‘Toda Poesia’
reúne obra poética de Paulo Leminski
Autor curitibano
tem como uma de suas marcas a mistura do erudito ao popular
Agora toda a produção poética do curitibano está reunida em um único livro: ‘Toda Poesia’, recém-lançado pela Companhia das Letras.
O escritor e compositor Ademir Assunção foi amigo de Leminski e define o curitibano como
“uma figura vulcânica,
com um pensamento muito rápido,
e
muito bem humorada”.
Alguém que não se encaixava nos estereótipos nem
de um erudito nem de alguém ligado à contracultura, mas que participava
de ambos os grupos. “Eu acho que a singularidade do Leminski era justamente isso: ele não era um erudito convencional. Era uma figura que tinha erudição, sabia várias línguas, traduzia do grego, do latim. E, ao mesmo tempo, era uma figura totalmente contaminada por esse clima dos anos 60, da rebeldia”, opina Assunção. Rodrigo García Lopes, também escritor e compositor, é outro que ressalta a capacidade de Leminski em juntar coisas aparentemente tão distintas:
“Ele transitava
entre o
erudito e a coisa mais pop
com muita facilidade”.
Além de poeta, Leminski desenvolveu outras atividades, como a de
tradutor, sempre norteado pelo trabalho com a linguagem. “Ele era
totalmente voltado para tudo que estivesse em torno da palavra e da
linguagem, e isso se reflete em todas as coisas que ele fazia, que não
eram poucas: ele foi jornalista, publicitário, compositor de letra de
música, poeta, contista, romancista e tradutor”, conta Estrela Leminski,
escritora, compositora e filha do poeta. Haja hoje para tanto ontem
Paulo Leminski
cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença
Paulo Leminski
viver é super difícil
o mais fundo
está sempre na superfície
Paulo Leminski
acordei e me olhei no espelho
ainda a tempo de ver
meu sonho virar pesadelo
Paulo Leminski
tudo dito,
nada feito,
fito e deito
Paulo Leminski
amar é um elo
entre o azul
e o amarelo
Paulo Leminski
jardim da minha amiga
todo mundo feliz
até a formiga
Paulo Leminski
a estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão
Paulo Leminski
ameixas
ame-as
ou deixe-as
Paulo Leminski
soprando esse bambu
só tiro
o que lhe deu o vento
Paulo Leminski
outubro
no teto passos pássaros
gotas de chuva
Paulo Leminski
lá embaixo
vai ter
o que eu acho
Paulo Leminski
o mar o azul o sábado
liguei pro céu
mas dava sempre ocupado
Paulo Leminski
Isso de ser
exatamente o que se é ainda vai
nos levar além
Paulo Leminski
Aqui jaz um grande poeta. Nada deixou escrito. Este silêncio, acredito, são suas obras completas.
Paulo Leminski
Um homem com uma dor
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha
ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra
Paulo Leminski
Enchantagem
de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo
esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima
de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito
pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito
que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar
tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade
o pau na vida
o vinagre
vinho suave
pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade
Paulo Leminski
"Nessa pedra alguem sentou para ver o mar
Mas o mar,nao parou para ser olhado
E foi mar,pra todo lado.
Paulo leminski
Leite, leitura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo,tudo,tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura
Paulo Leminski
Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
Paulo Leminski
nuvens brancas
passam
em brancas nuvens
Paulo Leminski
Ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaram
que a mágoa nova
virasse a chaga antiga
ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa
e que a pedra só não voa
porque não quer
não porque não tem asa
Paulo Leminski
Merda e Ouro
Merda é veneno.
No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam pobres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare
à bosta da pessoa amada.
Paulo Leminski
Abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri:
Antigamente eu era eterno.
Paulo Leminski
Li-Sol-30
Fontes:
http://tvcultura.cmais.com.br/metropolis/entrevistas/toda-poesia-reune-obra-poetica-de-paulo-leminski
07/03/13 18:02 - Atualizado em 07/03/13 18:06
Licença padrão do YouTube
Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário