quarta-feira, 6 de agosto de 2014

ATLÂNTIDA



A Cidade Perdida de Atlântida - 45min.

 
 
A Atlântida:O Mistério dos Minóicos - 52min.

 
 
A Atlântida Segundo a Doutrina Secreta -91min.



Atlântida



Atlântida ou Atlântis era um poderoso reino descrito pelo filósofo grego Platão (428-347 a.C.), que em dois dos seus diálogos (Timeu e Crítias, escritos por volta de 360 a.C.), o situou em uma imensa ilha com o mesmo nome, no meio do Oceano Atlântico, que se teria afundado nove mil anos antes da época de Sólon, seu antepassado.
Mais tarde, o mito filosófico da Atlântida serviu como cenário de inúmeras elucubrações sobre a pré e proto-história da humanidade, doutrinas esotéricas e supostas visões ocultistas, gerando uma vasta mitologia à sua volta.




A Atlântida de Platão Editar




Mundo de Platao
O mundo descrito por Platão no Timeu e no Crítias. A ilha de Posídon foi representada aqui com cerca de 7,5 milhões de km² (aproximadamente o tamanho da Austrália), procurando refletir o que Platão provavelmente tinha em mente com "maior que a Líbia e a Ásia juntas"



HecataeusWorldMap
O mapa-múndi de Hecateu (500 a.C.), mostra a concepção da época de Platão sobre a extensão da Líbia e Ásia (algo entre 6 milhões e 10 milhões de km²)
Segundo Platão, a ilha de Atlântida estava no oceano, do lado oposto às colunas de Hércules (atual estreito de Gibraltar) e era maior que a Libia (África do Norte) e a Ásia (Menor) juntas. Outras ilhas situavam-se nas suas proximidades e, para além de Atlântida, na margem oposta do Oceano, havia um continente, que "rodea todo esse verdadeiro mar (...), ao qual se pode chamar continente no sentido próprio do termo". Quando os deuses partilharam o mundo, ela teria sido atribuída a Posídon:
Os deuses lançaram a sorte e dividiram toda a terra em lotes, maiores ou menores. Instituíram em sua própria honra cultos e sacrifícios. Foi assim que Posídon, tendo recebido como quinhão a ilha de Atlântida, instalou, em certo lugar desta ilha, os filhos que engendrara de uma mortal. Perto do mar, mas na altura do centro da ilha, havia uma planície, a mais bela, dizia-se, de todas as planícies e a mais fértil. E, perto dela, a aproximadamente 50 estádios (10 quilômetros) do seu meio, havia uma montanha de altitude mediana.
Sobre esta montanha habitava então um dos homens que, nesse país, eram originalmente nascidos da terra. Seu nome era Evenor [Εὐήνωρ, "de boas rédeas"], e vivia com uma mulher, Leucipa [Λευκίππῃ, "égua branca"]. Deram nascimento a uma única filha, Clito [Κλειτὼ, "célebre"]. A jovem atingira a idade núbil quando seu pai e sua mãe morreram. Posídon a desejou e uniu-se a ela. O deus fortificou e isolou em círculo os altos em que ela vivia. Para tanto, fez um cercado de mar e terra, pequenos e grandes círculos, uns em redor de outros. Fez dois de terra, três de mar, arredondando-os, por assim dizer, começando a partir do meio da ilha, do qual estavam sempre a igual distância. Assim, eram infranqueáveis, pois não haviam então nem batéis nem navegação. Foi o próprio Posídon que embelezou a ilha central, no que não teve dificuldade, sendo um deus. Fez jorrar de sob o solo duas fontes d’água: uma quente, outra fria, e fez crescer sobre a terra plantas nutritivas de toda espécie, em abundância.
Atlântida era, assim, atribuída a Posídon, deus da navegação e do comércio marítimo, que Platão, partidário da auto-suficiência planejada, julgava supérfluo e daninho à boa política, enquanto Atenas era atribuída a Atena, deusa da sabedoria. Ao mesmo tempo, a ilha é dotada em abundância, se não em excesso, de riquezas naturais capazes de tornar a vida mais que confortável - mas ainda assim seus habitantes a julgavam insuficiente e se lançaram a conquistar as "outras ilhas do mar" e as terras do Mediterrâneo "até o Egito e a Tirrênia". Detalha o filósofo:
Pois se muitos recursos lhes vinham de fora, por seu império, a maior parte daqueles que são necessários à vida, a própria ilha lhos fornecia. Principalmente todos os metais duros ou maleáveis que se podem extrair das minas. Em primeiro lugar, aquele do qual conhecemos antes, além do nome, a própria substância, o oricalco ("cobre da montanha"). Era extraído terra em muitos lugares da ilha: era o mais precioso, depois do ouro, dos metais que existiam naquele tempo.
Paralelamente, tudo que a floresta podia fornecer de materiais próprios ao trabalho dos carpinteiros, o fornecia com prodigalidade. Também alimentava suficientemente todos os animais domésticos ou selvagens. Mesmo a espécie dos elefantes era aí largamente representada. Com efeito, não somente a pastagem abundava para todas as outras espécies, aquelas que vivem nos lagos, nos pântanos e rios, aquelas que pascem sobre as montanhas, e nas planícies, mas regurgitava para todos, mesmo para o elefante, o maior e o mais voraz dos animais. Por outra, todas as essências aromáticas que nutrem ainda o solo, em todos os lugares, raízes, arbustos ou árvores, resinas destiladas das flores ou dos frutos, a terra então os produzia e os fazia prosperar. Dava ainda frutos cultivados, e os grãos que foram feitos para nos alimentar, dos quais tiramos as farinhas. Produzia esse fruto lenhoso, que nos fornece conjuntamente bebidas, alimentos e perfumes (azeitona), esse fruto escamoso e de difícil conservação, que foi feito para nos instruir e entreter (romã), aquele que oferecemos após a refeição da noite, para dissipar o peso do estômago e aliviar o conviva fatigado (limão).
Platão conta como a ilha foi partilhada entre os filhos de Posídon e Clito, ou Cleito:
Posídon engendrou e criou cinco gerações de filhos homens, e gêmeos. Dividiu toda a ilha Atlântida em dez partes. Ao primogênito dos gêmeos mais velhos, destinou a morada de sua mãe e o lote de terra circundante, que era o mais vasto e o melhor. Estabeleceu-o na qualidade de rei, acima de todos os outros; fez destes, príncipes vassalos e a cada um deu autoridade sobre um grande número de homens e sobre vasto território.
A todos impôs nomes: o mais velho, o rei, recebeu o nome que serviu para designar toda essa ilha e todo o mar, que se chama Atlântico, porque o nome do primeiro rei que então reinou foi Atlas [Ἄτλας, "sustentáculo"]. Seu irmão gêmeo, que nasceu depois dele, obteve na divisão a extremidade da ilha, do lado das Colunas de Hércules, defronte à região chamada Gadírica [Γαδειρικῆς, "de Cádiz"], por causa desse lugar: ele chamava-se em grego Eumelos [Εὔμηλον, "de bons rebanhos"], e na língua do país, Gadiros [Γάδειρον]. E o nome que se lhe atribuiu tornou-se aquele do país.
Vale observar que Gadiros e Gadírica fazem referem-se a τὰ Γάδειρα, Gádeira, nome grego antigo da atual cidade espanhola de Cádiz, que deriva do fenício גדר, Gadir, "muralha", "lugar amuralhado", cognato de Agadir, nome de uma cidade marroquina.
Em seguida, daqueles que vieram na segunda geração, chamou a um Anferes [Ἀμφήρη, "o que leva para cima"], ao outro Evaimon [Εὐαίμονα, "bem hábil, perito"]. Pela terceira geração, Mnéseas [Μνησέα , "o memorável"] foi o nome do primogênito, Autóctonos [Αὐτόχθονα, "da própria terra"] o do segundo. Dos da quarta geração, chamou o primeiro Elasipos [Ἐλάσιππον, "o condutor de cavalos, o cavaleiro"] e o segundo Mestor [Μήστορα, "conselheiro"]. Na quinta, o que nasceu primeiro recebeu o nome de Azaes [Ἀζάης, "o seco, o árido, o quente"] e o que veio em seguida, o nome de Diaprepes [Διαπρέπης, "notável, distinto"].
A ilha de Posídon foi assim dividida em dez reinos, entre os quais o reino fundado por Atlas, a Atlântida propriamente dita, tinha a supremacia. Cada rei exercia o poder na parte que lhe cabe, mas a autoridade dos reis uns sobre os outros e suas relações eram reguladas pelos decretos de Posídon. A tradição lhes prescrevia isso, bem como uma inscrição gravada pelos primeiros reis sobre uma estela de oricalco, que se encontra no centro da capital, no templo de Posídon.



TemploAtlantida

Encontro ritual noturno dos reis de Atlântida, no interior do templo de Posídon, de Lloyd K. Townsend
Os reis aí se reuniam a cada cinco, ou a cada seis anos, fazendo alternar regularmente os anos pares e os anos ímpares para deliberar sobre os afazeres comuns, decidir se qualquer um dentre eles cometeu qualquer infração e julgar. Quando precisavam administrar alguma justiça, atribuíam-se, mutuamente, fé da seguinte forma.
Soltavam-se touros no lugar sagrado de Posídon. Os dez reis, deixados sós, após ter rogado ao deus para lhes fazer capturar a vítima que lhes seria agradável, punham-se a caçá-la, sem armas de ferro, somente com chuços de madeira e redes. Aquele dos touros que fosse apanhado, levavam-no à estela e o faziam degolar em cima dela, como era prescrito.
Sobre a estela, além das leis, estava gravado o texto de um juramento que proferia os anátemas mais terríveis contra quem o violasse. Depois de efetuarem o sacrifício conforme suas leis e consagrarem todas as partes do touro, enchiam de sangue uma cratera e aspergeiam com um grumo deste sangue a cada um deles. O resto, lançavam ao fogo, depois de haverem feito purificações em torno da estela. Em seguida, tomando sangue com taças de ouro, na cratera, e vertendo-o no fogo, fazem o juramento de julgar em conformidade com as leis inscritas sobre a estela, castigar quem quer que as tenha violado anteriormente, não infringir voluntariamente, para o futuro, nenhuma das fórmulas da inscrição, e só comandar e obedecer em conformidade às leis de seus pais. Cada um toma essa obrigação por si mesmo e para toda sua descendência.
Depois, bebiam o sangue e remetiam a taça como ex-voto ao santuário do deus. Após o que, tomavam uma refeição e ocupavam-se das outras obrigações necessárias. Quando vinha a noite, esfriado o fogo dos sacrifícios, todos vestiam belas roupas de azul sombrio e sentavam-se no chão, sobre as cinzas de seu sacrifício sacramental. Então, na noite, depois de extintas todas as luzes em torno do santuário, julgavam e sofriam julgamento, se um deles houvesse acusado outro de ter cometido qualquer infração. Feita a justiça, gravavam suas sentenças, chegado o dia, sobre uma tábua de ouro, que consagram, como recordação, assim como suas roupas.

A cidade de Atlântida 




Atlantis02
Planta esquemática da cidade de Atlântida (esq.) e detalhe dos anéis centrais (dir.), segundo a descrição de Platão


TemploPoseidon
Concepção artística do templo de Posídon imaginado por Platão
O isolamento em que o deus quis deixar a cidade, infranqueável a navios, foi rompido pelos descendentes:
Recolhendo sobre seu solo todas essas riquezas, os habitantes da Atlântida construíram templos, os palácios dos reis, os portos, as docas secas, e embelezaram assim todo o resto do país na seguinte ordem. Sobre os braços de mar circulares, que rodeavam a velha cidade materna, logo lançaram pontes e abriram uma rota para fora e para as moradas reais. (...) Fizeram, começando pelo mar, um canal de três pletros (100 metros) de largura, cem pés (30 metros) de profundidade e cinquenta estádios (dez quilômetros) de comprimento, e levaram-no até o braço de mar circular mais exterior. Para as naus vindas de alto-mar, abriram uma entrada, como num porto. Aí abriram uma enseada, suficiente para que os grandes navios pudessem penetrar.
A maior das barreiras de água, aquela onde penetra o mar, tem largura de três estádios (600 metros), e a de terra que se lhe seguia tem igual largura. No segundo círculo, a barreira de água tem dois estádios (400 metros) largura e a barreira de terra tem ainda uma largura igual. Mas a barreira de água que rodeia imediatamente a ilha central tem só um estádio (200 metros). A ilha, na qual se encontrava o palácio dos reis, tem um diâmetro de cinco estádios (um quilômetro). A ilha, as barreiras e a ponte - que tinha a largura de um pletro (33 metros) - circundavam inteiramente de um muro de pedra circular. Puseram torres e portas sobre as pontes em todos os lugares por onde passava o mar. Tomaram a pedra necessária de sob a periferia da ilha central e de sob as barreiras, no exterior e no interior. Havia da branca, da negra e da vermelha.
Ao mesmo tempo que extraíam a pedra, cavaram dentro da ilha duas bacias para navios, com o próprio rochedo como teto. E, das construções, umas são simples, e em outras, misturam as espécies de pedras e variam as cores, para o prazer dos olhos, e dão-lhes desta maneira uma aparência naturalmente aprazível. O muro que rodeia a barreira mais externa foi revestido, em toda a volta, de cobre, que lhe serviu de reboco. Recobriram de estanho fundido a barreira interior e, quanto àquela que rodeava a própria Acrópole, guarneceram-na de oricalco, que tem reflexos de fogo.
Construídas como barreiras para separar e proteger Clito e sua descendência do mundo exterior, os círculos de terra e água passaram a ser canal de comunicação e abrigo para os palácios os exércitos e as frotas de Atlântida: nos obstáculos de terra que separavam os círculos d'água, na altura das pontes, abriram passagens, tais que só uma trirreme pudesse passar de um círculo para outro, e cobriram essas passagens com tetos, tão bem que a navegação aí era subterrânea, pois os parapeitos dos círculos de terra se elevam suficientemente acima do mar.
Platão descreve em detalhes a ocupação dos círculos e, em especial, o templo de Posídon construído no centro:
O palácio real, no interior da Acrópole tinha a seguinte disposição. No meio da Acrópole, elevava-se o templo consagrado, nesse mesmo lugar, a Clito e a Posídon. O acesso era interditado, e era rodeado de um fecho de ouro. Foi lá que de início Clito e Posídon conceberam e deram à luz a raça dos dez chefes das dinastias reais. Lá, a cada ano, vinha-se das dez províncias do país oferecer a cada um desses deuses os sacrifícios da estação.
O santuário próprio de Posídon tinha o comprimento de um estádio (200 metros), a largura de três pletros (100 metros) e uma altura proporcionada. Sua aparência tinha algo de bárbaro. Revestiram de prata todo o exterior do santuário, exceto as arestas de espigão, e estas arestas eram de ouro. No interior, a cobertura era toda de marfim e inteiramente ornada de ouro, prata e oricalco. Os muros, as colunas, o pavimento, guarneceram-no de oricalco. Aí colocaram estátuas de ouro: o deus de pé sobre seu carro, atrelado com seis cavalos alados, e era tão grande que o cimo de sua cabeça tocava o teto. Em círculo, em torno dele, cem nereidas sobre delfins. Havia também no interior grande quantidade de estátuas outras, oferecidas por particulares. Em torno do santuário, no exterior, erguiam-se, em ouro, as efígies de todas as mulheres dos dez reis e de todos os descendentes que engendraram, e numerosas outras grandes estátuas votivas de reis e de particulares, originárias da cidade mesma, ou de países estrangeiros sobre os quais tinham soberania. Por suas dimensões e por seu trabalho, o altar respondia a esse esplendor, e o palácio real era proporcionado à grandeza do império e à riqueza dos ornamentos do santuário.
Quanto aos mananciais, o de água fria e o de água quente, ambos de generosa abundância e maravilhosamente adequados para uso, pela amenidade e virtudes de suas águas, eles os utilizavam, dispondo em torno deles construções e plantações apropriadas à natureza das águas. Instalavam em redor tanques, uns a céu aberto, outros cobertos, destinados aos banhos quentes no inverno: havia, separados, os banhos reais e os dos particulares, outros para as mulheres, para os cavalos e para as outras alimárias, cada um com a decoração apropriada.
A água daí proveniente, conduziam-na ao bosque sagrado de Posídon. Este bosque, graças à virtude do solo, compreendia árvores de todas as essências, de beleza e altura divinas. Daí, faziam correr a água para as barreiras exteriores por canalizações construídas ao longo das pontes.
Desse lado, foram construídos numerosos templos para muitos deuses e jardins e ginásios para os homens, e picadeiros para os cavalos. Estes foram construídos à parte nas ilhas anulares, formadas pelas barreiras. Dentre outros, para o meio da maior das ilhas, reservavam, para as corridas de cavalos, um picadeiro da largura de um estádio e o bastante longo para permitir aos cavalos fazer, na corrida, a volta completa da barreira. Em derredor, por toda a extensão, a distâncias regulares, havia casernas para quase todo o efetivo da guarda do imperador. O melhor corpo de tropa estava alojado na menor das barreiras, a mais próxima da Acrópole. E para aqueles que se distinguiam dentre todos por sua fidelidade, foram-lhes afetados alojamentos no interior da Acrópole, perto do palácio imperial. Os arsenais estavam plenos de navios de guerra e todos os acessórios necessários para armá-las, e o todo era postado em perfeita ordem.
Enquanto o palácio e suas dependências ocupavam a ilha original e suas barreiras, a cidade propriamente dita crescia para além dos limites da última barreira, ocupando uma área com cerca de dez quilômetros de raio:
Quando se atravessavam as portas exteriores, em número de três, encontrava-se uma muralha circular, começando pelo mar, e mantendo a distância de cinquenta estádios (dez quilômetros) da maior barreira, que formava o maior porto. Esta muralha vinha se fechar sobre si mesma na garganta do canal que se abria do lado do mar. Era totalmente coberta de numerosas casas, umas ao lado das outras. Quanto ao canal e ao porto principal, regurgitavam de naus e mercadores vindos de todos os lugares. Sua multidão causava aí, dia e noite, um contínuo burburinho de vozes, um tumulto incessante e diverso.

O interior de Atlântida

Junto à cidade, estendia-se uma vasta planície retangular de 600 quilômetros de comprimento e 400 quilômetros de largura a partir do mar, que foi circundada por um fosso. Conforme escreveu Platão, quanto à profundidade, largura e desenvolvimento deste fosso, o que se diz é difícil de crer. 

É difícil acreditar que uma obra saída das mãos do homem tenha tido, por comparação aos outros trabalhos desse gênero, tais dimensões. Foi cavado com trinta metros de profundidade e sua largura é constante, de duzentos metros. Como é cavado em torno de toda a planície, seu comprimento é de dois mil quilômetros. Recebe os cursos d'água que descem das montanhas, faz a volta à planície, retorna de um e de outro lado para a cidade, e de lá, esvazia-se no mar.
 
Da parte mais alta desse fosso, canais retilíneos, com a largura aproximada de trinta metros, cortavam a planície, indo juntar-se ao fosso, perto do mar. Cada um deles distava dos outros vinte quilômetros. Para carregar para a cidade a madeira da montanha, e para levar, de barco, os outros produtos de estação, cavaram-se, a partir dos canais, derivações navegáveis, de direção oblíqua umas em relação às outras e em relação à cidade. Seus habitantes colhiam duas vezes por ano os produtos da terra: no inverno, utilizavam as águas do céu; no verão, as que a terra dava, dirigindo sua corrente para fora dos canais.

A planície foi dividida em distritos com a extensão de dois quilômetros por dois, dos quais havia, no total, sessenta mil. Cada distrito fornecia um chefe de destacamento. Cada chefe de destacamento era responsável por fornecer para a guerra um sexto dos carros de combate, somando dez mil carros; dois cavalos e seus cavaleiros, ou uma parelha de cavalos sem carro, comportando um combatente montado encarregado de conduzir os dois cavalos, dois hoplitas; dois arqueiros; dois fundibulários; três infantes ligeiros armados de atiradeiras; três outros armados de dardos, e enfim, quatro marinheiros, para completar a equipagem de mil e duzentos navios. A planície, portanto, contribuía para as forças armada com 120 mil cavalos, 840 mil soldados e 240 mil marinheiros.
 
Esta região estava orientada com a face para o Sul, e ao abrigo dos ventos do Norte. As montanhas que a rodeavam ultrapassavam em beleza quaisquer outras deste mundo. Havia nessas montanhas numerosas cidades, ricas em habitantes, rios, lagos, prados capazes de alimentar inumeráveis bestas selvagens ou animais domésticos, florestas em tão grande número e essências tão variadas que davam em abundância materiais próprios para todos os trabalhos possíveis. Os habitantes das montanhas e do resto do país também eram em número imenso, e todos, segundo suas localizações e as cidades, eram repartidos entre os distritos e sob o comando de seus chefes de destacamento.

A Atenas pré-histórica 



Attica
Mapa da Ática no período clássico
A maior parte dos que se interessam pela Atlântida de Platão negligenciam completamente a descrição que Platão também dá da Atenas dessa época, embora ela seja dada antes da descrição de Atlântida e seja igualmente fundamental para o entendimento do mito. Sinal de que o filósofo fracassou em seu propósito didático: fascinados pelas maravilhas naturais e arquitetônicas que Platão atribuiu à Atlântida, os leitores deixaram de lado a pequena, sóbria e virtuosa Atenas que saiu vitoriosa de seu relato. Deixaram de tirar a pretendida lição de ética e política e, pelo contrário, identificaram-se com a corrupta, luxuosa e imperialista Atlântida.

Segundo o relato de Platão, a cidade de Atenas coube, na partilha, a Atena e Hefesto, ou seja, à sabedoria e à técnica, ao pensamento e ao trabalho. De comum acordo, os dois deuses a povoaram de autóctones - ou seja, de humanos nascidos ou criados do próprio solo.
Nessa Atenas, os homens e as mulheres tinham direitos e deveres iguais, inclusive em relação à guerra: a representação de Atena armada seria uma lembrança disso. Enquanto a maioria dos cidadãos trabalhava no campo ou nos ofícios, a classe dos guerreiros vivia à parte, possuindo em comunidade tudo o que necessitava para viver e recebendo dos demais cidadãos um salário moderado na forma de sua alimentação anual para proteger a cidade.

Platão acrescenta que desempenhavam todas as funções que descrevera ao falar dos "guardiães que havíamos imaginado", ou seja, na cidade ideal de A República. Os melhores dentre a classe dos guerreiros eram escolhidos para serem os guardiães. Depois de completarem o estudo de ginástica e música dado a todos, estudavam filosofia por cinco anos e depois retornavam à vida militar por quinze anos para, aos 50 anos, entrar na classe governante e passar a ter no poder sua única posse.

O casamento, portanto, era coletivo, assim como o cuidado das crianças. As uniões sexuais eram determinadas por sorteio (na realidade, manipulado pelos guardiães para que os melhores tivessem filhos com as melhores) e eram tomadas precauções para que ninguém soubesse de quem era pai, de maneira que todos se vissem com pais, mães, irmãos ou filhos. As crianças que fossem julgadas indignas da classe dos guerreiros seriam entregues aos demais cidadãos para serem criadas.

Esses guardiães cuidavam para que o número das mulheres e dos homens capazes de portar armas fosse sempre o mesmo, ao redor de uns vinte mil. Segundo Platão, eram conhecidos em toda a Europa e Ásia pela beleza de seus corpos e pela virtude de suas almas e eram os líderes livremente aceitos de toda a Hélade.

As fronteiras de seu país se estendiam do istmo de Corinto ao Cíteron e ao Parnes, abarcando Oropia, mas deixando de fora o rio Asopo - ou seja, algo maior que extensão tradicional da Ática, o território da cidade-estado de Atenas (que não incluia Oropia, nem alcançava o Istmo). Naqueles tempos, segundo Platão, a terra desse país era muito mais fértil, capaz de alimentar um grande exército e isentá-lo do trabalho da terra. Quatro dilúvios, ao longo de nove mil anos, haviam carregado suas terras "gordas e macias" para o mar, deixando como que "um esqueleto de um corpo desgastado pela enfermidade", um espinhaço rochoso. O campo de Feleo, que no tempo de Platão era apenas um terreno pedregoso, havia sido coberto de ricas glebas. Sobre as montanhas onduladas, havia extensos bosques, desaparecidos na época em que Platão escrevia. A água das chuvas não se perdia no mar depois de correr sobre a terra estéril, mas se acumulava nos leitos argilosos de onde corria na forma de rios e fontes.


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Mapa da cidade de Atenas no período clássico



Acropolis

A Acrópole no tempo de Platão
A Acrópole, que no tempo de Platão era o morro onde se localizava o Pártenon, era então uma ampla plataforma plana e estendia-se "até o Erídano e o Iliso, compreendia a Pnix e, pela parte oposta à Pnix, estava limitada pelo monte Licabeto", ou seja, abrangia aproximadamente a área de toda a cidade de Atenas de seu tempo. Uma só noite de dilúvio, o o terceiro antes da catástrofe de Deucalião, teria desnudado a área, deixando apenas a colina que mais tarde serviu de fortaleza a Atenas, antes de se tornar um santuário.


A periferia e as encostas da Acrópole estavam habitadas pelos artesãos e agricultores que cultivavam os campos ao redor. A parte superior era ocupada apenas pelos guerreiros, que viviam à parte, em torno do santuário de Atena e Hefesto. Haviam levantado a seu redor um recinto único, como em torno do jardim de uma só residência. Dentro dela moravam na parte exposta ao norte, em alojamentos comunitários, nos quais haviam instalado refeitórios para o inverno. Tinham tudo que precisavam, mas não ouro ou prata, dos quais não se serviam. Mantinham-se equidistantes da abundância excessiva e da pobreza servil, em moradias graciosas e bonitas que transmitiam a seus descendentes.
Na parte exposta ao sul, havia jardins, ginásios e refeitórios, que abandonavam durante a estação quente. No lugar onde se ergueria a Acrópole, havia uma grande fonte única que abastecia a todos com uma água generosa e igualmente sadia no verão e no inverno. Desta fonte, no tempo de Platão, restavam apenas pequenas bicas dispostas em círculo.

Essas instituições teriam inspirado as de Sais, que no tempo de Platão era a capital do Egito. Essa capital seria mil anos mais jovem que essa Atenas pré-histórica, da qual teria tomado as artes e ciências, a separação das classes em castas fechadas (sacerdotes, artesãos, pastores, caçadores, agricultores e soldados) e a forma dos armamentos, escudos e lanças.
Isto permite a seguinte comparação entre a Atenas pré-histórica e Atlântida:


aspecto Atenas pré-histórica Atlântida
divindades protetoras Atena e Hefesto que "concordam no mesmo amor das ciências e das técnicas" Posídon, deus do mar, do poder e do comércio marítimo
origem Autóctones, nascidos iguais e que se relacionavam como irmãos em uma cidade-estado republicana Reis nascidos do intercurso de Posídon com uma mortal, separando-se pelo sangue divino da massa dos súditos
economia Agricultura e artesanato; riquezas limitadas, produção em função das necessidades, auto-suficiência Poder marítimo e comércio exterior, profusão de recursos naturais aos quais se junta um colossal desenvolvimento econômico e urbanístico (portos, canais, arsenais) e os tributos de um império ultramarino.
cidade De proporção média, equilibrada nas suas construções, limitada nas suas necessidades, sua liderança é livremente aceita pelos vizinhos. Imenso império insular, progressivamente ganho por uma sede de conquista e avidez de hegemonia.
sociedade Separação rigorosa das classes, de acordo com o modelo de A República. Classes progressivamente pervertidas pelo gosto do dinheiro e do poder.

O destino de Atlântida 



Cole Thomas The Course of Empire Destruction 1836
O Curso do Império: Destruição, de Thomas Cole (1836)
Este é o final do Crítias:
Durante numerosas gerações, e enquanto dominou nelas a natureza divina, os reis (de Atlântida) escutaram as leis e permaneceram ligados ao princípio divino, com o qual tinham parentesco. Os seus pensmentos eram verdadeiros e grandes em tudo; usavam de bondade e também de discernimento em presença dos acontecimentos que sucediam e uns em relação aos outros. Assim, desdenhosos de todas as coisas para além da virtude, faziam pouco caso dos seus bens: transportavam como um fardo a massa do seu ouro e das suas outras riquezas, não se deixavam embriagar pelo excesso de sua fortuna, não perdiam o domínio sobre si mesmos e caminhavam retamente. Com uma clarividência aguda e lúcida, viam bem que todas estas vantagens aumentam pelo afeto recíproco unido à virtude, que, pelo contrário, o zelo excessivo para com estes bens e a estima que por eles se tem fazem com que eles próprios se percam, e que também a virtude pereça com eles. Por efeito deste pensamento e graças à presença permanente do princípio divino neles, todos os bens que acabamos de enumerar não cessavam de crescer em seu proveito.
Mas, quando o elemento divino começou a diminuir neles, por efeito do cruzamento repetido com numerosos elementos mortais, quado dominou o caráter humano, então, incapazes daí em diante de suportar sua prosperidade presente, caíram na indecência. Pareceram disformes aos olhos dos homens clarividentes, ique tinham deixado perder os mais belos dos bens mais preciosos. Pelo contrário, aos olhos de quem não sabe discernir que gênero de vida contribui verdadeiramente para a feliidade, foi então que pareceram perfeitamente belos e bem-aventurados, cheios como estavam de avidez injusta e de poder. E o deus dos deuses, Zeus, que reina pelas leis, e que certamente tinha o poder de conhecer todos esses fatos, compreendeu que disposições miseráveis tomava esta raça, cujo caráter primitivo havia sido tão excelente. Quis aplicar-lhes um castigo, a fim de os fazer refletir e de os reconduzir a uma maior moderação. Para este efeito, reuniu todos os deuses, na sua mais nobre morada: esta situa-se no centro do Universo e vê do alto tudo o que participa do Devir. E tendo-os reunido, disse:
Assim termina o relato, que Platão deixou incompleto por razões desconhecidas. Entretanto, o livro anterior, o Timeu, havia antecipado parte da história que o filósofo deixou de desenvolver. A Atlântida, que já dominava sua própria ilha, muitas outras ilhas do Oceano, partes do continente do outro lado do oceano e inda a Líbia até o Egito e a Europa até a Tirrênia (Etrúria ou Toscana, parte ocidental da Itália), concentrando mais uma vez suas forças, tentou subjugar a Grécia e o Egito e assim dominar a totalidade da bacia do Mediterrâneo.

A cidade de Atenas, entretanto, fez brilhar aos olhos de todos seu heroísmo e sua energia. Primeiro à cabeça de todos os helenos, depois abandonada pelos demais, à beira dos maiores perigos, acabou por vencer os invasores, preservou da escravidão aos que nunca haviam sido escravos e libertou a todos os demais povos do interior das Colunas de Hércules, inclusive os egípcios. Entretanto, no período subseqüente, houve terríveis terremotos e cataclismas. Durante um dia e uma noite horríveis, todo o exército de Atenas foi tragado de um só golpe pela terra e a ilha de Atlântida afundou no mar e desapareceu. "Por isso, ainda hoje esse mar é difícil e inexplorável, devido a seus fundos barrentos e muito rasos que a ilha deixou ao afundar-se".

Atlântida na Antiguidade 

A primeira geração de discípulos de Platão compreendeu que se tratava de um mito. “Platão, sozinho, fez a Atlântida emergir das ondas e depois a afundou”, disse o mais célebre deles, Aristóteles, segundo Estrabão. Mas os neoplatônicos de séculos posteriores acreditaram literalmente na história.
Um neoplatônico do século V d.C. Proclo, escreveu que um dos seus precursores - Crantor, discípulo de Xenócrates, que por sua vez havia sido discípulo de Platão - argumentou que a Atlândia realmente existira em um comentário ao Timeu que foi perdido. Segundo Proclo, Crantor esteve no Egito e encontrou colunas com a história de Atlântida escrita em hieróglifos. Deve-se observar que as colunas não foram mencionadas por Platão, cuja fonte teria sido um sacerdote e que os gregos não sabiam ler os hieróglifos e acreditavam no que seus guias quisessem lhes contar.

Segundo Proclo, "Que uma ilha dessa natureza e tamanho tenha existido é evidente do que é dito por certos autores que investigaram as coisas em torno do mar exterior. De acordo com eles, havia há tempos sete ilhas nesse mar, consagradas a Perséfone, e também três outras de enorme tamanho, uma das quais era consagrada a Plutão, outra a Ammon e outra entre elas a Posídon, a extensão da qual era de mil estádios (200 quilômetros); e seus habitantes, dizem eles, preservam a lembrança dos seus ancestrais da imensa ilha de Atlântida que realmente existiu ali e que por muitas eras reinou sobre todas as ilhas no mar Atlântico e que ela própria havia também sido consagrada a Posídon. Ora, essas coisas foram escritas por Marcelo em sua Etiópica."

Quem foi Marcelo e o que ele escreveu, hoje não se sabe. Mas pode ter tido como fonte o historiador Diodoro da Sicília que, por volta de 50 a.C., incluiu a Atlântida em seu resumo da história do mundo desde as origens egípcias. Diodoro seguia o mitógrafo Evêmero, segundo o qual os mitos eram relatos distorcidos de fatos históricos e os antigos deuses, inclusive os olímpicos, haviam sido antigos reis que divinizados após a morte. Evêmero alegava ter aprendido a verdadeira história dos deuses ao visitar a lendária ilha de Pancaia, aparentemente inventada por ele.



Mapatlante
 
Mapa especulativo da Atlântida e terra das Amazonas, segundo Stephen E Franklin
Ao contrário de Platão, Diodoro afirmava que o Egito era mais antigo que a Grécia. O primeiro livro de sua Biblioteca Histórica tratam da história do Egito que, para ele, começa com os reis Osíris e Hórus, sob cujos reinados Atenas e Babilônia teriam sido fundadas como suas colônias. O segundo livro trata da Ásia, contando uma história igualmente semilendária dos fenícios, assírios, babilônios e indianos. No terceiro livro, fala da Etiópia (Núbia), dos povos da África, das ilhas Afortunadas (possivelmente as Canárias) e então passa à história das amazonas que teriam vivido no atual Norte da África. Antes de se voltarem para leste e conquistarem a Síria e parte da Ásia Menor (veja detalhes em Amazonas da Líbia), elas teriam dominado a Atlântida, que teria se rendido depois do massacre de uma de suas cidades, chamada Cerne.

Mais adiante, Diodoro volta a falar da Atlântida:
Os atlantes afirmam que Urano foi o seu primeiro rei e que ele civilizou o povo, levando-os a residir em cidades e a cultivar o solo. Tinha sobre seu domínio a maior parte do mundo, especialmente para norte e Oeste. Entusiasta do estudo da astrologia, profetizou muitos eventos futuros e instituiu o calendário solar e o mês lunar como medidas de tempo. O povo repleto de admiração pelas suas capacidades, prestou-lhe homenagens divinas depois da sua morte e deu aos céus estrelados o seu nome.
Urano teve quarenta e cinco filhos de várias mulheres e dezoito de Titeia ou Terra, que ficaram a ser conhecidos como titãs, ou povo terreno. As suas filhas mais conhecidas são Basileia e Reia ou Pandora. Basileia, a mais velha, era tão solicita no cuidado dos seus irmãos que ficou conhecida como grande mãe, e após a morte de Urano, foi eleita rainha por sufrágio geral entre o povo. Desposou o seu irmão Hipérion e com ele gerou Hélios e Selene, mais tardes deuses do sol e da lua, respectivamente. Mas os restantes irmãos, temendo que Hipérion pudesse usurpar o trono, chacinaram-no e afogaram o seu filho Hélios no rio Erídano ou Pó, em Itália. Selene, sua irmã que amava apaixonadamente o irmão, atirou-se do telhado e morreu.
Basileia, ao saber da morte dos filhos, enlouqueceu e passava o tempo a passear para cima e para baixo, de cabelo desgrenhado e enfeitada com adornos, tocando desvairadamente o pandeiro e o címbalo. Quando o povo conseguiu dominá-la, rebentou subitamente uma tempestade de chuva, trovões e relâmpagos e ela nunca mais foi vista.
Após a morte de Hipérion, os filhos de Urano dividiram o reino entre si. Os mais conhecidos eram Atlas e Cronos.
Atlas assumiu o controle do território junto ao oceano, chamando ao povo que o habitava Atlantes, e às suas grandes montanhas Atlas, o seu próprio nome. Tal como seu pai, Urano, Atlas era um sábio astrólogo e foi o primeiro a descobrir o conhecimento da esfera, de onde nasceu a lenda de que carregava o mundo sobre os ombros. O mais conhecido dos seus filhos foi Héspero, que, enquanto observava os movimentos das estrelas sobre o monte Atlas, desapareceu numa tempestade. O povo, lamentando a sua sorte, deu à estrela da manhã o seu nome. Atlas tinha também sete filhas, às quais chamavam, em homenagem ao seu pai, Atlântidas. Os seus nomes eram Maia, Electra, Taígeta, Astérope, Alcíone e Celeno. A sua descendência constituiu os primeiros antepassados de várias nações barbaras, bem como gregas. As atlântidas tornaram-se a constelação das Plêiades e eram adoradas como deusas. Também as ninfas eram, vulgarmente conhecidas como atlântidas.
Cronos, irmão de Atlas, era profano e ambicioso. Do casamento com a sua irmã Reia nasceu Zeus, que não deve ser confundido com Zeus, o irmão de Urano. Este Zeus sucedeu ao seu pai Cronos como rei dos Atlantes, ou destronou Cronos. Cronos, segundo consta, declarou guerra ao filho com a ajuda dos Titãs, mas Zeus venceu-o numa batalha e conquistou todo o mundo.
Vê-se que, para Diodoro, a Atlântida estava localizada ao pé dos montes Atlas e junto ao Oceano, provavelmente no atual Marrocos. Cronos teria reinado sobre a Sicília, Itália e África e seu filho Zeus estendeu seus domínios à Macedônia, Grécia, Ásia Menor e à lendária ilha Pancaia. Diodoro passa depois às vidas e conquistas militares de Dioniso e Héracles e a grande parte dos demais mitos gregos, contados como episódios ocorridos com humanos reais, antes de entrar na história grega propriamente dita. Essa concepção de Atlântida salvo pelo nome, pouco ou nada tinha a ver com a de Platão.

Atlântida na Idade Moderna 



AmericasAtlantida
 

Das Cartes générales, de Nicolas Sanson: as Américas como Atlântida, dividida em dez reinos: Gadiros corresponde ao Canadá e norte dos EUA; Atlas ao México e América Central; Anferes à Colômbia, Venezuela e Guianas; Mneseu à Amazônia; Autócton ao nordeste e centro do Brasil; Elasipo ao sul do Brasil, Uruguai e partes do Paraguai e Argentina; Mestor ao centro da Argentina e partes do Paraguai e Bolívia; Azaes à Patagônia; Diaprepes ao Chile; e Eudaimon ao Peru, Equador e parte da Bolívia



Newatlantis
"A Casa de Salomão", ilustração para a Nova Atlântida de Francis Bacon. Vêem-se máquinas voadoras, um telefone primitivo, plantas e animais modificados e outras invenções previstas pelo autor
Atlantis map kircher
Mapa de Athanasius Kircher (1665)
No século VI, o monge cristão egípcio Kosmas Indikopleustes considerou a história de Atlântida uma versão deturpada da narrativa bíblica do Dilúvio. De resto, quase não se falou dela durante a Idade Média, salvo por uma breve menção na enciclopédia medieval De Imagine Mundi, de Honorius de Autun (cerca de 1100).


Um marco foi Nova Atlântida, obra póstuma do filósofo Francis Bacon publicada em 1627. O autor imaginou, numa ilha para além do Peru, um centro de ciência muito adiante de seu tempo, incluindo submarinos, máquinas voadoras e meios de comunicação à distância. Unia sua fé na ciência nascente ao tema do aperfeiçoamento social já presente na Utopia de Thomas Morus, de 1516. Para dar mais plausibilidade à sua fantasia, Bacon colocou-a no contexto daquela era de descobrimentos, surpreendida por novas invenções e por novas terras cujas civilizações, apesar de ignorarem as tradições bíblicas e clássicas, muitas vezes se mostravam inesperadamente sofisticadas, como a dos astecas, dos incas e dos chineses.

Bacon criou para sua terra uma história imaginária, na qual havia tido contatos com a “verdadeira” Atlântida, imaginada como uma fase anterior e mais avançada das civilizações pré-colombianas do México e Peru, depois reduzidas por uma inundação temporária a um estado mais primitivo: era uma especulação recorrente na época, embora poucos a levassem realmente a sério. Apesar de obviamente utópico, esse romance inovou o imaginário sobre a Atlântida ao associá-la a uma alta tecnologia, ideia ausente da narrativa de Platão.

Também em 1627, o jesuíta e naturalista alemão Athanasius Kircher discutiu Atlântida em seu Mundus subterraneus, um tratado sobre geologia e o Dilúvio.
Em 1669, o cartógrafo Nicolas Sanson, em suas Cartes générales de toutes les parties di monde, que incluía mapas históricos, incluiu um mapa hipotético das Américas como a antiga Atlântida, dividindo-a nos dez reinos de Platão. Situou o reino de Atlas, o mais importante, no atual México; Gadirus no leste da América do Norte (em frente à Península Ibérica, como indicava Platão), Ampheres à Colômbia, Venezuela e Guianas; Mneseus à bacia Amazônica, "Eudaemon" (grafia errada) a Equador, Peru e Bolívia, Autochtonos ao leste do Brasil, Elasippus à bacia do Prata a leste do rio Paraguai, Mestor ao oeste da mesma bacia, Diaprepes ao Chile e Azaes à Patagônia.
O mapa de Sanson também identifica as Canárias como as Ilhas Afortundas, as ilhas de Cabo Verde como as "Górgades" (ilhas das Górgonas) e as Antilhas com as ilhas das Hespérides. Nessa interpretação, tanto o que chamamos de Oceano Atlântico quanto o Pacífico são considerados parte do "Mar Atlântico".



Rudbeck
Olaus Rudbeck revela a Atlântida sob a Suécia
A Atlântida também se tornou a obsessão do médico e erudito sueco Olavo Rudbeck, reitor da Universidade de Uppsala. Em 1679, publicou uma obra chamada Atlantica, com a qual queria – seriamente – provar que a Suécia era o berço da História. O frontispício do livro mostra um arrogante Rudbeck a dissecar o mapa da Europa e revelar, sob a superfície da Suécia, a “ilha dos Deuses” – a velha Atlântida e, ao mesmo tempo, a terra dos hiperbóreos da mitologia grega –, para espanto de sábios, filósofos e historiadores da Antiguidade, entre eles o próprio Platão. Naturalmente, ele localizou a metrópole desaparecida exatamente em Uppsala.


Décadas depois, o italiano Gian Rinaldo Carli, não satisfeito com o papel de sua pátria na criação do Império Romano, escreveu outra obra para argumentar que sua península havia sido a principal colônia da Atlântida na Europa e a partir dela havia se difundido a civilização para o resto do mundo. Também os britânicos reivindicaram, pela voz do poeta William Blake, o papel de pais da civilização: “vossos ancestrais” diz, dirigindo-se aos hebreus, “se originaram de Abraão, Heber, Sem e Noé, os quais eram druidas”. Para ele, Albion, ancestral mítico dos bretões, seria “o Atlas dos gregos”.
No espaço deixado vago pelo Jardim do Éden, pela arca de Noé e pela torre de Babel, nos milênios que se estendiam entre o suposto tempo de Adão e a batalha de Maratona, qualquer homem culto podia então construir suas próprias fantasias sem correr o risco de um desmentido cabal e muitos fizeram isso na tentativa de provar que sua pátria nada devia a estrangeiros e seu povo tinha um direito antigo e legítimo a reinar sobre o mundo.

Não era essa, porém, a única motivação por trás dos sonhos sobre a Atlântida. No auge da Idade da Razão, o astrônomo Jean-Sylvain Bailly, que em 1789 também se tornou o primeiro prefeito da Paris revolucionária, tentou deduzir o local de origem da civilização de uma maneira que lhe parecia lógica e científica.



Bailly
Jean-Sylvain Bailly
Muitos iluministas, como Voltaire, pensavam encontrar a origem da civilização nas margens do Ganges e do Indo. Não só os mitos indianos atribuíam à sua cultura uma antiguidade fantástica, como os linguistas já sabiam que as línguas da Europa não se relacionavam ao hebreu bíblico, ao passo que a grande maioria tinha um claro parentesco com as línguas da Índia e Irã ditas “arianas” e que, de todas as línguas indo-européias então conhecidas, a mais próxima da raiz comum era o sânscrito, língua sagrada da Índia antiga. Acreditando ser mesmo a Índia a mais antiga civilização conhecida, Bailly aludiu a uma série supostamente muito antiga de tábuas astronômicas hindus, cujas indicações, a seu ver, sugeriam terem compiladas não no sul da Ásia, mas perto do paralelo 49. A isso, somou lendas zoroastristas segundo as quais os ancestrais dos iranianos vinham do “pólo norte” e o mito grego dos hiperbóreos, um povo feliz que vivia em uma terra de clima ameno “além do vento norte”. Concebeu uma pré-história segundo a qual a Atlântida havia se situado no extremo norte, no arquipélago norueguês de Spitzbergen, quando o mundo era mais quente.


Ainda não se ouvira falar da fissão nuclear, dos processos de desintegração radioativa que, sabe-se hoje, mantém quente o interior da Terra (e muito menos do processo de fusão do hidrogênio que sustenta o calor do Sol). Os astrônomos da época pensavam que nosso planeta havia esfriado continuamente a partir da bola de lava que fora há não mais que algumas dezenas de milhares de anos. Segundo essa idéia, o mundo devia ter sido bem mais quente há alguns milênios e, dentro de alguns mais, estaria completamente congelado.

Por isso, especulou Bailly, à medida que o clima esfriou, os atlantes se mudaram de Spitzbergen – às vezes identificada com Ultima Thule, a terra indicada por geógrafos antigos como o extremo Norte – para a Sibéria, entre os rios Obi e Yenisei e depois para o Altai, no paralelo 49 (onde hoje se encontram as fronteiras da Rússia, China, Mongólia e Cazaquistão), a partir do qual se espalharam para a Índia, a Pérsia e a Europa.

Fiel ao espírito revolucionário, Bailly procurava ser menos nacionalista e mais universalista, mas não abandonou o eurocentrismo. Fez a civilização nascer de uma imaginária pré-história da raça “branca”, confundida com a família linguística indo-européia ou “ariana” cujo berço os linguistas procuravam na Ásia Central.

Atlântida no século XIX 



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Mapa conjetural de Atlântida, de Jean Baptiste Bory de Saint-Vincent
O naturalista francês Jean Baptiste Bory de Saint-Vincent, em sua obra Essais sur les Iles Fortunées (1801), conjeturou que as ilhas Canárias seriam remanescentes do continente da Atlântida. Chegou mesmo a desenhar um mapa no qual procurou compatibilizar o relato de Platão com o de Diodoro da Sicília, colocando a Atlântida muito próxima da África, como o lago Tritônis transformado em um estreito mar interior entre as duas terras.

Em 1805, Francis Wilford, oficial britânico na Índia, escreveu uma série de artigos segundo os quais as ilhas Britânicas seriam o que restava do antigo continente de Atlântida, onde haviam ocorrido os acontecimentos mencionados no Antigo Testamento (e não na Palestina, como se pensava). Os druidas seriam de origem atlante. Quando pessoas com quem se relacionava na Índia tomaram conhecimento de seu entusiasmo, venderam-lhe vários documentos em sânscrito para ajudá-lo a provar sua tese. Quando descobriu serem falsos, fez os artigos serem publicados com grandes cortes, o que os tornou quase incompreensíveis.


Atlantis map 1882
 
A Atlântida e seu império, segundo Ignatius Donelly em Atlantis: the Antediluvian World (1882)


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Atlantis: the Antediluvian World (capa de 1960)
A obra mais influente na atualização do mito de Atlântida a partir do século XIX, porém, foi provavelmente Atlântida: o mundo antediluviano (no original, Atlantis: The Antediluvian World), do maçom, escritor e político estadunidense Ignatius L. Donnelly, publicada em 1882.


O livro de Donelly quis provar que todas as civilizações antigas descendiam de uma cultura neolítica nesse continente perdido, apontando semelhanças (bastante superficiais) entre civilizações do Egito, Mesopotâmia e Europa, de um lado, e civilizações americanas, de outro, tais como construção de edifícios piramidais e mumificação de mortos. Tentava também provar que várias plantas, inclusive o tabaco, a goiaba, o algodão, a banana, o milho e o abacaxi, existiam tanto no Velho quanto no Novo Mundo antes mesmo de Colombo (estava errado). Os atlantes eram um povo de pele avermelhada, como os egípcios e Adão (que, segundo ele, significaria "vermelho").
Resumia sua obra em 13 teses:
  1. Existiu outrora no Atlântida, frente à boca do Mediterrâneo, uma grande ilha que fora o que restara do continente Atlântico e a que os antigos chamaram Atlântida.
  2. A descrição da ilha feita por Platão era uma narrativa verdadeira.
  3. Foi na Atlândia que a humanidade passou pela primeira vez da barbárie para a civilização.
  4. Atlântida se tornou uma nação densamente povoada e poderosa que deu origem aos povos civilizados do golfo do México, Mississipi, Amazonas, costa do Pacífico da América do Sul, Mediterrâneo, costa ocidental da Europa e África, mar Negro e Cáspio.
  5. Atlântida foi o verdadeiro mundo antediluviano, o Jardim do Édem, os Jardins das Hespérides, os Campos Elísios, os Jardins de Alcínoo, o Olimpo, o Paraíso das tradições dos antigos. Representava uma recordação universal de um país enorme onde os primeiros povos viveram durante tempos infindos em paz e felicidade.
  6. Os deuses dos gregos, fenícios, hindus e escandinavos eram os reis, rainhas e heróis da Atlântida; e os feitos que a mitologia lhes atribui não passam de uma recolha confusa de verdadeiros acontecimentos históricos.
  7. A mitologia do Egito e Peru representava a primitiva religião de Atlântida, que consistia na adoração do Sol.
  8. A colônia mais antiga dos atlantes sesituava provavelmente no Egito, cuja civilização era uma reprodução da ilha da Atlântida.
  9. Os instrumentos da Idade do Bronze da Europa derivavam da Atlântida. Os atlantes foram também os primeiros fabricantes do ferro.
  10. O alfabeto dos fenícios se originara de um alfabeto da Atlântida, que também foi passado da Atlântida aos maias da América Central.
  11. A Atlântida era o berço das nações das famílias arianas e indo-européias, bem como dos povos semitas e possivelmente também das raças uralo-altaicas.
  12. Os atlantes morreram devi a um fenômeno sísmico que fez a ilha se afundar no Atlântico, arrastando consigo a maioria de seus habitantes.
  13. Algumas pessoas escaparam em embarcações e levaram para leste e oeste as notícias da catástrofe, que foram preservadas nas lendas do Dilúvio, tanto no Novo quanto no Velho Mundo.
Outro livro influente foi o Thet Oera-Linda bok. Trata-se de um manuscrito escrito em frísio, que apareceu em 1867 e foi traduzido para o inglês em 1876. O texto, datado de 1256, afirma ser uma cópia de manuscritos ainda mais antigos, que datariam de 2194 a.C. a 803 d.C. Entretanto, tudo indica que se trata de uma fraude e o papel em que foi escrita parece ser do século XIX.

O Oera-Linda conta a história de uma terra chamada "Atland", povoada por ancestrais dos frísios (povo do extremo norte da Holanda e Alemanha), que teria afundado no Mar do Norte em 2194 a.C. e de seus descendentes, que teriam difundido a civilização e a escrita da Fenícia a Tiahuanaco. Essa versão "nórdica" da Atlântida teria uma grande influência sobre as teses sobre a superioridade dos "arianos". Para mais detalhes, leia Atland.


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Mapa incluído em A Comunicação Pré-Cataclisma dos Dois Mundos via Atlantis (Patroclus Kampanakis, Costantinopoli 1893)
Uma terceira fonte de idéias sobre a Atlântida foi uma pseudo-tradução do Códice Troano, um manuscrito maia do século XVII por Charles-Étienne Brasseur (1864), depois refinada e acrescida de outras supostas provas pelo maçom, médico e arqueólogo amador Augustus Le Plongeon em um livro chamado Mistérios Sagrados entre os Maias e os Quichés há 11.500 anos (1886). Segundo esta visão, a Atlântida, que os maias teriam chamado de Mu, teria sido o berço da civilização maia, da qual teriam se originado todas as demais. Para detalhes, leia Mu.


Em 1868, mais uma linha de especulação foi inaugurada pelo botânico D.A. Godron, que localizou a Atlântida no Saara. Foi seguido por Felix Berlioux, em 1874, que afirmava ter localizdo a capital da Atlântida na costa ocidental do Marrocos, entre Casablanca e Agadir, onde a cadeia montanhosa do Atlas chega ao mar. Ali teria existido a Cerne de Diodoro da Sicília. Os atlantes, segundo Berlioux, teriam sido senhores de um império no norte da África que foi derrotado no século XIII a.C. por egípcios e fenícios, enquanto os berberes getúlios se apossavam da capital. Os traços dos sobreviventes continuariam presentes nos olhos e cabelos claros ocasionalmente encontrados nos povos das montanhas do Norte da África. A Medusa e o Perseu do mito de Diodoro são identificados com medas e persas.

A partir de 1851, Helena Blavatsky, uma jovem aristocrata russa, ousada, independente e fascinada pelo misticismo indiano, viajou por várias partes do mundo e desenvolveu uma concepção cosmológica pessoal a partir de tradições ocultistas, budistas e hindus, do espiritismo de Allan Kardec e também de especulações geológicas, biológicas e antropológicas populares em seu tempo. Alegando ter acesso a verdades esquecidas por meio de clarividência, acesso a espíritos desencarnados e obras secretas, criou o sistema que chamou de teosofia, oficialmente inaugurada com a fundação da Sociedade Teosofica em 7 de setembro de 1875, quando também foi publicada sua obra mais importante, Ísis sem Véu.

Apresentando-se como síntese das sabedorias ocidental e oriental, a teosofia misturou mitos, a ciência de meados do século XIX (A Origem das Espécies de Charles Darwin, publicada em 1859, era então uma obra polêmica), idéias de Donelly, Le Plongeon e do Oera-Linda, aliadas a fantasias pessoais, em uma concepção da evolução humana cujo racismo, latente em Blavatsky, tornou-se mais explícito em seguidores como C. W. Leadbeater, Annie Besant e W. Scott-Elliot.

Depois de passar por formas fantasmagóricas da primeira e segunda raças-raízes, que teriam existido em um desaparecido continente polar chamado Hiperbórea, a humanidade teria se materializado em corpos físicos toscos e gigantescos em um continente tropical chamado Lemúria, originalmente uma hipótese científica do século XIX - leia Lemúria para mais detalhes sobre a concepção original e Lemúria teosófica para a versão de Blavatsky e seguidores. Ramos “avançados” da “raça lemuriana” teriam sido “selecionados” – não pelo ambiente, mas por “espíritos superiores” – para constituir uma nova “raça que viria a ser a dos “atlantes”, cujo continente teria emergido enquanto Lemúria afundava.
As duas primeiras raças “atlantes”, ainda primitivas, teriam sido de pele escura. Em seguida, foi selecionada a raça “tolteca”, construtora do império atlante, cujos remanescentes seriam os toltecas do México e os incas do Peru. Desta, foram extraídas as raças “amarelas” e “brancas”. Para detalhes sobre a concepção teosófica da história e geografia dessa Atlântida e de seus povos, leia Atlântida teosófica.


Enquanto a extensão de Atlântida era reduzida por uma série catástrofes, das quais a de Platão teria sido apenas a última uma estirpe foi selecionada para criar uma nova civilização exatamente no ponto onde Bailly havia localizado a dispersão das raças “arianas”, identificado pelos teósofos com Shambhala, mito budista tibetano sobre um lendário reino do passado (leia Shambhala teosófica para detalhes). Os ramos da raça “ariana” seriam os hindus, os árabes (sic), os iranianos, os celtas e os teutões. Quanto aos hebreus, descenderiam de um ramo degenerado dos “semitas”, que teria recusado a ordem divina de se misturar aos “arianos” para evoluir.



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Mapa de Atlântida, segundo Frederick S. Oliver


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Vailx em vôo, em ilustração de Um Habitante de Dois Planetas, de Frederick Oliver
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Vailx entrando n'água
Outra contribuição influente foi Um Habitante de Dois Planetas (no original, A Dweller of Two Planets), obra do médium estadunidense Frederick S. Oliver escrita entre 1883 e 1886 e publicada em 1910, 11 anos depois de sua morte. Foi supostamente ditada por um espírito chamado "Phylos, o Tibetano", que descreve várias encarnações, algumas delas em Atlântida ou Poseid.


Ali são descritos veículos chamados vailxi (singular vailx), em forma de charuto, que podiam viajar pelo ar ou pela água. Em sua descrição, a Atlântida era uma monarquia eletiva, com um imperador assessorado por 90 ministros vitalícios e escolhido por uma aristocracia de sacerdotes (Incala) e cientistas (Xioqua). A capital, chamada Caiphul ou "Atlan, rainha das ondas", localiza-se sobre um promontório, a oito quilômetros do mar.

A eletricidade era amplamente usada e era obtida de cristais. Entre outras maravilhas tecnológicas, os atlantes dispunham de máquinas de escrever operadas pela voz e televisores. Possuíam também uma moderna legislação trabalhista, que limitava a jornada de trabalho a um máximo de nove horas (oito para serviços de escritório). Adoravam um deus único, ao qual chamavam Incal.
Oliver também referiu-se brevemente a um continente chamado Lemúria ou Lemorus, que teria desaparecido muitas eras antes de Atlântida, expandida a partir dos anos 30 por admiradores e ocultistas. Para mais detalhes, leia Lemúria.

Atlântida de 1900 a 1950 

Essas concepções influenciaram muitas pessoas que desejavam trocar o mito judaico-cristão por outro. Várias dissidências e imitações nasceram do tronco da teosofia, alterando mais ou menos profundamente suas teses. Uma delas foi a antroposofia, fundada na Alemanha por Rudolf Steiner, em 1912. Um de seus seguidores, Dmitri Merezkovski, escreveu em Atlântida/Europa: o segredo do Ocidente, que a Atlântida era o Paraíso bíblico e a Avalon das lendas arturianas e identificou Atlas com o bíblico Enoque. A civilização da Atlântida foi "a semente da Europa". Sete deuses da Atlântida sobreviveram à catástrofe e formaram parte dos panteões posteriores: Adônis, Osíris, Tamuz, Átis, Mitra, Dioniso e Quetzalcóatl.

Também em 1912, Paul Schliemann, neto do descobridor das ruínas de Tróia e Micenas, o famoso arqueólogo Heinrich Schliemann, vendeu ao New York Times um artigo. Dizia que o avô tinha lhe deixado um antigo vaso com cabeça de coruja e um envelope lacrado com a indicação de que só deveria ser aberto por um membro da família disposto a jurar que dedicaria a vida a investigar os assuntos ali mencionados. Paul teria assumido o compromisso e seguido a instrução de quebrar o vaso. Ali encontrou moedas quadradas de uma liga de platina, alumínio e prata e uma placa de metal com uma inscrição em fenício, "fabricada no Templo das Paredes Transparentes". Entre as anotações do avô, encontrou a descrição do achado, em Tróia, e um vaso de bronze com moedas e artefatos de metal, osso e cerâmica, com a inscrição "Do rei Cronos de Atlântida". Os tais artefatos jamais foram mostrados e Paul não escreveu o livro que prometeu. Interrogado sobre o assunto, Whilhem Dörpfeld, antigo colaborador de Heinrich Schliemann, afirmou que o arqueólogo jamais revelara qualquer interesse especial em Atlântida, nem escrevera nada sobre o assunto. Entretanto, por causa desse artigo, muitos defensores de Atlântida passaram a afirmar que o descobridor de Tróia havia também estudado o tema da Atlântida ou mesmo seria o responsável pela renovação do interesse científico sobre o assunto.

No final do século XIX, organizações ocultistas e racistas alemãs e austríacas adotaram a idéia de que a "raça ariana" se originara de uma terra no extremo norte chamada Arctogéia, Hiperbórea ou Thule, que desapareceu sob o gelo depois de uma mudança climática (provocada, em algumas versões, pela inclinação do eixo da Terra) ou afundou. Uma destas, a Sociedade de Thule, que durou de 1918 a 1925, teve contatos com alguns dos principais ideólogos do movimento nazista, inclusive Alfred Rosenberg, Rudolf Hess, Julius Streicher e Dietrich Eckart. Um de seus membros foi o primeiro presidente do partido nazista e outro propôs a bandeira com a suástica. Adolf Hitler cortou as relações entre o nazismo e a Sociedade de Thule quando assumiu a liderança do partido, mas alguns dos seus seguidores continuaram fascinados por essas concepções, principalmente Heirich Himmler, o líder da SS.

Frobenius 

Idéia quase que diametralmente oposta foi sugerida entre 1908 e 1926 por Leo Frobenius, explorador africano da África. Ele encontrou objetos na região iorubá que o convenceram de que descobrira a Atlântida com seus elefantes, vegetação luxuriante, nativos com vestes azuis e minério de cobre. Identificou o orixá Olocum com Posídon e afirmou que a região fora o centro de poderosas nações marítimas desde o século XIII. Tartessos, na Espanha, teria sido um posto avançado dessa Atlântida africana e Ufaz, mencionada nos livros bíblicos de Jeremias e Daniel junto com Társis (que supôs ser Tartessos) como fonte de ouro e mercadorias, teria sido a própria região iorubá, com capital em Ilê-Ifé. Frobenius também se convenceu de que a cultura iorubá continha elementos não-africanos, como o arco pequeno, tatuagem, magia e o pára-sol sagrado do rei. Defendia que a civilização se iniciara num continente perdido do Pacífico, de onde se expandira para a Ásia e dali para oeste, estimulando o surgimento de culturas como a egípcia e a atlanto-nigeriana.

Lewis Spence 

 



Atlantistertiary
Mapa da Atlântida no Terciário, de R. M. Gattefosse, citado em History of Atlantis, de Lewis Spence
Antillia
Atlântida e Antília num período posterior, segundo Lewis Spence
Em 1924, o mitólogo escocês Lewis Spence publicou O Problema da Atlântida, no qual tentou provar as seguintes teses:
  1. Um grande continente ocupou outrora toda ou a maior parte do Atlântico Norte e uma parte considerável do Sul, passando or muitas modificações, submersões e reaparecimentos ao longo das eras.
  2. No mioceno (de 23,03 milhões a 5,33 milhões de anos atrás) ainda mantinha a estrutura de continente, mas começava a desintegrar-se devido a erupções vulcânicas e outras causas.
  3. Esta desintegração deu origam a várias ilhas. Duas delas, de tamanho maior, situavam-se uma a pequena distância do Mediterrâneo, outra perto das Antilhas, interligadas por uma cadeia insular.
  4. Estas duas ilhas-continentes e a cadeia entre elas continuou até cerca de 23 mil a.C., quando houve uma desintegração maior. A catástrofe final atingiu a ilha do leste, a Atlântida propriamente dita, em 9.600 a.C. A ilha do oeste, que ele chama de Antillia, sobreviveu até período mais recente (200 a.C.) e continua a existir de forma fragmentada no arquipélago das Antilhas.
Segundo Spence, a guerra entre atlantes e gregos era invenção de Platão e a civilização atlante era relativamente primitiva: não conheciam os metais, embora domesticassem cavalos e vacas. Os homens de Cro-Magnon teriam vindo da Atlântida e invadido a Europa em três vagas ou "raças": Cro-Magnon (aurignaciana) em 23.000 a.C., magdaleniana em 14.000 a.C. e aziliana-tardenoisiana em 10.000 a.C.
Os azilianos, que chegaram com o afundamento final da Atlântida, teriam fundado as civilizações do Egito e de Creta, sendo os iberos, bascos e guanches os seus descendentes. O tipo de planeamento urbano que haviam desenvolvido na Atlântida refletiu-se em Cartago e Knossos. Fundaram a religião de Osíris e também o druidismo dos celtas.

Já os fundadores das civilizações americanas (que erroneamente supunha terem surgidas de repente, com arte, arquitetura e escrita plenamente desenvolvidas), teriam vindo de Antillia, onde refugiados vindos de Atlântida teriam vivido durante alguns milhares de anos. Partiram para o Iucatã quando também esta ilha afundou, em 200 a.C., o que explicaria a lenda de Quetzalcóatl como um estrangeiro barbudo chefiando civilizadores vestidos de negro. Teriam levado o uso dos cocares aos índios das planícies.
Mais tarde, Spence também acrescentou a tese de uma Lemúria afundada no Pacífico Central, como explicação de supostos mitos nativos sobre o Dilúvio que, na realidade, lhe foram levados por missionários cristãos.

Spence se baseou em teorias geológicas obsoletas e suposições errôneas, como a de que os lemingues morrem ao tentar migrar para um continente desaparecido a oeste. Na verdade, quando atingem uma situação de superpovoamento, esses roedores simplesmente partem em uma direção qualquer, atravessam rios e, quando encontram o mar - seja o Atlântico a oeste, na Noruega, seja o Báltico a leste, na Suécia -, tomam-no erradamente por outro rio e se afogam.

Herrmann, Petermann e Borchardt 

Em 1925 outra idéia foi proposta pelo arqueólogo alemão Albert Herrmann e divulgada em 1927 por um artigo do respeitado geógrafo alemão August Petermann. A Atlântida teria se localizado na Tunísia. A idéia se baseia em grande parte no relato de Diodoro da Sicília, que fazia dos atlantes os habitantes da região do Atlas. As "colunas de Hércules" a que Platão teria se referido seriam não o Estreito de Gibraltar, mas o estreito que outrora comunicava ao Mediterrâneo o lago Tritônis de Diodoro - o atual Chott el Jerid, lago salgado e sazonal no Saara - que seria, ao mesmo tempo, o "Mar Atlântico" que Platão teria sido erradamente tomado pelo Oceano.



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Atlântida na Tunísia, conforme as hipóteses de Borchardt e Herrmann (mapa de U. Hoffmann)
Atlântida teria existido numa ilha dentro desse lago. Um terremoto teria fechado a comunicação do lago com o mar, conforme contou Diodoro, e condenado os atlantes ao desaparecimento. Herrmann julgou ter localizado os restos de uma rede de canais perto da vila de Rhelissia, no sul da Tunísia, perto da qual teria existido a metrópole desaparecida. Entretanto, a Atlântida teria existido no século XIV a.C. ou XIII a.C., as medidas de Platão estariam exageradas por um fator de 30 (devido à confusão entre estádios gregos e a unidade de medida egípcia) e essa Atlântida teria sido apenas uma colônia da Atland frísia referida pelo Oera Linda.


O geólogo alemão Paul Borchardt defendeu idéia semelhante em 1926. Identificou o antigo monte Atlas não com a cadeia do Maghreb que hoje tem esse nome, mas com as montanhas Ahaggar, no coração do Saara. Tentou estabelecer uma correlação entre os nomes dos dez filhos de Posídon indicados por Platão com os de tribos berberes modernas e afirmou que as "Colunas de Hércules" eram colunas propriamente ditas, de um templo desaparecido. Sugeriu que a Atlântida, rica em metais, seria o palácio de bronze de Alcínoo da Odisséia e também a Cidade de Bronze mencionada nas Mil e Uma Noites. Perto de Qabes encontrou os restos de uma fortaleza que pensou ser a Atlântida, mas logo se mostraram ter pertencido a uma cidade romana.

Wirth 




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Atlântida e Hiperbórea, em mapa de 1934
Em 1928, um filólogo e folclorista holandês holandês chamado Herman Wirth combinou a tese hiperbórea com a Atland do Oera Linda e formulou uma complexa especulação segunda a qual a "raça ariana" havia se originado de uma Hiperbórea que foi fragmentada e congelada pela deriva dos continentes e seu povo emigrou para a Atland ou Atlântida, que concebeu como uma terra que se estendia do Mar do Norte ao Mar Cantábrico, onde se tornaram os Tuatha de Danaan do mito irlandês e expulsaram os Fomori, que seriam os povos mediterrâneos. Sua sociedade seria matriarcal e baseada na criação de renas. Mais tarde, com a submersão dessas terras, os nórdico-atlantes teriam emigrado para a Europa e Oriente Médio (onde difundiram a cultura megalítica) e também para a América do Norte. Teriam levado o alfabeto aos fenícios e teriam sido os fundadores de Tiahuanaco. Leia mais detalhes em Atland.


Em 1935, Himmler convenceu o comando nazista a criar uma sociedade para pesquisar e divulgar as doutrinas de Wirth. Este foi afastado em 1937, mas a sociedade continuou a existir e procurar provas da suposta Atlântida nórdica, além de colaborar com o Holocausto, até o fim da II Guerra Mundial. Variantes das idéias de Wirth foram também adotadas por pensadores ultraconservadores e fascistas inclinados ao ocultismo, notadamente René Guénon (leia Thule) e Julius Evola (leia Hiperbórea). Estes acrescentaram a idéia de um centro iniciático na Ásia como concorrente ou sucessor de Atlântida, que o primeiro chamava de Agarttha, nome tomado de ocultistas anteriores e provavelmente derivado de Asgard. Essas ideia nunca chegaram a se tornar uma doutrina oficial do nazismo. Apesar disso, foram adotadas por vertentes ocultistas do neonazismo e tornaram-se parte central das especulações do pós-guerra sobre as supostos segredos do nazismo.

Churchward 

Outra linha de especulação foi inaugurada pelo britânico James Churchward, que em 1926 publicou um livro afirmando que a Mu de Le Plongeon era um continente localizado no Pacífico. Atlântida tinha um papel secundário em seu esquema, como uma das colônias de Mu. Paralelamente, a californiana "Sociedade de Lemúria" desenvolveu as breves menções a Lemúria na obra de Frederick Spencer Oliver (centrada na Atlântida ou "Poseid") em uma crença segundo a qual lemurianos continuariam a viver em um refúgio sob o monte Shasta, também dando a Atlântida apenas o papel de centro secundário surgido depois do desaparecimento de Lemúria.

Cayce

Ainda antes da II Guerra Mundial, influíram também na concepção moderna de Atlântida as obras do médium estadunidense Edgar Cayce. Sua descrição da Atlântida tem muito em comum com Ignatius L. Donnelly. Segundo Cayce, a sociedade atlante era dividida entre uma facção "boa" chamada "Filhos da Lei do Uno" e uma má chamada "Filhos de Belial". Atlântida sofreu três cataclismas, um dos quais foi o dilúvio bíblico. Uma das causas desses cataclismas foi o desejo dos Filhos de Belial de explorar as "Coisas" (Things), sub-humanos com membros animais e baixa inteligência, e o movimento dos Filhos da Lei do Uno para protegê-los e fazê-los evoluir. A destruição final foi causada pela sobrecarga de um cristal que causou uma explosão massiva.

Atlântida de 1950 a 2000



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Mapa de Vasilis Pashos, fundador do Museu de Atlântida em Atenas (1979)
Na primeira edição de seu livro Continentes Perdidos (1948), o escritor L. Sprague de Camp, depois de fazer uma ampla revisão da história do mito de Atlântida, considera as hipóteses de que a Atlântida de Platão tenha se baseado em Creta, Cartago ou Tartessos. A hipótese de Creta já havia sido considerada, desde o início do século XX, por K. T. Frost, mas De Camp a descarta por achar improvável que os egípcios tivessem ampliado e deslocado Creta no espaço e no tempo para originar a Atlântida de Platão.


Cartago, hipótese sugerida por Victor Bénard, estava localizada em uma posição geográfica mais condizente com a história de Platão e tinha um plano circular que sugeria a cidade por ele descrita. Platão, que morou durante algum tempo na Sicília, certamente teria ouvido falar muito de Cartago. Por outro lado, Cartago era uma república, não uma monarquia, e no tempo de Platão era uma nação poderosa e em plena ascensão. Poderia ter ajudado a inspirar Atlântida como obra de ficção, mas não como lembrança real do passado.

De Camp dá mais atenção a Tartessos, que julga ser o mesmo que a Társis bíblica: existiu para além das Colunas de Hércules, com disse Platão, sua antiga localização é cercada por baixios, como disse Platão, ficava diante de Gades (que foi sua rival comercial) e desapareceu repentinamente, do ponto de vista dos gregos, ao ser destruída pelos fenícios, o que pode ter-lhes dado a impressão de que afundou no mar.

Uma das primeiras elucubrações do pós-guerra com certa repercussão foi a do alemão Jürgen Spanuth, pastor protestante que em 1953 afirmou que a Atlântida havia sido uma ilha de algumas centenas de quilômetros quadrados que incluía a atual Heligoland, no mar do Norte, que teria sido capital de uma civilização nórdica até 1250 a.C., quando teria sido destruída pela queda de um cometa. Sua descrição geral corresponderia a Platão, mas em uma escala menor. Os sobreviventes teriam tentado invadir o Egito e a Grécia, dando origem ao relato de Platão. No Egito, teriam sido derrotados e registrados pelos anais faraônicos como os "Povos do Mar"; na Grécia, teriam sido vitoriosos e se tornaram os povos dóricos, que teriam trazido aos gregos o gosto pelo esporte e pelas artes. Veja detalhes em Atland: Spanuth.

Em 1952, o escritor e médico judeu-alemão Fritz Kahn incluiu sua própria sugestão sobre Atlântida - curiosamente muito parecida com as especulações nazistas de antes da guerra - em seu Livro da Natureza, de resto uma obra de vulgarização científica bastante respeitável (e muito bem vendida em sua época). Considerou a Atlântida um dos refúgios de uma civilização do norte destruída pelo avanço das geleiras na Idade do Gelo. As pinturas das cavernas pré-históricas da França seriam também obra de refugiados dessa cultura desaparecida. De Atlântida, teriam sido difundidos traços culturais para as civilizações do Mediterrâneo e das Américas.

A partir dos anos 60, com o mapeamento do fundo dos oceanos e a aceitação e refinamento da teoria da deriva continental, a ideia de um continente ou mesmo de uma grande ilha desaparecida no meio do Atlântico deixou de ser geologicamente respeitável. Localizações cada vez mais variadas foram propostas pelos que continuaram a supor alguma verdade histórica por trás do relato de Platão.



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Esquema da Atlântida de Platão sobreposto ao atual contorno de Santorini, segundo Galanopoulos
Em 1960, o sismólogo grego Angelos Geōrgiou Galanopoulos acrescentou a identificação de Atlântida com Creta à tese formulada em 1939 pelo arqueólogo grego Spyridon Marinatos, segundo a qual a civilização minóica foi destruída pelos tsunamis e pela chuva de cinzas resultantes da gigantesca erupção vulcânica que deixou semidestruída a ilha de Santorini (antiga Thera) entre 1600 a.C. e 1500 a.C.
Segundo Galanopoulos, o relato dos egípcios a Sólon, referido por Platão, teria sido autêntico, mas por equívoco de tradução ou exagero de alguma das partes, os números referentes à antiguidade do evento e aos dados geográficos teriam sido multiplicados por dez. Assim, a catástrofe teria ocorrido 900 anos antes de Sólon, em vez de 9 mil. Isso reduziria a ilha-continente de Atlântida às dimensões de Creta e sua capital às da cratera de Thera. Ao interpretar erradamente os números, Platão teria sido induzido a localizar Atlântida fora do Mediterrâneo, visto que este mar não poderia ter contido uma ilha tão grande.

Em 1967, a descoberta de uma cidade minóica desaparecida perto de Akrotiri, na ilha de Santorini, e de seus belíssimos murais deu aos jornais a oportunidade de publicar manchetes sobre a "descoberta da Atlântida" e tornou muito popular essa especulação, à qual L. Sprague de Camp aderiu parcialmente nas edições posteriores de seu livro (sempre ressalvando que seria apenas uma inspiração para o mito concebido por Platão). Embora engenhosa, a idéia, esmiuçada por Galanopoulos e Edward Bacon em Atlantis: The Truth Behind the Legend (1969), ignora o papel político de Atenas no mito platônico e a afirmação de Platão de que Atlântida teria dominado o Mediterrâneo Ocidental até a Tirrênia e a Líbia antes de ameaçar gregos e egípcios. Além da falta de registros sobre a catástrofe vulcânica nos anais ou na mitologia dos gregos ou dos egípcios e de detalhes como a presença de elefantes na ilha.
Essa foi, aparentemente, a última especulação a ter uma repercussão significativa na imprensa e nos meios acadêmicos, embora muitas outras tenham surgido nas décadas seguintes, algumas das quais deram origem a best-sellers populares por alguns anos.



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Foto submarina da "Estrada de Bimini", tomada por Berlitz como vestígio de Atlântida
Uma das mais populares foi a tese do professor de línguas e escritor Charles Berlitz (neto do fundador da escola de idiomas Berlitz). Em 1974 já havia ganho notoriedade com O Triângulo das Bermudas, lenda que ele praticamente inventou e nos anos seguintes sustentou a fama com livros sobre o O Experimento Filadélfia (1979), O Incidente Roswell (1980), O Dia do Juízo Final, 1999 (1981, ele viveu até 2003). Mais tarde, escreveu também um livro sobre a busca da Arca de Noé no Ararat.
Em 1984, ele publicou Atlântida: o Oitavo Continente, com base na suposta confirmação de uma previsão do médium Edgar Cayce, de 1940, segundo a qual "Poseidia [capital de Atlântida] estará entre as primeiras porções de Atlântida a ressurgir [rise again]. Esperem isso para 1968 ou 1969". Antes, em 1927, Cayce havia se referido às Índias Ocidentais Britânicas (que incluem as Bahamas, onde fica Bimini), como "protrusões" da Atlântida, que teria se estendido do Golfo do México ao Mediterrâneo.

Em setembro de 1968, dois alinhamentos - um retilíneo, outro em forma de "J" - de pedras calcárias de tamanho variado, com cerca de 500 metros de extensão, foi encontrado a 800 metros ao largo de Bimini e Berlitz o interpretou como confirmação da profecia (que, entretanto, aparentemente se referia a uma reemersão real do continente). O alinhamento, conhecido como "estrada de Bimini" (Bimini Road) tem sido considerado pelos geólogos como uma formação natural, decorrente da ação das marés sobre a antiga linha costeira de Bimini, entre 2000 a.C. e 1 d.C. Há exemplos similares em outras partes das Bahamas e do mundo.

O livro de Berlitz também mencionou supostas "pirâmides submarinas" (provavelmente simples recifes) cartografadas pelas marinhas estadunidense e britânica, uma a 23º26' N e 79º43' W (ao norte de Cuba, perto de Cay Sal), onde a profundidade de 450 metros subitamente se reduz a 13 metros e outra a 23º34' N e 80º W (também ao norte de Cuba). Fora isso, o livro se limita a reciclar velhos argumentos.



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Comparação entre o mapa de Kircher e a Antártida livre da camada de gelo
Uma das mais estranhas entre as novas hipóteses foi a de Charles H. Hapgood, explicitada em Maps of the Ancient Sea Kings: Evidence of Advanced Civilization in the Ice Age (1966). Ele rejeitava a hoje universalmente aceita teoria da deriva continental, acreditando, em troca, em súbitos deslocamentos da crosta da Terra em relação ao eixo, o último dos quais, em 9.600 a.C., teria sido de 15º e teria deixado a Atlântida, antes uma terra temperada, no pólo Sul, o que a deixou coberta de geleiras, transformada no que hoje conhecemos por Antártida.


A tese se apoia também em antigos mapas, como o de Piri Reis, cujas especulações sobre as hipotéticas terras do extremo sul (a Terra Australis Incognita) parecem se aproximar de mapas modernos que representam o verdadeiro contorno das terras da Antártida sob a camada de gelo. Particularmente bizarra é a interpretação do mapa de 1665 de Athanasius Kircher, que não pretendia ser mais do que esquemático.

A legenda do mapa de Kircher o descreve como "Localização da ilha de Atlântida, hoje absorvida pelo mar, de acordo com o pensamento dos egípcios e a descrição de Platão". Trata-se, deveria ser óbvio, de uma alusão à alegação de Platão segundo a qual a história de Atlântida havia sido contada por sacerdotes egípcios a seu antepassado Sólon. Entretanto, o autor de quis acreditar que Kircher copiou diretamente o mapa de alguma misteriosa fonte egípcia, mas confundiu o contorno da África e Europa com o da Austrália e a América do Norte com o da América do Sul, de maneira que seu mapa, na verdade, localizava a Atlântida no pólo Sul.

Atlântida no século XXI




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Localização do banco Majuán
O geólogo francês Jacques Collina-Girard publicou, em 2001, um artigo sugerindo que o banco Majuán ou banco Spartel, em frente ao estreito de Gibraltar, poderia ter sido a Atlântida. Durante a Idade do Gelo, quando o nível do mar era 135 metros mais baixo, esse banco teria formado um pequeno arquipélago, tendo a maior ilha 12 km de extensão. As ilhas foram encolhendo pouco a pouco, com a subida do nível do mar, mas a última ilha teria desaparecido subitamente, por volta de 9.600 a.C., com um terremoto de grau 9 na escala Richter. Os egípcios precisariam ter recordado o acontecimento por tradição oral durante 5 mil anos antes de registrá-la.


Em 2002 o jornalista italiano Sergio Frau publicou um livro, Le colonne d'Ercole ("Pilares de Hércules"), no qual afirma que, antes de Eratóstenes, os gregos localizavam os Pilares de Hércules no estreito da Sicília. Teria sido só após a época de Alexandre que o geógrafo os relocalizou. Segundo sua tese, a Atlântida teria sido a civilização nurágica da Sardenha, que teria sido devastada por um tsunami. Os sobreviventes teriam fundado a civilização etrusca. A descrição de Platão, porém, teria sido influenciada por Cartago.



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Atlântida, segundo Samast
Uma obra de 2003, do arquiteto estadunidense Robert Samast, pretendeu localizar Atlântida em uma terra que teria submergido no final da Idade do Gelo - entre Chipre e a Síria, no Mediterrâneo Oriental, contrariando toda a narrativa de Platão, mas mesmo assim insistindo em que sua tese se encaixa "quase perfeitamente" na narrativa do filósofo. Em 2004, alegou ter encontrado muralhas, canais e a colina central da cidade descrita por Platão a 1.500 metros de profundidade, por meio de sonar.


Na verdade, conforme contestaram os próprios autores do levantamento oceanográfico em que Samast se baseou, as supostas estruturas consistem em uma bem conhecida cadeia vulcânica de 100 mil anos, cujos picos são rodeados de anéis de lama produzidos por deslizamentos e estão em águas profundas demais para terem estado emersas, mesmo nos períodos da Idade do Gelo em que o nível do mar esteve mais baixo.

Em 2007, o próprio Samast, depois de conduzir sua própria pesquisa oceanográfica no local, admitiu que se tratava de uma formação natural. Ainda assim, insistiu em que ela podia ter sido usada como fortaleza natural em tempos antigos (embora não tenha encontrado artefato algum que permitisse tal suposição).



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Paisagem do banco Dogger entre 9600 a.C. e 6100 a.C., segundo Erlingsson
Em 2004, em Atlantis from a Geographer's Perspective: Mapping the Fairy Land, o geógrafo sueco Ulf Erlingsson, de Upsalla, especulou que o "império da Atlântida" era a cultura das tumbas megalíticas do neolítico. A ilha da Atlântida propriamente dita teria sido a Irlanda que, na sua opinião, encaixa-se na descrição de Platão. Sua capital poderia estar relacionada a Newgrange, Knowth ou Tara.
Quanto ao afundamento de Atlântida, teria sido a memória de outro tempo e lugar não relacionado à "Atlântida" irlandesa propriamente dita: a saber o banco Dogger (o mesmo onde Wirth tinha localizado o coração de sua Atlântida, a base dos Tuatha de Danaan, mas imaginando-o como um platô sobre uma terra muito mais extensa - veja em A Atlântida de Wirth). O banco teria afundado no mar do Norte por volta de 6100 a.C., quando a ilha teria sido devastada por um tsunami causado por um enorme deslizamento na borda da plataforma continental norueguesa, conhecido como "avalanche Storegga". O nível do mar também teria se elevado subitamente devido à drenagem do grande lago Agassiz, que existiu na América do Norte. Erlingsson sugere que a memória dessa terra afundada chegou ao Egito através da Irlanda.



Schoppe Atlantis Karte Internet
A Atlântida dos Schoppe. A área azul-claro teria sido inundada em 5510 a.C., a linha vermelha pontilhada marca a área controlada por Atlântida e “Schlangeninsel” (Ilha da Serpente) seria a capital
Também em 2004, Christian M. Schoppe e Siegfried G. Schoppe publicaram Atlantis und die Sintflut (Atlântida e o Dilúvio) no qual afirmaram que a Atlântida teria sido a costa noroeste do Mar Negro, que teria submergido em 5.510 a.C. O Mar Negro seria até então um lago de água doce, mas uma elevação do nível do mar fez o Mediterrâneo fluir pelo Bósforo (que, nesse caso, seriam os "Pilares de Hércules"), provocando a inundação.
O oricalco seria a obsidiana, supostamente usada como moeda antes dessa época, até ser substituída pelas conchas spondylus, que se encaixariam no padrão branco-preto-vermelho da decoração de Atlântida segundo Platão. A inundação teria provocado migrações de refugiados que difundiram as línguas indo-européias para a Europa e a civilização para o Egito e a Mesopotâmia, tendo inclusive construído a Esfinge em 5 mil a.C.. A suposta escrita da cultura Vinča, encontrada no sudeste da Europa entre 6 mil a.C. e 4 mil a.C., seria a mais antiga do mundo, e teria sido difundida diretamente por essa Atlântida.

A capital foi localizada na Ilha da Serpente (Ostriv Zmiyinyy em ucraniano, Insula şerpilor em romeno), uma ilhota do Mar Negro, de 17 hectares (662 metros por 440), perto da fronteira entre Romênia e Ucrânia e pertencente a esta última. Na Antiguidade, foi conhecida pelos gregos como Leukos e pelos romanos como Alba ("Ilha Branca"), devido à presença de formações de calcário e mármore. A ilha foi um santuário de Aquiles e há nelas várias ruínas e inscrições da Antiguidade clássica, algumas submersas.

Entretanto, a concepção do Mar Negro como lago fechado contradiz a idéia de que a Atlântida seria um centro comercial com rotas para todo o mundo. É também discutível se os sinais encontrados na cultura Vinča sejam uma escrita, visto que, na maioria das vezes, aparecem isolados. Mesmo que tenham sido uma, não têm relação aparente com os hieróglifos egípcios ou com os caracteres cuneiformes sumérios e a idéia de que as civilizações egípcia e mesopotâmica tenham sido fundadas por indo-europeus também não tem base além de fantasias racistas do passado.
Quanto à inundação do Mar Negro, é uma hipótese científica respeitável, mas polêmica. Formulada em 1996 pelos geólogos estadunidenses William Ryan e Walter Pitman, tem sido contestada. Outros estudos oceanográficos têm encontrado evidências de que o Negro e o Mediterrâneo estiveram ligados pelos últimos dez mil anos. Segundo a tese de Ryan e Pitman, o processo de inundação demorou 300 dias e cobriu 155.000 km² de terra.


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Atlântida em Pampa Aullagas, ilustração de Atlas of Atlantis, de Joel Levy



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Localização de Atlântida, segundo Jim Allen
Outra hipótese heterodoxa, do cartógrafo britânico Jim Allen (James Mathieson Allen), foi publicada em Atlantis: The Andes Solution (2004) e localiza a cidade perdida no altiplano boliviano. Segundo ele, sua capital teria se localizado em uma ilha vulcânica que não teria afundado no mar e sim no lago Poopó - seria a atual Pampa Aullagas, um monte no extremo sul do lago que se transforma em ilha na estação das chuvas. Uma lenda local, conhecida como "Leyenda del Desaguadero" (rio que liga o Titicaca ao Poopó), fala de uma cidade à beira de um lago que foi submersa pelo deus Tunapa. A Atlântida dos Andes teria existido entre 9.500 a.C. e cerca de 1.200 a.C.


Junto ao lago, há um planalto aproximadamente retangular, que teria sido a planície cortada por canais descrita por Platão. O oricalco seria uma liga natural de ouro e cobre encontrada nos Andes, conhecida como tumbaga e Posídon seria o deus andino conhecido como Tunapa em aimará e Pachacámac ou Viracocha em quéchua. A formação em torno de Pampa Aullagas corresponderia grosseiramente à descrição da cidade por Platão - contanto que se admita que ele usou um estádio de 180 metros para medir a ilha central e outro de 90 metros para medir os canais.
O conhecimento detalhado da topografia da cidade por Platão teria vindo por meio de um suposto contato dos egípcios com a América do Sul, que teria sido atestado pela presença de nicotina e cocaína em múmias egípcias e núbias. A presença dessas substâncias foi de fato relatada por alguns especialistas forenses e continua inexplicada. Na falta de outros indícios de contato transatlântico ou transpacífico, tende a ser interpretada como contaminação moderna.

Outros detalhes da descrição de Platão exigem interpretações ainda mais artificiosas. Os elefantes referidos por Platão seriam os mastodontes que existiram na região andina até há alguns milhares de anos. Os touros sacrificados no templo de Posídon seriam lhamas e os carros de guerra e corridas de cavalos, mero enfeite inventado pelo filósofo. Assim como a invasão do Egito e Grécia por Atlântida, que seria simplesmente uma recordação da invasão dos "Povos do Mar" (sendo os 9 mil anos interpretados como meses), sem nada a ver com a Atlântida sul-americana, mas que teria sido incorporada à história por Platão para pôr em destaque o papel de Atenas. Apenas a descrição geográfica da cidade seria (quase) autêntica. Vale notar também que não há indícios arqueológicos convincentes da existência de uma cidade em Pampa Aullagas, além dos supostos canais que parecem ser formações naturais.



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A Atlântida no Sudeste Asiático, segundo Arysio dos Santos
Em 2005, o engenheiro nuclear brasileiro Arysio Nunes dos Santos publicou mais uma especulação sobre o tema, intitulada Atlantis, The Lost Continent Finally Found, que localiza Atlântida (que seria, ao mesmo tempo, Lemúria) em Sundalândia, terra parcialmente afundada pela elevação do nível do mar em cerca de 130 metros no final da Idade do Gelo, que incluía a atual Malásia e grande parte da atual Indonésia, incluindo Sumatra, Java e Bornéu. O que dela restou teria sido conhecido pelos antigos como as "Ilhas dos Bem-aventurados".


Essa terra seria não só a Atlântida de Platão, como também as míticas ou semi-míticas Taprobana ou Tamraparna, Terra Australis Incognita, Antichton, Antília, Antipodes, Antiporthmos, Atala, Aztlán, Thule, Tollán, Patala e outros nomes que, segundo ele, conteriam todos o sentido de "Contra-Terra" ou "Terra de Antípodas". Na verdade, seria todas as terras lendárias de que o autor já ouviu falar. Seria as terras infernais, quando é lembrada sua destruição. Seria também as terras paradisíacas, quando se lembra seu passado esplendo: o Jardim do Éden e o Hades, os Campos Elísios dos gregos, o Campos dos Papiros (Sekhet Aaru) dos Egípcios, a Yvymaraney dos tupis, a Rutas do suposto mito drávida, a Lanka do Ramayana e a "Ilha Branca", Saka-dvipa ou Sveta-dvipa, dos mitos indianos.

"Ilha Branca" ou "Ilha dos Brancos" porque teria sido habitada por humanos "louros, altos e de olhos azuis, tipo nórdico mais ou menos, ou como os guanches das Ilhas Canárias. Depois se misturaram às raças locais e acabaram por se degenerar", escreveu em um chat com leitores, embora em seu site diga que haviam duas raças, os "ariano-semitas", louros e os "drávidas", morenos de pele branca. Como os homens de Cro-Magnon, tinham o cérebro 30% maior que os humanos modernos (cerca de 1600 cm³) e a mistura dos sobreviventes com "raças inferiores" teria sido a verdadeira queda de Adão. A sua civilização teria existido ao longo de toda a última Idade do Gelo, de 120 mil a.C. a 9.600 a.C. e seu último ciclo durou toda uma era zodiacal (2.160 anos). A população teria sido de 20 milhões.

A sua Atlântida teria contido uma civilização avançada, cujo afundamento teria levado os sobreviventes a emigrarem para outras partes do mundo e assim desencadear a revolução neolítica. Não só teriam criado a astrologia, a alquimia "e todas as ciências tradicionais", a religião e a filosofia, a agricultura, a metalurgia "e tudo o mais", como desenvolveram a bomba atômica e seu uso em uma guerra entre os "drávidas" e "arianos" teria acelerado o fim da última glaciação e provocado o afundamento de sua terra. "Alguém teve a estúpida idéia de jogar uma Bomba H dentro do vulcão Krakatoa (o da Atlântida) que explodiu com violência enorme, causando imenso tsunami que gatilhou o fim da Idade do Gelo", escreveu o autor em um chat com leitores. Em seu site, afirma também que a explosão do Krakatoa é a "castração primordial" dos mitos e que o Krakatoa é todas as montanhas míticas de todas as mitologias, o Meru e Kailasa dos indianos e o Atlas dos gregos, o Pilar dos Céus. O nome "Atlas" significaria "incapaz de sustentar" os céus, aludindo à chuva de cinzas após a erupção.
A luta entre "arianos" e "drávidas" teria sido lembrada como as guerras entre Deuses e Titãs, Devas e Asuras, Heróis e Dragões (pois os drávidas seriam também chamados "Nagas", serpentes). Seria representada também na luta entre Osíris e Seth, nos pilares duplos à entrada dos templos egípcios, em Balarama e Krishna e em todas as lendas de gêmeos rivais. Também a guerra entre gregos e atlantes mencionada por Platão seria sua lembrança: os "gregos" de Platão seriam os "arianos" e a "Grécia", sua pátria original, Aryavarta. Depois da catástrofe, os drávidas fugiram para a Índia, enquanto os arianos teriam se dirigido para o norte da Europa. De lá, expulsos pelos mongóis, eles voltaram para a Índia, de novo guerreando e dominando os drávidas em 1500 a.C.

Os descendentes dos "drávidas" incluiriam os povos chamados sakas ("brancos"), os tocarianos e os "hunos brancos" e ainda os yavanas ou jônios (nomes que derivariam de "Java"). Seriam todos originalmente "camitas", o que, segundo o autor, significaria "vermelho" - não a cor da pele, que seria branca, mas a cor heráldica, em oposição ao branco que seria a cor heráldica dos "arianos", ainda mais brancos.

A cor escura dos verdadeiros povos de língua drávida de hoje se deveria à posterior mestiçagem com raças "melanóides" (negritos, melanésios, australóides, mundas) e a cor clara dos europeus e povos do Oriente Médio que também seriam seus descendentes se deveria à mestiçagem com alpinos de cor clara. O nome de etíopes também lhes corresponderia - teria sido aplicado originalmente aos berberes, líbios e fenícios e derivaria do sânscrito agnishvatthas, "purificados pelo fogo". Todas as plantas e animais domésticos, como o cavalo, o arroz, o milho, o trigo, teriam vindo de lá e foram fruto de engenharia genética avançada, pois, segundo ele, não se encontra nenhum ancestral do cavalo e não se domesticou nenhum animal doméstico novo.

Além de idéias racistas, há aí várias afirmações errôneas. Encontram-se, sim, ancestrais selvagens do cavalo - o cavalo de Przewalski, na Mongólia, entre outros - e também animais que foram domesticados em tempos relativamente recentes, como o camelo (cerca de 2500 a.C.), o pato (1000 a.C.), o coelho (século XVII), o hamster (século XX) etc. Vários cereais e plantas importantes também foram domesticadas na Idade Média ou em tempos mais recentes.

A obra também está cheia de contra-sensos lingüísticos, como a afirmação de que todas as línguas do mundo derivam das "línguas sagradas indianas", sânscrito e "drávida" (este teria dado origem ao sumério, ao etrusco e ao tupi, por exemplo), que há relação entre o nome da letra alfa e "elefante", o que seria comprovado pelo fato de o α minúsculo dos gregos lhe lembrar "a cabeça de um elefante macho com as presas serradas".

Não se leva em conta que não só a origem do desenho da letra alfa em uma cabeça de boi (aleph é "boi" nas línguas semíticas ocidentais) está historicamente bem estabelecida na escrita proto-sinaítica, como também que o desenho das letras gregas minúsculas é uma invenção medieval, do século IX. Entre outras fantasias, o autor também relaciona "tartan" e "Tartária", Neftali (tribo hebraica) e Heftalitas (povo da Ásia Central) e o nome dos judeus com o radical sânscrito yudh ("guerra", "batalha").

Atlântida na ficção



Nemo Aronax Atlantis
Nemo mostra Atlântida ao professor Arronax, desenho de Alphonse de Neuville e Edouard Riou
Um dos primeiros autores de ficção a referir-se à Atlântida em sua obra foi o artista e poeta William Blake (1757-1827). Em sua versão conscientemente ficcional das origens da Grã-Bretanha, o gigante Albion, filho de Posídon, liderou os sobreviventes da Atlântida na Grã-Bretanha, onde organizou o druidismo. Foi morto por Héracles, mas seus descendentes governaram a ilha até 1100 anos antes da chegada de Júlio César, quando Brutus de Tróia veio à ilha e matou os poucos gigantes que haviam sobrevivido a uma guerra entre eles. A história parece baseada nas especulações de Francis Willford, de 1805.


Em 1869, Jules Verne citou a Atlântida no romance Vinte Mil Léguas Submarinas. Saindo do submarino Nautilus em um escafandro, o narrador, professor Arronax, é conduzido pelo capitão Nemo a um local iluminado pela lava de um vulcão submarino, onde vêem as ruínas de uma cidade:
Aos meus olhos surgiu uma cidade danificada, destruída, de casas sem telhados, templos em ruínas, arcadas desconjuntadas, colunas espalhadas pelo solo em que ainda se podiam reconhecer as características da pesada arquitetura toscana. Mais além, viam-se os restos de um aqueduto gigantesco; vi também a base de uma acrópole e os contornos de um pártenon; havia igualmente vestígios de um cais como se um antigo porto tivesse sido construído na margem do oceano e desaparecesse com os navios mercantes e de guerra. Ainda mais adiante, viam-se muralhas enormes submersas e largas ruas desertas - a perfeita imagem de uma Pompéia sob as águas. Foi este o cenário que o capitão Nemo me permitiu desfrutar.
Onde estava eu, afinal? Onde estava eu? Eu precisava saber, a qualquer custo. Tentei falar, mas o capitão Nemo deteve-me com um gesto e, pegando num pedaço de argila, avançou até junto de uma rocha de basalto negro e escreveu uma palavra: ATLÂNTIDA.
Depois da publicação dos livros de Donnelly e Le Plongeon, nos anos 1880, houve uma onda de romances sobre Atlântida, descrevendo-a de muitas maneiras diferentes, no centro da ação ou como menção periférica. O herói podia encontrar a Atlântida em ruínas, como sobrevivência moderna, viajava à Atlântida do passado por meio de sonho ou "memória racial", ou simplesmente vivia na Atlântida do passado.

Uma das mais notáveis foi O Continente Perdido, de Cutcliffe Heyne (1900). Dois ingleses descobrem tabuinhas de cera com hieróglifos egípcios em uma gruta das ilhas Canárias, que mostram ser a autobiografia de Deucalião, um sacerdote e político de Atlântida. Ao voltar de uma missão como governador do Iucatã, Deucalião descobre que o trono foi usurpado por uma aventureira chamada Phorenice, uma ruiva que vai a se encontro montada em um mamute (e nas regiões selvagens de Atlântida, há também dinossauros). O despotismo de Phorenice acaba por levar os sacerdotes a afundar o continente com seus poderes mágicos, deixando como únicos sobreviventes Deucalião e sua amada Nais, que se salvam em uma arca.

Em 1908, Richard Hatfield escreveu A Terra dos Gêiseres, na qual os atlantes continuam a levar uma vida feliz de puro comunismo, no pólo Norte.



Antinea
Antinéia, a rainha atlante de Pierre Benoît
Em 1919, Pierre Benoît publicou A Atlântida (L'Atlantide), com tema similar a She de H. Rider Haggard. Nesse romance, dois oficiais do exército francês descobrem a Atlântida nas montanhas Ahaggar, no sul da Argélia. O Ahaggar é governado por uma jovem déspota de nome Antinéia, que se supõe ser o nome da lendária matriarca dos tuaregues, chamada Tin Hinan. É a última descendente de Posídon e Cleito e mantém a seu lado um leopardo-mascote chamado Hiran. Quando os europeus a encontram, ela os transforma em amantes, mas sua beleza é tão fatal que todos acabam por se suicidar ou ter um triste fim.


Em seguida, Antinéia mumificava os cadáveres e guardava-os em nichos especiais de um quarto de mármore vermelho. Em primeiro lugar, a pele era pintada com sais de prata; depois, o corpo era colocado em uma solução de sulfato de oricalco. Ocorria então uma reação elétrica e o corpo era transformado em uma estátua de metal sólido, mas precioso que a prata e mais raro que o ouro. Havia 120 nichos no palácio real, 54 dos quais estavam ocupados.

O romance foi filmado pelo menos oito vezes, de 1921 a 1991. Diz-se que a obra de Benoît levou o aventureiro conde Byron Khun de Prorok a procurar a Atlântida no Saara. Em 1925, chegou ao Ahaggar, abriu o túmulo de um dignitário e anunciou ter encontrado os ossos da própria Tin Hinan.
Nos anos 1920, a Atlântida é citada em inúmeros contos de fantasia e ficção científica, dos quais os mais memoráveis são os de Robert E. Howard sobre seu herói Kull, o atlante. Em seu cenário, situado em 20 mil a.C., a Atlântida é uma terra bárbara e o herói é exilado depois de dar uma morte piedosa a uma mulher que a multidão queria queimar viva. Ele tenta chegar ao continente civilizado de Thuria, a oeste, que inclui o poderoso reino de Valusia e outros menos importantes como Commoria, Grondar, Kamelia, Thule e Verulia, mas é capturado pelos lemurianos, que habitam ilhas a leste de Thuria que são remanescentes do continente afundado de Mu. Mais tarde, Howard escreveu também as aventuras, mais famosas, de Conan, o cimério (povo descendente do atlantes) que se passam na "Era Hiboriana" que se segue ao afundamento de Atlântida.

Vale citar também O Templo (1920), de H.P. Lovecraft, no qual o comandante de um submarino alemão afundado encontra as ruínas de Atlântida antes de morrer.
Escreveram-se também várias histórias de cunho moralista e espiritualista com base na Atlântida descrita pelos teósofos, geralmente descrevendo o embate entre bons espiritualistas teósofos e malvados materialistas e seguidores de cultos orgiásticos e às vezes se apresentando como narrativas de espíritos desencarnados ou obtidas por meio de clarividência. Entre estes, pode-se citar O Príncipe de Atlântida, de Lilian Elizabeth Roy (1929); Ilha Sonata, de Marjorie Livingston; e Passagem para a Memória, de Phyllis Cradock.

Também da década de 1920, Tlavatli, do alemão Otto Schultz, conta uma história cujo protagonista é enviado até certo local do oceano por um maatma hindu, onde encontra as ruínas de uma cidade submersa de onde retira e faz reviver a princesa da Atlântida pela qual se apaixona. Captura a seguir o supremo feiticeiro da Atlântida, que condenara a princesa a um sono eterno por se recusar a casar com ele. Quando o feiticeiro acorda, invoca um demônio com a forma de um sapo monstruoso, mas então o maatma aparece e segue uma batalha mágica na qual morrem o demônio, o feiticeiro e a princesa.
Em 1928, em O Abismo de Maracot (no original, The Maracot Deep), Arthur Conan Doyle, autor da série Sherlock Holmes e de O Mundo Perdido, concebeu um povo de atlantes que, graças à sua tecnologia avançada, havia sobrevivido até os tempos atuais em um refúgio submarino ao afundamento de sua terra. A idéia já havia aparecido em uma sátira política de 1906, O Império Escarlate, de David M. Perry, mas foi a partir de Doyle que a idéia de uma Atlântida que continua viva no fundo do mar ganhou raízes na ficção científica e de fantasia. Para mais detalhes, leia Atlântida submarina.
Em O Regresso dos Três, de J. Leslie Mitchell (1932), um zepelim é capturado por uma máquina do tempo que o faz recuar ao Pleistoceno e bater numa montanha da Atlântida. Os sobreviventes encontram mamutes e pacíficos caçadores Cro-Magnon de língua basca. Mais tarde, a submersão de parte do continente devido a um terremoto obriga a tribo a migrar para o sul, sendo atacada por violentos homens de Neanderthal, que os vencem, mas no momento em que os heróis iam ser mortos, encontram-se ilesos de volta ao século XX, em uma ilha dos Açores.

Francis Ashton escreveu dois romances sobre Atlântida, Libertação das Focas (1946) e Atlas, essa Grande Cidade. Ambos baseiam-se na teoria do gelo cósmico de Hörbiger, segundo a qual sucessivas catástrofes foram causadas pela queda de luas sobre a Terra. No primeiro, um jovem inglês é conduzido por um psicólogo a uma experiência na qual revive um episódio do passado no qual salva a vida de Maht, guerreiro da cidade de Mahbahste, na Atlântida, povoado por adoradores da lua Bahste, que se aproxima perigosamente da Terra. Bahste se desintegra e Maht e sua amante escapam em uma arca construída pelo patriarca Nodah. O segundo passa-se em um período posterior. O herói navega no Atlântico quando uma grande onda quase o afunda. Enquanto espera regressar à tona, têm uma experiência mística e assume a existência de um jovem de Atlãntida que se envolve em uma conjura contra a rainha perversa, mas acaba seduzido por ela. Quando o rei regressa da guerra o jovem é salvo da sua vingança por um terremoto ocasionado pela aproximação da Lua atual. O continente afunda, o jovem escapa em um barco, mas é apanhado por uma vaga sísmica. A essa altura, o narrador recupera-se do semi-afogamento.



Numenor-map
Mapa de Númenor, a Atlântida de Tolkien
MiloKida
A atlante Kida e Milo, seu par romântico
Também nos anos 30, J. R. R. Tolkien escreveu grande parte das anotações que deram origem ao Silmarillon, publicado postumamente em 1977. A quarta parte, Akallabêth em adûnaico ou Atalantë em quenya ("A Sepultada", em ambas as línguas) trata de Atlântida, chamada "Númenor". Sauron desembarca em Númenor, mas as forças numenorianas o sobrepujam e ele deixa-se aprisionar. Entretanto, sua astúcia e inteligência o levam a tornar-se o conselheiro favorito do rei Ar-Pharazôn e por fim o governante de fato. Depois de extinguir o culto aos Valar, instituir sacrifícios humanos e aumentar o poder político de Númenor à custa da alegria e longevidade de seus habitantes, Sauron persuade o rei a invadir a terra sagrada dos deuses Valar no Ocidente para lhes arrancar o segredo da imortalidade.


Sauron estava consciente de que os deuses venceriam o exército do rei, do qual esperava se livrar, mas subestimou seu poder. Não só os atacantes são varridos do mapa por uma onda imensa, como a própria Númenor e o mundo, que era plano, foi transformado em um globo e a terra dos Valar afastada no espaço, ligada à Terra apenas por uma ponte que só os elfos podem atravessar. Sauron não consegue escapar da catástrofe. Apesar de seu espírito continuar imortal, não mais consegue tomar uma forma humana para seduzir os mortais. Sobrevivem Elendil, filho de sangue real de um dos senhores vassalos de Ar-Pharazôn, com seus filhos Isildur e Anárion. Escapam de Númenor com seus seguidores em vários navios e chegam à Terra Média, onde fundam os reinos de Gondor e Arnor. Alguns de seus inimigos escapam também e fundam Umbar, no sul.

C. S. Lewis, amigo de Tolkien, usou também o nome e o conceito ainda não publicado de Númenor (que ele chama "Numinor") em seu romance Essa Força Medonha (1945). Merlin, que os heróis do romance encontram em uma caverna da Grã-Bretanha e revivem, teria aprendido sua magia de uma tradição de refugiados atlantes que fugiram para as ilhas britânicas.
Em 1949, o britânico Gerald Hargreaves compôs uma ópera chamada Atalanta, um Conto de Atlântida (Atalanta, a Story of Atlantis). O livreto e parte da partitura, com ilustrações, foram publicadas em livro, mas a peça jamais chegou a ser representada, por ser muito longa, exigir muitos atores e o custo da coreografia ser excessivo. A história passa-se na Atlântida tal como imaginada por Platão e Tróia é uma de suas colônias. O ataque contra os gregos, que fracassa, surge como conseqüência do ataque destes a Tróia. Entre os personagens, estão Agamênon, Menelau, Helena e outros personagens da mitologia grega.

Em 1961, George Pal filmou Atlântida, o continente perdido, um filme em grande parte feito de cenários e efeitos especiais reciclados de outros épicos sobre a Antiguidade, notadamente Quo Vadis. Um pescador grego chamado Demetrios salva de um naufrágio uma jovem chamada Antillia, que diz ser uma princesa. Ela o faz levar de volta à sua terra, a Atlântida, e no caminho são resgatados por um submarino atlante, que os leva à capital. Antillia volta ao palácio e Demetrios é levado como escravo a uma mina de cristais, que são usados para absorver luz solar e disparar raios de calor. O rei Cronus é manipulado por um usurpador ambicioso, o feiticeiro Zaren, que pretende conquistar o mundo. Com ajuda de um sumo-sacerdote bondoso, chamado Azar, Demetrios resgata a princesa e escapa da destruição de Atlântida, causada pela exploração excessiva dos cristais.

No romance A Queda de Atlântida (reunião, em 1987, de dois romances escritos em 1983, Teia de Luz e Teia de Trevas), Marion Zimmer Bradley conta a história de duas sacerdotisas de Atlântida, Deoris e Domaris, uma das quais se liga a um sacerdote da luz e seu culto, no qual todos se vestem de branco e outra a um sacerdote das trevas, vestido de preto. Há ainda os indecisos, que se vestem de cinza. Atlântida é um arquipélago formado de sete ilhas, mas relativamente pouco se conta de sua vida civil, visto que a história se passa em torno dos templos e seus sacerdotes, que vivem à margem da cidade e cujas batalhas mágicas acabam por causar o afundamento do arquipélago. Os sobreviventes fogem para as ilhas Britânicas e são seus descendentes que vivem as aventuras de As Brumas de Avalon. Diana L. Paxson escreveu uma seqüência, Ancestrais de Avalon, em 2004, na qual os refugiados constroem Stonehenge e o Tor.

A produtora japonesa Gaimax criou a série de animação Nadia: The Secret of Blue Water de 1989 a 1991. Sua personagem principal, Nadia Ra Alwar, no início uma artista de circo vegetariana e capaz de falar com animais, depois se revela uma neo-atlante originária de um império oculto na África Central, fundado por refugiados da nebulosa M-78, cuja capital é Tartessos. A história se passa em 1889.

Em 2001, a Disney lançou Atlântida, o reino perdido. Com ajuda de Milo, um lingüista que decifra um manuscrito islandês, um submarino parte da Islândia e depois de enfrentar um monstro mecânico deixado por antigos atlantes, descobre Atlântida em uma enorme caverna. Tendo enorme longevidade, seus habitantes, de pele escura e cabelos brancos, são os mesmos que afundaram ali há milhares de anos, mas por razões inexplicadas esqueceram como ler sua própria língua e toda a sua tecnologia, baseada em cristais de energia. O chefe da expedição tenta roubar o cristal que é a fonte da vida e energia de Atlântida, mas Milo o derrota, descobrindo como ler a linguagem dos atlantes e recuperar sua tecnologia e se torna o companheiro da princesa Kida, agora rainha de Atlântida. A história se passa em 1914, na iminência da I Guerra Mundial. A história envolve peripécias submarinas, cristais com grandes poderes e personagens similares em aparência e função aos do anime japonês anterior em dez anos.



Atlântida submarina


A Atlântida submarina é uma concepção ficcional sobre a ilha mítica da Atlântida, originária da ficção científica estadunidense e britânica do século XX, que explora a idéia de uma Atlântida cujos habitantes sobreviveram ao suposto afundamento da ilha e continuaram a viver no fundo do mar graças a alguma adaptação tecnológica ou biológica, ou cujas ruínas foram ocupadas por uma espécie humanóide submarina.



Ficção política

O primeiro livro nessa linha é O Império dos Cagos, de David M. Peidos (999 a.c), uma sátira sobre cagos que visava ridicularizar o trabalhismo e o socialismo. Walker, um socialista que perdeu as esperanças de reformar o mundo, joga-se ao mar em Coney Island e é salvo pelos habitantes da Atlântida, que existe no fundo do mar sob uma cúpula de cristal. Trata-se de um país socialista, onde todos usam a mesma roupa vermelha, comem as memas refeições e não pronunciam mais que certo número de palavras (em inglês) por dia. Os empregos são sorteados e os casamentos CAGOES BEM MOLES para produzir uma população uniforme. As pessoas têm números em vez de nomes e um quarto delas é constituído por inspetores que espionam os demais. Os individualistas são presos e o herói simpatiza com eles. Os malfeitores são lançados à água por uma abertura na cúpula para serem devorados por um polvo gigante, mas o herói e sua amada escapam num submarino, junto com dois simpatizantes. O monstro ataca o submarino e Walker dispara um torpedo que não atinge o monstro, mas abre um rombo na cúpula de Atlântida e a destrói. A história de Perry vale como curiosidade, por ser a primeira a apresentar uma Atlântida sobrevivendo no fundo do mar, idéia depois muito explorada pela ficção científica e de fantasia estadunidense.

Maracot Deep

Em 1928, Conan Doyle voltou ao tema da Atlântida submarina em O Abismo de Maracot (no original, The Maracot Deep). Os heróis exploram o fundo do mar em uma batisfera quando um crustáceo gigante corta o cabo.
Eles vão ao fundo e são resgatados por atlantes que os levam à sua cidade submarina, que começou por um edifício imenso construído pelo virtuoso chefe Warda quando a catástrofe se aproximava, onde viviam de agricultura e caça submarina. Ao longo dos séculos, depositou-se tanto limo que só se pode entrar pelo teto. O edifício original foi expandido por escavações para abrigar laboratórios, centrais elétricas e outras coisas.

Os cientistas atlantes descobriram meios químicos de produzir vinho, café, chá e farinha, com as mesmas características das substâncias naturais. Conseguiram também preservar sua história e suas tradições projetando imagens mentais em uma tela, que podem ser vistas como um filme. Dessa maneira, os viajantes podem ver a destruição de Atlântida, registrada pelos sobreviventes mais antigos.
A língua é extremamente difícil e inclui sons rascantes e estalidos que são quase impossíveis a um europeu imitar e que não podem ser representados por qualquer alfabeto europeu. A escrita é feita da direita para a esquerda sobre bexiga de peixe seca. Muitos livros são impressos nessa mesma substância.
Em torno do prédio,encontram-se as ruas de Atlântida e as ruínas de um templo que estava originalmente no segundo ou terceiro anel. Dedicado ao Senhor da Face Escura, é construído inteiramente de mármore negro. Acima da porta foi esculpida uma cabeça de Medusa que irradia serpentes. O mesmo desenho se repete a intervalos regulares na parede, junto com cenas de beleza sádica e luxúria bestial. Em um trono de mármore vermelho está sentada uma figura para a qual é difícil olhar sem sentir repugnância. Representa uma divindade cujo nome é impronunciável.

Os habitantes têm a pele negra. São servidos por uma raça de escravos brancos, provavelmente descendentes de cativos gregos, que trabalham principalmente nas minas de carvão. Esses escravos falam grego arcaico e preservaram o culto de Atena, mas a principal religião de Atlântida é o culto de Moloch ou Baal.

O templo de Baal é uma sala quadrada com portas de ouro e paredes decoradas com figuras grotescas, com grandes ornatos na cabeça. Cercado por luzes elétricas, o sacerdote senta-se como um buda numa cadeira pequena. Atrás dele, há um forno pequeno onde são jogadas as vítimas humanas, especialmente os filhos de casamentos mistos - entre senhores e escravos - já que essas uniões são proibidas. No final, o demônio Baal-Seepa tenta destruir Atlântida, mas o herói Maracot, com a ajuda do espírito de Warda, esconjura o espírito demoníaco.
Caranguejos listrados de preto e branco, do tamanho de cães terra-nova, andam no leito do oceano e enguias vermelhas venenosas espreitam nos buracos entre as rochas. São comuns raias-lixa de quase dez metros de comprimento e escorpiões-do-mar gigantes, bem como serpentes marinhas, embora uma das espécies - preta e prateada, com mais de 60 metros de comprimento - seja bem rara. Há também um linguado gigante, que cobre uma área de até 2 mil metros quadrados, o marax, ou lagostim gigante (Crustaceus maracoti), que chega a 70 cm de cmpromento e o Hydrops ferux, um peixe pequeno semelhante à piranha. Há ainda um animal chamado praxa, meio orgânico, meio gasoso, que parece uma nuvem esverdeada com um centro luminoso e ataca os seres humanos para arrancar-lhes os olhos e comê-los.

Outras obras literárias Editar

Outros romances de ficção científica e fantasia que exploraram essa idéia incluem O Mundo Submerso, de Stanton A. Coblenz, publicada originalmente como conto e depois expandida e atualizada em romance em 1948. Um submarino estadunidense danificado por um submarino alemão, chega às profundezas do Atlântico e encontra a Atlântida. O narrador consegue se comunicar porque havia sido professor de grego e os atlantes falam grego arcaico. São vegetarianos de longa vida e eugenistas, que vivem em um comunismo utópico, sem dinheiro, no qual os funcionários do governo são escolhidos por exames. Eles próprio construíram uma cúpula sobre sua ilha e ocasionaram a submersão com bombas atômicas, por estarem desgostosos com o resto do mundo. Quando o narrador lhes conta a história do mundo acima das águas, os atlantes ficam horrorizados. Entretanto, o submarino danificou a cúpula, que começa a ceder. O narrador e sua noiva atlante são enviados à superfície em busca de ajuda, mas esta chega tarde demais.
Eles Descobriram a Atlântida (1936), de Dennis Wheatley, retomam o tema da batisfera que afunda. Depois de lutarem contra homens-peixes que vivem em túneis, os heróis chegam à Atlântida propriamente dita, uma ilha num lago dentro de uma gruta iluminada. Há apenas doze atlantes, seis homens e seis mulheres com poderes mágicos, que vivem fazendo amor e trabalhando em comum. Depois de uma rixa entre dois dos recém-chegados, na qual um morre, os atlantes expulsam os homens da superfície, que vão sair na ilha do Pico, nos Açores.

Quadrinhos 



AtlantisMarvel
A Atlântida de Namor, nos quadrinhos da Marvel
Surgiu em 1939, como primeiro super-anti-herói dos quadrinhos, Namor, o Príncipe Submarino (no original, Namor the Sub-Mariner), filho de um capitão humano e de uma princesa do reino submarino de Atlântida, cujo povo é formado da espécie Homo mermanus, dotados de guelras, mas incapazes de sobreviver na superfície, com exceção do híbrido Namor.
Dividem-se em duas raças, os azuis, que povoam Atlântida e os verdes, que povoam o reino rival de Lemúria, no Pacífico, e tomaram características reptilianas depois que seu líder Naga se apoderou de uma mágica "Coroa da Serpente" dos antigos lemurianos. Os atlantes são geralmente hostis aos humanos da superfície e Namor, como seu líder, freqüentemente os combate. Esses atlantes não descendem dos antigos habitantes da Atlântida: são nômades que se apoderaram de suas ruínas, assim como das ruínas de Lemúria, depois que ambos os continentes afundaram.

Em 1941, a DC Comics lançou um concorrente de características semelhantes, o Aquaman ( ou Homem Submarino, nas primeiras traduções brasileiras). No início, seu pai, explorador do fundo do mar, descobrira nas ruínas Atlântida como fazer o filho capaz de respirar debaixo d'água e dar-lhe força sobre-humana.
A partir de 1959, porém, sua história foi remodelada: Aquaman tornou-se também filho de uma princesa da Atlântida com um faroleiro humano, e mais tarde veio a se tornar também rei do povo submarino de Atlântida, embora, ao contrário de Namor, se portasse como um herói convencional, amigo dos humanos. Nesta concepção, os atlantes são considerados descendentes dos antigos habitantes da Atlântida que se adaptaram à vida submarina.
Em 1989, a origem de Aquaman foi novamente reescrita, como filho de uma princesa atlante e de um mago também atlante, que foi abandonado na infância devido ao cabelo louro e criado entre animais submarinos.




Atlântida teosófica




Ts emblem
Selo da Sociedade Teosófica
Na concepção teosófica, a Atlântida foi um grande continente que existiu e foi civilizado por mais de um milhão de anos e foi destruído pouco a pouco por quatro catástrofes sucessivas. A grande ilha descrita por Platão teria sido apenas seu último resíduo, desaparecido em 9564 a.C. O apogeu dessa civilização teria ocorrido entre 1.000.000 a.C. e 900.000 a.C. e teria sido caracterizado por uma avançada tecnologia mágica, baseada em uma energia psíquica chamada vril, com a qual teriam sido construídos barcos voadores, criadas novas espécies de plantas e animais, evitadas as eras glaciais e transmutados os elementos, inclusive metais comuns em ouro e prata.
A "Cidade dos Portais de Ouro" (no original, City of the Golden Gates) descrita como capital dessa civilização assemelha-se à Atlântida de Platão quanto à disposição em anéis do seu centro, mas supostamente desapareceu muito antes e difere dela em detalhes importantes. A Atlântida de Platão é basicamente plana com uma pequena colina central, enquanto a teosófica é disposta sobre uma ampla elevação. Enquanto em Platão os fossos anulares estão no mesmo plano e são ligados por túneis navegados por trirremes, na versão teosófica estão em diferentes alturas e a água flui de um para outro em cascatas e essa água, em vez de provir de fontes naturais, é obtida de um aqueduto subterrâneo que a retira de um lago sobre montanhas vizinhas. Além disso, o plano geral da cidade de Platão é circular e tem o mar ao Sul, o da "Cidade dos Portais de Ouro" é retangular e tem o mar a Leste.
Descrições detalhadas dessa Atlântida e sua história, obtidas a partir de supostas visões e comunicações de espíritos, foram dadas nos livros teosóficos, principalmente os de Helena Blavatsky, W. Scott-Elliot, Annie Besant e C. W. Leadbeater, escritos no final do século XIX e início do século XX. Os principais pressupostos nos quais se baseavam, inclusive a possibilidade de afundamento dos continentes; as alegações sobre a evolução de plantas, de animais e humanos; as datas remotíssimas para a construção das pirâmides, Stonehenge e Karnak; e a antiguidade extrema das civilizações tolteca e incaica foram refutados até o final do século XX.



Até 800 mil anos a.C. Editar



MapaAtlantida1
O mundo há cerca de um milhão de anos e até a catástrofe de há 800 mil anos, segundo W. Scott-Elliot. Notas: 2 - local de origem da sub-raça tlavatli; 3 - da sub-raça tolteca, 4 - da sub-raça turaniana, 5- da sub-raça semita
Há um milhão de anos, o continente da Atlântida 
estendia-se da latitude da Islândia à do Rio de Janeiro, 
abrangendo o Texas, o golfo do México, o leste da América do Norte até o Labrador,
 a Escócia, a Irlanda e parte do Brasil. 

Segundo os teósofos, esse continente serviu ao desenvolvimento da "raça atlante" ou "segunda raça-raiz", que se subdividiu em sete sub-raças. Enquanto as três primeiras, rmoahal, tlavatli e toltecas, são chamadas "raças vermelhas", as quatro seguintes são consideradas "amarelas", embora, segundo Scott-Elliot, os turanianos e mongólicos tivessem essa tez enquanto os semitas e acadianos eram brancos. Segundo Scott-Elliot, os primeiros turanianos e os semitas originais, surgiram neste período e as duas seguintes, acadianos e mongólicos, no período seguinte.

Os rmoahal



Saami Family 1900
Família de lapões (sami) em 1900
A primeira "sub-raça" da "raça atlante" teria sido a rmoahal, surgida há 3 milhões de anos em uma parte da Lemúria (já desaparecida neste período) situada na atual Gana. Eram cor de mogno e tinham 3 a 3,6 metros de altura. Migraram para as costas meridionais de Atlântida. Ali, uma parte uniu-se a lemurianos negros, dando origem às "raças" negras que mais tarde se tornariam escravos dos atlantes e outra migrou para o extremo nordeste, onde tomou uma coloração mais clara. No final do período deste mapa era "razoavelmente louro".
Eram, segundo Scott-Elliot, "incapazes de desenvolver um programa de governo fixo" e vivam da caça e da pesca. Os animais que caçavam incluíam mamutes peludos, elefantes, hipopótamos, marsupiais e seres intermediários entre répteis e mamíferos, ou entre répteis e aves.
Sua religião era o culto de Manu, o governante divino que os orientou no início, e dos antepassados. Ele identificou entre seus descendentes o "homem de Furfooz" (crânios braquicéfalos encontrados na Bélgica, do mesolítico, cerca de 11000 a.C.) e os lapões.

Os tlavatli Editar



Patagones
Patagões (tehuelches), foto de 1865
Em uma ilha ao largo da costa ocidental da Atlântida, no atual México, surgiu a segunda sub-raça, chamada tlavatli, que dali se espalhou para o centro e norte da Atlântida propriamente dita. Eram robustos e de cor vermelho-acastanhada, menos altos que os rmoahals, a quem impeliram mais para o norte. Seus principais povoados situavam-se nas regiões montanhosas do interior, que mais tarde formariam a ilha de Poseidônis, mas também ocupavam as costas setentrionais. Suas tribos ou nações eram governadas por chefes ou reis aclamados pelo povo, normalmente os mais vigorosos e destemidos.
Além da caça e da pesca, os tlavatli praticavam um sistema de cultivo aldeão. Além de Manu, cultuavam um Ser Supremo cujo símbolo era o Sol, em círculos de monolitos aprumados no alto dos morros, semelhantes a Stonehenge, que representavam as estações e serviam de observatório. Chegaram a estabelecer um império considerável, com um rei como chefe nominal, ainda que sua autoridade fosse mais honorária do que real.

Seus descendentes incluiriam o homem de Cro-Magnon, os índios patagões e algumas "tribos pardas de índios da América do Sul" Ao se miscigenarem com lemurianos, também deram origem aos drávidas do sul da Índia. Birmaneses e siameses também possuem sangue tlavatli, misturado com uma das "sub-raças árias".

Os toltecas 


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Família de índios norte-americanos, foto de 1890
A seguir, surgiu na costa ocidental a sub-raça tolteca, que governaria todo o continente de Atlântida por milênios. Era vermelho-acastanhada, mas mais vermelha ou acobreada que a dos tlavatli. Possuía uma "feição séria, bem parecida com a dos antigos gregos". Sua estatura era em torno de 2,4 metros em seu período de apogeu. Desenvolveu o mais alto grau de divilização e organizou o mais poderoso império de todos os povos atlantes. Inicialmente dividida em vários pequenos reinos independentes, uniram-se em uma grande federação há um milhão de anos, com um imperador hereditário como chefe.
Por milhares de anos, essa sub-raça governou todos os reinos da Atlântida e também as ilhas ocidentais e a porção meridional do território adjacente a leste. Depois de 100 mil anos, iniciou-se a degeneração, desviando seus poderes psíquicos dos objetivos lícitos para propósitos egoístas e malévolos, conduzindo à chamada bruxaria.

No apogeu da era tolteca, a densidade demográfica na Atlântida era comparável à da Inglaterra ou da Bélgica da época de Scott-Elliot (1896), ou seja, cerca de 200 habitantes por quilômetro quadrado e a população mundial era de 2 bilhões de habitantes. O idioma tolteca era falado em todo o império, embora vestígios dos idiomas rmoahal e tlavatli sobrevivesssem em regiões remotas.

A Cidade dos Portais de Ouro


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A "Cidade das Portas de Ouro", segundo Scott-Elliot
A capital era a chamada "Cidade dos Portais de Ouro", (no original, City of the Golden Gates), situada na costa oriental do continente, próxima do mar, a cerca de 15º ao norte do Equador (ao largo de Cabo Verde, aproximadamente a meio caminho entre a atual costa do Senegal e as Pequenas Antilhas). Abrigava cerca de dois milhões de habitantes em cerca de 200 km². Um parque circundava a cidade, onde ficavam as casas de campo dos abastados. A oeste, estendia-se uma cadeia de montanhas, entre as quais, a uma altitude de 792 m, se localizava o lago de onde vinha a água. O aqueduto principal era de seção oval, de 15 m por 9 m e levava a água, através do subsolo, a um enorme reservatório em forma de coração na base da colina onde se erguiam a cide e o palácio. A partir desse reservatório, um poço perpendicular, de 152 m de altura, atravessava a rocha maciça e levava a água a jorrar nos jardins do palácio.


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Concepção artística da "Cidade dos Portais de Ouro", com as cascatas que descem por seus canais, de Dovilio Brero
A cidade foi construída nas enconstas de uma colina que se erguia cerca de 152 m acima da planície. No topo da colina ficava o palacio e os jardins do imperador, de cujo centro jorrava um fluxo incessante de água que, depois de abastecer o palácio e as fontes dos jardins, fluía em todas as direções, despencando em forma de cachoeiras e formando um canal ou fosso que circundava as terras adjacentes ao palácio, separando-as da cidade que se estendia mais abaixo, em cada face da colina. A partir desse canal, quatro regos conduziam a água, passando pelas quatro zonas da cidade, até as cachoeiras que, por sua vez, formavam outro canal circundante num nível mais baixo. Havia três desses canais em círculos concêntricos. Um quarto canal, de traçado retangular, recebia os fluxos e despejava-os no mar. A cidade estedia-se até a margem do fosso exterior.


A zona mais alta, abaixo dos jardins do palácio, caracterizava-se por uma pista circular de corridas e jardins públicos. A maioria das casas de funcionários da corte também ficavam nessa zona, bem como a Casa dos Estrangeiros, que hospedava os viajantes à custa do governo. As casas separadas dos habitantes e os templos ocupavam as outras duas zonas. As famílias mais pobres moravam no norte da zona mais baixa e além do canal mais exterior, perto do mar e dedicavam-se, na maioria, à navegação.

Tecnologia 


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Barcos aéreos eram usados pelos ricos em Atlântida, segundo Scott-Elliot (cena do PC Game Atlantis)
Segundo Scott-Elliot, os toltecas da Atlântida foram inferiores à "raça árica" na maioria dos campos de atividade, mas excederam os europeus do seu tempo (1896) nas conquistas científicas. Os ricos usavam uma espécie de veículo voador, barcos aéreos com capacidade para dois a oito passageiros. Os primeiros foram construídos de tábuas finíssimas de madeira, nas quais se injetava uma substância que lhes fornecia maior resistência. Mais tarde, foi usada uma liga de dois metais brancos e um vermelho, resultando em um metal branco semelhante ao alumínio, mas mais leve, que /era soldado eletricamente. De madeira ou metal, eram perfeitamente lisos por fora e brilhavam no escuro. Assemelhavam-se a um barco, mas eram cobertos. No princípio, eram movidos pelo vril (energia psíquica), depois por meios mecânicos. A velocidade máxima era de 160 km/h e não podiam transpor morros de mais de 300 metros de altura. Seu percurso era em forma de longas ondulações, aproximando-se e afastando-se do solo. Os atlântes também usavam a mesma energia para levitar grandes blocos de pedra e realizar suas grandes construções.

No período de decadência, navios de guerra aéreos, planejados para transportar 50 a 100 combatentes, substituíram os tradicionais. Usavam como arma tubos que emitiam o mesmo jato de ar que servia como propulsão, de maneira a destruir o equilíbrio do navio inimigo e virá-lo de borco, para depois ser atacado com esporão. Embarcações marítimas eram impulsionadas por meios análogos. Usavam-se também explosivos e, nos últimos tempos de Atlântida, companhias inteiras eram destruídas em combate pelo gás nocivo roduzido pela explosão de uma bomba acima de suas cabeças, lançadas por alguma espécie de alavanca.


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A Atlântida, de Chris Foss (1980)
Por outro lado, a música era rudimentar e os instrumentos, primitivos. Gostavam de cores e afrescos ou desenhos decorativos em matizes brilhantes decoravam as casas por dentro e por fora, mas a pintura nunca se firmou como arte pura. A escultura, por outro lado, era de qualidade excepcional. O material de escrita consistia em finas lâminas de metal com uma superfície branca semelhante à porcelana. Havia uma técnica para reprodução de texto, colocando-se sobre a lâmina escrita outra chapa fina, previamente mergulhada em um líquido especial.
Mesmo nas cidades, as casas eram cercadas por jardins ou separadas por terrenos comuns, mas sempre estruturas isoladas. Nos casos dos edifícios mais importantes, quatro blocos circundavam um pátio central, no meio do qual geralmente erguia-se uma fonte, cuja quantidade na "Cidade dos Portais de Ouro", fez com que esta fosse chamada também "Cidade das Águas". Uma torre se erguia em um dos cantos ou no centro de um dos blocos e uma escada espiral conduzia a uma cúpula pontiaguda usada como observatório. As janelas eram preenchidas com algo semelhante ao vidro, mas menos transparente. Escravos em grande número (na maioria, "rmoahal-lemurianos", capturados no sul do continente) estavam à disposição de quase todas as famílias, mas alimentavam-se e vestiam-se bem.

Templos e religião 

Os templos eram edifícios enormes, assemelhando-se às gigantescas construções egípcias, mas em estilo ainda mais prodigioso. As colunas eram, na maioria quadradas. Tinham também torres encimadas por domos, proporcionais em tamanho e magnificência, que eram usadas como observatórios e para o culto do Sol. Os interiores eram freqüentemente chapeados de ouro. Ouro e prata, fabricados em enorme quantidade por alquimistas, eram usados apenas para fins decorativos e não monetários. No início, um disco solar dourado, considerado o único emblema apropriado de Deus, era usado em todos os templos e captava os primeiros raios do sol nascente durante o equinócio da primavera ou o solstício do verão. Mais tarde, a imagem de um homem arquetípico foi adorada como representação do divino, retornando ao culto rmoahal do Manu.

Na época da decadência, os corredores dos templos foram rodeados por inúmeras capelas, às vezes de tamanho considerável, onde se encontravam as estátuas dos habitantes mais importantes, que tinham a seu serviço toda uma comitiva de sacerdotes para o culto cerimonial de sua imagem. Os mais ricos esculpiam-nas em oricalco, ouro ou prata; outros as faziam de madeira ou de uma pedra resistente e escura, semelhante ao basalto.

Economia, usos e costumes 


A Toltec King
Rei Tolteca
Não havia mercadorias expostas nas ruas para venda: todas as transações eram efetuadas em particular, exceto nas datas estabelecidas para as grandes feiras públicas. Não havia sistema monetário oficial, mas pequenas peças estampadas de metal ou couro eram usadas como fichas. Perfuradas no centro, eram amarradas para formar um cinto, usado à cintura. Cada um cunhava seu próprio "dinheiro", que valia como reconhecimento de dívida, na medida dos bens com que pudesse garanti-lo. O portador da ficha tinha meios de avaliar os recursos do devedor por meio da clarividência.

Geralmente, a carne dos animais era posta de lado, mas comiam as partes que "nós" (ingleses vitorianos como Scott-Elliot, presume-se) nos abstemos de comer. Também bebiam o sangue e preparavam cozidos. Comiam também peixes, às vezes em grau adiantado de decomposição. Faziam pães e bolos de cereais bebiam leite e comiam frutas e vegetais. Os Iniciados, porém, eram totalmente vegetarianos. Uma bebida alcoólica fermentada esteve em voga, mas provocava uma excitação tão perigosa que foi proibida.

A lei permitia que um homem tivesse duas esposas, mas um grande número tinha apenas uma. A posição social das muleres era igual à dos homens e, se tivessem aptidão para adquirir a energia vril, podiam elevar-se acima do outro sexo. Participavam do governo e podiam ser escolhidas pelo imperador para representá-lo nas províncias como soberanas regionais.
As escolas e faculdades eram mantidas pelo Estado. Todas as crianças de ambos os sexos, passavam pela escola primária, na qual aprendiam a ler e escrever. As que mostrassem aptidão, junto com as crianças das classes dominantes, eram escolhidas aos doze anos para as escolas superiores, onde aprendiam medicina (herbologia e cura magnética), alquimia, matemátia e astronomia e a desenvolver o poder mental chamado de vril. As demais eram conduzidas às escolas técnicas: agrícolas, mecânicas ou de caça e pesca. Na época da decadência, as classes dominantes se tornaram mais exclusivistas, permitindo apenas a seus filhos o acesso à educação superior.

As escolas agrícolas de Atlântida criaram a aveia e outros cereais a partir do cruzamento do trigo (trazido de outro planeta) com ervas nativas e também desenvolveram a bananeira a partir de um melão alongado. Entre os animais domesticados, havia uma espécie semelhante a uma anta pequena, que era criado como os porcos de hoje. Grandes felinos, ancestrais do leopardo e do jaguar, e ancestrais dos cães, parecidos com lobos, também eram encontrados ao redor das habitações. Os carros eram puxados por pequenos camelos, ancestrais dos lhamas. Os ancestrais do alce irlandês vagavam pelas encostas dos morros como um gado montanhês semi-selvagem.

A terra e seus produtos, inclusive rebanhos e animais, eram considerados propriedades do imperador. Cada província tinha à sua frente, um vice-rei nomeado pelo imperador. O cultivo, a colheita e a pastagem dos rebanhos eram de sua alçada, bem como a administração das experiências agrícolas. Cada vice-rei tinha um conselho de consultores, versados em astronomia, pois tirava-se proveito das influências ocultas sobre a vida vegetal e animal. Era também comum o poder de produzir chuva e chegava-se a neutralizar as eras glaciais pelas ciências ocultas. Depois que se separava uma pequena porção para o governo central, os produtos eram divididos entre todos os habitantes. O vice-rei e seus funcionários recebiam as maiores porções, mas até os mais inferiores deviam receber o necessário para a subsistência e o bem-estar. Alguns produtos eram trocados com os de outras regiões.

Os "primeiros turanianos"


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Chinês da etnia Hui, início do século XX
A sub-raça turaniana originou-se do lado oriental da Atlântida, ao sul da região montanhosa dos tlavatlis, migrando depois para as regiões setentrionais das terras a leste da Atlântida. Sua língua era baseada no tlavatli, da qual gradualmente se diferenciou. Essa sub-raça desenvolveu uma espécie de sistema feudal. Cada chefe era supremo e seu próprio território e o rei era apenas o primus inter pares. Os chefes que compunham o conselho de Estado ocasionalmente assassinavam o rei, substituindo-o por um deles. Eram uma raça violenta e bárbara, brutal e cruel, "como indica o fato de que uma grande quantidade de mulheres participavam de suas guerras", diz Scott-Elliot.

Como sofriam constantes derrotas nas batalhas com seus vizinhos toltecas, muito mais numerosos, tiveram como meta principal o aumento da população. Para isso, retiraram dos homens a responsabilidade por sustentar a família. O Estado cuidava e provia a subsistência das crianças, consideradas propriedade sua. Mas o sistema, por destruir os laços familiares, fracassou e foi abandonado.

Cultuavam uma trindade que personificava os poderes cósmicos do Universo como Criador, Preservador e Destruidor. Com a prática da bruxaria, alguns deles tornaram-se conscientes de elementais de poder e malignidade que animavam por sua vontade maléfica e pssaram a adorá-las em rituais manchados de sangue. Os descendentes dos turanianos incluem os chineses do interior e os astecas, que continuaram a praticar os rituais de sacrifícios humanos repudiados por seus predecessores toltecas.

Os "semitas originais" 



Mulher cabile, foto de 1884
A quinta sub-raça, os "semitas originais", surgiu na pouco atraente região montanhosa da península nordeste, correspondentes às atuais Escócia e Irlanda. Manteve-se durante séculos independente dos agressivos reis sulistas, até que começaram a se espalhar em várias direções. Os judeus e os "cabilas menos escuros das montanhas argelinas" seriam seus últimos descendentes relativamente puros.
Cultuavam uma Trindade antropomórfica, de pai, mãe e filho. Caracterizaram-se pelo desenvolvimento do pensamento racional, à custa da clarividência e de outros poderes psíquicos.

A decadência final

Cerca de 50 mil anos antes da primeira grande catástrofe, os seguidores da "magia negra" sublevaram-se e elegeram um imperador rival que, depois de muitas lutas e conflitos, assumiu o trono depois de expulsar o imperador "branco" de sua capital. Este reinstalou-se numa cidade fundada originalmente pelos tlavatlis, na extremidade sul da região montanhosa que, nessa época, era a sede de um dos reis tributários toltecas. Este colocou sua cidade à disposição do imperador, mas a maioria dos demais reis tributários transferiu sua vassalagem ao novo imperador. Contínuas batalhas foram travadas em diferentes pontos do império, recorrendo-se amplamente à bruxaria para suplementar o poder de destruição dos exércitos.

De 800 mil a 200 mil a.C.



O mundo depois da catástrofe de há 800 mil anos, até a catástrofe de há 200 mil anos, segundo W. Scott-Elliot. Notas: 6 - local de origem da raça acadiana, 7 - da raça mongólica
Há 800 mil anos, uma primeira catástrofe reduziu a extensão da Atlântida e separou-a das Américas, enquanto Europa e África ganhavam extensão. As ondas precipitaram-se sobre a "Cidade dos Portais de Ouro" e exterminaram seus habitantes, o imperador "negro" e sua dinastia. Mesmo regiões que não afundaram foram varridas pelos vagalhões e transformadas em pântanos, permanecendo desertas e sem plantações por muitas gerações.

Passou-se um longo período antes que se estabelecesse um novo governo eficaz. Por fim, segundo Scott-Elliot, uma dinastia semita de bruxos entronizou-se na "Cidade dos Portais de Ouro", mas nenhuma autoridade tolteca destacou-se neste período. Pouco restava de seu puro sangue no continente de origem. As costas próximas do continente americano estavam, porém, povoadas por toltecas "puros".

Os tlavatlis estavam instalados nas costas ocidentais das Américas (Califórnia) e nas costas do extremo sul (Rio de Janeiro). Também eram encontrados nas regiões litorâneas orientais da ilha escandinava e na Índia.
Os turanianos ocupam as regiões litorâneas meridionais das terras a leste de Atlântida, no atual Marrocos e Argélia e também vagam em direção ao Oriente, povoando as costas ocidentais e orientais do mar asiático central.

Os "semitas" ocupam a oeste as terras que hoje formam os EUA e a leste, as costas setentrionais do continente vizinho.

Acadianos 


Basques
Casal basco
Neste período, surge a sub-raça acadiana, numa terra a leste de Atlântida, a 42º de latitude norte e 10º de longitude oeste (ou seja, no atual Mar Tirreno, perto da atual Sardenha), que inicialmente se espalha para o leste, ocupando o atual Levante (Síria e Palestina) e chegando à Pérsia e Arábia. Mais tarde, invadiram Atlântida, travando inúmeras batalhas terrestres e navais com os semitas.

Os descendentes dos acadianos incluíram os antigos etruscos, 
os fenícios (inclusive os cartagineses) e os sumério-acadianos, 
mas os mais "puros" seriam os bascos.

Mongólicos


Meijijapao
Japoneses do período Meiji, em Tochigi
Surgiu também, a sub-raça mongólica, nas planícies da Tartária (Sibéria Oriental, a 63º de latitude norte e 140º de longitude leste), a partir de descendentes da sub-raça turaniana. Foi a única sub-raça "atlante" a jamais ter contato com seu continente materno.
Seus descendentes mais ou menos misturados com outras "sub-raças" incluiriam a maior parte dos povos do Extremo Oriente, inclusive japoneses e também alguns indígenas da América do Norte, pois alguns deles atravessariam o estreito de Bering.
Os malaios seriam resultado do cruzamento de mongólicos com lemurianos e os húngaros, de mongólicos com "árias".

Índia

A Índia foi ocupada por uma civilização atlante, que se estendia do sul até o mar que a limitava ao norte.

Egito 



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As grandes pirâmides, segundo Scott-Elliot, foram construídas há mais de 200 mil anos
Cerca de 210 mil anos atrás, a degradação de Atlântida levou a "grande Loja Branca" a transferir-se para o Egito, então isolado e de população escassa. Ali fundou um império, a primeira "Dinastia Divina" do Egito.
Em alguma época dos dez mil anos seguintes foram constuídas as duas grandes pirâmides de Gizé, para proporcionar salas de iniciação permanentes e atuar como casa do tesouro e santuário de algum grande talismã durante a submersão que se sabia iminente (as duas grandes piramides não foram construídas na IV Dinastia, entre 2580 a.C. e 2480 a.C.). A "grande Loja Branca" continuaria a ter sua sede no Egito até cerca de 10.000 a.C., quando foi transferida para Shambhala.

De 200 mil a 75.025 a.C. 



MapaAtlantida3
O mundo depois da catástrofe de há 200 mil anos até a catástrofe de há 80 mil anos, segundo W. Scott-Elliot
Há 200 mil anos, uma segunda catástrofe, causada pela difusão da magia negra entre os atlantes, dividiu o restante da Atlântida em duas grandes ilhas, Ruta e Daitya.
O Egito foi submerso, mas muitos de seus habitantes se refugiaram nas montanhas abissínias, transformadas em ilha. Quando tornou a emergir, foi povoado pelos descendentes desses refugiados, bem como por novos grupos de colonos atlantes e uma considerável imigração de acadianos alterou o tipo físico egípcio. Esta é a era da segunda "Dinastia Divina" do Egito, na qual os Adeptos Iniciados voltaram a governar o país.

Ruta 

Em Ruta, uma dinastia tolteca devotada à magia negra ascendeu ao poder e governou, através de seus reis tributários, uma grande porção da ilha. Um imperador ou rei iniciado - ou pelo menos alguém que conhecia a "boa lei" -, governou em alguma parte da ilha a fim de refrear os bruxos malignos na medida do possível e orientar e instruir a minoria disposta a levar uma vida pura e saudável.
Segundo Scott-Elliot, por volta de 100.000 a.C., o futuro espírito de Gautama Buda encarnou-se para ensinar uma nova religião a um grupo de semitas das montanhas setentrionais de Ruta, isolando-os, proibindo-os de se casar com outras tribos e preparando-os para uma futura migração para uma "terra prometida", onde estariam livres do futuro cataclisma. Seus seguidores trouxeram também prosélitos de outras terras. Isto contradiz Blavatsky e Besant, que em outras obras dizem que a "semente da raça ariana" foi separada há um milhão de anos.

Daitya 

Em Daitya, segundo Scott-Elliot, foi retomada a luta entre semitas e acadianos. Também há cem mil anos, os acadianos venceram e estabeleceram sua dinastia na antiga capital semita, que governaram com sabedoria. Tornaram-se grandes comerciantes, navegadores e colonizadores, establecendo muitos núcleos que serviam de pontos de ligação com terras distantes. Também avançaram para o Oriente, ocupando as futuras costas da Síria e Palestina e chegaram à Pérsia e Arábia. Viviam em comunidades sedentárias e criaram uma forma oligárquica de governo. Uma de suas características era o sistema dual de governo, onde dois reis governam a mesma cidade. Em conseqüência de sua aptidão naval, o estudo das estrelas tornou-se uma atividade característica e realizaram grandes progressos na astronomia e astrologia.

Annie Besant e Leadbeater contam uma história diferente e peculiar sobre o que aconteceu em Daitya nesse período. Por volta de 100.000 a.C., as nações cultas da Atlântida se dividiram em dois campos opostos. Um deles, liderado pelo Imperador Branco, tinha por metrópole sagrada a antiga "Cidade dos Portais de Ouro" e conservava o tradicional culto do Sol. Mas reinos distantes, governados por vice-reis, se declararam independentes e estabelecerm uma confederação liderada por um homem chamado Oduarpa, cujos exércitos o aclamaram como "Imperador do Sol da Meia-Noite".


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Oduarpa, o "Imperador do Sol da Meia-Noite"
Para fazer oposição ao Imperador Branco, Oduarpa recorreu às artes negras, pactuou com os moradores do mundo inferior - sombrios espíritos da Terra, que formam o "Reino de Pã" - e estabeleceu um culto que atraísse o povo por meio dos prazeres sensuais e dos impios poderes mágicos colocados em mãos de seus adeptos. Graças a seu pacto com as potestades tenebrosas, prolongou sua vida além do término normal e tornou seu corpo invulnerável por meio da materialização de uma couraça metálica que o escudava dos pés à cabeça como uma cota de malha. Nos ritos mágicos celebrados em criptas subterrâneas para adorar Oduarpa, os adeptos se vestiam de peles de animais, tocavam címbalos, bebiam licores ardentes e praticavam orgias, às quais se uniam bípedes peludos de braços longos e garras nos pés e mãos, com cabeça de bruto e cobertos de crinas que lhes caím sobre os ombros. Levavam caixas com ungüentos com que lambuzavam os dissolutos e redomas com uma bebida. Os orgiastas então caíam ao solo em mistura, e de cada monte surgia uma forma animal que desaparecia da cripta para sumir na noite. Essas materializações astrais, ferozes e inconscientes, tomavam a forma de fantasmas (ghosts), duendes (goblins) e outras entidades malignas que davam rédeas soltas à luxúria e crueldade ocultas nos humanos. Com as queixadas jorrando sangue e a pele enlameada de imundícies, voltava antes que apontasse o dia e, agachando-se sobre os corpos amontoados, neles se fundiam e desapareciam.


Por fim, Oduarpa reuniu um grande exército e marchou para a "Cidade dos Portais de Ouro", contando com as armas e com o terror infundido por seus magos negros em figuras de animais que, materializados em corpos físicos, devoravam seus iimigos. Quando era incerto o êxito da batalha, Oduarpa soltava seus diabólicos aliados, que semeavam o pânico a dentadas e rasgões e perseguiam o inimigo em fuga, com o acréscimo de que a tropa de feiticeiros criava também formas animais para se infundirem nos cadáveres. O conquistador venceu e tomou o título de "Rei Divino".
Mais tarde, o Manu marcou contra ele com um poderoso exército. Sua presença pôs em fuga os "súditos do reino de Pã" e desvaneceu as formas mentais plasmadas pela magia negra. O exército de Oduarpa foi desbaratado e seu líder derrotado voou para uma torre que foi incendiada, queimando-o dentro de sua couraça metália materializada.


O Manu purificou a cidade e restabeleceu o governo do Imperador Branco por algum tempo, mas a malignidade readquiriu poderio e tomou novo incremento no centro meridional. Por último, o mesmo "Senhor da Face Tenebrosa" apareceu reencarnado e se pôs outra vez em luta contra o Imperador. Então a Hierarquia Oculta pronunciou a sentença que resultou na catástrofe de 75.025 a.C, na qual a "Cidade dos Portais de Ouro" desapareceu definitivamente. O Imperador Branco avisou seu povo e alguns escaparam em vimanas (veículos aéreos) para o Oriente e o Norte.


Uma obra anterior de Annie Besant, The Pedigree of Man, de 1903, descreve aparentemente o mesmo episódio em termos algo diferentes. O rei-demônio do sul é chamado Thevatat e seus seguidores são os Asuras, cujos chefes esculpiram figuras gigantescas de si mesmos e fizeram-se adorar como deuses. Também fundaram o culto do falo. Com seus poderes mágicos sobre-humanos, impuseram um reino de terror. Ajudados por animalescas mulheres lemurianas e "processos mágicos de repugnância inexprimível" produziram poderosos monstros com a força dos brutos e a astúcia dos selvagens e lhes deram como almas os piores tipos de elementais. Tratam-se, presumivelmente, dos ancestrais dos símios antropóides. Segundo outras obras teosóficas, as mais semelhantes aos humanos dentre essas criaturas foram implacavelmente caçadas até a extinção por humanos posteriores, que deixaram sobreviver apenas as mais animalescas, que hoje conhecemos como chimpanzés, gorilas e orangotangos.

Stonehenge 


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Stonehenge teria sido construída por acadianos descontentes, segundo Scott-Elliot
Ainda há cerca de 100 mil anos, uma colônia de Iniciados acadianos - "mais altos, mais bonitos e mais espertos do que os aborígines da região, remanescentes degenerados dos rmoahal" -, fundou Stonehenge (na realidade, construído a partir de 3100 a.C., sendo que os monólitos hoje visíveis são de 2200 a.C.). Sua rude simplicidade, similar à dos antigos templos tlavatli do sol, foi planejada para servir de protesto contra os ornamentos extravagantes e a exagerada decoração dos templos existentes na Atlântida, onde os habitantes prosseguiam com o degradant culto de suas próprias imagens.

Arábia

Em 79.797 a.C., o Manu reuniu no litoral o povo segregado por Gautama para levá-los ao Oriente, formado, à época, por 7.500 semitas, 750 acadianos e 750 toltecas. Atravessaram o mar do Saara em 33 navios e prosseguiram a pé pelos sul do Egito até a Arábia. Levaram consigo "rebanhos dum animal que parecia um cruzamento de búfalo e elefante com algo de porco", que lhes servia de alimento quando faltavam provisões, embora normalmente fosse considerado valioso demais para tal emprego. O monarca egípcio, seguindo as tradições toltecas de que outras raças existiam para serem exploradas por eles, seduziu alguns deles a ficar no Baixo Egito.

Os demais foram estabelecidos em vales dos planaltos árabes. Alguns deles se tornaram fanáticos e prepararam-se para atacar os desertores estabelecidos no Egito. Os egípcios exterminaram os fanáticos, mas foram vencidos ao tentar atacar os vales onde viviam os demais. Ali produziram frutos insípidos semelhantes à maçã, colhiam uma fruta grande como uma cabeça de homem e viscosa e pegajosa como uma tâmara, e uma fruta do tamanho do coco que deixava farinha e açúcar ao ser fervida.

Ao fim de cerca de dois mil anos (77.800 a.C.), tornaram-se uma nação de vários milhões, isolados do resto do mundo por um cinturão de areia que as caravanas podiam alcançar por um só caminho de oásis, perto da atual Meca. Os menos desejáveis eram encorajados a migrar para o sul da Palestina ou o sul do Egito e numa dessas colônias se desenvolveu o cavalo. Ao cabo de três mil anos (76.800 a.C.), a meseta estava tão densamente povoada que parecia uma enorme cidade. Um grande número foi enviado à África para fundar uma colônia, mais tarde exterminada.

Mar de Gobi

Pouco antes da catástrofe de 75.025 a.C., o Manu escolheu 700 de seus próprios descendentes, educados em uma seita particularmente austera e os conduziu para o norte. Passaram por um império sumero-acadiano que compreendia a atual Turquia, Pérsia e adjacências e por uma confederação de turanianos feudatários desse império, em cujo território estava compreendido o atual Tibete. Após alguns anos, chegou às costas do mar de Gobi, que então se abria para o Pólo Norte. Instalou alguns de seus seguidores num promontório de frente para o nodeste e a maioria mais para o interior, em uma baixada entre colinas.
Do promontório, que era muito elevado, se distinguiam o mar de Gobi e a terra que teriam de habitar depois de passado o cataclisma iminente. A Ilha Branca, ainda invisível do promontório, estava no sudeste.

Outros povos

Os mongólicos tornaram-se um povo nômade. Mais psíquicos e mais religiosos que os turanianos dos quais descendiam, tenderam a uma forma de governo teocrático, no qual o governante territorial era também sumo-sacerdote.

De 75.025 a.C. a 9.564 a.C. 


MapaAtlantida4
O mundo depois da catástrofe de há 80 mil anos, até a submersão de Poseidônis em 9.564 a.C., segundo W. Scott-Elliot
Na terceira catástrofe, de há 80 mil anos (75.025 a.C, segundo Leadbeater), Daitya quase desapareceu e Ruta reduziu-se em extensão para algo comparável à França e Espanha juntas (cerca de 1 milhão de km²). Nessa etapa, é conhecida como Poseidônis e corresponde à Atlântida de Platão, que desaparece totalmente com a quarta e última catástrofe, em 9.564 a.C.

Nesse período, segundo Scott-Elliot, a população de toda a ilha era mais ou menos mesclada. Dois reinos e uma pequena república, localizada a oeste, dividiam a ilha entre si. A região norte era governada por um rei Iniciado (na teosofia). No sul, o príncípio hereditário fora substituído pela eleição popular. As dinastias raciais aristocráticas estavam acabando, mas reis de linhagem tolteca ocasionalmente subiam ao poder, tanto no norte quanto no sul. O reino setentrional era constantemente invadido pelo seu rival sulista, que conquistava para si uma parte cada vez maior de seu território. Nos últimos dias, o rei "branco" do norte era, via de regra, eleito pelos sacerdotes - ou seja, pelos poucos que ainda seguiam a "boa lei". No afundamento desta última Atlântida, teriam perecido 64 milhões de pessoas.

Neste período, foi adotado em Atlântida um sistema semelhante à circulação monetária do século XIX e a montanha tríplice, que podia ser avistada da grande capital meridional (a Atlântida de Platão) era a imagem favorita na cunhagem oficial. O sistema coletivo de propriedade e cultivo da terra foi também substituído por um sistema de propriedade particular semelhante ao da Inglaterra do século XIX.
Algum tempo depois de 10.000 a.C., o imperador de Poseidônis começou a anexar os pequenos Estados das costas e ilhas do Mediterrâneo, na maioria acadianas (etruscas) e semitas. Apoderou-se se dificuldade da vasta ilha da Argélia e submeteu a Península Ibérica e a Itália. Marchou depois contra o Egito, que não era potência naval considerável e já estava prestes a se render, quando os atlantes foram desafiados pelos gregos. Metade da frota de Poseidônis foi lançada contra eles, mas os navios gregos, menores e mais ágeis, derrotou completamente a armada atlante. Os atlantes repetiram o ataque com a segunda metade, mas foram novamente derrotados. O imperador atlante teve de fugir e desembarcou na Sicília, onde dispunha de tropas, mas assim que se soube de sua derrota, os povos do Mediterrâneo se levantaram e ele teve de fugir pela Itália, seguir disfarçado pelo sul da França e voltar a seu reino num navio mercante. Tentou organizar outra expedição, mas então sublevaram-se tribos descontentes de sua própria ilha e, por todo o resto de seu reinado, não esteve de novo em condições de guerrear no estrangeiro.

Os "Árias" 



Mapa shamballa
Mapa de Shambhala e Manova, segundo a descrição de Annie Besant e C. W. Leadbeater
Quando veio o cataclismo de 75.025 a.C., que consistiu em dois anos de convulsões e terremotos, o mar de Gobi foi fechado. Aterrorizada pelas convulsões e passando privações, a comunidade, que chegara a mil pessoas, ficou reduzida aos trezentos mais robustos.
O Manu conduziu os sobreviventes à Ilha Branca, onde permaneceram e se multiplicaram até 70.000 a.C., quando famílias escolhidas foram estabelecidas em quatro vales no continente vizinho, que se estendiam por 32 km, para desenvolver ali quatro distintas sub-raças e enviá-las mais tarde a diferentes partes do mundo. A comunidade consistia então em sete mil habitantes e a Ilha Branca era agora conhecida como Shambhala (ou Shamballa, como grafam os livros teosóficos). Os turanianos vizinhos invadiram freqüentemente as vilas, mas poupavam a Ilha Branca, que consideravam sagrada. Grupos de crianças era escolhidos de tempos em tempos para serem enviadas a Shambhala para serem educadas como sacerdotes.

Em 60.000 a.C., a comunidade recebeu imigrantes toltecas de Poseidônis e formou-se então a "raça ária", que não sofreu mais extermínios. Uma centena de descendentes do Manu começaram a construir sua futura capital no continente, apesar de ainda não haver população para habitá-la. A construção durou mil anos e a capital veio a ser chamada de Manova (cidade do Manu) ou "Cidade da Ponte" (no original, City of the Bridge), devido à enorme ponte que a ligava à Ilha Branca. Para mais detalhes sobre a cidade e sua construção, leia Shambhala teosófica.

Essa cidade atingiu seu zênite em 45.000 a.C., como capital de um império que incluía toda a Ásia Oriental e Central, do Tibete ao litoral e da Mandchúria ao Sião, além de dominar as ilhas do Japão, Taiwan, Filipinas e Indonésia até a Austrália.
Em 40.000 a.C., começou a decadência desse império. As ilhas e províncias mais afastadas "se declararam em bárbara independência". O reino central manteve-se satisfeito e tranqüilo por mais 25 mil anos, quando seus habitantes começaram a abandoná-lo e migrar para a Índia. A capital foi completamente abandonada em 9.700 a.C. Em 9.564 a.C., a mesma catástrofe que afundou Poseidônis reduziu a cidade a ruínas e alterou a geografia da Ásia Central, transformando o antigo mar em deserto. Continua, porém a ser a residência dos quatro Kumaras (os guardiões da Terra) e nesse lugar secreto se reúnem os Iniciados a cada sete anos. Suas ruínas ainda despertam admiração e a ponte continua de pé, conquanto só fluam por baixo dela as areias do deserto.

Arábes e Judeus 


Racasraizes
Árvore evolutiva das "raças raízes" e "sub-raças" em First Principles of Theosophy, de C. Jinarajadasa
Scott-Elliot, em 1896, referia-se despectivamente aos supostos descendentes de "lemurianos" e "atlantes" e descrevia os judeus como um "elo anormal e antinatural entre a quarta e a quinta raças-raízes", mas o capítulo de Besant e Leadbeater (de 1910) sobre os árabes "árias" (ou "semitas arianos", segundo Jinarajadasa) deixou especialmente à mostra o racismo e o anti-semitismo latentes na Teosofia. Caricaturam a história lendária do povo judeu e justificam a imposição de um análogo do colonialismo inglês à África e até mesmo do apartheid à África do Sul.


Segundo Besant e Leadbeater, em 40.000 a.C., o Manu liderou uma das comunidades dos quatro vales, a que originou o povo árabe (que os teósofos consideram "árias") para retornar à Arábia e "arianizar" o povo deixado nos planaltos árabes e na costa somali no período anterior. Cerca de 150 mil combatentes e 100 mil mulheres e crianças atravessaram o império amigo da Pérsia e Mesopotâmia e o deserto. Foram inicialmente repelidos pelos locais, mas um chefe os autorizou a estabelecer-se em um vale despovoado, contando com sua ajuda para derrotar uma tribo vizinha. Depois de três anos, porém, os recém-chegados se recusaram a apoiar esse ataque e o chefe local se aliou com seu inimigo tradicional contra os recém-chegados. Foi depois derrotado, e o Manu passou a governar a ambos. Quarenta anos depois, a metade setentrional da Arábia lhe estava sujeita e podia considerar-se definitivamente "ária".


No Sul, porém, um fanático chamado Alastor (nome de um gênio maligno do paganismo romano, depois incorporado à demonologia cristã) pregou ao povo que pertenciam a uma raça escolhida e não podiam misturar seu sangue ao de estrangeiros. Uniu as tribos do sul e se opuseram ao Manu em nome de seu próprio mandamento original.
Alguns séculos depois, um monarca do norte aproveitou-se de discórdias internas do Sul e conquistou-o, tornando-se imperador de toda a Arábia. Entretanto, um grupo de fanáticos, liderados por um profeta, abandonaram a pátria conquistada e se estabeleceram na fronteiriça costa somali, onde subsistiram por alguns séculos sob o governo do profeta e seus sucessores, até que um destes, que continuava a pregar a pureza da raça, "amancebou-se" com uma jovem negra do interior, alegando que estas deviam ser consideradas como escravas, mercadorias ou gado, não como esposas.


Alguns aceitaram o pronunciamento e o imitaram, enquanto uma significativa minoria se rebelou. Estes, liderados por um ambicioso pregador, rodearam o golfo de Aden, chegaram à costa do Mar Vermelho e se encaminharam para o Egito, onde o faraó, lhes ofereceu um distrito fronteiriço. Ali viveram e prosperaram por séculos, sem se misturar com os egípcios. Mas veio um tempo em que um faraó quis tributá-los e forçá-los ao trabalho em obras públicas. Em conseqüência, migraram para a Palestina, onde se estabeleceram e vieram a ser o povo judeu.


Os que ficaram na Somália acabaram expulsos pelos africanos e tiveram de voltar à Arábia, onde foram absorvidos na massa da população, mas mantêm os sinais de mistura com os negros.
Os árabes "árias" vieram a estender seu domínio por quase toda a África, exceto o Egito. Governaram a grande ilha de Argélia. Fundaram também colônias na costa ocidental da África, mas ali foram derrotados e repelidos pelos guerreiros de Poseidônis.


Zimbabue
O "Grande Zimbábue", palácio do antigo imperador bantu do Mutapa, estava entre as ruínas atribuídas pelos teósofos aos "árabes árias"
Ao longo da costa oriental, chegaram ao Cabo da Boa Esperança, onde fundaram um reino que abrangia a Matabelelândia (Zimbábue), Transvaal (África do Sul) e Lourenço Marques (Moçambique), onde edificaram grandes cidades e templos (Besant e Leadbeater referem-se às ruínas de Zimbábue, construídas por povos bantus a partir do século XI, embora a oligarquia branca local tenha negado e mesmo censurado as evidências até 1980, quando foi obrigada a entregar o poder). "Mas entre o atraso dos africanos e a cultura dos árabes se abria um abismo impossível de transpor, e por isso os africanos ficaram em completa sujeição, como lavradores e criados". Esse império invadiu a ilha de Madagascar, mas conseguiu apenas manter colônias em sua costa.


Um rei árabe lançou-se em conquista do império sumero-acadiano da Pérsia, Mesopotâmia e Turquestão, que havia se desmembrado. Dominou a Mesopotâmia e a Pérsia, mas foi derrotado pelas tribos do Curdistão. O governador da Pérsia depois se separou, mantendo ali uma dinastia árabe que durou dois séculos. Outro monarca árabe tentou conquistar a Índia, mas foi derrotado.

Iranianos

Em 30.000 a.C., um grupo de "árias" do segundo vale, ao qual havia se unido um grupo de acadianos, deu origem a uma outra sub-raça, mais pastoril que agricultora. Depois de multiplicar-se por dois mil anos, reuniram um exército de 300 mil combatentes, que conquistou uma grande parte da Ásia depois dividida em dois reinos, um da Ásia Central, outro da Pérsia e Mesopotâmia, estabelecendo-se com um milhão de pessoas. Em 29.700 a.C., o "primeiro Zaratustra" fundou a religião do fogo. O culto dos astros permaneceu, porém, na Mesopotâmia, ou Caldéia.

Caldéia

Na Mesopotâmia, viviam tribos rivais de turanianos semi-selvagens que se mantinham do cultivo rudimentar da terra até 30.000 a.C., quando lhes chegou do Oriente um grande chefe de raça "ária", nomeado governador pelo rei da Pérsia. Este teria fundado uma civilização que os autores descrevem, em 19.000 a.C., como devotada à astrologia e ao culto dos planetas do Sistema Solar.


O povo era dividido em dez classes de acordo com seus planetas regentes, cada uma com suas escolas separadas, seus ritos e seus preceitos próprios. Os templos dos planetas, representados por cúpulas coloridas, se erguiam a distâncias progressivas do grande Templo do Sol, representando um sistema solar heliocêntrico (com o Templo da Lua no lugar da Terra). Além do Sol, eram cultuados Vulcano (planeta inexistente, mas sobre o qual ainda se especulava em 1910, quando Besant e Leadbeater publicaram sua obra), Mercúrio, Vênus, Lua, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Mais tarde, a Caldéia foi invadida por hordas de bárbaros fanáticos, que destruíram esses templos e foram, por sua vez, expulsas por acadianos das montanhas setentrionais que, ao se misturar com os turanianos, constituiu a nação sumero-acadiana (ou a segunda com este nome: neste ponto, Besant e Leadbeater aparentemente se esqueceram do povo com o mesmo nome mencionado no período anterior).

Celtas 

No terceiro vale, o Manu desenvolvera uma elite de grande beleza física e especializada em imaginação, sensibilidade artística, poesia, oratória, música e pintura, servida por agricultores e trabalhadores devotados por seus líderes. Criou-se uma sub-raça presunçosa e vaidosa, que considerava os demais habitantes do reiino como filisteus, que Besant e Leadbeater chamaram de "celtas", embora supostamente incluam os ancestrais de muitos outros povos. Em 20.000 a.C., o Manu os enviou para se instalarem no Cáucaso, Frígia e Ásia Menor, formando uma poderosa federação de tribos.


Pelo ano 10.000 a.C., retomaram a marcha para o Ocidente. O primeiro grupo a se estabelecer na Europa foi o dos gregos antigos, os que, segundo Platão, repeliram mais tarde os invasores da Atlântida, chamada aqui de Poseidônis.
O segundo grupo foi o dos albaneses, o terceiro o dos itálicos e o quarto o dos celtas propriamente ditos, que ocupou a França, Bélgica, Ilhas Britânicas, norte da Itália e Alemanha a oeste do Reno. O quinto foi para o norte da África, onde se misturou aos semitas e para a Península Ibérica, onde se misturou com o quarto grupo. Um sexto grupo foi para a Escandinávia e de lá desceu, misturada com os teutônicos, para a Irlanda, onde foram conhecidos como os Tuatha de Danaan.

Teutões

No quarto vale, mais apartado da capital, na costa norte do Mar de Gobi, o Manu preparou a quarta sub-raça, à qual acrescentou os melhores exemplares das sub-raças persa e árabe, resultando em um tipo de estatura elevada, cabeça longa, cabelos claros e olhos azuis. Predominava nela a aspereza e a persistência, com menos audácia que a sub-raça celta e qualidades mais adequadas aos negócios e ao senso prático, com tonalidades de brusca sinceridade e retidão, visando mais o concreto do que o poético. Em 20.000 a.C., a enviou, ao mesmo tempo que os celtas, pela costa do Mar Cáspio até o Daguestão, onde permaneceu por milhares de anos, estendendo-se pelas encostas setentrionais do Cáucaso e ali permaneceu até mil anos depois da catástrofe de 9.564 a.C., quando "empreenderam a marcha para o domínio do mundo".

Índia



Besant435

Annie Besant com Leadbeater, Krishnamurti (dir.) e Jinarajadasa, cerca de 1911. Leadbeater proclamou o jovem Krishamurti como reencarnação do Buda Maitreya e fundou a "Ordem Internacional da Estrela do Oriente", que recebeu doações de propriedades e dinheiro, para preparar a opinião pública para seus ensinamentos. Mas, em 1929, Krishamurti rompeu com Leadbeater e a teosofia, repudiou seu estatuto de "Buda" e "Instrutor do Mundo" e dissolveu a Ordem

No início do período, a Índia foi ocupada, assim que ficou suficientemente seca, por hostes atlantes que penetraram pelos desfiladeiros do Himalaia e criaram uma esplêndida civilização.

Por volta de 20.000 a.C., os mongóis e turanianos, por tanto tempo submetidos aos "ários", recuperaramdência e o reino cuja capital era a "Cidade da Ponte" ficou sumamente reduzido. Em 18.875 a.C., o Manu voltou sua atenção para o que restava da sub-raça raiz e para a Índia, povoada por uma civilização tolteca decadente, visando isolar Shambhala (por que a "raça ária" tinha que crescer sem vigilância externa) e "arianizar" a Índia. Uma das tribos periféricas migou até a Índia, onde aliou-se ao rei Podishpar da Índia setentrional.

O rei da Índia do sul considerou os migrantes do norte especialmente aptos para o ofício sacerdotal e o ofereceu a eles em caráter hereditário. Os que aceitaram se tornaram os ancestrais dos brâmanes do sul da Índia. Outros casaram-se com a aristocracia tolteca e arianizaram pouco a pouco as classes superiores, até que, com a morte do herdeiro, foi escolhido um monarca "ária" e o sul da Índia passou para seu domínio.

Em 17.520 a.C., uma segunda massa migratória partiu do centro da Ásia para o Punjab. Em 17.455 a.C., uma terceira chegou à atual Delhi, onde fundou uma cidade chamada Ravipur ou Cidade do Sol. Em 15.950 a.C., três exércitos foram enviados a Bengala por três rotas diferentes, numa marcha que durou quarenta anos. Daquela época em diante, houve seguidas ondas migratórias.

Alguns "árias" de talento estudaram a filosofia dos toltecas, aos quais deram o nome de nagas. Às classes inferiores da povoação atlante, compostas em sua maioria dos morenos tlavatlis, as chamara dasyas, enquanto que aos negros, descendentes de lemurianos, apelidavam de daityas e takshakas.
Pelo ano 13.500 a.C., o reino ário da Índia meridional enviou uma expedição ao Egito. O faraó os acolheu, deu sua filha em casamento ao chefe da expedição e o nomeou herdeiro, estabelecendo também no Egito uma dinastia "ária", que permaneceu até o afundamento de Poseidônis e sob a qual as escolas do Egito grangearam sua maior fama lideraram o saber do mundo ocidental. Do sul da Índia também foram enviados colonos a Java, Ausrália e Polinésia.

As contínuas emigrações despovoaram completamente o reino da Ásia Central pelo ano 9.700 a.C. As convulsões provocadas pelo cataclisma de 9.564 a.C. arruinaram a Cidade da Ponte e os templos da Ilha Branca. Os últimos bandos ficaram retidos no Afeganistão e Baluquistão por dois mil anos e muitos morreram nas mãos dos mongóis.
Mais tarde, por volta de 8.000 a.C., seria estabelecido o regime de castas. Os "árias" puros ("brancos") constituíram a casta brâmane; os mestiços de "árias" e "toltecas" ("avermelhados", a rajana; os de "árias" e mongólicos ("amarelos"), a vaishyas; e os sem qualquer sangue "ária", a shudra.

Américas

O sistema comunitário desaparecido de Atlântida se manteve nos grandes reinos toltecas se ergueram no México e Peru (na realidade, a civilização tolteca existiu do século X ao XII d.C., e a inca, de 1200 a 1532). Embora os toltecas do México tenham sido poderosos, nunca atingiram o apogeu alcançado pelos peruanos de 12000 a.C., sob o governo dos incas.
No tocante ao bem-estar, à justiça, à divisão igualitária da terra, à vida simples e religiosa dos habitantes e ao culto ao Sol, os teósofos consideraram o império peruano dessa época similar à idade de ouro dos toltecas na Atlântida. Annie Besant e Leadbeater descreveram vários detalhes sobre a vida desses "toltecas peruanos", muitos deles incompatíveis com as civilizações andinas reais ou mesmo com a flora e fauna das Américas.

Por exemplo, o uso de ferro e bronze, literatura escrita (em folhas de "porcelana flexível" ou "metal sílico"), quadros pintados em perspectiva, uso de arroz, inhame e leite na alimentação, tortas de milho coloridas e aromatizadas com romã (originária do Oriente Médio), goiaba (centro-americana), baunilha e laranja (asiáticas). Fala-se também da criação de gatos de pelagem azul e do uso de roupas semelhantes às indianas, mas muito coloridas (azul para as mulheres), feitos de algodão, lã de vicunha ou fibras de agave (mexicana).
Os tlavatlis, neste período, são encontrados no extremo sul das Américas. Seus descendentes incluiriam os patagões.

Egito


Karnak
Karnak, contemporânea dos últimos tempos de Atlântida, segundo Scott-Elliot
No início do período, o Egito foi outra vez submerso, mas apenas por uma onda temporária. Quando esta refluiu, a terceira "Dinastia Divina" começou seu governo, durante o qual, segundo Scott-Elliot, foi erigido o templo de Karnak e uma grande parte das construções mais antigas do país (na realidade, os primórdios de Karnak são da 11ª dinastia, cerca de 2000 a.C. e as construções mais impressionantes são da 18ª e 19ª dinastias, de 1500 a.C. a 1200 a.C.).


Segundo Annie Besant e Leadbeater, porém, os primeiros a se estabelecerem nas terras pantanosas, mas já habitáveis, foram de "um povo de raça negra que permaneceu ali por algum tempo, deixando bárbaros vestígios de sua ocupação". Sucedeu-o então um novo império atlante-egípcio, com sua dinastia de reis divinos e muitos dos heróis que a Grécia honrou como semideuses, entre eles Héracles, o dos doze trabalhos. Também viveu neste período Tehuti ou Toth, chamado depois Hermes pelos gregos, que ensinou o culto de Osíris e Ísis e da "luz interna", antes de ir à Arábia, ensinar os chefes da sub-raça ali estabelecida.

No final do período, com a submersão definitiva de Poseidônis, outro tsunami atingiu o Egito. A calamidade foi temporária, mas pôs fim às "Dinastias Divinas", pois a Loja de Iniciados transferira suas sedes para outras terras.

A Atlântida Teosófica na ficção


Duelo
Segundo L. Sprague de Camp, os "marcianos vermelhos" de Burroughs foram inspirados nos "toltecas" da Atlântida dos teósofos
Muitos leitores e críticos da obra de Edgar Rice Burroughs, a começar por L. Sprague de Camp, em 1948, e Fritz Leiber, em 1959, notaram semelhanças entre sua descrição ficcional de Marte (Barsoom, para os nativos) nas suas "Crônicas Marcianas", cuja publicação se iniciou em 1911 com a Princesa de Marte o mundo pré-histórico da teosofia, tal como descrito nas obras publicadas até 1910 por Blavatsky, Scott-Elliot, Besant e Leadbeater.


Os "marcianos vermelhos", heróis de suas sagas marcianas, parecem ter sido diretamente inspirados nos toltecas da Atlântida teosófica, com sua cor de cobre, traços gregos e ciência avançada. Já os "marcianos verdes" ou tharks, primitivos de estatura gigantesca e comportamento bárbaro, mas que que sabem usar armas modernas e domesticam animais monstruosos, teriam sido inspirados nos lemurianos (veja Lemúria na ficção)

Referências

  • L. Sprague de Camp, Continentes Perdidos. Lisboa, Livros do Brasil, s/d
  • W. Scott-Elliot, Atlântida e Lemúria, Continentes Desaparecidos. São Paulo: Pensamento, 1995
  • Annie Besant e C. W. Leadbeater, O Homem: donde e como veio, e para onde vai? São Paulo: Pensamento, 1995.
  • Annie Besant, The Pedigree of Man [1]
  • Dale R. Broadhurst, "John Carter Beginnings?" [2]

Referências

  • Pierre Vidal-Naquet, Os Gregos, os Historiadores e a Democracia. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.
  • Platão, Obras Completas. Madrid: Aguilar, 1990.
  • Geneviève Droz, Os Mitos Platónicos. Lisboa, Publicações Europa-América, 1993.
  • L. Sprague de Camp, Continentes Perdidos. Lisboa, Livros do Brasil, s/d
  • Bernard Suzanne, Plato and his dialogues [1]
  • W. Scott-Elliot, Atlântida e Lemúria, Continentes Desaparecidos. São Paulo: Pensamento, 1995
  • Annie Besant e C. W. Leadbeater, O Homem: donde e como veio, e para onde vai?. São Paulo: Pensamento, 1995.
  • Geoffrey Ashe, A Atlântida, Rio de Janeiro: Fernando Chinaglia, 1996.
  • Stephen E Franklin, "Alignment of Hebrew, Egyptian, and Assyrian Chronologies: The Origin and Solution of the Problem [2]
  • Frederick S. Oliver, A Dweller on Two Planets [3]
  • Historic Atlantis in Bolivia [4]
  • Atlantis, the Lost Continent Finally Found [5]
  • William Almeida de Carvalho, "Tsunami e Atlântida: Uma Revolução Moderna no Conhecimento da Atlântida" [6]
  • Chat com Arysio Nunes dos Santos [7]

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