Umberto Eco, Pierre Schaeffer, Iannis Xenakis.
Com vasta circulação pessoal e de sua obra em países europeus, Antunes tem entre suas criações mais famosas – muitas vezes associadas à ação política – a Sinfonia das diretas e um polêmico Hino Nacional Alternativo nos anos 80, a Cantata dos Dez Povos e a Sinfonia em cinco movimentos, no quinto centenário do Brasil, e a ópera Olga, sobre Olga Benario, estreada no Teatro Municipal de São Paulo em 2006. Membro da Academia Brasileira de Música, Chevalier des Arts et des Lettres pelo Ministério da Cultura da França, com a biografia Jorge Antunes, uma trajetória de arte e política publicada em 2003 por Gerson Valle (Editora Sistrum), Antunes é o contrário de uma glória acomodada, com sua cabeça saudavelmente inconformista e seu talento para mostrar os reis nus, e fala aqui a Opinião e Notícia sobre seu projeto político-cultural e sua preocupações musicais atuais.

Que pensar da relação dos públicos brasileiros com a música dita “de concerto”?
Jorge Antunes: Os públicos brasileiros são os pobres cidadãos brasileiros que, em sua esmagadora maioria, não têm acesso à educação de qualidade. Aos eternos donos do poder, ao empresariado, aos concessionários de emissoras de rádio e TV, aos banqueiros, que querem consumidores de supérfluos e de indústria cultural descartável e efêmera, não interessa termos um povo com acesso à educação de qualidade. Para essas classes, que gostaríamos de derrubar, é perigoso termos um povo que saiba ler, que saiba interpretar um texto e que tenha boa educação artístico-cultural. Quando Lula afirma que tirou milhões de brasileiros da linha da pobreza, seria necessário denunciar que simplesmente foram criados milhões de novos consumidores de supérfluos e de produtos culturais podres e empobrecedores do intelecto. Isso não teria acontecido se, junto com a “bolsa-família”, tivesse sido oferecida também educação de qualidade. Quando o povo tem acesso à música dita “de concerto”, a fruição artística corre solta, maravilhosa: o povo gosta. Mas ninguém pode gostar de uma coisa que não conhece.

Possível definir hoje sua própria busca musical?
J. A.: Uso como lema uma frase maravilhosa que Mário de Andrade escreveu no prefácio de seu livro Losango cáqui: “Levo a vida a procurar. Tomara eu nunca ache, pois seria a morte em vida.”
Há alguns anos descobri que o pensamento ecológico podia e devia, pelo bem da comunicação, ser aplicado à música. Passei então a fazer uso da série harmônica como material e como motivação. A série harmônica é fenômeno natural que liga cultura com natureza. Hoje, além dessa postura, busco os grandes achados do passado que se encontram escondidos, porque creio que a nova vanguarda pode ser construída com esse tesouro guardado em baú. Os arrojos revolucionários de Carlo Gesualdo, por exemplo, me despertam muito interesse no momento. Acho que vivemos uma fase de pré-Renascimento. Portanto, devemos nos espelhar na primeira metade do século XVI.
Outra faceta de minha busca atual é a aproximação e a aliança entre o saber da academia e o saber popular. Esses dois extremos discriminados podem ser aliados políticos e estéticos: a erudição e o folclore.

E sua proposta de ação política no Senado: como resumi-la?
J. A.: Minha principal proposta é a criação de um Sistema Nacional de Orquestras Juvenis, nos moldes da Venezuela. Só com novas gerações bem formadas é que poderemos contar com a construção de uma nova sociedade mais justa, solidária e fraterna. Tal como na Venezuela, o Sistema Nacional de Orquestras seria ampliado ao Sistema Prisional, para humanizar e profissionalizar futuros ex-detentos. Mas sou um defensor do Congresso Unicameral. A mudança radical na estrutura do Estado, entretanto e evidentemente, só poderá acontecer com uma nova Assembleia Constituinte. Lutarei, eleito ou não, para que isso aconteça dentro de uma década.

Por que o unicameralismo no Brasil?
J. A.: Poucos sabem que a palavra “senado” tem o mesmo radical das palavras: “senil”, “senilidade” e “sênior”. O Senado, no Brasil, nunca foi e nunca será semelhante ao Senado romano: um conselho de anciões, sábios, experientes, honestos. Ao contrário, foi, é e sempre será uma espécie de valhacouto de oligarcas, canalhas, carreiristas e oportunistas onde uma minoria massacrada tem assento. Estou tentando integrar essa minoria para, lá dentro, cuidar da implosão daquela Casa. O sistema bicameral foi inventado antes da criação de partidos políticos. A função revisora do Senado só serve para atravancar o avanço, o progresso e a vontade popular. Por outro lado, por pretender representar a Federação, a quantidade de representantes por estado é estarrecedora: o minúsculo Sergipe e a minúscula Alagoas têm, cada um, três senadores; Rio de Janeiro e São Paulo também têm três senadores cada.

Como concretizar suas propostas de formação dos corpos estáveis do Teatro Nacional de Brasília, aumento do efetivo da orquestra e criação de um coro lírico e de um corpo de baile?
J. A.: Meu partido, o PSOL, luta contra o capitalismo e contra o neoliberalismo. Foi a implantação da política neoliberal no Brasil que tratou de, cada vez mais, precarizar e tentar acabar com os quadros de servidores públicos. É preciso promover concursos públicos para criar ou completar os corpos estáveis dos teatros ligados ao poder público. Para tanto temos que lutar por mais verbas para a cultura e, óbvio, para a educação.



Que diria da atual situação do teatro e de sua orquestra?
J. A.: A queda do pianista norte-americano que regia a orquestra, genro da deputada corrupta cassada, acendeu uma luz de esperança na comunidade cultural do DF. A atual situação, portanto, é de compasso de espera. Só a partir de 1º de janeiro de 2011, quando assumir o novo governo, é que poderemos ver definido o rumo que será tomado.

Que pensa da maneira como está sendo encaminhada a retomada das práticas musicais no ensino básico no Brasil?
J. A.: O ensino da música e a nova implantação da educação musical nas escolas são acontecimentos que nos levam à preocupação, à expectativa e à luta. Inocentes úteis da música popular, que têm suas carreiras dependentes das multinacionais do disco, estão animadinhos, liderando ações, passando a frente das lideranças da música erudita e da música não comercial. Tribunos desavisados, tais como o correligionário Chico de Alencar, têm aberto espaço às intentonas de artistas populares que querem tomar as rédeas da educação musical nas escolas. Assim, corremos o risco de ver implantada na escola aquela mesma deseducação implantada pelos meios de comunicação de massa. A carência de número suficiente de professores com formação específica na área agrava o problema. Os músicos eruditos precisam ficar atentos a esse perigo e pressionar seus órgãos representativos e suas organizações para enfrentarmos o problema.

Como levar também prática musical, como propõe em sua plataforma, ao ensino médio?
J. A.: Alguns colegas começaram a festejar e alardear a “volta do ensino musical nas escolas”. Não é possível haver volta de algo que nunca veio ou existiu. Nunca houve bom ensino musical ou boa educação musical nas escolas. Tomara agora possa haver. No tempo de Villa-Lobos – é preciso não esquecer –, o que houve foi a prática exacerbada do civismo, por meio da música. As classes de canto orfeônico só serviam para encher o saco da estudantada, e para farra e chacota. Raros colégios conseguiam criar bons orfeões e boas bandas de música.
Na escola é preciso que seja oferecido um panorama vasto e completo da música, sua história, suas linguagens, seus gêneros, suas vertentes, seus estilos, para que o jovem tenha condição de, se quiser, escolher suas preferências. Nem todos serão músicos profissionais. Mas passaremos a ter profissionais mais sensíveis e mais humanos na medicina, na advocacia, no serviço público, no transporte, no magistério etc.

Dê alguns exemplos do que poderá fazer no Senado pela democratização da cultura.
J. A.: Muitos pensam que democratizar a cultura é simplesmente facilitar o acesso do público aos espetáculos. Nada disso. É preciso acabar com esta dicotomia: de um lado os artistas iluminados, do outro lado o público consumidor.
Existem pedreiros que pintam belos quadros nos domingos, obras de arte que ninguém conhece. Existem joalheiros e padeiros que escrevem belos poemas, e que ninguém conhece. É preciso criar mecanismos e leis que permitam a descoberta de novos talentos e de velhos encobertos talentos.
É preciso aumentar a percentagem destinada à cultura no orçamento geral da União. Um mínimo de 4% tem que ser a meta. É inadmissível não termos bibliotecas em todos os municípios brasileiros. Chega a ser indecente e vergonhosa a falta de teatros, cinemas, bibliotecas e centros culturais.

Mecanismos de apoio aos agrupamentos e conjuntos musicais precisam ser criados e implementados. O Sistema Nacional de Orquestra Juvenis é um desses mecanismos. Os bancos estatais têm que criar microcréditos para artistas comprarem boas ferramentas de trabalho: instrumentos musicais, computadores, programas de edição, tintas, enciclopédias, locação de estúdios e ateliers, equipamentos etc.
As orquestras devem ser protegidas com uma legislação específica, com verbas do orçamento da União, mas com um vínculo a percentagem mínima de divulgação da música brasileira. Assim, poderemos contar com encomendas permanentes aos compositores e com a prática sistemática do trabalho com compositores-residentes. A mesma política deve ser aplicada às outras áreas artísticas e culturais. Leis devem ser criadas para que grandes edificações e grandes empreendimentos imobiliários sejam obrigados a encomendar esculturas, murais ou mosaicos aos artistas plásticos. Nova legislação deve ser criada para aumentar o mercado de trabalho dos profissionais do circo, da literatura, dos grupos de arte popular e folclórica, do cinema etc.

 Fonte:
http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/jorge-antunes-rumo-ao-senado/2/
Sejam felizes todos os seres. 
Vivam em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O SONHO DA ÁRVORE



CONHECER PARA RESPEITAR
Programa para Televisão
" UM MINUTO COM A ÀRVORE_AMIGA"

Paralelamente à atividade de campo, enquanto se trabalha na implantação da “Sementeira - Piloto”, berçário das primeiras sementes, um programa de conscientização estará também abrindo sulcos nos corações Nordestinos , criando em cada cidadão  a responsabilidade de proteger o seu espaço, conquistando sua cumplicidade para a verdadeira defesa de melhor qualidade de vida.

            Usando-se apenas um programa de televisão, com duração de um único minuto, no horário nobre, diariamente, vai estimular toda a família a repensar  sua posição no mundo, despertar a força individual e coletiva, direcionando delicadamente às necessidades primordiais da comunidade.


            Conquistar a simpatia da criança dos centros urbanos, levando aos lares uma mensagem sutil, bela e curiosa é o interesse do personagem porta-voz-da-natureza, a “Árvore - Amiga”.

            É muito simples: 

 Na estrutura oca de uma grande árvore feita de papel maché, bem colorida, entra a contadora de histórias, movendo os braços que estão  dentro dos galhos, com gestos leves, de acordo com o recado sempre alegre e interessante

Convém que o programa seja apresentado antes dos grandes jornais noturnos, quando a família geralmente se reúne para o jantar e pode discutir a mensagem do dia e até participar dando sugestões.

“O minuto com a árvore Amiga” pretende ser alegre e instrutivo, mostrando curiosidades relativas às sementes, plantas, frutos e tudo que se relacionar com a Natureza; dicas ,cuidados elementares com as plantas da comunidade e principalmente, pretende alertar para o valor do respeito a todo ser vivo que está precisando de carinho e atenção.

Diariamente  “Árvore Amiga” fala de seus sonhos,segredos , como se ela fosse de fato um ser que sabe e vê tudo o que ocorre a sua volta. Em tom de brincadeira e levantará questões a respeito do mundo vegetal, desenvolvendo nos telespectadores infanto-juvenis , nos adultos, um grande respeito e até mesmo um grande amor por tudo que está a seu redor e faz parte do Meio Ambiente.

  Um programa delicado e instrutivo, alegre e questionador como deveria ser toda a programação dirigida à infância e à juventude.        




Anexo do Projeto SEMENTEIRA




UM MINUTO COM  "A  ÁRVORE-AMIGA"
               (PROGRAMA PARA TELEVISÃO)
 Anexo do Projeto Sementeira - 1992
AdeT.Teis 

CENÁRIO   
             Na estrutura oca  de uma árvore bem colorida, feita de papel marché  entra a contadora de histórias,movendo os braços,que estão dentro dos galhos. E com gestos leves dá o recado do dia.

ESBOÇO DOS PRIMEIROS 30 MINUTOS
  COM A  “ÁRVORE AMIGA”
            
            
ÁRVORE-AMIGA ENTRA CANTANDO A SAUDAÇÃO:
 
1  primeiro dia 

Sejam felizes todos os seres 
Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres

            - Oi, com licença... posso entrar?
                  Não se assuste, sou amiga
                  deixe-me apresentar:

                  - Sou Árvore-Amiga!
             Árvore-Amiga é meu nome desde que nasci.
                  Sou porta-voz do meu reino...
                   do reino vegetal, é claro!

                  Tudo que quero é entrar...
                   Entrar na sua casa e no seu coração.
 
     2  dia
             Sou Árvore-Amiga, porta-voz da Natureza
               Estou aqui para revelar a todos
                uma porção dos meus segredos  escondidos
               no coração da  Terra, na voz do vento
                e na luz que banha o nosso mundo.
                     
                - Posso traduzir o canto das águas nos rios
                        pois a Natureza me ensinou há séculos...
                        e eu mesma nada mais faço
                        que obedecer ao que está escrito
                        no mas profundo de mim.
 3 dia
Sempre soube que o silêncio é uma virtude
  mas a palavra é um tesouro.
                    
   Nenhuma palavra pode se perder
    porque palavras são sementes
    a buscar  campo arado pra ali germinarem,
     se transformarem em bosques e jardins floridos
     cheios de graça e bondade indispensáveis à vida.

Pareço muda de tão baixinho que canto...
   4 dia
Quando eu era pequenina vivia quietinha e atenta
 somente ouvindo  a vida cantarolando em mim.
 Ouvia a voz da terra me ensinando ser forte,
  ser resistente aos ventos e bem aproveitar
  os banhos de chuva fresca.

  A terra me segurava carinhosa
  mantendo-me firme e faceira
  e eu crescia sem pressa como menina mimada
  que sabe de sua beleza enquanto a vida existir.
                   5 dia                   
Eu vim para servir a todos
Aqui estou para fazer amigos:
                 
- Dou muitas flores ,frutos doces deliciosos,
   boa sombra e dou sementes
  -  a perpetuação de mim mesma.

   Esta é a minha parte na vida,
   quando protejo as nascentes
   preservando o curso dos rios.

    Ah, que belo destino é servir
    dar morada aos passarinhos
    ou a quem quer repousar.
  6 dia
A Natureza é um Grande Livro que Deus escreveu
 e deu a todos os seres para nele aprender
 interpretar e se compreenderem.

  Não é só prara ser explorada e dominada,                
  a Natureza é infinitamente mais que isto.

   É um prêmio a ser contemplado
   conquistado de coração aberto.

   A Natureza é o berço da vida
   É o lar e o sustento do homem de bem.
        7 dia
Sou a Árvore-Amiga porta-voz da Natureza
 Hoje sou mais feliz que ontem
  porque posso aqui livremente falar e cantar
 tudo que sinto e aprendi para os homens.

  Falando, recombino sons e ritmos super novos;
  Meu mundo mais que nunca agora é festivo.

   Os horizontes se abriram
   libertei meus sonhos adormecidos.
   Agora muito mais realizo
   o sonho de cantar de peito aberto,
   a alegria de ter novos amigos.
 8 dia
Feliz é aquele que com o coração aberto
 se entrega à leitura do Grande  e belo
  Livro da Natureza e lendo-o compreende          
  sua causa e função na vida e,
  vivendo tornar-se solidário, fiel,
  capaz de dar alegria e conforto
  a todo aquele que se aproxima.

    Feliz é aquele que sabe dar sem pedir troca.
    Ele é feliz porque sabe dar felicidade
    sem escolher a quem fazer feliz.

    Eu,jà nasci feliz,pois adoro distribuir meus frutos. 
       9 dia
A Terra é um  berço onde todos os seres
  irmanados  buscam sua  utilidade
  e na vontade pura se entrega em união
 formando o côro da criação.

   A dança da vida se manifesta plena toda hora
   em cada ser, que respira a doçura da entrega
   à luz cativante do nascer eterno, todo dia.

   A luz é a vida da vida e a vida sustento da luz.
                10  dia
          Conhece e ama a luz do mundo
           e conhecerás e amarás o mundo de Deus!

          Protege e abençoa quem te sustenta
          e não faltará a alegria da fartura
          transformando tudo sempre em tempo bom.

          Respeita aquele que te é diferente
          pois que as diferenças são necessárias
          à composição da sinfonia natural.

        Abra os olhos e veja quanta alegria se dando
        Hoje a vida sorri com mais beleza e bondade.
           11dia
Seja como uma Árvore
   dócil e resistente diante da aspereza
    de uma tempestade.

          Espera suave que a escuridão se vá
          pois que raiando o dia tudo se colore
          tal a magia infinitamente nova na ternura
          que a luz graciosamente nos dá.

          Aprende com a árvore a sorrir florindo
          aprende rápido a amar a Terra
          e o céu te cobrirá de bençãos.
          12 dia
        São tantas novidades e descobertas!
        Na Natureza todo dia é dia de aprender e festejar.

        Basta o Sol surgir faceiro no horizonte
        pra toda vida  de prazer vibrar,
        entoar o côro uníssono potente,
        o canto de amor à vida ao ritmo  envolvente.

        Quem tem que florir se abre depressa
        saudando a luz que lhe banha de vigor!

        São tantos segredos descobertos,
        que o mundo se torna um milagre colorido.
      13 dia
Um surto de euforia e de entusiasmo
  hoje me acometeu pela manhã
  bem na horinha que o sol nascia.

   Estava ainda espreguiçando, quando
   vi surgir um batalhão de abelhas sem-teto
   querendo fazer no ôco do meu tronco
    um novo e confortável lar.
        Imagina, a partir de hoje
        habita em mim uma colméia!

       Não vou cobrar hospedagem,isto não,
       mas vou ficar atenta pra ver se descubro já
       qual o segredo,o passe de mágica pra fazer o mel.

       14  dia
As abelhinhas não me deixaram dormir.
           A noite inteira ,determinadas arrumando a casa,
           o novo lar que encontraram em mim.

           Era zum-zum que não acabava.
           Assim trabalharam noite adentro
           fazendo bercinhos para as novatas recém-nascidas,
           geléia para a rainha, cera pra construir o castelo.

         Organizavam nos celeiros suas doçuras.
         Fizeram depois uma mesa redonda pra estudar
         a flora da região,onde houvesse mais néctar
         para fabricar o precioso mel.

                  Mas uma coisa já descobri,vejam só:
                 A maior alegria das abelhas é trabalhar!

            15 dia
Minhas raízes estão estremecendo de cócegas
          por causa da agitação das abelhas inquietas
          ensaiando a sintonização dos nervos,
          para se orientarem na perspectiva da luz,
          colherem depressa o pólen e voltarem sem erro.
                Nenhuma abelha pode se perder.
                Abelha perdida é abelha morta.
        As abelhas nascem para a sociedade
        e em sociedade produzem pra toda a cidade
        aplicando suas vidas à obediência
        da Senhora Inteligência,a Mãe Natureza,
        não é uma beleza?                
    16 dia
Posso estar enganada , mas tenho a impressão
que a alma do próprio universo
 vive e fala dentro de mim.
             O universo inteiro em mim já se escondia
             quando  eu não passava de uma simples sementinha.

             Foi pura sorte o vento trazer-me à esta terra.
             O resto do milagre coube ao chuvisco esperto,
             que viu minha timidez, ares de meninice
             e me banhou, introduzindo-me terra a dentro com jeitinho,
             deu um sorriso escorregando campo abaixo
             deixando-me entregue ao destino que pra mim se abria.

 
       17 dia
O primeiro sorriso que vi foi do chuvisco.

 Por certo cumpria bem o seu ofício de encaminhar
 as sementinhas que o vento serelepe lhe trazia.

   Lembro-me ainda de como voava leve pela colina
  bem pertinho do céu e um pássaro tentou bicar-me,
  não sei se para engolir-me ou para beijar-me,
  só lembro que o vento percebendo minha dúvida
  girou mais forte espantando o companheiro
  que junto a nós voava,talvez, só pra beijar-me...

   Não tive medo. Não tenho medo nunca!
   Voar foi uma aventura deliciosa...
18 dia
Desde que rompeu  minha  semente
e a luz roçou-me o embrião, senti o infinito
buscando em mim conservar a justa medida
capaz de perpetuar  minha razão de existir:

Ser florida para bem produzir.

O desenvolvimento natural conduzia-me
à fonte de novas e doces alegrias,e eu crescia!
                   
Nada eu julgava. Parece que eu já sabia
e tudo em mim dizia no silêncio o que eu seria.
 Eu só ficava encabulada diante do que via:
Dentro de mim dormia um universo sábio e bom.
 
    19 dia
Eu vivia tão intensamente
cada fragmento de vida,cada instante        
  do meu crescer,que vendo a seiva subir
  nos meus galhinhos,me tonteava de alegria
fortalecendo mais o meu propósito
de amadurecer  prontamente
 para quando chegasse o tempo certo
florisse consciente as mais delicadas flores...

 E  respirando compassada vivia,
 certa de  que era isto que a vida queria de mim.
  20 dia
Ser artista não significa saber medir.
é crescer como uma árvore que não apressa
a seiva que lhe nutre as veias serenas
formadas sob ventos da primaveris,
destemida de ardentes verões e dos invernos
fabricantes de cristais de frio arremessados violentos
como agulhas perfurantes do leito da seiva,
do suco da energia  operante

 Ser artista é  confiar com doçura,
 tão sossegado ficar, como se estivesse
 frente a eternidade.

 A  paciência é tudo na arte e no crescer.
  É paz e é ciência do bem viver.
 
      21 dia
Ainda era uma Árvore menina curiosa
  querendo tudo aprender,quando de repente 
recebi uma rajada de pedras.

 Chorei, vendo partidas minhas folhas novinhas...
  Nunca vira algo tão brutal perto de mim.

 Pensei...pensei... que espécie de criatura
 se jogava com tanta violência contra mim,
 que só queria brincar de crescer...?

 Passada a dor, ouvi um chorinho preso no meu tronco.
 Era uma pedrinha branca que choramingava dizendo:
-  Foi o menino que me atirou no passarinho,
 aquele passarinho que descansava em você.
 22  dia
Eu ficava mocinha e descobria
que a aventura de viver era emocionante
e exigia toda minha atenção se eu quisesse
estar madura no tempo certo.

Eu amava a tudo sem reservas e deslumbrada
me esforçava até para amar as minhas dúvidas,
como se cada uma delas fosse um quarto escuro
 esperando que lhe abrisse a janela.

      A Inteligência que me guia sempre dizia:
-  É preciso duvidar...
  Só quem duvida pode aprender!
     23 dia

Debaixo do Sol ardente,do vento assanhado
e das pancadas de  chuva,minhas raízes tremiam
 perfurando o chão cada vez mais fundo.

 Fazia-se de forte o meu tronco repleto de braços
sedentos de flores multicoloridas...

Mas  era cedo ainda.
Eu não deveria perder-me procurando
o que só na maturidade encontraria.

Agora, era a hora da mocidade,
hora de entregar-me inteira fortalecida
no que me era dado compreender.

Aprender a ouvir era o mais importante bem
que eu conquistava.
 
  24 dia
Por que as pessoas pensam que só o que é caro,
 difícil e o inacessível pode dar felicidade?

Ah, se o homem aceitar um  dia com mais modéstia
de que a terra está repleta de coisas simples e boas...

 Possa o homem se orgulhar
de sua fecunda  produtividade,
partilhando com a Natureza, a bondade
de poder criar, de poder conceber,
de dar forma bela a tudo que tocar.

 Pouco seria o homem sem essa afirmação perpétua,
universal, indizível, bela e plena,
exatamente pelo poder da simplicidade.
    25  dia
Não se deixe iludir pelas aparências!

Uma noite escura guarda muitos sonhos
 prestes a se realizarem.

Adormece a noite para dar lugar ao dia.

As flores delicadas ainda que nascidas
na trama de espinheiros não temerão
de serem corrompidas, elas crescerão,
 tranqüilas e castas como quis suas sementes.

 E a beleza delas talvez seja necessária
exatamente naquele lugar agreste
onde a tristeza tem auroras novas
ao viajante que ali visita.

 A irmandade da flor e do espinho
revela o mistério extraordinário
da utilidade da existência.
26 dia
“Sacudida  pela tempestade crescente
 a noite se abre de repente".............(Rilke)
 mostrando sua face sulcada de estrelas
quais pirilampos brincando de se mostrar.

 A coruja que perto do meu trondo cochilava
 bocejou, abriu as asas saudando a noite
com a voz rouca de preguiça ainda.

  Para a coruja , a noite é a única realidade,
 ela sacoleja, se oferece ,deixa que a lua
  acenda seus grandes olhos abertos para a vida
  27 dia
Verdade, o que é a verdade?
 A quem posso recorrer para me ensinar?

 Onde posso encontrar a verdade?
 Você sabe ? Você viu ?

 Ouvi dizer que ela está em toda parte,
que todo o mundo a revela o tempo inteiro!    

Eu, só sei da verdade da terra, que se entrega
à semente, oferecendo seus serviços para gerá-la,
 sem pressa, criar-lhe raízes profundas e fortes.

Ah... tem a verdade da semente, que não mente nunca!

   28  dia
A luz que do céu emana, desce cantando
a alegria da vida e da flor , igual uma estrela
a  oferecer suas pétalas para o repouso das cores.

 No interior dos frutos a doçura se concentra
apurando qualidades deliciosas e originais.

 Mil formas, mil sabores encantam os seres
buscantes do sustento  na Natureza versátil.

 E a Mãe Natureza só pede ao homem
que devolva pra  terra a semente da fruta que saboreou
cobrindo-a de terra fofa e aguando-a até germinar.

 No mais, a bondade do chão e do céu lhe virá
fazendo crescer mais um ser para o mundo alimentar.

 29 dia
Eu crescia sempre alerta
 e em tudo buscando o bem.

Embora presa no chão,nada passava ao meu redor         
que eu não visse ou não me emocionasse.

Um dia, depois de um cochilo, senti no meu  galho
uma cócega gostosa de sentir.Sonolenta olhei
na direção que coçava e vi um lindo pássaro,
enorme,todo colorido. 

Sua cauda era um feixe de fios prateados
que se enroscavam nas minhas galhas.

Estranho silêncio eu observava naquele exótico pássaro,
quando de repente se aproximou um menino gritando:
- Dona Árvore,você pode agora devolver a minha pipa?

 
    30 dia
Criar é uma maneira de conceber
E eu concebo todas as horas do dia
milhares de folhas e flores
por quase todos os meus poros.     

É pura  necessidade!

 Cobrir-me de flores é o meu destino  
e sigo-o tão prontamente quanto me é possível.

Floresço para as abelhas,floresço para embelezar o mundo
e floresço para manter-me jovem e bela.

Concebendo flores, crio a arte da beleza que se basta
e faço do meu florir minha própria recompensa de ser
e de majestosamente  existir

Segundo os Indus,este mantra/prece é mágico.
É a Cantiga das Árvores  , que a entoam
cada vez que passamos perto  delas .

Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.