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Obra raríssima de GustavoBarroso de 1937,
explicando como Origens de Como e POR Quem foi armado o Sistema de dominação dos Países ATRAVÉS fazer Comunismo, comandado Pela Maçonaria e Liderado cabelo judaísmo.
Sobre como
Tentativas de Libertação dos Países escravizados, racismo Sobre o
judaico e SUAS conspirações contra a Humanidade (Talmude), uma Verdadeira
Revolução Russa da cara e Revelando OS verdadeiros causadores da guerra.
Autor: Gustavo Barroso (Academia Brasileira de Letras)
Judaísmo, Maçonaria e Comunismo. Ano 1937
Idioma Português
Coleção opensource_media
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
Luiz Mário Ferreira Costa
Maçonaria e Anti-maçonaria:
Uma análise da “História secreta do Brasil” de Gustavo Barroso
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
da Universidade Federal de Juiz de Fora em História
como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em História.
explicando como Origens de Como e POR Quem foi armado o Sistema de dominação dos Países ATRAVÉS fazer Comunismo, comandado Pela Maçonaria e Liderado cabelo judaísmo.
Sobre como
Tentativas de Libertação dos Países escravizados, racismo Sobre o
judaico e SUAS conspirações contra a Humanidade (Talmude), uma Verdadeira
Revolução Russa da cara e Revelando OS verdadeiros causadores da guerra.
Autor: Gustavo Barroso (Academia Brasileira de Letras)
Judaísmo, Maçonaria e Comunismo. Ano 1937
Idioma Português
Coleção opensource_media
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
Luiz Mário Ferreira Costa
Maçonaria e Anti-maçonaria:
Uma análise da “História secreta do Brasil” de Gustavo Barroso
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
da Universidade Federal de Juiz de Fora em História
como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em História.
Dedico este trabalho ao meu pai,
minha mãe e ao meu eterno amor Mellina.
AGRADECIMENTOS
Esta dissertação foi um sonho, um desejo que hoje se transformou em realidade.
Entretanto, sem o apoio incondicional de algumas pessoas este não teria sido um trabalho tão
prazeroso como foi. Assim devo render os meus mais sinceros agradecimentos às pessoas que
possibilitaram a existência deste trabalho final.
Por isso devo agradecer primeiro a Deus, o meu lar! Ao meu pai Luiz Carlos e à minha
mãe Lucimar, que por obra do destino me deixaram aqui na Terra para passarem a me assistir
mais de perto lá do céu.
Ao meu orientador e Prof. Dr. Alexandre Mansur Barata, que sempre me estendeu a
mão nas horas em que eu mais precisava. Incentivo este que começou ainda em 2005 quando
tive a certeza de que certas pessoas aparecem em nossa vida não por acaso, mas por
determinação divina. Sem sua paciência, generosidade e confiança esta dissertação não teria
sido possível. Serei eternamente grato pela honestidade de minha orientação.
Estendo meus agradecimentos ao Prof. Dr. Marco Morel, que desde a minha
qualificação se mostrou muito atencioso e gentil, suas sugestões e suas palavras guiam este
trabalho do começo ao fim. Ao Prof. Dr. Robert Daibert, que iluminou vários pontos que
antes pareciam nebulosos e obscuros em minhas análises. Ao Prof. Dr. Cássio Fernandes com
quem tive a grata oportunidade de aprender realmente o que significa ser um historiador.
Agradeço também à minha noiva Mellina que durante todo este tempo esteve do meu
lado, me incentivando e me fazendo entender o significado de palavras como amor e
cumplicidade. O meu porto seguro na hora das tempestades, que não foram poucas, a minha
amiga e amante.
Igualmente sou grato ao casal Tomé e Marília que com carinho me
acolheram em sua família.
Agradeço ao meu irmão Aureliano, ao meu pai Darli e as minhas mães Maria Helena e
Iara, a quem devo tudo que sou hoje, o amor e a admiração que tenho por vocês foi o que
realmente me fez vencer na vida!
Meus agradecimentos se estendem a Loja maçônica “Culto ao Dever”, em especial ao
Sr. Rui Almeida e ao Dr. Brenildo, que com sabedoria e prontidão sempre me recebeu em sua
casa, colocou a minha disposição o arquivo da Fundação Chico Boticário e me demonstrou
amor pela história de nossa gente.
Aos meus amigos do coração, Felipe (Batata), Gilberto, João Marcelo, Jamir, Vitor,
Aurélio, Pedro Vitor, Estevão, João Pinheiro, Felipe (Divaldo), Pedro Ivo, Francisco Borges,
Dr. Marcelo, Fernando, Chiquinho, Leonel, André Colombo, Brandão às minhas amigas
Laura e Gisele e, a tantos outros que me ajudaram a deixar a vida mais descontraída e leve.
E finalmente eu não poderia deixar de agradecer ao Departamento de História da
Universidade Federal de Juiz de Fora e à FAPEMIG, pela concessão de uma bolsa, ambos
essenciais para tornar real o sonho desta dissertação.
Oxalá nossa alma se deixe conduzir pela santa ambição
de superar a mediocridade e anele por coisas
mais sublimes, envidando esforços para consegui-las, dado que, se, realmente, quisermos, haveremos
de concretizar. Desdenhemos então as realidades materiais, tratemos, com indiferença, as coisas
astrais e, enfim, alheios a tudo de mundano, sejamos transportados para a corte supraterrestre, para
a vizinhança da augustíssima deidade. Ali, como nos advertem os sagrados oráculos, os Serafins, os
Querubins e os Tronos ocupam os postos mais altos, disputemos com eles a dignidade e a glória de
que desfrutam, dispostos a não retroceder nem ocupar um lugar secundário. Se quisermos, não
seremos em nada inferiores a eles.
MIRANDOLA, Giovanni Pico Della. A Dignidade do Homem. São Paulo: Editora Escala (Tradução)
Luiz Ferracine. São Paulo, s/d. p.42
RESUMO
O objetivo geral da dissertação é analisar as narrativas antimaçônicas difundidas no
Brasil, sobretudo, na primeira metade do século XX, com destaque para o livro História
Secreta do Brasil escrito por Gustavo Barroso em 1937. A partir do estudo das diferentes
feições assumidas pelas narrativas antimaçônicas desde o início do século XVIII, sobretudo
na Europa, busca-se compreender os elos de continuidade e os novos elementos acrescidos
pela obra de Gustavo Barroso, os quais dialogavam com o clima de radicalização política e de
crescimento do autoritarismo que caracterizaram, particularmente, o Brasil da década de
1930.
Não obstante, os discursos anti-semitas, antimaçônicos e anti-comunistas, proferidos
pelo Chefe das Milícias Integralistas, transforma-se no eixo central de uma narrativa que
busca explicações para as sequências de acontecimentos, ditos secretos, que assolavam o pais
naquele contexto. Situação esta agravada pelos confrontos diretos entre a Aliança Nacional
Libertadora e a Ação Integralista Brasileira, principalmente entre os anos de 1935 a 1938.
Palavras-chave: Maçonaria. Anti-maçonaria. Gustavo Barroso.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIB – Ação Integralista Brasileira
ANL – Aliança Nacional Libertadora
ASA – Associação Scholem Aleichem
BIBSA – Biblioteca Israelita Scholem Aleichem
BOC – Bloco Operário e Camponês
DOPS – Departamento de Ordem Política e Social
GOB – Grande Oriente do Brasil
IHGB – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
PCB – Partido Comunista Brasileiro
1 INTRODUÇÃO
O objetivo geral da dissertação é analisar as narrativas antimaçônicas difundidas no
Brasil, particularmente, na primeira metade do século XX, com destaque para a História
Secreta do Brasil (1937) escrita por Gustavo Barroso (1888 – 1959) e considerada por muitos
como a obra de maior notabilidade neste sentido.
Seguindo a perspectiva aberta por Raoul Girardet, podemos afirmar que nossa análise
não se restringirá somente ao exame do pensamento organizado e racionalmente construído.
Ao contrário, nosso esforço deverá ser visto como tentativa de explorar as categorias míticas
que também compõem o imaginário político.
Deste modo, buscaremos identificar
efervescências mitológicas acompanhadas de perturbações políticas que apareceram no Brasil
na primeira metade do século XX. 1
Naquilo que se refere à difusão do tema, é importante ressaltar que por décadas
produziu-se uma vasta literatura marcada pelos “abusos” tanto por parte dos maçons quanto
do lado dos antimaçons, passando da exaltação exagerada até às acusações mais descabidas. O
resultado foi que muitos historiadores acadêmicos acabaram por concluir que toda a temática
parecia infame evitando um contato mais íntimo com este objeto.
Entretanto, apesar de ainda pouco conhecida e estudada, é possível perceber que a
partir dos anos 1980 a história da Maçonaria tem chamado mais a atenção tanto de
historiadores nacionais quanto internacionais.
Este novo fôlego deve-se, sobretudo, à
renovação da história política, que passou a se preocupar com questões como: sociabilidades,
linguagens e conceitos políticos, imaginários, culturas políticas, dentre outros.
Em grande
medida, o estudo do fenômeno maçônico foi oxigenado com a incorporação de contribuições
da sociologia, da antropologia, da literatura e da ciência política o que despertou novamente o
interesse dos historiadores. O melhor exemplo foi a incorporação da noção de sociabilidade,
revigorada desde 1966 em Pénitents et francs-maçons de l'ancienne Provence: essai sur la
sociabilité méridionale de Maurice Agulhon, que transformou o conceito de sociabilidade em
uma categoria operacional e fecunda no estudo do fenômeno maçônico.2
Deste modo, passou-se a preconizar a Maçonaria como um espaço de articulação
política, mas também como “escola de formação e práticas políticas”, para usar a expressão
de Margaret Jacob, na qual as regras do constitucionalismo inglês foram aprendidas divulgadas e vivenciadas.3
Alguns historiadores seguiram por este caminho e diversificaram
ainda mais as possibilidades de olhares sobre a Maçonaria.
No que se refere à historiografia brasileira, os trabalhos de Célia M. Marinho de
Azevedo, Eliane Moura Silva, Eliane Lúcia Colussi, Marco Morel, Luiz Eugênio Véscio,
Alexandre Mansur Barata, Françoise Jean de Oliveira Souza, dentre outros, são exemplos
importantes desse esforço de renovação da compreensão da história da Maçonaria no Brasil. 4
Recentemente, Marco Morel e Françoise Jean de Oliveira Souza produziram um importante
estudo sobre a atuação da Maçonaria nos principais momentos históricos nacionais, intitulado
de O Poder da Maçonaria: a história de uma sociedade secreta no Brasil. Questões como a
participação na Independência, as divergências e cisões internas, a luta contra a Igreja
Católica, a participação ativa na primeira República e a atuação da Maçonaria na política
contemporânea, são alguns pontos analisados nesta obra. 5
Não obstante, a ampliação da investigação historiográfica acerca da Maçonaria
possibilitou ao historiador reconhecer que em paralelo à história da Ordem maçônica, corre
também uma história das narrativas antimaçônicas.
Para Girardet, estas narrativas surgiram da
associação feita entre a Maçonaria e a ideia de “Conspiração”, uma característica peculiar das
sociedades que vivenciam ou vivenciaram momentos conturbados de crise e de grande tensão
social. Assim, a temática do complô e a função tática que lhe foi atribuída receberão um
destaque importante nesta dissertação, uma vez que entendemos, por exemplo, que do terror
jacobino ao terror stalinista, a acusação de “conspiração” não cessou de ser utilizada pelo
poder estabelecido para livrar-se de seus suspeitos ou de seus opositores e com isso legitimar
os expurgos e as exclusões, bem como para camuflar suas próprias falhas e seus próprios fracassos. Numa realidade co-produzida “a lógica da manipulação se vê substituindo a
imprevisibilidade da história.” 6
Quanto à construção do mito da conspiração, o autor destaca três tipos diferentes de
narrativas onde a ideia do complô se faz presente. A primeira forma refere-se ao “complô
judaico”, identificado pela “profecia do velho rabino diante de seus companheiros”. A
profecia tratava de um plano metódico de conquista do mundo, realizado pelo povo de Israel
contra o resto da humanidade. 7
Na segunda teoria conspiratória, eram os jesuítas que
planejavam dominar o mundo. Assim, como analisou Girardet, o princípio essencial sobre o
qual repousava o temível poder da Companhia de Jesus era “a traição no lar, a mulher espiã
do marido, a criança, da mãe...8
Entretanto para esta pesquisa torna-se mais importante tomar
como referência a terceira narrativa denominada por Girardet como mito da “conspiração
maçônica”, cujo exemplo maior foi o abade francês Augustin de Barruel.9
Segundo José Antônio Ferrer Benimeli, o surgimento desta história antimaçônica
deve-se ao fato da Maçonaria ser um “fenômeno sócio-político” atuante, em maior ou menor
grau, durante os três últimos séculos da história ocidental.10 Muito próximo da perspectiva
defendida por Benimeli está Georges Cottier, para quem a gestação de um discurso que
agregava à imagem da Maçonaria, elementos pejorativos e degenerativos, deve ser buscada
em documentos pontifícios setecentistas. Para Cottier, a relação entre a Maçonaria latina e a
Igreja Católica quase sempre foi marcada pelas diferenças e incompatibilidades.
Além disso,
foi uma literatura, mais ou menos tendenciosa, que contribuiu para fomentar uma imagem
distorcida da Maçonaria, uma vez que muito se escreveu sobre o tema e na maioria das vezes
os autores buscavam evidenciar seus posicionamentos, sejam eles contra ou a favor. 11
No entanto, foi com a publicação de Mémoire pour servir à l’histoire du Jacobinisme
(“Memória para servir a história do jacobinismo”) em 1797 de autoria do Abade Barruel, que
teríamos a consolidação desta narrativa antimaçônica. Grosso modo, as “memórias” defendiam que os acontecimentos revolucionários de 1789 resultaram duma longa
conspiração tramada desde a época dos Templários.
Com efeito, em fins do século XVIII,
nasceria em solo europeu o embrião de um discurso antimaçônico fundado na ideia de uma
“conspiração jacobina”. Aos poucos a narrativa antimaçônica ganharia novas formas e
sentidos com textos e imagens produzidos a partir da década de 1790, cujo principal objetivo
era tentar explicar as causas daquela que foi a maior de todas as revoluções.
No século XIX, mesmo correndo o risco da generalização, podemos verificar que,
principalmente, nos países latinos, a narrativa antimaçônica já possuía um corpo bem
definido.
A expressão “revolucionária” quase sempre acompanhava a denominação da
Ordem. As Lojas passaram a ser identificadas como centros de subversão. A publicação de
Os Mistérios da franco-maçonaria revelados em 1885, de autoria do ex-maçom Gabriel Jogana Pagès,
conhecido como Leo Taxil, pode ser ilustrativo para nos mostrar a forma específica
deste discurso. Nestes textos, Leo Taxil associava os símbolos maçônicos às bestas
demoníacas. Segundo o autor, os maçons eram personificações do demônio com planos para a
dominação do mundo.12
Esta nova ideia adquiria força, pois tornava-se cada vez mais evidente no senso
comum, especialmente, nos Estados católicos, que aqueles antigos “homens conspiradores”
eram na verdade “demônios conspiradores”.
A situação ficaria mais delicada na medida em
que crescia o número de bulas e textos pontifícios, o que terminou por esculpir a narrativa
antimaçônica do século XIX. Como exemplo dessa propaganda, podemos citar a Constituição
Apostólica Ecclesiam a Iesu Christo, de 1821, publicada pelo papa Pio VII (1800 – 1823) e a
Constituição Quo graviora, de 1825 do papa Leão XII (1823 – 1829). Além disso, de Pio IX
(1846 – 1878) a Leão XIII (1878 – 1903) encontramos nada menos do que 350 intervenções
pontifícias contra a Maçonaria. 13
No início do século XX, países como Portugal e Espanha foram marcados por reações
de forças conservadoras, que responsabilizavam, sobretudo, os maçons e os judeus pela
destruição do mundo tradicional e pela criação da modernidade. Gradativamente, o discurso
antimaçônico assumia uma nova feição: a associação entre Maçonaria e o “complô judaico”.
Na Espanha, por exemplo, o complô judaico-maçônico foi somado por novas condições
pejorativas como “comunista ou marxista”. Isso tornou-se evidente através do famoso slogan,
“judeu-maçônico-comunista”, o que marcou fortemente o imaginário coletivo.
No Brasil, essa associação também pôde ser percebida e encontrou em Gustavo
Barroso um de seus principais divulgadores. Para o escritor maçom Nicola Aslan, Gustavo
Barroso representou um exemplo da importância negativa da narrativa antimaçônica nacional.
Aslan sugere também que o sistema de calúnias, inaugurado pelo jesuíta Barruel, foi
empregado por Gustavo Barroso quando escreveu sua História secreta do Brasil. 15
Deste modo, seguindo a pista de Aslan, tentaremos recuperar a história da narrativa
antimaçônica brasileira buscando identificar os elos entre uma matriz do pensamento católico
conservador, de fins do século XVIII, e uma parte da elite intelectual brasileira da década de
1930.
Para darmos conta do objetivo geral, optamos por trabalhar levando-se em conta duas
dimensões. A primeira, construída na “longa duração”, buscará analisar as diferentes feições
assumidas pelas narrativas antimaçônicas, a partir do início do século XVIII, com a
publicação das primeiras condenações à Maçonaria, tanto pelo poder papal quanto por
governos seculares. A segunda preocupa-se em analisar a conjuntura de produção, edição e
circulação do livro História Secreta do Brasil, procurando perceber as continuidades em
relação a uma tradicional narrativa antimaçônica, mas também perceber os novos elementos
acrescidos que dialogavam com o clima de radicalização política e de crescimento do
autoritarismo que caracterizou, particularmente, o Brasil da década de 1930.
A dissertação está dividida em três capítulos.
O primeiro capítulo tem por objetivo
realizar um breve estudo histórico das narrativas antimaçônicas. De início serão analisados os
aspectos que dizem respeito às origens da Ordem Maçônica, já que o tema pode ser enfocado
de muitas distintas maneiras, mas, em todas elas é necessário conhecer antes sua história. Em
seguida, reforçaremos a ideia de que a Igreja Católica foi o principal agente difusor do
antimaçonismo, tendo em vista as inúmeras condenações e reprovações que determinaram a
maneira como a Maçonaria foi recebida, sobretudo em Portugal e no Brasil.
Na segunda
metade do capítulo, discutiremos os fatos que contribuíram no desenrolar da narrativa
antimaçônica, responsáveis por atribuir à Maçonaria, dentre outras coisas, a culpabilidade e
execução da Revolução Francesa. A imprensa foi um dos palcos deste confronto no Brasil. A
tradução de obras que difundiam o antimaçonismo representava o clima hostil aos Pedreiros
Livres, vistos como grupos heterodoxos que ameaçavam a ordem civil e eclesiástica.
No segundo capítulo, analisaremos a produção intelectual de Gustavo Barroso.
Partiremos do pressuposto que o conhecimento do perfil deste autor pode ajudar-nos a
vislumbrar os objetivos implícitos e explícitos de seu discurso antimaçônico. Assim, para compreendermos as idéias e de que forma Gustavo Barroso entendia o “poder da escrita” é
preciso, antes, conhecer um pouco desta personalidade contraditória, que por um lado
demonstrava sensibilidade ao organizar um museu e traduzir textos do precursor do
romantismo alemão Goethe e, por outro, expressava todo o seu fanatismo como Chefe das
Milícias integralistas.
No terceiro capitulo,
demonstraremos como o anti-semitismo e o anticomunismo
contribuíram com recursos imagéticos no fomento de uma “nova” narrativa antimaçônica,
inaugurando, deste modo, no cenário político brasileiro, o mito da “conspiração judaico-maçônica-comunista”.
Para isso analisaremos a principio o alcance da ideologia anti-semita.
Sua forma tradicional e seus aspectos modernos serão destacados na medida em que
percebemos que o ódio aos judeus se transformou num dos principais recursos das ações
propagandísticas do autor. Além disso, aprofundaremos o estudo acerca das diferentes
apropriações do discurso anticomunista no Brasil, tendo como foco as manifestações de
repúdio da Igreja Católica expressas fundamentalmente no discurso político-partidário de
Barroso. Por fim, trataremos de especificar os contextos de produção e circulação do livro
História Secreta do Brasil e sua correlação com o best-seller anti-semita, Os Protocolos dos
Sábios de Sião.
2 ARQUEOLOGIA DAS NARRATIVAS ANTIMAÇÔNICAS
Sou por caráter inimigo de seitas, porque como seitas não podem contribuir para o bem da
sociedade. Combati os Sebastianistas; porque me pareceu uma seita de mentecaptos, cujas fantásticas
esperanças levavam a Nação à indolência no meio da violenta, e bárbara opressão, e usurpação
Francesa. Este foi o meu fim, julguei hum serviço feito à Nação, e como tal o reputavam, e ainda hoje
consideram algumas pessoas sensatas, honradas, e amigas do decoro, e bom nome dos Portugueses.
Combati a Maçonaria, porque a considerei como oculta, e misteriosa, e contra a qual clamavam
tantos livros, tantos fatos, e tantas leis. 16
2.1 Origens da Maçonaria
Os historiadores, de uma maneira geral, confessam as dificuldades praticamente
insuperáveis de desvendar as verdadeiras origens históricas da Maçonaria, principalmente,
porque elementos lendários se fundem com fatos mais confiáveis.
Todavia, como sugeriu
Alexandre Mansur Barata, o primeiro exercício, no sentido de uma melhor compreensão da
procedência da Ordem, é adotar um novo olhar para a vasta literatura produzida, em sua
maioria, pelos próprios maçons desde o início do século XVIII. Para legitimar sua atuação, os
maçons buscavam em “tempos imemoriais” as origens da instituição, o que era reforçado pela
ritualística e simbolismo utilizados em suas reuniões. Desta forma, os maçons do século
XVIII se auto-retratavam como herdeiros diretos dos egípcios antigos, dos essênios, dos
druidas, de Zoroastro, de Salomão, das tradições herméticas, da Cabala, dos Templários, etc. 17
Um exemplo dessa atitude pode ser encontrado nas Cartas sobre a Framaçonaria
publicadas no início do século XIX e cuja autoria é atribuída ao jornalista e maçom Hipólito
José da Costa. Nestas Cartas... ele demonstrava a existência de pelo menos quatro versões
bem conhecidas sobre as origens maçônicas:
1° - No Reinado de Carlos I na Inglaterra (1640),
Cromwell foi um dos principais fundadores;
2° - No Reinado de Felipe, o Belo na França
(1300), atribuindo esta instituição aos Templários;
3° - No Reinado de Salomão (1000 anos
AC), Salomão teria sido um reformador da Maçonaria;
4° - No Reinado dos primeiros faraós
do Egito, as formalidades, a etiqueta que os maçons usavam nos diferentes graus e iniciações são semelhantes aos usados pelos egípcios.18
Nas palavras de Hipólito da Costa
a busca por
um passado antiquíssimo
não era uma característica excepcional da Maçonaria:
Mas custa-me, ainda assim, a assentir a esta opinião;
porque observo ser uma
mania geral,em todos os homens, procurar a si,
e às suas coisas, antiguidade de
origem: todas as nações,
por exemplo, procuram mostrar, que a sua origem é mui
antiga;
os nobres, que os seus avoengos se contam em muitas gerações
conhecidas;
e o genealógico, que descobrir mais um avô a um nobre, está certo
de ser recompensado:
e quem me diz a mim que os Framaçons,que naturalmente
são infectados deste contágio geral de desejo de antiguidade de origem, não
foram buscar os exórdios de sua Sociedade ao Egito, para se mostrarem no
comum pensar, mais honrados e nobres. 19
Em seu livro As origens da Maçonaria: O século da Escócia (1590 – 1710), o
historiador David Stevenson lançou-se ao desafio de reconstituir a estirpe maçônica. Para isso
estabeleceu, inicialmente, uma distinção entre a fase medieval e a fase moderna da Ordem. A
primeira fase, também ficou conhecida como operativa, já que neste período a função da
Loja estava diretamente vinculada ao ofício do pedreiro. A segunda foi denominada de
especulativa, uma vez que a corporação passou a aceitar membros que não estavam ligados à
arte da construção, como filósofos, políticos, alquimistas, dentre outros. 20
Na operativa, a palavra maçom ou mason era utilizada no sentido de pedreiro, um
profissional ligado à arte da construção.
O termo indicava um artesão hábil para trabalhar com
pedra de cantaria, um indivíduo plenamente qualificado, diferente dos assentadores de pedra
comum. Além disso, a palavra Maçonaria – em sua forma inglesa freemasonary – não
possuía significado misterioso. 21 Entretanto, pelo menos em um sentido, pode-se dizer que a
arte do pedreiro era incomum mesmo na Idade Média. Pois enquanto o modo de vida da
maioria dos artesões era fixa, produzindo bens para venda local ou por meio de intermediários
em mercados distantes, o ofício dos construtores exigia mudanças de um emprego para outro.
Comparada com a vida regular e estática da maioria dos artesãos, a do pedreiro ou maçom
costumava ser móvel e imprevisível. 22
Foi, exatamente, devido à especificidade do oficio do “mação”, em termos de
organização e relações profissionais, que surgiu a distinção com os outros artesãos. A
fraternidade maçônica representava, nas palavras de Stevenson, “uma espécie de família
artificial”, unidos não por sangue, mas por interesses comuns reforçados por meio de
juramentos e rituais. Nessa época operativa, a Maçonaria mantinha uma relação estreita com a
Igreja Católica, a corporação maçônica era uma espécie de “confraternidade ou irmandade
religiosa”. Geralmente, empregava-se um padre e festejava dentro das igrejas locais os santos
padroeiros das artes, com a celebração de missas especiais e procissões. Naquele contexto, as
autoridades procuravam controlar e regulamentar a arte e o ofício dos artesãos através das
guildas,23 a afiliação era um privilégio guardado com ciúme pelos maçons.24
Em seu sentido original, a Loja de um maçom significava simplesmente uma
construção temporária onde se realizava alguma obra importante. Talvez fosse uma estrutura
montada contra a parede de um edifício já existente ou em construção ou um barracão
separado, onde os pedreiros podiam esculpir e moldar a pedra longe do sol ou da chuva.
Entretanto, as Lojas se desenvolveram e passaram a ser um local onde os maçons comiam,
descansavam e até dormiam, quando estavam em outra cidade e não podiam voltar para a casa
todas as noites. Com o passar do tempo, a Loja se tornou o centro da convivência temporária
dos maçons.
Referências às Lojas nesse sentido podem ser encontradas na Inglaterra e na
Escócia no final da Idade Média. Na fase operativa, igualmente aos outros ofícios medievais,
a Maçonaria também possuía seus documentos históricos, onde neles enfatiza-se a
antiguidade, a importância religiosa e a moral de seu trabalho. 25
Pelo menos em um sentido os maçons escoceses eram peculiares, no século XV, pois
a história mítica de seu ofício, contida nos Antigos Deveres, era extraordinariamente
elaborada. Esse legado daria uma significativa contribuição para a Maçonaria, por sua ênfase
na moralidade, sua identificação da arte do pedreiro com a Geometria, e a importância que
dava ao Templo de Salomão e ao antigo Egito no desenvolvimento do ofício do pedreiro.
Nessa época, aspectos da Renascença foram inseridos às lendas medievais, junto a uma estrutura institucional baseada em Lojas, além de rituais e procedimentos secretos para
reconhecimento, conhecidos como a Palavra do Maçom. 26
A fase especulativa ou moderna da Maçonaria, apesar de melhor conhecida, é também
repleta de indefinições e contradições entre os historiadores. Conforme sugeriu o pesquisador
português Oliveira Marques durante muito tempo os historiadores acreditaram que a
Maçonaria especulativa derivava diretamente, por evolução, das antigas Lojas de pedreiros de
origem medieval.
Entretanto, atualmente esta tese foi superada por hipóteses muito mais
elaboradas, como a de que a Maçonaria moderna disfarçou-se na “aparência de uma
corporação”, com o intuito de encobrir atividades e idéias que na época não poderiam ser
assumidas abertamente. Ou que a origem da Maçonaria atual remontasse às associações de
socorros mútuos, mais ou menos laicas, derivadas do convívio interprofissional conseguido
em tabernas, botequins e outros locais onde pudessem desenvolver-se novas formas de
socialização. 27
Para D. João Evangelista Martins Terra, por exemplo, foram os partidários dos
Stuarts destronados e refugiados na Escócia – na guerra contra a Casa de Hanover – que
criaram a Maçonaria. Para ele a organização maçônica foi copiada e introduzida nos
regimentos militares para transformá-los em facções políticas. Imitando essas Lojas militares,
surgiram as Lojas civis.
Esta seria a origem da Maçonaria escocesa, que se espalhou pela
França juntamente com os stuardistas refugiados, cujos fins, eram apenas imediatos, não
possuindo organização central e muito menos declaração de princípios.
Mesmo a restauração
dos Stuarts tendo se mostrado impraticável, essas Lojas conseguiram perpetuar-se
conservando uma vinculação geral com ideais maçônicos comuns. 28
Existe, porém, uma forte corrente, dentro e fora da Maçonaria que rejeita
completamente a hipótese das Lojas stuardistas e considera, apenas, o movimento iniciado na
Inglaterra em 1717, quando as quatro Lojas de Londres se uniram para formar a Grande Loja
da Inglaterra, como marco fundador da fase especulativa. O pioneirismo inglês é bem
difundido, principalmente porque em 1723, o clérigo presbiteriano James Anderson publicou
nas Lojas de Londres a “Carta Magna” dos maçons: The Constituitions of the Free-Masons.
Containing the History, Charges, Regulations, & c. of the most Ancient and Rigtht
Worshipful FRATERNITY.29
Também conhecido como as “Constituições de Anderson”, este documento pode ser dividido em três partes: a História da Ordem dos maçons, isto é, da
fraternidade dos primitivos construtores – ditos maçons operativos; as Obrigações dos
Franco-Maçons; e o Apêndice, uma pequena coletânea de hinos maçônicos a serem entoados
pelos irmãos nas suas Lojas. 30 Em concordância com esta origem inglesa, o historiador André
Combes, demonstrou que Anthony Sayer foi o primeiro grão-mestre eleito e que no ano
seguinte, George Payne assumiu o grão-mestrado, sendo sucedido, em 1719, pelo Reverendo
John T. Desaguliers.
Em seguida, a Maçonaria se tornaria aristocrática
e o grão-mestrado
passaria a ser exercido por membros da nobreza
como o Duque de Montagu (1721) e o Duque
de Wharton (1722).31
Embora esse episódio tenha sido supervalorizado, sobretudo pela
historiografia inglesa, naquele dia 24 de junho de 1717, dia de São João Batista, é importante
ressaltar que a grande novidade foi a criação de um organismo central que iria dirigir os
trabalhos dos maçons londrinos.
Segundo o principal argumento de Stevenson, foi na Escócia, em fins do século XVI e
inicio do século XVII, que surgiram alguns dos ingredientes essenciais para a formação da
Maçonaria moderna: o primeiro uso da palavra “Loja” no sentido maçônico moderno; as
primeiras atas e outros registros das Lojas; as primeiras tentativas de organizar Lojas em
âmbito nacional; os primeiros exemplos de “não-operativos” (homens que não eram pedreiros
trabalhadores) e outros mais. Até o fim do século XVI, não existem provas circunstanciais de
que os obreiros da Escócia divergissem muito de outros tipos de artesãos, exceto pelo fato de
que, como já foi dito, eram obrigados a se deslocarem em busca de novos trabalhos.
Contudo,
em 1598, William Schaw – primeiro Mestre-de-Obras do rei – elaborou um regulamentado
para a organização e a conduta dos maçons. 32
Daí em diante, no decorrer do século XVII, homens de todos os níveis da sociedade
pareciam fascinados pelos segredos dos maçons, o que fez com que a Ordem adquirisse um
status intelectual único. Foi quando maçons operativos, pedreiros trabalhadores, escoceses
começaram a ter companhia de “não-operativos”, homens de outros modos de vida.33 Em
outras palavras, a Maçonaria tornou-se uma associação muito distinta das suas congêneres,
organizada em forma de Lojas, com rituais singulares e muito mais elaborados.
Deste modo, o segredo, cercando a Palavra do Maçom, rapidamente despertaria o interesse de homens que
não eram ligados à arte da construção, dentre eles, muitos cavalheiros.34
No início do século XVIII a Inglaterra assumiu a liderança no desenvolvimento da
Maçonaria, mesmo assim, a influência escocesa permaneceu ainda muito forte.
Para o autor a
fase escocesa ou renascentista da Maçonaria – tanto na Escócia como na Inglaterra – só foi
sucedida quando valores Iluministas foram incorporados ao movimento. Na medida em que a
“Idade da Razão” alvorecia, a Maçonaria – nascida na Renascença – era adaptada para se
acomodar a um novo clima intelectual. No bojo das influências medievais, renascentistas e
iluministas, surgia uma instituição que parecia refletir o espírito progressivo da época, com
ideais de irmandade, igualdade, tolerância e razão. O resultado foi que a Maçonaria se
transformou num pólo de atração de numerosos ocultistas, magos, alquimistas, cabalistas,
dentre outros. Assim, a Maçonaria surgida e difundida como um movimento mundial
diversificava-se rapidamente. 35
O caráter pluralista da Maçonaria especulativa proporcionou uma estrutura
institucional excepcional, onde as mais diversas religiões e crenças políticas podiam ser
acolhidas. Parecia que aquele sistema de Lojas, envolta pelo mistério, ideais de lealdade e
modos secretos de reconhecimento, tinha criado uma estrutura organizacional ideal, em que
os membros podiam incorporar novos valores e adaptá-los para usos pessoais. Devido à
abrangência institucional e a variedade de seus componentes, a Maçonaria nunca foi capaz de
atingir plena homogeneidade interna. Muitas vezes era o posicionamento particular de seus
membros que determinava os rumos da Ordem.
Desta maneira, com o tempo, os desacordos se multiplicaram e as partes divergentes
formaram obediências maçônicas próprias. Um complexo movimento de mútua excomunhão
se seguiu dentro da Maçonaria. A primeira grande cisão da Maçonaria ocorreu ainda em solo
inglês, alguns anos após a segunda edição das Constituições de Anderson em 1738. Os
maçons ditos “antigos” acusavam os “modernos” maçons de descristianização do ritual
maçônico e traição do verdadeiro sentido da Instituição. Em 1751, o grupo descontente
fundou a Grande Loja dos antients ou maçons antigos, em oposição à Grande Loja da
Inglaterra.
36
( A iniciação de cavalheiros em Lojas na Inglaterra
também é registrada desde a década de 1640,
mas
os segredos possuídos pelos maçons ingleses e suas organizações
em Lojas parecem ter origem
escocesa. Stevenson sugeriu que enquanto na Escócia
a Maçonaria evoluiu das verdadeiras práticas de
pedreiros trabalhadores, na Inglaterra,
pelo menos em parte, esta foi importada, com Lojas sendo
criadas por cavalheiros e para os cavalheiros. V)
No que se refere ao mundo luso-brasileiro, segundo Oliveira Marques, a Maçonaria
foi instalada por volta do ano de 1727, sendo registrada nos arquivos da Inquisição como Loja
dos Hereges Mercantes. Essa primeira Loja portuguesa, era basicamente formada por
comerciantes britânicos protestantes que viviam em Lisboa. Em 1733, por iniciativa do
maçom inglês George Gordon, seria fundada uma segunda Loja com o nome de Casa Real
dos Pedreiros-Livres da Lusitânia composta por irlandeses, mercadores, mercenários do
exército português, médicos, um frade dominicano e um estalajadeiro. Não obstante, ao ser
promulgada a bula condenatória de Clemente XII, In Eminenti Apostolatus Specula (1738), a
Casa Real dos Pedreiros-Livres da Lusitânia foi dissolvida mas alguns dos maçons se
transferiram para a primeira Loja. 37
Uma terceira Loja haveria de ser fundada em Lisboa, em 1741, pelo lapidário de
diamantes John Coustos, nascido na Suiça, naturalizado inglês.
Durante os dois anos em que a
Loja funcionou, foi constituída de estrangeiros residentes em Portugal, alguns dos quais
franceses, ingleses, um belga, um holandês e um italiano, mas também por portugueses
letrados e gente da alta sociedade lisboeta. John Coustos desempenhou um papel central na
constituição dos primórdios da Maçonaria portuguesa, sendo alvo desde cedo do interesse do
Santo Ofício. A desconfiança da Igreja foi despertada pelas indicações da Imperatriz austríaca
e católica Dona Maria Teresa, obstinada na perseguição e ilegalização das associações de
franco-maçons. Para a imperatriz a Maçonaria e suas ramificações era considerada um centro
de influência protestante inglesa, por isso, contrária aos interesses das famílias dinásticas
europeias, de orientação católica.38
A perseguição iniciada em 1743 com a prisão de vários Pedreiros-Livres conduziria ao
desmantelamento desta primeira tentativa de instalação maçônica em Portugal. A própria Loja
dos Hereges Mercantes entraria em fraca atividade, “adormecendo” em 1755. Em 1751, o
Papa Bento XIV, a pedido dos reis da Espanha e de Nápoles, lançou uma nova bula contra os
maçons, Providas Romanorum, reiterando a posição de seu predecessor Clemente XII. A bula
seria seguida de decretos reais dos dois monarcas suprimindo a Maçonaria nos respectivos
países, o que favorecia as condições para incitar o Santo Ofício à vigilância e à perseguição.39
A Maçonaria portuguesa só se libertaria desta pressão na década de 1760-70, com o
Marquês de Pombal. Durante o “pombalismo” não se tem nenhum registro de maçom nas
listas condenatórias da Inquisição nem nos relatórios da intendência da polícia. Pombal nunca
permitiu que a Inquisição perseguisse os franco-maçons, defendendo assim os direitos do
Beneplácito contra a usurpação dos eclesiásticos. Deste modo, a Maçonaria retomou sua força
e seu vigor, desenvolvendo-se sobretudo no exército, na aristocracia e nas classes instruídas.
É provável que Pombal antes de ser ministro de D. José, tivesse contato, enquanto embaixador
em Londres, com meios e círculos aristocráticos favoráveis à Maçonaria, mas não existe
prova documental de que ele fosse iniciado na “Arte Real”. Além disso, o recrutamento pelo
Marquês de Pombal de vários cidadãos estrangeiros, designadamente de países protestantes,
para o exército, para a indústria e outras atividades econômicas propiciou condições para a
expansão das Lojas.40
No caso específico do Brasil,
segundo o manifesto de José Bonifácio,
a primeira Loja
simbólica regular foi instalada no Brasil somente em 1801,
com o título de Reunião, filiada ao
Grande Oriente da Ilê de France.
Quando o Grande Oriente Lusitano soube da existência, no
Brasil, de uma Loja regular, vinculado a uma Obediência francesa, enviou, em 1804, um
delegado a fim de garantir a adesão e a fidelidade dos maçons brasileiros. Mas não foi feliz o
delegado lusitano no modo como queria impor suas pretensões. Assim, resolveu deixar
fundadas duas novas Lojas, submissas ao Oriente do Reino: eram as lojas Constância e
Filantropia.
41
Desta forma, a Maçonaria ao chegar às terras brasileiras – oficialmente nos primeiros
anos do século XIX – trazia em sua bagagem acusações e desconfianças tanto das autoridades
civis quanto eclesiásticas. Ao mesmo tempo em que se inauguravam novas Lojas maçônicas,
particularmente, no Rio de Janeiro, em Salvador e em Recife, também crescia o número de
documentos e cartas enviadas pelos súditos ao rei D. João VI pedindo o fechamento de tais
corporações. Isto pode ser corroborado na carta escrita por José Anselmo Correa Henriques
datada de 10 de janeiro de 1816.
Real Senhor.
O objeto, de que vou tratar,
tem de sua natureza a maior importância Política,
por que inclui em si três motivos tão poderosos, que devem formar a
desconfiança da sua existência dentro de qualquer Estado: estes são Silêncio,
união e obediência.
Qualquer Corporação de indivíduos, que combina um sistema qualquer,
não
poderá unir três pontos em ligação política, que faça estremecer os alicerces
do
mais poderoso Governo do Universo, debaixo de um escudo tão impenetrável,
como este, de que escolhem
os Pedreiros Livres por base da sua Sociedade. Estas
terminantes Leis Constitucionais da mencionada Corporação são tão encadeadas
na segurança do objeto, a que ela se proporem, ou os maiores Cargos dela, que
persuade ao homem racionável, que debaixo desta cautela exista uma mascarada
conjuração, a qual não pode o Soberano de um país deixar de desconfiar com
suma razão, que é tendente a perturbar o seu sossego este oculto conluio, e
maiormente quando se aumentam as forças dele debaixo de um segredo
impenetrável no centro de Estados bem regulados...42
Ao que parece as reclamações de José Anselmo Correa Henriques foram
contempladas, quando em 30 de março de 1818, D. João VI emitiu um Alvará Régio
proibindo quaisquer sociedades secretas, de qualquer denominação, no território lusobrasileiro.
Eu El Rei faço saber aos que este alvará com força de lei virem,
que tendo-se verificado pelos acontecimentos que são bem notórios
o excesso de abuso a que tem chegado as Sociedades Secretas, que,
com diversos nomes de ordens ou associações, se tem convertido em conventículos
e conspirações contra o Estado, não sendo bastantes os meios correcionais
com que se tem até agora procedido segundo as leis do Reino, que proíbem qualquer sociedade, congregação ou associação de pessoas com alguns estatutos,
sem que elas sejam primeiramente por mim autorizadas, e os seus estatutos aprovados...43
que tendo-se verificado pelos acontecimentos que são bem notórios
o excesso de abuso a que tem chegado as Sociedades Secretas, que,
com diversos nomes de ordens ou associações, se tem convertido em conventículos
e conspirações contra o Estado, não sendo bastantes os meios correcionais
com que se tem até agora procedido segundo as leis do Reino, que proíbem qualquer sociedade, congregação ou associação de pessoas com alguns estatutos,
sem que elas sejam primeiramente por mim autorizadas, e os seus estatutos aprovados...43
Apesar da proibição, no início da década de 1820 é possível constatar uma
dinamização da atividade maçônica no Rio de Janeiro resultado, sobretudo, da reinstalação da
Loja Comércio e Artes. Nela ingressaram funcionários públicos, militares, eclesiásticos,
homens do comércio. Muito deles acabaram por atuarem na defesa da autonomia e posteriormente, independência do Brasil. Porém, era indispensável que primeiramente a
própria Loja ficasse independente das orientações do Grande Oriente Lusitano. No dia 28 de
maio de 1822, reuniram-se os maçons do Rio de Janeiro em assembléia magna, na Loja
Comércio e Artes, com a finalidade de instalar um Grande Oriente no Brasil. Para
conseguirem o mínimo de três Lojas, fundaram naquele mesmo dia mais duas: a União e
Tranqüilidade e a Esperança de Niterói.
44
No dia 24 de junho de 1822 fundou-se o novo Grande Oriente do Brasil para o qual
foi aclamado como primeiro Grão Mestre, José Bonifácio de Andrade e Silva.
O GOB adotou
o Rito Francês Moderno, criado em 1783, e composto por sete graus. Naquela ocasião
estavam presentes, entre os 94 fundadores, alguns antigos maçons como José Bonifácio, o
coronel Luiz Pereira da Nóbrega e o padre Belchior de Oliveira, além de Domingos Alves
Branco Muniz Barreto, frei Francisco Sampaio, cônego Januário da Cunha Barbosa, Jose
Clemente Pereira e Joaquim Gonçalves Ledo. 45
O historiador Marco Morel, em trabalho conjunto com Françoise Jean de Oliveira
Souza, compreende que havia uma espécie de jogo entre os maçons e o poder dos príncipes.
A
Maçonaria em busca de proteção e espaço abria seus “segredos” aos nobres, dando-lhes em
troca a oportunidade de legitimação no campo das novas idéias e também o controle dessa
nova forma de sociabilidade. 46 O mundo ibérico não fazia exceção a esta regra, por isso a
filiação de D. Pedro ao Grande Oriente do Brasil não representou uma particularidade
brasileira. Sendo assim, a Maçonaria em 13 de maio de 1822 conferiu o título de Defensor
Perpétuo do Brasil ao Príncipe Regente. Pouco tempo depois, em 2 de Agosto de 1822, D.
Pedro foi recebido no Grande Oriente, com o pseudônimo de Guatimozim, e contra todas as
regras, o Aprendiz Guatimozim foi eleito Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil.
Eu, meu pai, entrei para maçom; sei que os fidalgos em 1806
convidaram os
maçons e que eles não quiseram entrar, e por isso o
desgraçado Gomes Freire foi
enforcado por ser constitucional, querendo eles
que V. Majestade continuassem
a ser rei. Não houve quem dissesse a V. majestade
que era preciso uma
Constituição (eu então era pequeno).
Em vingança a Gomes Freire rebentou a
revolução do Porto em 24 de agosto de 1820 e,
pela mesma razão, os maçons que
estavam na Corte, tanto bateram os fidalgos
que eles aguentaram calados, até
que pilhando-os agora debaixo,
atribuem tudo que fazem aos pedreiros-livres.
Porque sabem com que horror os portugueses olham
para uma tão filantrópica
instituição. 47
Ainda em 1822, o próprio Grão Mestre D. Pedro I, por desentendimentos com os
maçons, fechou o Grande Oriente. Mas com a abdicação do Imperador em 1831, o Grande
Oriente do Brasil foi restaurado e novamente José Bonifácio de Andrade e Silva foi elevado
ao cargo de Grão-Mestre. Seguiram-se novas divisões e subdivisões, até que se tornou mais
profunda a dissidência em 1863 separando-se em corpos: o Grande Oriente do Lavradio e o
Grande Oriente (da rua) dos Beneditinos. Mesmo assim durante todo o Segundo Reinado teve
a Maçonaria grande prestígio e influência política, contando entre seus membros altas
personalidades e não poucos sacerdotes. Infiltrou-se profundamente na Igreja, através das
irmandades, chegando a ter, em alguns casos, as chaves do sacrário, de maneira que as
autoridades clericais adotariam um discurso cada vez mais radical no sentido de desmoralizar
os maçons. 48
2.2 Maçonaria e Igreja Católica: acusações, condenações e conflitos
Como já foi demonstrado, na Idade Média a relação entre as Lojas e a Igreja Católica
era relativamente amistosa. Os maçons monopolizavam os segredos da arte de construir as
grandes catedrais góticas, castelos, pontes, monumentos dentre outros... A prestação de seus
serviços à Igreja Católica e aos reis rendeu-lhes privilégios, como: a livre circulação, o não
pagamento de impostos e a não servidão.
Talvez seja por isso que a própria denominação de
freemason ou Pedreiro-Livres fosse,
desde então, a forma comum de identificar aqueles
especialistas da construção.49
Nas palavras de alguns autores católicos, as finalidades e
pretensões maçônicas ultrapassavam as barreiras do comprometimento profissional. Os
grêmios ou Lojas do que se conhece por Maçonaria operativa possuía também uma feição
“religiosa”.
Entretanto, isso não significa dizer que a instituição fosse uma religião
propriamente dita. Ao contrário, o que pode ser observado são apenas algumas características assemelhadas expressas, sobretudo, na adoção de símbolos cristãos e na estreita relação que
mantiveram com o clero.50
Não obstante, a atitude modernizadora e pluralista da Maçonaria51 foi encarada com
muita desconfiança pela Igreja Católica.
O desconhecimento do que era a Ordem, o segredo
das reuniões e os juramentos impostos aos seus membros, levaram a uma desconfiança
generalizada por parte das autoridades da grande maioria dos Estados europeus. Isso veio a se
confirmar quando surgiu a primeira condenação dos maçons, no ano de 1738, com a bula In
Eminenti Apostolatus Specula do papa Clemente XII. Para Cottier, começou naquele ano um
período de tensão e lutas quase incessantes entre as duas instituições.52 Entretanto, é preciso
ressaltar que os papas não foram os primeiros a condenarem e perseguirem a Maçonaria.
Como demonstrou Benimeli, por exemplo, em 14 de setembro de 1737 o Cardeal Fleury (1°
ministro de Luis XV) proibiu toda reunião secreta, sobretudo a chamada freymaçons. 53
Quando em 1738 condenou a Maçonaria, o papa Clemente XII reivindicava com a
máxima autoridade – além da Carta de Plínio Cecílio – as disposições do direito romano
contra os collegia illicita. Nestes termos da lei, as associações formadas sem consenso da
autoridade pública eram consideradas ilícitas. A ilicitude, do ponto de vista jurídico, de tais
associações acabaram por contribuir para que a Maçonaria, fosse considerada ilegal não
somente sob aspecto jurídico-político, mas também moral.
Do começo ao fim, Clemente XII nada mais fez do que seguir o exemplo
dos
outros governos molestados e pouco tranquilos com os quais se cercava a
maçonaria.
Os governos protestantes também proibiram a Maçonaria,
por ex:
Holanda, Hamburgo, Suécia e Genebra. Católicos e Protestantes não eram
simpáticos à situação de clandestinidade que os impedia de estar a par de que se
estaria podendo maquinar naquelas reuniões.
A Maçonaria representava um elemento perigoso
à segurança dos reinos por isso foi
proscrita e banida pelos monarcas.
Do mesmo modo, a tolerância religiosa praticada e
defendida pela Maçonaria
rapidamente se transformou na principal motivação das críticas da
Igreja.
E por outras justas e razoáveis por Nós conhecidos,
resolvemos e decretamos
condenar e proibir as mencionadas sociedades, assembleias, reuniões... dos
franco-maçons. (...) proibimos, portanto, seriamente, em nome da santa
obediência a todos os fiéis de Cristo, de qualquer estado, posição, condição,
classe, dignidade e preeminência que sejam; leigos ou clérigos, seculares ou
regulares,
ousar ou presumir entrar, sob qualquer pretexto, debaixo de qualquer
cor,
nas sociedades de franco-maçons, propagá-las, sustentá-los, recebe-las em
suas casas,
ou dar-lhes abrigo e ocultá-la alhures, ser nelas inscrito ou
agregado, assistir às suas reuniões, ou proporcionar-lhes meios para se
reunirem, fornecer-lhes o que quer que seja,
dar-lhes conselho, socorro ou falar
às claras ou secretamente...
e ordenamo-lhes absolutamente, que se abstenham
totalmente dessas sociedades,
assembleias, reuniões... e isto de baixo de pena de
excomunhão,
da qual ninguém poder ser absolvido senão por Nós,
ou pelo
pontifícia romano reinante, exceto em artigo de morte. 56
Na opinião de Benimeli, Clemente XII condenou uma instituição que de fato conhecia
muito pouco e não sabia qual era seu verdadeiro objetivo. As provas aduzidas por Clemente
XII eram tanto a opinião pública quanto as “fundadas suspeitas de pessoas honestas e
prudentes”. No catálogo das penas cominadas pela Santa Inquisição, a execução capital
figurava somente para os maçons que fossem “heréticos impenitentes”, enquanto aos
arrependidos era reservado o cárcere.
Homens de todas as religiões e seitas,
sob aparência de honestidade natural, por
um pacto estreito e impenetrável,
conforme leis e estatutos por eles criados,
obrigando-se sob juramento,
pronunciado sobre a Sagrada Escritura e sob penas
graves a ocultar por um segredo inviolável, tudo o que praticam nas sombras do
segredo. 57
A inquisição foi um tribunal eclesiástico,
que funcionava com poderes delegados pelo
papa para a perseguição das heresias.
Inicialmente, ela esteve voltada contra a prática em
segredo pelos cristãos-novos de valores e costumes judaicos. Entretanto, conforme
demonstrou Francisco Bithencourt, no decorrer de quase três séculos de existência, esse
tribunal eclesiástico desenvolveu uma enorme “plasticidade”, sofrendo alterações sensíveis no que se refere às suas funções.
Exemplos dessa plasticidade podem ser percebidos tanto na
relação com o poder real, quanto no rol dos crimes sob sua jurisdição. Assim, se em alguns
momentos ela se encontrou mais subordinada ao poder real, em outros ela possuiu quase que
uma autonomia absoluta. Criada inicialmente para perseguir os chamados cripto-judeus, já no
século XVII vários outros crimes como a bigamia, a sodomia, a blasfêmia, a solicitação, as
práticas mágicas e supersticiosas, foram absorvidos pela Inquisição revelando assim aquilo
que o autor chamou de “plasticidade” dos tribunais inquisitoriais.58
Além dessa plasticidade, apontada por Bethencourt, existia uma outra distinção
significativa da Inquisição moderna, exemplificado pelo caso português, que é o seu “caráter
dualista”, a Inquisição era ao mesmo tempo um tribunal eclesiástico e um tribunal da coroa.
Deste modo, ter em conta essa dualidade é fundamental para o entendimento da introdução do
crime de pertencimento à Maçonaria na jurisdição inquisitorial. Ao serem acusados de
“suspeitos de heresia”, os maçons eram ao mesmo tempo considerados maus católicos e maus
vassalos. A primeira condenação da Igreja Católica chegou em Portugal em julho de 1738 e
foi divulgada, oficialmente, em 28 de setembro do mesmo ano, através de um Edital assinado
pelo Inquisidor Geral, cardeal D. Nuno da Cunha.59
O documento além de reproduzir os
termos gerais da bula papal,
exortava a todos, quer eclesiásticos quer seculares, sob pena de
excomunhão,
que denunciassem num prazo de trinta dias, pessoas conhecidas
que
frequentavam as Lojas maçônicas.60
De qualquer forma, em 18 de maio de 1751, como expôs Cottier, a Maçonaria mais
uma vez foi condenada. Desta vez através da bula Providas Romanorum Pontificum de Bento
XIV (1740 – 1758). Na Providas... reproduzia-se, integralmente, o texto da Constituição In
Eminenti. Igualmente, ficavam estabelecidas algumas razões para a condenação:
A primeira
seria o fato de a Maçonaria propagar a liberdade de culto; a segunda e a terceira razões
estavam relacionadas ao caráter iniciático da Ordem, ao segredo maçônico, fielmente
guardado sob juramento, o que tornava ilícitas e suspeitas estas reuniões; a quarta razão
estaria na acusação de que a Maçonaria não respeitava as leis canônicas e civis.
Pio VII (1800 – 1823) em 13 de setembro de 1821 publicou a constituição Eclesiam a
Iesu Christo, contra os carbonários – grupo revolucionário que agitava a península italiana.
Para Benimeli, os carbonários formavam uma seita de caráter político, independente da
Maçonaria, tendo por finalidade principal a unificação da Itália. Todavia Pio VII dava um
passo à frente na condenação da Maçonaria equiparando-a com todas as outras sociedades
secretas. 62 Em 13 de março de 1825, Leão XII (1823 – 1829) divulgou a constituição Quo
Graviora.
Esta condenação reiterava as censuras anteriores, além de explicitar sua aplicação a
toda associação secreta que tivessem por finalidade conspirar em detrimento da Igreja e dos
poderes do Estado. Dessa forma, o documento constituía um índice interessante da complexa
evolução das condenações ocorridas no século XIX. A Igreja se colocava em conflito aberto
com a Maçonaria, sobretudo a italiana e a francesa.63
Nas palavras de Benimeli, aquela era uma época difícil, pois durante 1831 a 1832 e
1843 a 1845 graves desordens eclodiram nos Estados Pontifícios, sendo sufocadas graças ao
auxílio das tropas austríacas e francesas. Uma das principais causas das agitações era o
descontentamento com o sistema de governo em uso nos Estados Pontifícios, que não
permitia aos leigos ocuparem cargos administrativos do governo.
Diante desta situação, foi
relativamente fácil aos “agitadores” excitar o descontentamento do povo contra o clero
enquanto casta dominante e, por conseguinte, contra a Igreja. Nesta luta as sociedades
secretas conquistaram um papel preponderante nas acusações dos papas.
A isto [criminosa conspiração] tendem estas sociedades secretas,
surgidas do
profundo das trevas somente para fazer reinar por toda a parte,
na ordem
sagrada como na profana, clandestinas, tantas vezes anatematizadas
pelos
pontifícias romanos, nossos predecessores... 64
A agitação contra o governo papal foi, pouco a pouco, amalgamando-se com a
campanha pela unificação italiana. Os conflitos entre a Igreja e a Maçonaria estavam cada vez
mais dramáticos. Até que em 1848, após o papa ter recusado a participar da guerra de
libertação do reino de Sardenha contra a Áustria, as sociedades secretas desencadearam,
finalmente uma revolução em Roma.65
Em meio àquela conjuntura conturbada, o papa Pio IX
(1848 – 1878), seguindo a trilha de seus predecessores, condenou mais uma vez todas as sociedades secretas, em especial a Maçonaria. Neste momento, não era somente o caráter
clandestino destas sociedades que justificava a reprovação da Igreja Católica, pois o Sumo
Pontifício responsabilizava a Maçonaria pela crise na Península Itálica, uma vez que maçons e
carbonários pareciam trabalhar juntos na luta pela unificação italiana, o que contrariava os
interesses de autonomia de Roma. Na visão de Pio IX a Maçonaria italiana era a usurpadora
do poder temporal dos papas e inimiga da religião, desde o momento em que se tornou
adversária política do papado. Sendo assim, na aloc. Multíplices inter (25 – 09 – 1865)
Pio IX
declarava expressamente a incompatibilidade entre a Ordem maçônica e a Igreja Católica.
Entre as múltiplas maquinações e insídios com os quais os inimigos do nome
cristão ousavam assaltar a Igreja de Deus, esforçando-se, bem que inutilmente,
enumerar aquelas perversas associações de homens, denominados comumente
maçonaria. Esta refugiada nos esconderijos e nas trevas, saiu à luz
impiedosamente, em prejuízo da religião e da sociedade humana. 66
Todo o material jurídico anterior contra a Maçonaria foi unificado por Pio IX na sua
célebre Const. Apostolicae Sedis (12 – 10 – 1869). Por esta época houve um significativo
aumento do material antimaçônico produzido, sobretudo pela convicção do papa, após o cerco
de Roma pelas tropas italianas. Ferrer Benimeli observa que a questão do poder temporal dos
papas foi considerada por muitos católicos de primeira importância.
A unificação da Itália com Roma por capital, era tida, na verdade,
como
sinônimo mais ou menos vago de fim da Igreja, da mesma forma como,
quinze
séculos antes, muitos não puderam conceber uma ordem cristã capaz de
sobreviver à ruína da ordem romana e da unidade do mundo sob o império. 67
Não obstante, a herança transmitida a Leão XIII (1878 – 1903)
foi extremamente
delicada e difícil. O papa continuou a manter-se recolhido no Vaticano.
Todo seu esforço
consistia em alimentar aos olhos dos católicos,
a iniquidade do estado de coisas que reinava
em Roma.
Perante tais condições históricas, não causa admiração ao saber que durante os 25
anos do pontificado de Leão XIII, saíram do Vaticano nada menos do que 226 documentos para condenar e pôr em guarda o mundo inteiro contra a Maçonaria, a Carbonária e as
sociedades secretas. 68
Em 20 de abril de 1884, Leão XIII elabora o mais direto e amplo documento deletério
contra a Maçonaria. Em sua enc. Humanum Genus, o papa corrobora as condenações dos seus
precedentes e reafirma o compromisso da Igreja Católica no confronto à Maçonaria.
A primeira advertência do perigo foi dada por Clemente XII no ano de 1738, e
sua constituição foi confirmada e renovada por Bento XIV. Pio VII seguiu o
mesmo caminho; e Leão XII, por sua constituição apostólica Quo Graviora,
juntou os atos e decretos dos Pontifície anteriores sobre o assunto, e os ratificou
e confirmou sempre. No mesmo sentido pronunciou-se Pio VIII , Gregório XVI, e,
muitas vezes, Pio IX. 69
Mas foi o episódio de 1877 o mais relevante para galvanizar definitivamente a
narrativa antimaçônica. Nesse ano, o Grande Oriente de França em resposta à Igreja Católica
resolveu suprimir de sua constituição os preceitos referentes a Deus e à alma, por serem
considerados dogmatismos.
O lema Deus meumque ius (Deus e o meu direito)
foi substituído
por suum cuique ius (a cada qual o seu direito).70
O secularismo das Lojas francesas
possibilitou o ingresso de ateus dentro da Ordem. Como resposta a Grande Loja da
Inglaterra, considerada regular71 aos Antigos Deveres (Old Charges), acusou a Maçonaria
francesa de “irregularidade” em relação à tradição dos obreiros. 72
Diante dessa provocação o papa Leão XIII, corroborava seus argumentos,
demonstrando que o principal dos intentos da sociedade dos Pedreiros-Livres era a destruição da ordem religiosa e civil estabelecida pelo Cristianismo. Assim, os maçons iriam promover,
à sua maneira, outra ordem com fundamentos e “leis tiradas das vísceras mesmas do
naturalismo”.
BULA Humanus genus. On-line. Disponível em
.
Acesso em: 03 de novembro de 2008.
70 COTTIER, Georges. (op. cit), p. 33.
71 Embora qualificada de Grande Loja Mãe, a Grande Loja Unida da Inglaterra não é um “Vaticano
da Maçonaria”. Por isso, sua pretensão de dar patentes de ortodoxia é contestada por muitos. A própria
noção de “regularidade” – uma noção inventada por Alec Mellor e o Pe. Riquet – é antes de tudo um
simples conceito de fidelidade a uma tradição considerada legítima. O grande problema reside
exatamente neste ponto, uma vez que se torna difícil determinar de onde exatamente se deriva a
tradição considerada legítima. Por isso, a ideia de uma Maçonaria coesa e organizada
internacionalmente não se sustenta mais, ao contrário do que muitos estudiosos afirmaram em outrora.
A Maçonaria nunca foi um corpo monolítico, pois na prática ela se encontra subdividida em
numerosas ramificações. Mas o fato é que ainda assim, muitas condenações e acusações pesaram sobre
os maçons por mais de dois séculos e meio. E na liderança deste movimento antimaçônico a Igreja
Católica teve uma participação destacada.
Quanto ao que se refere à vida doméstica nos ensinamentos dos naturalistas é
quase tudo contido nas seguintes declarações: que o casamento pertence ao
gênero dos contratos humanos, que pode ser legalmente renovado pelo desejo
daqueles que o fizeram, que os governantes civis do Estado têm poder sobre o
laço matrimonial; Os maçons concordam completamente com estas coisas; e não
somente concordam, mas têm longamente esforçado-se para transformá-las em
lei e instituições. 73
No âmbito da educação o relacionamento entre a Maçonaria e Leão XIII era cada vez
mais conflituoso, pois de um lado, estavam os maçons, defensores de uma educação laica
pautada pelo ideal iluminista, enquanto que de outro estava a Igreja, defensora do ensino
religioso fundado na verdade do Cristianismo. Nas palavras do papa, a Maçonaria desde
muito tempo trabalhava para aniquilar da sociedade todo o influxo do magistério e da
autoridade da Igreja – “ se exalta e preconiza a separação da Igreja do Estado “(...) na
educação dos jovens nada deve ser ensinado em matéria de religião como opinião certa e
fixada; e cada um deve ser deixado livre para seguir, quando chegar a idade, qualquer que
preferir”. 74
A imprensa também serviu de palco para as disputas entre a Maçonaria e Leão XIII.
Nos anos que se seguiram a publicação da Humanus Genus, o número de associações e
revistas antimaçônicas aumentou consideravelmente. Além disso, os estudos destinados a
esclarecer a opinião pública multiplicaram pelos países latinos.
Em nota Ferrer Benimeli
demonstrou que a Humanus Genus causou grande impacto num e noutro campo. No mundo
maçônico ela foi objeto de críticas e símbolo máximo da intolerância católica. Do lado da
Igreja, o que sem tem é uma intensa publicação de bispos que corroboravam as condenações
da bula, exortando ainda mais a narrativa antimaçônica. 75
Portanto, se num primeiro momento o caráter subversivo da Maçonaria era apenas
uma “forte suspeita”, pautada pela ideia clássica de que “as coisas boas amam sempre a
publicidade, e os crimes encobrem-se com o segredo”. Em fins do século XIX, a antiga
CONTINUA....
(....) 2.2 Maçonaria e Igreja Católica:
acusações, condenações e conflitos
Como já foi demonstrado,
na Idade Média a relação entre as Lojas e a Igreja Católica
era relativamente amistosa.
Os maçons monopolizavam os segredos da arte de construir
as
grandes catedrais góticas, castelos, pontes, monumentos dentre outros...
A prestação de seus
serviços à Igreja Católica e aos reis rendeu-lhes privilégios,
como: a livre circulação, o não
pagamento de impostos e a não servidão.
Talvez seja por isso que a própria denominação de
freemason ou Pedreiro-Livres fosse, desde então, a forma comum de identificar aqueles
especialistas da construção.49 Nas palavras de alguns autores católicos, as finalidades e
pretensões maçônicas ultrapassavam as barreiras do comprometimento profissional. Os
grêmios ou Lojas do que se conhece por Maçonaria operativa possuía também uma feição
“religiosa”. Entretanto, isso não significa dizer que a instituição fosse uma religião
propriamente dita. Ao contrário, o que pode ser observado são apenas algumas características
(.......................................................)
Nessa revolução francesa, escrevia Barruel,
tudo, até os seus crimes mais
pavorosos, tudo foi efeito da mais perversidade,
já que tudo foi preparado,
conduzido por homens que eram únicos
a ter o fio das conspirações longamente
urdidas em sociedades secretas,
e que souberam escolher e acelerar os
movimentos propícios aos complôs.
88 OS PEDREIROS-LIVRES, e os Illuminados,
Que mais propriamente se deverião denominar os Tenebrosos,
De cujas Seitas se tem formado a pestilencial Irmandada,
a que hoje se chama Jacobinismo. Lisboa:
Para ler o excelente PDF Original com recursos de roda-pé
http://www.ufjf.br/ppghistoria/files/2009/12/Luiz-Mario-Ferreira-Costa.pdf
A Taça da Vida - O Santo Graal
Radeir - ost - 2006
Os judeus no Brasil - 15 min.
História dosa Judeus no Brasil - 30 min.
Maurício de Nassau - 6 min.
Brasil - Uma História Inconveniente - 46 min.
Que mais propriamente se deverião denominar os Tenebrosos,
De cujas Seitas se tem formado a pestilencial Irmandada,
a que hoje se chama Jacobinismo. Lisboa:
Para ler o excelente PDF Original com recursos de roda-pé
http://www.ufjf.br/ppghistoria/files/2009/12/Luiz-Mario-Ferreira-Costa.pdf
A Taça da Vida - O Santo Graal
Radeir - ost - 2006
Os primeiros judeus que chegaram no Brasil - Parte 1 - 21 min.
Os primeiros judeus que chegaram no Brasil - Parte 2 - 40 min.
A História Judaica no Brasil - 51 min.
História dosa Judeus no Brasil - 30 min.
Maurício de Nassau - 6 min.
Brasil - Uma História Inconveniente - 46 min.
Fontes:
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http://www.ufjf.br/ppghistoria/files/2009/12/Luiz-Mario-Ferreira-Costa.pdf
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