domingo, 7 de junho de 2015

IÊMEN : O QUE ESTÁ ACONTECENDO




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EXPLICADOR
Afinal o que é que se passa no Iêmen?

20 Janeiro 2015 – por Diogo Queiroz de Andrade

Onde fica o Iêmen?
Pergunta 1 de 10
Colocado no fundo da Arábia Saudita mesmo no calcanhar da bota arábica, o Iêmen é vizinho do pacífico Omã e tem África a poucos quilômetros de mar vermelho de distância.

O país fica no cruzamento entre a península arábica, a Ásia e a África e a sua cultura e tradição estão ligadas a esta posição de entreposto entre múltiplas culturas. Com lugar de destaque nas ancestrais rotas de especiarias, foi definido pelos romanos como Arabia Felix, em contraponto à Arabia Deserta do norte (atual Arábia Saudita).

Habitam o Iêmen 25 milhões de pessoas, quase todas muçulmanas, quase todas dependentes de uma economia que se baseia em produtos básicos como o café, o peixe e o algodão. O grande motor da economia é o petróleo, que não chega às mãos da imensa maioria da população.

Qual é a situação político-econômica do Iêmen?
Pergunta 2 de 10
O primeiro aspeto que importa reter sobre o Iêmen é que mais de metade da população vive com menos de dois dólares por mês. As Nações Unidas estimam que perto de 60% da população necessite de apoio humanitário para sobreviver.

O Iêmen tem vivido numa instabilidade crônica desde o fim dos anos setenta, graças a um regime pouco democrático liderado por Ali Abdullah Saleh, que durou até novembro de 2011. No rescaldo das primaveras árabes, o país viveu um período de euforia pró-democrática que teve pouca concretização prática. Ao fim de pouco mais de três anos, a situação política piorou e o país tem estado envolvido numa guerra civil que é motivada por questões religiosas mas principalmente pelas limitações econômicas.

O ex-presidente Mansour Hadi foi escolhido em 2011 para assegurar a transição democrática mas não conseguiu segurar o poder e foi deposto pelos rebeldes houthi. Hoje Mansour comanda uma força militar a partir da cidade portuária Aden.

Quem manda no Iêmen?
Pergunta 3 de 10
Em fevereiro os rebeldes xiitas houthi, provenientes do norte do país e fortemente apoiados pelo regime iraniano, tomaram conta do governo. Apresentaram um governo e leram pela televisão um comunicado ao país, anunciando a transição política. Nos houthi há fações extremistas, que gostariam de recuperar o Imanato Zaidi, que governou o norte do Iêmen durante quase mil anos.

Também os grupos da Al-Qaeda controlam parte do território, impondo uma lei islâmica absolutista que permite treinar jihadistas que depois são enviados para a Síria e o Afeganistão. As forças houthi combatem as forças da al-Qaeda pelo controlo do território, graças ao apoio que têm de Teerão.

Entre estes poderes e a força que sobra do presidente deposto, o exército tem a lealdade dividida e não responde de forma unificada às forças civis. É um exemplo perfeito que vem nos manuais de estados falhados.

O que está a acontecer em Aden?
Pergunta 4 de 10
Aden é a cidade portuária onde o presidente deposto, Mansour Hadi, se refugiou depois de fugir da prisão domiciliária em que tinha sido colocado na capital. Nos últimos dias tinha começado a formar um pequeno exército, juntando as forças que permaneceram leais e representantes da minoria sunita, que controlam partes do sul do país. E anunciou exigir ser tratado legalmente como Presidente, visto que considera a mudança de poder ilegal.

Os seis membros do Conselho do Golfo exigem que as Nações Unidas executem sanções contra o novo governo iemenita, forçando uma resolução do conflito. Estas seis nações – Emiratos Árabes Unidos, Bahrain, Arábia Saudita, Oman, Qatar e Koweit – temem o crescente poder xiita, que reforça o peso do Irão na região.

Os houtis, que controlam a Força Aérea, lançaram uma ofensiva contra Aden. Atingiram a casa onde estava escondido Mansour, sem o ferir. Os combates espalharam-se pela cidade e o aeroporto internacional deixou de funcionar, não sendo ainda claro quem tomará conta da região.

E qual é a relação do Iémen com o ataque ao Charlie Hebdo?
Pergunta 5 de 10
Os culpados do atentado ao Charlie Hebdo treinaram no Iémen em 2011. Os serviços secretos europeus já confirmaram que ambos os irmãos Koauchi estiveram no território, como os próprios tinham anunciado – tendo inclusivamente sido financiados por Anwar al-Awlaki há quatro anos, um muçulmano associado à violência promovida pelo grupo terrorista de Bin Laden.

A própria Al-Qaida da Península Arábica, sediada no Iêmen, assumiu publicamente a responsabilidade pelo ataque. Assim sendo, o ataque teria sido ordenado por al-Zawahri, o líder supremo da Al-Qaeda, em consequência direta dos repetidos cartoons tendo por alvo os muçulmanos.

Esta narrativa tem sido tratada com algum ceticismo pelos investigadores franceses. Se é verdade que os irmãos Kouachi treinaram no Iêmen em 2011 e receberam fundos para atentados, isso pode ter pouco a ver com o que aconteceu em Paris quatro anos depois. Os fundos e a coordenação podem ter vindo de outras fontes, incluindo o Estado Islâmico, que disputa com a al-Qaeda a liderança da violência em nome de Alá e tem procurado ações com grande impacto mediático.

Quem controla o petróleo que o país produz? *
Pergunta 6 de 10
* questão colocada por uma leitora

A produção de petróleo equivale a 70% da riqueza do país, mas tem vindo a decair desde 2010. De acordo com o Financial Times, em 2013 o Iémen importou mais petróleo do que aquele que exportou, situação inédita nos últimos trinta anos. Este défice energético é um sinal da desagregação econômica do país graças à continuada crise política e econômica.

Perto de metade do petróleo recolhido é refinado no país para satisfazer a procura interna, sendo altamente subsidiado pelo governo e chegando ao mercado a preços baixos. A outra metade, que corre em dois oleodutos, é exportada por mar para os países asiáticos que preenchem a lista de clientes.

Mas a província de Hadramawt, que produz mais de metade do petróleo do país, tem fugido ao controlo da empresa estatal criada para gerir essa exploração. Vários ataques aos poços e ao oleoduto têm limitado a produção corrente, com o governo a colocar a culpa em milícias tribais e na influência da Al-Qaeda na região. Já na província de Marib os houthi tomaram o controlo da produção petrolífera e ameaçam não a devolver ao governo central – utilizando-a como forma de pressão para as suas exigências políticas.

Este relatório da Chatam House, um grupo de reflexão sobre política e economia internacional sediado em Londres, fornece excelentes indicações sobre o contexto histórico da produção petrolífera do país. E esta análise do governo americano fornece o ponto de situação do que se passava no terreno há escassos meses – em que já eram notórios os problemas de segurança do país.

Qual é o mistério das armas americanas?
Pergunta 7 de 10
O exército dos Estados Unidos ofereceu equipamento militar no valor de 470 milhões de euros ao exército iemenita mas neste momento o paradeiro da encomenda é desconhecido. Há fortes probabilidades de que tenha caído nas mãos da al-Qaeda ou dos rebeldes hostis apoiados por Teerão.

O fecho da embaixada americana em fevereiro e a saída dos conselheiros militares que trabalhavam com o presidente deposto ajudam ao caos, pois tornou-se impossível perceber onde está o material militar – composto por 1 avião de transporte e vigilância, 4 drones, 4 helicópteros, 160 Humvees, 2 barcos e muito equipamento tático.

Por que razão a Arábia Saudita atacou o Iémen em março?
Pergunta 8 de 10
Essencialmente para travar a influência iraniana. Como explicado na terceira pergunta, os xiitas houthi ameaçam o governo local. Apoiados pelo Irão, os rebeldes já tomaram a capital Sanaa e investiram nos últimos dias de março na cidade portuária de Aden, onde estaria o ainda presidente Masoun Hadi. O aeroporto da cidade já foi tomado.

A Arábia Saudita transferiu a embaixada de Sanaa para Aden para apoiar inequivocamente Hadi. Já o seu exército, apoiado por Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Bahrein, Catar, Jordânia, Marrocos, Egipto e Paquistão, investiu numa operação militar contra os rebeldes, que estarão a tentar colocar no poder Ali Abdullah Saleh novamente.

Os Estados Unidos não estarão diretamente envolvidos, mas, admite Adel al-Jubeir, o embaixador saudita em Washington, trabalharam “de forma muito próxima” com a Arábia Saudita antes de a ofensiva ser colocada em marcha. O NYT informou ainda que o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança admitiu que os EUA estão a fornecer informações e logística para apoiar a operação. Barack Obama autorizou, aliás, uma célula conjunta com os sauditas para planeamento e coordenação da missão.

Após a investida militar saudita, o preço do petróleo disparou 6%. O WTI, negociado em Nova Iorque, estava a ser negociado a 52,14 dólares por barril (47,56 euros), enquanto o Brent, em Londres, subiu então para 59,42 dólares por barril (54,2 euros).

Finalmente, ao fim da tarde de quinta-feira, dia 26 de março, o presidente deposto Mansur Hadi, que havia estado desaparecido e incontactável, chegou a Riade, a capital da Arábia Saudita.

A agência oficial saudita SPA avançou que Hadi foi recebido na base aérea de Riade pelo ministro da Defesa saudita, Mohamed bin Salman bin Abdelaziz, e pelo chefe dos serviços de informações, Khaled al-Hamidan.

O ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Riyad Yassin, disse à imprensa no Cairo que Hadi participaria na cimeira da Liga Árabe que se realiza entre dia 28 e 29 de março na estância egípcia de Sharm el-Sheikh.

Como reagiu o Irão à operação militar saudita?
Pergunta 9 de 10
Condenou, mas usou palavras que soam a aparente cautela e responsabilidade. Ou então à inevitabilidade do desfecho do conflito. “Qualquer ação militar estrangeira contra a integridade territorial e o seu povo só vai aumentar os mortos e o derramamento de sangue”, disse Mohamed Javad Zarif, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, contava o El País. Zarif estava, na altura das declarações, na Suíça, onde tentava chegar ao tal acordo nuclear com John Kerry, secretário de Estado norte-americano.

Segundo a Reuters, um importante funcionário do governo iraniano, que não quis ser identificado, assegurou que o país utilizaria todas as vias políticas possíveis para reduzir a tensão na região, mas não colocava em cima da mesa uma “intervenção militar”.

Uma guerra de maior escala na região entre Irão e os rivais árabes era um cenário que ganhou ainda mais força depois de o Egito ter disponibilizado tropas para ajudar na operação militar no Iêmen — “se for necessário”, contava o Guardian.

“O momento escolhido pela Arábia Saudita foi brilhante porque põe à prova a boa vontade do Irão no momento em que está prestes a assinar um pacto nuclear”, explicou Theodore Karasik, um analista do Dubai especializado em assuntos de política militar no Golfo, contava o El País no mesmo artigo. “Há que entender até que ponto se vai envolver na ajuda aos [rebeldes xiitas] houthi, ou se os deixa cair para salvar o acordo e o [consequente] levantamento das sanções.”

Não deixa de ser pertinente dar conta de que Estados Unidos e Irão estavam sentados numa mesa na Suíça para chegar a um acordo nuclear. Ao mesmo tempo, no Iêmen, estavam em posições opostas: o Irão apoiava o avanço dos rebeldes xiitas houthi. Os Estados Unidos ajudaram a planear a operação militar da Arábia Saudita e contribuíram com informação e logística.

A que pergunta ainda não respondemos?
Pergunta 10 de 10
Com as atenções mediáticas viradas para o Iêmen, os pormenores sobre a situação no terreno vão sendo conhecidos com mais detalhe. Por isso iremos atualizar regularmente este Explicador, de forma a acompanhar a atualidade. Se quiser ver alguma questão respondida, é só enviar um e-mail: foi isso que fez a leitora que colocou a questão mesmo antes desta.


Fontes:
EXPLICADOR: 
http://observador.pt/explicadores/afinal-o-que-e-que
-se-passa-no-iemen/10-a-que-pergunta-ainda-nao-respondemos/
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