sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O UNIVERSO È UMA CATEDRAL




O universo é uma catedral

 

Segundo horizonte


Compare-se a esta frieza de linha e de substância [da arquitetura moderna] – nada mais “frio” que o cimento – o recolhimento, o aconchego, a harmonia das casas velhas de Warwick, cada uma das quais parece considerar o transeunte com um plácido sorriso impregnado de bonomia familiar, e conter em si o calor de uma vida doméstica animada e rica em valores morais. Casas simples, despretensiosas, agradáveis de ver, imagem da própria existência quotidiana de seus habitantes. Casas obedecendo a um mesmo estilo, mas tendo cada uma sua nota de originalidade, discreta e vivaz.

 

Fazendo o turismo do sossego


Todas as tardes, feita a sesta, ia eu da calma do campo para a da cidade[9], trocando, não um cansaço pelo outro, mas uma forma de sossego pela outra. E assim fiz meu “turismo do sossego”.
Quando bate o sino, seus sons descem harmônicos e se espraiam na praça ajardinada, onde encontram, nas pessoas e nas coisas, a mesma ressonância dos tempos idos.
O passado ali não embolorou, nem o presente enlouqueceu, nem o futuro amedronta. Vive-se bem, a vida de todos os dias.

Duas cidades espelham duas eras

New YorkA cidade moderna é de contornos imprecisos, é como um tumor que se vai estendendo de lá para cá e para acolá, de maneira tal que numa certa direção ela cresceu muito, e noutra existem ainda parques que vão quase até o seu centro.
A cidade medieval nos dá a impressão de uma moeda bem cunhada. Ela está repleta de casas, num recinto delimitado por um muro e realçado por torres.
O limite é definido e claro: para além do muro, campo; para dentro dele, cidade.
O muro é o resplendor da cidade, que tem em torno de si uma coroa feita de muralhas, assegurando-lhe a possibilidade de se defender por si própria e de manter sua autonomia.
Vista assim em seu conjunto, a cidade dá a impressão de uma caixa de tesouros. Porque o que emerge de dentro dela são coisas preciosas: as torres das igrejas, as pontas das catedrais com as rosáceas e os vitrais, as torres de um ou outro palácio etc. Dir-se-ia que entre suas torres havia uma espécie de competição para atingir o céu.
Muralhas de ÁvilaAs ruelas da cidade medieval estão para os quarteirões de nossos dias, quadrados e cortados em ângulo reto, mais ou menos como a caligrafia está para a datilografia: a letra datilográfica é irrepreensível; a letra manuscrita muitas vezes é irregular; e até feia, mas tem a expressão de uma alma. Esses quadriláteros urbanos, o que exprimem?
As almas dos homens sem alma...

É difícil conhecer a Verdade e o Bem 
quando os sentidos 
não são tangenciados pela Beleza.

A despreocupação, a naturalidade, a intimidade e o aconchego fazem o encanto próprio da vida pequeno-burguesa. E é o que nesta sala se nota.
Ela constitui um mundo fechado.
Dentro dela, o homem se sente numa atmosfera moral específica, inteiramente diversa da rua, para a qual talvez dê a janela, mas que fica psicologicamente a mil léguas do pintor e do modelo.

Ambiente fechado sim. Porém não ambiente vazio e sem vida. Nele penetram várias claridades de várias espécies. Da janela vem uma luz esplêndida, que inunda o modelo e se transforma em suave e inteligente penumbra junto do pintor. Um chão de mármore serve para multiplicá-la um pouco, e dá a este ambiente quase pobre uma nota agradavelmente contraditória, de riqueza e distinção.


O inimaginável, esse velho conhecido

Catedral de Colônia























Sempre que vejo a fachada da Catedral de Colônia, percebo no mais fundo de minha alma o encontro de duas impressões aparentemente contraditórias.

De um lado, é uma realidade tão bela que, se eu não a conhecesse, não seria capaz de sonhá-la.
Mas, de outro lado, algo diz em meu interior: essa catedral deveria mesmo existir!

E essa fachada inimaginável é para mim, ao mesmo tempo, paradoxalmente, uma velha conhecida.

O belo é símbolo do bom, e a verdadeira beleza simboliza o bem. Desta maneira, a verdadeira arte simboliza a moral.
O conhecimento completo está numa espécie de vértice, na base do qual estão o conhecimento simbólico e artístico, e o conhecimento abstrato.


Uma luz que é mãe
A Virgem Azul - Catedral de Chartres - Vitrais
































O vitral é feito para dar ao homem como que a ilusão de que ele abriu um buraco na pedra e está vendo Deus.
A claridade do vitral é uma claridade tamisada, recolhida, uma claridade irmã ou mãe da alma, em que a alma se sente bem tratada, à vontade para tomar distância e colocar-se no seu prisma próprio para olhar todas as coisas. E não reduzida a todo momento à brutalidade do concreto que a luz comum impõe.
A luz de um vitral é como se um afago materno me tomasse a alma, me circundasse e dissesse:
- “Meu filho, agora seja você mesmo, tome distância de todas as coisas e olhe as coisas à luz de si próprio. Essa luz de si próprio não é a luz de seu egoísmo, é a luz de sua inocência”.

Deus estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons, perfumes, sabores, e certos estados de alma.

 

Belo e Sublime, Sagrado e Sacral


O sublime é uma beleza que está fora da proporção do homem; é a beleza da sacralidade.
A sublimidade é o aspecto das pessoas e das coisas por onde elas mais se assemelham a Deus.
O sublime é o ponto terminal de tudo o que é qualidade.
O oxigênio da alma é a sublimidade!
A observação embebida de amor analítico que anseia por exprimir-se é propriamente a contemplação.
Sacro é aquilo que está absolutamente acima de outra coisa.
Para se subir até a sacralidade, é preciso usar a escadaria da desigualdade.
Trata-se de um valor supremo por estar no âmago da noção de religiosidade.
Como o sagrado pertence à Igreja, sacral é o modo de a sociedade temporal ser sagrada.
É a sacralidade que cabe à sociedade temporal; a diluição do sagrado – por assim dizer – que toca ao mundo profano[10].

O mundo profano é susceptível de ser visto e organizado 
de modo inteiramente sacral, enquanto profano.

Amem o que é sublime,
que os filhos da sublimidade seguirão seus passos.

[9] Da fazenda Morro Alto para a vizinha cidade de Amparo, Estado de São Paulo, em 1970.
[10] Sacral, sacralidade: para o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, a sacralidade tem uma profunda relação com as desigualdades do Universo e se apóia sobre os seguintes princípios:
  1. O Universo – mais ainda, toda a ordem do ser – é hierárquico.
  2. Ele é insondavelmente desigual de um grau para outro, e infinitamente desigual em relação a Deus.
  3. O mais alto, a um ou outro título, é sempre causa, modelo, mestre e regente do mais baixo.
  4.  A título próprio, só Deus é causa, modelo, mestre e regente das criaturas. Portanto, todas as hierarquias se reportam a Deus, que é infinitamente nobre, sublime e elevado
  1. A escala dos seres é uma escala fechada, no sentido que o mais alto, que é Deus, toca no último, no ínfimo. Deus e as ordens superiores estão, a um ou outro título, presentes nas ordens inferiores. Portanto não se trata de uma ordem estraçalhada e descontínua, mas harmônica, que se fecha.


Imagino que os construtores tenham desejado criar um contraste entre a igreja imensa, pesada e sombria e a luminosidade colorida dos vitrais.

Quando a pessoa entra na igreja, e é envolvida pela penumbra, imediatamente levanta os olhos em direção à luz. Gesto simbólico do homem à procura de Deus.


Sagrada Família
Vitral - Vaticano
  Catedral de Chartres - detalhe

Catedral de Chartres
O bom samaritano
 Sejam felizes todos os seres
Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres
 Fonte:

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