sábado, 2 de julho de 2011

A EDUCAÇÃO MODERNA COMO BARBARIZAÇÃO DO TIPO HOMEM




Vagner da Silva

Resumo
O objetivo deste texto é fazer uma análise de uma vertente pouco explorada do pensamento nietzscheano, que é sua aplicação à educação. Buscaremos mostrar relações entre os conceitos de barbárie apresentados pelo filósofo e a educação do homem moderno. Para tal não nos limitaremos a uma única obra ou período do autor, abordando textos distintos de todas as fases em que mais comumente se divide a filosofia nietzscheana, por acreditar que não há descontinuidade em sua obra, nem no plano temático nem no plano metodológico, apenas algumas mudanças quanto aos modelos humanos adotados por Nietzsche na sua juventude e os adotadas em seus períodos intermediário e final.  - Palavras-chave: barbárie - cultura - educação.

A EDUCAÇÃO MODERNA COMO BARBARIZAÇÃO DO TIPO HOMEM.

1. Introdução.
Nietzsche é sem dúvida um dos mais polêmicos filósofos da modernidade. E isso não se deve apenas à forma como escrevia seus livros: aforismos, parágrafos e dissertações aparentemente desconexos, mas que analisados cuidadosamente guardam profunda relação entre si. O que tornou Nietzsche tão polêmico vai além da forma, encontra-se no conteúdo. 

Ao longo de toda sua carreira filosófica 
Nietzsche perscrutou os mais diversos assuntos,
detendo-se de forma mais demorada e intensa nos estudos
acerca da moral, da ciência e da arte, sempre ligando
seus estudos ao panorama da cultura 
européia de sua época. 

Foi a partir daí que Nietzsche chegou ao incômodo diagnóstico de que a Europa estava doente, mais do que isso, chegou ao diagnóstico de que o homem europeu cada vez mais degenerava e tendia para a decadência. Um dos mais claros indícios desta decadência para Nietzsche, era a barbárie que rondava as portas da civilização européia. Barbárie essa que se manifestava das formas mais diversas, mas que geralmente apresentava-se na figura da violência e da escatologia cultural.

Foi a partir deste diagnóstico que Nietzsche traçou seus objetivos. Era preciso “curar este doente”, ou ao menos saber até que ponto ele era capaz de suportar os mais duros remédios. Porém como curar o homem? Como torná-lo forte? Mais do que cura, Nietzsche tinha em mente superação.

Eis o principal objetivo filosófico de Nietzsche: a superação do tipo homem em direção de algo superior, o que Nietzsche nomeia de além-do-homem. Mas aqui também cabem outras perguntas: é possível superar o homem? Como tornar o homem algo superior ao que ele é? Podemos encontrar em um texto do próprio Nietzsche a resposta para estas perguntas:

Aquilo que em parte a necessidade constringente (Not), em parte o acaso, aqui e ali alcançaram, as condições para a produção de uma espécie mais forte. Podemos agora compreender isso, e sabendo-o, querer. Podemos criar as condições sob as quais uma tal elevação é possível.

O trecho acima deixa-nos perceber que tal elevação é possível, e até mesmo desejada, todavia, há a necessidade de antes criar as condições nas quais esta elevação possa ocorrer, uma conjunção de fatores que até hoje só se reuniu de maneira fortuita e casuística, pode agora ser criada de forma “artificial”. Justamente aqui se insere o que talvez poderíamos chamar de pensamento educacional de Nietzsche: a possibilidade de criar as condições necessárias para prover a elevação do homem, fazendo com que este possa superar-se a si mesmo. 

Ainda uma outra pergunta cabe-nos fazer aqui, para a qual o próprio Nietzsche ofertou a resposta: o que seria este homem superior? Pergunta por demais conveniente, principalmente se tivermos em mente que num passado não distante as idéias de Nietzsche, principalmente estas, concernentes à superação do homem atual em direção a um homem superior, foram usadas como argumento pelo movimento nazista na Alemanha:

O crescente apequenamento do homem é justamente a força propulsora para se pensar na criação (Züchtung) de uma raça mais forte, que teria seu excesso justamente ali, onde a espécie diminuída tivesse se tornado fraca e mais fraca (vontade, responsabilidade, certeza de si mesmo, poder instituir metas). (...) 

Não apenas uma raça de senhores, cuja tarefa se esgotaria em governar; porém uma raça com esfera vital própria, com um excedente de força para a beleza, coragem, cultura, maneiras, até no que há de mais espiritual; uma raça afirmadora, a quem é permitido gozar todo grande luxo..., suficientemente forte para não ter necessidade da tirania do imperativo da virtude, suficientemente rica para não ter necessidade de poupança e pedantismo, além de bem e mal; uma estufa para plantas especiais e seletas.(**)

Se não pelos caminhos da força e da tirania,
por quais caminhos se superaria o homem? 

Pelos caminhos da educação. Como foi dito na citação anterior, é possível criar as condições necessárias para fazer surgir este homem superior, eis a tarefa da educação, não qualquer educação, não a educação moderna, contra a qual Nietzsche lançou duras críticas, mas sim a educação cultural, aquela que prepara o indivíduo para ser algo além de um profissional...

2. Cultura e Civilização.
Nietzsche vê a cultura como algo distinto da instrução, para ele, 

“Cultura é, acima de tudo, 
unidade de estilos artísticos 
em todas as expressões de vida de um povo.”. 

Nietzsche distinguia cultura de instrução:
Portanto, meus amigos, não confundam esta cultura, esta deusa etérea, delicada e de pés ligeiros, com esta útil escrava que se costuma chamar às vezes também de “cultura”, mas que é somente a criada e a conselheira intelectual das carências da vida, do ganho, da miséria. 

Além disso, toda educação que deixa vislumbrar no fim de sua trajetória um posto de funcionário ou um ganho material não é uma educação para a cultura tal como a compreendemos, mas simplesmente uma indicação do caminho que podem percorrer para o indivíduo se salvar e se proteger na luta pela existência.

O filósofo distinguia civilização de cultura, ele via a primeira como o processo de domesticação e amansamento do animal homem, a civilização representa “a passagem da barbárie à ordenação regular de uma práxis humana, isto é, a constituição de um esquema praxeológico a que se dá o nome de ethos.”. 

A segunda, como dito anteriormente, é visto como unidade de estilos. É sobretudo através da cultura que se poderá elevar o tipo homem, o que poderíamos expressar em uma fórmula, que embora simplista, pode dar-nos uma idéia da relação entre cultura e civilização: “a civilização domesticou o animal, tornou-o homem, e através da cultura ele pode tornar-se algo para além dele próprio, através da cultura, ele pode tornar-se um homem superior”. 

A civilização é por excelência castradora,
funcionando através de cálculos utilitaristas 
de busca de prazer e repulsão de dor. 

Já a cultura é por excelência pródiga, e não funciona dentro de padrões tão simples de valoração. Por isso para Nietzsche a cultura é um artigo de luxo, não está acessível às massas ou ao rebanho humano, apenas para aqueles que compõem o que Nietzsche chama de Aristocracia do Espírito, que não é uma aristocracia de sangue ou raça, ou uma condição determinista:

O homem que não quer pertencer à massa só precisa deixar de ser indulgente para consigo mesmo; que ele siga a sua consciência que lhe grita:

‘Sê tu mesmo! 
Tu não és isto que agora fazes,
pensas e desejas.’

Tornar o homem o que ele é, 
eis o ponto fundamental de uma educação 
voltada para a cultura. 
(individuação)

Todavia este é um caminho repleto de perigos tentadores, que por todos os lados seduzem o homem para torná-lo outra coisa distinta daquilo que ele é: talvez um burocrata, talvez um apertador de parafusos, talvez um artista da indústria cultural, talvez um douto, mas sempre, como uma junção de todos estes tipos em uma só figura, um bárbaro.

3. Da Barbárie.
O termo barbárie, tanto de origem grega (barbaros) quanto romana (barbarum), foi inicialmente usado por estes dois povos para designar uma incapacidade de pronúncia de sua própria língua, posteriormente foi usado para designar os estrangeiros, por fim a palavra foi usada em Roma para designar os povos que migraram e invadiram o império a partir do Séc. I da era cristã, quando o termo tornou-se sinônimo de violência e destruição de toda espécie.

Vale ressaltar que no início da utilização do termo, ele não designava apenas a incapacidade de pronúncia da língua grega, mas também da língua vernácula, como era o caso dos habitantes da Caria (na Ásia Menor), que foram descritos por Homero como “barbarófonos”, por pronunciarem mal sua própria língua. O termo bárbaro está ligado ao balbucio, ato de falar com má dicção ou batendo os dentes, o tartamudear.

Nietzsche deu um novo significado ao termo bárbaro, embora sem abandonar o tradicional acima exposto. Para ele o bárbaro precede a civilização:

(...) na história da humanidade; as forças mais selvagens abrem caminho, primeiramente destrutivas, e no entanto sua ação é necessária, para que depois uma civilização mais suave tenha ali sua morada. Estas terríveis energias - o que se chama de mal - são os arquitetos e pioneiros ciclópicos da humanidade.

Apesar da importância atribuída ao bárbaro como preparador do terreno no qual cresceu a civilização, o reaparecimento da barbárie significa sempre uma ameaça à própria civilização e também à cultura, por sua violência e desmedida. 

Nietzsche contrapõe a idéia de barbárie
à idéia de cultura (unidade de estilos),
mostrando o bárbaro como um homem 
no qual não há uma unidade nas paixões, 
o que ele vê como um indício de doença,
degeneração:

(...) 2) a contraposição das paixões, a duplicidade, triplicidade, multiplicidade das ‘almas em um só peito’: nada saudável, ruína interior, autodissolução, revelando e ampliando uma divisão interna e um anarquismo -, exceto se por fim uma paixão assumir o controle. Restabelecimento da saúde -

O problema da barbárie 
reside justamente na sua multiplicidade 
incontrolável de paixões.

Nietzsche vê o homem bárbaro como aquele pleno de forças, que ainda não foi amansado, amolecido pela civilização. Todavia a essa gama incontrolável de paixões, é necessário opor uma paixão ainda mais forte, para que no interior do indivíduo não reine a anarquia dos instintos.

4. Educação Moderna e Democracia.
A educação capaz de conduzir o homem a uma superação de si próprio é uma educação que não destrói os instintos, mas que os usa em favor do homem. Parece-nos claro que ao contrário do que algumas vulgatas interpretativas do pensamento nietzscheano dizem, o autor em momento algum defende a ação irresponsável ou a sucumbência aos instintos. 

O que não vige na educação moderna, que descobriu um outro processo de depauperamento e enfraquecimento do homem - a democracia como forma de educar, a crença na autonomia de ação daquele que deve ser educado. Prática que hoje se vê por toda a parte, sob as mais diversas formas: nova escola, escola aberta e outras... 

Que requerem cada vez mais a inserção de narcóticos no processo educacional, fazendo com que os professores submetam-se ao ridículo e ao escatológico como forma de educação, e vão progressivamente tendo sua função transformada: de mestres para professores, daí para facilitadores, não tarda muito e tornar-se-ão animadores. Esta pratica democrática na educação enfraquece os instintos por um processo de negação do conflito, e concomitantemente barbariza o homem.

Nietzsche critica a democracia por esta basear-se em valores morais descendentes do pensamento judaico-cristão, que Nietzsche chama de moral de rebanho, caracterizada por uma vontade de poder, que não podendo ser exercida, em função da fraqueza do povo, dissimula-se e torna a sua fraqueza exemplo de virtude, criando no próprio povo a idéia de fraqueza voluntária como sinal de virtude que agrada o seu Deus, que sendo um Deus universal, deve manifestar-se e agradar-se da mesma forma em todos os locais, sendo assim, a forma judaica de agir é a correta, é a que agrada o Deus. Esta moral se estabelece como a única possível e desejável. Falando sobre a relação entre a moral e democracia, Nietzsche escreveu que:

(...) com a ajuda de uma religião que satisfez e adulou os mais sublimes desejos do animal de rebanho, chegou-se ao ponto de encontrarmos até mesmo nas instituições políticas e sociais uma expressão cada vez mais visível dessa moral: o movimento democrático constituí a herança do movimento cristão.
Um outro problema que Nietzsche vê nas práticas democráticas é a forma como elas lidam com o discurso de liberdade, discurso que faz crer no aumento das liberdades individuais, baseando-se na idéia de que todos são iguais, e são da mesma forma capazes de escolher o que é melhor para si e em escolhendo este melhor para si escolherão também o que é melhor para a coletividade.
Na educação o discurso e as práticas democráticas trazem dois grandes problemas, ambos ligados aos instintos: por um lado o enfraquecimento por outro, a anárquica liberação dos instintos, nos dois casos, a barbárie.
Sobre a anárquica liberação dos impulsos que pode ser promovida por uma educação democrática, podemos afirmar que um auto-governo das paixões e impulsos humanos, procedido de forma democrática conduziria o homem inevitavelmente à barbárie. Se todas as paixões e instintos, mesmo os mais violentos e destruidores tivessem a mesma liberdade de ação no interior do homem, e nenhum deles devesse obedecer ao comando de um mais forte, abrir-se-ia uma grande porta para a barbárie, aquela à qual Nietzsche chama de “pioneiros ciclópicos da humanidade”, forças que requereram séculos para serem controladas por impulsos mais fortes e afirmadores da vida.

4.1. - A Educação e a Guerra.
Por outro lado, e agindo de forma não menos perigosa, o discurso democrático enfraquece os impulsos humanos, ao invés de submetê-los ao controle de um impulso mais forte e utilizá-los em favor do próprio homem.
O conflito, elemento de fundamental importância no pensamento de Nietzsche, não apenas como formador do caráter, mas também como medida de nossa própria força e resistência, é anulado pela democracia, que admitindo a igualdade entre todos extingue a necessidade do conflito, ou conduz para o extremo oposto, a guerra entre povos e nações. Não podemos imaginar a guerra entre povos e nações sem imaginarmos condições de igualdade entre estes povos, pois um povo mais fraco não ousaria lutar com um mais forte. Todavia esta guerra entre povos, que precisam conquistar uns aos outros, para Nietzsche é sinal de barbárie, pois para ele, só precisa conquistar o outro, aquele que não pode conquistar a si próprio, só precisa exercer controle sobre o outro, aquele que é fraco demais para exercer poder sobre si mesmo. Esta vontade de conflito deve sempre ser direcionada para o interior do homem, para o conflito entre instintos, pois, sem o conflito entre os instintos, perde-se a noção de sua própria força, e esta, sem exercitar-se, acaba também por decair.
A guerra educa para a liberdade. Pois o que é liberdade! O fato de se ter a vontade de se responsabilizar por si próprio. O fato de se suster a distância que nos distingue. O fato de se tornar indiferente à fadiga, à rigidez, à privação, mesmo à vida. O fato de se estar preparado para sacrificar os homens pela coisa sua, sem deixar de contar a si mesmo neste sacrifício. Liberdade significa: os instintos viris, alegres na guerra e na vitória se apoderam dos outros instintos - por exemplo, o instinto de ‘felicidade’. O homem que se tornou livre, e muito mais ainda o espírito que se tornou livre pisa sobre o modo de ser desprezível do bem-estar, com o qual sonham o comerciante, o cristão, a vaca, a mulher, o inglês e outros democratas. O homem livre é guerreiro. - A partir de que critério se mensura a liberdade dos indivíduos, assim como dos povos? A partir da resistência que precisa ser superada, a partir do esforço que custa para permanecer em cima. Teria de se procurar o tipo mais elevado de homem livre lá, onde constantemente se supera a mais elevada resistência: cinco passos além da tirania, colado no umbral do risco da servidão. (...). 

Os povos que tiveram um certo valor, que foram valorosos, nunca o foram sob instituições liberais: o grande perigo fazia algo com eles, que merece veneração; o perigo que nos ensina pela primeira vez a conhecer nossos recursos, nossas virtudes, nosso valor e nossas armas, nosso espírito - que nos obriga a sermos fortes... Primeiro princípio: temos de precisar ser fortes:(*) senão nunca nos tornamos fortes.

Percebe-se pela passagem acima, o quanto Nietzsche valoriza o conflito, como uma possibilidade de fazer aflorar todas as grandes virtudes do homem, e até mesmo, de possibilitar que a anarquia dos impulsos encontre um impulso mais forte que os coordene e os dirija. Todavia é importante ressaltar que ao valorizar o conflito, 

Nietzsche não se refere à guerra entre povos,
ou qualquer tipo de violência externa, 
pelas quais Nietzsche sempre nutriu profundo desprezo, 
como ele mesmo afirma em seus fragmentos finais:

Eu trago a guerra.(***) Não entre provo e povo; não tenho palavras para exprimir meu desprezo pela política de interesses, digna de maldição, das dinastias européias, que, da incitação ao egoísmo (Selbstsucht), à auto-presunção dos povos uns contra os outros, faz um princípio e quase um dever. Não entre estamentos sociais. Pois não temos estamentos superiores, conseqüentemente também não inferiores (...).

eu trago a guerra (***) entre todos os absurdos acasos de povo, estamentos, raça, profissão, educação, formação: uma guerra como entre ascensão e ocaso, entre vontade de vida e ânsia de vingança contra a vida, entre honestidade e pérfida mendacidade...

Como se vê, a idéia de guerra em Nietzsche é uma guerra de espírito, uma guerra para o domínio dos impulsos e ascensão a algo superior ao próprio homem, uma guerra contra tudo o que é degenerado na vida.

A educação democrática enfraquece esta guerra no interior do homem, pois com sua idéia de paz, que mais se assemelha ao descanso dos inválidos e incapazes, faz acreditar que todos são iguais, logo, não há necessidade de conflitos. Para Nietzsche.

Opondo posteriormente a idéia moderna de liberdade, à sua própria idéia de liberdade, o filósofo alemão afirma que “se vive em função do hoje, se vive muito rapidamente - se vive de maneira muito irresponsável: isto justamente denomina-se como ‘liberdade’”. E este “(...)
 
conceito moderno de liberdade
é mais uma prova de degradação dos instintos.”. 

A moderna educação democrática não é como a antiga educação grega, aquela da skholé. “O termo skholé, cuja etimologia permanece obscura, significa propriamente a ‘parada’, o ‘repouso’, e, conseqüentemente, o ‘ócio’, essa pausa que permite ao homem não estar mais submetido à urgência da vida quotidiana, e sim levar tempo (prende son temps). 

[Um] segundo sentido do termo será a ocupação do homem ocioso, não a ociosidade vazia, mas a plenitude de uma reflexão estudiosa. (...). Entre todas as atividades da existência, apenas a skholé é seu próprio fim para si mesma, na medida em que permite ao pensamento do homem, afastado das coerções da vida e da sociedade, exercer-se na sua plena liberdade. 

Aristóteles irá ainda mais longe que Platão ao ver na skholé por excelência a atividade eterna de 
 Deus 
cujo pensamento é 
‘pensamento do pensamento’”.

A bárbara educação moderna 
é por excelência a educação da pressa
e da velocidade.

É necessário adestrar o educando em um cada vez maior número de conteúdos, adaptando-o às necessidades da sociedade. A fragmentação de conteúdos é um dos elementos desta aceleração da educação moderna.

Esta fragmentação do conhecimento moderno na educação, atende a exigências específicas: a idéia de usar o homem como uma peça em uma grande máquina, a idéia utilitarista de medir os homens, não por sua grandiosidade de espírito, o que para Nietzsche se traduz na capacidade de suportar o que há de mais duro e terrível na vida, sem se deixar deformar, mas sim, medir os homens por seu grau de utilidade dentro do rebanho. 

A moderna educação democrática, 
ao igualar todos os homens, busca justamente 
torná-los utilizáveis dentro da sociedade, 
submetê-los às necessidades do Estado 
e da economia, barbarizá-los. 

Para tal, nada mais útil que uma educação fragmentária e fragmentadora, que educa para a adaptação às pequenas e mesquinhas necessidades da vida quotidiana, que cria novas peças de labirinto, bloqueando a passagem para qualquer caminho de reflexão acerca do próprio homem, e de sua condição. 

Diante deste panorama,
é humanamente impossível 
tornar-se o que se é.

A este respeito Nietzsche escreveu por fim:
A educação: um sistema de meios visando a arruinar as exceções em favor da regra. A instrução: um sistema de meios visando a elevar o gosto contra a exceção, em proveito dos medíocres. Visto assim, isto parece duro; mas, de um ponto de vista econômico, é completamente racional. Pelo menos para o longo período em que uma cultura se mantém ainda com sacrifício, onde toda exceção representa um dispêndio de força [algo que desvia, seduz, torna doente, isola].

Uma cultura da exceção, 
da experimentação, do risco, do matiz 

- uma cultura de estufa
para as plantas excepcionais 
não tem direito à existência 
senão quando há muitas forças para 
que mesmo o dispêndio se torne ‘econômico’

Não pensemos todavia que o pensamento de Nietzsche sobre a educação limita-se à crítica. O autor tem suas próprias idéias acerca da educação, algumas até já mostradas ao longo do texto.

5. A Educação do Amanhã.
Poderíamos apontar os caminhos para uma educação futura, partindo de algumas perguntas propostas por Nietzsche em Humano, Demasiado Humano.

Uma educação que já não crê em milagres deve prestar atenção a três coisas:

primeiro, quanta energia é herdada?;

segundo, de que modo uma nova energia pode ainda ser inflamada?;

terceiro, como adaptar o indivíduo às exigências extremamente variadas da cultura, sem que elas o incomodem e destruam sua singularidade? 

- em suma, como integrar o indivíduo ao contraponto de cultura privada e pública, 

como pode ele ser simultaneamente 
a melodia e seu acompanhamento?

Partindo das perguntas propostas pelo autor, principalmente da última, buscaremos compreender melhor o pensamento de Nietzsche e algumas de suas propostas para aquela que ele acreditava ser uma educação do amanhã, “uma educação que já não crê em milagres”, uma educação que prepararia o homem para viver entre suas necessidades pessoais e os interesses coletivos sem, contudo, tornar-se um animal de rebanho. Uma educação capaz de conduzir o homem à sua auto-superação, a educação formadora do além-do-homem.

Para Nietzsche educar não é uma tarefa simples, pois “raramente mudamos um indivíduo; e, conseguindo fazê-lo, talvez tenhamos conseguido algo mais, sem o perceber: nós fomos mudados por ele!”. Por isso mesmo o filósofo via esta como uma tarefa na qual se deve investir todas as forças. Pois a falta de uma educação rígida e exigente no período adequado da vida é algo difícil de ser remediado posteriormente.

Para Nietzsche educar 
é uma tarefa para agora,
uma tarefa que requer dureza e disciplina. 
(=rebanho?)

É importante salientar que esta dureza e disciplina das quais fala o filósofo, estão ligadas à necessidade do espírito preparar-se para as dificuldades da vida. Elas referem-se à preparação do espírito, não se referem a qualquer tipo de rigidez ou dureza física. Para que se tenha uma idéia mais acertada acerca deste “modelo pedagógico” proposto por Nietzsche, recorremos novamente às palavras do filósofo:

Àqueles seres humanos que ainda me importam, a esses eu desejo sofrimento, abandono, enfermidade, maus-tratos, humilhação - desejo que não lhes fiquem ignotos o profundo auto-desprezo, a tortura da desconfiança em relação a eles, a miséria do superado: não tenho compaixão por eles, pois lhes desejo a única coisa que, hoje, pode provar se alguém tem ou não tem valor - que ele agüente...

Não conheci ainda nenhum idealista, mas muito mentiroso - -
Apesar da dureza das palavras, elas são uma boa mostra para percebermos a hierarquia de valores de Nietzsche, hierarquia de valores que deve ser formada por uma educação para a cultura, uma educação que prepare o homem para as coisas mais duras da vida, e o ensinem a agüentar toda essa dureza sem, contudo, perder a alegria da vida.

É apenas essa dureza, a verdadeira disciplina da guerra, do confronto do homem contra seus impulsos mais bárbaros, que poderá criar uma nova educação, para novos e superiores homens, não uma educação bárbara, que enfraquece os instintos e torna o homem um animal de rebanho, ou que liberta seus impulsos mais bárbaros.

Para Nietzsche essa “nova educação deveria impedir que os homens cedessem a uma propensão exclusiva e se tornassem órgãos, em relação à tendência natural da divisão do trabalho. Trata-se de criar seres soberanos capazes de abarcar o conjunto com um golpe de olho e assistir como espectadores ao jogo da vida, parceiros tanto aqui como ali, sem estar muito violentamente engajados.”

A educação tem um caráter de reciprocidade, pois para Nietzsche quando mudamos alguém, acabamos também sendo mudados por este alguém. Desta forma a educação é um processo de interação entre partes distintas, não uma mera imposição de instâncias superiores à instâncias inferiores, pois o filósofo não acreditava na existência de instâncias superiores de pessoas, mas apenas na possibilidade de haver pessoas superiores e inferiores. 

Superioridade e inferioridade estas,
que só poderiam ser definidas a partir
da capacidade individual de suportar
o que há de mais terrível na existência
sem ressentir-se contra ela.

Eis a necessidade do conflito e da disciplina do conflito, elas são a forma de se medir a capacidade de resistência dos homens.

A possibilidade de educar alguém para que através da cultura este possa tornar-se superior ao que é, é uma preocupação constante nas obras de Nietzsche. 

Esta educação daquele que para o filósofo seria o além-do-homem, não pode ser a educação tecnicista, utilitarista e democrática moderna, tem que ser uma educação especial, uma educação para formar espíritos mais fortes, e que por isso, não deve prescindir da dureza e do rigor da formação do espírito, para que este espírito torne-se o que ele é, para que este espírito ignore o chamamento da massa e não se torne um animal de rebanho, não se torne um bárbaro moderno, e sim um indivíduo repleto de singularidade, capaz não apenas controlar seus impulsos, contendo as eclosões da barbárie, mas que os possa usar em seu favor.

Repetindo o mote socrático de conhecer-se a si mesmo para poder tornar-se o que se é, o autor se pergunta: 

“Mas como nos encontrar a nós mesmos? 
Como o homem pode se conhecer?”. 

Após estas perguntas que servem como um roteiro de busca da sua própria individualidade, o autor oferece um caminho:

Que a jovem alma se volte retrospectivamente para sua vida e faça a seguinte pergunta: 

‘O que verdadeiramente amaste até agora,
que coisas te atraíram, pelo que tu te sentiste dominado
e ao mesmo tempo totalmente cumulado?

Faz passar novamente sob teus olhos a série inteira destes objetos venerados, e talvez eles te revelem, por sua natureza e por sua sucessão, uma lei, a lei fundamental do teu verdadeiro eu.

Conclusão.

Eis o caminho ofertado pelo filósofo 
para que através de uma educação para a cultura 
o homem conheça a si próprio, torne-se o que é,
e vá além de si próprio, supere-se.

Por fim gostaríamos de indicar aqui o último grande elemento de uma pedagogia nietzscheana: 

“Contribuição ao “sistema educacional”:
- Na Alemanha falta aos homens superiores
um grande meio de educação: 
a risada dos homens superiores; 
estes não riem na Alemanha.”.

Apesar da dureza de suas palavras, o bom-humor, e a alegria são constantes na obra de Nietzsche, logo, não poderiam deixar de estar presentes em seu “pensamento educacional”. Todavia, o autor não poderia, vendo o total adoecimento do homem europeu, continuar a filosofia que ele identificou como a responsável pelo enfraquecimento do homem. Por isso, se por um lado a filosofia de Nietzsche é a filosofia da ruptura, por outro, mostra possibilidades diversas para elevar o homem. Mas apenas aqueles que se afastarem das necessidades da massa poderão conhecer este caminho... Que os mais forte se propensos apareçam!

A despeito de Nietzsche não ser um teórico da educação par excellence a aplicação do seu pensamento à educação mostra-se como um caminho fértil, desde que se leia Nietzsche profundamente, e se não destituído, ao menos afastado dos preconceitos morais, científicos e políticos da modernidade.

O pensamento de Nietzsche torna-se mais agudo justamente quando analisa as práticas e discursos que tornaram século XX um dos mais bárbaros na história da humanidade, e que já inserem o “jovem” século XXI nesta história de guerra e violência, em suma, na história humana da barbárie.
Abstract
The objective of this work is to do an analysis of a part of Nietzsche’s thought that is not too much explored, that is its application to the education. We will show the relationship between the concepts of barbarism used by the philosopher and the education of the modern men. For this, will be used several books of the three most common periods in what Nietzsche’s philosophy is divided, for believing that there is not discontinuity in his works, neither in the thematic field nor in the methodological field, only some changes about the humans models adopted by Nietzsche in his youth period and those adopted in his intermediary and final period.
Key words: barbarism - culture - education.
Bibliografia.
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______, Escritos Sobre Educação. Tradução, apresentação e notas: Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2003.
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______, A Gaia Ciência. Tradução, notas e posfácio.: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras 2001.
______, Além do Bem e do Mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Tradução, notas e posfácio: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras 1992.
______, Ecce Homo: como alguém se torna o que é. Tradução, notas e posfácio: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras 1995.
______, Crepúsculo dos Ídolos. Tradução: Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000. (Conexões 8).
______, A “Grande Política”, fragmentos. Introdução, seleção e tradução: Oswaldo Giacóia Jr.. Campinas: Departamento de Filosofia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas-IFCH-UNICAMP, 2002.
______, Fragmentos Finais. Seleção, tradução e prefácio: Flávio R. Kothe. Brasília: Editora universidade de Brasília, São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002.
MATTÉI, Jean-François. A Bárbarie Interior: ensaio sobre o i-mundo moderno. Tradução: Isabel M. Loureiro. São Paulo; Unesp, 2002.
Oswaldo Giacóia Jr.. Barbárie e Civilização. In: ROSENFIELD, Denis L. e MATTÉI, Jean-François [org.]. O Terror. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002.
ONATE, Alberto Marcos. Entre eu e si , ou, A questão do humano na filosofia de Nietzsche. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003.
HORKHEIMER, Max e ADORNO, Theodor W. Dialética do Esclarecimento. (II excurso). Tradução: Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985.
 *  - Forte = perseverante, determinado - confiante
** - Calma aí, Sr Nietzsche, isso está previsto desde a origem ,desde a formação do homem - é a sua herança a ser conquistada, pela educação , pela superação do instinto cativo-horizontal de cego rebanho , vencer, como todo infante-adolescente,todas as etapas, até alcançar o aprimoramentode si mesmo e  da raça, quando  e sómente então estará experenciando afinal  o autoconhecimento; o de ser e estar integrado- integrante  coletivo.
Ciente e despojado  das dores dos conflitos de milênios é quando se tornará merecida-mente, bom Regente, conhecendo bem sua notação inscrita na partitura da  própria música  interior, daí nada e ninguém, nenhuma barbárie o derruba - E este é o primeiro gesto verdadeiramente humano, capaz de levantá-lo e mantê-lo na vertical, bem diante do degrau, se não do pódio terreno apontado para outras dimensões de universos insondáveis,que aguardam  novíssimos  " trabalhos e mais descobertas" . (Radeir)

*** - Jesus também disse isto e primeiro , ao afirmar:
          " Eu não vim trazer a paz, mas a espada"
Vagner da Silva
Mestre em Filosofia Puc-Campinas.
vagnerdasilva@hotmail.com
Fonte:
Revista Eletronica Morfpheus
http://www.unirio.br/morpheusonline/Vagner%20Silva.htm
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

NIETZSCHE, CRÍTICO DA EDUCAÇÃO MORAL E IMORALISTA

    DESDE QUE NÃO SOMOS MAIS TRÁGICOS: NIETZSCHE, CRÍTICO DA EDUCAÇÃO MORAL E IMORALISTA

    Ana Carolina da Costa e Fonseca



    Resumo
    A partir de uma passagem de O crepúsculo dos ídolos, discute-se o que Nietzsche entende por moralidade, de que modo a pretensão de melhorar os seres humanos pela educação moral transforma-os em animais de rebanho, bem como, por que educar moralmente significa domesticar. Por fim, discute-se em que sentido Nietzsche é um imoralista.

    Nietzsche considera Sócrates 
o criador da moral como um problema
devido à sua pretensão de distinguir 
o bem do mal de modo absoluto. 

Durante o período trágico,
bem e mal eram aspectos da mesma ação.

Neste trabalho, discute-se inicialmente o problema da moralidade em relação ao significado da atribuição de valor moral às ações, em especial, em relação ao significado da pretensão de melhorar a humanidade pelo ensino do valor atribuído às ações. 

Após, expõe-se em que consiste a imoralidade de Nietzsche e seu critério para avaliar as ações. Por fim, discute-se o novo problema filosófico que Nietzsche nos propõe, bem como, em que sentido a educação moral acarreta o surgimento de um determinado gênero humano, o animal de rebanho, que se compara com o tipo humano trágico. Toma-se por ponto de partida a seguinte passagem:

    Em todos os tempos quis-se “melhorar” os homens: este anseio antes de tudo chamava-se moral. Mas sob a mesma palavra escondem-se todas as tendências mais diversas. 

Tanto a domesticação da besta humana
quanto a criação de um determinado gênero de homem 
foi chamada “melhoramento”. 
(CI, Os “melhoradores” da humanidade,  
2; KSA, v. 6, p. 99) (está grifado no original).

    Destacam-se as expressões “moral”, “melhorar os homens”, “domesticação”, e “criação de um determinado gênero de homem”, que são utilizadas como fio condutor deste trabalho e discutidas em comparação com outras passagens da obra de Nietzsche.

    Entende-se moral ou moralidade como conjunto de regras de conduta. A moralidade estabelece os comportamentos considerados adequados e os comportamentos considerados inadequados para os seres humanos nas suas relações com outros seres humanos e consigo mesmos, ou seja, “com base na sua determinação vigente [da moralidade] é decidido se uma ação é moral ou imoral” (HDH I, 42; KSA, v. 2, p. 65-66). Fazem-se juízos de valor a respeito das ações, que são, de fato, interpretações.

Nesse sentido, a afirmação “[n]ão existem fenômenos morais, apenas uma interpretação moral dos fenômenos” (BM, 108; KSA, v. 5, p. 92) significa que às ações em si não corresponde um valor moral, ao contrário, o valor decorre da interpretação. 

“O que quer que tenha valor no mundo de hoje
não o tem em si, conforme sua natureza 
- a natureza é sempre isenta de valor:
- foi-lhe dado, oferecido um valor, 
e fomos nós esses doadores e ofertadores!” 
(GC, 301; KSA, v. 3, p. 540) (está grifado no original). 

As ações são valoradas 
porque os seres humanos as interpretam 
e atribuem um valor à sua interpretação, 
desse modo, não a ação em si, mas a interpretação 
da ação revela(dora da) uma moralidade.

A crítica de Nietzsche à moralidade é uma crítica tanto à criação da moralidade e sua conseqüente problematização, como à valoração decorrente da moralidade. Tem-se, portanto, a criação de uma moralidade decorrente da suposição de que as ações podem ser valoradas positiva ou negativamente de modo absoluto como a primeira etapa do problema da moralidade.

    Após o ser humano saber que deve agir moralmente, ou seja, que deve agir de acordo com as condutas ditas boas, ou morais, ele estabelece um modo de ensinar a todos a maneira de se conduzir moralmente. Educação moral é o modo pelo qual alguns seres humanos ensinam a maioria a agir moralmente. 

Agir moralmente significa, 
usualmente, agir de uma maneira melhor. 

Nietzsche, contudo, considera essa afirmação equivocada. Para Nietzsche, a educação moral torna o ser humano escravo porque ensina o ser humano a agir de maneira homogeneizada: suprime-se o diferente, o que pulsa em cada um tornando-o um indivíduo. Nietzsche menciona alguns modos de educação moral.

    A prolongada sujeição do espírito, a desconfiada coerção na comunicação dos pensamentos, a disciplina que se impôs o pensador, a fim de pensar sob uma diretriz eclesiástica ou cortesã ou com pressupostos aristotélicos, a duradoura vontade espiritual de interpretar todo acontecimento segundo um esquema cristão, o redescobrir e justificar o Deus cristão em todo e qualquer acaso .... essa tirania, esse arbítrio, essa extrema e grandiosa estupidez educou o espírito; ao que parece, a escravidão é, no sentido mais grosseiro ou no mais sutil, o meio indispensável também para a disciplina e cultivo espiritual. (BM, 188; KSA, v. 5, p. 109) (Está grifado no original.)

    Pela educação moral 
pretende-se tornar o ser humano melhor. 
O “melhoramento” consiste em adequar 
o comportamento humano aos comportamentos
estabelecidos como aceitáveis. 

Isso acarreta a aniquilação do indivíduo devido a i) limitar o ser humano a preceitos conhecidos e aceitos por alguns, ii) impor aos seres humanos valores que eles não escolheram para si. Com a moralidade, consideram-se morais apenas os seres humanos que agem de acordo com o padrão de ser humano moral criado pelo próprio ser humano. Para Nietzsche, melhorar é sinônimo de domesticar. 

É preciso ressaltar que apesar do esforço empreendido por muitos pensadores, 

o ser humano ainda não chegou
a um consenso sobre qual é o padrão 
de conduta humana desejável

Se houver um padrão de conduta humana que possa ser descoberto pela razão, a busca desse padrão é justificável. Porém, a defesa de que o ser humano deve ser o criador de seus próprios valores pressupõe que não haja valores absolutos. Se houver valores absolutos não é possível que o ser humano haja moralmente e crie seus próprios valores simultaneamente.

    Nietzsche utiliza a palavra domesticação, que se refere ao que os seres humanos fazem com os animais irracionais, para se referir ao que seres humanos fazem com outros seres humanos. Domesticar é adequar as atitudes do animal - irracional ou racional - que está sendo domesticado à conveniência do animal - racional, ou seja, do ser humano - que está domesticando, de modo a tornar as atitudes do primeiro agradáveis e compatíveis com as expectativas do segundo.

Os animais não se tornam melhores
porque são domesticados, eles se tornam 
o que os seres humanos gostariam que eles fossem.

Após serem domesticados, os animais perdem suas características naturais, o que acarreta o surgimento de um novo animal tão inofensivo quanto impotente.

    Chamar a domesticação de um animal seu “melhoramento” soa, para nós, quase como uma piada. Quem sabe o que acontece nos amestramentos em geral duvida de que a besta seja aí mesmo “melhorada”. Ela é enfraquecida, tornam-na menos nociva, ela se transforma em uma besta doentia através do afeto depressivo do medo, através do sofrimento, através das chagas, através da fome. - Com os homens domesticados que os sacerdotes “melhoram” não se passa nada diferente. (CI, Os “melhoradores” da humanidade, 2; KSA, v. 6, p. 99) (Está grifado no original.)

    O que se entende por educação moral, Nietzsche considera uma forma de domesticação. Melhorar equivale a enfraquecer e acarreta o enfraquecimento do ser humano. Tornar o ser humano adequado significa homogeneizar suas ações, ou seja, substituem-se a criatividade e os impulsos por padronizações. 

O ser humano melhoré fraco (?) 
e deixa de ter sua capacidade 
de autodeterminação. 

A tentativa de agir constantemente de acordo com o instituído ocasiona o esquecimento da sua condição de ser humano que deseja e cria. Seu desejo passa a ser apenas o de se adequar, sua vontade de potência é esquecida, há vontade de ser igual, ou vontade de não-ser.

    [Q]ue ingenuidade patética é em geral dizer que o “homem deveria ser de tal ou tal modo!” .... mesmo quando o moralista se volta simplesmente para o indivíduo e lhe diz: “tu deverias ser de tal e tal modo!”, ele não deixa de se tornar risível. (....)

Dizer-lhe [ao indivíduo] “transforma-te” significa exigir que tudo se transforme, até mesmo ainda o que ficou para trás... E, realmente, houve moralistas conseqüentes; eles queriam os homens diversos, mesmo virtuosos, eles os queriam à sua imagem, mesmo beatos: para tanto eles negavam o mundo! 

(....) a moral é uma idiossincrasia 
de degenerados que provocou 
muitos e indizíveis danos!...

Nós outros, nós imoralistas, ao contrário, abrimos amplamente nosso coração para todo tipo de entendimento, compreensão e aprovação. Não negamos facilmente, buscamos nossa honra no fato de sermos afirmativos. (CI, Moral como contranatureza, 6; KSA, v. 6, p. 86-87) (Está grifado no original.)

    Para ser afirmativo 
é preciso superar o medo ou o temor. 

Devido ao sentimento de medo, o ser humano comportar-se da maneira que lhe parece ser a mais segura. 

A moral provoca no ser humano 
uma sensação de segurança,por isso 
“o temor é aqui novamente o pai da moral”
 (BM, 201; KSA, v. 5, p. 122). 

Atendo-se à moral, o ser humano sabe como agir - ele não se surpreende consigo mesmo - e sabe como os outros podem agir - as atitudes alheias são compreensíveis e previsíveis.(?)_ A moral passa a ser um padrão(rebanho!) e torna qualquer análise particular desnecessária. É preciso apenas conferir se determinada ação está elencada como uma ação de acordo com os critérios morais. Se estiver, recebe o rótulo de moral, se não estiver, de imoral.

    Educar moralmente significa negar a vida. Contra a moralidade vigente, Nietzsche propõe a imoralidade afirmativa, que não nega a vida pelo estabelecimento de padrões criados pelo próprio ser humano e ditos superiores após sua criação. Os padrões ditos superiores negam a vida por dois motivos: por negarem sua origem humana, ou seja, por negarem que os seres humanos possam ser criadores de valores; e por pretenderem limitar as ações humanas às ações consideradas morais.

A superação da moral - e da educação moral - poderá ocorrer, afirma Nietzsche, pela superveniência de um período extramoral, no qual os conceitos serão considerados além do bem e do mal. Desse modo,

seres humanos voltarão 
a ser afirmativos em relação à vida, 
como o tipo humano trágico fora outrora 
( no  Olimpo?) (BM, 32; KSA, v. 5, p. 51).( no  Olimpo?eu)

    Nietzsche critica a moralidade decorrente da distinção entre bom e mau, mas ele mesmo distingue o que é bom do que é mau.

“O que é bom? 
- Tudo o que aumenta o homem
no sentimento de poder, a vontade de poder,
o próprio poder. 

O que é mau?
- Tudo o que nasce da fraqueza.”
(AC, 2; KSA, v. 6, p. 170) 

Esta atitude é aparentemente contraditória, pois Nietzsche estabelece critérios para que se interprete as ações e para que se considerem algumas ações boas e outras más. Contudo, a diferença entre Nietzsche e os filósofos que o precederam, é que Nietzsche considera que a vida deve ser o critério de julgamento das ações, isto é, a vida deve ser o critério de julgamento da própria vida. 

Ter a vida como critério de julgamento significa
“permanecer fiel à terra” 
(Z, I, Prefácio de Zaratustra, 3; KSA, v. 4, p. 15).

    A distinção entre bem e mal 
compõe o processo de simplificação
das relações no mundo.

Simplificam-se critérios de avaliação das ações próprias e das ações alheias classificando as ações em duas categorias: bom e mau. Essa distinção considera que ser ou bom ou mau é intrínseco à própria ação. Nietzsche pergunta sobre os motivos pelos quais as ações precisam ser distinguidas e classificadas em boas e más.

    Exigindo que os filósofos se coloquem para além do bem e do mal, e exigindo que os filósofos considerem o ilusório e o criado como ilusório e criado, e não como dado e absoluto, Nietzsche não está fazendo o mesmo que já foi feito. Ele não está criando valores e pretendendo que todos creiam nos mesmos valores. Se Nietzsche oferecesse seus valores como válidos para todos, sua crítica não teria sentido, pois ele estaria agindo exatamente do modo como critica. Ao contrário, 

Nietzsche afirma ser possível escolher 
entre diversos valores, mas relembra que a criação
dos próprios valores acarreta responsabilidade 
em relação aos valores criados.

    Interpretar é valorar.
 
“[E]m sua maior parte, 
o pensamento consciente de um filósofo
é secretamente guiado e colocado 
em certas trilhas pelos seus instintos. 

Por trás de toda lógica e de sua aparente soberania de movimentos existem valorações, ou, falando mais claramente, exigências fisiológicas para a preservação de uma determinada espécie de vida.” (BM, 3; KSA, v. 5, p. 17). No mesmo sentido, em outra passagem, Nietzsche se refere aos valores e à moral como necessários para a conservação do ser humano. 

“Valores foi somente o homem
que pôs nas coisas, para se conservar 
- foi ele somente que criou sentido para as coisas,
um sentido de homem!” 
(Z, I, Dos mil e um alvos; KSA, v. 4, p. 75).

A afirmação que se segue a uma interpretação que atribui valor a algo é uma valoração criada pelo ser humano e, segundo Nietzsche, sua origem pode e deve ser investigada. Essa é a exigência de uma crítica dos valores morais para, por meio desta crítica, descobrir o valor dos valores, ou seja, descobrir como os valores em si são avaliados e valorados. 

A crítica do valor dos valores, isto é, a crítica do valor atribuído aos valores, explica por que o ser humano convenciona considerar o bom superior ao mau, e por que as ações são classificadas ou como boas ou como más. 

“[F]ica evidente 
que o mundo não é nem bom nem mau, 
e tampouco o melhor ou o pior, 
e os conceitos ‘bom’ e ‘mau’ 
só têm sentido em relação aos homens,
e mesmo aí talvez não se justifiquem 
do modo como são habitualmente empregados....”  
(HDH I, 28; KSA, v. 2, p. 49). 

Nada é ou bom ou mau em si,
todo valor atribuído a algo tem como origem
o ser humano e sua interpretação. 

Nietzsche faz uma nova exigência: “Enunciemo-la, esta nova exigência: necessitamos de uma crítica dos valores morais, o próprio valor desses valores deverá ser colocado em questão” (GM, prólogo, 6; KSA, v. 5, p. 253) (está grifado no original). 

A novidade desta exigência
não está em ser outra exigência de Nietzsche,
mas em ser uma nova exigência para a filosofia,
um novo problema a ser resolvido.

    Para colocar em questão o valor dos valores é necessário conhecer as condições de surgimento e desenvolvimento desses valores. Este é, segundo Nietzsche, “um conhecimento tal como até hoje nunca existiu nem foi desejado” (GM, prólogo, 6; KSA, v. 5, p. 253). 

Até Nietzsche o valor dos valores 
é considerado algo dado, que, por isso, 
não precisa ser questionado. 

Contudo, Nietzsche suspeita desse padrão de julgamento dos valores e pergunta o que aconteceria se o julgamento concluísse o oposto disso.

    E se o contrário fosse a verdade? E se no “bom” houvesse um sintoma regressivo, como um perigo, uma sedução, um veneno, um narcótico, mediante o qual o presente vivesse como que às expensas do futuro? Talvez de maneira mais cômoda, menos perigosa, mas também num estilo menor, mais baixo?.... De modo que precisamente a moral seria culpada de que jamais se alcançasse o supremo brilho e potência do tipo homem? De modo que precisamente a moral seria o perigo entre os perigos? (GM, prólogo, 6; KSA, v. 5, p. 253) (Está grifado no original.)

    A obra de Nietzsche é um sonoro sim a estas questões. O bom é sintoma de regressão, de perigo, ele seduz e envenena pelo que promete, pela superioridade que sugere conter em si. Nietzsche inverte a perspectiva de análise dos conceitos bom e mau, com isso evidencia que há um valor dos valores morais e considera toda interpretação uma valoração. Nietzsche critica a moralidade como uma criação humana e investiga sobre sua origem. 

Contudo, critica-se a moral não por ela ser criação humana, mas porque sua origem humana é esquecida, porque alguns seres humanos criam valores para si e para os outros e porque a maioria dos seres humanos adota valores alheios sem compreender o que justifica a escolha desses valores, ou seja, sem tomá-los para si. Desse modo, agem como se fossem animais de rebanho.

    Ser animal de rebanho significa agir do modo como os outros agem, e com isso, eliminar o que há de único em si. O ser humano que é chamado animal de rebanho não é um indivíduo com características e vontades próprias. Ao contrário, ele é mais um entre os membros de uma coletividade, ao qual se impõe que aja, pense e julgue moralmente como todos. 

A moral estabelece um limite
além do qual o ser humano não pode aspirar,
pois além deste limite o ser humano
não é mais controlado 
e deixa de compor o rebanho.

Esse limite dá segurança aos seres humanos enfraquecidos i) porque estabelece as condutas que podem ser escolhidas como condutas próprias, ii) porque torna as ações alheias previsíveis. Sabendo como o outro agirá, o ser humano enfraquecido sabe como deve reagir.

    [O] que aqui julga saber, o que aqui se glorifica com seu louvor e seu reproche, e se qualifica de bom, é o instinto do animal de rebanho do homem: o qual irrompeu e adquiriu prevalência e predominância sobre os demais instintos, fazendo-o cada vez mais, conforme a crescente aproximação e assimilação fisiológica de que é sintoma. Moral é hoje, na Europa, moral de animal de rebanho.... (BM, 202; KSA, v. 5, p. 124) (Está grifado no original.)

    Animais de rebanho 
são seres educados moralmente, 
que aceitam essa educação 
e agem de acordo com ela. 

Eles são ditos animais porque sua racionalidade é necessária apenas para a identificação de padrões e para que as próprias condutas possam ser adequadas a esses padrões. Eles são ditos de rebanho porque agem como membros de uma coletividade homogeneizada.

    O enfraquecimento do espírito humano
é a causa da distinção entre bom e mau.

Os animais de rebanho precisam de critérios objetivos e externos para avaliar ações próprias e alheias porque não conseguem ser criadores de seus próprios valores. Enquanto o ser humano nobre cria valores para si, o ser humano enfraquecido, animal de rebanho, vive de acordo com os valores criados por outros e torna-se, desse modo, previsível.  

A previsibilidade ameniza o medo
do ser humano fraco em relação ao horror do mundo. 

A moral é criação do ser humano enfraquecido
que não consegue conviver com a incerteza 
da realidade efetiva e, desse modo, a moral revela
o instinto de rebanho.

    Instinto de rebanho. 
- Onde quer que deparemos com uma moral, 
encontramos uma avaliação e hierarquização 
dos impulsos e atos humanos. 

Tais avaliações e hierarquizações sempre constituem expressão das necessidades de uma comunidade, de um rebanho: aquilo que beneficia este em primeiro lugar - e em segundo e terceiro - é igualmente o critério máximo quanto ao valor de cada indivíduo.

Com a moral o indivíduo é levado 
a ser função do rebanho e a se conferir valor 
apenas enquanto função.

Dado que as condições para a preservação de uma comunidade eram muito diferentes daquelas de uma outra comunidade, houve morais bastante diferentes; e, tendo em vista futuras remodelações essenciais dos rebanhos e comunidades, pode-se profetizar que ainda aparecerão morais muito divergentes. Moralidade é o instinto de rebanho do indivíduo. (GC, 116; KSA, v. 3, p. 475) (Está grifado no original.)

    Diferentes grupos reagem de diferentes modos em relação à realidade efetiva. As diferentes reações expressam-se por diferentes moralidades. Grupos que atribuem às diferentes moralidades papel uniformizador do comportamento são grupos com instinto de rebanho. 

As moralidades são criadas 
para justificar ações suportáveis 
e para proibir a manifestação do insuportável.

Elas são diferentes porque o considerado insuportável varia no tempo e no espaço. Contudo, as moralidades têm em comum a negação do instinto criador do ser humano, que, segundo Nietzsche, é parte constitutiva do tipo humano que afirma a vida.

    Existem morais que pretendem justificar perante os outros o seu autor; outras morais pretendem acalmá-lo e deixá-lo contente consigo mesmo; com outras ele quer crucificar e humilhar a si mesmo; com outras ele quer vingar-se, com outras esconder-se, com outras transfigurar-se e colocar-se nas alturas; essa moral serve para o autor esquecer, aquela, para fazê-lo esquecer de si mesmo ou de algo de si;

alguns moralistas gostariam
de exercer sobre a humanidade seu poder 
e seu capricho criador.... 
(BM, 187; KSA, v. 5, p. 107)

    A origem da necessidade de distinção
entre bem e mal é atribuída a Sócrates. 

Sócrates não sabe quais ações podem ser ditas boas e quais ações podem ser ditas más, mas ele acredita que o ser humano possa saber. Segundo Nietzsche, por influência socrática, as sociedades ocidentais aceitam a existência da distinção entre bem e mal e dividem as ações em boas e más. Não apenas nossos pensamentos morais, mas a moral como um problema, surge com Sócrates (BM, 191; KSA, v. 5, p. 112). Esse é um dos aspectos pelos quais se distinguem os tipos humanos trágico e socrático. Depois de ocorrido o primeiro ato de criação, a moral se transmite e transforma-se por diversas formas de educação. Os sucessivos atos de transformação correspondem às diversas formas de educação moral.

    Nietzsche se considera um filósofo que cria valores e reconhece que outros filósofos também criam valores. Podem-se criar valores que afirmem e valores que neguem a vida, para si e para os outros.Nietzsche cria valores para si e propõe que cada indivíduo seja criador de seus próprios valores. 

“Nós, porém, queremos nos tornar 
aqueles que somos - os novos, únicos, incomparáveis, 
que dão leis a si mesmos, que criam a si mesmos!”
(GC, 335; KSA, v. 3, p. 563) (Está grifado no original.)

“Vede bons e justos! 
Quem eles odeiam mais? 
Aquele que quebra suas tábuas de valores, 
o quebrador, o infrator: - mas este é o criador. 

Vede os crentes de toda crença! Quem eles odeiam mais? Aquele que quebra suas tábuas de valores, o quebrador, o infrator: - mas este é o criador.” (Z, I, Prefácio de Zaratustra, 9; KSA, v. 4, p. 26). 

Ser criador de valores 
acarreta ser responsável por suas próprias escolhas, 
desse modo, não há qualquer tipo de educação moral 
na filosofia deste imoralista. 

Nietzsche substitui o ensino de uma moralidade, como um conjunto de valores, pelo ensino do desenvolvimento da capacidade de criar valores.
    Referências bibliográficas
    NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Kritische Studienausgabe. Organizado por Giorgio Colli e Mazzino Montinari. Berlin: de Gruyter, 1999. 15 v.
    ___. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
    ___. Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986.
    ___. Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
    ___. Crepúsculo dos Ídolos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000.
    ___. Genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
    ___. Humano, demasiado humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
    ___. O Anticristo. Lisboa: Edições 70, s.d.

    Abstract
    This article discusses Nietzsche’s conception of morality, concerning specially the relation between the human being improvement and its moral education. The latter transforms them in flock animals. It is also discussed why to educate means to domesticate. Finally, it is argued in what sense Nietzsche is an immoralist.

    Nietzsche - educação - moralidade
    Ana Carolina da Costa e Fonseca
    Bacharela em Direito (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS) Mestre e doutoranda em Filosofia (UFRGS)
    (atualmente realizo estágio de doutoramento na Humboldt Universität em Berlin)
    ana@orion.ufrgs.br

Fonte:
Revista Eletrônica Morpheus
http://www.unirio.br/morpheusonline/Ana%20Fonseca.htm
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.