sábado, 20 de novembro de 2010

SARTRE - O PENSADOR DA ANGÚSTIA


SARTRE, O PENSADOR DA ANGÚSTIA

Francisco Fernandes Ladeira[1]
Resumo: O objetivo deste trabalho é tecer alguns comentários sobre as ideias filosóficas de Sartre com relação à experiência negativa, à duvida, à experiência da náusea, ao vazio existencial ou o nada do ser.
Palavras-chave: Sartre, náusea, existencialismo, dúvida, fenomenologia.

Introdução

Sartre é, talvez entre os filósofos contemporâneos, o que melhor soube exprimir perplexidade e os anseios do homem do nosso tempo, de uma civilização que, marcada por dois conflitos mundiais, vive ainda as consequências funestas de uma desordem e de um desastre, do qual o homem é, em grande parte, culpado.
        
    Sartre, em seus romances, em suas peças de teatro e, em suas obras filosóficas, de modo especial em O ser e o nada, onde expõe sua ontologia fenomenológica, soube expressar com o talento que lhe era inerente, ainda que de maneira radical, a experiência do desengano e de fracasso vivido pelo ser humano, que se vê abandonado em um mundo hostil e contraditório, e que não encontra apoio senão em si mesmo e em sua liberdade, a qual, não obstante, lhe escapa continuamente de suas próprias mãos.

            O homem vive, assim, sua própria existência num mundo adverso, no qual ele é atirado e o qual lhe surge diante dos olhos qual bloco opaco e maciço que não possui nenhuma fresta que esteja a possibilitar a passagem de uma nesga de luz para iluminar a própria existência e que lhe abra a possibilidade de ascender a uma realidade verdadeiramente transcendente.

            Voltando-se para o interior de si mesmo a fim de encontrar aí a razão e o remédio para os seus mais íntimos anseios, a existência humana não encontra, senão, o vazio e o nada do ser. Eis que experimenta seu próprio ser como algo a fugir-lhe continuamente, na medida em que se esforça por conhecer-se e experimentar-se como existência.

A negação, a dúvida, a náusea e o nada do ser

            A experiência negativa pode processar-se dentro de duas posturas básicas. Numa, o indivíduo se entrega a um comportamento passivo, limitando-se a assistir ao que lhe acontece. Esta passividade, por sua vez, pode-se dar em um plano intelectual ou em um plano existencial.
Na outra postura, o indivíduo acede a um comportamento ativo, fazendo da negação o objetivo de sua conquista. Aqui também, esta conquista pode processar-se dentro de uma modalidade tanto intelectual, como existencial.
Obviamente, esta classificação não pretende uma divisão em compartimentos estanques; trata-se muito mais de predominância em um sentido passivo ou ativo, existencial ou intelectual.

Passemos à análise destas posturas. A experiência negativa apresenta-se como passividade intelectual na consciência da própria ignorância. Não se trata da ignorância em si mesma, mas da ignorância que se sabe ignorante. Esta experiência consiste, portanto, em não conhecer a realidade em viver dentro de uma realidade que lhe permanece alheia, estranha. Quando o homem toma consciência deste estranho da realidade, rompe-se, em certa medida, a sua postura dogmática, pois esta tomada de consciência provoca um sentimento de separação, de isolamento. Encontramos aqui uma modalidade de experiência negativa, porque o sentimento do real – das coisas ou de mim mesmo – como que se esfuma dando origem a um sentimento de perda de si dentro da realidade. O homem não sabe ou sabe apenas que é ignorante.

Através de um exemplo poderemos compreender melhor esta experiência. A eficiência de um operário depende de uma certa familiaridade com o instrumento de seu trabalho, a ponto de poder reduzir o seu comportamento a um certo automatismo. Sua eficiência deriva, pois, da segurança do seu agir. Se o seu instrumento, contudo, vier a falhar a sua segurança fica comprometida. Deverá interromper o seu trabalho e deter-se em seu instrumento. Neste deter-se talvez descubra que não domina algo em seu instrumento, que este lhe esconde qualquer coisa. Se isto acontecer, o operário passa de um estado de ignorância à consciência da ignorância, fazendo com o que desapareça sua familiaridade com o instrumento.

Na experiência da ignorância o homem se descobre fundamentalmente passivo, no sentido de que a sofre, podendo ou não reagir contra ela. Porém existe uma modalidade de experiência negativa intelectual que é ativa: a dúvida.
A dúvida em um sentido não niilista, nós a encontramos em Husserl. Se a tese geral supõe um homem perdido no mundo dos objetos, a filosofia deve, segundo Husserl, salvar o homem desta perda, iniciativa que só processa através de uma dúvida.

Suspende-se a existência do mundo, não o negando, mas pondo-o “entre parênteses”, com a finalidade de fazer com que o homem se volte para si através de uma reflexão radical. Assim, o “objetivismo” da postura dogmática desaparece, é abandonado, instaurando-se a filosofia, pois o caminho que leva à perda do mundo é invertido e orientado para a subjetividade do sujeito. O processo de redução permite voltar ao fundamento subjetivo de todas as coisas.

Por mais diversas que sejam as modalidades de dúvida, há um traço comum que as aparenta: em algum sentido se verifica um desligamento do mundo e uma queda em si do sujeito, reduzindo-se a realidade (de modo provisório ou não) a um eu voltado de costas para o real.

A experiência negativa pode dar-se num comportamento de passividade existencial, na qual o sentido da realidade se esvai como que a despeito do homem, independente de seu querer: ele sofre a perda do mundo. Verifica-se uma espécie de passividade, na qual o indivíduo se torna apático e até mesmo abúlico com uma intensidade maior ou menor. Todo o comportamento do homem tende a perder a sua razão de ser, na medida em que a realidade perde sentido.
“[...] Se nada me impede de salvar a minha vida, nada me impedirá de precipitar-me para o abismo” (SARTRE, 1983, p. 97), diz Sartre. E continua: “[...] o suicídio fará cessar a angústia” (SARTRE, 1983, p. 99).

Qual a causa – próxima ao menos – deste estado de prostração existência? Em certos casos ela pode ser reconhecida. Um estado de desespero é provocado, por exemplo, por uma doença grave ou incurável, ou pelo descontrole que pode acompanhar a perda de um ente querido: a saúde ou a pessoa amada davam à existência uma dimensão que ela agora veio a perder.

A própria consciência da morte ou, simplesmente, da brutalidade da condição humana podem estar na raiz de um comportamento de recusa, de desilusão ou de um conformismo que esconde a face do desespero.
Outras vezes, a causa deste estado negativo não chega a ser tão claramente reconhecida, e lucidez é substituída pela vivência da agressividade sofrida, por um sentir-se roubado em sua razão de ser, cujas raízes escapam à consciência. De qualquer maneira, o negativo avassala o homem independentemente de sua vontade.

Jean-Paul Sartre, em seu romance A Náusea, descreveu com um requinte excepcional a experiência da náusea – umas das modalidades de experiência negativa existencial passiva.
Inicialmente, o personagem do romance, Roquentin, vive em um mundo pleno de sentido, mas fundamentalmente dogmático. Retira-se para uma pequena cidade de província a fim de dedicar-se ao estudo biográfico de um político de estatura menor.
Toma essa atitude porque o seu trabalho e todos os seus pressupostos tem sentido: a história humana tem sentido.

Em determinada altura, contudo, sem que ele saiba porque, é invadido pela experiência da náusea. A princípio sente-a de maneira fraca e pouco considerável, mal atingindo as suas pesquisas. Mas, aos poucos, estas experiências, repetindo-se, tomam vulto, chegando a abalar profundamente, totalmente, o mundo dogmático em que até então Roquentin vivera. A náusea termina por invadir sua própria substância, motivando a instauração nele de uma nova visão da realidade.
Em certo momento o personagem tem uma “iluminação” e escreve: 
Gostaria tanto de me abandonar, me esquecer, dormir. Mas não posso, eu sufoco: a existência me penetra de todos os lados, pelos olhos, pelo nariz, pela boca… E de repente, num instante, o véu se rasga, eu compreendi, eu vi. Não posso dizer que me sinta aliviado ou contente; ao contrário, isso me esmaga. Mas minha finalidade foi atingida: eu sei o que queria saber; tudo o que me aconteceu depois do mês de janeiro, eu compreendi. A náusea não me abandonou e não creio que me abandone tão cedo; mas já não sofro, não é mais uma doença ou uma febre passageira, eu sou a náusea. (SARTRE, 1958, p. 159).
            A náusea sempre é sofrida; mas no início ela acontece sem ser compreendida, para, em certa altura, tornar-se lúcida, uma espécie de revelação: a náusea como sendo o próprio do homem, embora não seja exclusividade sua, pois além da existência humana, invade também a história e o próprio mundo exterior, da natureza.
Éramos um monte de existente constrangidos, embaraçados de nós mesmos, sem a mínima razão de estarmos aí, nem uns nem os outros, cada existente, confuso e vagamente inquieto sentia-se demais em relação aos outros. Demais: esta é a única relação que posso estabelecer entre estas árvores, estas grades, estes seixos. [...] e eu – frouxo, enfraquecido, obsceno, digerindo, agitando mornos pensamentos – eu também era demais (SARTRE, 1958, p. 161-162).
Donde também o absurdo:
E sem nada formular com clareza; compreendi que tinha encontrado a chave da existência, a chave de minhas náuseas, de minha própria vida. Em verdade, tudo que passei a aprender se reduz a esta absurdidade fundamental. [...] Mas eu, há pouco, fiz a experiência do absoluto, do absoluto ou do absurdo. (SARTRE, 1958, p. 190-191).
          
E sobre a história afirma: “A história fala do que existiu – jamais um existente pode justificar a existência de outro existente”. Assim, tudo se transforma em náusea, e eu estou na náusea, ela se identifica com meu próprio ser.  A realidade toda, portanto, perde o seu sentido, e eu mesmo me perco dentro deste sem-sentido, restando apenas a amargura do meu próprio vazio, a compreensão de que eu sou contingência radical, um nada de ser. Com as palavras do próprio Sartre:
“O essencial é a contingência. Quero dizer que, por definição, a existência não é uma necessidade” (SARTRE, 1958, p. 193). A óbvia conclusão é que “todo existente nasce sem razão, se prolonga por fraqueza e morre por acaso” (SARTRE, 1958, p. 228). E assim o absurdo é o ponto final da realidade.

Conclusão

O importante a observar em experiências como a da náusea ou a da angústia é precisamente esta perda de sentido do real, que faz com que o próprio homem sofra como que uma diminuição, destruindo a tese geral da existência dogmática. O sentido de familiaridade é substituído pela experiência da separação, da ruptura.
            A nosso ver, a passividade existencial negativa pode ser transcendida por dois itinerários básicos.
No primeiro, o homem pode entregar-se e sucumbir diante da experiência negativa adotando, então, uma visão pessimista da realidade ou assumindo, simplesmente, a indiferença, a neutralidade diante de tudo e de todos.

Mas o homem também pode enveredar pelo itinerário oposto, isto é, buscar a superação da experiência negativa na medida em que isto depender de suas forças. E nesta superação, ou bem ele volta ao mundo familiar e dogmático, ao mundo das sombras, neutralizando o efeito daquela experiência radical; ou então, contrariamente, emprenha-se naquela experiência buscando extrair de sua dimensão existencial todo o significado humano que possa oferecer.
A angústia e náusea são sofridas pelo homem a despeito de si, pois o homem prefere o mundo em que vive, e por isso estas experiências se tornam insuportáveis. No mais, o homem não pode controlá-las ou pode-o somente em parte.

Há ainda outra modalidade de experiência negativa, também existência, na qual nós encontramos um homem, não dominado e passivo, mas ativo e lúcido: trata-se do “homem revoltado”.
Realmente o “homem revoltado”, não sofre apenas a perda do mundo; porém, muito mais, ele não quer o mundo, recusa-o, revolta-se contra o mundo, combate-o. O comportamento, neste caso, não se reduz somente a um sentir-se isolado, mas a um querer-se isolado, a uma espécie de teimosia na separação, que implica, em última análise, numa vontade de destruição, de “nadificar e de ser nadificado”, “sartreamente” falando.

Enfim, a consciência do homem revoltado supõe o mesmo processo básico das demais experiências negativas já descritas. O homem vive em um mundo feito, suficiente em sua organização e fundamentalmente adaptado à ela, até que um dia se ergue o “por que?”, donde pode decorrer um sentimento de dissonância com este mundo, a vivência de uma ruptura, a rebeldia que traz como consequência o isolamento, a separação, a até mesmo a experiência do absurdo, da perda de sentido da realidade.


REFEFÊNCIAS

  • SARTRE, Jean-Paul. El Ser e La Nada: Ensayo de Onotología Fenomenológica. Traducción de Juan Valmar. 7. ed. Editorial Losada S.A: Buenos Aires, 1983.
  • SARTRE, Jean-Paul. La Nausée. Paris. Gallimard. 1958. Tradução Thiago Adão Lara. 
Fonte:
CONSCIENCIA:ORG

[1] Especialista em “Brasil, Estado e Sociedade” pela UFJF.
Professor de Geografia do Centro Educacional Aprendiz.
Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

Bach, Toccata and Fugue in D minor, organ




Amo, adoro esta apresentação de Smalin!

*
Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

Pachelbel, Canon in D (1 of 3), performed by Voices of Music



Um tesouro duplamente belo!
Smalin , você é um amor em mostrar algo tão lindo!

Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres.

Observatório Nacional: Átomos pela Paz: uma colisão galáctica em ação


Observatório Nacional: Átomos pela Paz: uma colisão galáctica em ação:
"Redação do Site Inovação Tecnológica - 11/11/2010

O nome da galáxia Átomos pela Paz foi dado em homenagem a um discurso de um presidente..."
Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

Energia "do nada" pode destruir estrelas - Observatório Nacional


Observatório Nacional: Energia "do nada" pode destruir estrelas:

Energia "do nada" pode destruir estrelas


Físicos da USP descobriram que partículas contidas no vácuo podem provocar "explosão" de astros inteiros

Por sumir em frações de segundos, influência dessas partículas era desconsiderada por outros pesquisadores

SALVADOR NOGUEIRA

Físicos brasileiros descobriram que, em certas circunstâncias, a energia do vácuo pode crescer de forma descontrolada, levando até à destruição quase instantânea de estrelas inteiras.

À primeira vista, parece uma contradição em termos. Pela física clássica, o vácuo- que é definido como a ausência de qualquer coisa- deveria ter conteúdo zero.

Ocorre que, no misterioso reino da mecânica quântica, que rege o comportamento das menores coisas do Universo, o espaço vazio está sempre sendo preenchido pela existência das chamadas partículas virtuais.

Elas podem ser prótons, elétrons, fótons ou quaisquer outras. Seu diferencial com relação à matéria e energia tradicionais é que elas surgem e desaparecem em uma fração de segundo.

A energia para essa efêmera vida sai do vácuo.

Como essas partículas não duram muito, sempre se imaginou que esses efeitos de flutuação seriam irrelevantes num contexto macroscópico.

Daí veio a surpresa do estudo conduzido por Daniel Vanzella, físico da USP em São Carlos, e William Lima, seu estudante de doutorado.

Ao efetuar uma combinação desses efeitos quânticos com a ação da gravidade (como descrita pela teoria da relatividade), eles descobriram que, em certas circunstâncias, o crescimento da energia do vácuo poderia, em tese, acontecer de maneira exponencial e descontrolada.

MISTÉRIO ANTIGO

"Na época do meu doutorado, apareceu um resultado que a gente não entendeu. Não era essencial para nós, então deixamos na gaveta", afirma Vanzella.

Quando foi fazer seu pós-doutorado nos EUA, Vanzella teve a ideia para o trabalho atual: o resultado estranho poderia ser a energia do vácuo atuando no sistema.

Foi o que ele e Lima concluíram, em estudo publicado em abril no periódico "Physical Review Letters", descrevendo o que chamaram de "despertar do vácuo".

Em outro trabalho, agora com seu antigo orientador do doutorado, George Matsas, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Vanzella investigou especificamente o efeito do "despertar do vácuo" em sistemas conhecidos, como estrelas de nêutrons -os objetos mais densos do Universo que podem ser observados diretamente.

Ao calcular o efeito que a gravidade nas imediações de uma estrela de nêutrons teria sobre o vácuo, eles descobriram que certas configurações (dependendo da massa e do raio do astro) poderiam, em tese, "despertar o vácuo".

"Em um milésimo de segundo, a energia do vácuo dispara e passa a ser maior que a energia da própria estrela", conta Matsas.

Os físicos não sabem o que aconteceria a seguir. De toda forma, seria um catastrófico e violento para o astro.

Hipótese para "explosão" de estrelas precisa de mais estudos

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Embora a nova pesquisa também tenha obtido resultados animadores, de forma alguma chegou-se à palavra final sobre o assunto.

Um aprofundamento dos estudos será necessário para descobrir o que exatamente acontece com a estrela quando o vácuo é despertado -é um dos próximos passos.

Com isso, seria possível procurar eventos misteriosos detectados pelos astrônomos que hoje não têm uma explicação muito satisfatória e ver se eles se encaixam no cenário da fúria do vácuo.

Falta também fazer a mais crucial das observações: será que esse fenômeno existe realmente?

Para identificá-lo em seus cálculos, os cientistas usaram algumas aproximações que podem ou não ter uma correspondência com a realidade. Somente uma combinação de observações e análises mais refinadas poderá encontrar alguma evidência prática da fúria do vácuo. (SN)

 
Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

Candido Portinari 3






Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

BERGSON - A CONSCIÊNCIA E A VIDA

Marcos Lyra

Marcos Lyra descreve a concepção bergsoniana de consciência
como antecipação e predição, união entre passado e futuro.

 Meu estudo de Bergson

Bergson 
A consciência e a vida

Determinados pelo propósito de acompanhar, e tornar clara, uma linha argumentativa no que concerne à questão da consciência, da maneira como foi desenvolvida por um dos mais influentes pensadores do séc. XX, apresentamos aqui o presente artigo.

Tentamos colocar de maneira sucinta em que consistiram as linhas de pensamento seguidas pelo autor em seu intento de trazer respostas a este campo. Os trechos constantes do original estão entre aspas. A interpretação do texto é permeada por inconsistências insuperáveis, assim como traz por vezes a posição destes estudantes em relação ao seu sentido e significado. Entretanto, acreditamos ter exposto uma perspectiva bem fundamentada, a respeito de um tema de suma importância para a psicologia.

Em Conferência proferida na Universidade de Birmingham, em 29 de maio de 1911, o filósofo francês Henry Bergson (1859 - 1952) expôs as suas principais linhas de pensamento no que se refere a uma tentativa direta de enfrentar o problema da consciência e descobrir quais os principais fatos ligados à sua definição. Após avaliar o valor dos métodos tradicionais de pensamento filosófico, nominadamente compostos pelos seus sistemas vigentes, Bergson renuncia a qualquer apoio que eles posssam fornecer-lhe, e decide embarcar num processo direto e expontâneo de investigação, sem preocupar-se com questões epistemológicas ou ontológicas que pudessem se apresentar a priori e obscurecer o real propósito de sua tarefa.
Inicia, então, ele, com a afirmação de que quem diz espírito, diz, antes de tudo, consciência, e faz a pergunta: "o que é a consciência?".


Para não tentar uma definição que, neste momento, fosse mais clara do que ela própria, ele relata seu traço mais aparente: consciência significa principalmente memória. Apesar de todas as falhas e variações possíveis, memória e consciência estão definitivamente unidos, sendo até mesmo difícil, em certo sentido, distingui-los como coisas distintas.
Uma pretensa consciência que não envolvesse uma certa conservação do passado pereceria e renasceria a cada instante, e isso seria a própria definição de inconsciência. Consciência é, pois, memória, como "conservação e acumulação do passado no presente".
Em seguida, ele considera o caráter de futuro envolvido na consciência.


A atenção é uma expectativa ao que vai ser, e sem essa não há consciência. Temos, então, consciência como a soma da antecipação e da retenção. O presente não existe, pois é apenas uma idealização, uma idéia falsa tentando explicar uma aparência do real e uma impossibilidade matemática. "O que percebemos de fato é uma certa espessura de duração que se compõe de duas partes: nosso passado imediato e nosso futuro iminente". Pode-se dizer, então, que a consciência é o traço de união entre o que foi e o que será, uma ponte entre o passado e o futuro.

Em seguida Bergson pergunta-se, agora já de pose de alguma base inicial sobre a noção de consciência ligada a nós, qual a sua função, para então verificar se existem relações entre consciência e vida. Lembra que costuma-se dizer que a consciência está ligada a um cérebro. Mas, mediante uma inspeção rigorosa, veremos que não há relação necessária entre a existência de um determinado tipo de órgão e a presença do fenômeno consciente. Ele explica: "...não devemos supor que se, no topo da escala dos seres vivos, a consciência se fixava em centros nervosos muito complicados, ela acompanha o sistema nervoso ao longo desse descenso e que, quando a substância nervosa enfim se funde numa matéria viva indiferenciada, a própria consciência aí se espalha, difusa e confusa, reduzida a pouca coisa, mas não reduzida a nada?" Conclui, então, que tudo o que é vivo poderia ser consciente, e que a consciência é coextensiva à vida.

Segue-se, agora, a questão sobre se de fato as coisas são como concluídas acima, e se são possíveis variações no nível de consciência, se ela está sempre presente na vida, ou se ela pode "esvair-se e adormecer". Afirma, nesta direção, que no ser consciente que melhor conhecemos, é por intermédio do cérebro que a consciência trabalha.

Lembra que a ele está ligada uma medula espinhal que é capaz de realizar movimentos mais ou manos complexos. Estes são executados como respostas imediatas a estímulos externos. Mas há casos em que a excitação sobe primeiro ao cérebro e depois depois desce novamente. Por que este desvio, esta intervenção cerebral entre aquilo que em muitos casos são apenas respostas imediatas a estímulos definidos?

O cérebro está em relação com todos os mecanismos da medula espinhal, e recebe uma infinidade de excitações de toda espécie. "É. Pois, uma encruzilhada, onde a estimulação vinda por qualquer via sensorial pode seguir por qualquer via motora. É um comutador que permite lançar a corrente vinda de um ponto do organismo na direção de um aparato de movimento esboçado à vontade." Por conseguinte, o motivo principal desse desvio da excitação em direção ao cérebro se refere a uma opcionalidade. Este órgão não tem nenhuma função no organismo humano a não ser como fonte de opções, gerador de possibilidades, elemento de indeterminação nas relações de causa e efeito que envolvem o corpo em sua relação com o ambiente. A excitação vai então acionar um mecanismo motor que tenha sido escolhido, e não apenas sofrido. O cérebro é um órgão de escolha.

Descer na série animal sem dúvida revelará uma distinção cada vez menos nítida entre as funções corporais e mentais, entre escolha e automatismo, entre opção e determinação. "...a reação se simplifica o suficiente para parecer quase mecânica; entretanto, ela hesita e tateia ainda, como se permanecesse voluntária." A faculdade de escolher regride tão logo descemos no nível da escala evolutiva animal.
Com esta última linha Bergson diz estar completa a conclusão a que anteriormente havia chegado: "...se a consciência retém o passado e antecipa o futuro, é precisamente, sem dúvida, porque ela é chamada a efetuar uma escolha: para escolher, é preciso pensar no que se poderá fazer e lembrar as conseqüências, vantajosas ou prejudiciais, do que já foi feito; é preciso prever e recordar."

As próximas questões a serem abordadas são a da amplitude do fenômeno, e de se todos os seres vivos são conscientes. De posse do que havia sido dito sobre esta faculdade cerebral de prever e lembrar, para orientar os movimentos musculares, é feita uma relação entre movimento e consciência.

Todos os seres vivos possuem, "de direito", a faculdade de se mover espontaneamente, porém muitos renunciam a ela, e passam a subsistir de maneira estática, sem deixar de com isso obter sucesso enquanto manutenção de sua forma de organização. Não havendo necessidade de movimento, não há necessidade de previsão, nem lembrança: "Parece-me, pois, verossímil que a consciência se entorpece quando não há mais movimento expontâneo e se exalta quando a vida se apóia na atividade livre."
Podemos verificar em nós mesmos a aplicação de tal princípio: quando realizamos um movimento repetidas vezes, a ponto de que se torne de fácil execução e seja então automatizado, imediatamente a consciência, no que tange a ele, se esvanece. Por outro lado, quando nos encontramos em momentos de crise e entramos em considerações que sejam da alta relevância para nossa vida, encontramo-nos diante de um problema basicamente de dificuldade de escolha de opções entre tantas que são possíveis, e aí aparece, então, com toda a intensidade, o que chamamos consciência.

Há uma relação direta entre esta e aquilo que é escolha, ou, se quiser, criação. "Tudo leva a crer que é assim para a consciência em geral. Se consciência significa memória e antecipação, é porque consciência é sinônimo de escolha. Na sua trajetória evolutiva, um eventual ser que começa como algo parecido a uma geléia pode seguir o caminho do movimento e ação: este é o caminho do risco e da aventura, e também da consciência. Ou antão pode abandonar as faculdades de agir e escolher, cujo esboço ele trazia, e obter o que precisa na imobilidade. É a existência tranquila, assegurada, torpe, inconsciente. A primeira, grosso, modo, é a do mundo animal, e a segunda, a do mundo vegetal.

Podemos verificar, então, as implicações disso numa perspectiva mais ampla, que envolva as noções da mecânica universal. A matéria, tomada apenas em si própria, comporta-se de maneira fatalista e determinada.
Tomássemos um sistema em sua integridade, e conhecessemos todos os fatores e leis envolvidos, poderíamos calcular seus próximos estados. À materia relaciona-se diretamente a inércia, a geometria, a necessidade, a ordem, a determinação. "

Mas com a vida aparece o movimento imprevisível e livre.

"O ser vivo escolhe ou tende a escolher. Sua função é criar. Num mundo em que todo o restante está determinado, uma zona de indeterminação rodeia o ser vivo. Como, para criar o futuro, é preciso que algo dele seja preparado no presente, como a preparação do que será só pode ser efetuada utilizando-se o que já foi, a vida se empenha desde o começo em conservar o passado e antecipar o futuro numa duração em que o passado, presente e futuro penetram um no outro e formam uma continuidadde indivisa: esta memória e esta antecipação são, como vimos, a própria consciência. E esta é a razão, de direito, se não de fato, de que a existência seja coextensiva à vida".

Existe uma noção, no próximo ponto da conferência, que poderíamos chamar de bioquímica ou energética, e que se refere ao armazenamento de energia, e à maneira pela qual ela é aproveitada. Executar um movimento significa entes de mais nada transformar em mecânica a energia acumulada anteriormente, por outro organismo. Nisso, animais e vegetais se diferenciam. A vida consiste num processo árduo e gradual de transfomação e acumulação de energia, e posteriormente seria natural esperar uma busca de eficiência neste processo.
Temos, então, de considerar, agora, a relação entre esta acumulação de energia, entendida também como acumulação de causas ou determinações a acometerem determinado organismo, e o momento de sua liberação. Para o homem de ação, quanto maior a porção de passado que adere a seu presente, tanto mais pesada será a massa que ele joga no futuro para comprimir as eventualidades que se preparam: sua ação, semelhante a uma flecha, dispara tanto com mais força para a frente quanto mais sua representação estava vergada para trás. Vejamos, então, como se comporta a consciência, diante da matéria que a acomete, sendo assim percebida pela mesma. Um único instante desta percepção abarca um número altíssimo de estimulações, que, consideradas como efeitos, envolveram por sua vez uma quantidade gigantesca de outros efeitos, numa seqüência que tende ao infinito.

Mas não haveria possibilidade de consciência se essa multiplicidade, esta infinidade de causas, ou de componentes de estimulação fossem tomados por objetos individualizados, pelo ente que percebe. Para uma mente, a noção de tempo está relacionada a uma série de condições cognitivas, e é apenas uma mera representação, ou analogia, como fenômeno mental. Caso a matéria percebesse, levaria séculos para fazê-lo em relação a um simples facho luminoso. A própria noção de consciência como presença de passado e futuro confirma esta manipulação temporal. E assim é que o fenômeno acaba sendo também uma condensação, de um brilho luminoso, digamos, a um único objeto, recortado e isolado do restante. O padrão físico, para a consciência, passa a ser coisa, e passível de ser percebido, conscientizado.

Segundo Bergson: "Quando abro os olhos para fechá-los em seguida, a sensação que experimento, e que se dá em um de meus momentos, é a condensação de uma história extraordinariamente longa que se desenrola no mundo exterior....Colocada na confluência da conciência e da matéria, a sensação condensa na duração que nos é própria, e que caracteriza a nossa consciência, imensos períodos do que poderíamos chamar, por extensão, a duração das coisas".

Consideremos o ato consciente, ou a percepção que o prepara, e descobriremos a consciência como uma força que utiliza a matéria em seu proveito, sendo assim por duas vias complementares. De um lado a liberação de energia acumulada. De outro, a condensação, em um instante único do número incalculável de pequenos eventos que a matéria realiza, e que resume numa palavra a imensidade de sua história.


A teoria da evolução das espécies é considerada, por Bergson, como pressuposto incontestável a respeito da origem da estrutura e diferenciações entre os organismos vivos. Mas mesmo assim ela não era suficiente para explicar de que maneira alguns organismos seriam compelidos a adquirir formas de organização cada vez mais complexas. Os organismos rudimentares estão tão bem adaptados quanto o nosso às suas condições de existência. Além disso por muito tempo nossos antecessores foram tão simples quanto muitos organismos observados atualmente, porém não mantiveram sua condição posteriormente. Para Bergson, a vida é arrastada por um elã, uma espécie de compulsão que a leva através de riscos cada vez mais graves, em direção a uma eficácia cada vez maior.

Em duas de suas linhas foi alcançado um "êxito incontestável.", parcial num caso, relativamente total no outro. E nisso ele está se referindo aos artrópodes e vertebrados. Conclui Bergson: "...estamos, pois, autorizados a crer que a força que evolui traz originalmente em si, mas confundidos, ou melhor, implicados, um no outro, instinto e inteligência. Em suma, as coisas se passam como se uma imensa corrente de consciência, em que se interpenetrariam virtualidades de todo gênero, houvesse atravessado a matéria para conduzi-la à organização e para fazer dela, que é a própria necessidade, um instrumento de liberdade."
Porém a matéria sempre continua a rodear a consciência, prendendo-a em seu próprio automatismo.

Em certas linhas evolutivas, encontraremos inconsciência e automatismo, e em outras, a consciência proporciona ao indivíduo algum sentimento, e em conseqüência, alguma escolha. "Mas as necessidades da existência lá estão para transformar o poder de escolha num simples auxiliar da vontade de viver." No caso do cérebro do homem, entretanto, efetua-se um salto brusco: apesar de parecer-se com o do animal, neste a cadeia se rompe, e ele possui a particularidade de poder opor a cada hábito contraído um outro hábito, e a todo automatismo um automatismo contrário.

Em seus termos: "A liberdade, recobrando-se enquanto a necessidade está às voltas consigo mesma, reduz a matéria ao estado de instrumento. É como se ela houvesse dividido para reinar."

Concluiu-se, assim, a exposição de Henry Bergson, dentro desta conferência, relativa às suas concepções a respeito da definição de consciência, que então foi base para que ele discorresse também sobre a vida e seu mecanismo fundamental, assim como seu significado perante a natureza e o homem. Dentro de um caráter que se poderia chamar de metafísico, ele relaciona com grande precisão e agudeza uma seqüência de fatos e conclusões que compõem as bases do problema.

Apesar de trilhar um caminho altamente individual, os elementos desenvolvidos possuem relevância incontestável, e provocam conclusões surpreendentes e estáveis. Suas idéias certamente se mantém atuais, e enquadram-se dentro de uma história de investigações teóricas sobre a consciência, que iniciaram-se em sua época, e mantém-se vivas em nossos dias.

Bergson: A Consciência e a Vida




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Escrito por psicopr   
Sex, 15 de Abril de 2005 17:22
Sejam felizes todos os seres. 
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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O ESPECTRO DA CONSCIÊNCIA - Ken Wilber



A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
por Carlos Antonio Fragoso Guimarães
 
"Não apenas é o homem parte da natureza - e esta é
parte sua -, como deve ser minimamente isomórfico
(semelhante a) com ela para nela ser viável. Ela
o gerou. Sua comunhão com aquilo que o transcende
não precisa ser definida, portanto, como não-natural
ou sobrenatural. Pode ser vista como uma experiência
'biológica'."
Abraham Maslow
[...]
 
O Espectro da Consciência 
Ken Wilber

    Um dos sistemas didáticos, em psicologia, que procura
integrar os diferentes insights das várias escolas
psicoterapêuticas do ocidente entre si, e estas com as
várias abordagens orientais, é a Psicologia do Espectro,
proposta por Ken Wilber, como um modelo da compreensão
transpessoal das diferenças entre psicoterapias. Nele,
cada uma das diferentes escolas é vista como uma faixa que
se dedica a um aspecto específico do total a que se pode
apresentar a consciência humana.

Cada uma dessas escolas aponta para um estado de consciência que se caracteriza por possuir um diferente senso de identidade, indo da
pequena identidade restrita ao ego até à suprema identidade
com todo o universo, que é o nível extremo da consciência
transpessoal. 

Este espectro pode ser entendido a partir
de qutro níveis: o do ego, o biossocial, o existencial
e o transpessal.

    No nível do ego, a pessoa não se indentifica, a rigor,
com o seu organismo, mas com uma representação mental, ou
com um conceito do mesmo, como uma auto-imagem construida,
ou egóica. É, pois, um problema de identificação com um
modelo que a pessoa aceita, num investimento, como sendo
seu "eu". Existe - para ela - um "eu" que é diferente e
independente de tudo e de todos. 

A pessoa não se interessa muito em cultivar relações interpessoas sem que haja uma vantagem específica para o ego, e muito menos se preocupa
com aspectos ecológicos ou sociais.

    O nível biossocial já envolve a consciência e a preocupação
com o nível e com os aspectos do ambiente social da pessoa.
A influência preponderante é a de padrões culturais e sociais.
A pessoa sente como fazendo parte - e tendo alguma
responsabilidade - pelo seu meio-ambiente social e natural.

    O Nível existencial é o nível do organismo total, caracterizado
por um senso de identidade corpo/mente auto-organizador. É o nível
dos ideais humanistas e do pensamento mais sofisiticado, em termos
de filosofia de vida. Emoção e rezão estão mais ou menos associadas
para o crescimento e o desenvolvimento das potencialidades do homem,
desde que os meios sejam razoavelmente propícios. Quando não, ainda
assim a pessoa luta para se auto-atualizar e a ajudar seus semelhates.
Alto grau de desenvolvimento moral é frequentemente associado a este
estágio.

    O nível transpessoal é o nível da expansão da consciência
para além das fronteiras do ego, correspondendo a um senso de
indentidade mais amplo. Elas podem encolver percepções do meio
ambiente, onde tudo está, de uma forma sutil mas muito presente,
ligado - de forma NÃO LINEAR - a tudo. É o nível do inconsciente
coletivo e dos fenômenos que lhe estão associados, tal como
descritos por Jung e seguidores. 

É também neste nível de percepção que podem - mas não necessariamente ocorrem ou são regra geral próprias de uma percepção transpessoal - surgir, como eventos secundários, certos fenômenos parapsicológicos, como telepatia,
precognição ou - o que não tipifica um fenômeno parapsicológico,
mas sim psicológico - lembranças de vidas passadas. 

É uma forma extremamente sofisticada e não ordinária de consciência em que
a pessoa não aceita mais a crença uma separação rígida entre ela
e todo o universo, a não ser como uma forma de atuar praticamente
sobre o meio em que vive com outras pessoas. Essa forma de
consciência transcende, e muito, o raciocíonio lógico convencional,
e aproxima-se das assim chamadas experiências místicas. E é este
estado que é objeto mais íntimo de estudo da Psicologia Transpessoal.
    
Enfim, para terminar, é preciso definir o relacionamento
entre a prática da psicologia transpessoal e os enfoques
tradicionais de psicoterapia. 

O que caraceteriza um terapeuta transpessoal não é o seu conteúdo, mas o contexto.  O conteúdo é determinado pela relação terapêutica em si, entre cliente e terapeuta, como bem o estabeleceu Carl Rogers.

Um terapêuta transpessoal lida com os problemas que emergem durante o
processo terapêutico, incluindo acontecimentos mundanos, fatos biográficos e problemas existenciais.

O que realmente define a orientação transpessoal é um modelo da psique humana que reconhece a importância das dimensões espirituais e o
potencial para a evolução da consciência.

O terapeuta transpessoal deve ser consciente do espectro total e deve
sempre acompanhar o cliente a novos campos experienciais,
quando há oportunidade, não importando qual o nível que o
processo terapêutico esteja focalizando.

Wilber, Ken 
- O Espectro da Consciência,
Ed. Cultrix.

 Fonte:
 TRANSCONHECIMENTO
Esta é uma página de um site indicado no "Favoritos"
( http://br.groups.yahoo.com/group/transconhecimento/links ):
Um abraço,
Gustavo Gitti
 Grupo Yahoo - Transconhecimento

http://br.groups.yahoo.com/group/transconhecimento/message/298
Sejam felizes todos os seres. 
Vivam em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres.

O PENTAGRAMA PITAGÓRICO

        

E A DIVINA PROPORÇÃO.



“Os pitagóricos chamaram o pentagrama de Saúde,
e adotaram-no como insígnia”.

À crença de que o número é a base de todas as coisas, os pitagóricos acrescentaram outra – a de que tudo tem sua própria proporção adequada, o que resulta em harmonia. Diziam que, na verdade, não só o número está subjacente à realidade, mas também uma teia invisível de razões e proporções.

Os pitagóricos valorizavam a razão e a proporção como marcos do raciocínio; a própria palavra racional significava a capacidade de compreender razões. Pregando e praticando a moderação em todas as coisas, eles viam o meio-termo como o caminho para a sabedoria.

Aconselhavam o meio-termo no casamento (nem acima, nem abaixo de si mesmo), na comida, na bebida e nos exercícios. Em questões de dinheiro, ‘nunca seja pródigo’, aconselhava o sábio ‘nem se mostre sovina’, mas ache o meio-termo.

Na geometria, o meio-termo era a secção dourada, estimada como a proporção ideal. Uma secção dourada é uma linha dividida em partes desiguais, de tal modo que a parte menor esteja para a maior como esta para o todo; diz-se então que as duas partes estão na razão dourada. Esta divisão, particularmente agradável ao olhar ocorre na Natureza.

‘A secção dourada figura em algumas operações geométricas intrigantes’.

Os pitagóricos chamaram o pentagrama de Saúde, 
e adotaram-no com insígnia”…


Uma estrela de cinco pontas, ou pentagrama, é formada pelo truque simples de estender os lados de um pentágono regular até as linhas se encontrarem. Ligar os vértices do mesmo pentágono cria outro pentagrama. Mais até do que a facilidade de criação, o que parece mágico em relação a essa figura é que cada lado do pentagrama passa através de dois outros pontos que fazem deles secções douradas.Além disso, a base de cada ponta triangular do pentagrama está em uma proporção de razão dourada com cada um de seus lados…

‘Harmonia, Proporção e Seção Dourada

“O número é a base de todas as coisas e está subjacente à realidade, numa teia invisível de razões e proporções”. Por isso, os pitagóricos percebiam expressões da divina harmonia por toda parte, não só na expansão gnomônica dos números, como na natureza, no crescimento harmônico da sucessão de compartimentos curvos na concha do náutilo, que, embora difiram no tamanho, todos os setores têm as mesmas proporções, criando assim a bela espiral dourada, numa divina proporção…



Para Pitágoras, os números eram entidades independentes e sagradas, com características a ser apreendidas pela meditação. O Um, a unidade, era a fonte primária da existência e os nove números que lhe seguiam formavam a década sagrada, e eram deuses…

O Um era identificado com Zeus, pai dos deuses e criador do cosmo… E o Três, sendo a soma de números sucessivos (1+2=3), formava um triângulo [pirâmide]; tinha começo, meio e fim, e representava a psique humana como a psique cósmica…


                                   Simetria Aurea do Girassol
(Extraído da obra: 
‘Mistérios do Desconhecido’ – ‘Tempo e Espaço’
, p. 43/49. Abril Livros. 1993).
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

PITÁGORAS - VERSOS DE OURO





 
Pitágoras foi um grande estudioso e sábio que viveu no VI século antes de Cristo. Nasceu em Samos, ilha do mar Egeu, perto da Ásia Menor provavelmente em 569 a .C. 

Sua vida foi em busca de ensinamentos de antigos mestres e divulgação de suas filosofias. Para ele, e outros, tudo ressentia as vibrações, tudo era uma vibração. "Nada está parado; tudo se move;tudo vibra" (O Caibalion - Hermes Trimegistro). 

Por isso ele foi a busca dessas vibrações e determinou, entre outras coisas, a escala musical e a numerologia. 

Conhecemos apenas os teoremas pitagóricos e muitas pessoas nem sabem que foi ele quem definiu as escalas musicais e decodificou os sons em notas. E também foi ele quem descobriu a primeira figura tridimensional parte do triângulo. Realmente devemos muito a Pitágoras que passou sua vida juntando todo o conhecimento existente até aquela época para que todos pudessem ter uma base para o aprendizado. 

Foi ele também quem nos deixou o estudo numerológico dos nomes.
Para os sábios da antiguidade, os números antes de terem uma conotação lógica tinham uma conotação espiritual.

Significado espiritual dos números
 
Pelos números temos toda evolução dos seres humanos.

número 1 ligado à ação, ao homem;
número 2 ligado à sabedoria, à mulher;
número 3 ligado à auto-expressão, à criação;
número 4 ligado à concretização dos pensamentos, ao trabalho;
número 5 ligado às mudanças, à procura de algo melhor;
número 6 ligado ao amor; à responsabilidade para com a família e sociedade;
número 7 ligado à espiritualidade; à natureza;
número 8 ligado à formação de grupos de trabalho, à justiça;
número 9 ligado à expansão dos limites, à universalidade.

Precisamos apenas desses números para montar a história da humanidade e montarmos a nossa própria história.

Eles contêm todos os caminhos para nossa evolução e a evolução do Universo. 

Ou ele nos mostra os caminhos para a destruição pois tudo tem seu oposto e os números também têm seu significado negativo.
 
Versos de Ouro de Pitágoras
 
Preparação
Aos Deuses Imortais sagrado culto rende.
Resguarda o coração. Tua convicção defende.
Aos Sábios e aos Heróis, presta um preito fervoroso.

Purificação
Sê bom filho e bom pai, justo irmão, terno esposo.
Elege amigo teu o que, em virtude, prima;
Vive como ele vive e dele te aproxima. 

Os conselhos lhe escutai; e, si te aconselhando
O teu amigo for um dia menos brando,
Perdão! Que sobre fiel vontade - lei severa – 

A fortuna fatal às vezes prepondera.
Dominar as paixões é dom que te pertence:
Tuas loucas paixões subjuga e doma e vence. 

Sê casto, sóbrio e ativo.
A cólera o semblante nunca te ensombre,
nunca o mal te seja aceito.
Em público ou sozinho, e como a um semelhante,
A ti mesmo, tributa o devido respeito. 

Na palavra e na ação, sê justo e sê prudente.
Vive, - mas, não te saia a morte da lembrança;
Nem te esqueça, jamais, de que o homem, facilmente,
Perde as honras e os bens que, facilmente, alcança. 

Se os males que o destino acarreta, à porfia,
Nem podes mitigar - Não blasfeme o teu lábio;
Suporta-os com prudência, e nos Deuses confia,

Que aos Deuses praz valer do que usa, como Sábio.
Adeptos, o erro os tem, como a verdade bela:
O sábio adverte, austero, ou aconselha, amigo:
Mas, se o erro vil domina, - ele recua e vela 

Grava, no imo do peito as palavras que eu digo: 

Não tenhas prevenção alguma: todavia,
Os atos, de outrem, pesa e a ti mesmo te guia;
Pois que, nem todos são exemplos e ensinamento. 
Só do insensato é agir sem fim, razão nem tento.

Contempla, no presente, o futuro e o passado.
Faze, apenas, aquilo em que fores versado. 

Instrui-te com vagar, aprende com paciência:
Do tempo e da constância é que vem a sapiência, 

Poupa a saúde, que ela é um tesouro precioso
ao teu corpo: alimento; à tua alma: repouso. 

Uma moderação, porque ainda mais nocivo
Do que a falta - resulta, às vezes, o excessivo. 

Não pratiques o luxo e a avareza, também,
Pois só no meio termo é que consiste o bem.

Perfeição
Assim que o sol te acorde e calmo te levantes,
Julga tuas ações, como severo juiz;
E ao sono não te diz, sem perguntares, antes:
-Hoje, em que pensei eu? E que foi que hoje fiz? 

Fizeste o bem?- Persiste! 
O mal fizeste?- Abstém-te. 

Ama o conselho meu; medita o que ele ensina.
Se o amares - Eu te juro - e o seguires, fielmente,
Poderás atingir a Virtude Divina.
Eu te juro por quem o augusto emblema grava 
A tétrada sagrada - em nosso coração. 

Mas, primeiro, é mister, do seu dever escravo.
Dos deuses a alma invoque, ardendo em devoção. 

Sob o influxo divino, as obras que empreenderes
Terminarás em paz, fugindo o engano rude.
E, perscrutando a essência ao diferentes seres,
Tu, o princípio e o fim conhecerás, de tudo 

Verás que a natureza - o céu há de mostrar-te -...,
em tudo, semelhante e a mesma em toda a parte.
Conhecendo-te a ti, senhor do teu direito,
Vibrará, sem paixões, seu coração, no peito. 

Homem, 
verás que são frutos próprios do Homem
A mágoa que o atormenta e os males que o consumem;
Porque a origem do gozo, a fonte da ventura
Que, em si mesmo possui, - além de si, procura. 

Bem poucos, sabem ser felizes: 
Compelidos pelos desejos maus, joguetes dos sentidos,
Como baixel, em mar sem fim, por entre pégos,
Assim os homens vão, desnorteados e cegos. 

Deuses!
Quisésseis vós valer-lhes de onde estais.
Discerne, por ti mesmo, o bem e o mal: conforto
E auxílio te dar· a natureza exemplar. 

Homem sábio e feliz, entre sonhado porto,
Se cumpres minhas leis, um dia hás de alcançar. 

Evita o que perturba a mente e o que a alma esmaga,
aprimora a razão, esmera os valores teus;
E transpondo, enfim, a refulgente plaga
Tu, entre os imortais, serás também um Deus. 


(Estes versos são atribuÌdos a Lysis, discípulo de Pitágoras 
e nos mostra todos seus ensinamentos. 

A tradução é de Dr.Moacir Cunha. 
Transcrito do livro "Os Grandes Iniciados 
- Pitágoras" de Édouard Schuré) 

Sejam felizes todos os seres. 
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.