sexta-feira, 16 de março de 2012

IMIGRAÇÃO JAPONESA



Razões da imigração

Necessidade de emigração no Japão

Cartaz de propaganda da imigração de japoneses para o Brasil.
O Japão estava superpovoado no século XIX. O país tinha ficado isolado do Mundo durante os 265 anos do período Edo (Xogunato Tokugawa), sem guerras, epidemias trazidas do exterior ou emigração. Com as técnicas agrícolas da época, o Japão produzia apenas o alimento que consumia, sem praticamente formação de estoques para períodos difíceis.

Qualquer quebra de safra agrícola
 causava fome generalizada.
O fim do Xogunato Tokugawa deu espaço para um intenso projeto de modernização e abertura para o exterior durante a era Meiji. Apesar da reforma agrária, a mecanização da agricultura desempregou milhares de camponeses. Outros milhares de pequenos camponeses ficaram endividados ou perderam suas terras por não poder pagar os altos impostos, que, na era Meiji, passaram a ser cobrados em dinheiro, enquanto antes eram cobrados em espécie (parte da produção agrícola).

Os camponeses sem terra foram para as principais cidades, que ficaram saturadas. As oportunidades de emprego tornaram-se cada vez mais raras, formando uma massa de trabalhadores miseráveis.

A política emigratória colocada em prática pelo governo japonês tinha como principal objetivo aliviar as tensões sociais devido à escassez de terras cultiváveis e endividamento dos trabalhadores rurais, permitindo assim a implementação de projetos de modernização.[5]

A partir da década de 1880, o Japão incentivou a emigração de seus habitantes por meio de contratos com outros governos.[6] Antes do Brasil, já havia emigração de japoneses para os Estados Unidos (principalmente Havaí), Peru e México.

No início do século XX, também houve grandes fluxos de emigração japonesa para colonizar os territórios recém-conquistados da Coreia e Taiwan. Somente no Brasil e Estados Unidos se formaram grandes colônias de descendentes de japoneses. Praticamente todos os imigrantes que formaram grandes colônias na Coreia e Taiwan retornaram ao Japão depois do fim da Segunda Guerra Mundial.

Necessidade de imigração no Brasil



Ryu Mizuno (centro), que organizou a primeira viagem de imigrantes japoneses ao Brasil
 
Com a expansão das plantações de café, faltava mão-de-obra na zona rural paulista no final do século XIX e no início do século XX. A economia cafeeira foi o grande motor da economia brasileira desde a segunda metade do século XIX até a década de 1920.

O Japão, que só tinha se aberto para o comércio mundial em 1846, até então era considerado muito distante física e politicamente do Brasil. O primeiro Tratado da Amizade, Comércio e Navegação entre Brasil e Japão foi assinado apenas em 5 de novembro de 1895.

Além disto, a política de imigração brasileira era executada não só como um meio de colonizar e desenvolver o Brasil, mas também de "civilizar" e "branquear" o país com população europeia. A imigração de asiáticos foi praticamente proibida em 1890. Neste ano, o decreto nº 528 assinado pelo presidente Deodoro da Fonseca e pelo ministro da Agricultura Francisco Glicério determinava que a entrada de imigrantes da África e da Ásia seria permitida apenas com autorização do Congresso Nacional.

 O mesmo decreto não restringia, até incentivava, a imigração de europeus. Somente em 1892, foi aprovada a lei nº 97 que permitia a entrada de imigrantes chineses e japoneses no Brasil e, assim, o decreto nº 528 de 1890 perdeu seu efeito.[7]

O preconceito contra o recebimento de imigrantes asiáticos era muito forte. Todos asiáticos eram considerados raças inferiores que prejudicariam o "branqueamento" que ocorria no Brasil com o recebimento de imigrantes europeus. Havia também o medo do "perigo amarelo", isto é, que as grandes populações de orientais se espalhassem étnica e culturalmente pelas Américas.

O medo do "perigo amarelo" tinha sido exacerbado pelo expansionismo militarista do império nipônico que, buscando conquistar terras para colonizar, derrotou a China em 1895 e a Rússia, em 1905 (a terceira derrota de um país europeu em frente a um não-europeu nos tempos modernos, a primeira sendo a Invasão Mongol na Europa em 1241, a segunda a Itália perante a Etiópia em 1896). Finalmente, havia o sentimento de que o imigrante japonês era um "quisto inassimilável" devido a seus costumes e religião.[8]

Francisco José de Oliveira Viana, autor do livro clássico "Populações Meridionais do Brasil" (publicado em 1918), e Nina Rodrigues, criador da Medicina Legal no Brasil, foram os grandes ideólogos do "branqueamento" do Brasil.[9] Oliveira Viana propagava o antiniponismo pois considerava que "o japonês [fosse] como enxofre: insolúvel".[8]

Apesar do preconceito, a necessidade de mão-de-obra era muito grande e a vinda de um navio com imigrantes japoneses começou a ser planejada para 1897. Entretanto houve uma crise de superprodução cafeeira nesta época, os preços internacionais desabaram e a vinda de imigrantes foi então desestimulada.[10]

Por volta de 1901, os preços internacionais do café haviam se recuperado e o governo do Brasil voltou a estudar o recebimento de imigrantes japoneses. O encarregado de negócios da primeira missão diplomática brasileira no Japão, Manuel de Oliveira Lima, foi consultado e deu parecer contrário ao projeto de recebimento de imigrantes japoneses. Escreveu então ao Ministério das Relações Exteriores alertando sobre o perigo de o brasileiro se misturar com "raças inferiores.[8]

Em 1902, o governo da Itália proibiu a emigração subsidiada de italianos para o Brasil. As fazendas de café sentiram uma grande falta de trabalhadores com a diminuição da chegada de italianos e o governo brasileiro aceitou o recebimento de imigrantes japoneses.

Em 1907, o Brasil criou a "Lei de Imigração e Colonização"[6] que regularizou a entrada de todos imigrantes e acabou definitivamente com as restrições do decreto nº 528 de 1890.[7]

Em novembro de 1907, o empresário Ryu Mizuno firmou um acordo com o Estado de São Paulo pelo qual seriam trazidos 3.000 imigrantes japoneses para trabalhar como agricultores.[10] Este contrato pode ser considerado como o marco inicial da imigração japonesa para o Brasil.

A pré-imigração

Apesar de receber japoneses durante o final do século XIX e nos anos iniciais do século XX, na condição de visitantes, somente em 1906 chegou ao Brasil um grupo significativo disposto a estabelecer uma colônia.

Liderados por Saburo Kumabe, o grupo situou-se em 1907 na fazenda Santo Antônio, no atual município de Conceição de Macabu (então distrito de Macaé), no estado do Rio de Janeiro. A colônia durou cinco anos, fracassando por razões diversas. Além da falta de investimentos, epidemias e saúvas, o principal problema foi que se tratava de um grupo heterogêneo de pessoas - advogado, professores, funcionários públicos - sem agricultores com experiência em cultivar a terra.

Primórdios da imigração oficial



O navio Kasato Maru atracado no Porto de Santos, 1908
 


Imigrantes japoneses no Kasato Maru, Porto de Santos, 1908
 
O Kasato Maru é considerado pela historiografia oficial como o primeiro navio a aportar no Brasil com imigrantes japoneses. A viagem de 52 dias começou no porto de Kobe e terminou no Porto de Santos em 18 de Junho de 1908. Vieram 165 famílias (781 pessoas) que foram trabalhar nos cafezais do oeste paulista.

O recebimento não foi especialmente caloroso. Apenas um jornalista elogiou os imigrantes dizendo que eles eram "limpos", coisa não muito comum entre os europeus naquela época. A revista carioca "O Malho" em sua edição de 5 de dezembro de 1908 publicou uma charge de imigrantes japoneses com a seguinte legenda:

 "O governo de São Paulo é teimoso.
 Após o insucesso da primeira imigração japonesa,
 contratou 3.000 amarelos. 
Teima pois em dotar o Brasil 
com uma raça diametralmente oposta à nossa".[8]

Na primeira leva de imigrantes de 1908, poucos eram agricultores, e assim relatou o presidente do Estado de São Paulo Manuel Joaquim de Albuquerque Lins em sua mensagem ao Congresso do Estado de São Paulo em 1909:

A imigração japoneza parece não produzir os resultados esperados. Os 781 primeiros imigrantes, introduzidos na vigencia do contracto de 6 de Novembro de 1907, deram entrada na Hospedaria da Capital em junho do anno indo; mas, na maioria individuos solteiros e pouco habituados á lavoura, esquivaram-se a certos serviços agricolas, que abandonaram aos poucos. Sómente ficaram nas fazendas algumas familias constituidas por verdadeiros agricultores, que trabalham muito a contendo dos fazendeiros em cujas propriedades se localizaram.”
 
O contrato previa que a estada dos imigrantes nas fazendas deveria ser de cinco anos, porém as más condições fizeram com que a maioria saísse das fazendas no mesmo ano.[6]

Somente em 28 de junho de 1910, chegou a Santos outro navio, o Ryojun Maru, trazendo mais 906 imigrantes japoneses.
Apesar de tudo, a imigração de japoneses continuou em ascensão. Em 1914, quando o governo de São Paulo interrompeu a contratação de imigrantes, a população japonesa no Brasil era estimada em apenas 10 mil pessoas.[6]

Até 1915, chegaram no Brasil 
mais 3.434 famílias (14.983 pessoas) 
de imigrantes japoneses.

Dificuldades dos primeiros tempos

Os imigrantes japoneses tiveram muita dificuldade em se adaptar ao Brasil. Idioma, hábitos alimentares, modo de vida e diferenças climáticas acarretaram um forte choque cultural.

A maior parte dos imigrantes japoneses tinha a pretensão de enriquecer no Brasil e retornar para o Japão após poucos anos. Uma parcela considerável nunca aprendeu a falar o idioma português[carece de fontes].

O enriquecimento rápido em terras brasileiras era um sonho impossível. Submetido a horas exaustivas de trabalho, o imigrante tinha um salário baixíssimo e o preço da passagem era descontado no salário. Ademais, tudo o que o imigrante consumia deveria ser comprado no armazém do fazendeiro. Em pouco tempo as dívidas se tornavam enormes.

Entretanto, através de um sistema de parceria com fazendeiros locais, muitos japoneses conseguiram economizar e comprar seus primeiros pedaços de terra. A primeira compra de terra por japoneses no interior de São Paulo ocorreu somente em 1911.[6] Com a ascensão social e a vinda de parentes, a maioria dos imigrantes japoneses decidiu-se pela permanência definitiva no Brasil.

Outro fator que facilitou a permanência definitiva no Brasil foi que os contratos de imigração eram feitos com famílias. Japoneses solteiros não podiam imigrar sozinhos, como foi permitido com outras etnias. O padrão comum foi a imigração de famílias de japoneses com filhos pequenos ou de casais recém-casados.

A primeira geração nascida no Brasil viveu de forma semelhante a de seus pais imigrantes. Ainda pensando em regressar, os imigrantes educavam seus filhos em escolas japonesas fundadas pela comunidade. A predominância do meio rural facilitou tal isolamento. Cerca de 90% dos filhos de imigrantes japoneses falavam apenas o idioma japonês em casa.

 Muitos brasileiros 
de origem japonesa em zonas rurais 
ainda possuem dificuldades em falar 
 
A partir de 1912, grupos de japoneses passaram a residir na ladeira Conde de Sarzedas em São Paulo.[8] O local era próximo do centro da cidade e alugar cômodos ou porões de sobrados era o melhor que os pobres imigrantes podiam pagar. Na década de 1920, a rua Conde de Sarzedas já era conhecida como o local preferido de residência dos japoneses que deixavam o campo. Com o crescimento da comunidade, o entorno do bairro da Liberdade tornou-se então um bairro japonês com lojas e restaurantes típicos.[6]
Os imigrantes japoneses tiveram muita dificuldade em se adaptar ao Brasil. Idioma, hábitos alimentares, modo de vida e diferenças climáticas acarretaram um forte choque cultural.

 A grande imigração nipônica

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o fluxo de imigrantes japoneses para o Brasil cresceu enormemente. Entre 1917 e 1940, vieram 164 mil japoneses para o Brasil. A maior parte dos imigrantes chegou no decênio 1920-1930.
O crescimento da imigração para o Brasil foi estimulado quando os Estados Unidos baniram a entrada de imigrantes japoneses através da United States Immigration Act de 1924. Outros países, como Austrália e Canadá, também colocaram restrições a entrada de imigrantes japoneses. O Brasil tornou-se então um dos poucos países no mundo a aceitar imigrantes do Japão.

Também houve projetos de restrição de imigração de japoneses no Brasil. Em 22 de outubro de 1923, o deputado Fidélis Reis apresentou um projeto de lei de regulação da entrada de imigrantes com um artigo que dizia:

É proibida a entrada de colonos 
da raça preta no Brasil e, quanto ao amarelo, 
será ela permitida, anualmente, em número correspondente
 a 5% dos indivíduos existentes no Brasil.[11]
A imigração de japoneses, entretanto, cresceu durante a década de 1930. Cerca de 75% dos imigrantes japoneses foram para São Paulo, estado que tinha grande necessidade de mão-de-obra para trabalhar nos cafezais. Com a abertura de novas frentes de trabalho, os imigrantes japoneses iam trabalhar também no cultivo de morango, chá e arroz. Pequenas comunidades nipo-brasileiras surgiram no Pará com imigrantes japoneses atraídos pelo cultivo da pimenta do reino.

Na década de 1930, o Brasil já abrigava a maior população de japoneses fora do Japão. Muitos imigrantes japoneses continuaram a chegar neste período, muitos deles atraídos pelos parentes que já tinham anteriormente emigrado.

O nacionalismo da Era Vargas

A Assembleia Nacional Constituinte de 1933 foi local de discussões de "teses científicas" de eugenia racial que propunham a necessidade do "branqueamento" da população brasileira. O grande defensor destas idéias foi o médico Miguel Couto (eleito pelo Distrito Federal, hoje Rio de Janeiro) apoiado por outros deputados médicos como o sanitarista Artur Neiva da Bahia e Antônio Xavier de Oliveira do Ceará.

Juntos, eles pediram 
o fim da imigração dos degenerados
 "aborígenes nipões".[8]
A consequência foi a aprovação por larga maioria de uma emenda constitucional que estabelecia cotas de imigração sem fazer menção a raça ou nacionalidade, e que proibia a concentração populacional de imigrantes. Segundo o texto constitucional, o Brasil só poderia receber, por ano, no máximo 2% do total de ingressantes da cada nacionalidade que fora recebido nos últimos 50 anos.[8]

Apenas os portugueses foram excluídos dessa lei. Estas medidas não afetaram a imigração de europeus como italianos e espanhóis que já tinham ingressado em grande quantidade e cujo fluxo migratório era descendente. Entretanto, o regime de cotas, que irá vigorar até a década de 1980, restringiu a imigração de japoneses, assim como, futuramente, a de coreanos e chineses.

A ditadura do Estado Novo implantado por Getúlio Vargas em 1938 procurou ressaltar o nacionalismo brasileiro através da repressão à cultura de imigrantes que formavam comunidades fechadas como os japoneses e alemães.
O decreto nº 383 de 18 de abril de 1938 determinou várias proibições aos estrangeiros: não poderiam participar de atividades políticas, formar qualquer tipo de associação, falar línguas estrangeiras em público ou usá-las como língua de alfabetização de crianças.

A transmissão de programas de rádio em línguas estrangeiras foi proibida. As publicações impressas (jornais, revistas, livros) em língua estrangeira também foram proibidas, a não ser que fossem bilíngue, japonês-português, por exemplo. Como a publicação bilíngue era muito cara, jornais e revistas deixaram de circular. Em 1939, uma pesquisa da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, de São Paulo, mostrou que 87,7% dos nipo-brasileiros assinavam jornais em idioma japonês, um índice altíssimo para qualquer língua e qualquer época no Brasil.[8]

O decreto nº 383 de 1938 
praticamente acabou com a disseminação 
de informações na comunidade japonesa, 
pois boa parte desta sequer compreendia 
 
A partir de então, a entrada de imigrantes japoneses ficou cada vez mais difícil. O ministro da Justiça Francisco Campos, em 1941, defendeu a proibição do ingresso de 400 imigrantes japoneses em São Paulo escrevendo:

 "seu padrão 
de vida desprezível
 representa uma concorrência brutal 
com o trabalhador do país; seu egoísmo,
 sua má-fé, seu caráter refratário, fazem deles 
um enorme quisto étnico e cultural 
localizado na mais rica das regiões do Brasil".[5]

Segunda Guerra Mundial

A segunda geração de japoneses no Brasil desistiu, definitivamente, de retornar ao Japão, principalmente quando a eclosão da Segunda Guerra Mundial tornou impossível sair do Brasil.

Antes mesmo de entrar em guerra, o governo brasileiro tomou medidas que afetavam a comunidade nipo-brasileira. Quando houve os torpedeamentos de navios brasileiros por submarinos alemães, o bairro da Liberdade já concentrava a maior população de nipo-brasileiros na cidade de São Paulo.

Alguns dias depois, na noite de 2 de fevereiro de 1942, agentes policiais do DEOPS - Departamento Estadual de Ordem Pública e Social, acordaram os nipo-brasileiros residentes nas ruas Conde de Sarzedas e da rua dos Estudantes e, sem qualquer ordem judicial, avisaram que eles teriam que abandonar a área em 12 horas.

Sem ter para onde ir, a maioria ficou. 
Entretanto, o mesmo se repetiu 
na noite de 6 de setembro,
 quando se deu um prazo
 de dez dias para os nipo-brasileiros se mudarem
 definitivamente da região.[8]

A comunidade nipo-brasileira 
foi duramente atingida por medidas restritivas 
quando o Brasil declarou guerra ao Japão em agosto de 1942.
Nipo-brasileiros não podiam viajar
 pelo território nacional sem salvo-conduto 
expedido por autoridade policial;
 mais de 200 escolas da comunidade japonesa
 foram fechadas; os aparelhos de rádio foram apreendidos
 para que não se ouvissem transmissões 
em ondas curtas do Japão.[8]
 
Os bens das empresas japonesas
 foram confiscados[8] e várias empresas 
de nipo-brasileiros sofreram intervenções, 
entre as quais o recém-fundado 
Os nipo-brasileiros foram proibidos de dirigir veículos automotores, mesmo se fossem táxis, ônibus ou caminhões de sua propriedade. Os motoristas contratados pelos nipo-brasileiros tinham que ter uma autorização da polícia.[8]

Os imigrantes e descendentes de italianos e alemães sofreram diversas formas de discriminação oficial ou não durante a Segunda Guerra Mundial, porém o sentimento foi mais forte contra os nipo-brasileiros. Milhares de imigrantes japoneses foram presos ou expulsos do Brasil por suspeitas de espionagem.[6]

A delação anônima de atividades "contra a segurança nacional" surgia de desavenças entre vizinhos, cobrança de dívidas e até brigas de crianças.[8] Nipo-brasileiros foram presos por atividades suspeitas quando se reuniam em piqueniques e encontros artísticos.

O medo de contatos entre imigrantes e submarinos inimigos exacerbou-se. No dia 10 de julho de 1943, cerca de 10 mil imigrantes japoneses e alemães que residiam em Santos foram obrigados, em 24 horas, a fechar suas casas e negócios e a se mudar para longe do litoral brasileiro. A polícia agiu sem qualquer aviso prévio.

Cerca de 90% das pessoas deslocadas eram nipo-brasileiros.[8] Restaram em Santos apenas nipo-brasileiros com cidadania brasileira, porém muitos também tiveram que se mudar para acompanhar seus pais ou cônjuges.[13] Para residir na baixada Santista, os japoneses passaram a dever possuir um salvo-conduto concedido conforme a vontade das autoridades policiais.[8]

Nunca foi confirmada qualquer suspeita de atividades de nipo-brasileiros contra a "segurança nacional".

Apesar disto, em 1942
a colônia japonesa que introduziu
 o cultivo da pimenta em Tomé-Açu, no Pará,
 foi praticamente transformada em um "campo de concentração" 
(expressão da época) do qual nenhum 
nipo-brasileiro poderia sair.[8] 
Nesta época, o embaixador brasileiro em Washington, Carlos Martins Pereira e Sousa, incentivava o governo do Brasil a transferir todos os nipo-brasileiros para "campos de internamento" sem necessidade de apoio jurídico, do mesmo modo como tinha sido feito com os nikkeis residentes nos Estados Unidos.[8]

A irreverência popular foi incentivada com marchinhas de Carnaval que ironizavam o imperador Hiroito e a "terra do micado".[8] Um nipo-brasileiro sentia-se muito mais ofendido quando troçavam do imperador Hiroito do que um teuto-brasileiro quando troçavam de Hitler ou um ítalo-brasileiro quando troçavam de Mussolini. Na época, o imperador Hiroito não era somente Chefe de Estado, mas também a figura central da religião oficial japonesa, o xintoísmo, sendo venerado em altares domésticos como descendente dos deuses.

Notícias degradantes sobre os japoneses foram comuns na imprensa brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1945, David Nasser e Jean Manzon, a dupla de jornalista-fotógrafo mais famosa do país, publicaram em "O Cruzeiro", a revista de maior tiragem da época, uma matéria ilustrada na qual pretendiam ensinar aos brasileiros a distinguir um japonês de um chinês.

 David Nasser(JUDEU?) escreveu,
 entre outras coisas, que o japonês podia ser
 distinguido pelo "aspecto repulsivo, míope, insignificante".[8]

 

 

 

 

 


 


Pós-guerra Família de imigrantes japoneses

O forte antiniponismo continuou no Brasil além do final da Segunda Guerra Mundial.

Nesta época, surgiu a Shindo Renmei, uma organização terrorista formada por nipo-brasileiros que assassinava os nipo-brasileiros que acreditavam na derrota japonesa. Os assassinatos cometidos pela Shindo Renmei e o sentimento antinipônico da época causaram vários conflitos violentos entre brasileiros e nipo-brasileiros.
Os políticos brasileiros continuaram a valorizar o imigrante europeu como o mais desejado. O decreto-lei nº 7.967 de 1945 regulava a política imigratória e dizia que o ingresso de imigrantes dar-se-ia considerando a necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as características mais convenientes da sua ascendência européia.[11]
Além de preferir o imigrante europeu, alguns políticos brasileiros propuseram medidas extremamente antinipônicas.

Durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1946, foi colocada em votação a emenda no 3165 proposta pelo deputado carioca Miguel Couto Filho (filho do deputado constituinte de 1934) que dizia apenas: "É proibida a entrada no país de imigrantes japoneses de qualquer idade e de qualquer procedência". Frequentemente, o deputado Miguel Couto Filho discursava na tribuna da assembleia constituinte defendendo seu projeto de emenda constitucional citando um livro que tinha escrito, cujo título era: "Para o futuro da pátria – Evitemos a niponização do Brasil".[14]

O senador Luiz Carlos Prestes fez com que o Partido Comunista Brasileiro fechasse questão a favor da emenda no 3165 e deputados como Jorge Amado e João Amazonas votaram a seu favor.[8]

Noutro extremo, o deputado Aureliano Leite sustentou inflexivelmente a posição contrária.[14] O deputado José Eduardo do Prado Kelly também opôs-se veementemente, discursou dizendo que a emenda a "amesquinharia a nossa obra" e propôs que, caso aprovada, ela fosse deslocada para as disposições transitórias. Na votação final, houve um empate com 99 votos contra e 99 a favor. O senador Fernando de Melo Viana, que presidia a sessão constituinte, exerceu então o voto de Minerva recusando a emenda. Por apenas um voto, a imigração de japoneses não foi proibida pela Constituição de 1946.[8]
Imigração japonesa para o Brasil por períodos[15]
1884-1893 1894-1903 1904-1913 1914-1923 1924-1933 1934-1944 1945-1949 1950-1954 1955-1959
- - 11.868 20.398 110.191 N/A 12 5.447 28.819





















































Apesar de tudo, o fluxo de imigração japonesa recomeçou no início da década de 1950 e só cessou praticamente na década de 1960. No total, quase 200 mil japoneses foram recebidos como imigrantes no país.

Sobretudo na década de 1960, ocorreu um grande êxodo rural que levou a maior parte da comunidade nipo-brasileira do campo para as cidades. A cidade de São Paulo tornou-se, assim, a cidade com maior número de japoneses fora do Japão.

No ambiente urbano, os japoneses começaram a trabalhar principalmente em setores relacionados com a agricultura como feirantes ou donos de pequenos armazéns de frutas, legumes ou peixes. Os mais jovens se dedicaram aos estudos e formaram-se em grande quantidade nas Universidades, especialmente nas áreas biológicas e de exatas.

Inversão do fluxo migratório


Praça do Japão, Curitiba
 
A partir do fim dos anos 80, ocorreu uma inversão do fluxo migratório entre o Brasil e Japão. Os nipo-descendentes e seus cônjuges, com ou sem ascendência japonesa, e seus filhos mestiços ou não, passaram a emigrar para o Japão à procura de melhores oportunidades de trabalho. Estes emigrantes brasileiros são conhecidos como dekasseguis (出稼ぎ?), embora a palavra no Japão inclua todos trabalhadores migrantes, até mesmo, japoneses de áreas rurais que vão trabalhar nos grandes centros urbanos.

Vivem no Japão mais de 300.000 brasileiros em condições legais, a grande maioria trabalhando como operários na indústria. As cidades com mais brasileiros são: Hamamatsu, Aichi, Shizuoka, Kanagawa, Saitama e Gunma[17]
A comunidade brasileira no Japão por sua vez, é a terceira maior comunidade de trabalhadores estrangeiros residentes no Japão.[17]

 Aspectos sociais

Miscigenação




























Em relação a outros grupos de imigrantes, a miscigenação dos nipo-brasileiros levou tempo maior para acontecer. O casamento com pessoas de origem não-japonesa (gaikokujin) não era aceito pela maioria dos imigrantes japoneses (Issei) devido às grandes diferenças étnico-culturais: idioma, religião, costumes, tradições. Outra razão era que eles não queriam criar laços no Brasil, podendo assim retornar para o Japão.

Os imigrantes japoneses raramente se casaram com um não-japonês, porém, seus descendentes, a partir das segunda e terceira gerações, começaram cada vez mais a se casar com pessoas de origem não-japonesa. Entretanto, mesmo hoje em dia, o casamento com um gaikokujin pode ser mal-visto por alguns nipo-brasileiros mais idosos.

O isolamento étnico dos nipo-brasileiros acabou por se deteriorar a partir da década de 1970. Os descendentes de imigrantes japoneses - cuja maior parte é a terceira geração no Brasil - integraram-se definitivamente à sociedade brasileira. Os bisnetos de japoneses, em sua maioria adolescentes e jovens, são totalmente integrados ao Brasil e 61% são mestiços. Os vínculos com a cultura japonesa são mínimos: a maioria sabe falar pouco ou nada do idioma japonês, e muitos não aparentam ser nipo-descendentes.

 Demografia














Nikkei (日系?) é uma denominação em língua japonesa para os descendentes de japoneses nascidos fora do Japão ou para japoneses que vivem regularmente no exterior.
Há no Brasil 1,5 milhão de nipo-brasileiros, dos quais cerca de 80% apenas no estado de São Paulo. A cidade de São Paulo concentra a maioria dos nipo-brasileiros - 326 mil segundo o censo de 1988.[20] O bairro da Liberdade, no centro da capital paulista, foi o bairro japonês da cidade, embora hoje só mantenha o comércio e restaurantes característicos. Os municípios paulistas com maior população de nipo-brasileiros são Mogi das Cruzes, Osvaldo Cruz e Bastos.

Outros focos importantes de presença nipo-brasileira são o Paraná, o Rio de Janeiro e o Pará. No Paraná, a maioria dos nipo-brasileiros vive em Curitiba e em municípios do norte do estado como Maringá, Assaí e Londrina.
































Em termos relativos, os municípios de Assaí no Paraná e de Bastos em São Paulo são os que possuem maior concentração de nipo-brasileiros – respectivamente, 15% e 11,4% de seus habitantes.

Apesar da origem agrícola da maior parte dos imigrantes japoneses, atualmente cerca de 90% da comunidade nipo-brasileira vive nas cidades.

Idiomas

A maioria dos nipo-brasileiros prefere ou sabe apenas falar o idioma português.
A primeira geração, em grande parte, só têm fluência em idioma japonês.

A segunda geração é geralmente bilíngüe em idiomas japonês e português. Hoje, 18,1% fala somente português, 68,8% fala ambas as línguas e 13,3% fala apenas japonês. Cerca de 53% da segunda geração usou a língua japonesa apenas na infância.

A terceira geração é mais luso-falante, com 39,3% falando somente o idioma português, 58,9% falando ambas as línguas e 1,8% falando apenas o idioma japonês.

Os nipo-brasileiros geralmente usam a língua japonesa em casa quando convivem com um parente nascido no Japão.

Aqueles que não convivem com um parente de primeira geração utilizam preferencialmente a língua portuguesa[carece de fontes].

O idioma japonês falado no Brasil é uma mistura de diversos dialetos com vários vocábulos emprestados da língua portuguesa, além de outros que os japoneses modernos consideram arcaicos ou típicos de linguagem de camponês. Com o retorno dos emigrantes brasileiros do Japão, é provável que o número de falantes do idioma japonês cresça no Brasil.[18]

Religião


Uma moça nipo-brasileira durante uma celebração xintoísta em Curitiba
 
Os imigrantes japoneses eram na sua maioria budistas e xintoístas. Nas colônias japonesas houve a forte presença de padres brasileiros para catequizar os imigrantes. O casamento com pessoas católicas também contribuiu para o crescimento dessa religião na comunidade nipo-brasileira. Cerca de 60% dos descendentes de japoneses no Brasil são católicos.[21]

Influência da imigração japonesa no Brasil

Os imigrantes japoneses aperfeiçoaram as técnicas agrícolas e de pesca dos brasileiros.[22] É notável o seu trabalho na aclimatação ou desenvolvimento de vários tipos de frutas e vegetais antes desconhecidos no Brasil, no total trouxeram mais de 50 tipos de alimentos,[22] entre os quais o caqui, a maçã Fuji, mexerica poncã e o morango.[22]

Além dos alimentos trazidos
 pelos imigrantes japoneses no Brasil 
destaca-se também a grande expansão da avicultura
 brasileira que só cresceu de vez quando foram trazidas 
aves-matrizes do Japão e com a experiência 
dos imigrantes japoneses nas granjas.[22]
A diáspora japonesa forneceu uma porta de entrada para a influência cultural japonesa no Brasil que se destaca na tecnologia agrícola, culinária, esportes (judô, aikidô, jiu-jitsu, caratê, kendo,[23] sumo,[24] gateball[25] e apesar de o beisebol já ser práticado antes da chegada dos imigrantes japoneses foi através desses imigrantes que se deve o desenvolvimento do Beisebol no Brasil.[26]), mangás, seriados de televisão (como os animes) e outros aspectos.

O bairro paulistano da Liberdade representa um pedaço do Japão com vários pórticos vermelhos de templos xintoístas. Restaurantes de yakisoba,sushi e sashimi competem com os karaokê e supermercados nos quais se pode comprar o nattō e vários tipos de molho de soja.

Até mesmo 
o drinque brasileiro mais famoso,
 a caipirinha, ganhou uma versão japonesa 
com saquê: a sakerinha.[27]
 

Referências

  1. MOFA: Japan-Brazil Relations (em inglês). MOFA. Página visitada em 06/09/09.
  2. Adital - Brasileiros no Japão (em português).
  3. U.S. State Department - International Religious Freedom Report, 2007 (em inglês).
  4. Asahi Newspaper. Editorial: Brazilian immigration (em inglês).
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  6. a b c d e f g Cronologia da Imigração Japonesa in Folha de São Paulo, 20 de abril de 2008 (em português). Uol. Página visitada em 17/08/08.
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Li

Fonte:
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Imigra%C3%A7%C3%A3o_japonesa_no_Brasil
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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