Rainha da Escócia - Mary Stuart - 2:03:27 min.
Mary Stuart, Rainha da Escócia
(1542 - 1587)
Rainha da Escócia nascida no palácio de Linlithgow, Escócia,
dotada de habilidade política, ambição e beleza, cuja aspiração ao trono da Inglaterra
foi transformada em tragédia. Filha única de Jaime V, rei da Escócia,
e da francesa Maria de Guise, foi educada na França,
na corte de Henrique II e Catarina de Medici.
Casou-se (1558) com o herdeiro do trono francês, Francisco e ficou viúva aos 18 anos e voltou à Escócia para assumir o trono. Sua educação francesa e católica, representava uma ameaça tanto para a Escócia protestante quanto para a coroa inglesa, que pretendia.
A soberana da Inglaterra, sua prima Elizabeth I, filha de Henrique VIII e Ana Bolena, sem herdeiros diretos, não aceitava seus direitos ao trono, pelo temor da prima casar com um príncipe espanhol ou francês, inimigos potenciais da Inglaterra.
Orientada pelo meio-irmão, Jaime Stuart, conde de Moray, casou-se (1565) com seu primo Henrique Stuart, conde de Darnley, também aspirante ao trono inglês, e com ele teve um filho, o futuro Jaime VI da Escócia e Jaime I da Inglaterra.
Viúva (1567), três meses depois casou-se com o conde de Bothwell, tido como assassino de seu marido, o que desagradou à nobreza.
Encarcerada na ilha de Loch Leven, foi forçada a abdicar em favor do filho (1567).
No ano seguinte escapou e tentou recuperar o trono, mas a derrota em Langside obrigou-a a fugir para a Inglaterra, onde Elizabeth I a manteve prisioneira durante 18 anos.
Acusada de participar de um complô para libertá-la,
foi julgada e decapitada no castelo de Fotheringhay.
Channel 5 - The Last Days Of Mary Queen of Scots (2015)
Channel 5 - The Last Days Of Mary Queen of Scots (2015)
101 min.
A apaixonante tragédia de “Mary Queen of Scots” (1971)
Aos olhos da posteridade, Mary Stuart sempre fora a soberana romântica e destemida que abdicara do trono para viver um amor condenado aos olhos de seus contemporâneos. Uma paixão tão avassaladora que lhe roubara tudo que tinha de mais precioso, inclusive o pequeno filho, a coroa e a própria vida. Sem dúvida, sua história deixa quase nada a desejar a uma clássica tragédia grega, a ponto de ter se tornado tema para obras dos mais diversos escritores, a exemplo de Stefan Zweig e Antonia Fraser, e também de renomados diretores, como o inglês Charles Jarrot, famoso por levar às telas do cinema outro grande drama histórico: Anne of The Thousand Days (1969).
Em Mary Queen of Sctos (no Brasil: Mary Stuart, Rainha da Escócia), Jarrot não faz por menos e traz para o grande público um apaixonante conto de amor, intrigas e desilusões, interpretado por um elenco que em muito faz inveja a produções mais modernas, aliado a cenários e figurinos recriados com tanta excelência, que o telespectador é praticamente transportado para uma época onde a rivalidade entre duas rainhas se mostrará fatal para ambas.
Lançado em 1971, o filme traz na pele da protagonista a belíssima e talentosa Vanessa Redgrave, que também já transpareceu seu brilho no papel de outras soberanas, tais como Ana Bolena (A Men For All Seasons – 1966) e mais recentemente como Elizabeth I em Anonymous (2011). Redgrave foi exímia em demonstrar todo o drama psicológico que a Rainha da Escócia enfrentou desde o primeiro momento do longa-metragem, quando ela não passava de uma doce e inexperiente jovem, vivendo um conto de fadas com seu marido, o Rei da França. A candura destas cenas iniciais só é interrompida pela doença de Francisco II (vivido por Richard Denning), que padece de fortes dores de cabeça, causando assim alvoroço entre os membros da família real. Talvez uma das figuras mais fortes nessa fase “francesa” do filme seja a de Catarina de Médicis, uma mulher que detestava a sua nora e que não via o momento de expulsá-la da corte para assim governar. Apesar de aparecer pouco, Katherine Kath faz uma bela representação desta rainha viúva, amargurada e gananciosa pelo poder.
Sob esse aspecto, uma das coisas mais interessantes de se notar é que Kath deveria falar com um forte sotaque italiano, dada à nacionalidade de sua personagem, ao passo que Redgrave poderia ter se expressado no mesmo tom afrancesado da real Mary Stuart, a exemplo dos atores que interpretam seus tios, Raf De La Torre (Cardeal de Lorena) e Vernon Dobtcheff (Duque de Guise). Entretanto, as referidas atrizes conversam tranquilamente com sotaque inglês nas cenas em que atuam, contrariando assim as expectativas daqueles que, como eu, esperavam assistir a um filme com a rainha da Escócia conversando abertamente na língua de sua pátria de adoção. Mas, acredito, essa tenha sido uma pequena falha da produção, perfeitamente eclipsada pela delicadeza e perfeição dos figurinos: o vestido de viúva que Vanessa Redgrave usa no velório de Francisco II, a saber, constitui-se numa ótima recriação da obra executada por François Couet de Mary trajando luto branco. Poucos foram os filmes que conseguiram se sair impecáveis nesse quesito, e Mary Queen of Scots é um deles.
Após a morte do rei, nada mais restara para a jovem Marie em França, a não ser o esquecimento. Deveria então retornar para a Escócia navegando pelo canal da Mancha e para isso precisava da autorização de sua prima Elizabeth. A escolha da atriz para interpretar a “rainha virgem” não podia ser mais adequada: Glenda Jackson, que já vestira este mesmo papel na série da BBC “Elizabeth R”, transmitida pela primeira vez em Março de 1971 (mesmo ano de lançamento do presente longa-metragem). As falas e movimentos de Jackson já demonstravam tenramente à exímia política que um dia viria a ser. Ela não se porta como a tola apaixonada por seu Mestre de Cavalaria, Robert Dudley (Daniel Massey), mas sim como uma mulher calculista e capaz de sacrificar os desejos de seu coração pela segurança da Inglaterra. Porém, quando o assunto é Mary Stuart, ela se mostra em toda a sua raiva e faz de tudo para atrapalhar o retorno dela, mas sem sucesso.
Mary consegue aportar com segurança em seu reino, acompanhada de um prelado católico inglês, Padre Ballard (Tom Fleming) e de um agente papal, o cantor italiano David Rizzio (Ian Holm). Mas a recepção que recebe dos lordes da congregação, chefiada por seu meio-irmão James Stewart, Conde de Moray (Patrick MacGoohan), era nada digna de uma ex-rainha consorte da França ou muito menos de uma Soberana da Escócia. Na verdade, e o filme expõe muito bem esse fato, Moray estava associado com a Inglaterra para derrubar qualquer influência que sua irmã pudesse exercer em seus próprios domínios. Como era um filho bastardo de Jaime V, jamais herdaria o trono, mas poderia governar por trás da autoridade da rainha de direito. Entretanto, Mary Stuart não se mostraria tão flexível e percebeu que só um novo casamento conseguiria anular a influência de James. É nesse espaço que entra em cena ninguém menos que Henry Lorde Darnley, a arma secreta de Elizabeth.
Glenda Jackson como Elizabeth I, e Daniel Massey como Robert Dudley.
A rainha inglesa, ardilosa como sempre, concebera um maquiavélico plano para fazer sua rival aceitar aquele rapaz em vez de Robert Dudley, o pretendente que enviara para Mary junto com a promessa da sucessão ao trono da Inglaterra após sua morte. Ela sabia que a prima nunca aceitaria o homem que fora acusado de ser seu amante, e em vez disso desposaria aquele patético e irresponsável jovem, propício a todo tipo de vício. Por traz de Lorde Darnley, está Timothy Dalton, que com bastante competência interpreta o segundo esposo da Rainha da Escócia. De acordo com Stefan Zweig, é provável que Darnley fosse bissexual e mantivesse um relacionamento com David Rizzio. Em Mary Queen of Scots esse aspecto é fielmente retratado, assim como as pretensões de Henry de governar a Escócia em detrimento de sua esposa. Não demoraria muito, e Mary começaria a se enojar de seu consorte, apesar de estar grávida do mesmo.
Todavia, tal como na história original, na verdade a rainha estava apaixonada por outra pessoa: James Hepburn, 4º conde de Bothwell. A paixão entre Mary e Bothwell é uma dessas que não despertam no primeiro encontro, mas quando explode é com tamanha força, capaz de afetar a todos que estejam envolvidos. Na pele daquele que viria a ser o terceiro e último marido da soberana, está Nigel Davenport. Sua atuação é uma das mais perfeitas de todo filme, e confere perfeitamente com o perfil de homem bruto e sedutor característico do verdadeiro conde. Só depois de descobrir que seu marido estivera ativamente envolvido na conspiração dos lordes para assassinar David Rizzio diante de seus olhos, é que Mary obtém a absoluta certeza de que não era a cama de Lorde Darnley que queria partilhar, mas sim a de Bothwell. Entretanto, ela deveria se livrar de seu segundo casamento de uma forma que não prejudicasse a legitimidade do filho do casal, e a solução mais adequada era apenas uma: o assassinato do rei consorte.
Enquanto isso, na corte inglesa Elizabeth recebe com bastante exasperação a notícia de que sua prima dera à luz um herdeiro varão, na medida em que ela “não passava de um trono estéril”. Mais uma vez é preciso tirar o chapéu para Glenda Jackson nessa cena. A forma como cai ao chão com as mãos no rosto vermelho de inveja é tão convincente, que dá pra sentir a frustração da verdadeira rainha quando recebeu tal notícia. Elizabeth nada poderia fazer a não ser esperar que Mary desse um passo em falso, provocando assim sua própria destruição. Esta, por sua vez, viria a partir de seu envolvimento na morte de Lorde Darnley. Até hoje persistem dúvidas acerca da cumplicidade de Mary Stuart na conspiração que assassinou seu segundo esposo, mas no filme vemo-na inteirada de todos os pormenores da trama de Bothwell para executá-lo, ao explodir a casa em que estava repousando, a fim de se curar da sífilis que havia contraído.
Com o rei morto pelo assentimento da rainha, o conde de Moray tinha então o argumento perfeito para escandalizá-la aos olhos do povo, devido ao fato de esta ter contraído terceiras núpcias com o provável assassino de Darnley. Era o que também Elizabeth precisava para provar que era uma monarca mais preparada que sua prima. Em Mary Queen of Scots, notamos a constância de alguns poucos erros de precisão histórica, assim como em outros tantos filmes desse gênero. Mas a expressividade deles é tão patética, que seria uma verdadeira lástima macular a análise de uma produção tão apaixonante como esta, ao citá-los. Apenas no final é que o enredo segue uma linha de pequenos equívocos, especialmente no que diz respeito à abdicação de Mary Stuart do trono da Escócia e sua fuga para a Inglaterra. Aqui, mais uma vez, o cinema exerce toda a sua magia ao promover um encontro do qual a História não dispõe de qualquer registro, o de duas rainhas rivais e ao mesmo tempo complacentes do peso que cada uma carrega em seus próprios ombros: Mary, a prisioneira, e Elizabeth, sua carcereira.
Nigel Davenport no papel de James Hepburn, 4° conde de Bothwell.
Os anos passam, e no rosto de nenhuma das duas soberanas mora a juventude que brilhara em seus corpos de outrora. William Cecil (Trevor Howard), ministro de Elizabeth conseguira provas da participação de Mary em um plano para assassinar a rainha da Inglaterra. Só que esta, por um acesso de misericórdia, teme ordenar a execução de uma rainha ungida por Deus e incorrer em mau julgamento aos olhos da posteridade. Novamente as rivais se encontram, e a partir dessa entrevista é que os papeis que ambas deveriam desempenhar daí para frente, se definem. Mary Stuart, apesar de ter a possibilidade de se salvar ao assinar um documento no qual pedia desculpas à prima, recusa tal caminho e decide morrer em nome da fé em que fora criada, como uma verdadeira mártir do catolicismo. Não tenho nem palavras para descrever aqui a vivacidade de Vanessa Redgrave (indicada ao Oscar de melhor atriz por esse filme) e Glenda Jackson nestas cenas finais.
Ali estão duas rainhas, amaciadas pela idade, só que orgulhosas demais em suas resoluções para cederem aos caprichos uma da outra. Porém, na hora do acerto de contas, é Elizabeth quem pagará caro aos olhos do mundo por sua decisão de executar a prima, enquanto só na morte Mary consegue sua tão sonhada liberdade, mostrando de uma vez por todas que no fim era onde residia o seu começo.
Mary Queen of Scots (1971) - 64 min.
Aos olhos da posteridade, Mary Stuart sempre fora a soberana romântica e destemida que abdicara do trono para viver um amor condenado aos olhos de seus contemporâneos. Uma paixão tão avassaladora que lhe roubara tudo que tinha de mais precioso, inclusive o pequeno filho, a coroa e a própria vida. Sem dúvida, sua história deixa quase nada a desejar a uma clássica tragédia grega, a ponto de ter se tornado tema para obras dos mais diversos escritores, a exemplo de Stefan Zweig e Antonia Fraser, e também de renomados diretores, como o inglês Charles Jarrot, famoso por levar às telas do cinema outro grande drama histórico: Anne of The Thousand Days (1969).
Em Mary Queen of Sctos (no Brasil: Mary Stuart, Rainha da Escócia), Jarrot não faz por menos e traz para o grande público um apaixonante conto de amor, intrigas e desilusões, interpretado por um elenco que em muito faz inveja a produções mais modernas, aliado a cenários e figurinos recriados com tanta excelência, que o telespectador é praticamente transportado para uma época onde a rivalidade entre duas rainhas se mostrará fatal para ambas.
Em Mary Queen of Sctos (no Brasil: Mary Stuart, Rainha da Escócia), Jarrot não faz por menos e traz para o grande público um apaixonante conto de amor, intrigas e desilusões, interpretado por um elenco que em muito faz inveja a produções mais modernas, aliado a cenários e figurinos recriados com tanta excelência, que o telespectador é praticamente transportado para uma época onde a rivalidade entre duas rainhas se mostrará fatal para ambas.
Lançado em 1971, o filme traz na pele da protagonista a belíssima e talentosa Vanessa Redgrave, que também já transpareceu seu brilho no papel de outras soberanas, tais como Ana Bolena (A Men For All Seasons – 1966) e mais recentemente como Elizabeth I em Anonymous (2011). Redgrave foi exímia em demonstrar todo o drama psicológico que a Rainha da Escócia enfrentou desde o primeiro momento do longa-metragem, quando ela não passava de uma doce e inexperiente jovem, vivendo um conto de fadas com seu marido, o Rei da França. A candura destas cenas iniciais só é interrompida pela doença de Francisco II (vivido por Richard Denning), que padece de fortes dores de cabeça, causando assim alvoroço entre os membros da família real. Talvez uma das figuras mais fortes nessa fase “francesa” do filme seja a de Catarina de Médicis, uma mulher que detestava a sua nora e que não via o momento de expulsá-la da corte para assim governar. Apesar de aparecer pouco, Katherine Kath faz uma bela representação desta rainha viúva, amargurada e gananciosa pelo poder.
Sob esse aspecto, uma das coisas mais interessantes de se notar é que Kath deveria falar com um forte sotaque italiano, dada à nacionalidade de sua personagem, ao passo que Redgrave poderia ter se expressado no mesmo tom afrancesado da real Mary Stuart, a exemplo dos atores que interpretam seus tios, Raf De La Torre (Cardeal de Lorena) e Vernon Dobtcheff (Duque de Guise). Entretanto, as referidas atrizes conversam tranquilamente com sotaque inglês nas cenas em que atuam, contrariando assim as expectativas daqueles que, como eu, esperavam assistir a um filme com a rainha da Escócia conversando abertamente na língua de sua pátria de adoção. Mas, acredito, essa tenha sido uma pequena falha da produção, perfeitamente eclipsada pela delicadeza e perfeição dos figurinos: o vestido de viúva que Vanessa Redgrave usa no velório de Francisco II, a saber, constitui-se numa ótima recriação da obra executada por François Couet de Mary trajando luto branco. Poucos foram os filmes que conseguiram se sair impecáveis nesse quesito, e Mary Queen of Scots é um deles.
Após a morte do rei, nada mais restara para a jovem Marie em França, a não ser o esquecimento. Deveria então retornar para a Escócia navegando pelo canal da Mancha e para isso precisava da autorização de sua prima Elizabeth. A escolha da atriz para interpretar a “rainha virgem” não podia ser mais adequada: Glenda Jackson, que já vestira este mesmo papel na série da BBC “Elizabeth R”, transmitida pela primeira vez em Março de 1971 (mesmo ano de lançamento do presente longa-metragem). As falas e movimentos de Jackson já demonstravam tenramente à exímia política que um dia viria a ser. Ela não se porta como a tola apaixonada por seu Mestre de Cavalaria, Robert Dudley (Daniel Massey), mas sim como uma mulher calculista e capaz de sacrificar os desejos de seu coração pela segurança da Inglaterra. Porém, quando o assunto é Mary Stuart, ela se mostra em toda a sua raiva e faz de tudo para atrapalhar o retorno dela, mas sem sucesso.
Mary consegue aportar com segurança em seu reino, acompanhada de um prelado católico inglês, Padre Ballard (Tom Fleming) e de um agente papal, o cantor italiano David Rizzio (Ian Holm). Mas a recepção que recebe dos lordes da congregação, chefiada por seu meio-irmão James Stewart, Conde de Moray (Patrick MacGoohan), era nada digna de uma ex-rainha consorte da França ou muito menos de uma Soberana da Escócia. Na verdade, e o filme expõe muito bem esse fato, Moray estava associado com a Inglaterra para derrubar qualquer influência que sua irmã pudesse exercer em seus próprios domínios. Como era um filho bastardo de Jaime V, jamais herdaria o trono, mas poderia governar por trás da autoridade da rainha de direito. Entretanto, Mary Stuart não se mostraria tão flexível e percebeu que só um novo casamento conseguiria anular a influência de James. É nesse espaço que entra em cena ninguém menos que Henry Lorde Darnley, a arma secreta de Elizabeth.
Glenda Jackson como Elizabeth I, e Daniel Massey como Robert Dudley.
A rainha inglesa, ardilosa como sempre, concebera um maquiavélico plano para fazer sua rival aceitar aquele rapaz em vez de Robert Dudley, o pretendente que enviara para Mary junto com a promessa da sucessão ao trono da Inglaterra após sua morte. Ela sabia que a prima nunca aceitaria o homem que fora acusado de ser seu amante, e em vez disso desposaria aquele patético e irresponsável jovem, propício a todo tipo de vício. Por traz de Lorde Darnley, está Timothy Dalton, que com bastante competência interpreta o segundo esposo da Rainha da Escócia. De acordo com Stefan Zweig, é provável que Darnley fosse bissexual e mantivesse um relacionamento com David Rizzio. Em Mary Queen of Scots esse aspecto é fielmente retratado, assim como as pretensões de Henry de governar a Escócia em detrimento de sua esposa. Não demoraria muito, e Mary começaria a se enojar de seu consorte, apesar de estar grávida do mesmo.
Todavia, tal como na história original, na verdade a rainha estava apaixonada por outra pessoa: James Hepburn, 4º conde de Bothwell. A paixão entre Mary e Bothwell é uma dessas que não despertam no primeiro encontro, mas quando explode é com tamanha força, capaz de afetar a todos que estejam envolvidos. Na pele daquele que viria a ser o terceiro e último marido da soberana, está Nigel Davenport. Sua atuação é uma das mais perfeitas de todo filme, e confere perfeitamente com o perfil de homem bruto e sedutor característico do verdadeiro conde. Só depois de descobrir que seu marido estivera ativamente envolvido na conspiração dos lordes para assassinar David Rizzio diante de seus olhos, é que Mary obtém a absoluta certeza de que não era a cama de Lorde Darnley que queria partilhar, mas sim a de Bothwell. Entretanto, ela deveria se livrar de seu segundo casamento de uma forma que não prejudicasse a legitimidade do filho do casal, e a solução mais adequada era apenas uma: o assassinato do rei consorte.
Enquanto isso, na corte inglesa Elizabeth recebe com bastante exasperação a notícia de que sua prima dera à luz um herdeiro varão, na medida em que ela “não passava de um trono estéril”. Mais uma vez é preciso tirar o chapéu para Glenda Jackson nessa cena. A forma como cai ao chão com as mãos no rosto vermelho de inveja é tão convincente, que dá pra sentir a frustração da verdadeira rainha quando recebeu tal notícia. Elizabeth nada poderia fazer a não ser esperar que Mary desse um passo em falso, provocando assim sua própria destruição. Esta, por sua vez, viria a partir de seu envolvimento na morte de Lorde Darnley. Até hoje persistem dúvidas acerca da cumplicidade de Mary Stuart na conspiração que assassinou seu segundo esposo, mas no filme vemo-na inteirada de todos os pormenores da trama de Bothwell para executá-lo, ao explodir a casa em que estava repousando, a fim de se curar da sífilis que havia contraído.
Com o rei morto pelo assentimento da rainha, o conde de Moray tinha então o argumento perfeito para escandalizá-la aos olhos do povo, devido ao fato de esta ter contraído terceiras núpcias com o provável assassino de Darnley. Era o que também Elizabeth precisava para provar que era uma monarca mais preparada que sua prima. Em Mary Queen of Scots, notamos a constância de alguns poucos erros de precisão histórica, assim como em outros tantos filmes desse gênero. Mas a expressividade deles é tão patética, que seria uma verdadeira lástima macular a análise de uma produção tão apaixonante como esta, ao citá-los. Apenas no final é que o enredo segue uma linha de pequenos equívocos, especialmente no que diz respeito à abdicação de Mary Stuart do trono da Escócia e sua fuga para a Inglaterra. Aqui, mais uma vez, o cinema exerce toda a sua magia ao promover um encontro do qual a História não dispõe de qualquer registro, o de duas rainhas rivais e ao mesmo tempo complacentes do peso que cada uma carrega em seus próprios ombros: Mary, a prisioneira, e Elizabeth, sua carcereira.
Nigel Davenport no papel de James Hepburn, 4° conde de Bothwell.
Os anos passam, e no rosto de nenhuma das duas soberanas mora a juventude que brilhara em seus corpos de outrora. William Cecil (Trevor Howard), ministro de Elizabeth conseguira provas da participação de Mary em um plano para assassinar a rainha da Inglaterra. Só que esta, por um acesso de misericórdia, teme ordenar a execução de uma rainha ungida por Deus e incorrer em mau julgamento aos olhos da posteridade. Novamente as rivais se encontram, e a partir dessa entrevista é que os papeis que ambas deveriam desempenhar daí para frente, se definem. Mary Stuart, apesar de ter a possibilidade de se salvar ao assinar um documento no qual pedia desculpas à prima, recusa tal caminho e decide morrer em nome da fé em que fora criada, como uma verdadeira mártir do catolicismo. Não tenho nem palavras para descrever aqui a vivacidade de Vanessa Redgrave (indicada ao Oscar de melhor atriz por esse filme) e Glenda Jackson nestas cenas finais.
Ali estão duas rainhas, amaciadas pela idade, só que orgulhosas demais em suas resoluções para cederem aos caprichos uma da outra. Porém, na hora do acerto de contas, é Elizabeth quem pagará caro aos olhos do mundo por sua decisão de executar a prima, enquanto só na morte Mary consegue sua tão sonhada liberdade, mostrando de uma vez por todas que no fim era onde residia o seu começo.
Ali estão duas rainhas, amaciadas pela idade, só que orgulhosas demais em suas resoluções para cederem aos caprichos uma da outra. Porém, na hora do acerto de contas, é Elizabeth quem pagará caro aos olhos do mundo por sua decisão de executar a prima, enquanto só na morte Mary consegue sua tão sonhada liberdade, mostrando de uma vez por todas que no fim era onde residia o seu começo.
Mary Queen of Scots (1971) - 64 min.
Biografia resumida de Mary Stuart
Channel 5 - The Last Days Of Mary Queen of Scots (25)
Mary Queen of Scots (1971) - 90 min.
Mary Queen of Scots - 307 min.
Por: Renato Drummond Tapioca Neto- Graduando em História – UESC
A HistóriA História dita tradicional prezou por ilustrar os feitos de grandes homens do passando, relegando às mulheres a um papel quase secundário.
Com frequência, ouvimos falar mais de reis do passado ou de líderes militares, do que de suas companheiras. Algumas delas, quando lembradas, o são mais por seus defeitos, em detrimento das suas virtudes.
Das soberanas trágicas de nossa história, nenhuma é mais famosa que Maria a dita tradicional prezou por ilustrar os feitos de grandes homens do passando, relegando às mulheres a um papel quase secundário.
Com frequência, ouvimos falar mais de reis do passado ou de líderes militares, do que de suas companheiras. Algumas delas, quando lembradas, o são mais por seus defeitos, em detrimento das suas virtudes.
Das soberanas trágicas de nossa história, nenhuma é mais famosa que Maria Antonieta de Habsburgo-Lorena. Decapitada em 16 de outubro de 1793, em meio à fase do Terror da Revolução Francesa, sua imagem passou por uma série de transformações e até hoje há quem a considere a maior de todas as responsáveis pelas misérias da França, mesmo que seus gastos nãos consumissem sequer 1/6 do tesouro nacional. Antonieta passou então para a posteridade como uma gastadeira e esposa adúltera.
Situação semelhante foi vivida 200 anos antes por outra rainha da França, Mary Stuart, que, por sua vez, também era rainha da Escócia e pretendente à coroa inglesa. Acusada de traição, Mary foi decapitada por ordens de sua prima, Elizabeth I, em 8 de fevereiro de 1587, ganhando depois de sua morte a fama de conspiradora e, inclusive, assassina de maridos.
Quantas coisas em comum essas duas mulheres possuem: ambas tiveram uma juventude dourada, passaram por dificuldades semelhantes e tiveram o mesmo fim. Contudo, a relação entre Mary Stuart e Maria Antonieta ultrapassa a mera casualidade. Ela também é sanguínea, conforme veremos no texto a seguir.
Stefan Zweig, autor de duas célebres biografias sobre Mary Stuart e Maria Antonieta, respectivamente, costumava se referir a elas como “irmãs na desgraça”.
Antonia Fraser, igualmente biógrafa das soberanas, também não resistiu em relacionar o destino delas, sendo uma das primeiras a explorar o parentesco que as unia. A linhagem passou através da neta de Mary, Elizabeth Stuart (1596-1662), que se casou com Frederico I, rei da Boêmia (1596-1632). Elizabeth e Frederico (também chamado de “o rei do inverno”) tiveram vários filhos, entre eles Charles I Louis (1617-1680), eleitor da Palatina, casado com Charlotte de Hesse-Kassel (1627-1886), de quem se divorciou anos mais tarde. A filha deste casal, princesa Elizabeth da Palatina (1652-1722), uniu-se em matrimônio com um membro da casa de Orléans, uma das famílias mais prestigiosas da França. Seu marido, o duque Felipe I (1640-1701), era o filho mais novo do rei Luís XIII e irmão de Luís XIV, o “rei Sol”. A filha de Felipe, batizada de Elizabeth Charlotte (1676-1744) em homenagem à mãe, foi dada em casamento ao duque Leopoldo de Lorena (1679-1729).
Elizabeth e Leopoldo, por sua vez, viriam a ser os avós paternos de Maria Antonieta. Dessa forma, entre Mary Stuart e a última rainha da França podemos contar sete gerações de nobres que estavam diretamente ligados a quase todas as casas reais europeias.
Mary Queen of Scots (1971) - 90 min.
Mary Queen of Scots - 307 min.
Por: Renato Drummond Tapioca Neto- Graduando em História – UESC
A HistóriA História dita tradicional prezou por ilustrar os feitos de grandes homens do passando, relegando às mulheres a um papel quase secundário.
Com frequência, ouvimos falar mais de reis do passado ou de líderes militares, do que de suas companheiras. Algumas delas, quando lembradas, o são mais por seus defeitos, em detrimento das suas virtudes.
Das soberanas trágicas de nossa história, nenhuma é mais famosa que Maria a dita tradicional prezou por ilustrar os feitos de grandes homens do passando, relegando às mulheres a um papel quase secundário.
Com frequência, ouvimos falar mais de reis do passado ou de líderes militares, do que de suas companheiras. Algumas delas, quando lembradas, o são mais por seus defeitos, em detrimento das suas virtudes.
Das soberanas trágicas de nossa história, nenhuma é mais famosa que Maria Antonieta de Habsburgo-Lorena. Decapitada em 16 de outubro de 1793, em meio à fase do Terror da Revolução Francesa, sua imagem passou por uma série de transformações e até hoje há quem a considere a maior de todas as responsáveis pelas misérias da França, mesmo que seus gastos nãos consumissem sequer 1/6 do tesouro nacional. Antonieta passou então para a posteridade como uma gastadeira e esposa adúltera.
Situação semelhante foi vivida 200 anos antes por outra rainha da França, Mary Stuart, que, por sua vez, também era rainha da Escócia e pretendente à coroa inglesa. Acusada de traição, Mary foi decapitada por ordens de sua prima, Elizabeth I, em 8 de fevereiro de 1587, ganhando depois de sua morte a fama de conspiradora e, inclusive, assassina de maridos.
Quantas coisas em comum essas duas mulheres possuem: ambas tiveram uma juventude dourada, passaram por dificuldades semelhantes e tiveram o mesmo fim. Contudo, a relação entre Mary Stuart e Maria Antonieta ultrapassa a mera casualidade. Ela também é sanguínea, conforme veremos no texto a seguir.
Stefan Zweig, autor de duas célebres biografias sobre Mary Stuart e Maria Antonieta, respectivamente, costumava se referir a elas como “irmãs na desgraça”.
Antonia Fraser, igualmente biógrafa das soberanas, também não resistiu em relacionar o destino delas, sendo uma das primeiras a explorar o parentesco que as unia. A linhagem passou através da neta de Mary, Elizabeth Stuart (1596-1662), que se casou com Frederico I, rei da Boêmia (1596-1632). Elizabeth e Frederico (também chamado de “o rei do inverno”) tiveram vários filhos, entre eles Charles I Louis (1617-1680), eleitor da Palatina, casado com Charlotte de Hesse-Kassel (1627-1886), de quem se divorciou anos mais tarde. A filha deste casal, princesa Elizabeth da Palatina (1652-1722), uniu-se em matrimônio com um membro da casa de Orléans, uma das famílias mais prestigiosas da França. Seu marido, o duque Felipe I (1640-1701), era o filho mais novo do rei Luís XIII e irmão de Luís XIV, o “rei Sol”. A filha de Felipe, batizada de Elizabeth Charlotte (1676-1744) em homenagem à mãe, foi dada em casamento ao duque Leopoldo de Lorena (1679-1729).
Elizabeth e Leopoldo, por sua vez, viriam a ser os avós paternos de Maria Antonieta. Dessa forma, entre Mary Stuart e a última rainha da França podemos contar sete gerações de nobres que estavam diretamente ligados a quase todas as casas reais europeias.
Os pais de Maria Antonieta, Imperador Francisco I (1708-1765) e Imperatriz Maria Teresa (1717-1780), A Grande, se casaram em 12 de fevereiro de 1736. Dessa união, nasceram cerca de 17 crianças, das quais 12 sobreviveram à infância (uma boa quantidade, se considerarmos as altas taxas de mortalidade infantil da época).
Entre os filhos do casal, encontravam-se Maria Carolina, futura rainha de Nápoles, e Leopoldo de Habsburgo-Lorena, futuro imperador Leopoldo II.
Essas duas personagens, por sua vez, eram avós da arquiduquesa Carolina Josefa Leopoldina, que mais tarde seria a primeira Imperatriz consorte do Brasil.
Durante vários séculos, os Habsburgos austríacos desenvolveram uma política de casamentos com o intuito de fortalecer o império, ligando-o a outras potências estrangeiras. Assim, Maria Carolina foi dada em casamento ao rei Fernando I das Duas Sicílias (1751-1825), da mesma forma como Maria Antonieta se uniu ao Delfin da França, Luís Augusto, futuro Luís XVI.
O casamento de Leopoldina com o herdeiro dos Bragança, Pedro, que desde 1808 residia no Brasil, foi um dos mais ousados enlaces matrimoniais já negociados pela casa imperial austríaca. Leopoldina não só descendia de grandes reis, como também de rainhas poderosas, como sua bisavó, Maria Teresa, além da própria Mary Stuart e também de Isabel I de Castela.
Através desta arquiduquesa e de seu marido¹, o sangue das maiores dinastias europeias passou a correr na veia da nossa família imperial.
Em sua recente biografia, publicada esse ano, sobre a primeira Imperatriz do Brasil, o pesquisador Marsilio Cassotti conseguiu muito bem identificar o parentesco entre Leopoldina e Maria Antonieta.
A última rainha da França era tia-avó da esposa de Pedro I.
Antonieta considerava Maria Carolina a sua irmã favorita e, ao longo dos anos, elas trocaram retratos e várias correspondências. Inclusive, quando crianças, constantemente eram confundidas, pois as pessoas as achavam muito parecidas (embora concordassem que Maria Antonieta era a mais bonita das duas).
Depois que Carolina viajou para Nápoles, as irmãs não mais se viram com frequência. Após a Revolução ter estourado e condenado Antonieta à Guilhotina, Maria Carolina tomou verdadeiro pavor pelos franceses e chegou até mesmo parar de falar francês, mas não por muito tempo, visto ser aquela a língua diplomática da Europa.
Com certeza Leopoldina, nascida em 1797, ouviu falar da rainha da França através dos lábios de sua avó, e guardou da trajetória de vida dela um profundo aprendizado, que seria de fundamental importância nos anos em que viveria no Brasil. Graças à sua astúcia, ela colaborou para que o território nacional não se fragmentasse, a exemplo das colônias espanholas, e impediu que uma revolução liberal devastasse o país.
Não resta dúvida que Dona Leopoldina triunfou onde sua tia-avó, Maria Antonieta, e sua antepassada, Mary Stuart, falharam.
Por um momento, a rainha da Escócia poderia ter reunido em sua cabeça a coroa de três países, mas quis o destino que sua sina fosse outra. Reinando num país dividido por clãs e não tendo ao seu lado conselheiros experientes, Mary, apesar de tudo, encarou seu fardo com estoicismo e até na morte provou ser uma soberana.
Sua descendente, Maria Antonieta, pôde sentir na pele o mesmo desespero de ter uma morte por decapitação. Ambas compartilharam um final trágico e ainda hoje possuem admiradores, assim como detratores. Santas para uns, inescrupulosas para outros, Mary Stuart e Maria Antonieta seguem como dois catalisadores de atenção por onde quer que seus nomes sejam mencionados.
Quanto a Leopoldina, infelizmente é lembrada pela grande maioria devido à sua vida infeliz, provocada pelos casos extraconjugais do marido, e não pela sua atuação política. É triste perceber que essas três soberanas, ligadas tanto pelo sangue quanto pelo infortúnio, continuem tendo suas histórias deturpadas por uma propaganda que valoriza mais o desvelamento de segredos de alcova do que a força e a determinação que cada uma delas demonstrou nos momentos mais difíceis de suas vidas.
Pedro I e Maria Leopoldina
¹Notas:1
D. Pedro I também descendia de Mary Stuart,
através de Charles I da Inglaterra.
Maria Antonieta -Audio Francês - Legenda Português - 85 min.
O Escândalo da Rainha: O Martírio de Maria Antonieta – Notas do autor
“… Poucos dias depois, todos haviam escutado que existiu uma rainha chamada Maria Antonieta que, em seu tempo, foi a deusa da graça e do bom gosto, e que, depois, foi a rainha castigada e punida com todas as dores. Só anos depois, a posteridade arrependida devolveu àquela grande mulher o seu esplendor, colocando-a no cenário da História Universal como uma das mais importantes e ilustres personagens.“Maria Antonieta de Habsburgo-Lorena, rainha da França, havia passado à imortalidade histórica.”
Escolhi as palavras finas de C. Verdejo em sua obra,Figuras (capítulo: Maria Antonieta), para manifestar a minha emoção ao relatar para vós, meus leitores, o grande impacto que a história da vida dessa incrível mulher teve sobre mim. Não foi minha intenção provocar cisões entre aqueles que defendem os ideais da revolução de liberdade, igualdade e fraternidade, assim como os seus motivos, mas sim, afirmar o inocentismo de Maria Antonieta contra as acusações inescrupulosas feitas a seu respeito, o que me leva a crer que ela foi muito mais vítima do que vilã. É sincero o testemunho de que, na primavera de sua idade, fora uma mulher extravagante.
Todavia, se pararmos para analisar, a futilidade foi a única saída encontrada por esta, que foi uma verdadeira lenda, para fugir dos problemas e pressões aos quais era obrigada a passar dentro de um mundo e de uma sociedade tão corrupta quanto jamais houvera, não tendo medo de sua sentença e provando que até na morte era uma Rainha, pois o verdadeiro mártir não é aquele que rejeita o seu destino, mas que anda com ele de mãos dadas nessa longa jornada que é a vida.
Para galgar a palavra, fiz uma árdua leitura do mega-seller “Marie Antoinette, The Journey”, escrito por aquela que considero a melhor historiadora da monarquia européia, Antonia Fraser. Sobre a moda e os costumes da corte de Versalhes, recomendo o livro de Caroline Weber “Rainha da Moda”, ao qual a autora traça um perfil do comportamento de Maria Antonieta através de seu vestuário. Porém, o que me levou a pesquisar sobre a vida da última Rainha francesa, dotando-me de compreensão para o grande dilema por ela enfrentado, foi o filme dirigido por Sofia Copola. Depois da pesquisa, perguntei-me como seria a vida da Arquiduquesa se a Imperatriz Maria Tereza não providenciasse o casamento dela com Luís XVI. Provavelmente casar-se-ia com um Duque e morreria de forma tranquila e sem importância.
Mas a sorte prega peças naqueles bravos destemidos, que como Maria Antonieta, é grande por natureza. Ela tinha que ir para a França e provocar as pessoas, viver a vida que viveu. Do contrário o mundo perderia uma de suas maiores transformadoras. Espero que sua trajetória tenha passado algo de bom para os que leram este artigo, da mesma forma que me passou. Até a próxima.
O Escândalo da Rainha: O Martírio de Maria Antonieta – Conclusão
Por: Renato Drummond Tapioca Neto
A trajetória de Maria Antonieta e sua contribuição no deslanchar da Revolução Francesa sempre deixarão máculas quanto ao determinismo de sua presença.
Para os estudiosos mais radicais, que sempre avaliam a nobreza como a causa de todos os males do povo, ela nunca deixará de ser tiranizada e culpada por todos aqueles escândalos creditados à sua pessoa. Entretanto, e para isso o bom senso não há de falhar, é incontestável o fato de que as acuações contra a Rainha não estavam embasadas em argumentos sólidos e por isso não apresentavam uma característica conclusiva, perante um tribunal que, a priori, fora armado com o objetivo de declarar apenas uma sentença: a morte.
Esse ato covarde, por hora, representou para o povo da França, de uma vez por todas, a liberdade de submissão à coroa, mal sabendo as camadas mais baixas da sociedade que estavam deixando o domínio de um governo tirano para serem escravizados pelo Leviatã da História, que nada mais é do que a burguesia, única vitoriosa com o processo de revolução.
Esse ato covarde, por hora, representou para o povo da França, de uma vez por todas, a liberdade de submissão à coroa, mal sabendo as camadas mais baixas da sociedade que estavam deixando o domínio de um governo tirano para serem escravizados pelo Leviatã da História, que nada mais é do que a burguesia, única vitoriosa com o processo de revolução.
Auto-coroação de Napoleão
Não medindo esforços para mostrar a soberania de seus magistrados, a classe burguesa espalhou pela França uma ação desmedida, que via até na execução do mais simplório dos homens um motivo para salvaguardar a nação. Nesse momento, Paris assistiria a decapitação de diversos personagens desta presente história: em oito de dezembro de 1793, era guilhotinada Madame Du Barry, amante de Luís XV, declarada inimiga da revolução; Em 27 de junho de 1794, a Condessa de Noailles e seu marido foram executados, assim como membros de sua família. Outros, como a Duquesa de Polignac, melhor amiga de Maria Antonieta, desfrutariam de uma morte menos dolorosa e longe do perigo (Yolande falecera em Viena por contrair cancro, pouco depois de saber que a Rainha havia sido assassinada). Para os defensores do antigo regime, o momento era propício à coroação do Delfin Luís Carlos, que passaria a ser chamado de Luís XVII, uma vez que a insurreição francesa não era contida pelos seus próprios instigadores.
Enquanto Isso, Maria Teresa, a primogênita do casal de monarcas, encontrava-se enclausurada, acusada de traição. Quando Madame Isabel, tia e protetora da princesinha, foi decapitada em 1794, a jovem de 14 anos permaneceria isolada e esquecida na Conciergerie. Um ano depois, seu irmão, Luís XVII, juntar-se-ia a aos pais devido a uma provável tuberculose, fazendo com que o exilado Conde de Provença reivindicasse o trono da França como Luís XVIII. O País testemunhava um dos períodos mais sangrentos de sua história: a fase do Terror, sob comando de Robespierre, o “incorruptível”.
Em sua gestão seria abolida a escravidão nas colônias, findado todos os privilégios, imposição de limites aos preços dos alimentos, direito ao ensino gratuito e obrigatório, criação do museu do Louvre, entre outras medidas. Mas sua campanha sanguinária receberia fortes opositores como Danton, que acabaria guilhotinado, fazendo com que o partido dos sans-culottesrompesse com os jacobinos.
Sem o apoio da população, Robespierre e seus aliados foram executados devido à tomada do poder pelo Pântano, facção da alta burguesia financeira, no episódio conhecido como nove Termidor. Porém, embora tenha se emancipando dos entraves feudais, a sociedade burguesa ainda seria perturbada ora por levantes populares, ora por tentativas de restabelecimento da monarquia.
Para completar o quadro, em 1798 era formada a Segunda Coligação européia antifrancesa. Diante de tal situação, os burgueses foram obrigados a recorrer a um jovem general, recém-chegado do Egito vitorioso na campanha italiana. Esse notório guerreiro era Napoleão Bonaparte, que tomou o poder da França para si ao deflagrar o golpe de 18 brumário de 1799, dando início ao Império Napoleônico, que em seu esplendor, se estenderia até 1815.
Madame Royale
Após a derrocada do Imperador, ascenderia ao governo efetivo da França, o Rei Luís XVIII, que providenciou o casamento de Maria Teresa com seu sobrinho, o Duque d’ Angouleme, além de ordenar que os restos mortais de Maria Antonieta e de Luís XVI fossem transferidos para a Basílica de Saint-Denis (sepulcro dos reis franceses), lugar onde estão até hoje. Com sua morte, ascenderia ao trono Carlos X, que abdicou em 1930, tornando seu filho, o Duque d’ Angouleme, Rei e Maria Tereza Rainha da França pelo tempo necessário para que este também abdicasse (nove minutos).
Em sua idade adulta, Madame Royale tornar-se-ia uma mulher infeliz, sem filhos ou quaisquer atrativos. Mas até a sua morte (19 de outubro de 1851), ela nunca deixara de se lembrar daquele poderoso arauto de graça e beleza, sua mãe Maria Antonieta, a última Rainha do absolutismo francês. Alguém que não teve medo de esconder seu verdadeiro eu em detrimento de padrões que podem ser definidos como falso-moralistas. Alguém que viveu e amou assim como todos nós e que pagou caro por lutar pela sua felicidade. Alguém que foi uma MULHER.
Fontes:
http://www.lib.utexas.edu/photodraw/portraits/
Imagem copiada do site PORTRAIT GALERY / UTL:
http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/MariStua.html
Licença padrão do YouTube - Publicado:14 janeiro de 2012
http://rainhastragicas.com/2012/06/07/o-escandalo-da-rainha-o-martirio-de-maria-antonieta-conclusao-4/
Sejam felizes todos os seres.Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
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