sábado, 24 de setembro de 2011

Filhos… melhor não tê-los? » cpfl cultura



Em tempos de consumismo, para muitas famílias ter filhos transformou-se em ato de consumo. 

A educação das crianças tem sido terceirizada a babás, escolas, avós, profissionais das mais variadas áreas, professores particulares e de cursos específicos, entre outros. 

Vamos refletir a respeito das relações familiares no mundo contemporâneo e em especial das relações da família com a escola, responsável pela educação formal dos mais novos. 


Palestra gravada no dia 9 de abril de 2010 em Campinas.

Filhos, 'melhor não tê-los'

Renunciar ao papel de pais 
ainda é uma decisão que causa estranhamento, 
mas vem ganhando adeptos

Andréia Fernandes
 
- Jornal da Tarde

Filhos custam caro, poluem e, sobretudo, afundam a existência das pessoas. Esta é a opinião da escritora francesa Corinne Maier, que vem causando polêmica em seu país natal com o livro No Kids - Quarenta razões para não ter filhos. As declarações contundentes da autora despertaram na França, país cuja taxa de fecundidade é campeã na União Européia, a discussão sobre se ter filhos é mesmo uma passagem para a felicidade.   Veja também: » No Kidding: um clube para pais sem filhos » Livro traz opiniões ácidas sobre filhos » Filhos, 'melhor não tê-los'

Com argumentos tão radicais ou não, o fato é que cada vez mais casais vêm renunciando ao papel de pais. É o caso da designer gráfica Egly Dejulio, 44 anos, e do artista plástico Tony de Marco, 46. Juntos há 26 anos, eles se apaixonaram na época de escola. A história "bonitinha", porém, jamais incluiu filhos. "Nunca quis engravidar. Minha irmã mais nova nasceu quando eu tinha 13 anos. Eu ajudei a cuidar dela. Dei papinha, vi andar pela primeira vez, falar... Acho que já matei minha vontade maternal", conta a designer.

O aumento de casais que fazem essa escolha está ligado, segundo a psicoterapeuta Lidia Aratangy, ao desenvolvimento de anticoncepcionais seguros. "A procriação saiu do campo das contingências biológicas para adentrar o universo do desejo", explica. Leila Tardivo, professora do Instituto de Psicologia da USP, concorda. "Não vivemos mais na época de nossos avós, quando ter filhos era uma uma obrigação. ‘Procriar’ é, hoje, uma opção."

Uma opção que, geralmente, parte da mulher. Pelo menos partiu da supervisora de vendas Simone Gamboa, de 35 anos. Seu marido, Anderson da Costa, 36, sempre quis filhos. "Como nos casamos jovens, há 12 anos, ficamos esperando a hora certa", diz ele. Mas Simone admite que, na verdade, estava "enrolando" o marido. "No começo, eu queria me estabelecer na carreira. Depois, precisávamos comprar a casa própria. Chegou um momento em que tive de abrir o jogo. Nunca quis ser mãe, nunca vou querer."

Segundo a psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins, a opção fica a cargo da mulher por um motivo simples: "É ela quem vai carregar a criança no útero durante 9 meses, que vai amamentar... o homem acata a escolha da mulher simplesmente porque é ela quem terá uma carga maior perante o filho."

A administradora Eliane Verderio, 36, tomou a decisão totalmente sozinha. "Casei aos 21 anos e me separei 8 anos depois. Como era nova, nunca tinha pensado em engravidar. Após a separação, com 29 anos, passei a me questionar. Sempre que olhava para o futuro não me via cuidando de bebês. Comecei a me perguntar se filho seria mesmo garantia de felicidade. Cheguei à conclusão de que, para mim, não."

Hoje, casada há 2 anos com o empresário Paulo Carelli, Eliane continua firme na decisão. "Ele tem filhos do casamento anterior e não faz questão de ter mais. Mas já falou que, se eu quisesse, ele topava. Mas não quero."

Vantagens

No caso da professora Helenita Fernandes, 42 anos, e do eletricista Mário Jorge Lopes, 44, casados há 12 anos, não ter filhos não foi bem uma decisão. "Parei de tomar anticoncepcional porque me fazia mal", conta ela. O casal deixou de lado, então, qualquer método contraceptivo. "Nunca planejamos ter filho. Deixamos acontecer", diz ela. Mas não aconteceu. E, ao contrário da maioria das pessoas que se vêem nessa situação, o casal não se submeteu a tratamentos de fertilidade.

"Aceitamos que não teríamos filhos,
e isso não nos causou nenhuma decepção."

O casal considera sua vida muito mais tranqüila se comparada à dos casais que têm filhos. "Podemos namorar, sair e voltar na hora que bem entendermos. Sabemos que isso não seria possível com uma criança em casa", afirma Mário Jorge.

Para Tony de Marco, o lado financeiro também pesa na decisão. "Filho influencia no orçamento. Você pensa muito antes de abrir um negócio próprio, por exemplo, porque não pode correr riscos. As pessoas ficam imobilizadas, e pior: culpam os filhos." Sua mulher, Egly, concorda: "Nós viajamos sempre, já conhecemos a Europa e os EUA. Se tivéssemos filhos, com certeza não sobraria dinheiro para isso."

Preconceitos
Se, por um lado, a vida sem crianças não causa rombos monstruosos no orçamento e permite mais liberdade na vida a dois, ir contra uma imposição da sociedade tem seu ônus, lembra Leila Tardivo. "As pessoas vêem com estranheza quem não tem filhos porque existe a idéia de que isso é ‘contra a natureza humana’. Portanto, se você vai contra isso, há um esforço muito maior e um custo."

"Sempre que eu falo para as pessoas que não tenho filhos, já sei as perguntas que estão por vir: ‘você tem problema?’, ‘e quando você ficar velha, quem vai cuidar de você?’", confirma a administradora Eliane Verderio.

Segundo Regina Navarro Lins, o preconceito ocorre porque ainda existe a idéia de que toda mulher nasce com o amor materno dentro dela. "Esse ‘amor’ é uma imposição cultural, na verdade. Nos séculos 17 e 18, as mulheres largavam seus filhos com as amas e os viam de vez em quando. A idéia do amor materno foi se construindo com o tempo e fez com que toda mulher que decidisse não ter filhos passasse a ser vista como uma monstra - e até hoje esse pensamento persiste, mesmo que veladamente."

Tony e Egly afirmam que já se cansaram de ouvir que são egoístas. "Mas até concordo", diz ele. "Não me sinto preparado para esse amor incondicional de que tanto falam. Para mim, o amor tem de ter condições."

Lidia Aratangy, entretanto, discorda da alegação de que não ter filhos é uma decisão egoísta. "Faz mais sentido imaginar que a decisão seria fruto de imaturidade e egoísmo do casal. Mas isso não é verdade. Pode até acontecer o contrário: casais maduros pesam mais nas conseqüências de trazer um filho à vida e por isso optam por não tê-los. E um casal pode decidir ter filhos por razões extremamente egoístas - a ilusão de ‘salvar o casamento’ ou o desejo de perpetuar-se no outro, como uma forma de fazer-se imortal."

Medos

Apesar de a escolha de não ter filhos ser aparentemente racional, Lídia afirma que ocorre justamente o contrário. "A decisão deriva mais de emoções do que de razões. Geralmente, de medos: da responsabilidade, das mudanças que um filho traria para a dinâmica do casal, medo de não ser um bom pai ou boa mãe; preocupações com o futuro."

Tony de Marco não nega que seus receios também pesam. "Para mim, o problema de ser pai é que você se torna um exemplo para seu filho e eu não quero ser e nem sou exemplo para ninguém."

Independentemente das razões que levam uma pessoa a abrir mão da paternidade e da maternidade, lembra a psicóloga Leila Tardivo, o fato é que esta opção tem de ser bem pensada. "É uma decisão tão séria quanto querer ter filhos. Conheço pessoas que se arrependeram."

Lídia lembra que cada escolha implica renúncias:

"Quem tem filhos 
perde a individualidade, 

mas quem não os têm também não está abrindo mão de conhecer uma dimensão importante de si mesmo e do parceiro? Tudo depende do que o casal valoriza. É possível ser profundamente infeliz com ou sem filhos. 

Também é possível ser feliz dos dois jeitos.
Ninguém recebe da vida o copo cheio, 
seja de amargura, seja de doçura."    

 Fontes:
http://www.cpflcultura.com.br/site/2010/04/23/filhos-melhor-nao-te-los/#.Tn1I_ZEvguA.blogger
http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,filhos-melhor-nao-te-los-,41214,0.htm
26 de agosto de 2007 | 14h 39

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