A Crise das Dívidas - 126 min.
O Caminho para a Terceira Guerra Mundial - 19 min.
Funcionamento do sistema monetário internacional - 13 min.
Crise Financeira Mundial - 15 min.
Iraque a Venda - Quem ganha com a Guerra - 76 min.
Acordos de Bretton Woods
Coordenadas: 44° 15' 29" N, 71° 26' 25" O
O Hotel Mount Washington, em Bretton Woods, New Hampshire, local da histórica Conferência de 1944.
As conferências de Bretton Woods, definindo o Sistema Bretton Woods de gerenciamento econômico internacional, estabeleceram em julho de 1944 as regras para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo. O sistema Bretton Woods foi o primeiro exemplo, na história mundial, de uma ordem monetária totalmente negociada, tendo como objetivo governar as relações monetárias entre Nações-Estado independentes.
Preparando-se para reconstruir o capitalismo mundial enquanto a Segunda Guerra Mundial ainda grassava, 730 delegados de todas as 44 nações aliadas encontraram-se no Mount Washington Hotel, em Bretton Woods, New Hampshire, para a Conferência monetária e financeira das Nações Unidas. Os delegados deliberaram e finalmente assinaram o Acordo de Bretton Woods (Bretton Woods Agreement) durante as primeiras três semanas de julho de 1944.
Os acordos
Definindo um sistema de regras, instituições e procedimentos para regular a política econômica internacional, os planificadores de Bretton Woods estabeleceram o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (International Bank for Reconstruction and Development, ou BIRD) (mais tarde dividido entre o Banco Mundial e o "Banco para investimentos internacionais") e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Essas organizações tornaram-se operacionais em 1946, depois que um número suficiente de países ratificou o acordo.
As principais disposições do sistema Bretton Woods foram, primeiramente, a obrigação de cada país adotar uma política monetária que mantivesse a taxa de câmbio de suas moedas dentro de um determinado valor indexado ao dólar —mais ou menos um por cento— cujo valor, por sua vez, estaria ligado ao ouro numa base fixa de 35 dólares por on ça Troy, e em segundo lugar, a provisão pelo FMI de financiamento para suportar dificuldades temporárias de pagamento. Em 1971, diante de pressões crescentes na demanda global por ouro, Richard Nixon, então presidente dos Estados Unidos, suspendeu unilateralmente o sistema de Bretton Woods, cancelando a conversibilidade direta do dólar em ouro.
As origens do sistema Bretton Woods
As bases políticas do sistema Bretton Woods podem ser encontradas na confluência de várias condições principais: as experiências comuns da Grande Depressão, a concentração de poder em um pequeno número de Estados e a presença de uma potência dominante querendo (e capaz de) assumir um papel de liderança.
As experiências da Grande Depressão
Um alto nível de concordância entre os países sobre as metas e meios do gerenciamento econômico internacional facilitou em muito as decisões tomadas pela Conferência de Bretton Woods. A fundação daquele acordo foi uma crença comum no Capitalismo intervencionista. Apesar de os países desenvolvidos diferirem quanto ao tipo de intervenções que preferiam para suas economias nacionais (a França, por exemplo, preferia um maior planejamento e intervenção estatal, enquanto os Estados Unidos eram favoráveis a uma intervenção estatal mais limitada), todos, no entanto, baseavam-se predominantemente em mecanismos de mercado e na noção de propriedade privada.
Assim, foram as semelhanças, mais do que as diferenças, que foram postas em evidência. Todos os governos participantes de Bretton Woods concordavam que o caos monetário do período entre-guerras forneceu valiosas lições.
A experiência da Grande Depressão, quando a proliferação de controles e barreiras de comércio levaram ao desastre econômico, estava fresca na memória dos participantes. Os conferencistas esperavam evitar a repetição da debandada dos anos 30, quando os controles das trocas minaram o sistema internacional de pagamentos, base do comércio mundial. A política de "beggar-thy-neighbor" ("empobrece teu vizinho") dos governos dos anos 30—usando tarifas alfandegárias a fim de aumentar a competitividade de seus produtos de exportação e, assim, reduzir os déficits da balança de pagamentos—ocasionaram espirais deflacionárias que resultaram na diminuição da produção, desemprego em massa e declínio generalizado do comércio mundial. O comércio nos anos 30 ficou restrito a blocos monetários (grupos de nações que empregavam uma moeda equivalente, como o bloco da "Libra esterlina" do Império Britânico). Esses blocos retardaram o fluxo internacional de capitais e as oportunidades de investimentos estrangeiros. Apesar de esta estratégia tender a aumentar o dinheiro arrecadado pelo governo a curto prazo, ela piorou drasticamente a situação a médio e longo prazo.
Assim, para a economia internacional, todos os planificadores de Bretton Woods favoreceram um sistema relativamente liberal, um sistema que se baseasse primeiramente no mercado, com um mínimo de barreiras ao fluxo de comércio e capital privados. Apesar de não estarem inteiramente de acordo sobre a maneira de pôr em prática esse sistema liberal, todos concordavam com um sistema aberto.
Segurança econômica
Também com base nas experiências do período entre-guerras, os planificadores estadunidenses desenvolveram um conceito de segurança econômica—que um sistema econômico liberal internacional aumentaria as possibilidades de paz no pós-guerra. Um dos que viram tal segurança foi Cordell Hull, o secretário de Estado dos Estados Unidos de 1933 a 1944.1 Hull acreditava que as causas fundamentais das duas guerras mundiais estavam na discriminação econômica e guerras comerciais. Especificamente, ele tinha em mente acordos bilaterais de controle de comércio e trocas da Alemanha Nazi e o sistema de preferência imperial praticado pelo Reino Unido (pelo qual membros ou antigos membros do Império britânico beneficiavam de um status comercial especial). Hull argumentava que:
Comércio sem obstáculos associado com paz; altas tarifas, barreiras comerciais e competição econômica injusta, com guerra... se conseguíssemos tornar o comércio mais livre... mais livre no sentido de menos discriminações e obstruções... de tal modo que um país não ficaria mortalmente invejoso de outro e os padrões de vida de todos os países pudessem crescer, eliminando com isso a insatisfação econômica que alimenta a guerra, teríamos uma chance razoável de paz durável.2
O surgimento do intervencionismo governamental
Harry Dexter White, do Tesouro americano, e John Maynard Keynes, na conferência inaugural dos governadores do Fundo Monetário Internacional, em 1946.
Os países desenvolvidos também concordaram que o sistema econômico liberal internacional requeria intervencionismo do governo. Após a Grande Depressão, a administração pública da economia emergiu como uma atividade primeira dos governos de Estados desenvolvidos: emprego, estabilidade e crescimento eram então assuntos importantes da política pública. Com isso, o papel do governo na economia nacional ficou associado com a apropriação, pelo Estado, da responsabilidade de garantir a seus cidadãos um certo grau de bem-estar econômico. O welfare state (estado protetor) nasceu da Grande Depressão, que criou uma necessidade popular de intervencionismo estatal na economia, e das contribuições teóricas da escola econômica Keynesiana, que defendia a necessidade de intervenção estatal a fim de manter níveis adequados de emprego.
Em âmbito internacional, essas idéias também surgiram da experiência dos anos 30. A prioridade dos objetivos nacionais, a ação independente nacional no período entre-guerras e o fracasso em perceber que esses objetivos nacionais não poderiam ser atingidos sem uma certa forma de colaboração internacional resultaram em políticas de estilo "empobrece teu vizinho" como alta tarificação e desvalorizações competitivas, que contribuíram para a queda da economia, instabilidade política doméstica e guerra internacional. A lição foi, como explica Harry Dexter White, adepto do New Deal e principal arquiteto do sistema Bretton Woods:
a falta de um alto grau de colaboração econômica entre as nações industrializadas...
resultará, inevitavelmente, em guerra econômica que será o prelúdio
e instigador de guerra militar em uma escala ainda maior.3
Para garantir a estabilidade econômica e a paz política, os Estados concordaram em cooperar para regular o sistema econômico internacional. O pilar da visão estadunidense do mundo pós-guerra era o comércio livre. Liberdade de comércio implicava tarifas baixas e, entre outras coisas, uma balança comercial favorável ao sistema capitalista.
Assim, as economias de mercado mais desenvolvidas aceitaram a visão dos Estados Unidos de gerenciamento econômico internacional do pós-guerra, que foi concebido para criar e manter um sistema monetário internacional efetivo e encorajar a redução de barreiras ao comércio e ao fluxo de capital .
O surgimento da hegemonia dos Estados Unidos da América. O gerenciamento econômico internacional baseava-se na potência dominante para dirigir o sistema. A concentração de poder facilitou o gerenciamento na medida em que reduziu o número de atores cujo acordo era necessário para o estabelecimento de regras, instituições e procedimentos e para levar a cabo o gerenciamento dentro dos sistemas em acordo. Esse líder foi os Estados Unidos da América. Como a potência com a economia e política mais avançadas do mundo, os EUA estavam claramente em uma posição ideal para assumir essa liderança.
Os EUA emergiram da Segunda Guerra Mundial como a mais forte economia do mundo, vivendo um rápido crescimento industrial e uma forte acumulação de capital. Os EUA não haviam sofrido as destruições da Segunda Guerra Mundial, tinham construído uma indústria manufatureira poderosa e enriqueceram vendendo armas e emprestando dinheiro aos outros combatentes; na verdade, a produção industrial dos EUA em 1945 foi mais do que o dobro da produção anual dos anos entre 1935 e 1939. Em comparação, a Europa e o Japão estavam dizimados militar e economicamente.
Quando a Conferência de Bretton Woods aconteceu, as vantagens econômicas dos Estados Unidos eram indiscutíveis e esmagadoras. Os EUA tinham a maioria dos investimentos mundiais, da produção manufaturada e das exportações. Em 1945, os EUA produziam a metade de todo o carvão mundial, dois-terços do petróleo e mais do que a metade da eletricidade. Os EUA eram capazes de produzir imensas quantidades de navios, aviões, automóveis, armamentos, máquinas, produtos químicos, etc. Reforçando a vantagem inicial—e assegurando a liderança dos EUA no mundo capitalista—os EUA detinham 80% das reservas mundiais de ouro e tinham não somente poderosas Forças Armadas, mas também a bomba atômica.
Na condição de maior potência mundial e uma das poucas nações não afetadas pela guerra, os EUA estavam em posição de ganhar mais do que qualquer outro país com a liberação do comércio mundial. Os EUA teriam com isso um mercado mundial para suas exportações, e teriam acesso irrestrito a matérias-primas vitais.
Os EUA não eram somente capazes de, mas também queriam, assumir essa liderança. Apesar de os EUA terem mais ouro, mais capacidade produtora e mais poder militar do que todo o resto do mundo junto, o capitalismo dos EUA não poderia sobreviver sem mercados e aliados. William Clayton, o Secretário de Estado assistente para Assuntos Econômicos, foi uma das várias personalidades influentes na política estado-unidense que colocaram em evidência esse ponto: "Precisamos de mercados—grandes mercados—por todo o mundo, onde poderemos comprar e vender."
Houve várias previsões de que a paz traria de volta a depressão e o desemprego devido ao término da produção bélica e ao retorno dos soldados ao mercado de trabalho. Entre as dificuldades econômicas estava um aumento abrupto da inquietude trabalhista. Determinado a evitar uma catástrofe econômica equivalente à da década de 1930, o presidente Franklin D. Roosevelt viu a criação de uma ordem pós-guerra como uma maneira de garantir a prosperidade dos EUA.
A carta do Atlântico[editar | editar código-fonte]
Durante a guerra, os Estados Unidos da América imaginaram uma ordem econômica mundial pós-guerra na qual os EUA pudessem penetrar em mercados que estivessem previamente fechados a outros blocos, bem como abrir novas oportunidades a investimentos estrangeiros para as empresas estado-unidenses, removendo restrições de fluxo de capital internacional.
A Carta do Atlântico, esboçada em agosto de 1941 durante o encontro do presidente Roosevelt com o primeiro-ministro britânico Winston Churchill em um navio no Atlântico norte, foi o mais notável precursor à Conferência de Bretton Woods. Assim como Woodrow Wilson antes dele, cujos "Quatorze pontos" (Fourteen Points) delinearam os objetivos dos Estados Unidos para o pós-guerra da Primeira Guerra Mundial, Roosevelt lançou uma série de objetivos ambiciosos para o mundo pós-guerra antes mesmo de os EUA entrarem na Segunda Guerra Mundial. A carta do Atlântico afirmou o direito de todas as nações a igual acesso ao comércio e à matéria-prima. Além disso, a carta apelou pela liberdade dos mares (um objetivo principal da política estrangeira estado-unidense desde que a França e o Reino Unido ameaçaram navios estado-unidenses nos anos 1790), o desarmamento dos agressores e o "estabelecimento de um amplo e permanente sistema de segurança geral."
Quando a guerra aproximava-se do fim, a Conferência de Bretton Woods foi o ápice de dois anos e meio de planejamento da reconstrução pós-guerra pelos Tesouros dos EUA e Reino Unido. Representantes estado-unidenses estudaram com os colegas britânicos a reconstituição do que tinha estado faltando entre as duas guerras mundiais: um sistema internacional de pagamentos que permitisse que o comércio fosse efetuado sem o medo de desvalorizações monetárias repentinas ou flutuações selvagens das taxas de câmbio — problemas que praticamente paralisaram o capitalismo mundial durante a Grande Depressão.
Na ausência de um mercado europeu forte para os bens e serviços estado-unidenses, pensava a maior parte dos políticos, a economia dos EUA seria incapaz de sustentar a prosperidade que ela alcançara durante a guerra. Além disso, os sindicatos de trabalhadores tinham aceitado a contragosto as restrições impostas pelo governo aos seus pedidos durante a guerra, e eles não queriam esperar mais tempo por mudanças, principalmente depois que a inflação afetara as escalas de salários de maneira violenta (no final de 1945, já havia acontecido greves importantes nas indústrias de automóvel, eletricidade e aço).
Financiador e conselheiro autoindicado de presidentes e congressistas, Bernard Baruch resumiu o espírito de Bretton Wood no início de 1945: se pudermos "eliminar o subsídio ao trabalho e à competição acirrada nos mercados exportadores," bem como prevenir a reconstrução de máquinas de guerra, "oh boy, oh boy, que prosperidade a longo termo nós teremos."4 Assim, os Estados Unidos vão usar sua posição predominante para restaurar uma economia mundial aberta, unificada sob controle dos EUA, que deu aos EUA acesso ilimitado a mercados e matéria-prima.
Demétrio Magnoli
Nome completo Demetrio Martinelli Magnoli
Nacionalidade Brasileira
Ocupação jornalista, sociólogo e geógrafo
Demetrio Martinelli Magnoli (1958) é um jornalista, sociólogo e geógrafo brasileiro.1 2
Em 2012, foi denominado pela revista "Época" de um dos "novos trombones da direita".3
Vida profissional
Doutor em Geografia Humana pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP)4 , é integrante do Grupo de Análises de Conjuntura Internacional (GACINT)5 do Instituto de Relações Internacionais (IRI-USP) da referida universidade. Autor e coautor de diversas obras, também é colunista dos periódicos O Estado de S. Paulo e O Globo.6 e comentarista de política internacional do "Jornal das Dez" da Globo News. Foi colunista da revista "Época" e da Folha de S.Paulo (até setembro de 20067 ). Também foi colunista da Rádio BandNews FM e comentarista do Jornal da TV Cultura.8 Desde 1993, é diretor editorial do boletim "Mundo: Geografia e Política Internacional".4
Produção literária
Magnoli publicou seu primeiro livro em 1986 ("O que é Geopolítica?").9 Em 1997, foi um dos finalistas do prêmio Jabuti, concorrendo com o livro "O Corpo da Pátria: imaginação geográfica e política externa no Brasil, 1808-1912" (UNESP).10
Controvérsias
Magnoli tem-se posicionado ativamente contra ações afirmativas e cotas raciais.11 12 Em seu livro de 2009, "Uma Gota de Sangue", a tese central é de que "ações afirmativas e o movimento negro resultam de uma armação ideológica" (o multiculturalismo), que "conspira contra o princípio da igualdade perante a lei". Seu ponto de vista de que no Brasil "a fronteira racial não existe na consciência das pessoas" e de que já no século XIX a História do Brasil era contada como uma "mescla de raças" (enquanto que nos Estados Unidos a segregação racial tornava-se norma), foi contestado mesmo em veículos dos quais ele participa ativamente, como a Folha de S. Paulo.13 Magnoli refutou esta análise, afirmando que o autor da mesma (Marcelo Leite) havia sido "vítima da pressa" e que em seu livro havia "80 páginas" que comprovariam e esclareceriam sua tese.14
Magnoli, que quando era universitário nos anos 1980 foi militante de extrema esquerda (da facção Liberdade e Luta - Libelu, uma organização trotskista),3 15 fez críticas em 2011 aos estudantes da USP que protestaram de forma violenta contra intervenções da Polícia Militar de São Paulo no campus, em busca de usuários de maconha. Na época, ele contestou inclusive a escolha do reitor da universidade pelo voto direto, afirmando que isso só fazia sentido "nas décadas de 1960 e 1970", quando "havia a necessidade de preservar a instituição de ensino como um território da liberdade de expressão".16
Acordo de Bretton Woods
Por Emerson Santiago
Acordo de Bretton Woods ou ainda "Acordos de Bretton Woods" é o nome com que ficou conhecida uma série de disposições acertadas por cerca de 45 países aliados em julho de 1944, na mesma cidade norte-americana que deu nome ao acordo, no estado de New Hampshire, no hotel Mount Washington. O objetivo de tal concerto de nações era definir os parâmetros que iriam reger a economia mundial após a Segunda Guerra Mundial.
O sistema financeiro que surgiria de Bretton Woods seria amplamente favorável aos Estados Unidos, que dali em diante teria o controle de fato de boa parte da economia mundial bem como de todo o seu sistema de distribuição de capitais. Os Estados Unidos finalmente tomavam as rédeas das finanças mundiais, manobra que se recusaram a executar por pelo menos cerca de 25 anos, devido a princípios da política externa do país, que advogava o não-envolvimento em questões político-econômicas sensíveis às nações europeias.
O primeiro passo para tal hegemonia estava na transformação do dólar como moeda forte do setor financeiro mundial e fator de referência para as moedas dos outros 44 signatários de Bretton Woods. Isso equivale dizer que todas as outras moedas passariam a estar ligadas ao dólar, originalmente variando em uma margem de no máximo 1% (positivamente ou negativamente). Para dar sustento essa força dólar em escala mundial, a moeda estaria ligada ao ouro a 35 dólares, o que permitia ao portador de dólares (em teoria; na prática, pouco funcional) transformar as notas de dólares que qualquer cidadão carregasse no bolso, em qualquer parte do mundo, no seu equivalente em ouro, de acordo com o estipulado em Bretton Woods. Evidentemente, tal conta seria impossível de se sustentar, mesmo com uma emissão de moeda extremamente controlada (como aconteceu na realidade), servindo todo conceito mais como uma propaganda de consolidação do dólar em escala mundial.
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O acordo ainda previa a não menos importante criação de instituições financeiras mundiais que se encarregariam de dar o sustento necessário ao modelo que estava sendo criado, que seriam: "Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento", mais tarde renomeado para Banco Mundial, que funciona até hoje como uma espécie de Agência de Crédito tamanho família, destinada a fornecer capitais para políticas e projetos de desenvolvimento no mundo todo. Além desta seria criado o FMI (Fundo Monetário Internacional), uma espécie de "caixinha" de todos os países, que poderiam fazer movimentações de dinheiro do caso necessitassem de injeção de capitais em sua economia, respeitando, claro, alguns preceitos de disciplina fiscal a serem ditados pelos dirigentes do fundo.
Tal sistema duraria quase vinte anos, até que nos anos 70 o governo norte-americano fosse forçado a abrir mão de alguns preceitos de Bretton Woods.
Bibliografia:
http://www.clubeinvest.com/_technical_analysis/forex/Bretton_woods/Bretton_woods.php - Página Clube Invest - Bretton Woods
http://www.enciclopedia.com.pt/new/articles.php?article_id=1703 - Página Enciclopédia - Acordos de Bretton Woods
Bretton Woods foi o nome dado a um acordo de 1944 no qual estiveram presentes 45 países aliados e que tinha como objectivo reger a política económica mundial. Segundo o acordo de Bretton Woods as moedas dos países membros passariam a estar ligadas ao dólar variando numa estreita banda de +/- 1%, e a moeda norte-americana estaria ligada ao Ouro a 35 dólares. Para que tudo funcionasse sem grandes sobressaltos foram criadas com o acordo Bretton Woods duas entidades de supervisão, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.
Assim, com o acordo de Bretton Woods, o dólar passou a ser a moeda forte do sistema financeiro mundial e os países membros utilizavam-na para financiar os seus desequilíbrios comerciais, minimizando custos de detenção de diversas moedas estrangeiras.
Assim, com o acordo de Bretton Woods, o dólar passou a ser a moeda forte do sistema financeiro mundial e os países membros utilizavam-na para financiar os seus desequilíbrios comerciais, minimizando custos de detenção de diversas moedas estrangeiras.
Durante vinte anos o sistema Bretton Woods funcionou como previsto, mas chegando-se à segunda metade da década de 60 começaram a surgir problemas derivados da degradação das finanças norte-americanas. Para se financiar o défice orçamental houve um aumento da emissão de dólares que, por um lado, começou a criar problemas aos restantes países membros do acordo Bretton Woods, porque os obrigava a emitir das suas próprias moedas para manterem o cambio "fixo", criando pressões inflacionistas na sua economia, e por outro, associado a uma degradação da conta corrente norte-americana, com as importações a crescerem mais rápido que as exportações (a balança comercial passou de um excedente de 6,8 mil milhões em 64 para um défice de 2,9 mil milhões em 71, sendo também um dos culpados a sobrevalorização do dólar, que mantinha o preço dos produtos norte-americanos muito elevados face aos europeus), a quantidade de dólares passou a exceder o stock de ouro diminuindo a vontade dos outros países de deter dólares. (em 1971 o passivo norte-americano era de 70 mil milhões de dólares e o stock de ouro de apenas 12 mil milhões)
A pressão foi aumentando e durante o primeiro semestre de 1971 já se notava alguma valorização das moedas mais importantes face ao dólar, apesar de serem tomadas algumas medidas para contrariar essa tendência. Mas, a 15 de Agosto, Nixon, que era presidente desde 1969, pôs fim ao acordo de Bretton Woods e à convertabilidade do dólar em ouro, anunciando a sua vontade de realinhar as taxas de paridade. Após o anúncio, os mercados estiveram fechados durante uma semana e quando abriram o dólar foi desvalorizando, com os Bancos Centrais a intervir e a controlar a situação.
Ver artigo A Grande Inflação dos Anos 70
A Grande Inflação dos anos 70
22.06.2004 | 16:22:20 |
João Henriques
Vamos começar do princípio e analisar as diversas vertentes que caracterizaram o ambiente daquela época.. Partilhar
O mais interessante quando se estuda história económica, é que nos periodos áureos da economia, de crescimento económico, facilmente se descobre as causas e os responsáveis por tal periodo de expansão, mas quando o estudo recai sobre épocas conturbadas ou de recessão, surgem as mais diversas teorias explicativas não havendo um consenso geral.
Vamos então começar do princípio e analisar as diversas vertentes que caracterizaram o ambiente daquela época, a evolução económica, o fim do acordo de Bretton Woods, o preço do petróleo e a política monetária e fiscal.
A economia nos anos 60 e 70
Durante a década de 60 a economia norte-americana viveu um dos mais fortes periodos de expansão de sempre, com 35 trimestres de crescimento positivo consecutivos (contado com o segundo trimestre de 67 que foi de crescimento 0), e que lhe permitiu atingir um crescimento médio anual durante essa década de 4,4%.
Como se pode ver pelo gráfico abaixo a economia norte-americana registou dois trimestres de crescimento negativo logo no início dos anos 60 e só voltou a registar tal evolução no final da década, exactamente no último trimestre de 69 e primeiro de 70. Esta ligeira recessão deu início a um periodo conturbado da economia, com vários trimestres de crescimento negativo e fortes recessões, nomeadamente em finais de 74 e princípios de 80. O crescimento médio anual decaiu fortemente e se nos anos 60 tinha sido de 4,4%, nos anos 70 apenas atingiu os 3,3%.
A forte expansão vivida nos anos 60 contribuiu naturalmente para uma forte diminuição da taxa de desemprego, caindo de cerca de 6% no início da década para baixo dos 4% no final da mesma. Pelo lado oposto, o conturbado periodo vivido nos anos 70 teve como consequência um crescimento muito elevado do desemprego chegando a atingir mais de 8% a meio da década.
Mas a década de 70 ficou foi realmente famosa por ter sido vivida num ambiente de elevada inflação. Comparando as duas décadas aqui analisadas facilmente se nota uma mudança drástica relativamente à evolução geral dos preços e enquanto que na década de 60 a inflação média anual foi de 2,4% na de 70 foi de 7,1%, com o seu pico a ser atingido já em 1980 quando a inflação era mais de 13%.
Mas importa aqui salientar um outro ponto. Se olharmos para o gráfico, facilmente percebemos que o aumento da inflação se deu ainda em meados da década de 60, e assim, se em 1965 a subida média anual dos preços foi de 1,6%, já em 1969 esse valor atingiu os 5,5%. Este ponto é muito importante e indica que algo já não estava bem quando entramos nos anos 70.
Politicamente a década de 60 ficou marcada pelo assassínio de Kennedy em finais 1963, e pela posterior presidência de Lyndon Johnson, que pôs em marcha o programa Grande Sociedade, que tinha como objectivo melhorar a vida das pessoas, investindo-se na educação, no auxílio médico, desenvolvimento das regiões menos favorecidas, etc. Além deste programa, os Estados Unidos mantinham-se envolvidos numa controversa e dispendiosa guerra, Vietname, e empenhados na conquista do espaço, gastando milhões para se manterem à frente dos russos e porem um Homem na lua até 1969.
Todos estes programas e gastos governamentais contribuiram para o periodo de expansão vivido, mas também tiveram como consequência a degradação das contas do Estado. Assim, podemos verificar que se em 1960 houve um excedente de 0,1% do PIB, os oitos anos seguintes foram de défices, e nomeadamente a partir da segunda metade da década houve um forte agravamento atingindo-se um máximo de 2,9% em 1968, o mais elevado valor desde final da segunda guerra mundial.
A década de 70 continuou a ver as contas públicas a agravarem-se chegando mesmo a atingir-se um défice superior a 4% em 1976.
O fim do Acordo de Bretton Woods
Bretton Woods foi o nome dado a um acordo de 1944 no qual estiveram presentes 45 países aliados e que tinha como objectivo reger a política económica mundial. As moedas dos países membros passariam a estar ligadas ao dólar variando numa estreita banda de +/- 1%, e a moeda norte-americana estaria ligada ao Ouro a 35 dólares. Para que tudo funcionasse sem grandes sobressaltos foram criadas duas entidades de supervisão, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.
O dólar passou assim a ser a moeda forte do sistema financeiro mundial e os países membros utilizavam-na para financiar os seus desequilíbrios comerciais, minimizando custos de detenção de diversas moedas estrangeiras.
Durante vinte anos o sistema funcionou como era previsto, mas chegando-se à segunda metade da década de 60 começaram a surgir problemas derivados da degradação das finanças norte-americanas. Para se financiar o défice orçamental houve um aumento da emissão de dólares* que, por um lado, começou a criar problemas aos restantes países membros do acordo, porque os obrigava a emitir das suas próprias moedas para manterem o cambio “fixo”, criando pressões inflacionistas na sua economia, e por outro, associado a uma degradação da conta corrente norte-americana, com as importações a crescerem mais rápido que as exportações (a balança comercial passou de um excedente de 6,8 mil milhões em 64 para um défice de 2,9 mil milhões em 71, sendo também um dos culpados a sobrevalorização do dólar, que mantinha o preço dos produtos norte-americanos muito elevados face aos europeus), a quantidade de dólares passou a exceder o stock de ouro diminuindo a vontade dos outros países de deter dólares. (em 1971 o passivo norte-americano era de 70 mil milhões de dólares e o stock de ouro de apenas 12 mil milhões)
A pressão foi aumentando e durante o primeiro semestre de 1971 já se notava alguma valorização das moedas mais importantes face ao dólar, apesar de serem tomadas algumas medidas para contrariar essa tendência. Mas, a 15 de Agosto, Nixon, que era presidente desde 1969, pôs fim ao acordo de Bretton Woods e à convertabilidade do dólar em ouro, anunciando a sua vontade de realinhar as taxas de paridade. Após o anúncio, os mercados estiveram fechados durante uma semana e quando abriram o dólar foi desvalorizando, com os Bancos Centrais a intervir e a controlar a situação.
Perto do final do ano, a 18 de Dezembro, foi elaborado um novo acordo, o Smithsonian Agreement, que fixou os novos câmbios (em 31 de Dezembro o US Dolar Index registava uma desvalorização de 9%) e uma banda de negociação de 2,25%, além de uma desvalorização de 8,57% do dólar face ao ouro
Mas a pressão sobre desvalorização do dólar continuou durante os dois meses seguintes e em Fevereiro de 1972 os mercados foram encerrados reabrindo apenas em Março de 1973, já com taxas de cambio livres.
O Dólar, o Ouro e o Petróleo
A pressão sobre desvalorização do dólar manteve-se entretanto após a abertura dos mercados cambiais e aí nasce um problema que até então não existia e que implicava a mais importante matéria-prima a nível mundial, o petróleo.
Embora o petróleo fosse cotado em dólares, o ouro tinha uma elevada importância na região Arábica, servindo de moeda de transferência entre países árabes, asiáticos e povos da região. Ao deixar-se o dólar cotar livremente, e mantendo ele uma forte tendência de desvalorização (a 6 de Julho o US Dolar Index já tinha desvalorizado 21%), o preço do petróleo passava a valer muito menos em ouro e os países produtores sentiam-se a perder poder de compra.
Entre a Segunda Guerra Mundial e até finais dos anos 60, com o ouro a valer 35 dólares, o preço do petróleo subiu menos de 2% em média anual, de 2 para 3 dólares, fazendo com que no final de 1970 fossem preciso 12 barris de petróleo para comprar uma onça de ouro. Com a ligeira desvalorização do dólar em 71, o declínio do preço “real” do petróleo não passou despercebido aos produtores de petróleo e logo em 1971, a OPEC inseriu um factor de 2,5% anual no preço do petróleo para compensar a queda do dólar.
Durante 1972 e após o Smithsonian Agreement, que trouxe uma nova desvalorização do dólar face ao ouro, o factor foi revisto e obrigou a um aumento de 8,49% no preço do petróleo. Mas em meados de 73 o ouro chegou a valer 120 dólares, e como o preço do petróleo em dólares se manteve implicou uma desvalorização do mesmo face ao ouro, passando a serem precisos 34 barris por onça, ou uma desvalorização de 70%.
Esta perca de poder de compra por parte dos países da OPEC, levou-os a marcar uma reunião para dia 8 de Outubro de 1973 com as companhias petrolíferas, na qual o preço do petróleo seria revisto em alta.
Mas dois dias antes da reunião se realizar estalou a 4ª guerra Israelo-Árabe, que durou menos de um mês, mas que alterou radicalmente o contexto político e económico. O Rei Faisal da Arábia Saudita, tinha durante todo o ano de 73 avisado os Estados Unidos que caso a política para o Médio Oriente não fosse alterada o petróleo seria utilizado como arma. Assim, em 1 de Janeiro de 1974 a OPEC impôs um aumento do preço do petróleo de 4,31 para 10,11 dólares. Na altura os Estados Unidos dependiam apenas em pouco mais de 6% do petróleo árabe, mas as consequências foram nefastas para a economia norte-americana.
Mas o mais interessante na subida do preço do petróleo, é que devido à forte desvalorização que o dólar tinha sofrido durante 73, o seu preço em ouro após o aumento passou a ser de 12,8 barris por onça. Ou seja, no fundo a guerra serviu como desculpa para a subida do preço do petróleo, mas é inegável que o aumento do preço apenas trouxe o valor do petróleo em termos de ouro para os valores normais do início da década.
As sanções foram retiradas em Julho de 74 e nos anos seguintes o preço do petróleo esteve mais estável, mas sempre a subir. Em 1977/78 o dólar começou novamente a perder valor e o ouro, naturalmente a subir, criando pressão sobre o preço do petróleo.
Em Janeiro de 79 deu-se a Revolução Iraniana. O Xá do Irão foi obrigado a sair do país depois de um ano de intensa oposição, e em Fevereiro Ayatola Komeni tomou o poder, sendo confirmado num referendo em Abril desse ano e criando no Irão uma República Islâmica. As relações com os Estados Unidos agudizaram-se e em Novembro, quinhentos estudantes extremistas tomaram a embaixada norte-americana em Teerão e fizeram 66 reféns durante 444 dias.
O Irão produzia mais de 5 milhões de barris por dia tendo uma posição relevante no conjunto dos países da OPEC na produção de petróleo, com um peso de 18%. Com a revolução, a sua produção baixou para 3 milhões de barris e o seu peso baixou para 10% em 79 e para 1,5 milhões de barris e 6% nos dois anos seguintes, vindo posteriormente a nivelar nos 13%.
A Revolução Iraniana fez disparar novamente o preço do petróleo e este atingiu um novo máximo acima dos 35 dólares no início de 1981.
A política monetária e o não combate à inflação
Após a ligeira recessão de 69/70 a economia sofreu mais um trimestre negativo de crescimento, no último trimestre de 70, mas posteriormente entrou em expansão. A inflação parecia estar controlada e começou a diminuir atingindo em 1972 o valor de 3,2%.
Richard Nixon era na altura presidente dos Estados Unidos, cargo que ocupou até 1974, e Arthur Burns presidente da Reserva Federal, lugar que ocupava desde Fevereiro de 1970, e no qual havia sucedido a William McChesney que o tinha ocupado durante 19 anos.
Burns tinha anteriormente liderado o NBER (National Bureau of Economic Research) e tinha ganho reputação de mestre do ciclo económico, opondo-se sempre à inflação, já que considerava que esta dava início às forças que causavam recessão. Mas então, com alguém com esta convicção a liderar o Fed, como foi possível que a década de 70 se tornasse um periodo conhecido como a “Grande Inflação”?
A verdade é que durante toda a década de 70 acreditou-se que a política monetária não era a arma capaz de controlar a inflação, atirando-se essa responsabilidade para as políticas salariais. Acreditava-se que a inflação surtia de um efeito de “cost-push”, responsabilizando-se os monopólios de sindicatos e grandes empresas pela pressão salarial.
Nixon chegou mesmo a impor um controlo de salários em Agosto de 1971, medida essa que durou até Abril de 74. Mas apesar disso o presidente dos Estados Unidos não acreditava em políticas económicas que prometiam combater a inflação aumentando o desemprego, porque ele atribuía a derrota nas eleições de 1960 ao facto de Eisenhower não ter querido estimular a economia e o emprego devido ao risco de causar inflação. (Nixon foi vice presidente quando Eisenhower era presidente e candidatou-se ao cargo de presidente pela primeira vez em 1960)
Na procura de um elevado crescimento económico, o défice orçamental aumentou fortemente em 71 e 72 e novamente em 75 e 76 (já com Gerald Ford na presidência), e a política monetária esteve muito expansiva como se pode verificar pelo gráfico das taxas de juro reais (txs juro nominais – inflação) e pelo crescimento da massa monetária. Apesar das taxas de juro nominais terem estado em tendência de subida durante toda a década, desde meados de 1974 até início de 1980 as taxas reais foram negativas, estimulando um ambiente inflacionista. A adicionar a este facto verificamos também que fortes crescimentos da massa monetária antecederam os anos mais fortes de inflação, em 1971 e 72 a massa monetária cresceu cerca de 13% e novamente esse valores foram atingidos em 75 e 76.
Na altura havia grande debate sobre a política monetária e seus efeitos (tal como actualmente e sempre) e quando a inflação começou a subir novamente o presidente do Fed responsabilizou os mais diversos factores, como o aumento do preço do petróleo, as más colheitas e o mau tempo. Havia quem dissesse ironicamente que a política monetária estava a fazer o seu papel, já que era menos restritiva do que os monetaristas desejavam e mais do que os keynesistas pediam. Além do mais, nunca foi tão expansionista como o Congresso queria e até 1972 foi mais restritiva do que Nixon desejava. O presidente do Fed afirmava na altura que a política monetária era a correcta e que se fosse mais restritiva teria tido custos reais na economia sem limitar a inflação.
Milton Friedman o “senhor monetarista”, afirmou em 72 que a massa monetária estava mais elevada do que ele favorecia, mas para o periodo em questão, não estava perigosamente elevada.
A adicionar a todos estes factores acredita-se actualmente que houve erros na estimativa do potencial de crescimento da economia e no cálculo da produtividade. A produtividade dos Estados Unidos cresceu a uma média anual de 2,25% entre 1890 e 1970, o que fez com que a produção por trabalhador dobrasse em cada trinta anos. Apesar de não se encontrar as razões específicas para uma mudança, os estudos indicam que nos anos 70 o crescimento da produtividade diminuiu para cerca de 1,5%.
Só no princípio dos anos 80 e já sobre a liderança de Paul Volcker no Fed e de Jimmy Carter na presidência dos Estados Unidos é que houve uma luta feroz contra a inflação, subindo-se as taxas de juro drasticamente com o objectivo primordial de controlar os preços. A partir daí entrou-se num ciclo de diminuição progressiva da inflação que durou até aos tempo actuais.
Conclusão
Como conclusão podemos então salientar três tópicos.
- o fim do acordo de Bretton Woods trouxe uma nova situação financeira, com as moedas a cotarem livremente e que teve como consequência uma forte desvalorização do dólar (em 1973 e 77/78). Apesar das crises nas Arábias terem criado pressão de subida do preço do petróleo, é inevitável uma relação entre a desvalorização do dólar e uma subida dos preços dos produtos importados, nomeadamente o petróleo
- não existiu durante toda a década a “real” vontade de controlar a inflação. Alguns economistas afirmam que se vivia ainda um pouco na sombra da Grande Depressão dos anos 30, e que por isso, havia uma vontade de estimular a economia para manter o desemprego a um nível reduzido
- a manutenção de uma política monetária muito expansiva, contribui também para um descontrolo cambial, o que implica que se tenha entrado num ciclo vicioso que só foi estancando nos anos 80 com a forte subida das taxas de juro.
Como é natural num periodo conturbado como este o mercado accionista caiu fortemente, e ajustado à inflação e não incluindo dividendos, perdeu perto de 40%.
A lição dos anos 70 é a de que a elevada inflação é algo a combater e acredito que a Reserva Federal continuará a ter essa medida como objectivo, mantendo tanto a inflação actual como as expectativas de longo prazo controladas, de modo a que elas não interfiram negativamente na actividade económica.
Por outro lado, sabemos actualmente que provavelmente uma das causas da entrada em deflação do Japão nos anos 90 foi ter tido um política monetária demasiado restritiva no ciclo de crescimento que se seguiu ao rebentamento da bolha financeira de finais de 80. ( ver artigo )
É um assunto a continuar a estudar, nomeadamente a comparação entre os anos 70 e os dias que correm, ao nível da política monetária e fiscal e ao nível da evolução do preço do petróleo..
* Quando o governo gasta mais do que recebe em impostos, o Departamento do Tesouro tem de se financiar no mercado, vendendo obrigações e títulos do Tesouro. O aumento da procura de crédito no mercado financeiro, se não for compensado por uma redução de procura de crédito por outros agentes, pressiona para cima as taxas de juro, porque existem mais títulos a concorrerem entre si e para serem aceites têm de oferecer melhores taxas de retorno, ou seja, um juro mais elevado. A Reserva Federal se quiser limitar a subida das taxas de juro comprará títulos do Governo, e para o fazer tem de emitir moeda e pô-la em circulação, ou seja, um aumento da massa monetária, que por sua vez vai criar inflação.
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facebook João Batista Mezzomo mencionou você em um comentário. João Batista escreveu: "Radeir Atr, esse assunto é bem vasto e se poderia escrever um livro sobre isso. Estou inclusive escrevendo o meu segundo livro, que vai se chamar "Bem vindo à terra", onde esse assunto será tratado. Ou seja, meu segundo livro é uma tentativa de olhar a terra globalmente, como se fosse um país único. Essa visão global deixa ver que o que ocorre no planeta faz parte de um todo, cada região tem seu sentido, inclusive o Ocidente foi induzido pelo Oriente em todos os seus aspectos (econômico, religioso, etc). Bem, respondendo à tua pergunta, o BRICS é a união de diversos países emergentes para, entre outras coisas, se contrapor ao sistema atual, que começou ou teve um aprofundamento com os acordos de Bretton Woods http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordos_de_Bretton_Woods Resumidamente, até o final do século XIX e início do século XX a Inglaterra emitia a moeda internacional, a libra esterlina. Isso aconteceu como consequência de sua liderança comercial e suas enormes reservas de ouro (oriundo do Brasil, principalmente). Com as grandes guerras a Inglaterra perdeu o controle, e os EUA se apresentou para ser o garantidor do sistema financeiro mundial, e apresentaram o dólar como moeda internacional. Houve uma disputa entre a proposta americana e a do economista Keynes, que defendia uma moeda internacional emitida por uma organização dos países, tipo o FMI. Qual a diferença? É que o país emissor da moeda internacional se beneficia disso, e Keynes achava que o benefício deveria ser compartilhado, ao menos entre os países líderes, e não se concentrar em um único país. Como se dizia, o país emissor da moeda internacional pode “comprar o resto do mundo com moeda que emite”. Pra você ter uma ideia, os EUA hoje emite muito mais dólares que seu crescimento real do PIB, isso deveria provocar inflação, pois muita moeda faz o seu valor cair frente aos valores das mercadorias, por excesso de moeda no mercado (isso é a inflação). Só que não ocorre nos EUA pois o mundo demanda dólares o tempo todo, por ele ser a moeda internacional. Na prática o mundo pede dólares a todo o momento, os EUA emitem e o valor dessas emissões são uma transferência enorme de recursos de todos os países para os EUA. Eles ficam devendo mas como nunca devolvemos os dólares, antes pedimos mais, continua o sistema a girar, até o dia em que vai estourar. Enquanto não estoura, os recursos que vão para lá falta no resto do mundo, ou seja, o mundo carrega nas costas parte do bem estar dos EUA. Não tem mais sentido o mundo pagar esse valor para os EUA “manterem a ordem”. Até por que, o comunismo acabou e o problema de ordem hoje é causado pelos EUA, não existem mais motivos no mundo que não sejam esses, de manter o sistema que privilegia EUA e seus aliados, agora em crise também. A visão do Olavo de Carvalho é exagerada, ele ainda vê o mundo sob o prisma capitalismo x comunismo, ou catolicismo x islamismo. Esse é o velho mundo, o novo iguala as pessoas de todos os recantos do mundo sem esses chavões. O BRICS está dentro dessa nova visão, que fatalmente vencerá no longo prazo, mas tem de ser de forma transparente, pela paz, pela consciência das pessoas. Não é verdade que a mudança vai provocar uma enorme crise nos EUA, muito menos uma ditadura lá (o cara aqui viajou!!!!!). EUA lidera também por méritos do povo americano, assim como foi a Inglaterra no passado. Apenas vai mudar alguns aspectos, a distribuição vai ser mais igualitária, o mundo vai se descobrir como a casa de uma família, a família humana, que abrange a natureza como um todo. Em meu primeiro livro tem a parte que fala um pouco sobre isso que pode ser vista em “https://filosofojr.wordpress.com/2011/06/14/parmenides-e-as-torres-gemeas/ . Inclusive tem um comentário teu lá, mas discordo dessa visão que exclui uma parte, acho que o novo momento será inclusivo, ninguém ficará de fora, é um sistema planetário mesmo que vai surgir como resultado do avanço da consciência coletiva, enfim, pelo desejo de felicidade universal, que nunca morre. Será comunismo o nome? Tanto faz, o nome não interessa. Espero ter ajudado." https://filosofojr.wordpress.com/2011/06/14/parmenides-e-as-torres-gemeas/ JOÃO BATISTA MEZZOMO - Principal GRUPO CAFÉ COM FILOSOFIA – PHIPSI FILOSOFIA E HUMANIDADES PARMÊNIDES E AS TORRES GÊMEAS
Algum tempo após os atentados que resultaram na destruição das torres gêmeas, em 11 de setembro de 2001, um filósofo norte-americano esteve no Brasil proferindo palestra, quando abordou o ocorrido sob o ponto de vista do trauma que o fato provocou na sociedade norte-americana. Fazendo um paralelo com os traumas ocorridos na vida individual das pessoas, o filósofo tentou vislumbrar como seria a superação desse trauma.
O raciocínio do filósofo está correto, pois quando tentamos adquirir “ciência” sobre algo, de modo a que venhamos mesmo a antever o futuro, nós o fazemos estabelecendo paralelos entre fenômenos similares. E o individual é claro que tem similaridade com o coletivo. Porém, sempre existem muitos modos de fazer esta comparação, e esses modos são justamente o que faz uma ciência ser pertinente ou não, ou uma filosofia ser algo que tenha um fundamento mais duradouro, ou compreenda apenas superficialmente a questão, não nos trazendo um esclarecimento adequado do problema. Neste caso, a filosofia que podemos fazer algumas vezes se assemelha àquela que fazemos no “boteco”, para acompanhar aquele chopinho gelado.
Segundo o raciocínio desenvolvido pelo filósofo norte-americano, haveria um tempo necessário para que o trauma fosse superado, pois é isso que vemos quando olhamos para a ocorrência de traumas em nossas vidas individuais. É verdade, mas ocorre que às vezes nós não os superamos, apesar de passar o tempo, e pode ocorrer mesmo que venhamos a morrer sem superá-los. O que ocorre é que, para superar um trauma, no mais das vezes nós devemos ter condições de compreender o que está em jogo, caso contrário ele continuará lá em nossa frente, a obstaculizar o caminho. Ou seja, um evento traumático, tanto em nossas vidas individuais como em relação ao coletivo, trás em si uma mensagem, que deve ser decifrada se queremos superá-lo em toda a sua potencialidade evolutiva e transformadora. No caso do atentado de 11 de setembro, o modo como aconteceu, e a influência que teve no mundo, deve nos mostrar que o evento é algo que devemos olhar com mais cuidado.
É como se o abstrato nos tivesse mandado um sinal,
um sinal que já nos mandou, no passado, mas não compreendemos.
Então, em 11 de setembro de 2001, ele veio para dentro de nossa vida de modo mais enfático: decifra-me ou devoro-te! Pois quando aquelas torres foram atingidas e desabaram, deixando perplexas as pessoas, o que estava desabando era um dos ícones da sociedade ocidental. Mais do que a sociedade norte-americana, quando aquela imensidão de “concreto” veio abaixo, toda a sociedade ocidental foi atingida, transformando em concreto o abstrato que antes já se tornara concreto através de Marx: o que era sólido desmanchou no ar!
Nossa sociedade baseia-se nas certezas que a razão, fortalecida em 2.500 anos de especulação, construiu. As mesmas certezas que nos fazem tomar um avião, ou um elevador, confiando cegamente que “vai dar tudo certo”. Porém, pode acontecer que alguma coisa não dê certo. Ou que tudo dê errado. Ou que tudo dê certo sob outro ponto de vista, e as torres de nossas certezas desabem. Ou seja, a tecnologia, filha da ciência, filha da razão, é limitada. As verdades científicas são relativas. E nosso modelo de mundo é vazio e ilusório, de modo que o mundo que consideramos real não é o território previsível e seguro que imaginamos, antes ele é um pequeno barco a navegar sobre um imenso mar, que desconhecemos. A sociedade norte-americana descobriu isso da forma mais dolorida. O símbolo emblemático do materialismo e do poder econômico tinha pés de barro e desabou vergonhosamente, deixando por trás de si escombros que cheiraram mal por meses a fio.
Poderíamos nos colocar na posição de explorados pelo modelo e comemorar o acontecido. Ou como fez o presidente Lula, em relação à crise econômica, dizer que isso é coisa dos loiros de olhos azuis. Igualmente, neste caso, faríamos “filosofia de boteco”. Acho que podemos e devemos fazer mais. Pois na verdade, mesmo que de forma periférica, fazemos parte e alimentamos a ideologia desta sociedade que se propôs dominar a natureza, mas na verdade está na mão dela, pois desconhece sua verdadeira essência. A queda das torres acertou em cheio o orgulho e a autossuficiência da sociedade norte-americana, mas junto com ela todo o paradigma da sociedade ocidental, à qual pertencemos. Pois quando usamos nosso carro para nos deslocarmos da casa ao trabalho, nós esperamos que ele funcione, e esperamos que haja combustível nos postos de abastecimento, e a preços estáveis e baixos. E se algo mudar esta constância de nossas vidas, nós vociferamos contra os políticos. Ou seja, resumindo, quando o Sr. Bush jogou bombas no Iraque e no Afeganistão, foi em nosso nome, e em defesa de nosso modo de vida que ele o fez, por mais que isso seja difícil de admitir, numa conversa de boteco. E ainda hoje bombas são lançadas, e crianças são mortas. E ainda hoje é em defesa de nosso modo de vida que isso ocorre, desculpa eu jogar isso assim em sua cara, caro leitor.
A afirmação acima pode causar alguma estranheza pelo modo como opera o Ocidente, que nos induz a sermos cegos para a totalidade. Nossa sociedade não é diferente de nenhuma outra, em sua ação concreta. Ela também mata para garantir seu modo de vida. Mas como dividimos a realidade em mil pedaços, cada um de nós faz uma pequena parte – e há mesmo os que fazem a parte suja, e são bem pagos para isso – de modo que nossa ação destruidora pode ser atribuída sempre aos outros: À Igreja, ao Estado, ao Sr. Bush ou à Sra. Margaret. Por isso aqueles jovens tomaram aqueles aviões, e o abstrato cuidou para que eles nos atingissem em cheio. Pois é evidente que esse modo de ser “falso” não continuará a existir assim indefinidamente. Chegará o dia em que teremos de “viver a verdade”, ou seja, o dia que teremos de inaugurar uma vida plena, transparente, saindo desse fetichismo e dessa mentira, que não é responsabilidade de ninguém, e ao mesmo tempo é de todos. E justamente, é para que isso aconteça que o abstrato nos envia sinais, e continuará enviando, até que compreendamos o que está em jogo. Então, foi para que abramos os olhos que aconteceu o 11 de setembro. Pois aqueles aviões, artefatos da tecnologia que achamos às vezes símbolos do bem, outras do mal, dependendo do “ponto de vista” pelo qual os consideramos, nos trazem um recado: que é hora de olharmos com mais cuidado para as torres de nossas certezas, pois elas tem pés de barro. Tentemos então decifrar o evento.
Em primeiro lugar, vejamos em que consiste o ato terrorista. Longe de mim defendê-lo, mas o fato é que ele é em si o ato de alguém que prioriza um outro mundo, em detrimento deste. E o que preferimos ignorar é que um ato desse mesmo tipo jaz no fundamento de nossa sociedade.
Quando Jesus Cristo optou por morrer, em nome de outro mundo, ele não se perguntou se isso no futuro geraria a morte de milhões. Ou seja, ele estava seguindo a orientação do “Pai”, que o levou a morrer na cruz em vista de um mundo novo. E justamente, essa aceitação do sacrifício em vista de algo alhures é que fez o ato de Jesus ser transformador, se constituindo em uma das raízes dessa sociedade tecnológica, que tirou as divindades do mundo para poder fazer ciência. Isso iguala seu ato ao daqueles jovens que voaram para a morte, e derrubaram aquelas torres. Como Jesus, eles tinham um acordo, e estavam seguindo um plano previamente traçado. Pela Al-Qaeda? É possível, mas não somente por ela, ou por qualquer outro interesse “deste mundo”. Alguma instância alhures quiçá quer que entendamos algo que nos escapa. Então ela fez aqueles aviões se chocarem exatamente no vazio das torres de nossas certezas, e elas vieram abaixo, trágica e vergonhosamente. Pois como aqueles jovens morreram em vida para este mundo, na medida em que decidiram se doar em vista de algo superior, o abstrato veio através de seu ato, e agora está diante de nós: decifra-me ou devoro-te!
Aqueles jovens pensam algo de nós, caro leitor. E acredite, eles têm razão! Pois basta ser ser humano e pensar para ter razão. E quem disse isso, fomos nós mesmos, os “iluministas”. Todos os pontos de vista são justificáveis, se nos colocarmos no ponto onde se formaram. E do ponto de vista daqueles jovens, nós somos hipócritas, falsos, e queremos destruí-los, a eles e a suas famílias. Pois eles olham para nós, e escutam lindas frases e promessas, mas nossa ação é de domínio pela força, de incompreensão pelos seus valores. Nós falamos em amor, mas praticamos a guerra e a espoliação. Se não se submetem a nossos interesses, ocupamos, destruímos, semeamos a discórdia. Falamos em igualdade, fraternidade e felicidade universal, mas construímos desigualdades, dor e destruição. Como um Fausto que a tudo dominou, acabamos no final destruindo a pequena aldeia antiga, que é nossa raiz (qualquer semelhança com o Afeganistão não é mera coincidência). De modo que aqueles aviões vieram para mostrar, primeiramente, que somos cegos, e que nosso discurso é vazio.
OK, os terroristas não são diferentes de nós, pois também eles buscam o lucro e a riqueza, e também eles matam e destroem. É verdade, e o que nos iguala a todos é justamente a cegueira do ser humano, que nos mantém num estado de total ignorância, onde nos mantemos presos uns aos outros como moscas numa armadilha. Aliás, não fomos nós que inventamos os conflitos no Oriente Médio. Se tomarmos o panorama daquela região nos tempos de Jesus, veremos que não mudou nada na essência. Continuam as facções lutando umas contra as outras, numa manifestação de violência e ódio. Nós apenas potencializamos o conflito, e o trouxemos para o palco, pois temos interesses naquela região (não é mesmo, caro leitor?) e por que somos a civilização da tecnologia e da destruição em larga escala. E justamente, essa coincidência de ternos interesses naquela região conturbada do mundo, e a resistência do problema a uma solução efetiva, são os indicativos de que aí reside algo que não compreendemos. E agora esse algo veio até nós, e por uma “incrível coincidência” acertou exatamente em nosso ponto frágil, e derrubou aquelas torres. O que mais será preciso destruir, para que compreendamos o que está em jogo?
Ora, o que está em jogo é que nós somos fundamentalistas, na origem, mas preferimos fechar os olhos para isso. Por isso nós dissemos linhas atrás que o Afeganistão é aquela pequena aldeia, que resiste a Fausto obrigando-o a passar sobre suas próprias raízes. E foi esse “atropelamento de si mesmo” uma das coisas que fez Fausto ficar cego, para não ver o que fizera. Nossa sociedade se funda na tradição grega, que seguiu o conselho de Parmênides e obstaculizou o não-ser, para poder racionalizar o mundo. Porém, no vazio que tal consideração de mundo provocou, se instalou uma pequena semente, que tomou o interior do edifício, e que no frigir dos ovos é algo equivalente ao que professam aqueles jovens. Por isso eles tomaram aqueles aviões, e nos acertaram em cheio, fazendo nossas torres gêmeas desabar. Então, foi também o não-ser que veio com aqueles aviões, e agora está parado aí diante de nós: decifra-me ou devoro-te!
Nós dissemos acima que “preferimos fechar os olhos” para nosso fundamentalismo, mas isso é uma simplificação. O que ocorre é que nossa construção de mundo é dupla, o que nos provoca uma cegueira e uma “surdez”. Como uma sociedade de mercadores que somos, o mundo de objetos separados se transformou em um mundo de mercadorias, disponíveis a quem as puder comprar, ou tomar. Se investimos um valor em algo, queremos que nos dê retorno. Não vale mais aquele raciocínio pré-capitalista, de que “mais vale um gosto que um tostão no bolso”, mas sim o “raciocínio do mercador”, para o qual o mundo é visto como um investimento, de lucros e prejuízos. E quando nós falamos algo, estamos tentando vender um produto, nem que seja nós mesmos, e não interessa tanto se o temos na mão, mas o anúncio é como uma promessa, que depois vamos ver se cumprimos, ou apenas nos aproximamos dela. E quando vêm as reclamações dos “clientes”, nas fazemos “ouvidos de mercador”, ou seja, nós descartamos certas coisas pelo “bem do negócio”. Mas acontece que aqueles aviões vieram para nos dizer que está chegando ao fim o sentido do “negócio”, e que não podemos mais ignorar certas coisas que ouvimos, e descartamos.
Sem dúvida todos nós somos contra a violência, a guerra, as desigualdades, e tudo o mais. Mas acontece que a cegueira inerente ao modo de construir o mundo nos impede de assumir plenamente a responsabilidade sobre nossas ações, e principalmente, nos impede de ver como afinal podemos entregar ao mundo e a nós mesmos o produto que anunciamos. Como não vemos como fazer isso na prática, nossa ação no mundo torna-se vazia, apartada de nosso discurso, pois não abrimos mão de nossa vida por algo que não vemos como será afinal.
Os fundamentalistas do Islã olham para nós, e não nos compreendem, como nós não os compreendemos, pois para nós não tem mais sentido morrer por algo, a não ser que esse algo seja uma vida eterna e plena de felicidade.
E veja, é isso que promete nossa religião, mas nós a professamos como uma coisa morta. Então, aqueles aviões vieram para nos dizer que temos de decidir se acreditamos naquilo que falamos, ou não. No caso de dizermos não, temos de reduzir a nada a maior parte de nossos belos ideais, e nos resignar a uma vida miserável e mergulhada na mais profunda ignorância. No caso de dizermos sim, temos de encarar como uma verdade viva as coisas que professamos como uma esperança, e isso equivale a tentar efetivamente realizá-las na prática. Se somos uma sociedade de mercadores, pois tudo para nós é transformado em mercadorias, aqueles aviões vieram para avisar que está chegando a hora de entregar o produto, ou reconhecer o calote.
Diante da questão colocada, se acreditássemos ser possível responder não, ou seja, responder que o que a humanidade fez ao longo das eras se limita a algo triste e vazio, nem teríamos perdido nosso tempo escrevendo este livro. Nós assumimos desde o início o sentido evolutivo, e nele nada é sem sentido, ainda que não consigamos compreender tudo o que está em jogo. Em vista disso, a resposta do autor é sim, ou seja, temos de caminhar para a frente, no sentido de dar acabamento à nossas palavras. Se fizermos isso, as torres cessarão de desabar, e o mundo fará silêncio, pois estará chegando a hora de ouvir novamente aquele antigo som.
Originalmente, eram quatro os alvos dos terroristas. Mas somente o Word Trade Center foi atingido, e com uma eficiência que nos permite aventar que alguma coisa mais do que a Al-Qaeda, ou qualquer outro interesse deste mundo, desejava que aquelas torres caíssem. Este fato, aliado ao fato de que os outros alvos não foram atingidos, ou o foram apenas em parte, nos permite ainda ver algo mais que o evento nos quer mostrar, qual seja: O que será atingido e desaparecerá num presumível novo modo de vida é a duplicidade matéria-espírito, ou a chamada “escatologia”, que descreve um mundo de objetos separados, mas ele é somente a ponta do iceberg. Essa duplicidade do mundo é que nos faz cegos para o abstrato e para nós mesmos, e por isso eram duplas as torres que desabaram. E como o mundo de objetos separados acabou se transformando, na sociedade ocidental, num mundo de mercadorias, das quais a “mercadoria dinheiro” é a forma por excelência, foi o seu símbolo, representando o mundo de objetos separados, que foi atingido. A destruição daquelas torres gêmeas, de forma apoteótica, nos anuncia um futuro que será o fim de nossa duplicidade, de nossa cegueira, e de nossa transformação do essencial em objetos separados, que em nós se transformaram em mercadorias acessíveis a quem as pode comprar, ou tomar.
Porém, os outros alvos do atentado não sofreram prejuízos significativos. O Pentágono foi minimamente atingido, o que nos mostra que a organização do mundo não sofrerá mudanças significativas, mas será usada em um sentido absolutamente novo, colocando a importância em outra esfera, de modo desmistificado. Assim como a estrutura do Império Romano continuou após o advento do cristianismo, mas foi usada em outro sentido, também o Ocidente preservará sua organização, mas retirará sua atenção do concreto, e se abrirá para o abstrato, possibilitando enfim que haja uma pacificação efetiva do mundo e a humanidade possa se juntar num projeto coletivo. Também, o Capitólio e a Casa Branca não foram atingidos, sendo que o Capitólio foi defendido pelos tripulantes da aeronave, e a Casa Branca não foi sequer ameaçada, pois os que a iriam atingir foram pegos antes do próprio evento do 11 de setembro. Ou seja, os valores democráticos, de liberdade, igualdade e fraternidade, apesar de seu viés falso, continuarão ilesos, pois eles são o centro do próprio movimento da criatura em evolução, em direção à felicidade para todos. A pomba branca, que esconde por traz da angelical aparência uma agressividade insuspeita, continuará a voar até que enfim sua mentira venha a se tornar verdade, de modo a permitir que o homem não seja mais o lobo de si mesmo, e outra ave – o mágico pássaro azul da felicidade – possa voar.
Mas para que isso aconteça, nós temos de compreender, e agir. A humanidade cristã está esperando a volta de Jesus. Se ele não voltou até hoje, é possível que não volte mais, ou que para que ele volte necessitemos fazer algo. Ou ainda, que essa anunciada volta signifique outra coisa, que nós ainda não compreendemos. E para que a compreendamos, e nesta compreensão avancemos na compreensão do mundo e de nós mesmos, teremos de primeiro compreender de um modo satisfatório, sem reduções simplificadoras e sem mistificação quem foi Jesus Cristo, e o que foi que o envolveu, e a nós mesmos.
Do livro “Quem Tem Ouvidos – Um Salto do Pensamento para o Inconcebível” de João Batista Mezzomo – Editora Besourobox – Porto Alegre (p. 457 à 465)
– Enviado pelo Autor!
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Fontes:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Licença padrão do YouTube
http://www.infoescola.com/historia/acordo-de-bretton-woods/
https://filosofojr.wordpress.com/2011/06/14/parmenides-e-as-torres-gemeas/
http://www.clubeinvest.com/bolsa/show_futures_technical_analysis.php?id=669
http://www.clubeinvest.com/_technical_analysis/forex/Bretton_woods/Bretton_woods.php
https://filosofojr.wordpress.com/2011/06/14/parmenides-e-as-torres-gemeas/
http://www.clubeinvest.com/bolsa/show_futures_technical_analysis.php?id=669
http://www.clubeinvest.com/_technical_analysis/forex/Bretton_woods/Bretton_woods.php
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
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