quinta-feira, 19 de junho de 2014

SOLENIDADE CORPUS CHRISTI



 Corpus Christi - 2min.


Mais do que a Encarnação ou a morte na Cruz,
o amor de Deus para com os homens manifestado na Eucaristia
ultrapassa nossa capacidade de compreensão.
                    
            
  A Igreja celebra Corpus Christi (Corpo de Deus) como festa de contemplação, adoração e exaltação, onde os fiéis se unem  em torno de sua herança mais preciosa deixada por Cristo, o Sacramento da sua própria presença.  
 
                                  A solenidade do Corpo de Deus remonta o século XII,  quando foi instituída pelo Papa Urbano IV em 1264, através da bula “Transiturus”, que prescreveu esta solenidade  para toda a Igreja Universal. 

                                  A origem da festa deu-se por um fato extraordinário ocorrido ao ano de 1247, na Diocese  de Liége – Bélgica.  Santa Juliana  de Cornillon, uma monja agostiniana, teve consecutivas visões de um astro semelhante à lua, totalmente brilhante, porém com uma incisão escura. O próprio Jesus Cristo a ela revelou que a  lua significava a  Igreja,  a  sua claridade  as festas e, a mancha,  sinal da  ausência de uma data dedicada ao Corpo de Cristo.  Santa Juliana levou o caso ao bispo local que,  em 1258, acabou instituindo  a festa em sua Diocese.
                                 

 O fato, na época,  havia sido  levado também ao conhecimento do bispo Jacques de Pantaleón que, quase  duas décadas  mais tarde, viria  a  ser eleito Papa (Urbano IV), ou seja,  ele próprio viria a estender a solenidade  a toda a Igreja Universal. O fator, que deflagrou a decisão do Papa, e que viria  como que a confirmar a  antiga visão de Santa Juliana,   deu-se por um grande  milagre ocorrido no segundo ano de seu pontificado: 

O milagre eucarístico de Bolsena, no Lácio, onde um sacerdote tcheco, Padre Pietro de Praga,   colocando dúvidas na presença real de Cristo na Eucaristia durante a  celebração da santa Missa,  viu brotar sangue da hóstia consagrada. (Semelhante ao milagre de Lanciano, ocorrido no início do Século VIII).   O fato foi levado ao Papa Urbano IV, que encarregou o bispo de Orvietro a  levar-lhe as  alfaias  litúrgicas  embebidas com o Sangue de Cristo. Instituída para toda a Igreja, desde então, a data foi marcada por concentrações, procissões e outras práticas religiosas, de acordo com o modo de ser e de viver de cada país, de cada  localidade.

                                  No Brasil, a festa foi instituída em 1961. A tradição de enfeitar as ruas com tapetes ornamentados originou-se em Ouro Preto, Minas Gerais e a prática foi adotada em diversas dioceses do território nacional. A celebração de Corpus Christi consta da santa missa, da procissão e da adoração do Santíssimo. Lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento, esse povo foi alimentado com o maná no deserto e hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de Cristo. Durante a missa, o celebrante consagra duas hóstias, sendo uma consumida e a outra apresentada aos fiéis para adoração, como sinal da presença de Cristo vivo no coração de sua Igreja.  

 
 
 Cristo
Leonardo da Vinci 
c.1495 
 

Reflexões
Os católicos tem plena convicção da presença real de Cristo na Eucaristia. Jesus está verdadeiramente presente, de dia e de noite, em todos os Sacrários do mundo inteiro. Contudo, nos parece que esta certeza já não reside com tanta intensidade no coração do homem moderno. O maior Tesouro que existe sobre a terra, "que possui o valor do próprio Deus", a Eucaristia, Cristo a deixou para os homens .... de graça!   Se mesmo na condição de pecadores, assombramo-nos com o descaso a tão valioso Sacramento, impossível assimilar o sentimento de Deus ante a  indiferença dos homens com a Eucaristia.   

Ao contrário do que se imagina,  a Igreja está mais preocupada em pregar e difundir a Sã Doutrina, do que com o número de ovelhas em seu aprisco. A Igreja não trabalha baseada em dados estatísticos, mas com a difusão do Evangelho.  Nesse sentido, lembremos que houve debandada geral da turba quando Jesus revelou publicamente: 

"Minha carne é verdadeiramente comida e meu Sangue,
 verdadeiramente bebida".  
Ao ouvir isto, o povo escandalizado deu as costas à Jesus;  todos evadiram-se, restando apenas doze. Jesus não deu maiores explicações, nem correu atrás da multidão desolada, pelo contrário,  simplesmente perguntou aos doze: 

"Quereis vós também retirar-vos?".  

No que São  Pedro respondeu: "A quem iríamos nós, Senhor?  Só Tu  tens palavras de vida eterna" (Cf. Jo 6, 52 - 68).   Portanto, é absolutamente claro que:

  "Jesus não depende das multidões,
 as multidões é que dependem d'Ele",

 assim como 

"A Igreja de Cristo não depende dos fiéis,
 os fiéis é que dependem dela para chegarem a Cristo"  
(Livro Oriente)

Ao aproximarmo-nos do Santo Sacrário, tenhamos a confiança de dizer "Meu Senhor e meu Deus", certos de que Ele está ali, Vivo, Real e Verdadeiro a  ouvir nossas  preces e  a contemplar nossa fé.  E esta fé, é uma formidável bem-aventurança que recebemos de Jesus,  por intermédio das dúvidas levantadas por São Tomé, a quem o Mestre disse:

 "Creste, porque me viste.
 Felizes aqueles que crêem sem ter visto!"   
(Jo 21, 29)
"Eu creio, Senhor, mas aumentai a minha fé"
A Eucaristia passa a ser o centro da vida cristã
A partir desse momento, a devoção eucarística desabrochou com maior vigor entre os fiéis: os hinos e antífonas compostos por São Tomás de Aquino para a ocasião - entre os quais o Lauda Sion, verdadeiro compêndio da teologia do Santíssimo Sacramento, chamado por alguns o credo da Eucaristia - passaram a ocupar lugar de destaque dentro do tesouro litúrgico da Igreja.
No transcurso dos séculos, sob o sopro do Espírito Santo, a piedade popular e a sabedoria do Magistério infalível aliaram-se na constituição dos costumes, usos, privilégios e honras que hoje acompanham o Serviço do Altar, formando uma rica tradição eucarística.
Ainda no século XIII, surgiram as grandes procissões conduzindo o Santíssimo Sacramento pelas ruas, primeiro dentro de uma âmbula coberta, e mais tarde exposto no ostensório. Também neste ponto o fervor e o senso artístico das várias nações esmeraram-se na elaboração de custódias que rivalizavam em beleza e esplendor, na confecção de ornamentos apropriados e na colocação de imensos tapetes florais ao longo do caminho a ser percorrido pelo cortejo.
Os Papas Martinho V (1417-1431) e Eugênio IV (1431-1447) concederam generosas indulgências a quem participasse das procissões. Mais tarde, o Concílio de Trento - no seu Decreto sobre a Eucaristia, de 1551 - sublinharia o valor dessas demonstrações de Fé: "O santo Sínodo declara que é piedoso e religioso o costume, introduzido na Igreja de Deus, de celebrar todos os anos com singular veneração e solenidade, em dia festivo e peculiar, este excelso e venerável Sacramento, levando-O em procissões por vias e locais públicos com reverência e honra".1
O amor eucarístico do povo fiel não se restringiu, porém, a manifestações externas; pelo contrário, elas eram a expressão de um sentimento profundo posto pelo Espírito Santo nas almas, no sentido de valorizar o precioso dom da presença sacramental de Jesus entre os homens, conforme Suas próprias palavras: "Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28, 20). O mistério de amor de um Deus que não só Se fez semelhante a nós para resgatar-nos da morte do pecado, mas quis, num extremo de ternura, permanecer entre os Seus, ouvindo seus pedidos e fortalecendo- os em suas tribulações, passou a ser o centro da vida cristã, o alimento dos fortes, a paixão dos santos.



"Ao levar a Eucaristia pelas ruas e praças, queremos
submergir o Pão descido do céu no cotidiano de
nossa vida; queremos que, Jesus caminhe onde nós
caminhamos, que viva onde vivemos" (Bento XVI)

São Pedro Julião Eymard, ardoroso devoto e apóstolo da Eucaristia, exprimiu em termos cheios de unção esta celestial "loucura" do Salvador ao permanecer como Sacramento de vida para nós:
"Compreende-se que o Filho de Deus, levado por Seu amor ao homem, tenha-Se feito homem como ele, pois era natural que o Criador tivesse interesse na reparação da obra saída de Suas mãos. Que, por um excesso de amor, o Homem-Deus morresse sobre a Cruz, compreende-se também. Mas o que já não se compreende, aquilo que espanta os débeis na Fé e escandaliza os incrédulos, é que Jesus Cristo glorioso e triunfante, depois de ter terminado Sua missão na terra, queira ainda permanecer conosco, num estado mais humilhante e aniquilado do que em Belém e no Calvário".2

"Desejei ardentemente comer convosco esta Páscoa"
A Eucaristia é o maior e o mais sublime de todos os Sacramentos. Embora o Batismo, sob certo ponto de vista, mereça o primeiro lugar por nos introduzir na vida divina, tornando- nos filhos de Deus e participantes de Sua natureza, a Eucaristia supera- o quanto à substância, pois tratase do verdadeiro Corpo, Sangue Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O próprio momento e as circunstâncias solenes em que foi instituído indicam sua importância e a veneração que Cristo queria infundir nas almas de seus discípulos por este admirável Sacramento. Para isto reservou Ele as últimas horas que Lhe restavam de convívio com os Apóstolos antes de caminhar para a morte, pois "as últimas ações e palavras que fazem e dizem os amigos no momento de se separar, gravam- se mais profundamente na memória e imprimem-se mais fortemente na alma".3
Naqueles instantes - poder-se-ia afirmar - Seu adorável Coração pulsava com santa pressa de realizar, no tempo, aquilo que desde toda a eternidade contemplara em Sua ciência divina. Suas palavras

"desejei ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer"
(Lc 22, 15), 

deixam transparecer claramente os inefáveis anseios de amor do Deus Encarnado por todos os homens, a "multidão de irmãos" (Rm 8, 29), pelos quais iria oferecer-Se naquela mesma noite.
O desejo do Divino Mestre era de que o mistério de Seu Corpo e Sangue se perpetuasse pelos séculos futuros: "Fazei isto em memória de Mim" (Lc 22, 19). Entretanto, devemos considerar que já bem antes da Encarnação havia a Divina Providência multiplicado os símbolos e as figuras que permitiriam aos homens melhor compreender e amar este Sacramento.
A este respeito, diz São Tomás de Aquino:

"Este Sacramento é especialmente um memorial da Paixão de Cristo;
 e convinha que a Paixão de Cristo, pela qual Ele nos redimiu, 
fosse prefigurada para que a Fé dos antigos se encaminhasse ao Redentor".4

Melquisedec: símbolo e prenúncio do Supremo Sacerdote
Um dos sinais mais remotos da Eucaristia aparece no capítulo 14 do Gênesis, naquele personagem fascinante e misterioso que saiu ao encontro de Abraão quando este voltava de sua vitória contra os reis, e o abençoou, oferecendo pão e vinho.

Melquisedec, 
"rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo
(Gn 14, 18), 
reunia em si as glórias da realeza, 
a santidade sacerdotal e o carisma profético.

Ele é bem o símbolo dAquele que mais tarde proclamaria diante de Pilatos: "Eu sou Rei" (Jo 18, 37) e a propósito do qual todos comentavam: "um grande profeta surgiu entre nós" (Lc 7, 16). Mas naquilo em que Melquisedec mostrou-se mais plenamente imagem de Cristo, foi na posse de um sacerdócio superior ao de Aarão, como está escrito na Carta aos Hebreus: "Se a perfeição tivesse sido realizada pelo sacerdócio levítico, [...] que necessidade havia ainda de que surgisse outro sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, e não segundo a ordem de Aarão? Isto se torna ainda mais evidente se se tem em conta que este outro sacerdote, que surge à semelhança de Melquisedec, foi constituído não por prescrição de uma lei humana, mas pela sua imortalidade. Porque está escrito: 

‘Tu és sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedec'" 
(Hb 7, 11. 15-17).
 
Jesus Cristo, porém, ao descer à terra, não mais oferece pão e vinho, como outrora Melquisedec, mas sim a oblação pura de Seu Corpo e Sangue: "Não Vos comprazeis em nenhum sacrifício, em nenhuma oferenda, mas formastes-Me um corpo: não desejais holocausto nem vítima de expiação. Então Eu disse: 

‘Eis que venho'" 
(Sl 39, 7-8).
 Assim Ele levou à plenitude
 aquilo que Melquisedec apenas prenunciara.
 
O Cordeiro entregue à morte pelos pecados do povo
No Livro do Êxodo abundam as figuras que nos aproximam da Eucaristia. Encontramo-las, sobretudo, na ceia pascal, prescrita em suas minúcias pelo próprio Deus a Moisés, na qual deveriam os israelitas imolar um cordeiro sem defeito e comê-lo com pães ázimos ao cair da tarde.
A este respeito, ensina o Doutor Angélico: "Neste Sacramento podemos considerar três aspectos: o que é o sinal sacramental, ou seja, o pão e o vinho; o que é realidade e sinal sacramental, ou seja, o verdadeiro Corpo de Cristo; e o que é só realidade, a saber, o efeito deste Sacramento. [...] O cordeiro pascal prefigurava este Sacramento sob os três aspectos. Quanto ao primeiro, porque era comido com pães ázimos, conforme a prescrição: 

‘Comerão a carne com pães sem fermento'. Quanto ao segundo, porque era imolado no décimo quarto dia do mês por toda a multidão dos filhos de Israel: nisto era figura da Paixão de Cristo que por Sua inocência é chamado de cordeiro. Quanto ao efeito, porque pelo sangue do cordeiro pascal os filhos de Israel foram protegidos do anjo devastador e libertos da escravidão do Egito".5
O pão sem fermento, com o qual deviam os judeus comer a carne do cordeiro, representava também a integridade do Corpo de Cristo, concebido no seio puríssimo de Maria, sem mancha alguma de pecado, e que, após a morte, não experimentou a corrupção do sepulcro, como anunciara Davi:

"Não permitireis que Vosso Santo conheça a corrupção" 
(Sl 15, 10).
 
Por isso o Salvador escolheu a noite da Páscoa, principal das festas judaicas, para deixar à humanidade Seu legado de amor, dando a entender que Ele mesmo é o Cordeiro imaculado, entregue à morte para tirar os pecados do mundo, por cujo sangue seria afastada a sentença de condenação que sobre nós pesava desde a queda de Adão e Eva.

Adão e Eva 
- Peter Paul Rubens - 1577-1640

Aquela oferenda que os israelitas, reunidos em Jerusalém, imolavam sob as sombras de uma figura profética, o Senhor, rodeado de um punhado de discípulos, levava à perfeição, no exíguo ambiente do Cenáculo. Entretanto, aquilo que as circunstâncias obrigavam Jesus a realizar na escuridão, os Apóstolos deveriam, no momento propício, dizer às claras e publicar de cima dos telhados (cf. Mt 10, 27), de maneira que o Sacrifício da Nova Aliança substituísse definitivamente os antigos sacrifícios e fosse celebrado diariamente sobre todos os altares da terra. Cumprir-se-ia assim a palavra do Espírito Santo pronunciada pela boca de Malaquias:

"Do nascente ao poente, 
Meu nome é grande entre as nações e em todo lugar se oferecem 
ao Meu nome o incenso, sacrifícios e oblações puras"
 (Ml 1, 11).
 
A respeito desta passagem profética, assim comenta Alastruey:

"Estes, são, pois, os caracteres do novo culto vaticinados por Malaquias: universalidade absoluta de tempos e lugares; pureza objetiva da vítima em si, incapaz de ser manchada por indignidade alguma do ofertante; excelência insigne, da qual resultará uma grande glorificação de Deus entre os povos".6

Alimento que reparava as forças e dava vigor

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 "Quem come minha Carne e bebe meu
Sangue tem a vida eterna" (Jo 6, 54)

Outra imagem de grande eloquência é a do maná, ao qual o próprio Jesus faz alusão no sermão sobre o Pão da Vida, referido no capítulo sexto de São João. Este alimento branco e miúdo como a geada (cf. Ex 16, 14), contendo em si todos os sabores (cf. Sb 16, 20), que nutriu o povo eleito durante a longa viagem pelo deserto, é símbolo também do Pão do Céu, penhor da ressurreição futura, que alimenta todo cristão, dando-lhe as graças e a fortaleza necessárias para atravessar o deserto desta vida e chegar à Terra Prometida, ou seja, à Pátria Celeste.
"O maná - comenta ainda São Pedro Julião Eymard - que Deus fazia cair cada manhã sobre o acampamento dos israelitas, continha todos os gostos e propriedades; reparava as forças decaídas, dava vigor ao corpo e era um pão muito suave. Também a Eucaristia, prefigurada no maná, contém todo gênero de virtudes; é remédio contra nossas enfermidades, força contra nossas fraquezas cotidianas, fonte de paz, de gozo e felicidade".7

A mesa revestida de ouro
Encontramos por fim, ainda no Êxodo, mais uma prefigura desse divino Sacramento, na ordem dada por Deus a Moisés para fazer uma mesa de madeira revestida de ouro puro, onde seriam colocados permanentemente diante do Senhor os pães sagrados ou pães da proposição.
Aqueles pães, "porção santíssima" (Lv 24, 9) que só aos sacerdotes era permitido comer, exigiam a pureza ritual dos corpos (cf. I Sm 21, 4-5) e deviam ser consumidos "em lugar santo" (Lv 24, 9). De nós, se queremos nos aproximar da mesa da Eucaristia, exige-se uma purificação muito superior àquela prescrita pela Lei mosaica: nossa alma - animada por uma reta intenção e com o firme propósito de enveredar pelas vias da perfeição - deve estar livre de pecado mortal. De outro modo, esse inefável Sacramento será para nós causa de condenação:

"Todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação" (I Cor 11, 27-29).
Por outro lado, se os pães da proposição estavam reservados exclusivamente a Aarão e seus descendentes, Nosso Senhor Jesus Cristo, o verdadeiro Pão da proposição, oferece- Se em alimento a todos os fiéis, sem exceção, dando aos homens um privilégio do qual aos Anjos, por sua natureza, não é dado gozar. "Coisa admirável! Os pobres, os servos e os humildes comem o seu próprio Senhor" - canta-se no hino Sacris Solemnis, também composto por São Tomás de Aquino para a festa do Corpus.
A mesa de ouro sobre a qual se achavam os pães encerra outro simbolismo muito elevado: ela prefigura a Mãe de Deus, em cujo seio foi formado o Corpo de Jesus. Assim comenta o padre Jourdain: "Maria é a mesa mística magnificamente ornada e feita de madeira incorruptível, que Deus preparou para os que se comprazem na meditação das coisas divinas. Ela é a mesa santa e sagrada, portando o Pão da Vida, Jesus Cristo Nosso Senhor, o sustentáculo do mundo".8


A Eucaristia 
é a saúde da alma e do corpo, remédio de toda
enfermidade espiritual, cura os vícios, reprime as paixões,
vence ou enfraquece as tentações, comunica maior
graça, confirma a virtude nascente, confirma a fé,
fortalece a esperança, inflama e dilata a caridade.
(Imitação de Cristo, Tomas de Kempis)   

 Muitos outros indícios do Sacramento da Eucaristia no Antigo Testamento poderiam ser mencionados: Abraão oferecendo seu filho Isaac em sacrifício (cf. Gn 22, 1-13); o pão cozido sob cinza, pelo qual Elias recobrou as forças para andar quarenta dias e quarenta noites até chegar ao Horeb, Monte de Deus (cf. I Rs 19, 5-8); a multiplicação dos pães operada pelo profeta Eliseu para alimentar cem pessoas (cf. II Rs 4, 42-44); etc.

Preparação próxima para a revelação da Eucaristia
Já no Novo Testamento encontramos três sinais insignes pelos quais o Salvador preparou as almas para o grande mistério cuja manifestação reservara para a véspera de Sua Paixão.
Primeiro, a transmutação da água em vinho, nas bodas de Caná da Galileia, cujo efeito nos é relatado por São João: "manifestou a Sua glória, e os Seus discípulos creram nEle" (Jo 2, 11). Mais tarde, a multiplicação dos pães, pela qual Jesus saciou mais de cinco mil pessoas que O haviam seguido até o deserto (cf. Mt 14, 15- 21). A este segundo milagre sucedeuse outro, poucas horas depois: estando os discípulos na barca, em meio ao mar agitado, viram Jesus aproximar-Se deles caminhando sobre as águas (cf. Mt 14, 24-33). Através desses prodígios, o Divino Mestre quis demonstrar o poder absoluto que possuía sobre o vinho e o pão, bem como sobre o Seu próprio Corpo.
Tão belos exemplos nos mostram como o Criador, enquanto divino Pedagogo, foi passo a passo preparando as mentalidades para a revelação do Sacramento da Eucaristia, eterno testemunho de Seu amor e de Seu desejo de permanecer entre nós.

Ajoelhemo-nos diante do Tabernáculo!
Quais devem ser nossa atitude e nossos sentimentos de alma ao considerarmos o extremo de bondade de Deus feito Homem que, tendo-Se encarnado, não abandonou a criatura resgatada por Seu Sangue, mas mantém- Se presente, assistindo e amparando todos os que dEle queiram se aproximar?
Ajoelhemo-nos diante do Tabernáculo ou, melhor ainda, diante do Ostensório, entreguemos a Jesus Sacramentado todo o nosso ser - nosso corpo com todos os seus membros e órgãos, nossa alma, com suas potências, suas qualidades e até as próprias misérias - e ofereçamos a Deus Pai o divino Sangue de Seu Filho, derramado na Cruz em reparação de nossas faltas.
De modo análogo aos raios do sol que, incidindo sobre o rosto, deixamno corado e moreno, assim também, diante do Santíssimo Sacramento nossa alma recebe uma renovada infusão de graças, convidando-nos ao abandono total nas mãos de Jesus, por meio de Maria. Assim, nossas almas irão se transformando rumo à santidade para a qual Deus nos chama. E se em algum momento, as dificuldades da vida nos fizerem sentir desânimo ou aridez, lembremonos destas tocantes palavras do padre Faber:
"Muitas vezes, quando o homem é tomado de desespero e assaltado por questões, dúvidas, desânimos e incertezas, em considerar a sua vida, e se sente cercado de inimigos, que lhe uivam ao redor, como feras furiosas, então um impulso, que é uma graça, o leva a ajoelhar-se ante o Santíssimo Sacramento e, sem que faça qualquer esforço, eis que todos aqueles clamores se afundam no silêncio. O Senhor está com ele: as vagas se aquietaram, a tempestade abateu-se e diretamente, sem embaraço, a viagem vai terminar no ponto procurado. Não foi necessário mais que olhar para a face de Jesus, e as nuvens se dissiparam e a luz se fez. O esplendor do Tabernáculo reaparece como o sol".9 ²



 Fontes:
Licença padrão do YouTube 
 http://www.arautos.org/especial/15688/Corpus-Christi.html
 http://www.paginaoriente.com/anoeclesiastico/corpuschristi.htm
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres.

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