"Poema do Fecho Éclair"
- António Gedeão
Filipe II tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz.
Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.
Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.
Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco
a tíbia de um santo
guardada num frasco.
Foi dono da terra,
foi senhor do mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.
Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho éclair.
Biografia de António Gedeão
Poeta,
professor e historiador da ciência portuguesa. António Gedeão (Lisboa
1906 -- 1997), pseudónimo de Rómulo de Carvalho, concluiu, no Porto, o
curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade de
docente. Teve um papel importante na divulgação de temas científicos,
colaborando em revistas da especialidade e organizando obras no campo da
história das ciências e das instituições, como A Actividade Pedagógica
da Academia das Ciências de Lisboa nos Séculos XVIII e XIX. Publicou
ainda outros estudos, como História da Fundação do Colégio Real dos
Nobres de Lisboa (1959), O Sentido Científico em Bocage (1965) e
Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII (1979).
Revelou-se como poeta apenas em 1956, com a obra Movimento Perpétuo. A esta viriam
juntar-se outras obras, como Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo
(1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda Poemas
Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990). Na sua poesia, reunida
também em Poesias Completas (1964), as fontes de inspiração são
heterogéneas e equilibradas de modo original pelo homem que, com um
rigor científico, nos comunica o sofrimento alheio, ou a constatação da
solidão humana, muitas vezes com surpreendente ironia. Alguns dos seus
textos poéticos foram aproveitados para músicas de intervenção.
Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78/24 (1963) e dez anos depois a sua
primeira obra de ficção, A Poltrona e Outras Novelas (1973). Na data do
seu nonagésimo aniversário, António Gedeão foi alvo de uma homenagem
nacional, tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago de
Espada.
- António Gedeão
Filipe II tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz.
Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.
Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.
Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco
a tíbia de um santo
guardada num frasco.
Foi dono da terra,
foi senhor do mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.
Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho éclair.
Poema do Fecho Eclair - 5min.
0 Poema do Fecho Eclair - Cantado - 2min,
Biografia de António Gedeão
Poeta,
professor e historiador da ciência portuguesa. António Gedeão (Lisboa
1906 -- 1997), pseudónimo de Rómulo de Carvalho, concluiu, no Porto, o
curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade de
docente. Teve um papel importante na divulgação de temas científicos,
colaborando em revistas da especialidade e organizando obras no campo da
história das ciências e das instituições, como A Actividade Pedagógica
da Academia das Ciências de Lisboa nos Séculos XVIII e XIX. Publicou
ainda outros estudos, como História da Fundação do Colégio Real dos
Nobres de Lisboa (1959), O Sentido Científico em Bocage (1965) e
Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII (1979).
Revelou-se como poeta apenas em 1956, com a obra Movimento Perpétuo. A esta viriam
juntar-se outras obras, como Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo
(1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda Poemas
Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990). Na sua poesia, reunida
também em Poesias Completas (1964), as fontes de inspiração são
heterogéneas e equilibradas de modo original pelo homem que, com um
rigor científico, nos comunica o sofrimento alheio, ou a constatação da
solidão humana, muitas vezes com surpreendente ironia. Alguns dos seus
textos poéticos foram aproveitados para músicas de intervenção.
Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78/24 (1963) e dez anos depois a sua
primeira obra de ficção, A Poltrona e Outras Novelas (1973). Na data do
seu nonagésimo aniversário, António Gedeão foi alvo de uma homenagem
nacional, tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago de
Espada.
Fonte dos elementos biográficos de António Gedeão
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