quinta-feira, 9 de junho de 2011

A FÍSICA QUÂNTICA E A SINCRONICIDADE



                                
  Luiz Felippe Perre Serpa 
  Aderval Barros da Silva    IF/ UFBA
                                                                               

              Resumo

           Neste trabalho, a partir da experiência EPR,, cujo resultado demonstra a não-localidade da realidade física, desenvolvemos uma correspondência com a sincronicidade, e, consequentemente, um isomorfismo entre o inconsciente e o vácuo quântico, concluindo pela dimensão da Física Quântica como uma teoria psicanalítica do universo.     

 As construções humanas são norteadas pelas percepções inconscientes do mundo,  acumuladas ao longo da evolução da espécie, devido às constantes modificações nas capacidades mentais. 


As contribuições inconscientes de criação nas elaborações artísticas e científicas estão imbricadas nas novas idéias 
e sensações que nos são incutidas e acumuladas no inconsciente. 


É a partir destas percepções inconscientes que se evidenciam e racionalizam os fenômenos e os processos físicos, perceptíveis pela consciência humana, transformando de forma contínua as leituras, interpretações e traduções do mundo macroscópico, objeto da Física Clássica. 


Ainda por um fator inconsciente, somos levados a construções de modelos mediadores de comunicação, que são transmitidos
por meio de uma determinada linguagem.


De acordo com Lacan, toda investigação humana está  vinculada irreversivelmente no interior do espaço criado pela linguagem. Esta certeza converge para o conceito de inconsciente, introduzido na psicanálise por Freud, e reelaborado por Jung posteriormente.

Os diferentes desdobramentos da inventividade humana, embora muito diversificados, têm uma mesma origem, a mente humana e as percepções inconscientes; daí o fato de construções distintas eventualmente conduzirem os pensamentos a uma mesma referência. 

Há uma sincronicidade nas construções humanas decorrente 
deste fundo comum a todos os seres humanos.


Pode-se, assim, pensar o inconsciente como um universo virtual de possibilidades, o vazio,onde o contexto é atemporal e a-espacial, o que nos possibilita uma analogia com o vácuo quântico. 


Os colapsos ocorridos neste universo virtual, construtor  das realidades humanas,   são provocados pelos acontecimentos 
e pelas variadas formas de linguagem. 


São os acontecimentos que geram as temporalidades e as espacialidades, enquanto esse contexto tempo-espacial, juntamente  com as linguagens, constróem o sentido.

Por exemplo, algumas teorias foram elaboradas, em alguns casos no mesmo período, por pessoas que não se conheciam e moravam em diferentes países, e não tinham conhecimento racional, consciente, do trabalho do outro, ( o trabalho do outro é um evento físico, a construção da teoria é um evento psíquico, e este fato é um evento sincrônico).

Alguns filósofos fazem distinção entre crear e criar; devemos esclarecer que se entende por crear a potencial e virtual manifestação da essência em forma de existência, e por criar, a transmissão de uma forma de existência em outra forma de existência. 

A história nos leva a afirmar que, em potência, um matemático compartilha com um poeta, pintor, músico ou escritor do mesmo princípio creador, embora suas criatividades  precipitem diferentes construtos do real. Estas evidências constróem de forma autônoma uma ponte entre a psique e as nossas interpretações para os fenômenos  físicos, pois as teorias que as definem são construções humanas. 

Resta-nos localizar esta ponte e caminhar sobre suas bases, explorando todo o panorama  em volta, construindo de maneira mais sólida a realidade humana.




Entendemos como verdades humanas, elementos e fatos do mundo ou do universo, que possuem uma forma repetitiva de se manifestar  diante da consciência humana.


E se hoje busca-se encontrar uma ponte entre a Física Quântica e a Sincronicidade, é porque estas transformações na visão de mundo, seguidas de suas respectivas construções mentais, não mudam o fato das mentes creadoras possuírem as mesmas propriedades mentais, comuns a todos, fazendo com que, em algum lugar, mentes conscientes percorram os caminhos apontados pelo conjunto de transformações envolvendo mente, consciência e psique humana.

A idéia das atualizações do inconsciente  pode ser pensada como sendo o resultado do acúmulo de acontecimentos e excitações a nível quântico, pois o inconsciente é também um espaço virtual de possibilidades, o vazio, algo que corresponde ao conceito de vácuo quântico presente na teoria quântica. 


A mente humana tem 
o correspondente simbólico
na consciência  


pela atualização dos acontecimentos quânticos e suas respectivas excitações, pois esta atualização é a gênese do mundo macroscópico. A consciência relaciona os acontecimentos no mundo clássico, e as idéias da Física Quântica são estranhas perante à consciência, porém se realizam como acontecimentos e linguagens gerando a realidade clássica.

Estamos diante de um problema de escala, desde que a consciência está apta a analisar o mundo macro. Na verdade, consciência e inconsciente fazem parte de uma mesma estrutura, a mente humana, e se inter-relacionam de forma complexa, condicionando nossas atividades e interpretações de eventos e fenômenos físicos e metafísicos.

Os paradigmas científicos puramente racionais não levarão a humanidade à realidade última, absoluta, pois são edificados e trabalhados tendo os limites determinados pelo funcionamento cerebral e mental humano, alimentados por uma atividade inconsciente. 

Até aqui, pensamos na ciência como uma forma de padronização de percebermos o universo que nos cerca, o macro e o micro mundos, visando uma melhor compreensão de onde nos encontramos imersos, e consequentemente, uma melhor interação com o meio em que habitamos, sem que isto implique em um conhecimento onde paire a certeza. A percepção do micromundo ocorre no inconsciente de forma indizível, colapsando nos eventos resultantes da ação humana.

A maneira mecanicista e cartesiana com que as impressões do mundo apresentam-se à consciência nos leva a por em dúvida as coisas que afloram do inconsciente, mas suas manifestações apresentam-se cada vez mais intensas, levando os homens da ciência a inovações que resultam nas crises científicas, e, consequentemente, às mudanças de paradigmas. 

Assim, a consciência e o inconsciente auto-organizam-se, avolumam-se nas suas capacidades, modificando e acrescentando novas percepções de mundo que se manifestam na ação humana.


Chamaremos de atividade mental todas as transformações na matéria, pois qualquer movimento no espaço-tempo decorre de uma atividade mental. Certamente a mente humana não define todas as atividades mentais no planeta, nem no universo, mas mantém sempre, em potência, a possibilidade de atualizá-las. Há no universo potencial e virtual das possibilidades, o inconsciente ou o vácuo quântico, a imanência da totalidade do universo.

O conjunto de todas as mentes 
e suas conexões constituem 
o Unus Mundo.


Estas considerações  podem justificar o fato do paradoxo de Einstein, Rose e Podolsky (EPR)  confirmar a validade do teorema de Bell, quando, em princípio, pretendia-se o efeito contrário, pois uma decorrência deste teorema é o caráter não local dos eventos físicos, implicando que a realidade quântica é sincronizada espacialmente.

A experiência EPR foi formulada por Einstein com o objetivo de obter uma prova cabal da incompleticidade da teoria quântica, com o auxílio dos físicos Boris Podolsky, originário da Rússia, e Natan Rose, americano. Einstein não aceitava o fato de que a teoria quântica atribuía ao observador, e ainda é assim, a propriedade de criar a realidade.

Cabe aqui justificar esta consideração com o argumento de que a realidade humana é verdadeiramente construída pelo observador, e isto é um fato que implica no não absolutismo desta realidade.
Esta experiência originalmente refere-se a dois eletrons com momenta correlacionados. 

Esta experiência foi modificada, empregando-se dois fótons com polarizações correlacionadas. Experimentalmente, a polarização do fóton pode ser medida utilizando-se um cristal de calcita que divida  o raio luminoso em dois canais, um alto e um baixo, dependendo dos fótons estarem polarizados, respectivamente, ao longo do eixo ótico da calcita ou em ângulo reto com este eixo. 



Uma fonte de fótons que os emitam aos pares, de duas cores distintas, e que se desloquem em direções opostas rumo a dois detetores afastados convenientemente, poderá propiciar medidas de polarização desses fótons.

Os pares de fótons deixam a fonte num estado particular de embaralhamento de fases, denominado estado de polarização paralela. Desta forma, a fase de cada fóton depende do que está fazendo o outro fóton. 

Consequentemente, nenhum desses fótons está representado por uma forma ondulatória definida, o que de acordo com a teoria quântica implica em que nenhum desses fótons possui uma polarização definida; logo, nenhuma medida de polarização dará sempre o mesmo resultado. 


Para cada fóton a medida  de polarização dará meio a meio para os dois canais, alto e baixo. 


Embora cada fóton por si só não possua uma onda mandatária definida, --- entenda-se como onda mandatária um comportamento ondulatório associado aos fótons, enquanto entidades individuais, e que são ondas que não transportam energia --- o estado dos dois fótons como um todo é representado por uma onda definida, o que significa que certos atributos das duas partículas (pertinentes simultaneamente aos dois fótons ) possuem valor definido. Para fótons no estado de polarização paralela, um destes atributos definidos é a polarização parelha dos fótons.

Esta experiência, sob a ótica da Sincronicidade, possibilita atribuir a este tipo de evento algo semelhante à psique humana, isto é, uma virtualidade, coexistente nos fótons, e certamente em qualquer entidade quântica, e explicá-lo como sendo um evento sincrônico.

A implicação de que a realidade quântica é não-local impõe aos cientistas procurar novos caminhos: o universo auto-consciente, a idéia do Unus Mundo, a teoria da Sincronicidade.
Como afirma Jung:

             Sincronicidade exprime uma coincidência significativa ou correspondência: 

a) entre acontecimentos psíquicos e um acontecimento físico não ligado por uma relação causal. Tais fenômenos de sincronicidade aparecem, por exemplo, quando fenômenos interiores ( sonhos, visões, premonições ) parecem ter uma correspondência na realidade exterior: a imagem interior ou a premonição mostrou-se “verdadeira”;

b) entre sonhos, idéias análogas ou idênticas que ocorrem em lugares diferentes, sem que a causalidade possa explicar umas e outras manifestações. 

Ambas parecem ter relação com processos arquetípicos do inconsciente.


Portanto, os efeitos sincrônicos podem ser decorrência do ímpeto da creação e manifestarem-se sem nenhuma correlação espacial, ao menos aparente, em estruturas macro e microscópicas.
Concluímos, assim, que podemos imaginar um universo virtual de possibilidades,
o qual consideramos como o vácuo quântico, no caso da natureza, e como o inconsciente, no caso do homem. 

A precipitação dos acontecimentos pela ação do homem ou da natureza,  contextualiza o espaço-tempo e ganha sentido pela linguagem.


O Unus Mundo é imanente,
virtual e possível.



O real concretiza-se
através do eterno retorno 
ao Unus Mundo.



Em síntese, a Física Quântica 
constitui-se em uma psicanálise do universo, 
onde o vácuo quântico é o seu inconsciente.





 (Texto produzido em 2000 
com o estudante de Física
Aderval Barros da Silva)


Fonte:
http://www.faced.ufba.br/rascunho_digital/textos/236.htm
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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