'GUERRA E PAZ'
de Portinari retornam ao Brasil
:
Uma das obras mais importantes do pintor Candido Portinari
volta ao país de origem, após 53 anos de exibição
na sede das Nações Unidas;
os paineis devem fazer um giro pelo mundo
antes de voltar a Nova York em 2013.
Uma das obras mais importantes do pintor Candido Portinari
Leda Letra e Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU em Nova York.
Um grupo de técnicos e especialistas em remoção de obras de arte concluiu, nesta semana, em Nova York, a retirada de uma das pinturas mais importantes da sede da ONU: os paineis "Guerra e Paz", de Candido Portinari.
A obra, um presente do governo brasileiro à ONU, chegou ao hall da Assembleia Geral em 1957. A colocação estratégica dos paineis, na entrada do prédio, obedecia também a uma ordem simbólica. O "Guerra" era apreciado por quem entrava, e o "Paz" por quem deixava as Nações Unidas, como num gesto de disseminação da paz em todo o mundo.
Empréstimo
Por terem ficado 53 anos expostos na ONU, "Guerra e Paz" jamais foram vistos pelo público brasileiro em seu próprio país. Salvo à exceção da inauguração dos paineis em 1956, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com a presença do presidente Juscelino Kubitschek. O diretor-geral do Projeto Portinari, João Candido Portinari, único filho do pintor, explicou à Rádio ONU como nasceu a ideia de fazer o empréstimo para que a obra voltasse ao Brasil.
"Esse é um velho sonho nosso. Quando os paineis estavam para serem embarcados para os Estados Unidos, em 1956, houve um clamor no Brasil para que fosse dada uma chance ao público brasileiro de vê-los pela primeira e derradeira vez.
Ninguém imaginava que algum dia eles pudessem voltar ao Brasil e nós sempre sonhamos com isso. E esse sonho começou a ficar possível quando eu tomei conhecimento dessa grande reforma pela qual a ONU está passando. Naquela ocasião, surgiu a ideia de que, devido à reforma, nós pudéssemos pedir emprestados os paineis durante esse período . O Presidente Lula pediu então ao ministro Celso Amorim que solicitasse formalmente à ONU que fosse feito o empréstimo", explicou.
Show de Balé
Em dezembro, "Guerra e Paz" serão expostos de novo no Theatro Municipal do Rio, em meio a um show de balé, música clássica e com a presença de artistas brasileiros.
"Nós pensamos em fazer um grande momento: colocar os paineis no palco, como foi feito há 53 anos e diferentemente daquela ocasião, dessa vez nós vamos ter música e balé em frente aos paineis. Tem um balé lindíssimo, criado agora pelo coreógrafo americano David Parsons, que fez um pas de deux inspirado no 'Guerra e Paz', lindíssimo, comovente. Nós estamos pensando em apresentar a 9ª Sinfonia de Bethooven, que é uma exaltação à alegria e à paz, e também o Réquiem da Guerra, de Benjamin Britten. Convidamos Fernanda Montenegro para fazer toda a apresentação do espetáculo, para ler poesias e falar da história de 'Guerra e Paz.'
Vamos ter ainda uma surpresa emocionante: a presença de Milton Nascimento, cantando as novas canções que ele está compondo, inspiradas nos paineis", detalhou Portinari.
Horário de Trabalho
Após o evento, será a vez de restaurar os paineis. Durante os 53 anos de exposição nas Nações Unidas, a obra jamais passou por retoques, como explica o filho de Portinari.
"Estamos montando um atelier de restauro no Palácio Gustavo Capanema e será um atelier aberto ao público, que poderá acompanhar o restauro. Vamos montar uma oficina de restauro, em parceria com o Senai.
A restauração vai durar quatro meses", disse.
A restauração vai durar quatro meses", disse.
A retirada de Nova York obedeceu a um programa rigoroso. Uma das maiores preocupações era quantidade de poeira que a desmontagem provocaria, como contou à Rádio ONU, Ana Viegas, do Plano de Renovação das Nações Unidas.
A técnica explicou que a retirada foi feita fora do horário normal de trabalho. Segundo ela, a remoção também era barulhenta, e a ONU queria evitar incomodar as delegações que passam pelo local durante todo o dia. Além disso, a poeira também poderia fazer mal à saúde de pessoas sem os equipamentos de proteção.
Pintor de Brodowski
Os paineis "Guerra e Paz" têm 14 m de altura por 10 m de largura cada. A obra é pesada. Cada um é formado por 14 pedaços e tem em média 2,2 m de altura por 5 m de largura. A produção talvez tenha sido uma das mais difíceis, do ponto de vista da logística, para o pintor de Brodowski.
"A primeira dificuldade foi que ficou claro seria impossível pintar em uma peça só. Foi decidido que ele faria em pedaços de 5m de largura por 2,2m de altura. Então cada painel é formado 14 destes pedaços. O Assis Chateaubriand ofereceu um galpão, que era um velho estúdio de televisão, TV Tupi em Botafogo.
Eu me lembro muito bem. Uma coisa emocionante. Foi um trabalho muito intenso e muito dramático também porque ele estava proibido de pintar quando recebeu a incumbência de fazer o 'Guerra e Paz'. Ele estava sofrendo um processo de envenenamento pelo chumbo contido nas tintas. Neste momento ele viu a maior oportunidade da vida dele de passar a mensagem de paz. E aí ele pegou os mesmos pinceis, as mesmas tintas, desobedecendo as recomendações médicas e realmente foi o último grande trabalho que ele fez. A doença se agravou e ele veio a falecer alguns anos depois", disse.
Momento Triste
Ao pintar "Guerra e Paz", Portinari, talvez sem saber, estava produzindo uma obra com um dos maiores significados políticos de todos os tempos. Alguns analistas veem semelhanças semânticas com "Guernica", de Pablo Picasso. Foi também por causa da configuração política dos anos da Guerra Fria, que Candido Portinari se viu impedido de comparecer à inauguração, em Nova York. Um momento triste para o pintor, como recorda João Candido Portinari.
"Infelizmente, ele não pode estar. Ele nunca viu os painéis aqui na ONU. Porque nós estávamos em plena Guerra Fria e ele sendo um artista de esquerda, não recebeu o visto das autoridades americanas. Eu tenho até uma carta da Rosinha Leão, que trabalhava com meu pai. Ela escreveu ao Embaixador Ricúpero, que perguntava a ela como foi a inauguração. E colocou no título da carta: "A inauguração que não houve". E contava que não foram emitidos convites, não havia jornalistas, não havia outros artistas, havia somente o pessoal da ONU e os diplomatas brasileiros que estavam muito envolvidos neste processo", disse.
Aberto ao Público
Após ser restaurado no Rio de Janeiro em estúdio aberto ao público, "Guerra e Paz" devem rodar o mundo. Planos, ainda não confirmados, sugerem que a obra passará por Hiroshima, Paris e por Oslo, na cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz.
Durante o restauro, jovens talentos serão encorajados a pintar em frente aos paineis. A iniciativa é parte de um dos esforços do Projeto Portinari de manter a pintura na mente de todos, e de incentivar crianças brasileiras a se tornarem "Pequenos Portinaris".
Créditos:
Reportagem e Produção: Leda Letra
Composição "O Menino de Brodowski" e Violões: Norberto Macedo
Apresentação: Mônica Villela Grayley
Direção Técnica: Carlos Macías
Fonte:
ONU
ONU
RÁDIO DAS NAÇÕES UNIDAS
http://www.unmultimedia.org/radio/portuguese/detail/187956.html
Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
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