sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

HEITOR VILLA-LOBOS




Sim, sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música eu deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil. Eu não ponho mordaça na exuberância tropical de nossas florestas e dos nossos céus, que eu transponho instintivamente para tudo que escrevo".                                                   Heitor Villa-Lobos

onsiderado, ainda em vida, o maior compositor das Américas, Heitor Villa-Lobos compôs cerca de 1.000 obras e sua importância reside, entre outros aspectos, no fato de ter reformulado o conceito brasileiro de nacionalismo musical, tornando-se seu maior expoente. Foi, também, através de Villa-Lobos, que a música brasileira se fez representar em outros países, culminando por se universalizar.

Infância
  ilho da dona-de-casa Noêmia Villa-Lobos e do funcionário da Biblioteca Nacional e músico amador Raul Villa-Lobos, Heitor Villa-Lobos nasce a 5 de março de 1887, no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro.

Além da cidade do Rio de Janeiro, Villa-Lobos reside com a família em cidades do interior do estado do Rio de Janeiro (Sapucaia) e de Minas Gerais (Cataguazes e Bicas) durante os anos de 1892-1893. Nessas viagens, conhece as modas caipiras e os tocadores de viola, que formam parte do folclore musical brasileiro e que, mais tarde, vem a universalizar-se em suas obras.
Ao retornarem ao Rio de Janeiro, os Villa-Lobos transformam sua casa num ponto de encontro de nomes respeitados da época, que ali se reúnem, todos os sábados, para tocar até altas horas da madrugada. Esse hábito, que dura anos, influi decisivamente na formação musical de Villa-Lobos que, logo cedo, inicia-se na música.

A partir dos seis anos de idade, aprende, com o pai, a tocar clarinete e violoncelo (este último em uma viola especialmente adaptada). Raul Villa-Lobos ainda lhe obriga a exigentes exercícios de percepção musical que incluem o reconhecimento de gênero, estilo, caráter e origem de músicas, de notas musicais e ruídos.

Foi também nessa época, e graças à sua tia Fifina (que lhe apresenta os prelúdios e fugas do "Cravo Bem Temperado"), que Tuhú (seu apelido de infância) fascina-se pela obra de Johann Sebastian Bach, compositor que acaba por servir-lhe de fonte de inspiração para a criação de um de seus mais importantes ciclos, o das nove "Bachianas Brasileiras".


Maioridade Artística
ano de 1915 marca o início da apresentação oficial de Villa-Lobos como compositor, com uma série de concertos no Rio de Janeiro. Na época, casado com a pianista Lucília Guimarães, ganha a vida tocando violoncelo nas orquestras dos teatros e cinemas cariocas, ao mesmo tempo em que escreve suas obras. Os jornais publicam críticas contra a modernidade de sua música. Anos mais tarde, o compositor faz questão de explicar: "Não escrevo dissonante para ser moderno. De maneira nenhuma.

 O que escrevo é conseqüência cósmica dos estudos que fiz, da síntese a que cheguei para espelhar uma natureza como a do Brasil. Quando procurei formar a minha cultura, guiado pelo meu próprio instinto e tirocínio, verifiquei que só poderia chegar a uma conclusão de saber consciente, pesquisando, estudando obras que, à primeira vista, nada tinham de musicais. Assim, o meu primeiro livro foi o mapa do Brasil, o Brasil que eu palmilhei, cidade por cidade, estado por estado, floresta por floresta, perscrutando a alma de uma terra. Depois, o caráter dos homens dessa terra. Depois, as maravilhas naturais dessa terra. Prossegui, confrontando esses meus estudos com obras estrangeiras, e procurei um ponto de apoio para firmar o personalismo e a inalterabilidade das minhas idéias". 

 Educador
illa-Lobos preocupa-se com o descaso com que a música é tratada nas escolas brasileiras e acaba por apresentar um revolucionário plano de Educação Musical à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. A aprovação do seu projeto leva-o a mudar-se definitivamente para o Brasil. 

Em 1931, reunindo representações de todas as classes sociais paulistas, organiza uma concentração orfeônica chamada "Exortação Cívica", com a participação de cerca de 12 mil vozes.
Após dois anos de trabalho em São Paulo, Villa-Lobos foi convidado oficialmente por Anísio Teixeira, então Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro, para organizar e dirigir a Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA), que introduz o ensino da música e do canto coral nas escolas.

Como conseqüência do seu trabalho educativo, embarca para a Europa, em 1936, como representante do Brasil no Congresso de Educação Musical em Praga.

De retorno ao Brasil, ainda em 1936, une-se à sua secretária, Arminda Neves d'Almeida.
Com o apoio do então presidente da República, Getúlio Vargas, organiza concentrações orfeônicas grandiosas que chegam a reunir, sob sua regência, até 40 mil escolares, e, em 1942, cria o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, cujos objetivos são: formar candidatos ao magistério orfeônico nas escolas primárias e secundárias; estudar e elaborar diretrizes para o ensino do canto orfeônico no Brasil; promover trabalhos de musicologia brasileira; realizar gravações de discos etc. 


Contato com Chorões
o voltar ao Rio de Janeiro, a música praticada nas ruas e praças da cidade também passa a exercer sobre ele um atrativo especial. É o "choro", composto e executado pelos "chorões", músicos que se reunem regularmente para tocar por prazer e, ainda, em festas e durante o carnaval. Tal interesse leva-o a estudar violão escondido de seus pais, que não aprovam sua aproximação com os autores daquele gênero, considerados marginais. No início dos anos 20, como conseqüência desse envolvimento com o choro, começa a compor um ciclo de quatorze obras, para as mais diversas formações, intitulado "Choros"; nasce aí uma nova forma musical, onde aquela música urbana se mescla a modernas técnicas de composição.

 " MEU PRIMEIRO LIVRO FOI O MAPA DO BRASIL"

Sensual, cândido e lutador Villa-Lobos é uma personalidade deveras paradoxal, não para épater ou por cálculo, mas por exuberância vital, escapando a tudo que limite e seja afectado. Bon vivant, fumador de charutos baianos, amigo infantil das crianças, a sua obra criadora, a despeito de uns e de outros, imporá a sua verdade: "Quando procurei formar a minha cultura, guiado pelo meu próprio instinto e tirocínio, verifiquei que só poderia chegar a uma conclusão de saber consciente, pesquisando, estudando obras que, à primeira vista, nada tinham de musicais. Assim, o meu primeiro livro foi o mapa do Brasil (...)"

Em 1930 regressa ao Brasil. Revolução em São Paulo! O democrata Júlio Prestes é governador do Estado de S. Paulo e candidato à presidência da República. Getúlio Vargas sobe ao poder. Em 37 será ele o ditador.

O plano de Educação Musical de Villa-Lobos é por todos conhecido. Dois anos de esforço para implantar o seu programa educacional nas escolas paulistas.

A sua admiração por Bach manifesta-se nas suas Bachianas Brasileiras (escritas entre 30 e 45). Aqui a sua inspiração essencialmente brasileira adapta-se às formas clássicas e à escrita contrapontista. Como escreve Lopes-Graça: "Autodidacta por rebeldia de temperamento, artista intuitivo que forja os seus próprios instrumentos de expressão, descobridor das potencialidade estéticas do folclore(...)"

Em 1932 volta para o Rio e é nomeado Superintendente de Educação Musical e Artística para o Estado do Rio. Leva a cabo uma notável obra pedagógica que dá origem em 1942 à fundação do Conservatório Nacional de Canto Orfeónico. Concentra toda a energia na criação de coros nas escolas: o meio mais económico de fazer boa música e também o pano de fundo para a obra de "construção nacional".

O seu método pedagógico permite às crianças gritar, bater palmas e bater com os pés durante os ensaios. Trabalha duramente. Cria cursos de aperfeiçoamento para professores do canto coral. Segundo as necessidades dos vários coros ele próprio harmoniza e a compõe peças corais: Canto do Pajé e canções inspiradas no folclore, organizadas no "Guia Prático".

Consegue reunir 40 000 cantores num concerto no estádio de futebol do clube Vasco da Gama. Mobiliza um verdadeiro exército de auxiliares entusiasmados. Conta Vieira Brandão: "o que a nós, seus colaboradores directos, entusiasmava, era a constatação de que o Maestro além das preocupações com o programa e com os ensaios prévios nas escolas, tinha um poder de organização fabuloso, não omitindo um só detalhe na elaboração do plano".


"ERA A FÚRIA ORGANIZANDO-SE EM RITMO"
Em Novembro de 1944, a convite do maestro Werner Janssen, vai pela primeira vez aos Estados Unidos. No ano seguinte a sinfónica de Boston promove um concerto só com obras suas. Estão presentes grandes nomes da música: Artur Toscanini, Claudio Arrau, Duke Ellington, Cole Porter, entre outros. Alternadamente, fará digressões a Nova Iorque e a Paris. Funda e preside à Academia de Música Brasileira. Dedicação total à paixão beethoveniana de compor para quarteto de cordas.

Em 1948 a sua saúde corre graves ricos. Tem de ir aos Estados Unidos, desta vez para se submeter a uma intervenção cirúrgica para conter um cancro na bexiga.

Em 1954 visita Israel.

No ano seguinte vai mais uma vez a Paris, dirige a Orquestra Nacional com um programa totalmente preenchido com obras suas. O crítico do jornal Le Monde, René Dumesnil escreve: "Um concerto de Villa-Lobos é sempre algo de saboroso, explosivo e poderoso (...)".

Mora agora na rua Araújo Porto Alegre, no centro da cidade.

Morre a 17 de Novembro.

O poeta Carlos Drummond de Andrade lembra comovido: "Quem o viu um dia comandando o coro de 40 000 mil vozes adolescentes, no estádio do Vasco da Gama, não pode esquecê-lo nunca. Era a fúria organizando-se em ritmo, tornando-se melodia e criando a comunhão mais generosa, ardente e purificadora que seria possível conceber.

 
Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
 

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