Os Mozart foram finalmente recebidos em 19 de janeiro de 1768 por Maria Theresia e seu filho Joseph II. Embora tenham sido muito bem tratados, essa visita não trouxe a compensação financeira de que eles tanto precisavam. A economia era agora o tom e toda a nobreza seguia seu exemplo. Mozart devia, portanto, estabelecer-se de maneira séria, como compositor e intérprete, já que os nobres não mais pagariam tão caro como antigamente para ver as maravilhas que essa criança podia fazer ao cravo.
O Imperador, portanto, propusera que Mozart escrevesse uma ópera italiana. Mozart, que desde muito descobrira sua paixão pela ópera, ficou exultante, e seu pai não menos. Além disso, uma ópera escrita e regida por um menino de 12 anos certamente causaria sensação igual ou maior que suas aparições como intérprete, pelo menos em Viena. A ópera se chamaria La finta semplice K.51/46a e foi iniciada no fim de janeiro.
No decorrer da composição dessa ópera, corriam rumores de que Leopold planejava estabelecer-se em Viena com os filhos, portanto seu salário foi cortado pelo Arcebispo em março, ainda que com a permissão de voltar ao serviço quando bem quisesse. No fim daquele mesmo mês Mozart tocou em um grande concerto na residência do embaixador russo em Viena, o Príncipe Galitzin.
Porém, segundo Leopold, formou-se uma grande intriga contra a ópera do menino prodígio, e vários argumentos infundados foram usados: que a música fora escrita por seu pai, que o texto não condizia com a música, que a música era de baixa qualidade, entre outros. Além disso os instrumentistas e os cantores foram incitados (talvez subornados) a rejeitar a idéia de serem comandados por um menino de 12 anos e a achar que a música era inadequada.
A produção foi cancelada. Leopold escreveu ao Imperador em 21 de setembro requerendo uma indenização de Affligio por não cumprimento de contrato, mas lhe foi negada. Contra todos, a luta se tornava desigual, e Joseph II não tinha poder sobre o teatro que estava nas mãos de Affligio, um dos que mais se empenharam contra a produção.
Certamente foi uma experiência traumatizante para o pequeno Mozart - que, além de a ópera já estar terminada, sempre fora aceito e admirado pelas maiores cortes européias - ver rejeitada sua primeira tentativa formal na área que mais amava.
Um pequeno consolo foi o fato de que alguns membros na nobreza tiveram a curiosidade de conhecer algumas árias de La finta semplice K.51/46a, e mesmo o finale do primeiro ato, com Mozart ao cravo. Essas apresentações, segundo Leopold, agradaram muito. Isso ajudou a recuperar um pouco a auto estima do menino. Mozart também tocou nas residências de Bonno, Metastasio, Hasse, Duque de Braganza e Príncipe Kaunitz.
Suas obras dessa época demonstram a absorção do estilo musical corrente (mais livre que o italiano) de Vanhal, Haydn, Hoffmann e outros. O estilo próprio de Mozart ainda estava por vir.
Outra pequena compensação veio na forma da opereta alemã Bastien und Bastienne K.50/46b, encomendada pelo Dr. Mesmer, e talvez encenada no outono daquele ano em algum dos cômodos da residência - não no teatro ao ar livre da mesma, como antes se afirmava, porque este ainda não havia sido concluído.
Além disso, na inauguração de uma nova Igreja no Rennweg, em 7 de dezembro, três obras de Mozart foram executadas: uma missa, um ofertório e um concerto para trompete. A Imperatriz estava presente, juntamente com os Arquiduques Ferdinand e Maximilian, e as Arquiduquesas Maria Elisabeth e Maria Amalia. Pouco dias depois os Mozart iniciaram a viagem de retorno a Salzburgo.
A família chegou à cidade natal em janeiro de 1769, e lá lhes esperava um outro consolo: o Arcebispo Schrattenbach fez com que La finta semplice K.51/46a fosse estreada, talvez no dia do seu onomástico, 1º de maio.
Os Mozart passaram 11 meses em Salzburgo. Leopold já planejava para seu filho verdadeiros consolo e triunfo na ópera italiana, e um dos melhores lugares para isso era Milão. O Arcebispo permitiu mais essa outra viagem, talvez considerando que os extraordinários sucessos do jovem compositor lhe trariam crédito e prestígio.
Além disso ele mesmo tinha conhecimento suficiente do talento de Mozart para confiar no êxito de seus triunfos. Ele nomeou o jovem compositor ao cargo não pago de Terceiro Konzertmeister, sem dúvida uma forma de dar um título e uma recomendação tão necessários à ambiciosa viagem. Também poderia ser uma forma de ligá-lo mais a Salzburgo, numa tentativa de impedi-lo de ceder à tentação de mudar-se para uma grande corte musical. Mozart e seu pai Leopold deixaram Anna Maria e Nannerl em casa e partiram em 13 de dezembro de 1769.
Pai e filho chegaram a Verona em 27 de dezembro. Nessa cidade Mozart deu seu primeiro concerto público na Itália, na Accademia Filarmonica de Verona em 5 de janeiro de 1770 com imenso sucesso. Data desse período o retrato feito por Saverio dalla Rosa. Leopold narra, em carta à esposa, as conseqüências do sucesso do filho quando poucos dias depois Mozart tocou numa igreja da cidade e formou-se um tumulto para vê-lo: A multidão era tão grande que tivemos de entrar pelo mosteiro, onde repentinamente pessoas vieram correndo até nós de forma que não entraríamos se os padres - que nos esperavam no portão - não nos protegessem formando um círculo em torno de nós. Quando o concerto afinal terminou a confusão foi ainda maior, pois todos queriam ver o jovem organista. Assim que entramos na carruagem, mandei que o cocheiro tocasse imediatamente para casa onde me tranquei e comecei a escrever esta carta. Era mesmo necessário fugir, pois senão não nos deixariam a tempo de escrever uma carta.
Saindo de Verona e passando por Mântua (onde Mozart deu um concerto em 16 de janeiro), chegaram a Milão em 23 de janeiro de 1770. Lá, encontraram um amigo e protetor influente, o Conde Karl Joseph Firmian, que era nativo de Salzburgo, protetor dos Mozart na Itália e responsável indireto pela encomenda da primeira ópera que Mozart escreveria para Milão. Firmian escreveria diversas e importantes cartas de recomendação dos Mozart a importantes figuras de Bolonha, Parma, Florença e Roma, cidades que pai e filho visitariam a seguir.
Na residência dele Mozart deu concertos de grande sucesso (fevereiro e março), nos quais compareceram os melhores músicos e a nata da nobreza de Milão, dentre eles, o Duque e a Princesa de Modena. Logo Mozart recebeu a encomenda de compor a primeira ópera da temporada seguinte. Pai e filho deixaram a cidade para onde voltariam para que Mozart escrevesse a ópera, que se chamaria Mitridate, rè di Ponto K.87/74a.
A cidade seguinte a ser visitada foi Parma, onde chegaram em 15 de março. Lá conheceram a soprano Lucrezia Aguiari, a "Bastardella", famosa por sua imensa extensão vocal. Pouco mais de uma semana depois deixaram a cidade e chegaram a Bolonha em 24 de março.
Em Bolonha, onde ficaram cinco dias, Mozart deu um concerto na residência do Conde Gian Luca Pallavicini, no qual conheceu o famoso erudito Padre Martini. Nessa época, a maior recomendação que um músico poderia receber era o aval positivo do Padre. E este impressionou-se sobremaneira com os talentos do jovem Mozart, que além de lhe dar conselhos em música, tornou-se um bom amigo seu.
O motivo dessa curta demora foi transmitida em uma carta do Conde Pallavicini ao Conde Firmian: Leopold tencionava chegar a Roma com o filho para os festejos da Semana Santa.
Em 30 de março chegaram em Florença, onde reencontraram o castrato Giovanni Manzuoli, e conheceram o violinista inglês Thomas Linley. Nessa cidade Mozart deu um importante concerto no Palazzo Pitti, residência de verão do Grão-Duque Leopold de Toscana (futuro Leopold II).
De Florença, os Mozart partiram para Roma, onde ficaram um mês, chegando em 11 de abril de 1770. Lá, Mozart foi ouvido em residências da nobreza e de embaixadores, sendo extremamente admirado, a despeito da rigidez com que os romanos tratavam em geral os que se denominavam virtuoses. Um jornal divulgou em 2 de maio de 1770 que "o filho do Kapellmeister de Salzburgo já está aqui há algum tempo e tem sido admirado por todos devido ao seu extraordinário e precoce talento musical."
Na tarde do mesmo dia em que chegaram, ocorreu esse fato lendário: tendo pai e filho ido à Capela Sistina para ouvir o Miserere de Allegri, Mozart, ao chegar ao albergue em que estavam hospedados, escreveu-o de memória. Na oportunidade seguinte que tiveram de ouvir o Miserere, Mozart fez algumas poucas correções no que tinha escrito. Pouco depois, os Mozart passaram rapidamente por Nápoles e voltaram a Roma.
Não só o público, mas também o Papa Clemente XIV surpreendeu-se com os talentos do menino prodígio. Tendo recebido pai e filho em 15 de abril em São Pedro, agraciou o jovem Mozart em 4 de julho com a Ordem da Espora Dourada.
Os únicos músicos, além de Mozart, a receber essa comenda foram Gluck e Ditters. Mas eles não a receberam com a alta distinção de Cavaleiro da Ordem da Espora Dourada. Segundo carta à esposa, o próprio Leopold não acreditou no fato senão quando o Cardeal Pallavicini entregou a Mozart a comenda do Papa, no dia seguinte. Mozart foi recebido pelo Papa em 8 de julho, usando a medalha da Ordem.
Dois dias depois, os Mozart deixaram Roma e seguiram para Bolonha, onde chegaram em 20 de julho. Uma semana depois Mozart recebeu o libreto de Mitridate K.87/74a, e imediatamente começou a escrever os recitativos. Em 13 de outubro deixaram Bolonha, passando provavelmente no dia seguinte por Parma e chegando a Milão em 16 ou 18 de outubro de 1770 às cinco horas da tarde.
Leopold estava bem prevenido desde o incidente com a ópera La finta semplice K.51/46a em Viena. Portanto, exigiu um contrato escrito que garantia um pagamento de 100 ducados pela ópera. Ocorreram ensaios em 8, 12, 17, 22 e 24 de dezembro.
Durante os ensaios ocorreram muitas cabalas. Suspeita-se que o tenor Guglielmo d'Ettore (que faria o papel-título) foi um dos intrigantes principais, primeiro porque Mozart teve de reescrever a cavatina "Se di lauri i crini adorno" quatro vezes, o recitativo "Respira alfin" duas vezes, e a ária "Vado incontro al fato estremo" duas vezes.
Além disso, em carta ao filho 8 anos mais tarde, Leopold escreveria: "Não permita que pessoas invejosas se aproveitem de você [...]. Isso acontece em qualquer lugar. Lembre-se da Itália, de sua primeira ópera [Mitridate], de d'Ettore, etc." Circulava o boato de que Mitridate se tratava de uma bárbara ópera alemã, mesmo antes de se ter sido tocada uma nota. Dizia-se também que o jovem compositor mão tinha conhecimento suficiente da língua italiana para haver coerência entre música e texto.
Apesar de todas as intrigas sofridas, Mitridate K.87/71a foi um sucesso, estreando em 26 de dezembro de 1770 no Teatro Regio Ducal e sendo reapresentada por 22 vezes consecutivas. Mozart regeu as três primeiras apresentações do cravo, tendo Giovanni Battista Lampugnani tocado o segundo cravo.
Mitridate ainda estava em cartaz quando Mozart foi nomeado mestre de capela honorário da Accademia Filarmonica de Verona, em 5 de janeiro de 1771. Em 4 de fevereiro os Mozart deixam Milão, chegando a Veneza no dia 11. Nessa cidade, Mozart deu um concerto, sem muitos detalhes conhecidos. Sabemos, porém, que todos os concertos que Mozart deu na Itália resultaram em sucessos retumbantes. Em 4 de março Mozart recebeu uma encomenda de uma outra ópera para a temporada de carnaval de 1772-3 em Milão.
Essa ópera viria a ser Lucio Silla K.135. Em 12 de março eles partiram para Parma, chegando no mesmo dia. Nessa cidade Mozart recebeu a encomenda do oratório La Betulia liberata K.118/74c. Não se sabe se esse oratório foi apresentado em vida do compositor.
Em 16 de março de 1771 os Mozart chegaram a Verona, tendo Mozart tocado para um público seleto no dia seguinte. Doze dias depois, pai e filho retornam a Salzburgo. Logo após a chegada, Mozart recebeu a encomenda de uma pequena ópera (ou serenata teatrale) para a celebração do casamento do Arquiduque Ferdinand da Áustria (filho de Maria Theresia) com a Princesa Maria Beatrice Ricciarda, que iria ocorrer em outubro.
O Arcebispo Schrattenbach não podia, em hipótese alguma, recusar mais essa viagem aos Mozart, porque, além de benevolente, sabia os benefícios que lhe traziam as honras recebidas por seu talentoso súdito. Portanto, em 13 de agosto de 1771, pai e filho partiram para a segunda viagem italiana, que foi relativamente curta, durando quase quatro meses, que consistiu em uma breve estada em Milão, após algumas curtas paradas em cidades que ficavam no caminho.
Eles chegaram a Milão em 21 de agosto, e uma semana depois de sua chegada, Mozart recebeu o libreto da nova ópera Ascanio in Alba K.111, na qual começou a trabalhar imediatamente. Os ensaios ocorreram nos dias 4, 8, 11 e 14 de outubro, e foram bem mais calmos que os da ópera anterior.
A pequena ópera de Mozart fazia parte, juntamente com a ópera Il Ruggiero, de Hasse, do ápice de uma espetacular seqüência de comemorações matrimoniais, que incluíram corridas de cavalos, mascaradas, bailes, entre outros, e a cidade estava magnificamente iluminada para a ocasião.
Curiosamente, 150 casais da região se casaram em cerimônia pública, recebendo dotes dos noivos reais.
Em 16 de outubro estreou a ópera Il Ruggiero, de Hasse, que teve sucesso inferior à serenata teatrale de Mozart, que estrearia no dia seguinte. Manzuoli, amigo dos Mozart desde Londres, em 1764, cantaria no papel-título.
O sucesso foi tamanho que o Arquiduque e a Princesa exclamaram "Bravissimo, maestro" e aplaudiram, sendo imitados pelo público presente. Leopold, em carta à esposa, dizia o quanto ele e seu filho eram parados na rua por transeuntes que queriam conhecer e parabenizar o jovem compositor. Além disso, a serenata foi repetida em 19 de 24 de outubro, e provavelmente também em 27 e 28 de outubro.
Em 30 de novembro os Mozart foram recebidos pelo Arquiduque Ferdinand.
Era sua intenção contratar o jovem Mozart para seu serviço, mas em uma famosa carta de 12 de dezembro de 1771, Maria Theresia se escreveu: "[...] você me pede para contratar o jovem salzburguês em seu serviço[.] eu não entendo porque, não crendo que você tenha necessidade de um compositor ou de gente inútil[.] se isso porém te agradar, não me oporei[.] o que eu digo é apenas para evitar que você se comprometa com pessoas inúteis e dê títulos a esse tipo de gente[.] se eles forem contratados a seu serviço eles degradarão esse serviço por vagar pelo mundo como mendigos[.] além disso, ele tem uma grande família." A família Mozart consistia apenas em 4 pessoas. O Arquiduque não contratou Mozart.
Em 5 de dezembro, pai e filho deixaram Milão e chegaram a Salzburgo 10 dias depois. No dia seguinte faleceu o Príncipe-Arcebispo Schrattenbach, perdendo os Mozart um grande protetor e admirador. Seu sucessor, Conde Hieronymus Colloredo, assumiu o cargo em 14 de março de 1772.
Para a comemoração de sua ascensão, Mozart revisou a serenata drammatica Il sogno di Scipione K.126, que tinha sido originalmente escrita para homenagear seu predecessor. Em 21 de agosto Mozart começou a receber o pequeno salário de 150 gulden por seu cargo de Konzertmeister. Pouco tempo depois, em outubro, Mozart já havia começado a escrever os recitativos de Lucio Silla K.135.
O Arcebispo Colloredo deu permissão para a terceira viagem dos Mozart a Milão, depois de terem passado 10 meses em Salzburgo. A viagem começou em 24 de outubro, chegando a Milão em 4 de novembro de 1772.
Essa estada foi quase completamente devotada à composição, ensaios e apresentações de Lucio Silla. Em 5 de dezembro Mozart escreveu: "Só posso pensar em minha ópera." Mozart teve ainda de reescrever uma parte do que já havia composto devido a algumas alterações no libreto de Giovanni de Gamerra, que havia sido melhorado por Metastasio. Lucio Silla estreou em 26 de dezembro de 1772 no Teatro Regio Ducal de Milão. A estréia foi quase caótica, de acordo com a carta que Leopold enviou à família em 2 de janeiro de 1773: A ópera terminou com sucesso, apesar de na estréia terem ocorrido alguns aborrecimentos. O primeiro foi que a ópera, que geralmente começa uma hora depois de os sinos terem batido as vésperas, começou 3 horas mais tarde [o Arquiduque Ferdinand estava ocupado com assuntos de Estado], umas 8 horas da noite no horário da Alemanha, e só terminou às 2 da manhã.
Os cantores estavam muito nervosos por terem de cantar diante de um público tão distinto. Mas os cantores, juntamente com a orquestra e o público, muitos dos quais de pé, tiveram de esperar 3 horas pelo início da ópera. Em segundo, o tenor [Bassano Morgoni, o primeiro Silla], nunca tinha atuado num palco tão importante.
Em sua primeira ária [N.4 Dalla sponda tenebrosa], a prima donna Anna de Amicis devia esperar que ele lhe fizesse um gesto de raiva, mas ele o fez de maneira tão exagerada que parecia que ele ia esbofetear seus ouvidos e arrancar seu nariz com o punho, o que fez a platéia em peso cair na risada. Ela não cantou bem pelo resto da noite, também porque ela estava ciumenta do primo uomo [Venanzio Rauzzini, o primeiro Cecilio], que foi aplaudido pela Arquiduquesa no momento em que entrou no palco.
Isso foi um truque bem típico de castrati, já que ele fez com que fosse dito à Arquiduquesa que ele estava tão aterrorizado de subir naquele palco que talvez não conseguisse cantar. Sua intenção era que a corte o aplaudisse para encorajá-lo. Para consolá-la, a Signora de Amicis foi chamada para cantar na corte ao meio-dia do dia seguinte, e ela obteve uma audiência com a Arquiduquesa que durou uma hora, e só então a ópera começou a ir bem.
Esses incidentes, somando-se à qualidade quase revolucionária da ópera, para a época, contribuíram para que Lucio Silla não fosse unanimemente bem aceita de início como as outras óperas. Porém a cada apresentação, Lucio Silla vinha ganhando "em popularidade e recebendo cada vez mais aplausos", segundo Leopold em carta de 9 de janeiro de 1773.
Embora não venha a ser uma "grande crise romântica", como a classificaram Wyzewa e Saint-Fox, Lucio Silla demonstra a tentativa de Mozart de fazer vencer o sentimento sobre o artifício vocal, sem necessariamente quebrar todas as regras da opera seria. Essa tentativa resulta numa alternância de vocalises e tensão e profundidade musical bem patentes nos recitativos acompanhados e em algumas árias.
Os personagens realmente profundos receberam árias de maior proximidade entre drama e música, como N.6 O del padre ombra diletta (Giunia), N.9 Quest'improvviso tremito (Cecilio) e N.22 Fra i pensier più funesti di morte (Giunia), entre outros, além dos recitativos acompanhados. J
á os papéis secundários (Cinna, Celia, Aufidio), receberam árias contendo unicamente artifícios vocais, embora Giunia também tenha infinitos vocalises e seja um dos papéis mais difíceis do repertório de soprano coloratura. A orquestração é bem mais ambiciosa que Mitridate, e pode ser considerada, não apenas um estágio, mas um marco na evolução de Mozart como compositor.
Durante as viagens italianas, Mozart não escreveu apenas óperas e árias de concertos, mas foi bastante produtivo na escrita sinfônica (suas sinfonias desse período assimilaram profundamente o estilo italiano, e eram partes fundamentais em concertos, servindo para abertura - os três primeiros movimentos - e término - o último movimento).
Mozart também fez suas primeiras tentativas para quartetos de cordas, e seus divertimentos, assim designados - não por Mozart - no autógrafo (K.136-138/125a-c), são mais bem compreendidos como quartetos de cordas que música orquestral. Além disso Mozart escreveu diversas peças sacras para coro e/ou solistas, como a antífona Quaerite primum regnum Dei, escrita para sua admissão na Accademia Filarmonica de Bolonha, o oratório La Betulia liberata K.118/74c e o moteto Exsultate jubilate K.165/158a, escrito para Venanzio Rauzzini e estreada em janeiro de 1773.
Já a música para piano é bem rara nesse período. Supõe-se que ele não tenha tido necessidade (ou tempo) de escrever as peças que ele próprio tocava nos concertos italianos. Sugere-se também que os concertos para piano e orquestra feitos a partir de sonatas de J. C. Bach tenham sido escritas para concertos na Itália.
Leopold conseguiu estabelecer para o filho a sólida reputação de compositor operístico, o que viria a ser refletido em encomendas posteriores. O triunfo de Mozart em cativar o público italiano foi particularmente notável, porque na época os italianos eram muito rígidos e céticos em relação aos que eram chamados prodígios em outras partes da Europa.
Mozart não só conseguiu a aprovação, mas também a estupefação dos mais renomados mestres italianos. Nisso pode-se perceber uma brusca inversão de valores, já que eram os italianos que maravilhavam a Europa, ocupando os mais altos cargos nas melhores cortes, sendo mestres de compositores e cantores famosos como J. C. Bach, Grètry, Johann Valentin Adamberger, Nancy Storace, Michael Kelly e Gluck.
Enfim, Mozart ultrapassou a condição de menino-prodígio para tornar-se um compositor maduro, que, embora sem ter ainda um estilo próprio, era capaz de escrever em todas as formas e estilos musicais até então existentes. Infelizmente não conseguiram seu objetivo principal, um cargo na corte do Arquiduque Ferdinand.
Em cerca de 4 de março de 1773 eles deixaram Milão, chegando a Salzburgo no dia 13. Poucos dias depois a família se mudava para acomodações maiores na Hannibal-Platz (hoje Makart-Platz). Entrementes, Leopold consegue mais uma autorização de Colloredo para ausentar-se com o filho. O destino agora era Viena.
O motivo principal dessa viagem é ignorado, mas certamente era obter um cargo na corte vienense, já que tinham, nesse sentido, falhado na Itália. Enquanto esperavam que a Imperatriz Maria Theresia retornasse de Eisenstadt em 24 de julho, pai e filho passaram o tempo reatando antigas relações, como Dr. Mesmer e Herr von Mayr. No fim do mês o Príncipe-Arcebispo Colloredo também chegava a Viena, e partiu em 2 de agosto para Laxemburg.
Em 5 de agosto, Leopold e Mozart foram recebidos pela Imperatriz. Infelizmente nada se sabe dos detalhes dessa audiência. Três dias depois, Leopold regeu a Missa Dominicus K.66, de Mozart, na Igreja dos Jesuítas. Quando o Arcebispo retornou de Laxemburg em 12 de agosto, recebeu os Mozart e permitiu o prolongamento da estada em Viena.
Em Viena, Mozart escreveu, além da música incidental para a peça Thamos, König in Ägypten, do Barão Thomas P. von Gebler, os quartetos de cordas K.168-173, baseados nos recentes quartetos de Haydn, op.20. A maior conquista de Mozart nessa viagem a Viena foi o grande avanço em seus conhecimentos das novas técnicas de composição.
A escrita orquestral, principalmente, havia mudado muito, e compositores de vanguarda como Gassmann, Vanhal e principalmente Joseph Haydn, seguiam a escola Sturm und Drang, que havia começado na literatura alemã com a peça Wirwarr, mais tarde chamada Sturm und Drang, de F. M. Klinger.
O Sturm und Drang - basicamente um movimento de artistas jovens - era um caracterizado pelo estilo egocêntrico, onde há a eterna busca da felicidade, com direito a suicídios (Werther, de Goethe), paixões avassaladoras, choque entre o indivíduo e a sociedade (Götz, de Goethe), e alguma desorganização do conteúdo narrativo. Talvez um pré-romantismo.
Na música, as obras orquestrais eram geralmente escritas em tonalidade menor, com diferenças bruscas de dinâmica e uma linguagem musical quase excêntrica. Mozart foi profundamente inspirado por esses aspectos ao escrever a Sinfonia N.25 em Sol menor K.183, que constitui numa composição atípica na escrita mozartiana de até então.
Porém, enquanto Vanhal e Haydn abandonaram a escola Sturm und Drang abruptamente, Mozart posteriormente escreveu algumas peças que de uma forma ou de outra seguiam esse modelo: os Concertos para piano N.20 em Ré menor K.466 e N.24 em Dó menor K.491, o Quinteto em Sol menor K.516 e a famosa Sinfonia N.40 em Sol menor K.550, além da ária Der Hölle Rache (Die Zauberflöte K.620) e o Dies Irae e o Confutatis do Requiem K.626, entre outras.
Talvez possamos afirmar que Mozart estava mais perto do romantismo que Haydn e Vanhal, já que para eles o movimento foi uma curta "febre", considerando o fato que que eles tornaram a escrever de acordo com os modelos pré-Sturm und Drang. Porém Mozart, como já foi dito antes, tornava ocasionalmente a esse estilo altamente emotivo, tendo em vista também a qualidade melancólica e lírica de inúmeras peças posteriores, além das peças arrebatadas citadas no parágrafo anterior.
Isso nos leva à antiga e controversa questão: e se Mozart tivesse sobrevivido para presenciar o Romantismo? Que corrente ele seguiria, a de Beethoven ou a de Cherubini? O que ele teria escrito? | Imperador Joseph II Capa do libreto de Bastien und Bastienne
Wolfgang Amadeus Mozart
Conde Karl Joseph Firmian
Lucrezia Aguiari
Padre Martini
Vista de Bolonha Certificado da Accademia Filarmonica de Bolonha
Wolfgang Amadeus Mozart (retrato duvidoso) Thomas Linley
Papa Clemente XIV
Pietro Metastasio
Wolfgang Amadeus Mozart (retrato póstumo)
Johann Adolf Hasse
Arquiduque Ferdinand da Áustria e Princesa Beatrice Ricciarda Imperatriz Maria Theresia
Anna Lucia de Amicis
Venanzio Rauzzini
Teatro Regio Ducal, Milão Wolfgang Amadeus Mozart
Leopold Mozart
Joseph Haydn
Wolfgang Amadeus Mozart (retrato duvidoso)
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