Palestra proferida pelo professor José Américo Motta Peçanha
Palestra proferida pelo professor José Américo Motta Peçanha
a alunos de teatro em São Paulo.
INTRODUÇÃO -
KLÉOSN .2003/4
“Enquanto se passa por ela , vivendo-se uma metáfora da própria existência humana, pode-se olhar para baixo e se ver sobre a água do lago, entre as imagens das raízes do universo, também o reflexo de um rosto, o próprio rosto – o rosto que se reconhece duplicado no meio de nenúfares, num sempre inacabado autorretrato, como o deixado na tela por Monet.”
José Américo Motta Pessanha.
Bachelard e Monet: do olhar à reflexão
A filosofia do historiador da filosofia
1.1 A tese na história
José Américo Motta Pessanha nasceu em 16 de setembro de 1932 em
Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, onde fez seus estudos
ginasial e secundário no Liceu de Humanidades de Campos.
Em 1952 ingressou no curso de Filosofia da Faculdade Nacional de
Filosofia, FNFi, da Universidade do Brasil, onde concluiu o Bacharelado e a
Licenciatura em 1955, tendo sido convidado em 1956 pelos Professores Pe.
Maurílio Teixeira Leite Penido e Álvaro Vieira Pinto a integrar o quadro de
professores do Departamento de Filosofia da FNFi, na condição de Auxiliar de
Ensino da cadeira de História da Filosofia. Posteriormente, com o licenciamento
do catedrático de História da Filosofia, o Professor Álvaro Vieira Pinto, que
assumiu a direção do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), o Professor
José Américo passou a dividir juntamente com a Professora Wanda Soares,
também Auxiliar de Ensino, os trabalhos da cadeira nos cursos de Filosofia,
Pedagogia e Ciências Sociais.
A edição deste texto do Professor José Américo Motta Pessanha só foi possível pela atenção e autorização que nos foram dadas pela família Motta Pessanha, à qual expressamos nossos agradecimentos, em especial à Sra. Diva Pessanha e Maria Beatriz Pessanha Boeschenstein, pela delicadeza com que sempre atenderam às nossas solicitações. Registramos, também, nossos agradecimentos a Virgínia Vassalo da Biblioteca Marina de São Paulo Vasconcellos do IFCS da UFRJ, que possibilitou-nos o acesso aos originais.
A ponte japonesa no jardim da casa de Claude Monet em Giverny. [n. eds.]
PESSANHA, J. A. M. A filosofia do historiador da filosofia.
Boletim de História da Faculdade Nacional de
Filosofia da Universidade do Brasil
, Rio de Janeiro, v. 3, n. 6, jan./jun. 1961.
PESSANHA, J. A. M. [
Carta encaminhada ao Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia do IFCS da
UFRJ – Profa. Creusa Capalbo]. Rio de Janeiro, 24 maio 1981. p. 1; AUGUSTO, M. das G. de M.; BRITO, M.
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A tese que ora apresentamos foi escrita em 1965 – e redigida em
“tempo exíguo”, no intervalo entre o “início de 1965” e a data de depósito da tese, em 2 de agosto de 1965, juntamente com o requerimento solicitando a
inscrição no concurso para provimento de cátedra – diante de um delicado cenário político institucional e nacional, já que, no ano anterior, o Professor Álvaro Vieira Pinto fora aposentado compulsoriamente, por ato do governo federal,
deixando a cadeira de História da Filosofia inesperadamente sem titular.
Por um certo período, os trabalhos docentes continuaram a se desenvolver com regularidade, até que, no início de 1965, o Professor Antonio Gomes Pena, titular da cadeira de Psicologia e integrante do Departamento de Filosofia, informou ao Professor José Américo que fora marcado um concurso
para preenchimento da cátedra de História da Filosofia.
O concurso, que parecia estar envolvido em brumas de caráter político,
permaneceu intencionalmente sem divulgação, já contando, inclusive, com um
candidato externo à FNFi – e que deveria concorrer como candidato único –, de
tal modo que, instado pelo Professor Antonio Gomes Pena e por outros colegas,
o Professor José Américo foi persuadido a candidatar-se ao concurso, na tentativa
de impossibilitar que a cátedra de História da Filosofia fosse “entregue”
, “por razões políticas” e “sem nenhuma resistência”, a um candidato externo e único.Foi assim que, por sugestão do Professor Pena, começou a preparar a tese, enquanto membros da Congregação solicitavam que lhe fosse concedido o B. L. de; SEABRA, M. do P. [
Memorial apresentado pelo Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências
Sociais do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFRJ para a concessão do título de Notório Saber ao Professor José Américo Motta Pessanha ]. Rio de Janeiro, dez. 1986. p. 4.
Este
Memorial foi elaborado por uma Comissão constituída pelos Professores Maria do Prado Seabra, Marly Bulcão Lassance de Brito e Maria das Graças de Moraes Augusto, designada pelo Departamento de Filosofia em reunião plenária do dia 11 de dezembro de 1986. Na antiga FNFi o curso de Filosofia tinha a duração de quatro anos: no primeiro ano eram oferecidas 3 disciplinas: Introdução à Filosofia; Lógica e Psicologia (geral); no segundo ano, 4 disciplinas: Filosofia Geral (teoria do conhecimento), Psicologia (especial), História da Filosofia (antiga e medieval) e Sociologia; no terceiro ano, 4 disciplinas: Filosofia Geral (metafísica), Psicologia (especial), História da Filosofia (moderna) e Estética; no quarto ano, 2 disciplinas: Filosofia da natureza e Ética, acrescidas de 2 disciplinas eletivas: História da Filosofia (contemporânea) e Filosofia Social. As disciplinas História da Filosofia (1º ano) e Ética (2ºano) eram obrigatórias para o curso de Ciências Sociais; no curso de Pedagogia História da Filosofia era disciplina obrigatória no 1º ano do curso, incluindo-se no 3º ano do curso a disciplina Filosofia da Educação. Cf. UNIVERSIDADE DO BRASIL. Digesto da Faculdade Nacional de Filosofia Rio de Janeiro, 1955. p. 33-47.
EMPÉDOCLES E A DEMOCRACIA
“notório saber”, condição indispensável para que um candidato, sem o título de
Livre Docente ou Doutor, pudesse se inscrever no concurso de provimento de
cátedra. Uma vez a tese concluída, foi depositada na Direção da Faculdade
com o pedido de inscrição no concurso, conforme nos conta o Professor José
Américo, em carta enviada ao Coordenador do Programa de Pós-Graduação
em Filosofia da UFRJ, em 24 de maio de 1981:
[...]
diante dessa situação, em nome do Departamento, o Prof. Antônio Gomes Pena apelou
para que eu contribuísse para evitar que se efetivasse aquela trama altamente ofensiva para o
Departamento e para a ética universitária. Sua sugestão: que eu me candidatasse – ou pelo
menos pedisse inscrição – naquele concurso. Para tanto, deveria preparar uma tese, enquanto membros da Congregação tentariam obter que me fosse concedido “notório saber” – condição indispensável para que pudesse participar da disputa pela cátedra sem os pré-requisitos habituais (título de doutor e livre-docente). Apresentei a tese (“Empédocles e a Democracia”), juntamente com requerimento, datado 02/08/1965 e dirigido ao diretor da Faculdade, no qual solicitava o reconhecimento de “notório saber” e inscrição no concurso de provimento de cátedra.
12
As dificuldades que envolveram a decisão de acatar uma solicitação excepcional como o “notório saber”, e o encontro com o Professor Evaristo de Moraes Filho, no dia da entrega dos exemplares da tese, que também havia decidido inscrever- se no concurso com o objetivo de impedir que a cátedra de História da Filosofia - outrora regida por intelectuais do porte do Pe. Maurílio Teixeira Leite Penido e do Professor Álvaro Vieira Pinto – “fosse ‘entregue’, sem resistência e sem combate acadêmico” a um candidato único, são também relatados na referida carta:
Em seu depoimento acerca da FNFi, o Professor Evaristo de Moraes Filho nos fala do Pe. Penido:
“Havia recém-chegado da Suíça, a pedido do Alceu [Alceu de Amoroso Lima, primeiro diretor da FNFi], um grande professor de Filosofia, o padre Maurílio Teixeira Leite Penido, professor da Universidade de Freiburg. [...]. Quando nos diplomamos, éramos três diplomados em Filosofia e ele tinha 15 assistentes na Europa. O Pe. Penido se decepcionou muito, porque tinha hábitos europeus de estudo, pensando que aqui era igual e se decepcionou muito, dizia em aula que “fazer filosofia no Brasil era o mesmo que plantar alface no Saara.” [...]
O Pe. Penido era também ótimo professor [...].
Trazia as aulas todas escritas a lápis e nunca repetia a mesma aula no ano seguinte. [...] Despertou em nós um entusiasmo, uma vontade de estudar extraordinária. Foi o tempo áureo da FNFi.” (Evaristo de Moraes Filho); “Penido vinha da Europa, preso ainda aos hábitos europeus, era culto, inteligente, com aulas ‘conferências’ - ele chegava e abria aquelas anotações, caderno com mil anotações –, chegava e começava sua aula-conferência para aquela turma de ‘incientes’, como diria Anísio Teixeira.” (Jader de Medeiros Britto). Cf. FÁVERO, Maria de Lourdes de L. A. (Coord.). Faculdade Nacional de Filosofia – Depoimentos. Rio de Janeiro: PROEDES-UFRJ, FUJB, 1992. v. 5, p. 220; 247.
INTRODUÇÃO KLÉOSN .2003/4
Enviado em 14/01/2012- Licença padrão do YouTube
Sejam felizes todos os seres.Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
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