Psicologia
Introdução
A psicologia é a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais dos indivíduos (psiquismo), cabe agora definir tais termos
[3]:
- Dizer que a psicologia é uma ciência significa que ela é regida pelas mesmas leis do método científico as quais regem as outras ciências: ela busca um conhecimento objetivo, baseado em fatos empíricos. Pelo seu objeto de estudo a psicologia desempenha o papel de elo entre as ciências sociais, como a sociologia e a antropologia, as ciências naturais, como a biologia, e áreas científicas mais recentes como as ciências cognitivas e as ciências da saúde.
- Comportamento é a atividade observável (de forma interna ou externa) dos organismos na sua busca de adaptação ao meio em que vivem.
- Dizer que o indivíduo é a unidade básica de estudo da psicologia significa dizer que, mesmo ao estudar grupos, o indivíduo permanece o centro de atenção - ao contrário, por exemplo, da sociologia, que estuda a sociedade como um conjunto.
- Os processos mentais são a maneira como a mente humana funciona - pensar, planejar, tirar conclusões, fantasiar e sonhar. O comportamento humano não pode ser compreendido sem que se compreendam esses processos mentais, já que eles são a sua base.
Como toda a ciência, o fim da psicologia é a
descrição, a
explicação, a
previsão e o
controle do desenvolvimento do seu objeto de estudo. Como os processos mentais não podem ser observados mas apenas inferidos, torna-se o comportamento o alvo principal dessa descrição, explicação e previsão (mesmo as novas técnicas visuais da
neurociência que permitem visualizar o funcionamento do cérebro não permitem a visualização dos processos mentais, mas somente de seus
correlatos fisiológicos, ou seja, daquilo que acontece no organismo enquanto os processos mentais se desenrolam).
Descrever o comportamento de um indivíduo significa, em primeiro lugar, o desenvolvimento de métodos de observação e análise que sejam o mais possível objetivos e em seguida a utilização desses métodos para o levantamento de dados confiáveis. A observação e a análise do comportamento podem ocorrer em diferentes níveis - desde complexos padrões de comportamento, como a
personalidade, até a simples reação de uma pessoa a um sinal sonoro ou visual.
A
introspecção é uma forma especial de observação (ver mais abaixo o
estruturalismo). A partir daquilo que foi observado o psicólogo procura
explicar, esclarecer o comportamento. A psicologia parte do princípio de que o comportamento se origina de uma série de fatores distintos:
variáveis orgânicas (disposição genética, metabolismo, etc.), disposicionais (temperamento, inteligência, motivação, etc.) e situacionais (influências do meio ambiente, da cultura, dos grupos de que a pessoa faz parte, etc.). As
previsões em psicologia procuram expressar, com base nas explicações disponíveis, a
probabilidade com que um determinado tipo de comportamento ocorrerá ou não. Com base na capacidade dessas explicações de prever o comportamento futuro se determina a também a sua validade.
Controlar o comportamento significa aqui a capacidade de influenciá-lo, com base no conhecimento adquirido. Essa é parte mais prática da psicologia, que se expressa, entre outras áreas, na
psicoterapia[3].
Para o
psicólogo soviético A. R. Luria, um dos fundadores da
neuropsicologia a psicologia do homem deve ocupar-se da análise das formas complexas de representação da realidade, que se constituíram ao longo da história da sociedade e são realizadas pelo cérebro humano, incluindo as formas subjetivas da atividade consciente sem substituí-las pelos estudo dos processos fisiológicos que lhes servem de base nem limitar-se a sua descrição exterior. Segundo esse autor, além de estabelecer as leis da sensação e percepção humana, regulação dos processos de atenção, memorização (tarefa iniciada por
Wundt), na análise do pensamento lógico, formação das necessidades complexas e da personalidade, considera esses fenômenos como produto da história social (compartilhando, de certo modo com a proposição da
Völkerpsychologie de Wundt (ver mais abaixo "História da Psicologia") e com as proposições de estudo simultâneo dos processos neurofisiológicos e das determinações histórico-culturais, realizadas de modo independente por seu contemporâneo
Vigotsky).
[4]
Breve história da psicologia
Perspectivas históricas
"A psicologia possui um longo passado, mas uma história curta".
[5] Com essa frase descreveu
Herrmann Ebbinghaus, um dos primeiros psicólogos experimentais, a situação da psicologia - tanto em 1908, quando ele a escreveu, como hoje: desde a Antiguidade pensadores, filósofos e teólogos de várias regiões e culturas dedicaram-se a questões relativas à natureza humana - a percepção, a consciência, a loucura. Apesar de teorias "psicológicas" fazerem parte de muitas tradições orientais, a psicologia enquanto ciência tem suas primeiras raízes nos filósofos gregos, mas só se separou da
filosofia no final do século XIX.
O primeiro laboratório psicológico foi fundado pelo
fisiólogo alemão
Wilhelm Wundt em 1879 em
Leipzig, na
Alemanha. Seu interesse se havia transferido do funcionamento do corpo humano para os processos mais elementares de percepção e a velocidade dos processos mentais mais simples. O seu laboratório formou a primeira geração de psicólogos. Alunos de Wundt propagaram a nova ciência e fundaram vários laboratórios similares pela Europa e os Estados Unidos.
Edward Titchener foi um importante divulgador do trabalho de Wundt nos
Estados Unidos.
Mas uma outra perspectiva se delineava: o médico e filósofo americano
William James propôs em seu livro
The Principles of Psychology (1890) - para muitos a obra mais significativa da literatura psicológica - uma nova abordagem mais centrada na função da mente humana do que na sua estrutura. Nessa época era a psicologia já uma ciência estabelecida e até 1900 já contava com mais de 40 laboratórios na América do Norte
[3]
Estruturalismo
Em seu laboratório Wundt dedicou-se a criar uma base verdadeiramente científica para a nova ciência. Assim realizava experimentos para levantar dados sistemáticos e objetivos que poderiam ser replicados por outros pesquisadores. Para poder permanecer fiel a seu ideal científico, Wundt se dedicou principalmente ao estudo de reações simples a estímulos realizados sob condições controladas. Seu método de trabalho seria chamado de
estruturalismo por
Edward Titchener, que o divulgou nos Estados Unidos. Seu objeto de estudo era a estrutura consciente da mente e do comportamento, sobretudo as
sensações.
Um dos métodos usados por Titchener era a
introspecção: nela o indivíduo explora sistematicamente seus próprios pensamentos e sensações a fim de ganhar informações sobre determinadas experiências sensoriais. A tônica do trabalho era assim antes compreender o que é a mente, do os como e porquês de seu funcionamento. As principais críticas levantadas contra o Estruturalismo foram:
- Por ser reducionista, ou seja, querer reduzir a complexidade da experiência humana a simples sensações;
- Por ser elementarista, ou seja, dedicar-se ao estudo de partes ou elementos ao invés de estudar estruturas mais complexas, como as que são típicas para o comportamento humano e;
- Por ser mentalista, ou seja, basear-se somente em relatórios verbais, excluindo indivíduos incapazes de introspecção, como crianças e animais, do seu estudo. Além disso a introspecção foi alvo de muitos ataques por não ser um verdadeiro método científico objetivo[3].
Funcionalismo
William James concordava com Titchener quanto ao objeto da psicologia - os processos conscientes. Para ele, no entanto, o estudo desses processos não se limitava a uma descrição de elementos, conteúdos e estruturas. A mente consciente é, para ele, um constante fluxo, uma característica da mente em constante interação com o meio ambiente. Por isso sua atenção estava mais voltada para a
função dos processos mentais conscientes. Na psicologia, a seu entender, deveria haver espaço para as emoções, a
vontade, os
valores, as experiências religiosas e místicas - enfim, tudo o que faz cada ser humano único. As idéias de James foram desenvolvidas por
John Dewey, que dedicou-se sobretudo ao trabalho prático na educação
[3].
Gestalt, ou psicologia da forma
Uma importante reação ao funcionalismo e ao comportamentismo nascente (ver abaixo) foi a psicologia da
gestalt ou da forma, representada por
Max Wertheimer,
Kurt Koffka e
Wolfgang Köhler. Principalmente dedicada ao estudo dos processos de percepção, essa corrente da psicologia defende que os fenômenos psíquicos só podem ser compreendidos, se forem vistos como um todo e não através da divisão em simples elementos perceptuais. A palavra
gestalt significa "forma", "formato", "configuração" ou ainda "todo", "cerne". O gestaltismo assume assim o lema: "O todo é mais que a soma das suas partes"
[3]. Distinta da psicologia da
gestalt, escola de pesquisa de significado basicamente histórico fora da psicologia da percepção, é a
gestalt-terapia, fundada por Frederic S. Perls (
Fritz Perls).
O legado dos primórdios
Apesar de serem perspectivas já ultrapassadas, tanto o estruturalismo como o funcionalismo e a gestalt ajudaram a determinar o rumo que a psicologia posterior viria a tomar. Hoje em dia os psicólogos procuram compreender tanto as estruturas como a função do comportamento e dos processos mentais.
Perspectivas atuais
Segue uma descrição sucinta das principais correntes de pensamento que influenciam a moderna psicologia. Para maiores informações ver os artigos principais indicados e ainda
psicoterapia.
A perspectiva biológica
Apesar do
caduceu de Asclépio ser de apenas uma cobra para a
Medicina, também é usado envolto em duas, o que é mais visto em áreas voltadas ao comércio. Enquanto símbolo da
psicologia médica é usado juntamente com o emblema da
psicologia, a letra
grega "psi" = Ψ
A base do pensamento da perspectiva biológica é a busca das causas do comportamento no funcionamento dos
genes, do
cérebro e dos sistemas
nervoso e
endócrino. O comportamento e os processos mentais são assim compreendidos com base nas estruturas corporais e nos processos bioquímicos no corpo humano, de forma que esta corrente de pensamento se encontra muito próxima das áreas da
genética, da
neurociência e da
neurologia e por isso está intimamente ligada ao importante debate sobre o papel da predisposição genética e do meio ambiente na formação da pessoa. Essa perspectiva dirige a atenção do pesquisador à base corporal de todo processo psíquico e contribui com conhecimento básico a respeito do funcionamento das funções psíquicas como pensamento, memória e percepção
[3].
O processo saúde-doença merece uma atenção especial e pode ser compreendido de diferentes formas além do direcionado ao tratamento dos
distúrbios mentais propriamente ditos. Inicialmente abordados pela
psicopatologia, advinda da distinção progressiva do objeto da
neurologia e
psiquiatria e consolidação destas como especialidades médicas, a percepção da importância dos fatores
emocionais no adoecimento e recuperação da saúde já estavam presentes na
medicina hipocrática e
homeopatia contudo foi somente nos meados do século XX que surgiram aplicações da psicologia nas intervenções atualmente denominadas por
medicina psicossomática,
psicologia médica,
psicologia hospitalar e
psicologia da saúde.
[6]
Psicologia médica
A perspectiva psicodinâmica
Segundo a perspectiva psicodinâmica o comportamento é movido e motivado por uma série de forças internas, que buscam dissolver a tensão existente entre os instintos, as
pulsões e as necessidades internas de um lado e as exigências sociais de outro. O objetivo do comportamento é assim a diminuição dessa tensão interna. A perspectiva psicodinâmica teve sua origem nos trabalhos do médico
vienense Sigmund Freud (1856-1939) com pacientes psiquiátricos, mas ele acreditava serem esses princípios válidos também para o comportamento normal. O modelo freudiano é notoriamente reconhecido por enfatizar que a natureza humana não é sempre racional e que as ações podem ser motivadas por fatores não acessíveis à consciência.
Além disso Freud dava muita importância à infância, como uma fase importantíssima na formação da
personalidade. A teoria original de Freud, que foi posteriormente ampliada por vários autores mais recentes e influenciou fortemente muitas áreas da psicologia, tem sua origem não em experimentos científicos, mas na capacidade de observação de um homem criativo, inflamado pela idéia de descobrir os mistérios mais profundos do ser humano
[3].
A perspectiva analítica
Em reação à perspectiva psicodinâmica,
Carl Gustav Jung começou a desenvolver um sistema teórico que chamou, originalmente, de "
Psicologia dos Complexos", mais tarde chamando-o de "Psicologia Analítica", como resultado direto de seu contato prático com seus pacientes. Utilizando-se do conceito de "complexos" e do estudo dos sonhos e de desenhos, esta corrente se dedica a entender profundamente aos meios pelos quais se expressa o inconsciente.
Nessa teoria, enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o
inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os
arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, considera-se também provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico contendo alguma analogia com os instintos.
A perspectiva comportamentalista
A perspectiva comportamentalista procura explicar o comportamento pelo estudo de relações funcionais interdependentes entre eventos ambientais (estímulos) e fisiológicos (respostas). A atenção do pesquisador é assim dirigida para as condições ambientais em que determinado indivíduo enquanto organismo se encontra, para a reação desse indivíduo a essas condições, para as consequências que essa reação lhe traz e para os efeitos que essas consequências produzem.
Os adeptos dessa corrente entendem o comportamento como uma relação interativa de transformação mútua entre o organismo e o ambiente que o cerca na qual os padrões de conduta são naturalmente selecionados em função de seu valor adaptativo. Trata-se de uma aplicação do modelo
evolucionista de
Charles Darwin ao estudo do comportamento que reconhece três níveis de seleção - o filogenético (que abrange comportamentos adquiridos hereditariamente pela história de seleção da espécie), o ontogenético (que abrange comportamentos adquiridos pela história vivencial do indivíduo) e o cultural (restrito à espécie humana, abrange os comportamentos controlados por regras, estímulos verbais, transmitidos e acumulados ao longo de geraçãos por meio da linguagem). A
Análise do Comportamento, ciência que verifica tais postulados teóricos, baseia-se sobretudo em experimentos empíricos, controlados e de alto rigor metodológico com animais que levaram ao descobrimento de processos de
condicionamento e formulação de muitas técnicas aplicáveis ao ser humano. Foi uma das mais fortes influências para práticas psicológicas posteriores, a maior no hemisfério norte atualmente. Destaca-se das demais correntes da Psicologia por não se fundamentar em abordagens restritamente teóricas e pela exclusiva rejeição do modelo de pensamento dualista que divide a constituição humana em duas realidades ontologicamentes independentes, o corpo físico e a mente
metafísica - ou seja, nessa perspectiva processos subjetivos tais como emoções, sentimentos e pensamentos/cognições são entendidos como substancialmente materiais e sujeitos às mesmas leis naturais do comportamento, sendo logo, classificados como eventos ou comportamentos encobertos/privados.
Tal entendimento não rejeita a existência da subjetividade, como popularmente se imagina, mas destituí a mesma de um funcionamento automatista. As práticas terapêuticas derivadas desse tipo de estudo estão entre as mais eficientes e cientificamente reconhecidas e são, portanto, preferencialmente empregadas no tratamento de transtornos psiquiátricos.
O modelo de estudo analítico-comportamental
[A perspectiva humanista
Em reação às correntes Comportamentalista e Psicodinâmica, surgiu nos anos 50 do século XX a perspectiva existêncial-humanista, que vê o homem não como um ser controlado por pulsões interiores nem por condições impostas pelo ambiente, mas como um ser ativo e autônomo, que busca conscientemente seu próprio crescimento e desenvolvimento. A principal fonte de conhecimento do humanismo psicológico é o estudo biográfico, com a finalidade de descobrir como essa pessoa vivencia sua existência por meio de um introspeccionismo, ao contrário do
Comportamentalismo, que valoriza à observação externa.
A perspectiva humanista
procura um acesso
holístico para o ser humano,
A perspectiva cognitiva
A "virada cognitiva" foi uma reação teórica às limitações instrumentais do
Comportamentalismo que excluia a análise inferencial da investigação psicológica. O foco central desta perspectiva é o pensar humano e todos os processos baseados no conhecimento - atenção, memória, compreensão, recordação, tomada de decisão, linguagem etc. Moldar o comportamento do paciente através da reflexão para adequá-lo à realidade pelo questionamento retórico e a reorganização de crenças. A perspectiva cognitivista se dedica assim à compreensão dos processos cognitivos que influenciam o comportamento - a capacidade do indivíduo de imaginar alternativas antes de se tomar uma decisão, de descobrir novos caminhos a partir de experiências passadas, de criar imagens mentais do mundo que o cerca - e à influência do comportamento sobre os processos cognitivos - como o modo de pensar se modifica de acordo com o comportamento e suas consequências.
Logo, nota-se que apesar de fortemente infuênciada pelo
Comportamentalismo, posto que técnicas terapêticas envolvem, na maioria das vezes, a planificação de metas de condicionamento operante, a Psicologia Cogninivista retoma o modelo convencional das demais correntes psicologicas por afirmar a existência de uma dicotomia entre processos mentais e comportamentais, ainda que reconhecendo uma interdependência entre eles.
A perspectiva evolucionista
A perspectiva evolucionista procura, inspirada pela
teoria da evolução, explicar o desenvolvimento do comportamento e das capacidades mentais como parte da adaptação humana ao meio ambiente. Por recorrer a acontecimentos ocorridos há milhões de anos, os psicólogos evolucionistas não podem realizar experimentos para comprovar suas teorias, mas contam somente com sua capacidade de observação e com o conhecimento adquirido por outras disciplinas como a
antropologia e a
arqueologia[3].
A perspectiva sociocultural
Já em 1927
o antropólogo Bronislaw Malinowski criticava a psicologia - na época a psicanálise de Freud - por ser centrada na cultura ocidental. Essa preocupação de expandir sua compreensão do homem além dos horizontes de uma determinada cultura é o cerne da perspectiva sociocultural. A pergunta central aqui é: em que se assemelham pessoas de diferentes culturas quanto ao comportamento e aos processos mentais, em que se diferenciam? São válidos os conhecimentos psicológicos em outras culturas? Essa perspectiva também leva a psicologia a observar diferenças entre subculturas de uma mesma área cultural e sublinha a importância da cultura na formação da personalidade
[3].
A perspectiva biopsicossocial e a multidisciplinaridade
A enorme quantidade de perspectivas e de campos de pesquisa psicológicos corresponde à enorme complexidade do ser humano. O fato de diferentes escolas coexistirem e se completarem mutuamente demonstra que o homem pode e deve ser estudado, observado, compreendido sob diferentes aspectos. Essa realidade toma forma no modelo biopsicossocial, que serve de base para todo o trabalho psicológico, desde a pesquisa mais básica até a prática psicoterapêutica. Esse modelo afirma que o comportamento e os processos mentais humanos são gerados e influenciados por três grupos de fatores:
- Fatores biológicos - como a predisposição genética e os processos de mutação que determinam o desenvolvimento corporal em geral e do sistema nervoso em particular, etc.;
- Fatores psicológicos - como preferências, expectativas e medos, reações emocionais, processos cognitivos e interpretação das percepções, etc.;
- Fatores socioculturais - como a presença de outras pessoas, expectativas da sociedade e do meio cultural, influência do círculo familiar, de amigos, etc., modelos de papéis sociais, etc.[7]
Para ser capaz de ver o homem sob tantos e tão distintos aspectos a psicologia se vê na necessidade de complementar seu conhecimento com o saber de outras ciências e áreas do conhecimento. Assim, na parte da pesquisa teórica, a psicologia se encontra (ou deveria se encontrar) em constante contato com a
fisiologia, a biologia, a etologia, a neurologia e às neurociências (ligadas aos fatores biológicos) e à antropologia, à sociologia, à etnologia, à história, à arqueologia, à filosofia, à metafísica, à linguística à informática, à teologia e muitas outras ligadas aos fatores socioculturais.
No trabalho prático a necessidade de interdisciplinaridade não é menor. O psicólogo, de acordo com a área de trabalho, trabalha sempre em equipes com os mais diferentes grupos profissionais: assistentes sociais e terapeutas ocupacionais; funcionários do sistema jurídico; médicos, enfermeiros e outros agentes de saúde; pedagogos; fisioterapeutas, fonoaudiólogos e muitos outros - e muitas vezes as diferentes áreas trazem à tona novos aspectos a serem considerados.
Um importante exemplo desse trabalho interdisciplinar são os comitês de
Bioética, formados por diferentes profissionais - psicólogos, médicos, enfermeiros, advogados, fisioterapeutas, físicos, teólogos, pedagogos, farmacêuticos, engenheiros, terapeutas ocupacionais e pessoas da comunidade onde o comitê está inserido, e que têm por função decidir aspectos importantes sobre pesquisa e tratamento médico, psicológico, entre outros.
Crítica
O status científico
A psicologia é frequentemente criticada pelo seu caráter "confuso" ou "impalpável". O filósofo
Thomas Kuhn afirmou em 1962 que a psicologia em geral estava em um estágio "pré-paradigmático" por lhe faltar uma teoria de base unanimemente aceita, como é o caso em outras ciências mais maduras como a
física e a
química.
Por grande parte da pesquisa psicológica ser baseada em entrevistas e questionários e seus resultados terem assim um caráter
correlativo que não permite explicações causais, alguns críticos a acusam de não ser científica. Além disso muitos dos fenômenos estudados pela psicologia, como
personalidade,
pensamento e
emoção, não podem ser medidos diretamente e devem ser estudados com o auxílio de relatórios subjetivos, o que pode ser problemático de um ponto de vista metodológico.
Erros e abusos de
testes estatísticos foram sobretudo apontados em trabalhos de psicólogos sem um conhecimento aprofundado em psicologia experimental e em
estatística. Muitos psicólogos confundem
significância estatística (ou seja, uma probabilidade maior do que 95% de o resultado obtido não ser fruto do acaso, mas corresponder à realidade empírica) com importância prática. No entanto a obtenção de significados estatisticamente significante mas na prática irrelevantes é um fenômeno comum em estudos envolvendo um grande número de pessoas.
[8] Em resposta muitos pesquisadores começaram a fazer uso do "tamanho do efeito" estatístico (
effect size) como massa de medida da relevância prática.
Muitas vezes os debates críticos ocorrem dentro da própria psicologia, por exemplo entre os psicólogos experimentais e os psicoterapeutas.
Desde há alguns anos tem aumentado a discussão a respeito do funcionamento de determinadas técnicas psicoterapêuticas e da importância de tais técnicas serem avaliadas com métodos objetivos.
[9] Algumas técnicas psicoterapêuticas são acusadas de se basearem em teorias sem fundamento empírico. Por outro lado muito tem sido investido nos últimos anos na avaliação das técnicas psicoterapêuticas e muitas pesquisas, apesar de também elas terem alguns problemas metodológicos, mostram que as psicoterapias das escolas psicológicas tradicionais (
mainstream), isto é, das escolas mencionadas mais acima neste artigo, são efetivas no tratamento dos transtornos psíquicos.
Terapias "alternativas" não psicológicas
Um dos maiores problemas relacionados à distância que separa a teoria científica da psicologia e sua prática terapêutica é a multiplicação indiscriminada do números de "terapias alternativas" que se vê atualmente, muitas das quais baseadas em princípios de origem duvidosa e não pesquisados.
Muitos autores
[10] já haviam apontado o grande crescimento no número de tratamentos e terapias realizados sem treinamento adequado e sem uma avaliação científica séria. Lilienfeld (2002) constata com preocupação que
"uma grande variedade de métodos psicoterapêuticos de funcionamento duvidoso e por vezes mesmo danosos - incluindo "comunicação facilitada" para o autismo infantil, técnicas sugestivas para recuperação da memória, (ex. regressão etária hipnótica, trabalhos com a imaginação), terapias energéticas e terapias
new-age de todos os tipos possíveis (ex.
rebirthing,
reparenting, regressão de vidas passadas, terapia do grito original, programação neurolinguística, terapia por abdução alienígena) surgiram ou mantiveram sua popularidade nas últimas décadas."
[11] Allen Neuringer (1984) fez críticas semelhantes partind
o da análise experimental do comportamento.[12]
[editar] Especializações
Ver também