Governo | |
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Reinado | 14 de dezembro de 1542 — 24 de julho de 1567 |
Coroação | 9 de setembro de 1543 |
Consorte | Francisco II de França Henrique Stuart Jaime Hepburn |
Antecessor | Jaime V |
Sucessor | Jaime VI |
Dinastia | Stuart |
Títulos | Rainha Consorte de França |
Vida | |
Nascimento | 8 de dezembro de 1542 |
Linlithgow, Lothian Ocidental, Escócia | |
Morte | 8 de fevereiro de 1587 (44 anos), executada) |
Fotheringhay, Northamptonshire, Inglaterra | |
Sepultamento | Abadia de Westminster, Londres, Inglaterra |
Filhos | Jaime Carlos |
Pai | Jaime V |
Mãe | Maria de Guise |
Assinatura |
Maria Stuart (em inglês: Mary, Queen of Scots; em gaélico escocês: Mairi Ire) (Castelo de Fotheringhay, 8 de dezembro de 1542 — Palácio de Linlithgow, 8 de fevereiro de 1587) tornou-se rainha da Escócia com uma semana de idade, após a morte do seu pai, Jaime V da Escócia da Casa de Stuart. Foi educada em França — a mãe era uma Guise — e com dezesseis anos casou-se com o Delfim de França, futuro Francisco II de França, que morreria dois anos mais tarde. Foi uma das mais famosas rainhas do século XVI.
Os soberanos Jaime V da Escócia
e Maria de Guise foram os pais de Maria Stuart. Desta forma, Maria
Stuart descendia dos reis ingleses por parte de seu pai, filho de
Margaret Tudor, filha do rei inglês Henrique VII; ao passo que por via
materna, descendia da casa ducal da Lorena.
Com a morte do rei escocês e com a decisão do parlamento anulando uma
futura aliança entre Maria Stuart e o príncipe Eduardo de Gales, veio
uma guerra entre a Inglaterra e a Escócia.
Mandada a bordo de um vaso de guerra da esquadra de Villegaignon,
a nobre e jovem escocesa chegou às terras da Gália a 13 de agosto de
1548, onde desembarcou no porto de Roscoff. Educada na corte francesa de
Henrique II,
e desejada para futura esposa do príncipe Francisco, teve uma bela
instrução, tendo como mestre Buchnan, Ronsard, Loraine e outros.
Enquanto isso, sua mãe, Maria de Guise (também chamada Maria de Lorena)
atuou como regente em seu nome, na Escócia.
Os nobres franceses
tinham por ela verdadeira afeição,
pois o seu
cabelo louro e ondulado,
os olhos de um cinzento claro, a sua esbelta
estatura
e seu andar elegante extasiava qualquer cavalheiro.
No dia 24 de abril de 1558, realizou-se na catedral de "Notre Dame" o
casamento do príncipe Francisco com Maria Stuart, fazendo com que assim
a aliança entre a França e a Escócia fosse sempre assegurada.
Morrendo Henrique II, subiu ao trono da França o herdeiro Francisco,
esposo da rainha escocesa. Em consequência de enfermidades, Francisco II
morreu, deixando sua jovem esposa viúva, que imediatamente resolveu
rever sua pátria natal.
Maria Stuart deixou o solo francês, em 14 de agosto de 1561.
E quando já ao longe, a soberana viu desaparecendo os contornos do
litoral francês, disse com lágrimas nos olhos a seguinte frase de
gratidão:
"Adeus França, adeus, França,
penso que nunca mais vos hei de
ver".
Chegando à Escócia,
desejosa por acalmar as revoluções religiosas, nomeou para
primeiro-ministro, seu irmão natural Jayme Stuart com o título de conde
de Murray, e logo depois se casou com Henrique Stuart, Lorde Darnley, filho do Duque de Lennox, dando-lhe o título de Rei Consorte da Escócia.
Depois de trair sua própria esposa e rainha, Danrley morreu vítima de
uma explosão, a qual muitos acreditaram ter sido tramada pela própria
rainha e o seu alegado amante, James o Conde de Bothwell. Maria então
desposou Bothwell, um mercenário que chefiava a guarda real.
Batendo-se de frente com o revolucionário Murray, o Conde de Bothwell
perdeu a batalha. Temendo cair prisioneira dos revoltosos, a rainha
Maria pediu abrigo à sua prima Isabel, rainha da Inglaterra.
Depois de encarcerada no Castelo de Chartley, Maria Stuart teve de comparecer a um julgamento em Fotheringhay, arranjado por Francis Walsingham, secretário de Isabel, acusada de conspiração e alta traição contra a vida de Isabel.
Apesar dos veementes apelos e protestos da França e Espanha, a sentença para a morte de Maria foi assinada.
E, na manhã de 8 de fevereiro de 1587,
Maria Stuart, apoiada ao braço de seu médico francês, Bourgoing, subiu
ao patíbulo, onde o gume do machado manejado pela mão férrea de um
carrasco desceu sobre o seu pescoço, pondo fim à sua existência.
A vida repleta de aventuras e tragédias dessa rainha inspirou várias
representações artísticas, entre as quais podemos destacar a peça Maria Stuart (1800), de Friedrich Schiller, e o filme Mary, Queen of Scots (1971), de Charles Jarrott.
Precedida por: Jaime V |
Rainha da Escócia 1542 - 1567 |
Sucedida por: Jaime VI |
Precedida por: Catarina de Médicis |
Rainha de França 1559 - 1560 |
Sucedida por: Isabel da Áustria |
Maria Stuart, conhecida como Maria I da Escócia (8 de Dezembro de 1542 — 8 de Fevereiro de 1587), tornou-se rainha da Escócia com uma semana de idade, após a morte do seu pai, Jaime V da Escócia da Casa de Stuart. Foi Rainha da Escócia entre 1542-1567 (Maria I, da Escócia), e Rainha da França entre 1559-1560
- Maria Stuart, Rainha da Escócia,
numa carta à rainha Elisabete,
referindo-se
ao assassinato de Rizzio. Citada em Coleção
Os Grandes
Líderes - Maria Stuart, Nova Cultural
Mary Stuart, Rainha da Escócia
(Rainha da Escócia)
1542 - 1587
(Rainha da Escócia)
1542 - 1587
Rainha da Escócia nascida no palácio de Linlithgow,
Escócia, dotada de habilidade política, ambição e beleza, cuja aspiração
ao trono da Inglaterra foi transformada em tragédia. Filha única de
Jaime V, rei da Escócia, e da francesa Maria de Guise, foi educada na
França, na corte de Henrique II e Catarina de Medici. Casou-se (1558)
com o herdeiro do trono francês, Francisco e ficou viúva aos 18 anos e
voltou à Escócia para assumir o trono.
Sua educação francesa e católica,
representava uma ameaça tanto para a Escócia protestante quanto para a
coroa inglesa, que pretendia. A soberana da Inglaterra, sua prima
Elizabeth I, filha de Henrique VIII e Ana Bolena, sem herdeiros diretos,
não aceitava seus direitos ao trono, pelo temor da prima casar com um
príncipe espanhol ou francês, inimigos potenciais da Inglaterra.
Orientada pelo meio-irmão, Jaime Stuart, conde de Moray, casou-se (1565)
com seu primo Henrique Stuart, conde de Darnley, também aspirante ao
trono inglês, e com ele teve um filho, o futuro Jaime VI da Escócia e
Jaime I da Inglaterra. Viúva (1567), três meses depois casou-se com o
conde de Bothwell, tido como assassino de seu marido, o que desagradou à
nobreza.
Encarcerada na ilha de Loch Leven, foi forçada a abdicar em
favor do filho (1567). No ano seguinte escapou e tentou recuperar o
trono, mas a derrota em Langside obrigou-a a fugir para a Inglaterra,
onde Elizabeth I a manteve prisioneira durante 18 anos. Acusada de
participar de um complô para libertá-la, foi julgada e decapitada no
castelo de Fotheringhay.
A última noite de Mary Stuart
Museu do Lovre/ (c) RMN /Jean-Gilles Berizzi/ Other Imges
Mary Stuart (à dir.) no momento em que foi levada para a execução. Óleo sobre tela de Philippe Jacques Van Bree, século XIX
Amanhã não haverá alvorecer. Eu, ao menos, não vou ver o dia amanhecer. Foi o desejo de Deus que chegasse ao fim esse doloroso caminho que foi minha vida. A peregrinação termina por meio de um decreto no último dia 1o de fevereiro, com o selo real de minha prima, Elizabeth da Inglaterra. Esse fim varrerá tanto os sonhos não cumpridos quanto as traições não patentes e as repetidas humilhações. Deo gratias.
Na aurora de minha vida, nada deixava antever o desastre. Para ser rainha, me bastou nascer, em 9 de dezembro de 1542, no castelo de Linlithgow. Mas já naquela época a calamidade se preparava para dissipar a bem-aventurança. Eu mal tinha aberto os olhos, e morria meu pai, Jaime V da Escócia, confirmando a perturbadora profecia: “A coroa nos veio por uma mulher, e com uma mulher ela nos deixará!”.
Soberana no berço, eu tinha um corpo frágil, que se tornou de imediato objeto de tratativas políticas. Meu real parente, Henri que VIII da Inglaterra, se apressou a pedir a mão da herdeira perfeita para seu filho caçula, o príncipe herdeiro Eduardo. Em nosso meio, nada como um casamento para transformar hostilidade em concórdia. O sangue dos Stuarts e o dos Tudors mesclados para comandar o destino do mundo!
Interveio aí a perspicácia de minha mãe, a católica Maria da Lorena, herdeira dos Guises. Temendo a ideia de delegar os cuidados de minha educação a heréticos, ela preferiu se voltar para a França e, com o apoio dos papistas, promoveu negociações com sua terra natal para propiciar a minha fuga. Em 7 de agosto de 1548, eu embarquei no galeão de velas brancas.
Fui recebida como uma pequena rainha em terras francesas, onde houve festejos, salvas e vivas. Foi lá que conheci o lívido príncipe que me tinha sido destinado por esposo: Francisco, o herdeiro do trono dos Valois. Daquele momento em diante, nossos destinos estavam para sempre unidos. Em 24 de abril de 1558, os noivos adolescentes se ajoelharam diante do altar de Nossa Senhora e desempenharam a representação da cena de dupla grandeza monárquica para a qual tinham sido mecanicamente preparados.
Ao me tomar por esposa, Francisco II fez de mim sua rainha. Ao lhe dar minha mão, eu oferecia a ele a coroa da Escócia.
A França me ensinou a civilidade dos prazeres, a sutileza intelectual, o refinamento das maneiras que, ainda hoje, faltam à nossa miserável Escócia, petrificada pela rudeza. Não me desagradou descobrir como se pode ser concomitantemente uma dama e uma alegre, sensual, elegante e humanista esposa.
Em 6 de dezembro de 1560, eu vesti luto por meu marido Francisco II. Minha sogra Catarina de Médici, que o meteórico casamento do filho havia eclipsado, foi novamente alçada a seus direitos dinásticos.
Mary Stuart (à dir.) no momento em que foi levada para a execução. Óleo sobre tela de Philippe Jacques Van Bree, século XIX
Amanhã não haverá alvorecer. Eu, ao menos, não vou ver o dia amanhecer. Foi o desejo de Deus que chegasse ao fim esse doloroso caminho que foi minha vida. A peregrinação termina por meio de um decreto no último dia 1o de fevereiro, com o selo real de minha prima, Elizabeth da Inglaterra. Esse fim varrerá tanto os sonhos não cumpridos quanto as traições não patentes e as repetidas humilhações. Deo gratias.
Na aurora de minha vida, nada deixava antever o desastre. Para ser rainha, me bastou nascer, em 9 de dezembro de 1542, no castelo de Linlithgow. Mas já naquela época a calamidade se preparava para dissipar a bem-aventurança. Eu mal tinha aberto os olhos, e morria meu pai, Jaime V da Escócia, confirmando a perturbadora profecia: “A coroa nos veio por uma mulher, e com uma mulher ela nos deixará!”.
Soberana no berço, eu tinha um corpo frágil, que se tornou de imediato objeto de tratativas políticas. Meu real parente, Henri que VIII da Inglaterra, se apressou a pedir a mão da herdeira perfeita para seu filho caçula, o príncipe herdeiro Eduardo. Em nosso meio, nada como um casamento para transformar hostilidade em concórdia. O sangue dos Stuarts e o dos Tudors mesclados para comandar o destino do mundo!
Interveio aí a perspicácia de minha mãe, a católica Maria da Lorena, herdeira dos Guises. Temendo a ideia de delegar os cuidados de minha educação a heréticos, ela preferiu se voltar para a França e, com o apoio dos papistas, promoveu negociações com sua terra natal para propiciar a minha fuga. Em 7 de agosto de 1548, eu embarquei no galeão de velas brancas.
Fui recebida como uma pequena rainha em terras francesas, onde houve festejos, salvas e vivas. Foi lá que conheci o lívido príncipe que me tinha sido destinado por esposo: Francisco, o herdeiro do trono dos Valois. Daquele momento em diante, nossos destinos estavam para sempre unidos. Em 24 de abril de 1558, os noivos adolescentes se ajoelharam diante do altar de Nossa Senhora e desempenharam a representação da cena de dupla grandeza monárquica para a qual tinham sido mecanicamente preparados.
Ao me tomar por esposa, Francisco II fez de mim sua rainha. Ao lhe dar minha mão, eu oferecia a ele a coroa da Escócia.
A França me ensinou a civilidade dos prazeres, a sutileza intelectual, o refinamento das maneiras que, ainda hoje, faltam à nossa miserável Escócia, petrificada pela rudeza. Não me desagradou descobrir como se pode ser concomitantemente uma dama e uma alegre, sensual, elegante e humanista esposa.
Em 6 de dezembro de 1560, eu vesti luto por meu marido Francisco II. Minha sogra Catarina de Médici, que o meteórico casamento do filho havia eclipsado, foi novamente alçada a seus direitos dinásticos.
Como é que eu, Mary Stuart, princesa de sangue real, e até a véspera rainha da França, teria podido aceitar viver à sombra de uma arrogante filha de mercadores? Viúva real, talvez, mas sempre rainha. Com a morte na alma, atravessaria o oceano de volta, para garantir o único bem que me parecia inalienável: a coroa da Escócia.
Eu estava enganada. Lordes e barões nunca recuaram diante da oportunidade de uma traição – minha defunta mãe sentiu isso na carne, mas até seu último suspiro ateve-se à fidelidade à Igreja romana. Para mim, a deslealdade tornou-se algo familiar.
Deixei a França com fausto e pompa, para chegar em casa em 19 de agosto, um ambiente hostil. As delicadezas com as quais havia me acostumado se perderiam sob a indigência de uma terra que, depois de 13 anos de ausência, me considerava uma completa estrangeira. Fui para o castelo de Holyrood, que, às portas de Edimburgo, tornava-se minha residência.
A rainha da Escócia não era bem-vinda em seu próprio reino. Para se apoderar dos bens da santa Igreja e usurpar o poder real, os lordes escoceses haviam cedido à Inglaterra e se devotado ao calvinismo. Eles formaram uma barreira fatal à minha autoridade de soberana católica.
Ante tantas alianças contrariadas, como eu, sozinha e mulher, poderia resolver uma situação tão delicada? Com um novo casamento, disse a mim mesma.
Depois de um exame do mercado matrimonial político, minha escolha recaiu sobre um primo, o primeiro príncipe de sangue dos Tudors: Henry Darnley. Contra todas as expectativas, aquele jovem soube comover meu coração, e decidi elevá-lo à dignidade de rei consorte, título que ele obteve em 25 de junho de 1565, ao colocar a aliança em meu dedo, na capela de minha fortaleza.
Infelizmente, o cortesão perfeito se tornou rapidamente altivo. Em 9 de junho de 1566, os canhões de nosso castelo de Holyrood ribombaram, anunciando a chegada ao mundo do herdeiro que oferecíamos à Escócia, mas nem isso tirou nossa união do rumo do desastre. Henry se irritava com todos os que, cercando minha pessoa, faziam sombra a suas prerrogativas de esposo. Ferido em seu orgulho conjugal, esse insolente chegou ao cúmulo de conspirar contra mim. Na aterradora noite de 9 de março de 1566, mandou apunhalar diante de meus olhos o menestrel que eu havia ordenado com o grau de conselheiro, David Riccio. Nunca mais nós voltaríamos a nos entender.
Onde, então, buscar socorro? A quem poderia eu dedicar uma confiança tantas vezes traída? Obtive a resposta nos traços do guerreiro que outrora havia emprestado seu braço forte à resistência que minha mãe opunha aos lordes da Congregação: James Hepburn, conde de Bothwell. Quase cavaleiro, quase fora da lei, aquele urso letrado conhecia a arte de somar a astúcia à força.
Sua máscula segurança venceu todos os meus princípios, e meus sentidos lutaram em vão para conter o caudal de uma moral em dispersão. Naquele momento, só o que me importava era sua satisfação. E, para Bothwell, não podíamos mais esperar: era preciso nos livrarmos de meu marido. Apesar de ser incapaz de fomentar um complô, tampouco fiz algo para impedir o atentado em 10 de fevereiro de 1567, que roubou a vida do rei da Escócia.
A voz do povo se fez de imediato ouvir, e não tardou para que todas as fachadas de Edimburgo ficassem cobertas de galhofas. Eu me emparedei em silêncio, que aos olhos da Escócia e de outras nações sugeria minha culpa. Ao anúncio de meu necessário casamento com alguém tido como o assassino do rei da Escócia, saltava aos olhos essa culpa, como um insulto.
Os senhores se sublevaram, e, em 15 de junho de 1567, as tropas reais desertaram. Fiquei prisioneira no castelo de Lochloven e fui obrigada a abdicar em favor de um filho demasiado jovem para reinar.
Quando tudo parecia perdido, ergui a cabeça. Menos de um ano depois de minha detenção, consegui ludibriar a vigilância de meus carcereiros e buscar asilo junto de minha eterna rival, Elizabeth da Inglaterra, que me mantém cativa há cerca de 20 anos.
Por instigação dela, a infâmia de um processo – capciosamente chamado de “conferência” – me foi infligida, a fim de deixar patente ao mundo a responsabilidade que eu porventura poderia ter no assassinato de meu esposo. Contrariamente à promessa que me tinha feito, de não atentar contra minha honra, os versos e cartas que eu havia escrito a Bothwell foram trazidos para figurar das discussões.
Minha prima nunca poupou mesquinhez, intriga e humilhação. E minha Impetuosidade serviu de desculpa para seu ressentimento. Só lamento esse traço parcialmente, porém: para ser rainha, teria sido preciso ser menos mulher. Meu coração se incendiou como um pedaço de estopa, mas essa ousadia, que foi minha perdição, também me valeu um bom número de adeptos.
Estará Elizabeth ainda rindo de mim? Que me importa! Não me envergonho. Meu único crime é minha posição, minha verdadeira ofensa é meu título. Como ela ousa me pôr a perder, perderá mais que eu. Seu nome ficará para sempre manchado. A história fustiga a impostura e reabilita o justo. Um dia – quem sabe? – meu filho reunirá as duas coroas, que de maneira tão ávida disputaram comigo. Assim, não cederei ao miserável triunfo de minha prima e de suas reformas doutrinárias.
Não será como pecadora contrita que caminharei para o cadafalso, mas como uma autêntica soberana. Na hora derradeira, no grande salão de Fotheringhay, eu sei que Deus me ajudará a enfrentar o suplício com dignidade, sem falhar. Se em vida eu nem sempre compreendi tudo, de minha morte não quero ignorar nada. Quero adentrá-la com os olhos abertos, um crucifixo nas mãos e dois rosários à cintura. Até o fim, permanecerei surda aos ventos heréticos do calvinismo. Castelo de Fotheringhay, 7 de fevereiro do ano da graça de 1587
O filho de Mary Stuart foi coroado rei da Escócia com 1 ano de idade, em 1567, chamado de Jaime VI. Em 1603 tornou-se soberano da Inglaterra e da Irlanda, como Jaime I. Governou longamente os ingleses, até 1625, como era o desejo de sua mãe.
A disputa entre católicos e protestantes continuou na Inglaterra e na Escócia de Mary Stuart. Seu filho Jaime, ao tomar o poder, tentou transformar a religião anglicana da Inglaterra em algo mais próximo do catolicismo e mais distante do calvinismo.
Nessa área religiosa, porém, nunca houve um vitorioso. Hoje, no Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte), há cerca de 20% de católicos, igual proporção de anglicanos, cerca de 40% de presbiterianos, metodistas, batistas e outros cristãos, 17% de islâmicos e o restante de sikhs, hinduístas, judeus e adeptos de outras religiões.
Eu estava enganada. Lordes e barões nunca recuaram diante da oportunidade de uma traição – minha defunta mãe sentiu isso na carne, mas até seu último suspiro ateve-se à fidelidade à Igreja romana. Para mim, a deslealdade tornou-se algo familiar.
Deixei a França com fausto e pompa, para chegar em casa em 19 de agosto, um ambiente hostil. As delicadezas com as quais havia me acostumado se perderiam sob a indigência de uma terra que, depois de 13 anos de ausência, me considerava uma completa estrangeira. Fui para o castelo de Holyrood, que, às portas de Edimburgo, tornava-se minha residência.
A rainha da Escócia não era bem-vinda em seu próprio reino. Para se apoderar dos bens da santa Igreja e usurpar o poder real, os lordes escoceses haviam cedido à Inglaterra e se devotado ao calvinismo. Eles formaram uma barreira fatal à minha autoridade de soberana católica.
Ante tantas alianças contrariadas, como eu, sozinha e mulher, poderia resolver uma situação tão delicada? Com um novo casamento, disse a mim mesma.
Depois de um exame do mercado matrimonial político, minha escolha recaiu sobre um primo, o primeiro príncipe de sangue dos Tudors: Henry Darnley. Contra todas as expectativas, aquele jovem soube comover meu coração, e decidi elevá-lo à dignidade de rei consorte, título que ele obteve em 25 de junho de 1565, ao colocar a aliança em meu dedo, na capela de minha fortaleza.
Infelizmente, o cortesão perfeito se tornou rapidamente altivo. Em 9 de junho de 1566, os canhões de nosso castelo de Holyrood ribombaram, anunciando a chegada ao mundo do herdeiro que oferecíamos à Escócia, mas nem isso tirou nossa união do rumo do desastre. Henry se irritava com todos os que, cercando minha pessoa, faziam sombra a suas prerrogativas de esposo. Ferido em seu orgulho conjugal, esse insolente chegou ao cúmulo de conspirar contra mim. Na aterradora noite de 9 de março de 1566, mandou apunhalar diante de meus olhos o menestrel que eu havia ordenado com o grau de conselheiro, David Riccio. Nunca mais nós voltaríamos a nos entender.
Onde, então, buscar socorro? A quem poderia eu dedicar uma confiança tantas vezes traída? Obtive a resposta nos traços do guerreiro que outrora havia emprestado seu braço forte à resistência que minha mãe opunha aos lordes da Congregação: James Hepburn, conde de Bothwell. Quase cavaleiro, quase fora da lei, aquele urso letrado conhecia a arte de somar a astúcia à força.
Sua máscula segurança venceu todos os meus princípios, e meus sentidos lutaram em vão para conter o caudal de uma moral em dispersão. Naquele momento, só o que me importava era sua satisfação. E, para Bothwell, não podíamos mais esperar: era preciso nos livrarmos de meu marido. Apesar de ser incapaz de fomentar um complô, tampouco fiz algo para impedir o atentado em 10 de fevereiro de 1567, que roubou a vida do rei da Escócia.
A voz do povo se fez de imediato ouvir, e não tardou para que todas as fachadas de Edimburgo ficassem cobertas de galhofas. Eu me emparedei em silêncio, que aos olhos da Escócia e de outras nações sugeria minha culpa. Ao anúncio de meu necessário casamento com alguém tido como o assassino do rei da Escócia, saltava aos olhos essa culpa, como um insulto.
Os senhores se sublevaram, e, em 15 de junho de 1567, as tropas reais desertaram. Fiquei prisioneira no castelo de Lochloven e fui obrigada a abdicar em favor de um filho demasiado jovem para reinar.
Quando tudo parecia perdido, ergui a cabeça. Menos de um ano depois de minha detenção, consegui ludibriar a vigilância de meus carcereiros e buscar asilo junto de minha eterna rival, Elizabeth da Inglaterra, que me mantém cativa há cerca de 20 anos.
Por instigação dela, a infâmia de um processo – capciosamente chamado de “conferência” – me foi infligida, a fim de deixar patente ao mundo a responsabilidade que eu porventura poderia ter no assassinato de meu esposo. Contrariamente à promessa que me tinha feito, de não atentar contra minha honra, os versos e cartas que eu havia escrito a Bothwell foram trazidos para figurar das discussões.
Minha prima nunca poupou mesquinhez, intriga e humilhação. E minha Impetuosidade serviu de desculpa para seu ressentimento. Só lamento esse traço parcialmente, porém: para ser rainha, teria sido preciso ser menos mulher. Meu coração se incendiou como um pedaço de estopa, mas essa ousadia, que foi minha perdição, também me valeu um bom número de adeptos.
Estará Elizabeth ainda rindo de mim? Que me importa! Não me envergonho. Meu único crime é minha posição, minha verdadeira ofensa é meu título. Como ela ousa me pôr a perder, perderá mais que eu. Seu nome ficará para sempre manchado. A história fustiga a impostura e reabilita o justo. Um dia – quem sabe? – meu filho reunirá as duas coroas, que de maneira tão ávida disputaram comigo. Assim, não cederei ao miserável triunfo de minha prima e de suas reformas doutrinárias.
Não será como pecadora contrita que caminharei para o cadafalso, mas como uma autêntica soberana. Na hora derradeira, no grande salão de Fotheringhay, eu sei que Deus me ajudará a enfrentar o suplício com dignidade, sem falhar. Se em vida eu nem sempre compreendi tudo, de minha morte não quero ignorar nada. Quero adentrá-la com os olhos abertos, um crucifixo nas mãos e dois rosários à cintura. Até o fim, permanecerei surda aos ventos heréticos do calvinismo. Castelo de Fotheringhay, 7 de fevereiro do ano da graça de 1587
O filho de Mary Stuart foi coroado rei da Escócia com 1 ano de idade, em 1567, chamado de Jaime VI. Em 1603 tornou-se soberano da Inglaterra e da Irlanda, como Jaime I. Governou longamente os ingleses, até 1625, como era o desejo de sua mãe.
A disputa entre católicos e protestantes continuou na Inglaterra e na Escócia de Mary Stuart. Seu filho Jaime, ao tomar o poder, tentou transformar a religião anglicana da Inglaterra em algo mais próximo do catolicismo e mais distante do calvinismo.
Nessa área religiosa, porém, nunca houve um vitorioso. Hoje, no Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte), há cerca de 20% de católicos, igual proporção de anglicanos, cerca de 40% de presbiterianos, metodistas, batistas e outros cristãos, 17% de islâmicos e o restante de sikhs, hinduístas, judeus e adeptos de outras religiões.
Pascal Marchetti-Leca
é professor na Universidade da Córsega
e autor de Innominata (Dcl, 2001).
Pablo Picasso
Li
Fonte:
Wikipédia
Wikipédia
http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/a_ultima_noite_de_mary_stuart_7.html
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