TIMEU,de PLATÃO
Introdução
A intenção deste artigo é explicar o texto "Timeu" e mostrar suas importância não somente para o passado do homem mas para o próprio futuro de suas descobertas.
"Ainda neste caso, a fé que guiou o experimentador nascia de uma meditação quase iniciática sobre as antigas filosofias da natureza. 

As fontes a que Newton recorre estavam à mão, nos escritos eruditos dos místicos, cabalistas e platónicos de Cambridge como Ralph Cudworth e Henry More. Revivia aqui, através de riquíssimas citações, o mito renascentista da prisca sapientia, que atribuía a uma tradição filosófica remota, platónico-pitagórica ou hermética, o conhecimento exacto de todos os segredos da natureza.
Ou seja: os antigos conheciam a lei do inverso dos quadrados e haviam-na exposto sob a forma alegórica". (Casini, Paolo "As filosofias da natureza") 

Timeu
O modelo eterno começa a ser organizado pelo Demiurgo. Desejando a divindade (Demiurgo) que tudo fosse bom, tomou o conjunto das coisas visíveis, sempre em movimento, e fê-las passar da desordem para a ordem, esta superior àquela. "...o mal não procede do Bem ou, pelo menos, se proceder do Bem, não o é enquanto mal. Não compete ao fogo resfriar nem ao Bem produzir seu contrário. Se é verdade que todo ser procede do Bem (porque a natureza do Bem é produzir e conservar os seres, enquanto o mal os corrompe e os destrói), não há nada nos seres que proceda do mal, e não se poderia falar de mal absoluto, pois tal mal se autodestruiria. Se acontece de outro modo, é porque o mal não é inteiramente mal, mas participa de algum modo do Bem, e porque boa é a causa de todo aquele que possui ser. (Areopagita)

A gênese do Universo é o resultado da ação combinada da necessidade e da inteligência. A inteligência convenceu a necessidade a dirigir para o bem a maior parte das coisas que nascem. Dominando a necessidade, convenceu-a a inteligência a dirigir para o bem a maior parte das coisas que nascem. Por tal princípio foi que nosso universo se formou, com a vitória, pela persuasão, da sabedoria sobre a necessidade. "...se afirmarmos que a matéria é necessária para o acabamento de todo o Universo, como a matéria seria um mal? Uma coisa, com efeito, é o mal; outra, o necessário. Aliás, como o Bem usaria uma realidade má para gerar?" (Areopagita)

Baseado na sua teoria das idéias eternas, Platão pode explicar a natureza do Universo, da totalidade das coisas sensíveis. "A teoria das idéias é o nexo mais forte e mais decisivo a ligar as diferentes partes do Corpus Platonicum. Todo o platonismo funda-se principalmente nela e dela deriva". (Hildeberto Bitar) "...esta sabedoria é cognoscível a partir de toda a realidade. Porque ela própria é, segundo a escritura, a artífice universal". (Areopagita) 

O Demiurgo torna visível o mundo das idéias, sendo então esse mundo a representação daquelas. Ele é o mediador e artesão desse mundo, todavia, não é onipotente. Em primeiro lugar porque o modelo que utiliza não é de sua criação, porque o modelo é eterno, igualmente a matéria que recebe as imagens das formas inteligíveis já existe, e finalmente sua ação é limitada pela necessidade, fator de produção do Universo tanto quanto a razão. Como um artista, ele dá vida a obra. 

Tudo que nasce ou devém procede de uma causa, porque nada origina-se sem causa.
Teve princípio porque tudo o que está sujeito ao devir e ao nascimento. E tudo o que devém só nasce por efeito de alguma causa, ou seja, o mundo sensível teve início porque é sujeito ao devir.

Em que consiste o que sempre existiu e nunca teve princípio?
E em que consiste o que devem e nunce é?
O primeiro é apreendido pelo entendimento com a ajuda da razão, por se sempre igual a si mesmo, e o outro a opinião secundária pela sensação carecente de razão porque a todo instante nasce e perece, sem nunca ser verdadeiramente.

Deu inteligência ao mundo, mas a inteligência precisa de alma, também dando alma, dotando o mundo de alma e razão.

O construtor do divino foi ele mesmo; mas a tarefa da geração dos seres mortais ele confiou a seus filhos. Depois de receberem o princípio imortal, receberam outra espécie de alma, agora mortal, a que deram como veículo todo o corpo, cheia de paixões terríveis e fatais, segundo a lei da necessidade. Para não sofere influência da parte mortal, separaram a cabeça, a parte divina, do tronco, a parte inferior, pelo pescoço. Ao coração, fonte do sangue que circula com força pelos membros, atribuíram um posto de guarda, para que ao receber alguma ordem da razão de que algo injusto ocorre nos membros, possa rapidamente obedecê-la. O coração assim, seria como um órgão de harmonia entre razão e emoção, porque razão sem emoção e emoção sem razão são fadadas ao radicalismo, e portanto ao desequilíbrio.

A produção da alma do mundo, da alma humana, e da alma vegetativa, utiliza técnicas pertencentes a metalurgia, ressaltando o caráter de artesão do Demiurgo. "Penso que se poderia chamar a ciência de conhecimento do genérico, de saber obtido; a arte, ao contrário, seria ciência aplicada à ação; a ciência seria razão e a arte seu mecanis­mo, e por isso também se poderia denominá-la ciência prá­tica. Por fim, então, a ciência seria o teorema, e a arte, o problema". (Goethe)

Pôs a água, o ar entre o fogo e a terra, cuja transformação possibilita o receptáculo, ou "matriz de tudo que devém". Se a marca a ser cunhada tiver de apresentar toda variedade de figuras, o receptácu-lo em que essas impressões vão processar-se seria inadequado a semelhante fim, se não carecessem de todas formas que terá de receber. 

O que tem de receber devidamente muitas e muitas vezes e em toda a sua extensão, todas as semelhanças das coisas inteligíveis e eternas, terá de ser livre, em sua natureza, de todos os caracteres.
Deu forma esférica, a mais perfeita, a que abrange todas as formas existentes, por isso ele torneou o mundo em forma de esfera, por estarem todas as suas extremidades a igual distância do centro.
Copiando a forma redonda do universo, a cabeça, a porção mais divina de nós mesmos e que comanda o corpo (dádiva dos deuses).

«Platão, acolhendo a doutrina pitagórica, com a divina profundidade do seu génio... no seu Timeu compôs a alma do mundo mediante a composição de relações musicais, graças à inefável providência do deus artífice...» (Newton). Ritmo é um presente dos deuses, para levar o homem a harmonia de que a alma muitas vezes ressente-se. Encontramos também relação com Shakespeare na questão rítmica, da qual é constituída a música e os efeitos da desordem harmônica: "O homem que não gosta de música é dado ao roubo, a perfídia e a sordidez." (Shakespeare) 

A natureza desse ser vivo que é o Universo não podia ser atribuída em toda sua plenitude ao que é engendrado. Então compôs uma imagem móvel da eternidade, e enquanto organizou o céu, fez da eternidade que perdura na unidade essa imagem eterna que se movimenta de acordo com o número e a que chamamos tempo. Quanto a Deus, é preciso celebrá-lo simultaneamente como Perpetuidade e como Temporalidade, porque é a causa de todo o tempo e de toda perpetuidade.

E para que o tempo nascesse, também nasceram a lua e os outros cinco astros, para definir e conservar os números do tempo. Depois de formar os corpos de todos eles, a divindade colocou-os nos circuitos em que se move a revolução do Outro, sete corpos em sete órbitas. No texto de Paolo Casini:«Os seis planetas principais rodam em torno do sol em círculos concêntricos com o próprio Sol, ma mesma direcção e no mesmo plano. Dez luas rodam em torno da Terra, de Júpiter e de Saturno em círculos concêntricos, na mesma direcção e nos planos das órbitas da Terra, de Júpiter e de Saturno. E Estes movimentos não provêm de causas mecânicas... Esta elegantíssima estrutura do Sol e dos planetas só pode ter origem na vontade e no desígnio de um Ente inteligente e poderoso...» (Scol. Gen.).

A harmonia «pitagórica» do universo adquiria uma prova imprevista graças ao sistema da atracção: era a manifestação de uma lei simplíssima, imposta a tudo por um Deus «matemático e mecânico». O homem, o «caniço pensante» da que falava Pascal, tinha agora penetrado profundamente no conhecimento da máquina cósmica e nos cálculos do criador. Newton aparecia alternativamente aos seus contemporâneos como um humilde servo do Senhor ou como o divus que intrepidamente havia revelado a própria face da verdade. Para si preferiu a imagem cândida e modesta de «uma criança que brinca na praia» e se diverte a «descobrir uma pedra mais polida e uma concha mais bela do que o habitual, enquanto o grande oceano da verdade se estende na sua frente, inexplorado».

Conclusão
Tanto as descobertas do passado como as do presente encontram-se separados apenas pelo tempo, mas atuais quanto às idéias, porque idéias não envelhecem.
Esse caráter de arte e de Ciência, e também como podem aparentemente divergir, embora estejam falando sobre a mesma questão, procurou ser mostrado.
Ou como dizia Goethe: A superação do sensorial pelo espírito é a meta da arte e da ciência. Esta supera o sensorial dissolvendo-o completamente em espírito; aquela, implantando-lhe o espírito. A ciência olha atra­vés do sensorial para a idéia; a arte enxerga a idéia no sensorial. (Goethe)

A esse respeito escreveu Tristão de Athayde: e não foi por acaso que Goethe, exemplo máximo com Pascal, da absoluta compatibilidade entre ciência e literatura, ligou para sempre Dichtung und Wahrheit, a poesia e a verdade, como síntese de sua própria personalidade universal e como símbolo das duas faces perenes do ser humano. Espírito científico e espírito literário não se opõem, completam-se. O espírito científico comunica ao espírito literário a precisão do pensamento, a concisão do estilo, a humildade e a honestidade. O espírito literário comunica ao espírito científico a liberdade e a largueza do pensamento, a criatividade, o senso do humor e a gratuidade da beleza. (ATHAYDE, 1976)


Timeu publicado 23/03/2009 por Daniel Feix