CPFL - O Mal Primordial - Leandro Karnal - 120min.
Thomas Hobbes (1588 - 1679)
Arildo Luiz Marconatto
A filosofia tem que estudar os corpos em geral, como os objetos inanimados; os copos dos homens, que são animados; e os corpos artificiais, como o estado. Tudo o que for espiritual ou não corpóreo, não é do interesse da filosofia. Os interesses da filosofia são os mesmos interesses da ciência, ambas buscam aumentar o poder dos homens sobre a natureza.
Hobbes acreditava que a razão não é uma prioridade humana, pois em certos graus os animais também usam da razão, como quando conseguem prever os acontecimentos futuros com base em suas experiências passadas. O que acontece é que nos homens essa previsão do futuro é muito superior, pois conseguem calcular e modificar o futuro com base nos experimentos passados.
A razão humana vai muito além e consegue através da lógica tornar mais complexo e profundo o nosso pensamento que derivam e se fundamentam em sinais que são os nomes que damos aos pensamentos ou acontecimentos passados. Esse processo tem por objetivo repassar aos outros seres humanos nossas experiências e pensamentos só que de forma sistematizada e elaborada.
Raciocinar é calcular nomes e sentenças, esse calcular pode ser uma soma, subtração, multiplicação ou divisão. Os cálculos do nosso raciocínio têm por base os sinais linguísticos que usamos para significar as nossas experiências, que são retiradas dos nossos sentidos, pois a origem de todos os nossos pensamentos está nos sentidos que estão baseados nos objetos externos ao nosso corpo.
Em Hobbes a ciência e a filosofia são vistas como sendo a busca do conhecimento da origem das coisas e desse conhecimento devemos excluir a teologia, pois o objeto de estudo da teologia é Deus e de Deus não podemos descobrir a origem.
A filosofia de Hobbes é ainda definida como corpórea e mecanicista. É corpórea porque os corpos são gerados e por isso são os únicos sobre os quais é possível raciocinar. É mecanicista porque somente um corpo pode sofrer uma ação. O prazer, a dor, o querer o ódio e o amor também são movimentos. Em todos esses movimentos não existe um bem e um mal, pois ambos são relativos se levarmos em conta que o bem é aquilo que buscamos e o mal aquilo do qual fugimos e que as pessoas buscam ou tentam se afastar de maneira e de coisas diferentes.
Mesmo não existindo um bem e um mal como valor absoluto, Hobbes admite que exista um primeiro bem que precede muitos outros, esse bem é a conservação da vida, e o contrário desse primeiro bem é a morte.
Levando seus princípios para a análise política e social, Hobbes discorda da posição aristotélica que diz que o homem é um animal político. Hobbes acredita que cada homem é diferente do outro e que a vida social é definida pelo egoísmo dessa diferença e pela convenção da convivência em grupo. O Estado em que esses indivíduos vivem não é algo natural, mas artificial, criado por esses indivíduos para alcançar da melhor forma seus objetivos egoístas.
Naturalmente os homens, devido ao seu egoísmo, viveriam em guerra de todos contra todos, cada um tendendo a defender os seus próprios interesses. Conforme palavras de Hobbes, em estado natural o "homem é o lobo do homem". Nesse estado o homem ficaria prejudicado em seus interesse egoístas pois a qualquer momento poderia perder o seu primeiro bem que é a vida.
Usando o instinto e a razão ele tenta fugir dessa situação e se autoconservar. Para se conservarem os homens fazem entre si um pacto social e delegam a um único homem ou a uma assembleia o direito de representá-los. Esse único homem é o rei e ele detém todos os poderes.
Em torno desse rei ou da assembleia é formado o estado que Hobbes chama de Leviatã. Esse estado defenderá os homens das agressões estrangeiras e das agressões deles contra eles mesmos.
Sentenças:
- O homem é o lobo do homem.
- A natureza é a guerra de todos contra todos.
- O papa é o fantasma do imperador romano.
- O interesse e o medo são o princípio da sociedade.
- Sem a espada os acordos são só palavras.
- As leis são feitas pela autoridade e não pela verdade.
- As grandes sociedades se baseiam em medos recíprocos.
- O ócio é a mãe da filosofia.
- Quem não está contra nós, está do nosso lado.
- Toda infração da lei é uma ofensa contra o estado.
Thomas Hobbes
O Problema do Mal
Há mal no mundo: isto não pode ser seriamente negado.
Basta pensar no Holocausto, nos massacres de Pol Pot no Camboja ou na
prática generalizada da tortura. Todos eles são exemplos de mal moral e
crueldade: seres humanos que provocam sofrimento a outros seres humanos
por uma razão qualquer. A crueldade tem também muitas vezes como objecto
os animais. Há também outro tipo de mal, conhecido como mal natural ou
metafísico: terramotos, doença e fome são exemplos deste tipo de mal.
O mal natural tem causas naturais, apesar de se poder
tornar ainda pior em função da incompetência humana ou falta de cuidado.
A palavra «mal» talvez não seja a melhor para designar estes fenómenos
naturais, que dão origem ao sofrimento humano, uma vez que é
habitualmente usada para referir a crueldade deliberada. Contudo, quer
lhe chamemos «mal natural», quer lhe chamemos qualquer outra coisa, a
existência de coisas como a doença e as calamidades naturais tem, sem
dúvida, de ser tomada em conta se queremos manter a crença num deus
benevolente.
Visto existir tanto mal, como pode alguém acreditar
seriamente na existência de um deus sumamente bom? Um deus omnisciente
saberia que o mal existe; um deus todo poderoso poderia evitar que o mal
ocorresse; e um Deus sumamente bom não quereria que o mal existisse.
Mas o mal continua a existir. Este é o problema do mal: o problema de
explicar como os alegados atributos de Deus podem ser compatíveis com o
facto inegável de o mal existir. Este é o mais sério desafio à crença no
deus dos teístas. O problema do mal levou muitas pessoas a rejeitar
completamente a crença em Deus, ou, pelo menos, a rever a sua opinião
acerca da suposta benevolência, omnipotência ou omnisciência de Deus.
Os teístas têm sugerido várias soluções para o problema do mal, três das quais serão aqui consideradas.
Tentativas de solução do problema do mal
Santidade
Algumas pessoas argumentaram que a presença de mal no
mundo se justifica, apesar de não ser claramente uma coisa boa, porque
conduz a uma maior virtude moral. Sem a pobreza e a doença, por exemplo,
não seria possível a virtude moral que a Madre Teresa demonstrava ao
ajudar os necessitados. Sem guerra, tortura e crueldade, os santos e os
heróis não poderiam existir. O mal permite a existência do bem,
supostamente maior, que este tipo de triunfo sobre o sofrimento humano
representa. Contudo, esta solução está sujeita a pelo menos duas
objecções. Em primeiro lugar, o grau e a dimensão do sofrimento são
muito maiores do que seria necessário para permitir que santos e heróis
desempenhassem os seus actos de bem moral. É extremamente difícil
justificar com este argumento as mortes horríveis de vários milhões de
pessoas nos campos de concentração nazis. Além disso, grande parte deste
sofrimento passa despercebido e não é registado, de forma que não pode
ser explicado desta maneira: em alguns casos, o indivíduo que sofre é a
única pessoa capaz de aperfeiçoamento moral em tal situação, mas é
altamente improvável que este aperfeiçoamento possa ocorrer em casos de
dor extrema.
Em segundo lugar, não é óbvio que um mundo no qual
exista muito mal seja preferível a um mundo no qual existisse menos mal
e, consequentemente, menos santos e heróis. De facto, há qualquer coisa
de ofensivo na tentativa de justificar a agonia de uma criança que morre
de uma doença incurável, por exemplo, argumentando que isto permite que
os que a presenciam se tornem melhores pessoas do ponto de vista moral.
Iria realmente um deus sumamente bom usar tais métodos para nos ajudar a
aperfeiçoar-nos moralmente?
Analogia artística
Algumas pessoas defenderam a existência de uma analogia
entre o mundo e uma obra de arte. A harmonia geral de uma peça de música
inclui geralmente dissonâncias que são subsequentemente convertidas num
acorde; uma pintura tem, tipicamente, grandes áreas de pigmento mais
escuro e mais claro. De forma análoga, defende este argumento, o mal
contribui para a harmonia ou beleza geral do mundo. Esta perspectiva
está também sujeita a pelo menos duas objeções.
Em primeiro lugar, é pura e simplesmente difícil de
aceitar. Por exemplo, é difícil de perceber como se pode dizer que
alguém a morrer em grande sofrimento na cerca de arame farpado da terra
de ninguém na Batalha de Somme esteve a contribuir para a harmonia geral
do mundo. Se a analogia com a obra de arte for realmente a explicação
da razão pela qual Deus permite tanto mal, isto é quase uma admissão de
que o mal não pode ser satisfatoriamente explicado, uma vez que coloca a
compreensão do mal para além da compreensão meramente humana. A
harmonia só pode ser observada e apreciada do ponto de vista de Deus. Se
é isto que os teístas querem dizer quando afirmam que Deus é sumamente
bom, trata-se de um uso muito diferente da palavra "bom", relativamente
ao uso habitual.
Em segundo lugar, um deus que permite tal sofrimento por
motivos meramente estéticos ― de forma a poder apreciá-lo da mesma
maneira que se aprecia uma obra de arte ― parece mais um sádico do que o
deus sumamente bom de que falam os teístas. Se o papel do sofrimento é
este, Deus está desconfortavelmente próximo do psicopata que põe uma
bomba no meio da multidão de forma a poder observar os belos padrões
criados pela explosão e pelo sangue. Para muitas pessoas, esta analogia
entre uma obra de arte e o mundo teria mais sucesso como um argumento contra a benevolência de Deus do que a seu favor.
A defesa do livre arbítrio
A tentativa mais importante de solução do problema do
mal é, de longe, a defesa do livre arbítrio. Trata se da afirmação de
que Deus deu o livre arbítrio aos seres humanos: a capacidade para
escolhermos o que queremos fazer. Se não tivéssemos livre arbítrio,
seríamos como robots, ou autómatos, sem escolhas próprias. Os que
aceitam a defesa do livre arbítrio argumentam que uma consequência
necessária da posse do livre arbítrio é a possibilidade de praticar o
mal; caso contrário, não seria, genuinamente, livre arbítrio. Os seus
defensores afirmam que um mundo no qual os seres humanos têm livre
arbítrio, conduzindo-nos por vezes ao mal, é preferível a um mundo no
qual a ação humana fosse predeterminada, um mundo no qual seríamos como
robots, programados para praticar apenas boas acções.
De facto, se fôssemos programados desta forma, não
poderíamos sequer dizer que as nossas ações seriam moralmente boas, uma
vez que o bem moral depende de poder escolher o que fazemos. Uma vez
mais, há várias objeções a esta proposta de solução.
Críticas à Defesa do Livre Arbítrio
Admite dois pressupostos básicos
O pressuposto básico que a defesa do livre arbítrio
admite é o de que um mundo com livre arbítrio e a possibilidade do mal é
preferível a um mundo de pessoas-robots que nunca praticam más
acções. Mas será isto obviamente verdade? O sofrimento pode ser tão
terrível que muitas pessoas, dada a possibilidade de escolha,
prefeririam que toda a gente tivesse sido pré-programada para só
praticar o bem, em vez de ter de passar por certos sofrimentos. Estes
seres pré-programados poderiam mesmo ter sido concebidos de maneira a
acreditarem ter livre arbítrio, apesar de o não terem: poderiam ter a
ilusão do livre arbítrio com todos os benefícios que a crença de que
seriam livres lhes traria, mas sem nenhuma das desvantagens.
Este argumento sugere um segundo pressuposto da defesa
do livre arbítrio, nomeadamente o de que temos de facto livre arbítrio, e
não apenas a ilusão de que o temos. Alguns psicólogos pensam que
podemos explicar todas as decisões ou escolhas que uma pessoa faz
através de um condicionamento anterior que a pessoa sofreu, de forma
que, apesar de a pessoa se poder sentir livre, a sua acção é na
realidade inteiramente determinada pelo que aconteceu no passado. Não
podemos ter a certeza de que não é assim que as coisas realmente se
passam.
Contudo, deve notar-se, a favor da defesa do livre
arbítrio, que a maior parte dos filósofos acredita que os seres humanos
têm de facto, genuinamente, num certo sentido, livre arbítrio; e deve
também notar-se que o livre arbítrio é geralmente considerado essencial
ao ser humano.
Livre arbítrio sem mal
Se Deus é onipotente, é presumível que esteja dentro
dos seus poderes a criação de um mundo no qual existisse livre arbítrio
sem que existisse mal. De facto, um tal mundo não é particularmente
difícil de imaginar. Apesar de a posse do livre arbítrio nos dar sempre a
possibilidade de fazer o mal, não há razão para que esta possibilidade
se torne real. É logicamente possível que toda a gente tivesse tido
livre arbítrio mas tivesse decidido evitar sempre a má linha de ação.
Aqueles que aceitam a defesa do livre arbítrio
responderiam possivelmente a este argumento afirmando que num tal estado
de coisas não existiria verdadeiro livre arbítrio. Esta ideia está em
discussão.
Deus poderia intervir
Os teístas acreditam, tipicamente, que Deus pode
intervir e que intervém de facto no mundo, sobretudo através da execução
de milagres. Se Deus intervém por vezes, por que escolhe Deus executar o
que podem parecer, a quem não for crente, "truques" menores, como
provocar estigmas (marcas nas mãos das pessoas, como os buracos dos
pregos das mãos de Cristo), ou transformar a água em vinho? Porque não
interveio Deus de forma a prevenir o Holocausto, ou toda a segunda
guerra mundial ou a epidemia da SIDA?
Uma vez mais, os teístas podem responder que, se Deus
tivesse intervindo, não teríamos genuíno livre arbítrio. Mas isto seria
abandonar um aspecto da crença em Deus defendido pela maioria dos
teístas, nomeadamente que a intervenção divina ocorre por vezes.
Não explica o mal natural
Uma crítica da maior importância à defesa do livre
arbítrio afirma que este argumento só poderá, na melhor das hipóteses,
justificar a existência do mal moral, o mal que resulta diretamente dos
seres humanos. Não se concebe qualquer conexão entre a posse de livre
arbítrio e a existência de males naturais, como terremotos, doenças,
erupções vulcânicas, etc., a não ser que se aceite uma espécie qualquer
da doutrina do pecado original, segundo a qual a traição da confiança de
Deus, perpetrada por Adão e Eva, terá trazido toda a espécie de mal ao
mundo. A doutrina do pecado original torna os seres humanos responsáveis
por todas as formas de mal existente no mundo. Contudo, tal doutrina só
seria aceitável para alguém que já acreditasse na existência do deus
judaico-cristão.
Há outras explicações, mais plausíveis, do mal natural,
uma das quais afirma que a regularidade das leis da natureza oferece, em
geral, um maior benefício, que ultrapassa as calamidades ocasionais a
que dá origem.
Leis benéficas da natureza
Sem regularidade na natureza, o nosso mundo seria um
mero caos e não teríamos forma de prever os resultados de nenhuma das
nossas acções. Se, por exemplo, as bolas de futebol só às vezes
deixassem os nossos pés quando as chutamos, limitando-se outras vezes a
ficar coladas aos pés, teríamos muita dificuldade em prever o que iria
acontecer numa qualquer ocasião específica em que fôssemos chutar uma
bola. A falta de regularidade noutros aspectos do mundo poderia fazer
que a própria vida fosse impossível. A ciência, tal como a vida
quotidiana, apoia-se na existência de muitas regularidades na natureza,
na qual causas análogas têm a tendência para produzir efeitos análogos.
Argumenta-se por vezes que, porque esta regularidade é
habitualmente benéfica para nós, o mal natural se justifica, uma vez que
é um efeito colateral da operação regular e contínua das leis da
natureza. Os efeitos benéficos gerais desta regularidade ultrapassariam
os prejudiciais. Mas este argumento é vulnerável de duas maneiras, pelo
menos.
Primeiro, não explica por que razão não poderia um Deus
omnipotente ter criado leis da natureza que nunca pudessem de facto
conduzir ao mal natural. Uma resposta possível a isto é afirmar que
mesmo Deus está submetido às leis da natureza; mas isto sugere que Deus
não é realmente omnipotente.
Segundo, continua a não explicar por que razão Deus não
intervém para executar milagres mais vezes. Se argumentarmos que Deus
nunca intervém, eliminamos um aspecto central da crença em Deus da
maioria dos teístas.
Nigel Warburton,
Elementos Básicos de Filosofia,
Gradiva, Lisboa, 1998, pp. 45-52.
© Filosofia e Educação, 2001-2014. Todos os direitos reservados.
MAL, O problema do (Santo Agostinho)
Santo Agostinho
FILOSOFIA 3º ANO
Do latim, malum. 1. Em um sentido geral, tudo que é negativo, nocivo ou prejudicial a alguém. "Podemos considerar o mal em um sentido metafísico, físico ou moral. O mal metafísico consiste na simples imperfeição; o mal físico no sofrimento; o mal moral no pecado, segundo Leibniz (Dicionário de Filosofia).
O mal, segundo Santo Agostinho, é o estado em que o homem se afasta de Deus, de seus preceitos, de seu amor. Contudo, é uma condição presente na vida de todos os homens, devido ao pecado original de Adão e Eva, conforme o livro bíblico, Gênesis. O afastamento da convivência espiritual com Deus e a desobediência à sua vontade provoca todo o mal presente na vida dos homens. Somente por intermédio de Jesus Cristo, o filho de Deus encarnado, os homens podem ser redimidos e reviver o estado pleno de bondade junto a Deus (Chalita).
Santo Agostinho tenta provar de forma filosófica de que Deus não é o criador do mal, em seu livro 'O Livre-arbítrio'. Pois, para ele, tornava-se inconcebível o fato de que um ser tão bom, pudesse ter criado o mal. A concepção que Agostinho tem do mal, esta baseada na teoria platônica, assim o mal não é um ser, mas sim a ausência de um outro ser, o bem. O mal é aquilo que "sobraria" quando não existe mais a presença do bem. Deus seria a completa personificação deste bem, portanto não poderia ter criado o mal. Deus em sua perfeição, quis criar um ser que pudesse ser autônomo e assim escolher o bem de forma voluntária. O homem, então, é o único ser que possuiria as faculdades da vontade, da liberdade e do conhecimento. Por esta forma ele é capaz de entender os sentidos existentes em si mesmo e na natureza. Ele é um ser capacitado a escolher entre algo bom (proveniente da vontade de Deus) e algo mal (a prevalência da vontade das paixões humanas) (Wikipedia).
| 09 Maio 2011
Artigos - Cultura
O que é a modernidade?
Numa
definição curta e exata a modernidade é a negação de Deus.
Ela tenta, em
tudo e por tudo, matar a Revelação,
conspurcar as coisas tidas como
sagradas e negar a verdade.
Eu vi Satã cair do céu como um relâmpago.Lucas 10, 18
O
que transforma a obra FAUSTO, de Goethe, em um monumento imorredouro
não é apenas a grandiosidade de sua construção e a beleza de seus
versos. Nem mesmo o seu tema. George Satayana o classificou como um
poema filosófico, ao lado dos poemas de Dante e de Lucrécio. É esse
caráter filosófico que lhe eleva acima do seu tempo, mas não apenas. A
genialidade de Goethe lhe permitiu fazer a síntese de uma era - os
tempos modernos ou a modernidade - e registrar para a posteridade de
forma ornamental essa fotografia histórica. O poema é também uma crônica
extraordinária.
A trinca de filósofos clássica e seus seguidores
cristãos, especialmente São Tomás de Aquino, é abandonada, dando lugar à
herança de Epicuro e Zenon e dos seguidores que lhe sucederam desde a
antiguidade, como Cícero. Foi uma grande revolução no sentido exato da
expressão. Os homens renascentistas talvez não tivessem a exata dimensão
espiritual e filosófica do que faziam, mas fizeram. Tudo que era
sagrado foi conspurcado, tudo que era sólido desmanchou no ar. No plano
teológico o mal se introduziu como força motora da história, o mal
derivado do pecado no sentido exato como entendido por Santo Agostinho:
"Amor de si mesmo até o desprezo de Deus", como escreveu na Cidade de
Deus.
O mal, como força personificada operante, a
Igreja Católica sempre o chamou pelo nome bíblico: Satã e suas legiões.
Os cristãos sempre souberam que o homem sozinho não tem como lutar
contra essa força poderosa, que ousou confrontar o próprio Deus. A
rejeição do auxílio divino contra essa força é o famoso pecado contra o
Espírito Santo, ao qual não cabe redenção. Foi o que se deu no
Renascimento. E o Ocidente cristão, cujas ideias depois se espalharam
por todo o mundo, foi além. FAUSTO é o canto supremo desse momento,
quando ainda a humanidade tinha ao menos consciência do seu mergulho na
Negação. Goethe versificou sobre esse espírito que vagava sobre a terra e
que encontrou em filósofos como Descartes, Rousseau, Kant, Hegel e Marx
seus agentes criadores.
O "Penso, logo existo", a
máxima de Descartes, deslocou o tema da filosofia do ser para o aspecto
particular das habilidades humanas, o pensar; ao fazê-lo, rompeu com a
necessidade de se refletir sobre o ser, ou seja, Deus ele mesmo. O
pensamento humano tornou-se o lócus da criação e o homem como o autor
dessa criação. Fausto e Mefistófeles narram nas suas aventuras esse
momento crucial em que o intelectual - provavelmente modelado na figura
do próprio Descartes ou alguém equivalente - entediado diante da
criação, invoca o Espírito de Negação para transformar o mundo ao seu
talante. A dialética hegeliana e, depois, a marxista, dá foro filosófico
e teológico a esse princípio de que a negação é o motor da história e o
homem é o elemento que permite a síntese criadora.
Essa
filosofia dará origem a todas as ideologias - entendidas como
substitutas do real e explicações fantásticas da realidade, ou a Segunda
Realidade - que virão nos século subsequentes. Nazismo, marxismo,
abortismo e gayzismo são todas variações desse tema, e enquanto
ideologias, foram colocadas no mesmo patamar destrutivo por João Paulo
II.
Goethe levou sessenta anos para escrever o poema e
é possível notar que, nos momentos iniciais, ele foi mais entusiasta
com a suposta capacidade criativa do mal. O Urfaust e, depois, o Fausto
I, são documentos de vigorosa adesão às teses de que o mal é capaz de
criar e ajudar ao homem. Goethe ele mesmo aderiu a um naturalismo
radical tomado da filosofia de Spinoza - uma forma panteísta que via na
matéria a própria emanação da divindade - e, com ela, suportando essa
visão dualista de cunho teológico. Goethe abraça o maniqueísmo. Seu
poema inicial é um cântico a ele. Ao final, no Fausto II, o fecho do
mesmo na véspera de sua morte revela que alguma coisa mudou no seu modo
de pensar, vindo Goethe a colorir os versos derradeiros com ícones do
catolicismo. Mesmo assim o poema continuou a ser uma peça maniqueísta.
A
influência de Goethe na literatura foi profunda, pois deu voz às ideias
dominantes do seu tempo, que são as ideias dominantes até os dias de
hoje. Nenhum grande autor escapou à influência magnética de Goethe. Ao
cantar o Microcosmo não pensou que seu símbolo estaria, tempos depois,
inserido em todos os lugares, em todas as bandeiras, em todas as nações.
O pentagrama é o estandarte do mal metafísico que se propôs substituir o
próprio símbolo da cruz. Desde o Renascimento ele tem ganhado a batalha
iconográfica. É uma maneira de as gerações sucessivas desde então
reafirmarem sua rebelião contra Deus.
O que é a
modernidade? Numa definição curta e exata a modernidade é a negação de
Deus. Ela tenta, em tudo e por tudo, matar a Revelação, conspurcar as
coisas tidas como sagradas e negar a verdade. A recente decisão do
Supremo Tribunal Federal - STF sobre a união de pessoas do mesmo sexo é
um dos triunfos maiúsculos da modernidade entre nós, brasileiros. O
mesmo pode ser dito, no âmbito do Poder Judiciário, do banimento dos
crucifixos das repartições públicas, gesto repetido na primeira hora por
Dilma Rousseff, quando assumiu o poder. Não devemos esquecer que o
Microcosmo está estampado no próprio Escudo da República e é símbolo do
poder de Estado. Vê-se que as ondas de propagação da modernidade e de
Goethe, seu grande cantor, continuam vigorosas. Não por acaso Lula
mandou desenhar o símbolo do Microcosmo nos jardins do palácio
presidencial.
É preciso lembrar que o FAUSTO antecipa
o que viria a ser o nazismo e o comunismo. Goethe o apresenta como o
Demônio do Norte. Fausto fará suas núpcias com Helena, a deusa Vênus ela
mesma, a representação feminina do mal, ajudado por generais oriundos
de cada uma das tribos germânicas. Nesse momento do poema afirma-se a
superioridade do germanismo, tão em voga nos tempos de vida de Goethe, e
a mentira nele embutida, a de que o germanismo é uma cultura superior a
todas as outras. Goethe liga o glorioso passado grego ao presente
germânico, ignorando Roma e o cristianismo. Esse foi o passo essencial
para que no século XX o personagem Eufórion encarnasse na figura de
Hitler. A alucinação mais delirante da mente doentia dos modernos entrou
com força na história e deixou o seu rastro de morte. Hitler foi a sua
representação.
As ideologias de morte mudam de forma,
mas não desistem de seu intento. Por isso ler e compreender FAUSTO, de
Goethe, é essencial para que se compreenda o que se passa. O mal opera
no cotidiano e está à porta de cada um. Sem perceber o que se passa é
impossível buscar o único refúgio capaz de fazer frente ao mal: a
tradição. Nas Escrituras estão as profecias e o registro de tudo que se
passou e que vai passar. A grande mentira do Maligno é fazer com que as
pessoas pensem que ele não existe e que está inerte. Ler os jornais do
dia sob a luz de Goethe vai mostrar o quanto essa mentira é grotesca,
como o mal é grotesco.
Fontes:
CPFL - TV Cultura
Licença padrão do YouTube
http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=77
http://www.filedu.com/nwarburtonoproblemadomal.html
http://jaueras.blogspot.com.br/2009/11/o-problema-do-mal.html
http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/12066-goethe-e-a-filosofia-do-mal.html
Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
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