terça-feira, 1 de novembro de 2011

LABORATÓRIO DA NASA NO FUNDO DO MAR



Folha de S.Paulo

Astronautas passarão duas semanas
a quase 20 m de profundidade ensaiando 
procedimentos espaciais.

Como pequenos astros 
têm força gravitacional quase desprezível, 
água é ambiente ideal para treinar viagem a eles.

Nasa/Divulgação

Astronautas
treinam para futuras missões
usando laboratório submarino em alto mar

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

A Nasa ainda está, por tempo indeterminado, sem ter suas próprias missões espaciais tripuladas. Mas isso não significa vida boa para os astronautas. Para testar as condições de exploração de um asteroide, a agência espacial mandou um time deles para o fundo do mar por 13 dias.

Desde o fim da semana passada, eles estão a 19 metros de profundidade no único laboratório subaquático de grande porte no mundo, o Aquarius, em Key Largo, na costa da Flórida (EUA).

Embora ir ao espaço não seja mais nenhuma novidade para os astronautas, a exploração de um asteroide (um dos principais objetivos da mais recente política de missões tripuladas da Nasa) impõe uma série de desafios.

Diferentemente da Lua, ou mesmo de uma futura visita a Marte, a gravidade seria praticamente inexistente. Ou seja, para se manter e se deslocar pelo astro, será preciso "amarrar" astronautas e equipamentos à sua superfície com ganchos e cordas. Como o deslocamento na água é o que mais se aproxima daquele feito em microgravidade, a Nasa mandou sua equipe para um "intensivão" nas profundezas.

As caminhadas espaciais, diferentemente do que possa parecer, não são um passeio flutuante no espaço. Grosso modo, é como se os astronautas estivessem dentro de um balão inflado com ar. Sendo assim, seus movimentos são bem mais difíceis e exigem muito mais esforço físico do que aqui embaixo, na Terra. Além de testar a "ancoragem" e a movimentação no asteroide, a missão também pesquisa as melhores formas de coletar material.

REPETECO
Esta não é a primeira vez que a Nasa usa as instalações do laboratório Aquarius ensaiar suas operações espaciais. A missão atual é a 15ª do projeto Neemo, um trocadilho com o capitão Nemo, do livro de ficção científica "Vinte Mil Léguas Submarinas". O nome Neemo é a sigla, em inglês, para Missão de Operações em Ambientes Extremos da Nasa.

"A Neemo 15 vai requerer um coreografia complexa entre os submarinos e os aquanautas vivendo e trabalhando em sua casa subaquática", disse Bill Todd, que gerencia o projeto da Nasa.

No comando da equipe está a veterana astronauta Shannon Walker. "Novatos" formados pela Nasa em 2009, Takuya Onishi, da Jaxa (agência espacial japonesa) e David Saint-Jacques, da agência espacial canadense, também estão na missão. Eles passarão pelo menos três horas por dia em atividades de mergulho fora do laboratório.

Os também astronautas da Nasa Stan Love, Richard Arnold e Mike Gernhardt participam como pilotos do DeepWorker, um pequeno submarino que funciona simulando o veículo que, futuramente, explorará a superfície do asteroide.

Os cientistas Steven Squyres, da Universidade Cornell, e James Talacek e Nate Bender, da Universidade da Carolina do Norte, completam o time. Squyres já integrou missões em Marte.

Além de fazer ampla divulgação da missão, a Nasa tem transmissões on-line ao vivo das atividades.

"Os desafios de explorar a superfície de um asteroide, em um ambiente subaquático, são excitantes tanto para fãs de [Jacques] Cousteauquanto de [Neil] Armstrong", disse o chefe do projeto.



São Paulo
MARCELO GLEISER
Ao entender 
os mecanismos da natureza, 
o homem poderá erguer-se, 
sem medo, perante a criação.

COM FREQUÊNCIA, perguntam -me por que escrevo para o público não especializado. "Isso não toma tempo de sua pesquisa?" A resposta é sim, toma. Porém, para mim -e para outros cientistas que dedicam parte de seu tempo à divulgação científica- apresentar as ideias da ciência à sociedade é mais do que divertido ou intelectualmente estimulante: é nosso dever. E, mais importante ainda, é também vital para o nosso futuro.

Há diversas razões para isso. Aqui posso tocar em apenas algumas delas. Uma é que a ciência é parte essencial da nossa cultura e contribui crucialmente para a nossa visão de mundo. Pense que quando Cabral chegou aqui as pessoas pensavam que a Terra era o centro do cosmo e que nós éramos os escolhidos, criados à imagem de Deus. À medida que a compreensão científica do Universo avançou, nossa percepção de quem somos e de onde vivemos mudou.

A influência científica da nossa visão de mundo não se limita a ideias abstratas. Pelo contrário, nossa percepção da realidade é determinada por inovações tecnológicas. A morte recente de Steve Jobs, o líder da Apple, ilustra claramente como a ciência de ponta, aliada ao design inovador, pode mudar como a sociedade vive e se comunica.

Uma segunda razão se origina ao menos com os Atomistas da Grécia Antiga, se não antes, com Tales e Heráclito no século 6 a.C. Conforme escreveu o pensador romano Lucrécio em seu poema "Sobre a natureza das coisas": as pessoas vivem aterrorizadas porque não compreendem as causas por trás das coisas que acontecem na Terra e no céu, atribuindo-as cegamente aos caprichos de algum deus. Quando finalmente entendermos que nada pode surgir do nada, teremos uma imagem muito melhor de como formas materiais podem ser criadas ou como fenômenos podem ser ocasionados sem a ajuda de um deus.
A razão e a lógica são propostas como antídotos contra medos irracionais, baseados na fé cega em crenças supersticiosas. A ciência é uma consequência direta dessa profunda mudança de atitude: nada de se curvar perante divindades. Ao entender os mecanismos que regem a natureza, o homem poderá erguer-se, sem medo, perante a criação.

A ciência terá um papel cada vez maior no nosso futuro. Tome, por exemplo, a questão das fontes de energia e do aquecimento global. Quais as escolhas que melhor equilibram nossas necessidades e a saúde do planeta? Quais candidatos políticos se alinham com suas escolhas? Ou a engenharia genética e de como as células-tronco podem criar novas curas para doenças que afligem milhões de pessoas. Até que ponto nossas pesquisas devem ir? Até a clonagem humana? Será que a religião deve ter algum papel na decisão de quais pesquisas devem ou não ser financiadas?

Apenas uma população bem informada será capaz de tomar as decisões para um futuro melhor. Por isso, precisamos de mais ciência na mídia, nas escolas, nas nossas comunidades. Se o Brasil quer estar entre as cinco maiores potências mundiais nas próximas décadas, precisará de uma população educada cientificamente, preparada para competir com países que sabem da importância da ciência para o desenvolvimento.

MARCELO GLEISER 
é professor de física teórica no Dartmouth College, 
em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita".
Li

Fonte:

Folha de S.Paulo
Observatório Nacional
Posted: 31 Oct 2011 05:43 AM PDT
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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