quarta-feira, 2 de novembro de 2011

MEDITAÇÃO SOBRE O PRINCÍPIO DE INDIVIDUAÇÃO : G. W. Leibniz

(Meditatio De Principio Individui)
G. W. Leibniz 
1º de abril de 1676
 

Nós dizemos que o efeito envolve [involvere] sua causa; de maneira que todo aquele que entende perfeitamente o efeito irá, também, alcançar o conhecimento da causa. Pois é necessário que haja alguma conexão entre uma perfeita [integram] causa e o efeito. Mas, por outro lado, há esse obstáculo: que diferentes causas podem produzir um efeito que é perfeitamente o mesmo. Por exemplo, se dois paralelogramos ou dois triângulos são colocados juntos de maneira apropriada (como está evidenciado a seguir), o mesmo quadrado será sempre produzido, como está claro.

Ninguém, 
nem mesmo o ser mais sábio, 
poderá distinguir entre os quadrados assim produzidos. 

                                                                      

Então, dado um quadrado deste tipo, não estará no poder de ninguém – nem mesmo do ser mais sábio – descobrir sua causa, já que o problema é indeterminado. Logo, o efeito parece não envolver sua causa.
Pelo que, de outra parte, se estivermos certos que o efeito, de fato, envolve sua causa, então, é necessário que o método de produção dos quadrados deva sempre ser discernível, quando tenham sido produzidos. 

De fato, é impossível que dois quadrados desse tipo sejam perfeitamente semelhantes [similia]; pois, consistirão de matéria; mas essa matéria terá uma mente [mens] e, esta, conterá [retinebit] o efeito de seu estado precedente. E, de fato, a menos que admitamos que é impossível que haja duas coisas que sejam perfeitamente semelhantes, seguir-se-á que o princípio da individuação está fora da coisa, em sua causa. 

Também, que o efeito não envolve a causa de acordo com sua razão específica, mas conforme sua razão individual. E, portanto, que uma coisa não difere de uma outra em si mesma.

Mas se admitirmos que duas coisas sempre diferentes também diferem em si mesmas em alguns aspectos; segue-se que está presente na matéria algo que retém o efeito daquele que o precede, isto é, uma mente. E, disto, também está provado que o efeito envolve a causa. Pois, disto é verdadeiro que foi produzido por uma tal causa; logo, até agora no presente, há nele uma qualidade de tal modo que acarreta isso, e essa qualidade, mesmo que seja relativa, tem em torno dela algo que é real.

É evidente
que grandes conseqüências
seguem de tão poucas premissas.
Esse argumento é muito refinado e prova que a matéria não é homogênea e que não podemos fielmente pensar em algo pelo que difere, exceto a mente. Já que nossa mais profunda mente está presente tanto em si mesma como na matéria, segue-se que nada pode ser introduzido nelas que não possa ser entendido por nós de alguma maneira. Esse é um princípio de grande importância.
 

sobre as formas simples

(De Formis Simplicibus)
G. W. Leibniz

Abril de 1676

Percepção e situação [situs]
são formas simples. 
Mas, mudança e matéria, isto é, modificações, são o que resulta de todas as outras formas tomadas simultaneamente. Pois há infinitamente várias coisas na matéria e no movimento e esta infinita variedade pode apenas resultar de uma causa infinita, isto é, de várias formas. Disto, é fácil compreender que as formas simples são infinitamente muitas.

Mas as modificações que resultam de todas elas, relacionadas a formas individuais, constituem as suas variedades. Parece que percepção e situação estão em toda parte, porém a matéria é diferente em várias coisas e assim várias leis têm origem. Por exemplo, se há uma lei em nosso mundo segundo a qual a mesma quantidade de movimento é sempre conservada, pode haver um outro universo no qual também existam outras leis. Porém, é necessário que o último espaço se diferencie do primeiro; haverá posição de algum tipo, e um grande número, mas não será necessário que haja extensão, profundidade e largura.Nós já compreendemos que há vários tipos de quantidades no tempo, em um ângulo e em outras coisas.

Parece que percepção,
prazer e felicidade estão em toda parte;
pois é a natureza maravilhosa disso que a duplica 
– de fato, ela multiplica para a infinidade 
– a variedade das coisas.
Porém, parece que a variedade pode acontecer de outros modos que não se encontram ao alcance de nosso espírito. Há a mesma variedade em qualquer tipo de mundo e isso nada mais é que a mesma essência relacionada de vários modos, como se olhássemos a mesma cidade a partir de vários locais; ou se relacionássemos a essência do número 6 ao número 3, seria 3 x 2 ou 3+3, mas se relacionássemos à do número 4, seria 6/4 = 3/2, ou 6 = 4 x 3/2. Então, não é surpreendente que, de um certo modo, coisas diferentes sejam produzidas.

Quando o espírito percebe algo na matéria é incontestável que, enquanto percebe várias coisas, também há nele uma mudança. Quando, alguém ao crescer, torna-se maior do que eu, então, alguma mudança ocorre em mim também, já que uma denominação a meu respeito é alterada. Deste modo, todas as coisas estão, de uma certa maneira, contidas em todas as coisas. Porém, elas estão contidas de modo muito diferente em Deus mais do que nas coisas; e nos gêneros das coisas, isto é, nos mundos, mais do que nos indivíduos.
As coisas 
não são produzidas pela mera combinação 
de formas em Deus, mas também com um sujeito. 
O próprio sujeito, ou Deus, junto com Sua onipresença, dá o imensurável e este, combinado com outros sujeitos, faz com que todos os possíveis modos, ou coisas, dele decorram. Os vários resultados de formas, combinados com um sujeito, realiza (causa) aqueles resultados particulares. Não posso explicar como as coisas resultam das formas a não ser por analogia com o modo pelo qual os números resultam das unidades – com essa diferença: que

todas
as unidades 
são homogêneas, 
mas as formas são diferentes.

Notas:
1. Data acrescentada posteriormente.




Li

Fonte:
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