W.A.Mozart -Concerto No 24 in C minor K 491 - 35m
André Previn
13André Previn
prefácio
Minha primeira experiência adulta com a criatividade ocorreu um ano depois de eu vir da Índia para a Western Reserve University,em Cleveland, Ohio, como instrutor e pesquisador pós-doutorado em física nuclear teórica. Trabalhava com afinco na pesquisa de um novo tipo de fenômeno interativo referente aos núcleos atômicos,mas sem nenhum êxito. Naquele dia, comentei com meu orientador minha enésima idéia sobre o assunto, mas ele simplesmente
apontou brechas tão grandes que a vi se desmoronar, mesmo diante de meus olhos preconceituosos. Depois da conversa, fui para o “Hospício”, como chamávamos a lanchonete no porão. Estava a ponto de desistir quando a solução surgiu subitamente, com tanta clareza que não tive nenhuma dúvida de que estava certo. Corri para encontrar meu orientador que, imediatamente, viu o potencial de minha idéia. Ainda me lembro da confusão alegre em que passamos aquela tarde.
Continuei minhas pesquisas em física nuclear por mais dez anos depois desse incidente, resolvi muitos problemas e escrevi alguns trabalhos científicos, mas a alegria daquele dia dava a impressão de fugir à minha compreensão. Aos poucos, tornei-me cético. Como a maioria dos meus colegas, supus que toda pesquisa científica é criativa, mas que a criatividade não é necessariamente agradável e que aqueles que descreviam tal alegria sem dúvida estavam exagerando. A minha experiência memorável foi, talvez, conseqüência da exuberância ingênua de um iniciante. Supus que o trabalho criativo trazia apenas a satisfação madura que sentia cada vez que alcançava êxito em solucionar um problema flexível ou quando escrevia outro trabalho para aprimorar minha carreira.
Então, uma grande mudança de vida foi precipitada por um divórcio e a perda de uma bolsa de pesquisa, acompanhada por um novo casamento e o abandono da física nuclear. Escrevi um livro didático sobre física básica e, depois, outro, sobre a física da ficção científica.
Em determinado momento, mudei meu campo de pesquisa para a
interpretação da mecânica quântica. A mecânica quântica, o novo
paradigma da física deste século, é usada principalmente para calcu-
lar o movimento de objetos submicroscópicos, como átomos, núcleos
e partículas elementares, mas, na verdade, aplica-se a todos os obje-
tos materiais.
A mecânica quântica despontou no horizonte na década de 1920
e, desde então, essa nova física ameaça destronar a visão de mundo
predominante da ciência que se baseia na idéia de que tudo que é real
é feito de matéria – qualquer fenômeno que pareça imaterial é ilusório.
Contudo, somos confrontados com paradoxos ao tentarmos explicar
fenômenos quânticos enquanto nos baseamos no materialismo estrito.
São esses paradoxos que me propus resolver.
Depois de anos de incerteza e tentativas malogradas, uma noite,
enquanto conversava com um amigo, percebi que a resolução dos
paradoxos quânticos dependia do rompimento completo com o atual
paradigma materialista, cujos alicerces a mecânica quântica danificou
irremediavelmente. Um novo fundamento, composto pela idéia de que
a consciência, e não a matéria, é a base do ser deu origem a uma ciência
revigorada, capaz de explorar territórios novos e interessantes,muito além de suas antigas fronteiras. Também notei que essa descoberta iluminou-me com a mesma intensa alegria, talvez até mais intensa, que senti no “Hospício”.
Conforme detalhava esse novo paradigma da ciência com base
na consciência, percebi que elaborar uma abordagem integrada para
a criatividade, uma abordagem que inspirasse e admitisse o empenho
criativo de todos, teria fundamental importância para o novo paradig-
ma. A criatividade é um fenômeno visto com suspeita pelos materia-
listas, já que, de acordo com eles, tudo que acontece neste momento
tem relação causal com o passado e nada novo é verdadeiramente
possível. Minhas experiências pessoais já tinham me mostrado o contrário.
Portanto, acolhi o desafio de expor os limites do materialismo e transcendê-los.
Logo depois conheci Leonora Cohen, cujo interesse especial de
pesquisa era a criatividade. Nora e eu fundamos um grupo de pesquisa
sobre criatividade na Universidade de Oregon, onde trabalho, e
começamos a fazer reuniões regulares. Pouco depois, um psicólogo
comportamental, Shawn Boles, e um antropólogo, Richard Chaney,
juntaram-se ao grupo que, maior, desfez-se um ou dois anos mais
tarde, mas Nora, Shawn, Richard e eu formamos um vínculo que foi
fortalecido quando assinamos um contrato para escrever um livro
conjunto sobre criatividade. Embora o livro nunca tenha sido conclu-
ído, já que nossas diferenças de abordagem eram enormes para che-
garmos a um consenso, essa colaboração ensinou-me muito sobre as
teorias e dados existentes referentes ao fenômeno da criatividade.
Shawn e eu estávamos de acordo quanto a um aspecto importante lidar
e classificar os diversos dados sobre criatividade: ambos
achávamos que o trabalho criativo precisa ser classificado em duas
categorias básicas: uma, mais próxima à solução de problemas, seme-
lhante à invenção tecnológica, e outra, uma descoberta de verdades
mais profundas. Muitas das diferenças de concepção na pesquisa sobre
criatividade surgem porque as questões são abordadas por apenas uma
das duas categorias de criatividade.
Em determinado momento, também reconheci que o crescimento espiritual é uma criatividade “interna”, ao contrário da criatividade nas artes e nas ciências, que é “externa”.
Enquanto isso, Nora organizou dois congressos de pesquisa sobre as teorias de criatividade e conheci muitos expoentes da área, além de presenciar a profunda divisão que há entre eles. Contudo, a elaboração de uma síntese completa das idéias divergentes sobre criatividade teve de esperar até que se criasse o novo paradigma, com base na consciência, e se escrevesse e publicasse o livro definitivo.
Quando esse livro,O universo autoconsciente, foi para a gráfica,senti que finalmente estava livre para trabalhar na integração das diversas maneiras de pensar sobre criatividade e como a abordamos,tanto pessoal quanto socialmente. O presente livro é o resultado desse trabalho.
Comecei esta obra com a visão nítida da necessidade de uma classificação adequada de todos os diversos fenômenos que são uniformemente rotulados de criatividade. Conforme o escrevia, também constatei a necessidade de enfatizar uma abordagem integrada para todos esses tipos de criatividade. Quando reconhecemos a consciência como o tema central do universo, fica claro que toda criatividade é subjetiva. De fato, ela é a tábua de salvação para a consciência. Dessa forma, começamos a ver que cada um dos tipos de criatividade tem um papel a desempenhar para que adotemos nosso potencial total. E,sim, vemos perfeitamente que a criatividade não se limita aos gênios; todos nós temos o potencial de ser criativos, em qualquer idade.
Tradicionalmente, o Ocidente favorece a criatividade externa em relação à interna, e o Oriente, a interna em relação à externa. As antigas sociedades ignoravam a invenção como modo de atingir a mudança social; as sociedades atuais enfatizam a invenção até demais por causa de sua orientação consumista. Mas essa polarização nos impede de atingir nosso potencial total. Essas formas polarizadas de colher a criatividade não serão suficientes para cumprirmos as tarefas do próximo milênio.
Por isso, o tema deste livro é a canção criativa, com todas as diversas harmonias enfatizadas. Quando entoamos a música da criatividade, usando a harmonia mais apropriada para as demandas de um determinado momento criativo, nossos versos individuais e simples passam a fazer parte do multiverso cósmico abrangente – o verso unido que denominamos universo.
Além das pessoas já citadas que desempenharam um papel importante em minhas pesquisas, sou grato a Paul Ray, Howard Gruber,Kathy Juline, Robert Tompkins, Shawn Boles, Jean Burns e Ligia Dantes pela leitura criteriosa do manuscrito. Agradeço também a Ann Sterling, Michael Fox e Anna St. Clair pelos comentários produtivos.
A ajuda de Don Ambrose, Joe Giove e Nan Robertson com as gravuras
é incomensurável. Também quero agradecer aos amigos pelo apoio
durante o árduo processo de redação: Geraldine e Ed Black, Mike
Croan, Phil Gill, Suart Over, Joanne Crandall, Henry e Hope Swift,
Tera St. Johyn, Larry e Janie Brown, Hugh e Ruth Harrison, para citar
apenas alguns. Agradeço a todos vocês.
17
PARTE
1
UMA PERSPECTIVA INTEGRAL DA
CRIATIVIDADE
“Bem-vindo à feira anual de ensino de criatividade”, diz o jovem
no portão quando você entra. Lá dentro, há muitos prédios de diversos tamanhos.
Será que cada um deles é uma escola para ensinar criatividade?
Por que tantas escolas? Você pensa consigo mesmo: por que não dar uma olhada e ver se descobre alguma coisa? Sempre podemos aprender mais sobre criatividade.
O primeiro prédio que desperta seu interesse parece uma
igreja. Lá dentro, há uma pessoa sentada, um sacerdote, em serena
contemplação. Quando ele abre os olhos, você lhe pergunta o que
ele tem a ensinar sobre criatividade. Ele responde:
“Não leciono criatividade.
Como é possível lecionar algo novo, uma criação
ex-nihilo?
ex-nihilo?
Criatividade é como apanhar uma flor do paraíso, o jardim de Deus.
É um dom divino concedido a alguns escolhidos.
Ela vemda inspiração divina”.
Você respeita a sinceridade dele e talvez ele tenha razão, mas a inspiração
divina parece algo um pouco vago e ultrapassado como motivo para a
criatividade nesta era científica em que vivemos. Você prossegue.
O segundo prédio parece um parque de jogos computadorizados.
Há muita gente jogando. Ora, você pensa, talvez eles tenham
a idéia correta. Supõe-se que criatividade seja um jogo. Em resposta
ao seu questionamento, alguém explica: “Criatividade é resolver problemas
por meio da combinação de idéias antigas para criar algo novo
e brilhante. Os computadores podem fazê-lo. Ao estudar como eles
solucionam problemas de modo criativo, você aprende a melhor solucionar
problemas e, assim, encontra a sua criatividade”.
– Mas não sou um computador. Não sou feito de silício – você
protesta.
– Não importa. Nunca ouviu falar da máquina de Turing? Um computador
é um dispositivo que processa vários algoritmos para obter um
resultado final. O hardware não faz nenhuma diferença. O seu hardware
é orgânico e chama-se cérebro. E daí? Você continua sendo uma
máquina de Turing. Já escreveu algum poema na vida?
– Sim, mas nenhum bom – você admite com alguma relutância.
– Na verdade, isso é um dos motivos pelo qual estou aqui para aprender
sobre criatividade. Talvez possa criar poemas melhores que receberão
a merecida atenção, pelo menos da minha amada.
– Bom, isto aqui é um poema criado por computador.
O homem lhe entrega um poema escrito por Arthur
(“Arthur significa tabulador automático de registros, mas pensador heuristicamente
não confiável”, explica o professor). Você percebe que alguns
dos primeiros versos originaram-se na mente de poetas famosos, mas
os últimos parecem vagos e, conseqüentemente, marcantes:
Houve uma época de galinhas-d’angola no Ocidente
Houve uma época de luz do dia no topo da montanha
Houve uma época em que Deus não era uma pergunta
Houve uma época de poetas
E eu surgi.* (Boden, 1990, p. 1)
– Não entendo os últimos versos, por isso devem ter um significado sutil.
Presume-se que a poesia seja ambígua, então acho que
isso está correto. Eu não sabia que os computadores podiam escrever
poesia.
Você está curioso.
– Não só poesia – responde o professor, entusiasmado. – Os computadores
podem desenhar como artistas humanos, resolver problemas
científicos, provar teoremas de geometria. Se isso não é criatividade,
então o que é?
Você está pronto para experimentar uma das máquinas, mas
outro pensamento o detém:
– A criatividade vem com ansiedade e êxtase, até eu sei disso.
Nas poucas vezes em que fui criativo, havia muita ansiedade que
culminou em um grande êxtase quando surgiu a idéia. Minhas experiências
subjetivas foram cruciais para moldar o produto final. Mas se um computador é capaz de escrever um poema, ele sente essas emoções?
Ele tem experiências subjetivas que orientarão o seu trabalho?
E a intuição?
– Lá vem você outra vez com o antigo argumento sobre emoções,
sentimentos, intuição e tudo o mais. Esqueça a subjetividade! Uma
teoria científica da criatividade tem de ser objetiva. Além disso, você
já entrou dentro de um computador para saber se ele não sente ou
não intui?
Porém, essa resposta apenas o confunde emocionalmente, e você
decide não fazer o treinamento desse professor. Pelo jeito, ele é ocu-
pado demais para se preocupar.
No próximo prédio, você fica surpreso com a falta de publicidade.
Há um homem sentado à mesa. Se há outras pessoas por ali, elas não
estão se fazendo notar. Depois de ouvir a sua experiência com o cientista
de computadores, o homem diz:
– Eu tenho uma perspectiva bem diferente. Não discordo de que
exista um tipo de criatividade mecânica, mais objetiva, que denomino
criatividade secundária. Mas a criatividade máxima, a primária, é
subjetiva. Ela abrange o nosso self ou “eu” transpessoal (ver Maslow,1968).
Você o interrompe: – O que é self transpessoal?
– É o self além do ego – responde o homem.
– Como faço para encontrá-lo?
Você está curioso.
– Empreenda a jornada da auto-realização. Como posso explicar
de um modo melhor? Fique aqui mais um pouco.
Mas você lhe diz que não tem tempo: – Lamento, cara.
Você chega, então, em um prédio cujo interior parece a tenda de
um mágico. Cartas estranhas, que vagamente lembram as cartas do
tarô, estão à mostra.
– Posso ajudá-lo? – uma mulher pergunta.
– Sim. Ouvi dizer que vocês lecionam criatividade – você responde.
– Criatividade é mistério, é magia. Quem pode ensinar criativida-
de? Mas talvez a magia esteja dentro de você. Posso ajudá-lo a aprender
a explorá-la. Na verdade, se você ficar aqui por algum tempo, garanto que aprenderá a magia de criar vibrações mentais que podem materializar qualquer coisa: um poema, uma escultura ou uma canção.
Você pensa que já ouviu algo parecido antes.
– Não foi Bishop Berkeley que disse algo mais ou menos assim?
O som de uma árvore que cai na floresta permanece em potentia até que um
observador se depara com a cena e tem a vibração mental,
ouve o som da árvore caindo. A criatividade é assim?
Em resposta à sua pergunta, a mulher demonstra impaciência.
– Não é nada disso. Não fique filosofando, nem tente escapar usando chavões moderninhos.
Não há explicação racional para a criatividade. É um mistério.
Você torna-se parte do mistério e simplesmente o coloca em prática.
Infelizmente, mistério demais sempre o mistifica e, assim, você cai fora.
Mas não vai muito longe. Logo, um homem o detém.
– O que está procurando, amigo? – ele pergunta.
– Criatividade – você responde.
– Essa busca é em vão, não vê? Você já é criativo, todas as suas
ações são criativas. Tudo no mundo é um ato criativo.
– Talvez. Mas pensar assim não é muito útil. Não me faz feliz.
Alguns atos me fazem muito feliz, alegre e são esses que gosto de
chamar de criativos. Quero aprender o truque de como praticá-los o
tempo todo.
– Você está sofrendo de uma grande ilusão. Está discriminando
entre os atos ilusórios do mundo: isto é bom, isto é ruim; isto é criativo,
isto não é. Se você não discriminar, encontrará a felicidade eterna.
Pode ser, mas essa felicidade indiscriminada e perpétua não lhe
interessa. Você se afasta e entra no próximo prédio. Logo uma mulher
vem ao seu encontro e sorri.
– Do que está fugindo? – ela pergunta.
Você lhe conta sobre o último encontro que teve.
– Há uma certa verdade nas alegações daquele homem. A criatividade é ilusória, tem de ser.
– Por quê? – você a desafia.
– Por quê? Por causa das leis de Newton, só por isso. Tudo é determinado pelas leis físicas que Newton descobriu. Não negamos que há uma aparência de criatividade no mundo, mas isso é porque alguns sistemas físicos são imprevisíveis. Eles reagem a pequenos gatilhos impossíveis de acompanhar. Nós os chamamos sistemas caóticos.
– Você está dizendo que os meus pensamentos criativos, minha
ansiedade e meu êxtase são aparências, por que há um sistema caótico
em meu cérebro que reage a pequenas nuances de modo supostamente imprevisível?
E que, na verdade, todo o meu comportamento é determinado?
– Sim – reponde a mulher com simplicidade e firmeza.
Você sente-se um pouco desmoralizado. Se a criatividade é apenas aparência,
por que se preocupar em continuar investigando-a?
Bingo! A resposta surge em um prédio com uma faixa enorme: Quí-
mica para melhorar a criatividade. Venha nos conhecer.
– Nós lhe damos um comprimidinho, a pílula da criatividade. É a
única contribuição otimista da ciência para as pesquisas sobre criatividade
– proclama a pessoa no prédio.
Mas você faz objeções: – Não posso crer que o objetivo da pes-
quisa científica sobre criatividade seja criar uma pílula que nos dê
criatividade instantânea. Todos sabem que tem de haver certa agonia
antes do êxtase criativo.
– Bobagem. Isso está ultrapassado. Nada tem de ser doloroso para
ser prazeroso. Você pode ter tudo e merecê-lo. Diga a si mesmo: eu
mereço, e tome a pílula. Você verá.
– Não gosto da idéia de tomar remédio – você responde, na ten-
tativa de superar a tentação.
– Você não passa de uma dança de átomos, meu amigo. Por que
não acrescentar mais alguns para que a dança fique mais exótica?
É isso que chamamos criatividade – o homem insiste.
Mas você se recusa a tomar a pílula. Ao prosseguir, um cartaz
chama sua atenção: Descubra se você é criativo: faça nosso teste. Do que se trata?
As pessoas no estande mal podem esperar para que você faça o teste.
– De todos os testes elaborados para diagnosticar criatividade, o nosso é o melhor – dizem, orgulhosos.
– Não sei – você hesita. – Para mim, a criatividade não é uma
doença que possa ser diagnosticada.
– Não é isso. O que acontece é que você tem ou não os traços
certos para a criatividade. Se você tiver os traços certos, poderá ser
criativo. Caso contrário, azar seu. Por isso, faça o teste e fique livre da agonia.
– E também ficarei livre do êxtase se o teste não for válido. Não,obrigado.
No fundo, você tem medo de fazer o teste. Talvez mais tarde,
quando ninguém estiver olhando, sorrateiramente você pegará um dos
testes e o fará sozinho.
No prédio seguinte, uma mulher mostra-se solidária:
– Pobre alma, precisando ouvir todos esses mecanicistas e místicos!
De uma forma ou de outra, os mecanicistas dizem que a criatividade
não existe, porque todos nós somos máquinas mecânicas e determinadas.
Quanto aos místicos, ou mistificam a criatividade ou a tratam e a tudo mais
no mundo como preocupações ilusórias, resultantes da ignorância.
Felizmente, há um meio melhor.
Agora você está atento para escutar. Talvez tenha encontrado o
seu destino, o fim da sua busca, o oásis no deserto.
A mulher continua a explicar:
– A resposta é o holismo. Sem dúvida, os místicos têm alguma
razão quando dizem que a criatividade é um mistério. É impossível
dissecá-la em programas de computador que nos mostrem o como.
Entretanto, dizer que o mistério está além de nosso controle e predição
material é igualmente falso. A criatividade é um fenômeno holístico.
– O que isso quer dizer? – você pergunta, intrigado com as palavras dela.
– Estamos procurando um princípio organizador responsável por
todo o comportamento criativo na natureza, inclusive o nosso. Como
pode ver, este prédio está vazio, com exceção de alguns papéis de
posição preliminar. Ainda não estamos lecionando. Quando encontrarmos
mos – promete, com um sorriso largo.
É fácil falar sobre princípios organizadores, mas encontrá-los é outra história,
você queixa-se a si mesmo e expressa a sua preocupação:
– Não entendo esse princípio organizador. Vocês são vagos demais!
Apenas o pessoal dos computadores e, talvez, os teóricos do caos parecem ter algo concreto a me dizer. O resto é só papo, sem nenhum embasamento.
A mulher o encara e recita:
Dizem que você é uma máquina clássica,seu self, uma miragem;
você não tem liberdade, nenhum objetivo de ser,nenhuma transcendência.
A sua criatividade é comportamental –simples condicionamento pavloviano.
Você não tem circuitos cerebrais especiais?
Sem eles, está perdido.
Não acredita? Então a criatividade deve ser acaso ou, talvez, caos.
Você é uma máquina caótica criativa.
E aí, isso lhe parece melhor?
De repente, ela se conecta com você, que sorri timidamente:
– Entendo a sua idéia. Não estou dizendo que sou uma máquina
computadorizada, nem caótica. Mas seria melhor se tivesse algo con-
creto a oferecer – você murmura, desculpando-se.
– Paciência – diz a mulher, desejando-lhe boa sorte.
De repente, diante de você, surgem dois cavalheiros teutônicos.
Provavelmente, você estava absorto em pensamentos e, sem perceber,
entrou em outro prédio. Por que não?
– Qual é a sua idéia de criatividade? – você pergunta aos dois homens.
– Criatividade é um transbordamento do inconsciente. Da Vinci
reprime a memória da mãe e de seu sorriso. Então, do seu pincel,
surge a Mona Lisa com o famoso sorriso – responde um dos homens.
– Não é nada disso – refuta o outro. A criatividade é o dom do
inconsciente coletivo que transcende nosso inconsciente pessoal de
memórias reprimidas.
– Mas o que é inconsciente? Como sabemos que temos um inconsciente? – você pergunta, sem um pingo de escárnio.
– É difícil explicar aqui. Talvez o seu psiquiatra lhe dê uma explicação.
– E me cobrará uma fortuna! Não, obrigado – você diz entre dentes e afasta-se.
Eu o detenho na saída:
– Você parece decepcionado – comento.
– E como poderia não estar? – você pergunta. – A maioria das
pessoas ali que tocou meu coração dava a impressão de ser tão vaga
sobre o que é criatividade – dom de Deus, princípio organizador, inconsciente. Não tenho certeza se alguém sabe o que essas coisas significam. Claro, confesso que tive medo de fazer o teste, mas não creio que a minha criatividade depende de como respondo a um questionário! Só as pessoas do computador deram a entender que tinham algo concreto sobre criatividade. Mostraram-me coisas sedutoras para o cérebro, mas crer que a arte computadorizada é criativa e, por conseguinte, que somos computadores é demais! E as experiências subjetivas? Se nada significam, como é que algo que alguém diz pode me
15.04.08 13:55:42
Amit Goswami de 159m
Amit Goswami: Ativista Quântico
02/03/2010 00:40
Conhecido e respeitado em todo mundo por seus trabalhos que buscam unir a ciência e a espiritualidade, Amit Goswami é considerado um dos grandes físicos do século 20.
Wanise Martinez
Adepto
do materialismo desde os 14 anos de idade, o físico Amit Goswami
sentiu, de repente, que estava seguindo por um caminho errado e que isso
o estava deixando entristecido. “Na minha procura por uma ‘física
alegre’”, diz o físico, ”eu encontrei o problema de uma interpretação
da física quântica livre de paradoxo”. Segundo conta, essa descoberta
aconteceu quando ele tinha 45 anos, durante uma conferência de física, e
foi confirmada num outro momento, enquanto falava com o místico Joel
Morwood. “Eu tive o insight criativo de que a
consciência, e não a matéria, é o terreno no qual a existência e a
ciência podem e devem ser realizadas, nessa base metafísica”. A partir
daí, todo o seu trabalho de pesquisa mudou. Foi quando ele passou a
estudar uma vertente da física um pouco mais espiritual.
Ph.D.
em Física Nuclear, Amit Goswami foi professor do departamento de Física
da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, durante 32 anos –
instituição em que ocupa, atualmente, a posição de professor emérito.
Hoje, ele trabalha como consultor, conferencista e pesquisador da área. O
estudioso também participou do filme Quem Somos Nós?, experiência que ele acredita ter sido muito válida, pois mostrou ao público que “nos temos opções”.
O senhor disse que a ciência e espiritualidade têm de trabalhar juntas. De que forma isso é possível?
A
espiritualidade agora é vista como sendo científica. A questão
importante é: ciência e religião podem trabalhar juntas? A ciência está
nos ajudando a diferenciar espiritualidade e religião. A espiritualidade
é um chamado natural para alguns de nós e não pode ser considerada como
parte da pauta secular que separa estados e religiões. Religiões
referem-se a formas de manifestar a espiritualidade em nossas vidas e
existem muitos modos disso acontecer; nós devemos ser livres para
investigar todas as religiões, até o ateísmo, para descobrir a
espiritualidade. Esse movimento em direção ao que as pessoas estão
chamando pós-secularismo é uma das mais importantes contribuições do
novo paradigma da ciência integrando ciência e espiritualidade.
A que o senhor atribui essa aproximação cada vez maior entre a ciência o conhecimento das tradições místicas espirituais?
Eu
penso que a nova integração de ciência e espiritualidade é parte de uma
jornada evolucionária de uma tendência racional para uma intuitiva, na
qual não apenas o pensamento racional é valioso, mas também está
integrado com emoções e intuições.
De que maneira é possível fazer essa relação? Em que ponto elas se unem?
Agora
que a ciência está dando suporte ao centro da sabedoria mística que
existe por trás das religiões populares, estas vão deixar de ser
defensivas, e a modernização que há muito é necessária a elas pode
ocorrer. Muitas religiões – o Islã é a mais visível – precisam
modernizar-se e reconhecer a necessidade de se abrirem e de se tornarem
disponíveis não apenas para uns poucos escolhidos, mas também para as
pessoas comuns, inclusive as mulheres.
Qual é a principal relação entre a física quântica e o processo criativo existente nas pessoas?
O
processo criativo humano apenas pode ser entendido quando nós
reconhecemos a física quântica do movimento do pensamento. Por exemplo, o
insight criativo é um salto quântico descontínuo do pensamento, no estilo do elétron atômico que salta de uma órbita para outra sem passar através do espaço entre elas.
O
senhor acredita que a criatividade nasce com as pessoas ou é aprendida
ao longo da vida? Existe alguma forma de desenvolvê-la mais rapidamente?
A
criatividade é universalmente inata em nós, mas o talento, não. Nossa
sociedade encoraja preferencialmente a criatividade de pessoas
talentosas. Isso é um problema. Contudo, nós podemos superar a falta de
talento por meio do aprendizado e percebendo que a mais admirável arena
da criatividade é a criatividade interna, a criatividade devotada aos
objetivos espirituais de transformação.
Por
que escolheu como foco de pesquisa estudar a relação mente-corpo por
meio da cosmologia e da mecânica quântica? Qual é o seu objetivo?
Como
cientista, nunca me senti contente com o compromisso que muitos
cientistas que veem valor na espiritualidade tendem a aceitar – ou seja,
ser um cientista e acreditar no materialismo científico de segunda a
sexta-feira, e tornar-se um crente na metafísica
espiritual no fim de semana. Eu acredito que existe apenas um mundo e
uma percepção do mundo. Agora, eu descobri que isso é assim. Meu
objetivo é trazer esse ponto de vista monístico para a forma como
vivemos e em torno da qual nossa sociedade é construída.
Consequentemente, estou pondo em prática um movimento chamado “ativismo
quântico”.
Como o senhor lida com as críticas, tanto pelo lado da ciência quanto do místico e religioso?
Com
paciência. Tanto a ciência quanto a religião estão confortáveis em seus
respectivos casulos. A ideia de uma mudança de paradigma é
desconfortável para as pessoas que estão no poder. O novelista Upton
Sinclair disse algo a respeito: se as pessoas estão conseguindo viver
sem entender algo, torna-se difícil fazê-las entender. Os jovens são tão
livres para pensar como são os jovens de coração, que não possuem
interesses adquiridos.O ativismo quântico é dirigido a essas pessoas.
Por que o princípio da incerteza é fundamental em nossa consciência?
O
princípio da incerteza aponta que as interações materiais só podem
gerar possibilidades. Uma consciência não material é necessária para
converter possibilidades em realidades.
O
senhor afirmou em uma entrevista ao programa Roda Viva, aqui no Brasil,
que os cientistas normalmente dizem que a ciência deve ser objetiva,
mas que o senhor percebeu que a ciência deve ser objetiva somente até
certo ponto. Que ponto é esse? O senhor acredita que a ciência pode
adentrar o universo da subjetividade sem perder seu foco principal de
pesquisa?
A
ciência pode ser objetiva quando está lidando com números grandes para
os quais tudo o que você precisa são as probabilidades que a física
quântica torna possível calcular. Porém, na importante área da
criatividade, incluindo espiritualidade, eventos únicos são importantes,
e a subjetividade passa a ter destaque. Nesse sentido, a própria
evolução é parcialmente objetiva, darwiniana; mas aí existem as lacunas
fósseis, que significam eventos descontínuos de saltos quânticos
criativos nos quais tem papel a subjetividade de espécies inteiras.
O
senhor acredita que a ciência unida à espiritualidade pode melhorar a
relação existente entre os seres humanos, e entre os humanos e o
planeta?
Sim,
mostrando que nós somos todos um, toda a biota planetária (biota =
conjunto de todos os seres vivos de uma região). A nova ciência está
dando um novo significado à expressão “ecologia profunda”.
De que forma as pessoas podem encontrar a cura para suas doenças na própria consciência?
Se
a doença está no nível da energia vital ou mental, a cura também deve
ocorrer nesses níveis. Essa cura é a cura quântica que se deve aos
saltos quânticos em nossos pensamentos e sentimentos.
A espiritualidade tem mais possibilidade de curar do que a ciência ou as duas devem trabalhar juntas?
Podem-se
obter muitas vantagens em trabalhar juntos. A ciência médica material
nos ajuda a ganhar tempo precioso, que é necessário para conseguir
saltos quânticos conscientes, insights de cura.
Em seu livro Evolução Criativa das Espécies (Ed. Aleph), o senhor fala dos equívocos nas teorias tradicionais evolucionistas. Qual o senhor acha que é o principal deles?
A
mais importante concepção errônea é que a teoria de evolução contínua
do darwinismo possa explicar as lacunas fósseis (a descontinuidade nas
linhagens fósseis evolucionárias).
O senhor acredita em Deus ou na existência de uma força superior?
Sim.
E não é apenas uma crença. Está respaldada tanto por investigações
científicas quanto por minhas próprias experiências de vida.
Quais são os seus projetos futuros como físico? E como espiritualista?
Como
físico quântico, eu quero aplicar a ciência à consciência, a nossos
sistemas sociais, desenvolver uma economia espiritual. Como uma pessoa
espiritual, eu sou um ativista quântico.
O que o senhor gosta de fazer nas horas livres?
Caminhar na natureza com minha esposa. Ler romances históricos. Meditar.
O senhor se sente realizado profissionalmente? O que ainda deseja fazer?
Bem...
a mudança de paradigma ainda não está completa. Eu espero viver o
bastante para vê-la se completar. Eu quero inspirar pessoas a seguir o
ativismo quântico, a usar os princípios quânticos para transformar a si
mesmos e a sociedade.
http://www.editoraaleph.com.br/site/media/catalog/product/f/i/file_48.pdf
http://www.revistasextosentido.net/news/amit%20goswami%3A%20ativista%20qu%C3%A2ntico/
Licença padrão do YouTube
Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário