O Deus de C.G.Jung II - 5min.
O Deus de C.G.Jung - Sindrome do Pânico 3min
Identificação Projetiva - Fenômeno religioso - 14:16
O Deus de Jung - 4min.
Inconsciente Coletivo - 5
A Psicologia de C.G.Jung 1 - 9:30
A Psicologia de C.G.Jung - 2 10min.
A Arte de Curar - Meditações - 6:48
O QUE JUNG NÃO EXPLICA
''Tudo passa:
o que ontem era verdade, hoje é erro,
e o que antes de ontem era considerado um erro,
será talvez uma revelação amanhã...''
C. G. Jung em Memórias, Sonhos e Reflexões
Carl Gustav Jung www.cgjungpage.org, considerado um dos maiores psicólogos e estudiosos da alma humana, faleceu em 1966 e, desde então, a alma dos homens já sofreu novos impactos. Entre eles, os proporcionados pelas tecnologias. Para realizar uma análise mais profunda sobre a interferência da tecnologia na identidade humana, convidamos José Raimundo Gomes, psicólogo clínico, teólogo formado pela PUC-Rio e membro do C. G. Jung Foundation for Analytical Psychologist de Nova York. ''A solidão não é um fenômeno produzido pela tecnologia. Ela responde pela incapacidade do indivíduo desligar-se de seu egoísmo, do mundo onde se encontra ensimesmado, e partilhar com seus semelhantes'', afirma. - Qual seria o principal impacto da tecnologia na vida das pessoas? - Temos uma bela convergência entre a mitologia grega e a judaico-cristã no que concerne a busca e domínio do conhecimento. Prometeu pagou caro por ter roubado o fogo da carruagem de Zeus. Não se conformava com a inconsciência de seus semelhantes que viviam sem luz e calor. Eva, seduzida pela serpente paradisíaca, sem qualquer dificuldade, convenceu Adão a provar o fruto do conhecimento. Nunca mais foram os mesmos, após aquele dia. Prometeu e o casal primordial foram duramente punidos por suas ações. Por que Deus (ou os deuses) temem que o homem domine o conhecimento? Uma boa resposta. Comprovada pela modernidade: ele poderia usar o conhecimento para destruir e odiar. O domínio do fogo e a saborosa fruta do conhecimento tiveram seus efeitos colaterais, como as armas atômicas capazes de destruir a vida na Terra, que são pesadelos dos quais não podemos acordar. E nós já provamos seus amargos efeitos: mísseis teleguiados, aviões de espionagem monitorados por controle remoto, entre outras tecnologias. É o lado cruel do conhecimento, desenhado com precisão pelas mentes dos grandes cientistas das poderosas nações e transformado em arma de morte. Do outro lado, temos o conhecimento que liberta, que prolonga a vida, que une povos, culturas e etnias. Essa tecnologia produz um duplo impacto sobre o mundo: terror e fascínio. Uma bomba nuclear não pode semear jardins. Mas os segredos dos átomos, suas íntimas atividades na ''matéria'', podem salvar vidas. Impressiona que os homens tenham mais imaginação para o mal do que para o bem. Tanto é que não se cura o câncer e nem mesmo uma gripe, mas se destrói o mundo. - Por diversas vezes, a internet foi condenada por isolar o indivíduo do resto da sociedade. Qual seria o real papel dessa rede de pessoas e informações? - Não posso concordar com esse ponto de vista. A internet é um extraordinário veículo de compaixão e de amor ao próximo. E a solidão não é um fenômeno produzido pela tecnologia. Ela responde pela incapacidade do indivíduo desligar-se de seu egoísmo, do mundo onde se encontra ensimesmado, e partilhar com seus semelhantes. Podemos presenciar o terrível rosto da solidão como fenômeno social, na tragédia americana do último dia 11 de setembro. Os observadores internacionais foram unânimes ao afirmar que grande parte do drama aconteceu devido à postura isolacionista dos EUA em relação ao resto do mundo pobre. Fechados sobre seus próprios interesses nacionais, se tornam indiferentes ao grito de dor dos oprimidos. Há ainda um outro fator de extrema importância que deve ser considerado. A solidão como isolamento emocional e blindagem afetiva está presente nas inter-relações. Posso conhecer centenas de pessoas e ser patologicamente só. O que caracteriza o isolacionismo não é ficar diante da tela do computador ou detestar reuniões sociais. A melhor feição da solidão é a incapacidade de se dar ao outro. - Carl C. Jung acreditava que a civilização era o resultado bem sucedido da batalha heróica do homem contra a adversidade. As novas tecnologias (celulares, notebooks etc...) podem ser consideradas adversidades? - De jeito nenhum. As extraordinárias invenções tornam o mundo cada vez menor. As ricas diversidades das culturas e civilizações, das religiões e línguas, das etnias, podem ser captadas rapidamente por meio destes extraordinários aparelhos, inventados pelo profundo desejo humano de união global. O aspecto nefasto não está nas invenções, mas na desigualdade social que impede que um grande número de pessoas desfrute destes bens de alegria. - A evolução humana está compatível com a evolução das tecnologias? Por que? - É exatamente aí que reside o desastre. Infelizmente, o avanço tecnológico supera em muito o avanço psicoespiritual do ser humano. O acesso as tecnologias de lazer e de salvação são restritas àqueles que podem pagar. Todo continente africano, grande parte do sul americano e largas regiões da Ásia estão privados, não apenas dos bens tecnológicos, mas não alcançam sequer os níveis toleráveis de sobrevivência. Não é o videocassete que é injusto, injusta é a política global que impede o videocassete de chegar até a casa do agricultor nordestino. Não é o restaurante cinco estrelas que é uma infâmia, ofensivo é viver num mundo onde milhões de pessoas não podem nem mesmo comer e enterram seus filhos ainda bebês. E há uma outra questão ainda mais grave. As tecnologias não se limitam apenas a construir aparelhos eletrônicos de comunicação e de telecomunicação. Estendem-se até as farmaco-tecnologias de sobrevivência. A produção de medicamentos para o combate da AIDS ou do Câncer requer sofisticados procedimentos. E como as fórmulas da vida são tratadas pelo poderosos laboratórios do primeiro mundo? Guardam o segredo a sete chaves. Patenteiam rapidamente e agem com rigor, acionando organismos internacionais de comércio, se algum país pobre ameaça produzir a medicação sem pagar os royailtes. Sem qualquer compaixão pelo sofrimento alheio, nem constrangimento, negociam o alívio da dor. Se você pode pagar, ótimo. Se não, morra. Sua vida não importa para nós porque não nos dá lucro. A feição mais cruel da tecnologia está aí. - O que deve ser feito para que as duas evoluções fiquem equiparadas? - Precisaríamos inventar uma tecno-espiritualidade. Deveríamos investir alguns dos bilhões de dólares que servem ao desastre, em pesquisa sobre espiritualidade, bondade, compaixão e amor ao próximo. Poderíamos construir universidades para promover a paz, a harmonia entre homens e mulheres. Financiar estudos sobre a real origem da violência humana, tentar descobrir onde se encontra a fonte da ganância contida na espécie. Lembro-me de Gandhi. Ele dizia que ninguém pode ser completamente feliz, enquanto uma só pessoa no mundo passasse fome. Essa cumplicidade íntima que me liga a todas as pessoas, mesmo aquelas que não conheço, é a fonte da verdadeira felicidade e afugenta a solidão. É uma lástima que o desejo de poder destrua a delicada aspiração da alma por amor. Não estou tão certo de que se conseguirá harmonia entre progresso tecnológico e evolução espiritual. Olhando ao redor do mundo, temos poucas razões para ter esperança. Guerra, morte, fome, devastação ecológica, poluição ambiental, desejo de vingança, arrogância... o futuro parece sombrio. O que o homem entende por progresso está levando-o a sua própria destruição. No entanto, o coração humano não vive do desespero e da desesperança. Somos marcados intimamente pela utopia de felicidade. E da mesma forma que assistimos, incrédulos, ao horror americano, nada impede que o mundo desperte com uma outra espantosa notícia, inversa àquela: Toda a Terra acorda em Paz.
Matéria do
Jornal do Brasil Reportagem de Yami Trequesser Entrevista/ José Raimundo Gomes |
Sejam felizes todos os seres.Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
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