terça-feira, 23 de março de 2010

ÓRION - MARAVILHA DO CÉU


Orionte, 

uma das maravilhas do céu



Imagem da constelação de Orionte no Atlas de Hevelius.
Todos estaremos de acordo em que o nosso céu está cheio de belezas extraordinárias e que há constelações magníficas. Mas, sem querer menosprezar as outras, de todas a que mais me encanta é sem dúvida a maravilhosa constelação de Orionte. A sua beleza prende-nos de tal forma o olhar que a sua contemplação convida mais ao silêncio do que a uma dissertação sobre um qualquer tema relacionado com ela.

Ao longo das próximas semanas vamos apresentar os seguintes temas:
  • Prólogo
  • Origem do nome da constelação e das suas estrelas principais
  • Dados astronómicos de Orionte

    Mitologia 

    A mitologia relacionada com esta constelação é muito vasta. Curiosamente, ao estudá-la verifica-se que há alguns pormenores onde o mito do gigante caçador se confunde com o lendário herói Héracles (Hércules para os romanos). Tal confusão não é contudo um exclusivo destas duas constelações, pois, por exemplo, também entre o Sagitário e o Centauro elas se fazem notar.

    O nascimento de Orionte



    Imagem da constelação de Orionte no Atlas de Hevelius.
    Um dia Zeus, Hermes e Posídon viajavam juntos pelo mundo. Ao chegarem à Híria, na Beócia, foram recebidos por Hirieu, um mortal, que apesar de não saber que tinha três deuses em sua casa, os tratou à altura do seu verdadeiro estatuto. Como recompensa, as divindades perguntaram-lhe qual o presente que maior prazer lhe poderia dar. Hirieu, que era viúvo e não tinha filhos, respondeu que o que mais desejava no mundo era ter um descendente. Os deuses ordenaram então a Hirieu que sacrificasse um touro, urinasse sobre a pele do animal e, de seguida, a enterrasse no túmulo da sua falecida mulher. Nove meses depois nasceu-lhe um filho cujo nome estará relacionado com urina ou com o facto da constelação ser visível ao princípio da noite no Inverno portanto com chuva.

    Há contudo uma variante desta versão mitológica, segundo a qual os três deuses urinaram sobre a pele duma vitela, que foi de seguida enterrada e dela terá nascido Orionte.

    De acordo com outra lenda, Orionte era filho de Posídon, o deus dos mares, e de Euríale uma das filhas do rei Minos. De acordo com esta versão, Posídon teria dado a Orionte o poder de caminhar sobre a água.

    A vida do gigante
    Orionte tinha crescido tanto que poderia caminhar com os pés no fundo do mar e a cabeça acima da água. O seu prazer favorito era a caça, na qual se fazia acompanhar pelo seu cão Sírio. Segundo Píndaro, Orionte perseguiu as Plêiades (as sete filhas de Atlas e Plêione) durante 5 anos, nas montanhas da Beócia, que só lhe conseguiram escapar por terem pedido ajuda a Zeus. Este transformou-as em pombas (a forma de Píndaro para o nome Plêiades – peleiades – significa “bando de pombas”) e colocou-as no céu, entre as estrelas. Entretanto Orionte casou-se com Sidé, que, por se gabar de ser mais bela que a deusa Hera, foi por esta deusa precipitada no Tártaro.

    Mais tarde, Orionte viajou até à ilha de Quios, cujo rei, Enópion, era filho do deus Dioniso. O gigante apaixonou-se pela filha de Enópion, Mérope, (homónima duma das Plêiades). O rei, que não desejava que a filha se casasse com Orionte, disse ao gigante que lha daria em casamento se ele matasse todos os animais selvagens existentes na ilha. Orionte assim fez e todas as noites levava a Mérope as peles dos animais que tinha abatido. Quando deu a tarefa por terminada, dirigiu-se a Enópion e exigiu a sua parte do acordo. No entanto, este recusou-se a cumprir a sua promessa, alegando que ainda haveria leões, ursos e lobos escondidos nas montanhas de Quios.

    Certa noite, desalentado com a espera a que se estava a sujeitar, pois por mais que buscasse não encontrava nenhuma fera para caçar, Orionte bebeu uma cabaça inteira do vinho de Enópion e, sob o efeito da bebida, irrompeu pelo quarto de Mérope violando-a. Ao amanhecer, Enópion apercebeu-se do sucedido e invocou o seu pai, Dioniso. Este enviou sátiros ao encontro do gigante da Beócia, que fizeram com que bebesse ainda mais vinho, acabando por cair num sono profundo. Enópion aproveitou-se deste facto para o cegar, após o que ordenou que o deixassem abandonado numa praia.



    Orionte guiado por Cedalion procura o Sol nascente (Nicolas Poussin, 1594–1665). Crédito: Metropolitan Museum of Art, New York.
     
    Disposto a recuperar a visão, Orionte consultou um oráculo. Obteve como resposta que tal poderia acontecer se viajasse para leste e virasse os olhos em direcção a Hélio, o Sol, no local onde este se ergue do Oceano. Utilizando uma pequena barca, Orionte começou a remar e, guiando-se pelo som do martelo de um Ciclope, chegou a Lemnos. Nesta cidade, entrou na forja de Hefesto, que, tendo pena dele, lhe cedeu um jovem aprendiz para que o guiasse. Com a ajuda deste e transportando-o às costas, Orionte viajou por terra e por mar, até chegaram ao Oceano Longínquo, onde os raios de Hélio lhe restituíram a visão. Entretanto, Eos, a Aurora, apaixonou-se pelo gigante e este, depois de ter recuperado a vista, visitou com ela Delos, onde também partilhou a sua cama. A deusa continua ainda a enrubescer todos os dias com a recordação desta paixão, o que explica a cor do céu ao amanhecer, isto apesar de a mitologia grega atribuir a Eos um número incontável de maridos e amantes. Por exemplo, no caso da união com Astreu, o Vento do Crepúsculo, dela terão nascido a «estrela da manhã» (o planeta Vénus), os ventos e todos os astros da noite.

    Decidido a vingar-se de Enópion, Orionte regressou a Quios, mas Mérope e o pai já lá não estavam, pois se tinham escondido numa gruta que Hefesto lhes fizera. No entanto, Orionte não desistiu e dirigiu-se para Creta, onde pensou que Enópion se poderia ter refugiado, sob a protecção de Minos, seu avô. Foi ao chegar a Creta que Orionte conheceu Ártemis, que tinha a paixão pela caça tal como ele. A deusa convenceu-o a desistir da vingança e a ficar com ela a caçar em Creta.

    A morte de Orionte


    Apolo, que conhecia a relação que Orionte tinha tido com Eos, por temer que a sua irmã Ártemis também não resistisse aos encantos do gigante, foi junto de Geia e narrou-lhe, com perfídia, a chacina dos animais selvagens que Orionte havia cometido em Quios. Como castigo a deusa fez com que Orionte fosse perseguido por um escorpião gigante invulnerável a todas as armas dos mortais. Para escapar, o gigante teve de se lançar ao mar, nadando em direcção a Delos, onde procurava obter a protecção de Eos. Mas Apolo não estava satisfeito. Enquanto Orionte nadava (ou caminhava sobre o fundo do mar) perguntou a Ártemis: “Vês lá adiante, muito ao longe, aquela coisa negra que flutua no mar, perto de Ortígia? É a cabeça dum malvado que se chama Candaon e que acaba de seduzir Ópis, uma das tuas sacerdotisas. Desafio-te a atingi-lo com uma das tuas flechas!”

    Ártemis ignorava que Candaon era o nome pelo qual Orionte era conhecido na Beócia. Disparou a sua flecha sobre o alvo, após o que se lançou ao mar para ir buscar a sua vítima. Ao verificar que era Orionte, desesperada implorou a Asclépio que o ressuscitasse, mas antes que este pudesse executar a sua tarefa, foi aniquilado por Zeus com um raio.

    Outras versões dizem que Ártemis, ao saber que Orionte tinha morto todos os animais de Quios (ou que tinha perseguido as Plêiades), se vingou lançando em sua perseguição um escorpião que acabaria por picar e assim matar o gigante.

    Depois da sua morte, Orionte desceu ao inferno, onde foi um dos privilegiados, tal como Minos e Héracles, continuando ali, tal como em vida, a caçar animais selvagens com uma maça de cobre. Mais tarde, foi levado para o céu – acompanhado do seu cão Sírio – onde foi convertido em constelação (por Ártemis na 1ª versão da sua morte, e por Zeus na 2ª).

    Qualquer das versões sobre a morte do gigante refere a presença dum escorpião, justificando assim que quando se vê no céu o Escorpião, Orionte não esteja visível e vice-versa.

Autoria:
António Manuel de Sousa Magalhães
Médico Oftalmologista
Membro da APAA
PORTAL  DO  ASTRÔNOMO -Portugal
Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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