terça-feira, 5 de julho de 2011

OCEANO DO FUTURO




Mudança do clima, pesca,recursos minerais:
em um Grupo de Excelência único, em Kiel, 
240 cientistas estão pesquisando as profundezas do mar. 


Tim Schröder 



Quem olha para o mar 
em um dia tempestuoso 
vê a sua enorme extensão,
a sua profundidade 
e a sua força extraordinária. 

O retumbar das ondas parece infinito, quase ameaçador. Elas engolem navios e destroçam costas. Contudo, a água também é a origem da vida e a fonte de alimentos para milhares de pessoas.Mas precisamente esses gigantescos e poderosos oceanos são vulneráveis.

Em enormes frotas de barcos, o homem faz caça a peixes e despeja resíduos, veneno e milhares de toneladas de adubos no mar. Ele vai às suas profundezas para furar poços de petróleo e gás. E a mudança do clima também ajuda a prejudicar esse hábitat global.

Cientistas de todo o mundo estão tentando descobrir em que situação o mar se encontra. Isto é um enorme desafio, pois a vida no mar é múltipla e complexa.

É evidente que apenas se pode compre­ender o oceano se especialistas de diferentes disciplinas traba­lharem juntos. Biólogos podem identificar as espécies de peixes e registrar sua população. Economistas sabem quais peixes são vendidos no mercado e qual seus valores. Mas só juntos, eles podem saber como se pode salvar uma espécie de peixe ameaçada de extinção.
 
Foi este reconhecimento que levou os cientistas alemães a formar um círculo único de pesquisa, o Grupo de Excelência de Kiel “Ozean der Zukunft” (Oceano do Futuro). Cientistas marinhos, geólogos, economistas, médicos, matemáticos, advogados e sociólogos estão cooperando desde 2006, pesquisando a fundo os mares. Eles trabalham em Kiel, cidade na costa alemã do Mar Báltico, em instituições de pesquisa, na Christian-Albrechts-Universität (CAU), no Institut für Meereswissenschaften (IFM-GEOMAR), no Instituto da Economia Mundial (IfW) e na academia de artes Muthesius Kunsthochschule.

Os Grupos de Excelência, uma iniciativa da federação e dos Estados, foram fundados em diversas cidades universitárias com diferentes temas centrais. Em Kiel são ao todo 240 cientistas que tentam compreender como os oceanos reagem à mudança do clima e a outras ameaças e como eles podem ser mais protegidos futuramente.

A questão central é:

“Como podemos usar os oceanos 
sem os destruir?” 

“Queremos encontrar soluções para uma gerência sustentável dos oceanos“, diz Martin Visbeck, professor de Oceanografia Física no IFM-GEOMAR e porta-voz do Grupo de Excelência.

“Atualmente,
não há nenhuma outra instituição 
que se ocupe da pesquisa marinha 
de modo tão diversificado e interdisciplinar”. 

Apenas para cátedras júnior foram criados 13 novos postos, para trazer a bordo mais especialistas. Somente assim será possível pesquisar o oceano profundamente.

Martin Quaas, por exemplo, que é economista ambiental, veio para a CAU para analisar a pesca nos oceanos. Ele trabalha em estreita cooperação com os ictiólogos do IFM-GEOMAR. “Os ictiólogos determinam as espécies de peixes e suas populações nos oceanos, calculando também a quantidade que pode ser pescada, para que os estoques se mantenham constantes”, diz Quaas. “Mas isto não é suficiente para que se possa conseguir futuramente uma gerência de pesca sustentável”.

A política pesqueira deveria sofrer uma mudança básica, diz Quaas. Sendo economista, ele sabe o que se tem de fazer e, sobretudo, como se podem criar novos incentivos para um novo e melhor modo da pesca. Em primeiro lugar, a quantidade total permitida deve ser essencialmente mais limitada, pois, do contrário, o número dos animais em idade de reprodução diminui, não havendo mais reprocriação.

“Isto é fatal e tem de mudar“. Hoje, a quantidade anual de peixes pescados é distribuída segundo o peso. Cada empresa recebe uma quota percentual. “Seria mais sensato se a quota fosse por número de peixes. Isto seria um impulso para se pescarem apenas peixes grandes”, diz Quaas.
Na América do Sul descobriu-se outro caminho para pescar animais marinhos de maneira sustentável.

Entregou-se a responsabilidade da população de mariscos e de ouriços do mar aos pescadores locais, que então passaram a cuidar de que apenas seja pescada uma determinada quantidade de animais marinhos, para que ainda haja um estoque suficiente na próxima temporada. Através da combinação entre o parecer biológico da pesca e o know-how econômico no Grupo de Excelência, fechou-se uma lacuna na Alemanha, diz Quaas.

Agora, este grupo está em condição de dar aos políticos claras recomendações de ação que sejam sustentáveis e, ao mesmo tempo, econômicas a longo prazo.


Diversidade fascinante de espécies
Quaas não avalia, ele próprio, a população de peixes, mas faz simulações no computador sobre a rapidez com que as artes desaparecem e que prejuízos a pesca lhes causa. Ele é assistido pelo ictiólogo Rainer Froese. Este trabalha já há tempo no IFM-GEOMAR, sendo um dos integrantes do Grupo de Excelência. Sua especialidade é fazer um apanhamento geral da diversidade de espécies marinhas.

Em cooperação com pesquisadores filipinos, ele construiu www.fishbase.org, uma das maiores enciclopédias do peixe. Peritos de todo o mundo podem registrar na “Fishbase” novas espécies de peixe, novos reconhecimentos científicos sobre os peixes, o hábitat de espécies ou outras características. Froese e seus colegas avaliam os resultados, inserindo-os no banco de dados. Este pesquisador está orgulhoso de que a “Fishbase” é citada regularmente por outros cientistas como uma fonte segura de dados.

“Nossos dados aparecem em mais de 1000 publicações de vulto”, diz Froese. Isto é, sem dúvida, uma grande honra. Em 2010, os biólogos criaram mais um serviço de internet, a plataforma www.aquamaps.org, que, em forma bem clara de mapa do mundo, contem os hábitats de 11 000 espécies atuais de animais marinhos, entre os quais, todos os mamíferos marinhos e a metade de todas as espécies de peixe conhecidas.

AquaMaps, o arquivo dos animais marinhos, foi um trabalho árduo, para o qual fluíram milhares de informações de muitos pesquisadores e também o conhecimento de centenas de publicações científicas, de informações sobre o hábitat dos animais e sobre as temperaturas da água ou teores de sal preferidos.

Froese fez a conexão entre a os mapas de distribuição das espécies e as previsões do clima do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), do Conselho Mundial do Clima, descobrindo uma coisa terrível: se a Terra continuar se aquecendo, como se prevê, muitas espécies de peixe terão problemas em sobreviver já na metade deste século. Isto toca, sobretudo, os peixes acostumados a viver nas águas geladas árticas e antárticas, pois um aquecimento da água de apenas dois graus já pode ser fatal para eles. E também poderia ser quente demais para os peixes tropicais.

O Grupo de Excelência não quer propagar nenhuma visão apocalíptica, mas contribuir para que as coisas entrem no caminho certo, como através de outro serviço de internet, que Froese realisou no âmbito de um projeto da UE, o Seafoodguide.

Em www.seafoodguide.org, as pessoas que gostam de peixe podem perguntar, em prazo de segundos, via smartphone, se o peixe que está no seu freezer foi pescado sustentavelmente e pode, portanto, ser comido sem peso de consciência.

Thomas C.G. Bosch e Philip Rosenstiel, dois médicos do Grupo de Excelência, se ocupam das reservas marinhas vivas, mas bem diferentes. Com a ajuda de animais primitivos, como esponjas marinhas e medusas, estes pesquisadores tentam entender melhor as doenças humanas da imunidade, principalmente aquelas que surgem na fronteira com o mundo exterior, ou seja, sobre a pele, sobre a superfície dos pulmões ou dos intestinos, como a neurodermite, a asma ou a doença intestinal de Morbus Crohn.

Hoje se sabe que um papel importante no caso dessas doenças é assumido por bactérias normalmente úteis ao homem, como as bactérias que ajudam o intestino na digestão. Mas, em alguns casos, a bem organizada comunidade de bactérias perde o controle e a pessoa fica doente.

É impressionante que seres tão simples, como as esponjas marinhas e as medusas, possam ajudar os pesquisadores. E isto porque os sistemas imunológicos desses seres arcaicos são bem parecidos com o do ser humano. Os pesquisadores esperam compreender melhor os mecanismos básicos das reações imunológicas desses animais, para então poder tratar das doenças humanas.

Surpreendente é que nos animais marinhos nunca surgem doenças do sistema imunológico. Em outros projetos, os peritos em medicina procuram substâncias de cura em organismos marinhos. Já se encontram há alguns anos, no mercado, analgésicos e medicamentos contra o câncer, extraídos de moluscos e esponjas marinhos.

Conhecimento do mar 

Supõe-se que haja 
milhares de outras substâncias 
muito promissoras no fundo do mar. 

O Grupo quer contribuir
para que novas substâncias
sejam descobertas.

Para tanto, os peritos em medicina de Kiel empregam aparelhos de laboratório caros, com os quais se podem também procurar determinados genes no genótipo de bactérias, que possuam códigos para proteínas muito promissoras. “A combinação com os peritos em medicina é muito importante“, diz Visbeck, porta-voz do Grupo. “Seus conhecimentos enriquecem enormemente os dos biólogos marinhos, não apenas no que se refere aos aspectos medicinais”.

Eles também examinam detalhadamente as influências que as mudanças ambientais podem exercer sobre os animais marinhos, sobre cada célula do corpo e sobre o metabolismo. Um dos pontos centrais é a acidificação dos mares.

O gás carbônico da atmosfera absorvido pelas águas, acidifica os mares, como a água mineral saturada com gás. Os peritos de Kiel querem entender o que acontecerá futuramente com os organismos marinhos.

O dióxido de carbono e a mudança do clima são temas urgentes da nossa época, o que se reflete em muitos projetos do Grupo de Excelência.

Os geólogos de Kiel, por exemplo, ocupam-se do armazenamento permanente de dióxido de carbono no fundo do mar. Esse princípio se chama Carbon Capture and Storage (CCS), cuja ideia é capturar o dióxido de carbono já na usina de gás ou de carvão, fazer sua liquefação e transportá-lo para o fundo do mar através de oleoduto ou navio-tanque.

Graças às proximidades do mar, os biólogos marinhos de Kiel estão podendo pesquisar exatamente quais os efeitos que poderiam ser causados sobre meio ambiente marinho. Além disso, os geólogos investigam a exploração de matérias-primas do fundo dos oceanos, como minerais ou nódulos de magnésio, milhares de agregados de minerais do tamanho de batatas, que estão depositados no fundo do Oceano Pacífico.

Ainda não se sabe como se poderá colher essas massas de matéria-prima, pois ainda falta a técnica apropriada. Disto também se ocupam os cientistas de Kiel.

O Direito do Mar também é um tema para o Grupo. Se bem que haja já há alguns anos uma ampla ordem de direito dos oceanos, assentada pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, ainda continua havendo conflitos entre as nações. Em terra, as fronteiras são claras, mas qual é o caso do fundo dos oceanos, o patrimônio comum da humanidade? A quem pertencem os recursos genéticos, futuros medicamentos, que vivem em bactérias ou em esponjas marinhas nas profundezas do mar?

Como se deverão repartir as grandes reservas de petróleo e gás que se encontram sob as geleiras árticas e se tornarão acessíveis quando estas derreterem? O jurista Alexander Proelss ocupa-se intensamente destes conflitos referentes ao mar, para os quais ainda não há precedente judicial.

Em alguns casos, os pesquisadores de Kiel apresentaram pareceres que, neste meio tempo, foram reconhecidos internacionalmente, como no conflito sobre o experimento de fertilizar o Oceano Antártico com ferro. Um grupo de pesquisadores da Alemanha e da Índia queria descobrir se o ferro proporcionava o aumento de plâncton nessa região pobre em nutrientes. As autoridades ambientais e as ONGs interferiram e os pesquisadores tiveram de esperar.

O navio de pesquisa Polarstern ficou vagando pelo Atlântico Sul. A cada dia que passava, os pesquisadores ficavam esperando o sinal ficar verde. Proelss e os cientistas de Kiel apresentaram imediatamente um parecer.

O resultado foi que, segundo as convenções atuais, não se podia justificar uma proibição. O experimento pôde começar. “São casos como este que tornam claro que ainda há muito que fazer, com respeito ao Direito do Mar.

Mas eles também nos mostram que as diferentes disciplinas estão em estreita conexão entre si e que importância tem o trabalho interdisciplinar, que também fazemos no Grupo de Excelência”, diz Proelß, que neste meio tempo aceitou um convite para uma cátedra na Universität Trier.////

12.01.2011
Fonte:
Magazin Deutschland.de
http://www.magazin-deutschland.de/pt/artikel-po/artigo/article/ozean-der-zukunft.html
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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