sexta-feira, 8 de agosto de 2014

CARTA DE UM NOBEL DA PAZ A BARACK OBAMA - EM 2011



 

Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz 1980.

Carta de um Nobel da Paz a Barack Obama

Quando te outorgaram o Prêmio Nobel da Paz, do qual somos depositários, te enviei uma carta que dizia: “Barack, me surpreendeu muito que tenham te outorgado o Nobel da Paz, mas agora que o recebeu deve colocá-lo a serviço da paz entre os povos; tens toda a possibilidade de fazê-lo, de terminar as guerras e começar a reverter a situação que viveu teu país e o mundo”. No entanto, ao invés disso, você incrementou o ódio e traiu os princípios assumidos na campanha eleitoral frente ao teu povo, como terminar com as guerras no Afeganistão e no Iraque e fechar as prisões em Guantánamo e Abu Graib no Iraque. O artigo é de Adolfo Pérez Esquivel.

Adolfo Pérez Esquivel

Estimado Barack, ao dirigir-te esta carta o faço fraternalmente para, ao mesmo tempo, expressar-te a preocupação e indignação de ver como a destruição e a morte semeada em vários países, em nome da “liberdade e da democracia”, duas palavras prostituídas e esvaziadas de conteúdo, termina justificando o assassinato e é festejada como se tratasse de um acontecimento desportivo.

Indignação pela atitude de setores da população dos Estados Unidos, de chefes de Estado europeus e de outros países que saíram a apoiar o assassinato de Bin Laden, ordenado por teu governo e tua complacência em nome de uma suposta justiça. Não procuraram detê-lo e julgá-lo pelos crimes supostamente cometidos, o que gera maior dúvida: o objetivo foi assassiná-lo.

Os mortos não falam e o medo do justiçado, que poderia dizer coisas inconvenientes para os EUA, resultou no assassinato e na tentativa de assegurar que “morto o cão, terminou a raiva”, sem levar em conta que não fazem outra coisa que incrementá-la.

Quando te outorgaram o Prêmio Nobel da Paz, do qual somos depositários, te enviei uma carta que dizia: “Barack, me surpreendeu muito que tenham te outorgado o Nobel da Paz, mas agora que o recebeu deve colocá-lo a serviço da paz entre os povos; tens toda a possibilidade de fazê-lo, de terminar as guerras e começar a reverter a situação que viveu teu país e o mundo”.

No entanto, ao invés disso, você incrementou o ódio e traiu os princípios assumidos na campanha eleitoral frente ao teu povo, como terminar com as guerras no Afeganistão e no Iraque e fechar as prisões em Guantánamo e Abu Graib no Iraque. Não fez nada disso. Pelo contrário, decidiu começar outra guerra contra a Líbia, apoiada pela OTAM e por uma vergonhosa resolução das Nações Unidas. Esse alto organismo, apequenado e sem pensamento próprio, perdeu o rumo e está submetido às veleidades e interesses das potências dominantes.

A base fundacional da ONU é a defesa e promoção da paz e da dignidade entre os povos. Seu preâmbulo diz: “Nós os povos do mundo...”, hoje ausentes deste alto organismo.

Quero recordar um místico e mestre que tem uma grande influência em minha vida, o monge trapense da Abadia de Getsemani, em Kentucky, Tomás Merton, que diz: “a maior necessidade de nosso tempo é limpar a enorme massa de lixo mental e emocional que entope nossas mentes e converte toda vida política e social em uma enfermidade de massas. Sem essa limpeza doméstica não podemos começar a ver. E se não vemos não podemos pensar”.

Você era muito jovem, Barack, durante a guerra do Vietnã e talvez não lembre a luta do povo norte-americano para opor-se à guerra. Os mortos, feridos e mutilados no Vietnã até o dia de hoje sofrem as consequências dessa guerra.

Tomás Merton dizia, frente a um carimbo do Correio que acabava de chegar, “The U.S. Army, key to Peace” (O Exército dos EUA, chave da paz): “Nenhum exército é chave da paz. Nenhuma nação tem a chave de nada que não seja a guerra. O poder não tem nada a ver com paz. Quanto mais os homens aumentam o poder militar, mais violam e destroem a paz”.

Acompanhei e compartilhei com os veteranos da guerra do Vietnã, em particular Brian Wilson e seus companheiros que foram vítimas dessa guerra e de todas as guerras.

A vida tem esse não sei o quê do imprevisto e surpreendente fragrância e beleza que Deus nos deu para toda a humanidade e que devemos proteger para deixar às gerações futuras uma vida mais justa e fraterna, reestabelecendo o equilíbrio com a Mãe Terra.

Se não reagirmos para mudar a situação atual de soberba suicida que está arrastando os povos a abismos profundos onde morre a esperança, será difícil sair e ver a luz; a humanidade merece um destino melhor. Você sabe que a esperança é como o lótus que cresce no barro e floresce em todo seu esplendor mostrando sua beleza.



Leopoldo Marechal,
esse grande escritor argentino,
dizia que: “do labirinto, se sai por cima”.
E creio, Barack, que depois de seguir tua rota errando caminhos, você se encontra em um labirinto sem poder encontrar a saída e te enterra cada vez mais na violência, na incerteza, devorado pelo poder da dominação, arrastado pelas grandes corporações, pelo complexo industrial militar, e acredita ter todo o poder e que o mundo está aos pés dos EUA porque impõem a força das armas e invade países com total impunidade. É uma realidade dolorosa, mas também existe a resistência dos povos que não claudicam frente aos poderosos.

As atrocidades cometidas por teu país no mundo são tão grandes que dariam assunto para muita conversa. Isso é um desafio para os historiadores que deverão investigar e saber dos comportamentos, políticas, grandezas e mesquinharias que levaram os EUA á monocultura das mentes que não permite ver outras realidades.

A Bin Laden, suposto autor ideológico do ataque às torres gêmeas, o identificam como o Satã encarnado que aterrorizava o mundo e a propaganda do teu governo o apontava como “o eixo do mal”. Isso serviu de pretexto para declarar as guerras desejadas que o complexo industrial militar necessitava para vender seus produtos de morte.

Você sabe que investigadores do trágico 11 de setembro assinalam que o atentado teve muito de “auto golpe”, como o avião contra o Pentágono e o esvaziamento prévios de escritórios das torres; atentado que deu motivo para desatar a guerra contra o Iraque e o Afeganistão, argumentando com a mentira e a soberba do poder que estão fazendo isso para salvar o povo, em nome da “liberdade e defesa da democracia”, com o cinismo de dizer que a morte de mulheres e crianças são “danos colaterais”. Vivi isso no Iraque, em Bagdá, com os bombardeios na cidade, no hospital pediátrico e no refúgio de crianças que foram vítimas desses “danos colaterais”.

A palavra é esvaziada de valores e conteúdo, razão pela qual chamas o assassinato de “morte” e que, por fim, os EUA “mataram” Bin Laden. Não trato de justificá-lo sob nenhum conceito, sou contra todas as formas de terrorismo, desde a praticada por esses grupos armados até o terrorismo de Estado que o teu país exerce em diversas partes do mundo apoiando ditadores, impondo bases militares e intervenção armada, exercendo a violência para manter-se pelo terror no eixo do poder mundial. Há um só eixo do mal? Como o chamarias?



Será que é por esse motivo que o povo dos EUA vive com tanto medo de represálias daqueles que chamam de “eixo do mal”? É simplismo e hipocrisia querer justificar o injustificável.

A Paz é uma dinâmica de vida nas relações entre as pessoas e os povos; é um desafio à consciência da humanidade, seu caminho é trabalhoso, cotidiano e portador de esperança, onde os povos são construtores de sua própria vida e de sua própria história. A Paz não é dada de presente, ela se constrói e isso é o que te falta meu caro, coragem para assumir a responsabilidade histórica com teu povo e a humanidade.

Não podes viver no labirinto do medo e da dominação daqueles que governam os EUA, desconhecendo os tratados internacionais, os pactos e protocolos, de governos que assinam, mas não ratificam nada e não cumprem nenhum dos acordos, mas pretendem falar em nome da liberdade e do direito. Como pode falar de Paz se não quer assumir nenhum compromisso, a não ser com os interesses de teu país?


Como pode falar da liberdade quanto tem na prisão pessoas inocentes em Guantánamo, nos EUA e nas prisões do Iraque, como a de Abu Graib e do Afeganistão?

Como pode falar de direitos humanos e da dignidade dos povos quando viola ambos permanentemente e bloqueia quem não compartilha tua ideologia, obrigando-o a suportar teus abusos?

Como pode enviar forças militares ao Haiti, depois do terremoto devastador, e não ajuda humanitária a esse povo sofrido?

Como pode falar de liberdade quando massacra povos no Oriente Médio e propaga guerras e tortura, em conflitos intermináveis que sangram palestinos e israelenses?

Barack, olha para cima de teu labirinto e poderá encontrar a estrela para te guiar, ainda que saiba que nunca poderá alcançá-la, como bem diz Eduardo Galeano. Busca a coerência entre o que diz e faz, essa é a única forma de não perder o rumo. É um desafio da vida.



O Nobel da Paz 
é um instrumento ao serviço dos povos,
 nunca para a vaidade pessoal.
Te desejo muita força e esperança e esperamos que tenha a coragem de corrigir o caminho e encontrar a sabedoria da Paz.

 
Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz 1980.
Buenos Aires, 5 de maio de 2011  

 Firma Pérez Esquivel.PNG

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Adolfo Pérez Esquivel Medalha Nobel
Adolfo perez esquivel clarin.jpg

Nacionalidade Argentina Argentino

Nascimento 26 de novembro de 1931 (82 anos)
Local Buenos Aires


Prêmio(s) Nobel prize medal.svg Nobel da Paz (1980) - Assinatura

 Firma Pérez Esquivel.PNG


Adolfo Pérez Esquivel (Buenos Aires, 26 de novembro de 1931 - 82 anos) é um arquiteto, escultor e ativista de direitos humanos argentino, agraciado com o Nobel da Paz de 1980.

Em 1974 na cidade de Medellin, na Colômbia, Adolfo Pérez Esquivel coordenou a fundação do Servicio Paz y Justicia en América Latina (SERPAJ-AL), junto com vário bispos, teólogos, militantes, líderes comunitários e sindicalistas.

O SERPAJ-AL se dedicou a defender os Direitos Humanos no continente e a difundir a Não-Violência Ativa como instrumento de transformação da realidade e de enfrentamento dos crimes de tortura e desaparecimento forçado de militantes políticos e agentes comunitários e pastorais, praticados pelas Ditaduras Militares que haviam se instalado por toda a América Latina, com o apoio dos Estados Unidos que viviam então o auge da Guerra Fria com a União Soviética.

Por essa atividade Adolfo Pérez Esquivel recebeu o Nobel da Paz de 1980. Escultor, estudou arquitectura na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade Nacional de La Plata. A partir de 1968, dedicou sua vida a propagar a não violência e defender os direitos humanos: fundou o Jornal Paz e Justiça em 1973, e a partir de 1974 se tornou seu secretário. A publicação se tornou a voz do movimento pacifista na América Latina.

Entre 1977 e 1979, foi preso por questões políticas. Durante esta reclusão recebeu o Prêmio Memorial de Paz Juan XXIII, entregue pela Organização Pax Christi Internacional.

É membro do Comité da patrocínio da Coordenação internacional para o Decênio da cultura da não-violência e da paz. Esquivel é também o Presidente da Academia de Ciências Ambientais de Veneza na Itália, por iniciativa desta academia, juntamente com outros Prêmios Nobeis da Paz, entre eles: o Dalai Lama, Desmond Tutu,Shirin Ebadi, Rigoberta Menchu Tum, Married Corrigan, Beth Wiliams e outros está liderando uma campanha mundial pela criação de uma corte internacional para julgar os crimes ambientais de grande monta. A campanha foi lançada na cidade de Roma em junho de 2009, oficializada em setembro em Veneza para o contimente euopeu, e no dia 19/11/2009 no Memorial da América Latina em São Paulo - Brasil para o continente latinoamericano.

Como um grande amigo da organização "Fundação Vida Para Todos - ABAI" em Mandirituba - PR (sul do Brasil), e a sua fundadora, a Suíça Marianne Spiller, Adolfo Pérez Esquivel, em 2010, participou no evento do 30 º aniversário da obra.1 Ele offereceu-lhe um quadro pintado por ele mesmo, que mostra a Mãe Terra - simbolizando e sugerindo a dimensão eco-espiritual, que é um aspeto fundamental do trabalho da "Fundação Vida Para Todos – ABAI”. Esta aproveita do apoio ideológico e financeiro da Associação Suíça de "ABAI Freunde - Vida Para Todos".

Ligações externas

  • Perfil no sítio oficial do Nobel da Paz 1980 (em inglês)
  • The Nobel Peace Official Website 2006, made by Juan Varni (em inglês)
  • Fundação Vida Para Todos (em português)
  • Marianne Spiller Hadorn (em espanhol)
  • quadro da Mãe Terra, pintado por Adolfo Pérez Esquivel (em alemão)
  • ABAI Freunde - Vida Para Todos (em alemão)
  •  

    Para Nobel da Paz argentino, 

    ricos estão de olho em recursos latinoamericanos

    Adolfo Perez Esquivel

    Esquivel disse que a disputa não é ideológica mas econômica

    A exploração britânica de petróleo nas Ilhas Malvinas confirma o "interesse das grandes potências pelos recursos naturais" dos países da América Latina, segundo disse à BBC Brasil o Prêmio Nobel da Paz de 1980, o ativista argentino Adolfo Perez Esquivel.
     
    "As grandes potências têm interesse nos nossos recursos naturais. E não só pelo petróleo, mas também pela água, minerais e pela Amazônia", disse.

    Segundo ele, a instalação de uma plataforma petroleira no arquipélago do Atlântico Sul é "uma ameaça à Argentina e aos seus recursos naturais" que, em sua avaliação, pertencem aos povos locais.

    Malvinas
    Perez Esquivel afirmou ainda que as grandes potências estão de olho nos recursos naturais da região porque já não contariam com estas reservas em seus territórios.

    "Por quê os Estados Unidos instalaram sete bases militares Colômbia, por quê estão presentes na Tríplice Fronteira e por que a Amazônia aparece como sendo dos americanos em documentos dos Estados Unidos?", pergunta ele.

    "Eles têm interesse nos nossos recursos naturais porque os deles, dos americanos, dos europeus e canadenses já estão esgotados", disse o Prêmio Nobel.

    Perez Esquivel apoiou a "unidade latino-americana", anunciada durante reunião do Grupo do Rio, esta semana, frente a "esta grave situação das Malvinas".

    Ele disse estar "preocupado" com o desenrolar desta nova escalada na disputa entre Argentina e Grã Bretanha pelas Ilhas Malvinas, que acredita na via diplomática para uma solução, mas sugeriu que as Nações Unidas não resolveriam o embate entre os dois países.

    "Essa conversa da Argentina com as Nações Unidas é necessária mas o organismo deveria ser reformulado urgentemente. Hoje, somente um pequeno grupo, entre eles Grã Bretanha, tem direito a veto apesar de o organismo ter começado com 49 países (em 1945) e hoje eles serem 192, no total", disse.

    Segundo Esquivel, este não é um debate "ideológico", mas "econômico".
    Na sua opinião, os países da América Latina devem ter "uma voz unificada" na defesa dos recursos naturais.

    "Ou os países da América Latina se unem ou ela será recolonizada".

Fonte
 Carta Maior
08/05/2011 | Copyleft 
 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/02/100224_nobel_aregntino_rc.shtml
 Sejam felizes todos os seres  Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres.

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