quarta-feira, 17 de julho de 2013

PATRÍSTICA - ESCOLÁSTICA - APOLOGÉTICA ao som do Canto Gregoriano - 70min.



 Misterium Salutis - Canto Gregoriano - 70min.

Patrística


Patrística é o nome dado à filosofia cristã dos primeiros sete séculos, elaborada pelos Padres ou Pais da Igreja, os primeiros teóricos —- daí "Patrística" —- e consiste na elaboração doutrinal das verdades de fé do Cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos "pagãos" e contra as heresias.
Foram os pais da Igreja responsáveis por confirmar e defender a fé, a liturgia, a disciplina, criar os costumes e decidir os rumos da Igreja, ao longo dos sete primeiros séculos do Cristianismo. É a Patrística, basicamente, a filosofia responsável pela elucidação progressiva dos dogmas cristãos e pelo que se chama hoje de Tradição Católica.

Tradição

Quando o Ocidentalismo, para defender-se de ataques polêmicos, teve de esclarecer os próprios pressupostos, apresentou-se como a expressão terminada da verdade que a filosofia grega havia buscado, mas não tinha sido capaz de encontrar plenamente, enquanto a Verdade mesma não tinha ainda se manifestado aos homens, ou seja, enquanto o próprio Deus não havia ainda encarnado.

De um lado, se procura interpretar o Cristianismo mediante conceitos tomados da filosofia grega, do outro reporta-se ao significado que esta última dá ao Cristianismo. Os primeiros pensadores cristãos, ao mesmo tempo em que se valeram, também se debateram com os filósofos, quer com Platão e com Aristóteles, quer, sobretudo, com os estóicos e com os epicuristas. Sem perder de vista os ideais da doutrina cristã, eles buscaram encontrar, frente à filosofia e aos filósofos, o lugar apropriado da reflexão filosófica e do pensar cristão.

É comum a afirmação de que o Cristianismo primitivo sofreu influências de vários setores da Filosofia Grega - de Platão, de Aristóteles, dos epicuristas e dos estóicos - sem que se determine claramente a amplitude e os limites de tais influências. Também é comum dizer-se que os filósofos convertidos ao Cristianismo buscaram dar à doutrina cristã um status filosófico, mas sem o cuidado de salientar as fontes das quais se serviram ou sem analisar os conceitos dos quais se apropriaram... (SPINELLI, 2002, p. 3). Foram vários autores que se ocuparam dessa tarefa: Justino, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de Nazianzo, Basílio de Cesareia, Gregório de Nissa...
Ou como resume Johannes Hirschberger:
Tratando-se de filosofia patrística, não devemos, como outrora, pensar somente nas obras de filósofos que só foram filósofos. A filosofia da patrística está antes contida nos tratados dos pastores de alma, pregadores, exegetas, teólogos, apologetas que buscam antes de tudo a exposição da sua doutrina religiosa. Mas ao mesmo tempo, levados pela natureza das cousas e dada a ocasião, se põem - a resolver problemas propriamente pertencentes à filosofia; e então, pela força do assunto, versam a metodologia filosófica.
HIRSCHBERGER, 1966.
A figura de maior destaque dessa corrente de pensamento cristão é Santo Agostinho.

Divisão didática

A Patrística divide-se geralmente em três períodos:
  • até o ano 200 dedicou-se à defesa do Cristianismo contra seus adversários (padres apologistas, como São Justino Mártir, etc.).
  • até o século VIII reelaboram-se as doutrinas já formuladas e de cunho original (Boécio, etc.).
Esta divisão da Literatura Patrística em três períodos é geralmente feita, mais didaticamente, da seguinte forma:
  • Período ante-niceno - corresponde ao período anterior ao Concílio Ecumênico de Nicéia (324 d.C). Geralmente compreende os escritos surgidos entre o século I e início do IV século.
  • Período nicené alguns imediatamente posteriores ao Concílio Ecumênico de Nicéia (324 d.C). Geralmente compreende os escritos surgidos entre o início do IV século até o final deste.
  • Período pós-niceno - corresponde ao período compreendido entre os V e VIII séculos.
O legado da Patrística foi passado à Escolástica.
A Tradição oral é composta essencialmente pela "pregação oral" (ex: afirmações e ensinamentos), "exemplos, instituições," costumes e tradições dos Apóstolos, "que transmitiram aquilo que tinham recebido dos lábios, trato e obras de Cristo, e o que tinham aprendido por inspiração do Espírito Santo" 5 . E, "para que o Evangelho fosse perenemente conservado íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram os Bispos", em união com o Papa, "como seus sucessores, entregando-lhes o seu próprio ofício de Magistério" 6 , para que a Palavra de Deus seja conservada e ensinada correctamente 7 . Os documentos "dos Concílios, [...] os atos da Santa Sé, as palavras e os usos da Sagrada Liturgia" 8 e os escritos e "afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja" 9 .

Os vários produtos da Tradição católica, como por exemplo a Bíblia, o Credo, as afirmações e documentos pontifícios, as orações e os diversos ensinamentos e documentos dos concílios ecuménicos, são considerados muito importantes para a transmissão da fé católica, sendo por isso muitas vezes registados posteriormente por escrito (como foi, por exemplo, no caso da Bíblia). Mas, um "produto da Tradição" só se constitui um elemento imutável ou "básico seu, apenas quando tal produto serviu para transmitir a fé numa forma invariável desde os primeiros séculos da Igreja", até mesmo aos dias de hoje. "Exemplos de elementos básicos são a Bíblia [...], o Símbolo dos Apóstolos ou Credo, e as formas básicas da liturgia da Igreja". Logo, muitos produtos da Tradição não são imutáveis, podendo alguns serem posteriormente modificados na sua forma, mas o seu conteúdo essencial (que é a Verdade revelada) continua inalterável 10 .

Para além do ensino dos sucessores dos Apóstolos (Papas e os Bispos em união com o Papa, nomeadamente em concílios ecuménicos), a Tradição é também enriquecida pelos comentários e ensinamentos dos Padres e Doutores da Igreja, dos Santos e de todos os católicos, desde que estes ensinamentos sejam oficialmente aprovados e adoptados pelo Magistério da Igreja 10 3 .

Em relação ao Concílio Vaticano II, que tentou "perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho" 11 , o Papa Paulo VI, numa alocução feita em 1966, afirmou que "o Concílio [...] será o grande catecismo dos nossos tempos". Com isto, a Igreja Católica quis declarar que os ensinamentos do Concílo Vaticano II, que estão expressos nos vários documentos aprovados por este mesmo Concílio, são fundamentais para a transmissão da fé católica nos tempos modernos e recentes 10 .
Por todas estas razões, a Igreja Católica "não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas", querendo isto dizer que as Tradições oral e escrita "devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência" 12 .

Aliás, a própria Bíblia é um produto escrito da Tradição oral 10 .

As duas partes da Tradição

São Pedro e as chaves da hermenêutica (representação de Albrecht Dürer, 1526).
 
No decorrer dos tempos, a Igreja católica deixou vestígios de sua existência — aqui estes vestígios se restringem aos atos, de fé e de moral, que a Igreja Católica fez durante sua história. Estes vestígios sempre reportam a Cristo, e são em sua maioria escritos em forma de pergaminhos, livros, documentos, cartas e mais recentemente até mesmo locuções e filmagens gravadas. Tudo isso é conhecido como sendo a parte material da Tradição católica. Esta parte material, por si só, é morta e não tem valor nenhum. E nas palavras de Bento XVI, "a Tradição católica não é transmissão de coisas ou palavras, uma coleção de coisas mortas". Antes, a Tradição católica é viva. E o que lhe da vida é a justa hermenêutica dos vestígios da Igreja católica no decorrer da história humana. Esta hermenêutica é a parte formal da Tradição católica. Quando esta parte formal se encontra unida à parte material, a Tradição católica se torna como que um

 "rio vivo que nos liga às origens,
 o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes".
 (conf. BENTO XVI, 2006)13 .
Segundo esta definição acima, a Tradição católica é composta de duas partes, como as nomeiam os filósofos tomistas: sua parte material, ou seja, os vestígios de Cristo na história, quer sejam de Jesus Cristo quer sejam da Igreja católica. E de sua parte formal, ou seja, da justa hermenêutica cuja autoridade e valor se fundamentam na própria Igreja católica. Foi assim também que o Concílio de Trento entendeu e considerou a Tradição católica, como sendo "uma sucessão contínua na Igreja católica".(conf. Concílio de Trento, 1546)14

A parte formal da Tradição

Toda a hermenêutica necessita de uma mente ou inteligência. Ora, para os católicos, Jesus Cristo homem, não só é chefe da Cristandade, mas é parte de uma mesma realidade na Igreja Católica. Esta realidade é comparada pelo apóstolo São Paulo, com o corpo, dando a origem à idéia de corpo místico de Cristo. Assim, Jesus Cristo seria a cabeça do corpo místico, enquanto que todos os outros católicos seriam os membros desta mesma e única realidade do corpo místico de Cristo. Este corpo místico também é chamado de Cristo-igreja, que se estende na história da cristandade.

Assim, a Inteligência que dá a justa hermenêutica ao católico, é a Inteligência de Cristo-Igreja que desde quando criada, corre pela história do gênero humano como um rio de graças e dons, dando a entender aquilo que se deve entender a respeito de um Deus feito homem. Para o católico este Deus é Jesus Cristo que como um rio, desde o princípio do advento salvífico, juntamente e igualmente com a Igreja jorra fonte de vida e luz em toda a humanidade.

Esta Inteligência de Cristo-Igreja se expressa verbalmente em seus ensinamentos, através do vigário de Cristo cá na terra, o Papa. Assim, é a Igreja católica, através do Papa, que se expressando, dá ao católico o entendimento da “justa chave de leitura e de aplicação” de todos os vestígios passados da Igreja quer sejam eles escritos em forma de pergaminhos, livros, documentos, ou cartas etc. (conf. Msgr. GEORGE AGIUS, 1928)15

Tradição viva

Assim, uma característica de maior importância para os católicos é a consideração do “...caráter vivo da Tradição, ‘que - como é claramente ensinado pelo Concílio Vaticano II - sendo transmitida pelos Apóstolos ... progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Com efeito, progride a percepção tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da contemplação e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração, quer mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer merce da pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade’”(JOÃO PAULO II, 1988)16 .

Mas, a consideração do carácter vivo da Tradição não quer dizer que a Revelação divina (e até os dogmas proclamados) seja, ao longo dos tempos, remodelada e corrigida, mas sim, que é na compreensão e entendimento da Igreja acerca da Revelação imutável que sofre progressão e correcções purificadoras 17 . Esta compreensão gradual, o que implica o desenvolvimento da doutrina, é preciso prosseguir-se com muito cuidado pelo Magistério da Igreja, nomeadamente pelo Papa, que possui infalibilidade em questões de fé e moral, no sentido de manter a integridade e fidelidade da doutrina e fé católicas à Revelação. Esta tarefa exclusivamente confiada ao Magistério da Igreja é diferente da atitude modernista e subjectivista adoptada por alguns católicos em relação aos assuntos doutrinais. Esta atitude consiste em modificar a doutrina católica só para ela ser compatível com o modo de vida modernista dos católicos defensores desta atitude, que é expressamente condenada pela Igreja.18 .

Em conclusão, o Catecismo da Igreja Católica afirma que, "apesar de a Revelação já estar completa, ainda não está plenamente explicitada. E está reservado à fé cristã apreender gradualmente todo o seu alcance, no decorrer dos séculos" 19 .


Escolástica


 



















 Escolástica ou Escolasticismo (do latim scholasticus, e este por sua vez do grego σχολαστικός [que pertence à escola, instruído]) foi o método de pensamento crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias de cerca de 1100 a 1500. Não tanto uma filosofia ou uma teologia, como um método de aprendizagem, a escolástica nasceu nas escolas monásticas cristãs1 , de modo a conciliar a cristã com um sistema de pensamento racional, especialmente o da filosofia grega2 . Colocava uma forte ênfase na dialética para ampliar o conhecimento por inferência e resolver contradições. A obra-prima de Tomás de Aquino, Summa Theologica, é frequentemente vista como exemplo maior da escolástica. 

O pensamento escolástico

De acentos notadamente cristãos, a escolástica surgiu da necessidade de responder às exigências da , ensinada pela Igreja, considerada então como a guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade. Por assim dizer, responsável pela unidade de toda a Europa, que comungava da mesma fé. Essa linha vai do começo do século IX até ao fim do século XVI, ou seja, até ao fim da Idade Média. Esse pensamento cristão deve o seu nome às artes ensinadas na altura pelos académicos (escolásticos) nas escolas medievais. Essas artes podiam ser divididas em Trivium (gramática, retórica e dialéctica) e Quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música). A escolástica resulta essencialmente do aprofundar da filosofia.3

A filosofia, que até então possuía traços marcadamente clássicos e helenísticos, sofreu influências da cultura judaica e da cristã a partir do século V, quando pensadores cristãos perceberam a necessidade de aprofundar uma fé que estava amadurecendo, em uma tentativa de harmonizá-la com as exigências do pensamento filosófico. Alguns temas que antes não faziam parte do universo do pensamento grego, tais como Providência e Revelação Divina e Criação a partir do nada, passaram a fazer parte de temáticas filosóficas. A escolástica possui uma constante de natureza neoplatônica, que conciliava elementos da filosofia de Platão com valores de ordem espiritual, reinterpretadas pelo Ocidente cristão. E mesmo quando Tomás de Aquino introduz elementos da filosofia de Aristóteles no pensamento escolástico, essa constante neoplatônica ainda é presente.4

Basicamente, a questão-chave que vai atravessar todo o pensamento escolástico é a harmonização de duas esferas: a fé e a razão. O pensamento de Agostinho, mais conservador, defende uma subordinação maior da razão em relação à fé, por crer que esta venha restaurar a condição decaída da razão humana. Enquanto que a linha de Tomás de Aquino defende uma certa autonomia da razão na obtenção de respostas, por força da inovação do aristotelismo, apesar de em nenhum momento negar tal subordinação da razão à fé.5

Para a escolástica, algumas fontes eram fundamentais no aprofundamento de sua reflexão, por exemplo os filósofos antigos, a Bíblia e os Padres da Igreja, autores dos primeiros séculos cristãos que tinham sobre si a autoridade de fé e de santidade.

Principais representantes do pensamento escolástico

Os maiores representantes do pensamento escolástico são os dois pensadores citados acima, que estão separados pelo tempo e pelo espaço: Agostinho de Hipona, nascido no norte da África no fim do século IV, e Tomás de Aquino, nascido na Itália do século XIII. Embora seja arriscado dizer que sejam as únicas referências relevantes do período medieval, ambos conseguiram sintetizar questões discutidas através de todo o período: Agostinho enquanto mestre de opinião relevante e autoridade moral, defendia a busca de explicações racionais que justificassem a fé, e Tomás de Aquino pelo uso de caminhos mais eficazes na obtenção de respostas até então em aberto.

Outros nomes da escolástica são: Anselmo de Cantuária, Alberto Magno, Robert Grosseteste, Roger Bacon, Boaventura de Bagnoreggio, Pedro Abelardo, Bernardo de Claraval, João Escoto Erígena, John Duns Scot, Jean Buridan, Nicole Oresme.

Neoescolástica

A neoescolástica é a revitalização e o desenvolvimento da filosofia escolástica da Idade Média que ocorreram a partir da segunda metade do século XIX. Não é só a ressurreição de uma filosofia há muito tempo extinta, mas sim uma regeneração da philosophia perennis ou metafísica, que surgiu na Grécia Antiga e que nunca deixou de existir. Às vezes, tem sido chamada de "o tomismo neoescolástico", em parte porque foi Tomás de Aquino que deu forma final à escolástica no século XIII, em parte por causa da ideia de que só o tomismo poderia infundir vitalidade na escolástica do século XX. Na primeira metade do século XX, importantes escolas neotomistas foram criadas, entre as quais estão as de Leuven (Bélgica), Laval (Canadá) e de Washington (EUA).

Também é comum usar o termo "neoescolástica" para qualificar a escola do século XVI, em Salamanca (Francisco de Vitória, Domingo de Soto, Luis de Molina, ´Francisco Suárez etc.), uma corrente de pensamento de grande influência na história da teologia, filosofia, direito e economia e crucial para a compreensão da cultura espanhola posterior.

É necessário distinguir dois sentidos do termo "neoescolasticismo": a tentativa de reviver a tradição da escolástica medieval e seus conceitos fundamentais e, por outro lado, uma escola de pensamento ligada à Igreja Católica que se propunha a realização de uma nova síntese de fé cristã e de racionalidade moderna. A esse respeito, o Papa Leão XIII, em sua encíclica Aeterni Patris (1879), afirmou que a doutrina tomista, desenvolvida por Tomás de Aquino, deve ser a base de toda a filosofia que é considerada cristã.

Com ela, o Papa deu o apoio incondicional da Igreja Católica para o tomismo, promovendo o aparecimento de neoescolástica. Essa encíclica foi parte do movimento realizado pelo Vaticano que abordou os problemas de seu tempo em muitas áreas. Foi colocada, então, a necessidade de construir uma nova filosofia cristã, pretendendo-se retornar à velha filosofia escolástica. Assim, a neoescolástica tentou resgatar o valor da objetividade contra o relativismo, destacando o valor do realismo contra o idealismo e promover o valor do personalismo.

Corrente tradicional

Os representantes desse movimento não pretenderam enriquecer a doutrina tomista, mas mostrar aquilo que é eternamente durável em metafísica. Assim, adotaram uma atitude defensiva e desafiante contra os "erros" da modernidade, contra a qual o tomismo ergueu um infalível bastião. A maioria das obras desse fluxo são escritas em latim, como é o caso de:
1- Tommaso Maria Zigliara (1833-1893), autor italiano de Summa philosophica, em 3 volumes. O Papa Leão XIII nomeou-o cardeal e presidente da Academy of St. Thomas;
2- Albert Farges, autor de Estudos filosóficos, em 9 volumes e um curso de filosofia, adotado como livro-texto para muitos seminários;
3- Reginald Garrigou-Lagrange (1877-1964), autor de Uma síntese tomista e Deus;
4- O cardeal Louis Billot, cujo retorno ao St. Thomas manifestou a sua independência em face de Francisco Suárez (que tem grande influência sobre a neoescolástica alemã).

Corrente progressista

Essa corrente não se contenta em restaurar as antigas doutrinas tomistas, mas tenta incorporar todo o lado bom do pensamento moderno. Visa a enriquecer o tomismo, mostrando-se severa contra os "erros" do pensamento moderno. A figura central dessa corrente é o cardeal Désiré Félicien-François-Joseph Mercier. Muitas escolas afirmam pertencer a essa tendência progressiva.

Escolas

Histórica

A escola histórica do tomismo foi aplicada ao estudo da filosofia medieval e contribuiu para redescobri-la usando os métodos de crítica moderna:
1- Na Bélgica: Maurice De Wulf;
2- Na Alemanha: Martin Grabmann;
3- Na França: Pierre Mandonnet, fundador da Bibliothèque thomiste, Étienne Gilson e Marie-Dominique Chenu;
4- Em Espanha: Miguel Asin Palacios, autor de Estudos comparativos de espiritualidades cristãs e muçulmanas.

Progressista

A escola tem como objetivo enriquecer e renovar o tomismo progressiva. O pensamento escolástico se expandiu em todas as áreas, da política à metafísica, da epistemologia à moral. O principal representante francês dessa tendência, assim como Antonin Sertillanges, é Jacques Maritain. Ele também destaca o cardeal Joseph Désiré-Félicien-François Mercier, fundador do Instituto Superior de Filosofia da Universidade Católica de Leuven, onde ensinou Joseph Maréchal.
Finalmente, a neoescolástica italiana da Escola de Milão, fundada por Agostino Gemelli, fundador da Revue de filosofia escolástica. Enfrentaram o positivismo científico e o idealismo hegeliano de Benedetto Croce e Giovanni Gentile. Atualmente, o trabalho dessa escola é centrado em torno das ligações entre tomismo e as tendências atuais, como a fenomenologia, particularmente a obra de Emmanuel Falque.

Crítica

A escola crítica tende a enfatizar os pontos fracos do tomismo e considera algumas das 24 teses como meramente prováveis. Por exemplo, Peter Descoqs criticou o hilemorfismo e discutiu a distinção entre essência e existência.

Elementos tradicionais

A neoescolástica procura restaurar as doutrinas orgânicas fundamentais consagradas na escolástica do século XIII. Ela argumenta que a filosofia não varia de acordo com cada fase da história e que, se os grandes pensadores medievais (Tomás de Aquino, Boaventura e John Duns Scotus Fidanza) conseguiram construir um sistema filosófico sólido sobre as informações fornecidas pelos gregos, especialmente Aristóteles, deve ser possível elevar o espírito da verdade que contém a especulação da Idade Média.

Visões externas

Émile Boutroux pensou que o sistema aristotélico poderia servir como uma compensação ao kantismo. Paulsen e Rudolf Christoph Friedrich declararam a neoescolástica como o rival do kantismo e afirmaram o conflito entre eles como o "choque de dois mundos". Adolf von Harnack, Seeberg e outros argumentaram contra subestimar o valor da doutrina escolástica. No final do século XIX, a neoescolástica ganhou terreno entre os católicos contra outros pontos de vista, como o tradicionalismo, o ontologismo, o dualismo de Anton Günther e o pensamento cartesiano. Foi aprovada em quatro congressos católicos: Paris (1891), Bruxelas (1895), Freiburg (1897) e Munique (1900).

Apologética

Apologética (do latim tardio apologetĭcus, através do grego ἀπολογητικός, por derivação de "apologia", do grego απολογία: "defesa verbal") é a disciplina teológica própria de uma certa religião que se propõe a demonstrar a verdade da própria doutrina, defendendo-a de teses contrárias.
A apologética desenvolveu-se sobretudo no Cristianismo – enquanto em outras religiões, como o Islã e o Budismo, houve apenas tentativas menores. Assim, quando o termo "apologética" não é seguido de especificação, é quase sempre entendido como "apologética cristã", ou seja, como a prática da explanação, demonstração (de ordem moral, científica, histórica, etc.) e defesa sistematizada da fé cristã, sua origem, credibilidade, autenticidade e superioridade em relação às demais religiões e cosmovisões.1 2 3 4

Na Patrística, chamam-se apologistas alguns Padres da Igreja que, sobretudo no século II, se dedicaram a escrever apologias ao Cristianismo, usando temas e argumentos filosóficos, notadamente platônicos e estoicos - que se mostraram compatíveis com a revelação cristã.

O objetivo desses escritos não era tanto o de defender o Cristianismo contra correntes filosóficas diferentes ou contra religiões a ele opostas, mas sobretudo o de convencer o Imperador do direito de existência legal dos cristãos dentro do Império Romano. Os textos apologéticos constituíram as bases para o esclarecimento posterior dos dogmas teológicos e portanto, dos conceitos fundamentais usados em teologia. 5

Conforme Sproul, Gerstner, Lindsley (1984:13), a apologética é a defesa fundamentada da religião Cristã6 . Como defesa fundamentada da , a Apologética está para a Teologia como a Filosofia está para as Ciências Humanas.

É definida pelo dicionário Houaiss como sendo:

"(1) Rubrica: teologia; defesa argumentativa de que a fé pode ser comprovada pela razão (1.1) Rubrica: catolicismo, teologia; parte da teologia que se dedica à defesa do catolicismo contra seus opositores (ver também Apologética Católica)"
"(2) Derivação: por extensão de sentido (da acp. 1); defesa persistente de alguma doutrina, teoria ou idéia."
Ramm (1953:2) identifica na apologética o papel fundamental de mediar e conciliar tensões intelectuais:

...a apologética medeia tensões intelectuais. [Essa] mediação intelectual alivia as pressões mentais, resolvendo discrepâncias aparentes, harmonizando todos os elementos da vida mental. (...) Com o surgimento da mentalidade moderna e o conhecimento moderno, veio uma ampla gama de tensões para o apologeta Cristão mediar.

Francis Schaeffer argumenta que a apologética não deve ser usada como um conjunto de regras fixas e impessoais, mas que a explanação da deve estar sujeita à direção do Espírito Santo e à consciência da individualidade de cada pessoa7 .

Estilos de apologética cristã

Há uma variedade de estilos e escolas de apologética cristã. Os principais tipos de apologética Cristã incluem: apologética evidencialista, apologética pressuposicional, apologética filosófica, apologética profética, apologética doutrinal, apologética bíblica, apologética moral e apologética científica.

Apologética evidencialista

Alega que as evidências materiais favorecem a validade do cristianismo. O evidencialista começa num ponto comum com os não-cristãos, presumindo que os sentidos e a inteligência são ferramentas úteis para descobrir a verdade. Ele menciona registros históricos em favor da Bíblia, procurando demonstrar que:
  1. Apesar de suas partes mais recentes terem sido escritas há quase dois milênios, ela foi preservada por fiéis copistas, de modo que o sentido de seu texto permaneceu inalterado ao longo dos séculos, como nenhum outro livro antigo chega perto de ser;
  2. Ela contém profecias pontualmente cumpridas, que anteciparam eventos internacionais em dezenas ou centenas de anos;
  3. Ela é harmoniosa do começo ao fim, formando um único pensamento, apesar de seus autores possuírem diversas formações e culturas, e, muitas vezes, não conhecerem os livros uns dos outros;
  4. Ela é precisa arqueologicamente, se referindo a detalhes que, por inexatidão científica, eram contestados pelos historiadores, até serem esclarecidos por escavações posteriores.
Então, quando a razão mostra-se limitada para encontrar respostas a questões que transcendem o campo da investigação, tais como o sentido da existência, o evidencialista recomenda a aceitação do cristianismo, pelas abundantes evidências acumuladas em favor dessa religião. Todas as palavras contidas na Bíblia são fiéis de Gênesis a Apocalipse.

Apologética pressuposicional

Segundo esta escola, o cristianismo forma um sistema completo de pensamento, com autoridade própria, não podendo ser autenticado por evidências externas, por ser necessariamente verdadeiro. Os pressuposicionalistas alegam que a conquista do conhecimento exige um método confiável de análise, que permita deduzir informações necessariamente extraídas de premissas anteriores, o que só seria possível através do raciocínio sobre as declarações divinamente reveladas na Bíblia, e nunca das sensações ou da razão pura.

Desprovidos de um ponto inicial para racionar sobre as coisas, ninguém poderia obter informação segura, pela falta de uma base de inteligibilidade. E não adiantaria possuir um ponto inicial, se ele não possuísse auto-sustentação. Sem um princípio dogmático que permitisse interpretar a realidade a partir de um ponto absoluto, seria possível apenas presumir a validade das coisas, conforme pressupostos injustificados. Para ter certeza da veracidade de uma declaração, seria preciso negar qualquer possibilidade de sua falsidade, julgando-a por um sistema infalível de prova.

Isso só seria possível, sempre conforme o pressuposicionalismo, através da revelação de um Deus Todo-Poderoso e Criador, detentor de todo o conhecimento sobre o Universo e de toda a autoridade, que seria a fonte de premissas pretensamente confiáveis, através das quais seria possível alcançar a verdade. Com tal alegação, os pressuposicionalistas questionam as premissas intelectuais dos não-cristãos, desafiando-os a apresentarem um sistema de prova pelo qual consigam extrair informações confiáveis sobre qualquer coisa, e procuram demonstrar que o cristianismo não apenas é intelectualmente superior, mas exclusivamente verdadeiro.

Ao invés de começar a interpretar o mundo segundo premissas naturalísticas, não-cristãs, para, depois, aceitar o cristianismo num “salto de fé”, o pressuposicionalista já começa aceitando o cristianismo por seu valor inerente, por ser uma revelação suficiente como única base segura de conhecimento. Ele pressupõe que os fatos só possuem significado porque foram interpretados por Deus, antes de serem criados por Ele. Assim, no pressuposicionalismo, todo fato constitui evidência positiva à existência do Deus cristão, porque só poderia ser conhecido e explicado dentro da visão bíblica, cujas premissas forneceriam os pressupostos para o conhecimento, racionalidade e verdade.

Segundo Vincent Cheung8 ,toda cosmovisão exige um princípio primeiro ou autoridade absoluta. Sendo primeiro ou absoluto, esse princípio não pode ser justificado por qualquer autoridade anterior ou maior; de outra forma não seria o primeiro ou absoluto. O princípio primeiro deve então possuir o conteúdo para justificar a si próprio. Por exemplo, a proposição 'Todo conhecimento provém da experiência sensorial' não é o princípio primeiro sobre o qual uma cosmovisão possa ser construída, pois se todo conhecimento advém da experiência sensorial, também esse princípio deve ser conhecido apenas pela experiência sensorial, mas antes de apresentar o princípio, a confiabilidade da experiência sensorial não estava estabelecida. Desse modo, o princípio resulta em um círculo vicioso, e se destrói. Não importa o que possa ser validamente deduzido desse princípio – se o sistema não pode sequer começar, as derivações do princípio não podem ser aceitas.

Não obstante, a apologética pressuposicional muitas vezes é colocada entre situações de fideísmo, por não considerar nenhum prova da religiosidade cristã pela razão pura, tornando-se inerte a quem já possui um pensamento filosófico sedimentado, como ateus e agnósticos. Isso faz com que o próprio cristianismo se torne escaninho da posição contrário por não oferecer meios de refutação e contra-argumentação.

Apologética filosófica

Esta escola procura demonstrar que o cristianismo é a religião mais conforme o raciocínio correto. Ela especula sobre o sentido da vida, a origem das coisas e a natureza humana, para apontar a doutrina bíblica como um sistema coerente.

Um exemplo dessa abordagem: o apologista procura provar a existência de Deus. O argumento filosófico mais forte, para isso, é o argumento kalam, desenvolvido por teólogos muçulmanos, mas aproveitado por pensadores cristãos; ele pode ser demonstrado assim:
Tudo o que começa a existir deve ter uma causa. O Universo começou a existir. Logo, o Universo tem uma causa.

Para provar que o Universo começou a existir, o apologista argumenta que um conjunto infinito de dias seria impossível, na prática. Uma linha infinita seria impossível na forma progressiva, com um ponto inicial, e cada dia se somando aos anteriores, pois isso resultaria num conjunto crescente, mas sempre finito. E uma linha sem início também não poderia existir, pois, assim, o número de dias transcorridos até agora seria infinito, e o hoje nunca teria chegado. Se o Universo não possuísse início, haveria uma quantidade indefinida (ilimitada) de dias que já teriam se passado, antes do tempo presente, o que é inconcebível.

Agora, continua o apologista, se o Universo (espaço, tempo e energia) teve um início, é porque existe Algo maior e diferente do próprio Universo, que deu-lhe causa, e que não possui causa. O Deus descrito na Bíblia se encaixa nessa definição.

Outro exemplo: a existência da moralidade. O apologista argumenta que, sem valores absolutos, não há razão para lutar por melhorias na sociedade, ou para condenar os atos de barbaridade. Agora, valores são formas de julgar ações, e o cristianismo apresenta um Deus que decide o que é correto, e que revelou Sua lei na mente de cada pessoa e na Bíblia. Assim, o fato de que todas as pessoas têm noção de culpa e responsabilidade seria uma evidência a favor do cristianismo, que contém um manual de regras para vivermos em harmonia com os outros, de acordo com palavra divina.

Apologética científica

Pode-se dizer que a apologética científica seria uma versão secularizada das provas filosóficas medievais da existência de Deus.9 Seria a exposição dos fundamentos da fé e da Teologia, feita de modo científico e exaustivo.10
 Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres.
 

Nenhum comentário: