Que é o Homem
Sérgio Biagi Gregório
1. INTRODUÇÃO
O que significa a palavra homem? Há diferença entre homem e
pessoa? Deve-se preferir o termo ser humano ao termo homem? O que a antropologia
cristã tem a dizer acerca do ser humano? Qual a missão do homem inteligente
sobre a terra? Com estas perguntas, introduzimos o tema em questão.
2. CONCEITO
Homem – do latim homine significa qualquer indivíduo
pertencente à espécie animal que apresenta maior grau de complexidade na escala
evolutiva. (Aurélio)
Antropologia física. Vertebrado, pertencente à classe dos
Mamíferos, subclasse dos Placentários, ordem dos Primatas, família dos
Hominídeos, gênero Homo, que se encontra representado na atualidade por
uma única espécie, o Homo Sapiens Lin, com vários grupos, raças,
sub-raças e tipos ou fácies locais. Também se define como o único animal
mamífero de posição normal ou vertical, capaz de linguagem articulada,
constituindo entidade moral e social. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura)
Há no homem três coisas: 1.º – o corpo ou ser material
análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2.º – a alma ou ser
imaterial, Espírito encarnado no corpo; 3.º – o laço que prende a alma ao corpo,
princípio intermediário entre a matéria e o espírito". (Kardec, 1995)
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Os filósofos pré-socráticos tinham como objetivo a busca do
princípio único, o arché de todas as coisas. As suas especulações
voltavam-se para o Universo e o Cosmo. Posteriormente surgiu Sócrates, que
passou a inquirir sobre o próprio homem, no sentido de compreender o seu íntimo
e o móvel de suas ações. O conhece-te a ti mesmo ou a autoconsciência do homem é
o seu método de estudo. Depois disso, os filósofos nunca mais pararam de
questionar sobre o homem e sua função na sociedade. A filosofia, doravante
tornou-se antropocêntrica, ou seja, colocou o homem no seu centro de discussão.
Pode-se dizer que a filosofia é uma forma de compreensão da
vida e do mundo. Podemos especular sobre o mundo, sobre o ser, sobre a verdade e
sobre a justiça; podemos perscrutar e elaborar análises sobre os mais variados
temas; podemos tentar apreender o que é o bem e o que é mal. Contudo, no fundo
de tudo isto está o homem. Devíamos, assim, pedir à filosofia que nos ajude a
compreender o mundo humano, apontando-nos os caminhos que possam nos afastar do
mal. Diante desta colocação filosófica, pergunta-se: Que é o homem? Qual sua
função? Qual sua natureza? E seu destino?
4. TIPOS DE HOMENS
Há, sobre o homem, muitas denominações, as quais tentamos
sintetizar abaixo:
4.1. QUANTO AO ASPECTO FÍSICO
Alto e baixo, feio e bonito, elegante e deselegante, gordo e
magro.
4.2. QUANTO AO ASPECTO ÉTICO-MORAL
Humilde e orgulhoso, caridoso e egoísta, justo e injusto,
virtuoso e viciado, bom e mau.
4.3. QUANTO AO ASPECTO FILOSÓFICO
Homem econômico (Marx), Homem instintivo (Freud), Homem
angustiado (Kierkegaard), Homem existente (Heidegger), Homem utópico (Bloch),
Homem falível (Ricouer), Homem hermenêutico (Gadamer), Homem problemático
(Marcel).
5. ANTROPOLOGIA CRISTÃ
5.1. IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS
Do livro Gênesis, do Antigo Testamento, extraímos: 1)
"E formou o Senhor Deus o homem do barro da terra, e inspirou no seu rosto o
sopro da vida; e o homem tornou-se alma vivente"; 2) "Deus criou o homem à sua
imagem e conforme a sua semelhança". O princípio da antropologia cristã
fundamenta-se nessas duas sentenças. O que isso quer dizer? Que todos nós fomos
formados de matéria e de Espírito, que todos nós devemos refletir a imagem de
Deus, fazer a Sua vontade e seguir as Suas Leis. Por isso, o homem não é homem
senão superando-se a si mesmo e conduzindo-se Àquele que o criou. Segue-se que o
homem é uma unidade, que não se destruirá, porque há nele a semente divina.
5.2. SANTO AGOSTINHO E SÃO TOMÁS DE AQUINO
Santo Agostinho e São Tomás de Aquino são os dois grandes
expoentes da Filosofia Cristã da Idade Média e muito contribuíram para a
compreensão do ser humano diante da vida eterna.
Santo Agostinho, em Cidade de Deus, diz: "Constitui
uma grande coisa o homem porque Deus o fez à sua imagem, mas o homem permanece
em si mesmo um mistério".
São Tomás de Aquino adverte que a Boa Nova não é salvação
apenas para a alma, mas de todo o homem, porque nele há o mistério e o sagrado.
O mistério, porque o homem é ao mesmo tempo material e espiritual; sagrado,
porque a existência não o atinge senão por sua alma. (Trocquer, 1960)
5.3. CORPO, ESPÍRITO E PERISPÍRITO
O homem está no mundo, mas não é do mundo. Há a sua
corporeidade, mas também a sua espiritualidade, que o faz transcender o mundo da
matéria. Além de ser cultural, social, familial, o homem é único e uno. O
ser-único pode ser vislumbrado na impressão digital, no tom de voz, no estilo
literário etc. Não há outro igual. O ser-uno diz respeito à sua constituição
física e espiritual. Ele é um corpo que tem um espírito, de modo que ele não é
só corpo nem só espírito, mas a junção dos dois.
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, ensina-nos
que além do corpo e do Espírito, o homem possui um corpo perispiritual, que é o
intermediário entre a matéria e o Espírito. Esse corpo perispiritual nada mais é
do que a transformação do fluido universal próprio de cada globo. O perispírito
(semi-material) faz a ligação entre o Espírito (imaterial) e o corpo (material).
6. O SER HUMANO E A SOCIEDADE
6.1. ANIMAL RACIONAL
Em filosofia, define-se o homem como um "animal racional".
Não se afirma que o homem é racional da mesma maneira que um quadrado tem quatro
lados. A racionalidade é característica de seus pensamentos, de seus atos e de
todos os seus modos de atuar. Esta racionalidade é que dá força ao
livre-arbítrio, no sentido de ele agir como lhe convier e responder por seus
atos. Por essa racionalidade o homem se realiza e, realizando-se, escolhe o
sentido de sua vida e de suas ações, escolhe ser o que é: pessoa em evolução num
planeta de provas e expiações.
A liberdade da alma racional freqüentemente coloca o homem
diante de um dilema: "Se Deus existe, o homem pode ser livre; mas se o homem é
livre, Deus não pode existir". Como resolvê-lo?
6.2. ANIMAL POLÍTICO
O instinto de sociabilidade, inato no ser humano, leva-o a
participar da sociedade. Aristóteles, no século IV a.C., dizia que "o homem é
naturalmente um animal político". Na Idade Média, Santo Tomás de Aquino o mais
expressivo seguidor de Aristóteles, afirma que "o homem é por natureza, animal
social e político, vivendo em multidão".
A necessidade da vida social prende-se ao fato de que nenhum
homem dispõe de todas as faculdades humanas. É pelo contato social que eles se
completam uns aos outros para assegurarem o progresso e o bem-estar. Os mais
fortes auxiliam os mais fracos; os ricos ajudam os pobres; os sábios ensinam os
ignorantes. No isolamento ele fenece e estiola. (Kardec, 1995, perguntas 766 a
772)
6.3. MISSÃO DO HOMEM INTELIGENTE
À medida que o homem exercita sua inteligência, ela
amplia-se. Do simples chegamos ao complexo; do conhecido ao desconhecido. Porém,
surgem, também, os desmandos intelectuais, ou seja, o homem começa a se colocar
acima do Criador, enveredando-se pela trilha do orgulho.
Nesse mister, o ser humano jamais deveria orgulhar-se da sua
inteligência. Se Deus, na sua infinita bondade, concedeu-nos a oportunidade de
renascermos num meio em que possamos desenvolver a nossa inteligência, é para
que a utilizemos em nosso benefício e dos nossos semelhantes. A inteligência
desenvolvida é um talento com finalidade útil nas mãos das criaturas, para que
estas ajudem àqueles que têm uma inteligência menos desenvolvida, objetivando
fazer com que se aproximem, cada vez mais, do Criador.
7. CONCLUSÃO
Enquanto encarnados, somos obrigados a viver em sociedade.
Procuremos, assim, exercitar a humildade, a fim de adquirirmos condições para
melhor compreender os seres humanos que conosco convivem.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.]
FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, [s. d. p.]
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.
TROCQUER, René Le. Que é o homem? Ensaio de
Antropologia Cristã. Tradução de David A. Ramos Filho. São Paulo: Flamboyant,
1960.
São Paulo, setembro
de 2006
Pablo Picasso
Li
Fonte:
http://www.ceismael.com.br/filosofia/que-e-o-homem.htm
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