O único livro de ficção do Carl
Sagan é um dos mais realísticos relatos de como seria o contato com uma
civilização extraterrestre.
Alpha Lyrae (α Lyr), Vega -
Alpha Lyrae (α Lyr), Vega -
O que falar do único romance que o grande mestre Carl Sagan escreveu? Já o li duas vezes e toda vez que fecho a última página fico dias refletindo sobre o livro, que traz reflexões pertinentes sobre a ciência e a religião, os caminhos que o ser humano está tomando como espécie e as pesquisas em busca de inteligência extraterrestre.
Esse é o ponto de partida de Carl Sagan, que, aliando as tensões da melhor literatura ao conhecimento científico mais avançado, compõe um romance que pode provocar em nós todas as reações – menos a indiferença. Em Contato, o que está em jogo é um mundo tal como conhecemos. Como quem faz uma aposta, Sagan nos convida a uma viagem assustadoramente fascinante pelo buraco negro que é a inteligência humana.
– Em tempos passados, na Turquia, o noivo e a noiva tinham de prometer um ao outro nunca deixar de providenciar café nas suas vidas.
O livro é dividido em três partes: A primeira que conta um pouco a infância de Ellie,
a personagem principal, até a recepção de uma mensagem de seres
inteligentes vinda da estrela de Vega. Eles descobrem que nessa mensagem
há um projeto para a construção da máquina, e todas as complicações que
a possível construção dessa máquina é contada na segunda parte. Já a
terceira, e mais incrível, conta da viagem que Ellie e mais quatro
tripulantes fazem ao centro da galáxia. Vamos esmiuçar cada parte?
Primeira parte: A mensagem
Quem é Ellie Arroway?
Uma apaixonada pelo espaço desde criança? Uma garota que precisou
quebrar preconceitos, sendo um deles de mulher na ciência? A cientista
mais importante da história, a partir da descoberta dos sinais
extraterrestres de Vega? Talvez… talvez. Mas querem saber o que eu realmente penso? Temos aqui nesse livro o alter-ego de Carl Sagan.
Oras, vemos uma mulher (Carl Sagan era
feminista) apaixonada pelo universo desde criança, aos moldes da
infância que Sagan contou em O mundo assombrado pelos demônios. Ellie é uma ferrenha defensora do SETI (porcamente traduzido para PIET
no livro), que busca sinais extraterrestres em radiotelescópios (isso
realmente existe), assim como Carl. Sobre religião, Ellie e Sagan são
agnósticos, não afirmam com veemência a inexistência de Deus,
e olham sem desdenho para as religiões e seu papel no mundo. Além de
serem obcecados pela possibilidade de vida fora do planeta Terra. Eles
não são parecidos?
Apesar de todos os conflitos dentro da
própria comunidade científica sobre o SETI, Ellie tornou-se diretora do
radiotelescópio de Arecibo. E lá, ela pode focar suas pesquisas na
varredura das estrelas do céu. Surpreendentemente, em um dia qualquer,
sinais composto de números primos começam a vir da estrela de Vega.
Poderia alguma força natural do universo
produzir números primos? Aqueles números que só são divisíveis por 1 e
ele mesmo só podiam ser produzidos por outra civilização inteligente.
Mas nem só de números primos
constituía-se a mensagem, em uma modulação diferente (não sei muito bem
explicar essa parte científica) eles descobriram que tinha uma
transmissão de televisão terrestre. O grupo logo concluiu que seria uma
forma de dizer: “Hey, vocês estão transmitindo ondas de rádio, vamos
mandar pra vocês a primeira de sua transmissão televisiva para verem
que recebemos, que atendemos a chamada.” Mas sabe o problema desta parte? A primeira transmissão televisiva forte o suficiente para se propagar pelo espaço foi de Hitler
na abertura dos Jogos Olímpicos de 1936. Não preciso nem dizer que isso
foi um baque forte para a humanidade. O nosso embaixador para os
extraterrestres era logo ele? Era o sonho do louco.
Mas não acabava por aí, em outra
modulação continha OUTRA mensagem, desta vez, depois de várias análises,
entenderam que era um manual para a construção de uma máquina.
Segunda parte: A máquina
A humanidade deveria construir a
máquina? E se ela fosse um cavalo de troía? Ou uma máquina do juízo
final? Nesse instante a humanidade já tinha virado ao avesso. Começava a
surgir um sentimento de unificação, que éramos um planeta. Estados Unidos e Rússia
diminuíram os arsenais nucleares, mas ao mesmo tempo, religiões
surgiam, e outras estavam tentando se adequar a nova realidade. O que me
faz pensar se realmente teríamos uma unificação ou um colapso total.
A máquina, então, foi construída. Nesse instante da história surge Hadden,
um bilionário dono de uma empresa muito controversa nos Estados Unidos:
ele criava dispositivos que fazia a televisão mudar de canal quando
havia comerciais e até para quando houvesse programas religiosos.
Segundo ele, era o único capaz de construir uma máquina como a descrita,
pois detinha os melhores cientistas do mundo.
E voilá, a máquina ficou pronta: e tinha lugar para cinco pessoas, um deles era de Ellie. Para onde a máquina os levaria?
Terceira parte: A galáxia
Melhor do que vocês lerem, vejam uma cena do filme, sobe a viagem:
Essa é a parte mais incrível do livro.
Eles chegam até o centro galáctico, onde existem muitos atracadouro de
máquinas, e a deles era apenas uma. O universo estava cheio de vida, e
eles finalmente foram convidados a irem até o centro galáctico.
Logo que eles saíram da máquina, uma
surpresa: era uma praia idêntica a uma tropical da Terra, mas tudo não
passava de uma simulação. Cada um dos tripulantes encontrou alguém que
amava muito. Ellie encontrou seu pai falecido, mas logo perceberá que
era uma simulação, mas muito bem feita.
Carl Sagan arranjou uma maneira muito
perspicaz de evitar ter que descrever como eram os seres extreterrenos:
eles estavam falando pelas simulações humanas.
Ellie perguntará como era o sistema de
transporte deles, o que achavam da espécie humana e como eram seus mitos
e religiões. Apesar de já ter dado spoiler demais nesse artigo, não vou
contar todas as respostas, deixo a curiosidade.
Logo depois eles voltaram à Terra e
todas as fotos que eles tiraram foram apagadas (ou nem gravadas). Para a
Terra, não se passará mais do que alguns minutos e, sem nenhuma prova,
ninguém acreditou no que os tripulantes tinham visto, e foram obrigados a
esquecer a história. O governo cancelou a construção da máquina e
obrigou que todos eles mantivessem silêncio. Em um ato de piedade
presidencial (dos EUA), Ellie tem a permissão de voltar a trabalhar no
radiotelescópio de Arecibo, e quem sabe, conseguir provas.
Sua mãe morrerá na volta, devido as
complicações de um derrame que ela teve quando Ellie não tinha tempo
para visitá-la no asilo. E uma carta que deixou pós-mortem, sua
mãe contava que seu pai, na verdade, era seu padrasto, a quem ela nunca
deu uma chance de um bom relacionamento. Ela concluiu que “Toda sua
carreira tentara fazer contato com os mais remotos e exóticos dos
estranhos, enquanto em sua própria vida não fizera contato com
praticamente ninguém. Mostrara-se feroz em desmascarar os mitos de
criação de outras pessoas, esquecida da mentira que constituía a
essência do seu próprio mito. Durante toda a sua vida, estudara o
universo, mas desprezara sua mais clara mensagem: para criaturas
pequenas como nós, a vastidão só é suportável através do amor.”
E no fim, se descobrirá a assinatura do criador. O número π, depois de muitos aleatórios números, chegava-se a uma sequência binária de 0′s e 1′s. E nessa sequência havia claramente um círculo.
A prova de que o universo foi construído por algum criador, que julgava
que seres inteligentes, em qualquer parte do universo, descobririam sua
assinatura dividindo a circunferência de um círculo pelo seu diâmetro.
“Desde que vivas neste universo, e tenhas um modesto talento para a matemática, mais cedo ou mais tarde o encontrarás.”
Ellie encontrará o que buscava.
Você já leu Contato? Ou já assistiu ao filme? O que você achou? E com certeza ele traz muitas perguntas. Será que é possível uma viagem como a Ellie fez? Será que realmente podemos encontrar padrões geométricos no π ou é só ficção? Essas perguntas serão levantadas em um artigo futuro, portanto, fique de olho no Alimente o Cérebro