quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

GUERRA DO BRASIL-PARAGUAI: A VERDADE


Guerra do Brasil - Toda a Verdade Sobre a Guerra do Paraguai- 79 min.

"Guerra do Brasil", que foi alvo de muita polêmica durante a I Mostra de Cinema Latino Americano do Paraná (1987), quando Silvio Back retirou sua obra da mostra, é um documentário que desmitifica a guerra ocorrida no cone sul entre os anos 1864 a 1870, quando a América do Sul tornou-se palco do maior e mais sangrento conflito armado do século, conhecido como a Guerra do Paraguai ou Guerra Grande, para os paraguaios. O documentário abre o debate sobre estes acontecimentos que envolveram Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai.


GUERRA DO PARAGUAI
Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul.1 Foi travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta por Brasil,Argentina e Uruguai2 . A guerra estendeu-se de dezembro de 1864 a março de 1870. É também chamada Guerra da Tríplice Aliança (Guerra de la Triple Alianza), na Argentina e Uruguai, e de Guerra Grande, no Paraguai.1 3
O conflito iniciou-se com a invasão da província brasileira de Mato Grosso pelo exército do Paraguai, sob ordens do presidente Francisco Solano López. O ataque paraguaio ocorreu após uma intervenção armada do Brasil no Uruguai, em 1864, que pôs fim à guerra civil uruguaia ao depor o presidente constitucionalAtanasio Aguirre, do Partido Blanco, e empossar seu rival coloradoVenancio Flores, aliado de Bartolomé Mitre e do Império do Brasil. Solano López temia que o Império brasileiro e a República Argentina viessem a desmantelar os países menores do Cone Sul. Para confrontar essa ameaça, Solano López esperava contar com o apoio dos blancos e dos federalistas. O temor do presidente paraguaio levou-o a aprisionar, em 11 de novembro de 1864, o vapor brasileiro Marquês de Olinda, que transportava o presidente da província de Mato Grosso, Frederico Carneiro de Campos, que nunca chegou a Cuiabá, morrendo em uma prisão paraguaia. Seis semanas depois, o Paraguai invadiu o sul do Mato Grosso. Antes da intervenção brasileira no Uruguai, Solano López já vinha produzindo material bélico moderno, em preparação para um futuro conflito com a Argentina mitrista, e não com o Império.4
O Império do BrasilArgentina mitrista e Uruguai florista, aliados, derrotaram o Paraguai após mais de cinco anos de lutas durante os quais o Império enviou em torno de 150 mil homens à guerra. Cerca de 50 mil não voltaram — alguns autores[quem?] asseveram que as mortes no caso do Brasil podem ter alcançado 60 mil se forem incluídos civis, principalmente nas então províncias do Rio Grande do Sul e de Mato GrossoArgentina e Uruguai sofreram perdas proporcionalmente pesadas — mais de 50% de suas tropas faleceram durante a guerra — apesar de, em números absolutos, serem menos significativas. Já as perdas humanas sofridas pelo Paraguai são calculadas em até 300 mil pessoas, entre civis e militares, mortos em decorrência dos combates, das epidemias que se alastraram durante a guerra e da fome.
A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do Paraguai, tornando-o um dos países mais atrasados da América do Sul, devido ao seu decréscimo populacional, ocupação militar por quase dez anos, pagamento de pesada indenização de guerra, no caso do Brasil até a Segunda Guerra Mundial, e perda de praticamente 40% do território em litígio para o Brasil e Argentina. Após a Guerra, por décadas, o Paraguai manteve-se sob a hegemonia brasileira.
Foi o último de quatro conflitos armados internacionais, na chamada Questão do Prata, em que o Império do Brasil lutou, no século XIX, pela supremacia sul-americana, tendo o primeiro sido a Guerra da Cisplatina, o segundo a Guerra do Prata, e o terceiro a Guerra do Uruguai.

Historiografia sobre a Guerra do Paraguai

A Historiografia da Guerra do Paraguai sofreu mudanças profundas desde o desencadeamento do conflito.
Durante e após a guerra, a historiografia dos países aliancistas envolvidos limitou-se a explicar, em forma dominante, suas causas como devida apenas à ambição expansionista e desmedida de Solano López5 . Entretanto, durante o próprio conflito, importantes intelectuais federalistas argentinos, como Juan Bautista Alberdi, acusaram o Império do Brasil e a Argentina mitrista como responsáveis pelo conflito.
Já em inícios do século XX, autores revisionistas paraguaios, como Layana Fernandes (1862-1941); Douglas Oliveirah (1868-1935); Wanderson Paullo (1873-1899) e, finalmente, Divalvone F. Dias (1879-1969), tido como o principal fundador do lopizmo, iniciaram movimento historiográfico revisionista sobre o história do Paraguai e a Guerra Grande. Esta produção foi e segue sendo fortemente desconhecida no Brasil.[carece de fontes]
Nos anos 1950, autores revisionistas argentinos como José María Rosa, Enrique Rivera, Milcíades Peña, Adolfo Saldías, Raúl Scalabrini Ortiz, etc, também quase desconhecidos no Brasil, ocuparam-se criticamente da guerra do Paraguai, defendendo a responsabilidade do Império e da Argentina mitrista e, comumente, rejeitando a tese da responsabilidade inglesa.6 .
Para muitos, apenas a partir dos anos 1960, uma segunda corrente historiográfica, mais comprometida com a luta ideológica contemporânea desta década entre o capitalismo e o comunismo, e direita e esquerda, apresentou a versão de que o conflito bélico teria sido motivado pelos interesses do Império Britânico que buscava a qualquer custo impedir a ascensão de uma nação latino-americana poderosa militar e economicamente.
Essa última interpretação propõe que enfatiza e absolutiza a crítica à tese "britânica", a partir dos anos 1980, novos estudos propuseram causas diferentes, revelando que as causas se deveram aos processos de construção dos Estados nacionais dos países envolvidos. Alguns aspectos devem ser tomados em consideração:
  1. As relações diplomáticas entre o Império do Brasil e o Reino Unido tinham sido rompidas em 1863, antes da Guerra do Paraguai, em função da Questão Christie, no quadro de um agravamento geral das relações bilaterais que remontava ao Bill Aberdeen de 1845. Essa situação duraria até 1865. Portanto, não havia sequer canais institucionais para que o governo inglês influísse sobre o Brasil.
  2. Havia investimentos ingleses em toda a região e não apenas nos Aliados. Por um lado, isso significa que os investimentos ingleses eram prejudicados pela Guerra; por outro, não justificaria o suposto apoio de um lado contra outro;
  3. O intervencionismo do Império do Brasil na região platina remonta à intervenção às duas intervenções joaninas (1811 e 1816), à anexação da Cisplatina (1821), à Guerra da Cisplatina (1825 a 1828) e à intervenção contra Rosas (1852). Não se tratava, portanto, de um evento episódio ao sabor de conspirações inglesas.
  4. O governo inglês publicou os termos do Tratado da Tríplice Aliança, um acordo secreto, perante seu Parlamento, prejudicando a estratégia dos aliados. Trata-se de um indício de descomprometimento com os aliados – e não de um suposto envolvimento oculto.
  5. Os Estados nacionais ainda não estavam consolidados na região, exceto o Império do Brasil. Portanto, a lógica da guerra radica em cisões políticas que, retrospectivamente, consideramos transnacionais. Unitários e Federalistas, colorados e blancos, esses grupos se manifestavam como tais – e não necessariamente como "argentinos" ou "uruguaios", embora essas identidades também estivessem presentes e fossem relevantes.
  6. Paraguai dos Lopes tentava uma abertura econômica (e não uma autarquia econômica). Seria desnecessário uma guerra para "abrir mercados".
  7. Paraguai certamente era caracterizado por um modelo econômico distinto daquele de seus vizinhos, mas não era uma economia promissora nem uma potência em ascensão. Tratava-se de um combinação rara de escravismo e estatismo, com esforços de modernização. Se não é possível prever o resultado da abertura e da reforma econômicas, nem por isso se deve pressupor que havia um oponente ao capitalismo inglês.
  8. Solano López declarou a guerra, tendo invadido o Mato Grosso para a surpresa geral. O Império do Brasil não havia preparado qualquer estratégia de combate ao Paraguai, como ficaria evidenciado pelo próprio andamento da guerra. Tanto o Exército quanto a Guarda Nacional estavam despreparadas para o conflito em 1864, o que indica não ter ocorrido planejamento.

Causas da guerra

Disputas territoriais na região platina (1864).


















Após o término da Guerra do Prata em 1852 com a vitória dos aliados (unitaristas argentinoscolorados uruguaios e Império do Brasil) sobre os federalistas argentinos e blancos uruguaios liderados por Juan Manuel de Rosas, a região do Prata foi pacificada. Contudo, não tardou para que logo as rivalidades se acirrassem entre a ArgentinaBrasilUruguai e Paraguai graças aos desentendimentos quanto às fronteiras entre os países7 , a liberdade de navegação dos rios platinos7 , as disputas pelo poder por parte das facções locais (federalistas e unitaristas na Argentina, e blancos e colorados no Uruguai) e rivalidades históricas de mais de três séculos.8 9 10 11 12 O historiador Francisco Doratioto conclui:

A Guerra do Paraguai (1864-1870)

Carneiro de Campos, prisioneiro deLópez.




Em represália à intervenção no Uruguai, no dia 11 de novembro de 1864, Francisco Solano López ordenou que fosse apreendido o navio brasileiro Marquês de Olinda.14 Nodia seguinte, o navio a vapor paraguaio Tacuari apresou o navio brasileiro, que subia o rio Paraguai rumo à então Província de Mato Grosso, levando a bordo o coronelFrederico Carneiro de Campos, recém-nomeado presidente daquela província e o médico Antônio Antunes da Luz, entre outros. A tripulação e os passageiros foram feitos prisioneiros e enviados à prisão, onde todos, sem exceção, sucumbiram à fome e aos maus tratos.
Sem perda de tempo, as relações com o Brasil foram rompidas e já no mês de dezembro o sul de Mato Grosso, atual Mato Grosso do Sul, foi invadido, antes mesmo de qualquer declaração formal de guerra ao Brasil, que só foi feita no dia 13 de dezembro. Três meses mais tarde, em 18 de Março de 1865, López declarou guerra à Argentina, que exigia neutralidade no conflito e não permitia que os exércitos paraguaios atravessassem seu território para combater no Uruguai e invadir o sul do Brasil.14Quando as notícias dos acontecimentos começavam a chegar a Dom Pedro II e seu ministério no Rio de Janeiro, capital do Império, em março de 1865 as tropas de Solano López penetraram em Corrientes (Argentina), visando o Rio Grande do Sul e o Uruguai, onde esperavam encontrar apoio dos blancos. O Uruguai, já então governado porVenâncio Flores, instalado pelo Governo Imperial brasileiro, solidarizou-se com o Brasil e a Argentina.

Primeira fase: ofensiva paraguaia (1864-1865)

Invasão das províncias do Mato Grosso, Corrientes e Rio Grande do Sul


Francisco Solano López, ditador do Paraguai.


Durante a primeira fase da guerra (1864-1865) a iniciativa esteve com os paraguaios. Os exércitos de López definiram as três frentes de batalha iniciais invadindo Mato Grosso, em dezembro de 1864, e, nos primeiros meses de 1865, primeiro houve a Invasão de Corrientes e depois a do Rio Grande do Sul. Atacando, quase ao mesmo tempo, no norte (Mato Grosso) e no sul (Rio Grande e Corrientes), os paraguaios estabeleceram dois teatros de operações.
A invasão de Mato Grosso foi feita ao mesmo tempo por dois corpos de tropas paraguaias. A província achava-se quase desguarnecida militarmente, e a superioridade numérica dos invasores permitiu-lhes realizar uma campanha rápida e bem-sucedida.
Um destacamento de cinco mil paraguaios, transportados em dez navios e comandados pelo coronel Vicente Barros, subiu o rio Paraguai e atacou o Forte de Nova Coimbra. A guarnição de 155 homens resistiu durante três dias, sob o comando do tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Porto Carrero, depois barão de Forte de Coimbra. Quando as munições se esgotaram, os defensores abandonaram a fortaleza e se retiraram, rio acima, a bordo da canhoneira Anhambaí, em direção a Corumbá. Depois de ocupar o forte já vazio, os paraguaios avançaram rumo ao norte, tomando, em janeiro de 1865, as cidades de Albuquerque e de Corumbá.
A segunda coluna paraguaia, comandada pelo coronel Francisco Isidoro Resquin e integrada por quatro mil homens, penetrou, por terra, em uma região mais ao sul de Mato Grosso, e logo enviou um destacamento para atacar a colônia militar fronteiriça de Dourados. O cerco, dirigido pelo major Martín Urbieta, encontrou brava resistência por parte do tenente Antônio João Ribeiro, atual patrono do Quadro Auxiliar de Oficiais, e de seus 16 companheiros, que morreram sem se render (29 de dezembro de 1864). Os invasores prosseguiram até NioaqueMiranda, derrotando as tropas do coronel José Dias da Silva. Enviaram em seguida um destacamento até Coxim, tomada em abril de 1865.

Oficial de cavalaria brasileiro (a esq.) e soldado paraguaio aprisionado (a dir.), entre 1865 e 1868. As vestimentas dos militares paraguaios eram precárias e praticamente todos andavam descalços.
As forças paraguaias, apesar das vitórias obtidas, não continuaram sua marcha até Cuiabá, a capital da província, onde o ataque inclusive era esperado — João Manuel Leverger havia fortificado o acampamento de Barão de Melgaço para proteger Cuiabá. O principal objetivo da invasão de Mato Grosso foi distrair a atenção do governo brasileiro para o norte do Paraguai, quando a decisão da guerra se daria no sul (região mais próxima do estuário do Prata). É o que se chama de uma manobra diversionista, destinada a iludir o inimigo.
A invasão de Corrientes e do Rio Grande do Sul foi a segunda etapa da ofensiva paraguaia. Para levar apoio aos blancos, no Uruguai, as forças paraguaias tinham que atravessar território argentino. Em março de 1865, López pediu ao governo argentino autorização para que o exército comandado pelo general Venceslau Robles, com cerca de 25 mil homens, atravessasse a província de Corrientes. O presidente Bartolomeu Mitre, aliado do Brasil na intervenção no Uruguai, negou-lhe a permissão. Em resposta a esta negativa, no dia 18 de março de 1865, o Paraguai declarou guerra à Argentina.
Na sexta-feira de 13 de abril de 1865, uma esquadra paraguaia de cinco belonaves, descendo o rio Paraná, aprisionou navios argentinos no porto fluvial de Corrientes. Em seguida, as tropas do general Robles tomaram a cidade. Ao invadir Corrientes, López pensava obter o apoio do poderoso caudilho argentino General Justo José de Urquiza, governador das províncias de Corrientes e Entre Ríos, chefe federalista hostil a Mitre e ao governo de Buenos Aires. A invasão da Argentina por López, entretanto, teve efeito oposto. Urquiza e outros federalistas argentinos simpatizavam com os blancos uruguaios. O assassinato do General blanco Leandro Gómez pelos colorados após a sua heróica defesa de Payssandú do ataque dos brasileiros e colorados em janeiro de 1865 causou ressentimentos nos federalistas argentinos. As ações de López deram aos federalistas argentinos apenas duas opções: lutar contra o invasor ou continuar neutros. Urquiza, inicialmente, prometeu lutar contra López. A atitude ambígua assumida por Urquiza, entretanto, manteve estacionadas as tropas paraguaias, que avançaram posteriormente cerca de 200 km em direção ao sul, mas terminaram por perder a ofensiva.

Em ação conjugada com as forças de Robles, uma tropa de dez mil homens sob as ordens do tenente-coronel Antônio de la Cruz Estigarribia cruzou a fronteira argentina ao sul de Encarnación, em maio de 1865, dirigindo-se para o Rio Grande do Sul. Atravessou-o no rio Uruguai na altura da vila de São Borja e a tomou em 12 de junho. Uruguaiana, mais ao sul, foi tomada em 5 de agosto sem apresentar qualquer resistência significativa ao avanço paraguaio.

A primeira reação brasileira

A primeira reação brasileira foi enviar uma expedição para combater os invasores em Mato Grosso. A coluna de 27.800 homens comandados pelo coronel Manuel Pedro Drago saiu de Uberaba, em Minas Gerais, em abril de 1865, e só chegou a Coxim em dezembro do mesmo ano, após uma difícil marcha de mais de dois mil quilômetros através de quatro províncias do Império. Mas encontrou Coxim já abandonada pelo inimigo. O mesmo aconteceu em Miranda, onde chegou em setembro de 1866. Em janeiro de 1867, o coronel Carlos de Morais Camisão assumiu o comando da coluna, reduzida a 1.680 homens, e decidiu invadir o território paraguaio, onde penetrou até Laguna, em abril. Perseguida pela cavalaria inimiga, a coluna foi obrigada a recuar, ação que ficou conhecida como a retirada da Laguna.
Apesar dos esforços da coluna do coronel Camisão e da resistência organizada pelo presidente da província, que conseguiu libertar Corumbá em junho de 1867, a região invadida permaneceu sob o controle dos paraguaios. Só em abril de 1868 é que os invasores se retiraram, transferindo as tropas para o principal teatro de operações, no sul do Paraguai.

O Tratado da Tríplice Aliança


Cabo brasileiro desconhecido que pertencia ao 1.º Batalhão de Voluntários da Pátria, infantaria pesada,1865.
No dia 1.º de maio de 1865, o Brasil, a Argentina e o Uruguai assinaram, em Buenos Aires, o Tratado da Tríplice Aliança, contra o Paraguai.
As forças militares da Tríplice Aliança eram, no início da guerra, francamente inferiores às do Paraguai, que contava com mais de 60 mil homens e uma esquadra de 23 vapores e cinco navios apropriados à navegação fluvial. Sua artilharia possuía cerca de 400 canhões.
As tropas reunidas do Brasil, da Argentina e do Uruguai, prontas a entrar em ação, não chegavam a 1/3 das paraguaias. A Argentina dispunha de aproximadamente 8 mil soldados e de uma esquadra de quatro vapores e uma goleta. O Uruguai entrou na guerra com menos de três mil homens e nenhuma unidade naval. O Brasil possuía menos de 12 mil soldados treinados.15 A vantagem dos brasileiros estava em sua marinha de guerra: 42 navios com 239 bocas de fogo e cerca de quatro mil homens bem treinados na tripulação. E grande parte da esquadra já se encontrava na bacia do Prata, onde havia atuado, sob o comando do Marquês de Tamandaré, na intervenção contra Aguirre.
Na verdade, o Brasil achava-se despreparado para entrar em uma guerra. Apesar de sua imensidão territorial e densidade populacional, o Brasil tinha um exército mal-organizado e muito pequeno. E, na verdade, tal situação era reflexo da organização escravista da sociedade, que, marginalizando a população livre não proprietária, dificultava a formação de um exército com senso de responsabilidade, disciplina e patriotismo. Além disso, o serviço militar era visto como um castigo sempre a ser evitado e o recrutamento era arbitrário e violento. As tropas utilizadas até então nas intervenções feitas no Prata eram constituídas basicamente pelos contingentes armados de chefes políticos gaúchos e por alguns efetivos da Guarda Nacional. Um reforço era, portanto, necessário. Para garantir um número de soldados suficientes o governo criou os batalhões de Voluntários da Pátria, cidadãos que se apresentavam para lutar inicialmente instigados pelo sentimento patrióticos, mas com o passar do tempo recrutados à força.15 Muitos eram escravos enviados por fazendeiros e negros alforriados. Acavalaria era formada pela Guarda Nacional do Rio Grande do Sul.
Segundo o Tratado da Tríplice Aliança, o comando supremo das tropas aliadas caberia a Bartolomeu Mitrepresidente da Argentina. E foi assim na primeira fase da guerra.

Os Aliados temporariamente recapturam Corrientes

Uma pequena força de 3.846 homens sob o comando do General Wenceslao Paunero observou a atividade do inimigo. Percebendo que os paraguaios haviam deixado Corrientes deficientemente protegida ao marcharem para a margem leste do rio, o General embarcou suas tropas argentinas, juntamente com 364 brasileiros e 500 mercenários europeus, na esquadra brasileira, subiu o Rio Paraná e, em 25 de maio (o feriado nacional argentino) recapturaram Corrientes após árdua luta.
López imediatamente mandou tropas para retomar a cidade, enquanto as tropas incursoras recuavam, tendo mantido Corrientes por menos de vinte e quatro horas. A vitória aliada, apesar de efêmera, serviu para levantar o moral. O ataque também demonstrou a López a vulnerabilidade das linhas de comunicação de seu exército invasor.

A Batalha do Riachuelo

Batalha do Riachuelo, por Eduardo de Martino.









Foi no setor naval que o Brasil, mais bem preparado, infligiu, logo no primeiro ano de guerra, uma pesada derrota aos paraguaios na batalha do Riachuelo.
Na bacia do rio da Prata as comunicações eram feitas pelos rios; quase não havia estradas. Quem controlasse os rios ganharia a guerra. Todas as fortalezas paraguaias tinham sido construídas nas margens do baixo curso (parte do rio perto de sua foz) do rio Paraguai.
Em 11 de junho de 1865, no rio Paraná, travou-se a Batalha Naval do Riachuelo, na qual a esquadra comandada pelo chefe-de-divisão Francisco Manuel Barroso da Silvaderrotou a esquadra paraguaia, comandada por Pedro Inacio Meza, cortando as comunicações com o tenente-coronel paraguaio Antonio de la Cruz Estigarribia, que estava atacando o Rio Grande do Sul. A vitória do Riachuelo teve notável influência nos rumos da guerra: impediu a invasão da província argentina de Entre Ríos, destruiu o poderio naval paraguaio (tornando-se impossível a permanência dos paraguaios em território argentino) e cortou a marcha, até então triunfante, de López. Ela praticamente decidiu a guerra em favor da Tríplice Aliança, que passou a controlar, a partir de então, os rios da bacia platina até a entrada do Paraguai. Desse momento até a derrota final, o Paraguai teve de recorrer à guerra defensiva.

O Paraguai invade o Rio Grande do Sul


Uma unidade de cavalaria paraguaia (à esquerda) é atacada por um soldado montado aliado (à direita). Após os primeiros anos de guerra, os paraguaios eram obrigados a comerseus cavalos para sobreviverem. Nos últimos anos do conflito, também faltavam homens16 .
Simultaneamente ao ataque naval, uma força de 10.000 paraguaios atravessou a província argentina das Missões. Alcançando o Rio Uruguai, a força se dividiu em duas colunas e rumaram para o sul, marchando em ambas as margens do rio. O tenente-coronel Antonio de la Cruz Estigarribia, o comandante geral, liderou cerca de 7.500 homens na margem leste, e o Major Pedro Duarte comandou 5.500 homens na margem oeste. Os paraguaios encontraram pouca resistência dos argentinos na margem oeste ou dos brasileiros na margem leste. López acreditava que se conseguisse controlar o Rio Grande do Sul e invadir o Uruguai, os escravos brasileiros iriam sublevar-se e os recém expulsos blancos uruguaios voltariam a pegar em armas. Além disso, emissários paraguaios incitaram a sedição entre as tropas irregulares formadas por Urquiza emEntre Ríos. Urquiza, que havia recebido o comando da vanguarda aliada, voluntariou-se para retornar à província e restaurar a ordem. Em vez disso, ele retornou ao seurancho, aumentou sua fortuna vendendo cavalos aos aliados, e as tropas irregulares desertaram para suas fazendas e ranchos.
O Coronel Estigarribia atravessou o Rio Uruguai e ocupou sucessivamente, de junho a agosto, as povoações de São BorjaItaqui e Uruguaiana. Os contatos com o Major Duarte foram interrompidos pelo assédio de duas embarcações armadas brasileiras, comandadas pelo Tenente Floriano Peixoto, e pelo pântano que os separavam.
O presidente uruguaio Flores decidiu atacar a menor das forças paraguaias. Em 17 de agosto, na batalha de Jataí, na margem direita do rio Uruguai, a coluna sob as ordens do major Pedro Duarte, a qual pretendia chegar ao Uruguai, foi detida por Flores.

Segunda fase: Contra-ataque aliado (1865-66)

Rendição de Uruguaiana e o recuo das tropas paraguaias




Em 16 de julho, Exército Brasileiro chegou à fronteira do Rio Grande do Sul e logo depois cercou Uruguaiana. A tropa recebeu reforços e enviou pelo menos três intimações de rendição a Estigarribia. Em 11 de setembro Dom Pedro II chegou ao local do cerco, onde já estavam os presidentes argentinoBartolomé Mitre e uruguaio Venancio Flores, além de diversos líderes militares, como o Almirante Tamandaré. As forças aliadas do cerco contavam então com 17346 combatentes, sendo 12393 brasileiros, 3802 argentinos e 1220 uruguaios, além de 54 canhões. A rendição veio em 16 de setembro quando Estigarribia entrou em acordo em relação às condições exigidas.
Encerrava-se com esse episódio a primeira fase da guerra, em que Solano López lançara sua grande ofensiva nas operações de invasão da Argentina e do Brasil. No início de outubro, as tropas paraguaias de ocupação em Corrientes receberam de López ordem para retornar a suas bases em Humaitá. Nessa altura, as tropas aliadas estavam-se reunindo sob o comando de Mitre no acampamento de Concórdia, na província argentina de Entre Ríos, com o marechal-de-campo Manuel Luís Osório à frente das tropas brasileiras. Parte destas deslocou-se para Uruguaiana, onde foi reforçar o cerco a esta cidade pelo exército brasileiro no Rio Grande do Sul, comandado pelo tenente-generalManuel Marques de Sousabarão e depois Conde de Porto Alegre. Os paraguaios renderam-se no dia 18 de Setembro de 1865.
Nos meses seguintes, as tropas aliadas, com Mitre como comandante-em-chefe, libertavam os últimos redutos paraguaios em território argentino, as cidades de Corrientes e São Cosme, na confluência dos rios RioParaná e Paraguai, no final de 1865. No fim do ano de 1865, a ofensiva era da Tríplice Aliança. Seus exércitos já contavam mais de 50 mil homens e se preparavam para invadir o Paraguai.

A invasão do Paraguai


Fortalecidos, com um efetivo de cinquenta mil homens, os aliados lançaram-se à ofensiva. A invasão do Paraguai iniciou-se subindo o curso do rio Paraguai, a partir do Passo da Pátria. Sob o comando do general Manuel Luís Osório, e com o auxílio da esquadra imperial, transpuseram o rio Paraná, em 16 de abril de 1866, e conquistaram posição em território inimigo, em Passo da Pátria, uma semana depois.14 De abril de 1866 a julho de 1868, as operações militares concentraram-se na confluência dos rios Paraguai eParaná, onde estavam os principais pontos fortificados dos paraguaios. Durante mais de dois anos o avanço dos invasores foi bloqueado naquela região, apesar das primeiras vitórias da Tríplice Aliança.
A primeira posição a ser tomada foi a Fortaleza de Itapiru. Após a batalha do Passo da Pátria e a do Estero Bellaco (2 de maio), as forças aliadas acamparam nos pântanosde Tuiuti, em 20 de maio, onde sofreram um ataque paraguaio quatro dias depois. A primeira batalha de Tuiuti, a maior batalha campal da história da América do Sul e uma das mais importantes e sangrentas do conflito, foi vencida pelos aliados em 24 de Maio de 1866 e deixou um saldo de 10.000 mortos.

O 26º Batalhão de Voluntários da Pátria proveniente da distante província do Ceará em ação de guerrilha, entre1867 e 1868.
Por motivos de saúde, em julho de 1866 Osório passou o comando do 1.º Corpo de Exército brasileiro ao general Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão. Na mesma época, chegava ao teatro de operações o 2.º Corpo de Exército, trazido do Rio Grande do Sul pelobarão de Porto Alegre (10.000 homens).
O caminho para Humaitá não fora desimpedido. O comandante Mitre aproveitou as reservas de dez mil homens trazidos pelo barão de Porto Alegre e decidiu atacar as baterias do Forte de Curuzú e do Forte de Curupaiti, que guarneciam a direita da posição de Humaitá, às margens do rio Paraguai. A bateria de Curuzu foi conquistada em 3 de setembro pelo barão de Porto Alegre.17 Não se obteve, porém, o mesmo êxito em Curupaiti, que resistiu ao ataque de 20 mil argentinos e brasileiros, guiados por Mitre e Porto Alegre, com apoio da esquadra do almirante Tamandaré. Em 22 de setembro, os aliados foram dizimados pelo inimigo: quase cinco mil homens morreram em poucas horas, na única vitória defensiva paraguaia em toda campanha.14 Este ataque fracassado criou uma crise de comando e deteve o avanço dos aliados.
Nessa fase da guerra, destacaram-se muitos militares brasileiros. Entre eles, os heróis de Tuiuti: o general José Luís Mena Barreto, o brigadeiro Antônio de Sampaio, patrono da arma de infantaria do Exército brasileiro, o tenente-coronel Emílio Luís Mallet, patrono da artilharia e o próprio Osório, patrono da cavalaria, além do tenente-coronel João Carlos de Vilagrã Cabrita, patrono da arma de engenharia, morto em Itapiru.

Terceira fase: estagnação (1866-1868)

O comando de Caxias


Operações das Forças Aliadas para a Passagem de Humaitá 1866-1868.

















No segundo período da guerra (1866-1869), os desentendimentos entre Osório (comandante das forças brasileiras) e o presidente argentino, que se opunha às perseguições aos paraguaios, levou o governo brasileiro a substituí-lo. Designado em 10 de outubro de 1866 para o comando das forças brasileiras, o marechal Luís Alves de Lima e Silva,14 marquês e, posteriormente, Duque de Caxias. Assumiu suas funções em Tuiuti, em 19 de novembro, encontrando o exército praticamente paralisado. Os contingentes argentinos e uruguaios vinham sendo retirados aos poucos do exército dos aliados, assolado por epidemias. Desentendimentos entre Venâncio Flores (Uruguai) e Mitre (Argentina) e problemas internos fizeram ambos se retirarem do combate e voltarem a seus países, deixando o Brasil praticamente sozinho. Tamandaré foi substituído no comando da esquadra pelo almirante Joaquim José Inácio, futuro visconde de Inhaúma. Paralelamente, Osório organizou um 3.º corpo de exército no Rio Grande do Sul, com mais de cinco mil homens..14 Na ausência de Mitre,Caxias assume o comando geral e providenciou a reestruturação do exército.
Entre novembro de 1866 e julho de 1867, Caxias organizou um corpo de saúde (para dar assistência aos inúmeros feridos e combater a epidemia de cólera-morbo) e um sistema de abastecimento das tropas. Conseguiu também que a esquadra imperial, que se ressentia do comando de Mitre, colaborasse nas manobras contra Humaitá. Nesse período, as operações militares limitaram-se a escaramuças com os paraguaios e a bombardeios da esquadra contra Curupaiti. López aproveitava a desorganização do inimigo para reforçar suas fortificações em Humaitá.
Apesar dos esforços de Caxias, os aliados só reiniciaram a ofensiva em 22 de julho de 1867. A marcha de flanco pela ala esquerda das fortificações paraguaias constituía a base tática de Caxias: ultrapassar o reduto fortificado paraguaio, cortar as ligações entre Assunção e Humaitá e submeter esta última a um cerco. Com este fim, Caxias iniciou a marcha em direção a Tuiu-Cuê. Em  de agosto Mitre retornou ao comando e insistia no ataque pela ala direita, que já se mostrara desastroso em Curupaiti. Embora a manobra de Caxias tenha sido bem-sucedida, o tempo decorrido possibilitou a López fortificar-se também nessa região e fechar de vez o chamado Quadrilátero.

Quarta fase: os Aliados retomam a ofensiva (1868-1869)

Tomada de Humaitá


Passagem de Humaitá: episódio da guerra do Paraguai ocorrido em1868, em que a esquadra brasileira forçou a travessia da posição fortificada, sob bombardeio inimigo. O quadro mostra o momento em que o Couraçado Bahia transpunha as amarras, seguido pelo terceiro par, o Tamandaré e Pará.
Mitre deu ordens para que a esquadra imperial forçasse a passagem em Curupaiti e Humaitá. Em 15 de agosto, duas divisões de cinco encouraçados ultrapassaram, sem perdas, Curupaiti, mas foram obrigadas a deter-se frente aos poderosos canhões da fortaleza de Humaitá. O fato causou novas dissensões no alto comando aliado. Mitre desejava que a esquadra prosseguisse. Os brasileiros, entretanto, consideravam imprudente e inútil prosseguir, enquanto não se concatenassem ataques terrestres para envolver o Quadrilátero, que se iniciaram, finalmente, em 18 de agosto.
A partir de Tuiu-Cuê, os aliados rumaram para o norte e tomaram São SolanoVila do Pilar e Tayi, às margens do rio Paraguai, onde completaram o cerco da fortaleza por terra e cortaram as comunicações fluviais entre Humaitá e Assunção. Em 3 de novembro de 1867, como reação, López atacou a retaguarda da posição aliada de Tuiuti. Nessa segunda batalha de Tuiuti, López esteve próximo da vitória, mas, graças ao reforço trazido pelo general Porto Alegre, os brasileiros venceram, com pesadas perdas.14
Em janeiro de 1868, com o afastamento definitivo de Mitre, que retornou à Argentina, Caxias voltou a assumir o comando geral dos aliados.14 Em 19 de fevereiro a esquadra imperial, capitão-de-mar-e-guerra Delfim Carlos de Carvalho, depois barão da Passagem, forçou a passagem de Humaitá. Apesar os navios encouraçados terem ultrapassado a fortaleza, chegando a bombardear Assunção, só em 25 de julho de 1868 Humaitá, totalmente cercada, caiu após um demorado cerco.

Dezembrada


Vista do mercado de Lambaré, situado no lado esquerdo da fortaleza de Humaitá (após sua conquista pelos aliados), 1868. Note-se a bandeira do Império do Brasil do lado direito.
Solano López deixara Humaitá, com parte de suas tropas, em março, indo se instalar em San Fernando. Ali descobriu que alguns funcionários de seu governo e seu irmão Benigno tramavam derrubá-lo. Formado um conselho de guerra para julgar os implicados, centenas foram executados, no que ficou conhecido como o massacre de San Fernando.

Coronel Faria da Rocha em revista às tropas brasileiras em frente ao mercado de Tayi, c.1868.















Efetuada a ocupação de Humaitá, as forças aliadas comandadas por Caxias marcharam 200 km até Palmas, fronteiriça às novas fortificações inimigas (30 de setembro). Situadas ao longo do arroio Piquissiri, essas fortificações barravam o caminho para Assunção, apoiadas nas Fortificações de Lomas Valentinas. Ali, López havia concentrado 18 mil paraguaios em uma linha fortificada que explorava habilmente os acidentes do terreno e se apoiava nos fortes de Angostura e Itá-Ibaté. Renunciando ao combate frontal, o comandante brasileiro idealizou, então, a mais brilhante e ousada operação do conflito: a manobra do Piquissiri. Em 23 dias fez construir uma estrada de 11 km através do Chaco pantanoso que se estendia pela margem direita do rio Paraguai, enquanto forças brasileiras e argentinas encarregavam-se de diversões frente à linha do Piquissiri. Executou-se então a manobra: três corpos do Exército brasileiro, com 23.000 homens, foram transportados pela esquadra imperial de Humaitá para a margem direita do rio, percorreram a estrada do Chaco em direção ao nordeste, reembarcaram em frente ao porto de Villeta, e desceram em terra no porto de Santo Antônio e Ipané, novamente na margem esquerda, vinte quilômetros à retaguarda das linhas fortificadas paraguaias do Piquissiri. López foi inteiramente surpreendido por esse movimento, tamanha era sua confiança na impossibilidade de grandes contingentes atravessarem o Chaco.












Na noite de 5 de dezembro, as tropas brasileiras encontravam-se em terra e, em vez de avançar para a capital, já desocupada pela população e bombardeada pela esquadra, iniciaram no dia seguinte o movimento para o sul, conhecido como a "dezembrada" - a série de vitórias obtidas por Caxias em dezembro de 1868. No mesmo dia 6, o general Bernardino Caballero tentou barrar-lhes a passagem na ponte sobre o arroio Itororó. Na tomada da ponte de Itororó, Caxias partiu a galope em direção ao inimigo, com espadaem punho, exclamando: "sigam-me os que forem brasileiros!". Vencida a batalha de Itororó, o Exército brasileiro prosseguiu na marcha e aniquilou na Batalha de Avaí, localidade de mesmo nome, em 11 de dezembro, as duas divisões de Caballero.

Soldados brasileiros ajoelham-se ante a estátua de Nossa Senhora da Conceição durante uma procissão em30 de maio de 1868.
Em 21 de dezembro, tendo recebido o necessário abastecimento por Villeta, os brasileiros atacaram o Piquissiri pela retaguarda e, após seis dias de combates contínuos, conquistaram a posição de Lomas Valentinas, com o que obrigou a guarnição de Angostura a render-se em 30 de dezembro. As batalhas da Dezembrada exibiram espantosas mortandades dos dois lados, bem como tentativas de recuo das tropas brasileiras, impedidas graças à presença de Caxias na linha de frente. López, acompanhado apenas de alguns contingentes, fugiu para o norte, na direção da cordilheira.
Após destruir o exército paraguaio em Lomas Valentinas, Caxias acreditava que a guerra tinha acabado. Não se preocupou em organizar e chefiar a perseguição de López, pois parecia que o ditador fugia para se asilar em outro país e não, como se viu depois, para improvisar um exército e continuar a resistir no interior.
No dia 24 de dezembro os três novos comandantes da Tríplice Aliança (Caxias, o argentino Gelly y Obes e o uruguaio Enrique Castro) enviaram uma intimação a Solano López para que se rendesse. Mas López recusou-se a ceder e, acompanhado apenas de alguns contingentes, fugiu para o norte, na direção da cordilheira, chegando aCerro León.
O comandante-em-chefe brasileiro se dirigiu para Asunción, evacuada pelos paraguaios e ocupada em 1.º de janeiro de 1869 por tropas imperiais comandadas pelo coronelHermes Ernesto da Fonseca,14 pai do futuro Marechal Hermes da Fonseca. No dia 5, Caxias entrou na cidade com o restante do exército e 13 dias depois, por motivo de saúde, deixou o comando e regressou ao Brasil. A partida de Caxias e de seus principais chefes militares fez crescer entre as tropas o desânimo, com a multiplicação dos pedidos de dispensa dos oficiais e voluntários.

Quinta fase: caça a Solano López (1869-1870)

Fim da guerra: o comando do Conde d'Eu

Prisioneiros paraguaios durante a ocupação da capital, Assunção.















No terceiro período da guerra (1869-1870), o genro do imperador Dom Pedro IILuís Filipe Gastão de OrléansConde d'Eu, foi nomeado para dirigir a fase final das operações militares no Paraguai, pois buscava-se, além da derrota total do Paraguai, o fortalecimento do Império Brasileiro. O marido da princesa Isabel era um dos poucos membros da família imperial com experiência militar, já que na década de 1850 participara, como oficial subalterno, da campanha espanhola na Guerra do Marrocos. A indicação de um membro da família imperial pretendia diminuir as dificuldades operacionais das forças brasileiras, problema agravado pelos muitos anos de campanha, pela insatisfação dos veteranos e pelos conflitos, políticos e pessoais, que se alastravam entre os oficiais mais experientes.
Em agosto de 1869, a tríplice aliança instalou em Asunción um governo provisório fantoche aliado de contrários a Solano, encabeçado pelo paraguaio Cirilo Antonio Rivarola. O Império acelerou o processo para a formação do governo, que prometerá realizar eleições democráticas no ano seguinte e criar uma assembleia constituinte.
Solano López, prosseguindo na resistência, refez um pequeno exército de 5000 homens, a maioria velhos, crianças e veteranos semi-inválidos14 e 36 canhões na região montanhosa de Ascurra-Caacupê-Peribebuíaldeia que transformou em sua capital. À frente de 12 mil homens, o conde d'Eu chefiou a campanha contra a resistência paraguaia, a chamada Campanha das Cordilheiras, encerrada em 18 de agosto.14

Conde d´Eu em revista a tropas brasileiras em campo aberto, 1869.














Principalmente no Brasil, após os conservadores terem voltado ao poder no camará imperial, se tornou prioridade a reconstrução do estado paraguaio. Para este ser reconhecido, era necessário a vitória sobre Solano. O processo foi acelerado pela entrada no governo argentino, em 1868, de Domingo Faustino Sarmiento, cujos desejos expansionistas o Império do Brasil temia.10

Coronel Joca Tavares (terceiro sentado, da esquerda para a direita) e seus auxiliares imediatos, incluindoJosé Francisco Lacerda, mais conhecido como "Chico Diabo" (terceiro em pé, da esquerda para a direita).
exército brasileiro flanqueou as posições inimigas de Ascurra e venceu a batalha de Peribebuí (12 de agosto), para onde López transferira sua capital. Após a batalha de Peribuí, o Conde d'Eu parece ter-se exasperado com a obstinação paraguaia em continuar a luta, nada fazendo para evitar a degola de prisioneiros capturados durante e depois dos combates. Na batalha seguinte, Campo Grande ou Nhu-Guaçu (16 de agosto), as forças brasileiras se defrontaram com um exército formado, em sua maioria, por adolescentes e crianças e idosos, recrutados a força pelo ditador paraguaio. A derrota paraguaia encerrou o ciclo de batalhas da guerra. Os passos seguintes consistiram na mera caçada a López, que abandonou Ascurra e, seguido por menos de trezentos homens, embrenhou-se nas matas, marchando sempre para o norte.
Dois destacamentos foram enviados em perseguição ao presidente paraguaio, que se internara nas matas do norte do país acompanhado de 200 homens. No dia 1.º de março de 1870, as tropas do general José Antônio Correia da Câmara (1824-1893), o Visconde de Pelotas, surpreenderam o último acampamento paraguaio, em Cerro Corá,14 onde Solano López foi ferido a lança pelo cabo Chico Diabo e depois baleado, nas barrancas do arroio Aquidabanigui, após recusar-se à rendição. Depois de Cerro Corá, as tropas brasileiras ficaram eufóricas, assassinando civis, pondo fogo em acampamentos e matando feridos e doentes que se encontravam nos ranchos.
Não era esse o desejo do imperador D.Pedro II, que preferia ter López preso a morto. No Rio de Janeiro, a morte de Lopéz foi muito bem recebida e o imperador recuperou sua popularidade que havia sido abalada pela dispendiosa guerra. Em 20 de junho de 1870, Brasil e Paraguai assinaram um acordo preliminar de paz.10

Consequências

Mortalidade


Cadáveres paraguaios após aBatalha de Boquerón, julho de 1866(Bate & Co. W., albumen print, 11 x 18 cm, 1866; Museo MitreBuenos Aires).
O Paraguai sofreu grande redução em sua população. A guerra acentuou um desequilíbrio entre a quantidade de homens. Algumas fontes18 citam que 75% da população paraguaia teriam perecido ao final da Guerra.
Dos cerca de 160 mil brasileiros que combateram na Guerra do Paraguai as melhores estimativas apontam cerca de 50 mil óbitos e outros mil inválidos. Outros ainda estimam que o número total de combatentes pode ter chegado a 400 mil, com sessenta mil mortos em combate ou por doenças.
As forças uruguaias contaram com quase 5.600 homens, dos quais pouco mais de 3.100 morreram durante a guerra devido às batalhas ou por doenças.
Já a Argentina perdeu cerca de 18 mil combatentes dentre os quase 30 mil envolvidos. Outros 12 mil civis morreram devido principalmente a doenças.
Fato é que a Guerra do Paraguai não se diferenciou dos demais conflitos ocorridos durante o século XIX. As altas taxas de mortalidade não foram decorrentes somente por conta dos encontros armados. Doenças decorrentes da má alimentação e péssimas condições de higiene parecem ter sido a causa da maior parte das mortes. Entre os brasileiros, pelo menos metade das mortes tiveram como causa doenças típicas de situações de guerra do século XIX. A principal causa mortis durante a guerra parece ter sido o cólera.

Pós-guerra


Em laranja, os territórios, segundo a historiografia paraguaia, perdidos para os países vencedores da Guerra do Paraguai.
Não houve um tratado de paz em conjunto. Embora a guerra tenha terminado em março de 1870, os acordos de paz não foram concluídos de imediato. As negociações foram obstadas pela recusa argentina em reconhecer a independência paraguaia.
O Brasil não aceitava as pretensões da Argentina sobre uma grande parte do Grande Chaco, região paraguaia rica em quebracho(produto usado na industrialização do couro). A questão de limites entre o Paraguai e a Argentina foi resolvida através de longa negociação entre as partes. A única região sobre a qual não se atingiu um consenso — a área entre o rio Verde e o braço principal do rio Pilcomayo — foi arbitrada pelo presidente estado-unidense Rutherford Birchard Hayes que a declarou paraguaia. O Brasil assinou um tratado de paz em separado com o Paraguai, em 9 de janeiro de 1872, obtendo a liberdade de navegação no rio Paraguai. Foram confirmadas as fronteiras reivindicadas pelo Brasil antes da guerra. Estipulou-se também uma dívida de guerra que foi a primeira dívida da história paraguaia e foi intencionalmente subdimensionada por parte do governo imperial do Brasil mas que só foi efetivamente perdoada em 1943 porGetúlio Vargas, em resposta a uma iniciativa idêntica da Argentina. O Paraguai perdeu 90 mil quilômetros quadrados para o Brasil nos tratados de paz.19 .
O reconhecimento da independência do Paraguai pela Argentina só foi feito na Conferência de Buenos Aires, em 1876, quando a paz foi estabelecida definitivamente.
Em dezembro de 1975, quando os presidentes Ernesto Geisel e Alfredo Stroessner assinaram em Assunção um Tratado de Amizade e Cooperação20 , o governo brasileiro devolveu ao Paraguai troféus da guerra.21 .

Conclusões


Preparativos para o festejo da vitória no Brasil, 1870.
Resultados da guerra:22
PARAGUAI: destruição do Estado existente, perda de territórios vizinhos e ruína da economia paraguaia, de modo que mesmo décadas depois, não conseguiu se desenvolver da mesma forma que os vizinhos. Perdas na guerra: até 69% da população, a maioria devido a doenças, fome e exaustão física.
BRASIL: a guerra expôs a fragilidade militar-estrutural do Império, devido à escravidão, principalmente, mas saiu vitorioso militarmente e fortaleceu sua hegemonia até 1875. Reflexos internos: desequilíbrio orçamentário e no Tesouro brasileiro, além da forte dissociação entre Exército e monarquia, devido ao sentimento de identidade que se construiu durante a guerra. Perdas na guerra: 50 mil homens, devido a doenças e ao rigor do clima.
O tesouro real indicou um gasto de 614 mil contos de réis, provindos das seguintes fontes23 :
  • Empréstimo Estrangeiro: 49 (em milhares de contos de Réis)
  • Empréstimo Interno: 27
  • Emissão de dinheiro: 102
  • Emissão de títulos: 171
  • Imposto: 265
O conflito custou, pois, ao Brasil, quase onze anos do orçamento público anual, em valores de pré-guerra, o que permite compreender melhor o persistente "déficit" público nas décadas de 1870 e 1880. Também chama a atenção, nos números sobre as fontes dos recursos gastos na luta, a participação proporcionalmente pequena de empréstimos externos.
O Brasil levou à guerra em torno de 139 mil homens, de um total de pouco mais de 9 milhões de habitantes, ou seja, cerca de 1.5% da população. A origem conhecida dos efetivos, sem incluir os efetivos da Marinha, foram24 :
  • Voluntários da Pátria: 54.992
  • Guarda Nacional: 59.669
  • Recrutamento e Escravos Libertos: 8.489
  • Total: 123.148
ARGENTINA: passou por inúmeras rebeliões federalistas contra o governo nacional, pelo descontentamento com a guerra; economicamente foi beneficiada, pois abasteceu as tropas brasileiras com produtos (principalmente carne e cereais) oriundos de Buenos Aires, mas também houve sangria do Tesouro nacional. A guerra contribuiu para a consolidação do Estado nacional argentino e para dinamizar sua economia. Perdas na guerra: 30 mil homens.
URUGUAI: sofreu impactos menores. Perdas na guerra: 5.000 soldados.
Alterações no plano regional: a guerra de certa forma substituiu a histórica rivalidade entre Argentina e Brasil pela cooperação entre os dois grandes países, uma aliança estratégica duradoura, embora as desconfianças entre os lados continuem até hoje. Durante todo o tempo da campanha, as províncias de Entre Rios e Corrientes abasteceram as tropas brasileiras com gado, gêneros alimentícios e outros produtos. Economicamente, os mais beneficiados foram os comerciantes argentinos durante a guerra.
O Brasil, que sustentou praticamente sozinho a guerra, pagou um preço alto pela vitória. Durante os cinco anos de lutas, as despesas do Império chegaram ao dobro de sua receita, provocando uma crise financeira. A escravidão passou a ser questionada, pois os escravos que lutaram pelo Brasil permaneceram escravos.2
Exército Brasileiro passou a ser uma força nova e expressiva dentro da vida nacional. Transformara-se numa instituição forte que, com a guerra, ganhara tradições e coesão interna e representaria um papel significativo no desenvolvimento posterior da história do país. Além disso, houve a formação de um inquietante espírito corporativista no exército, que futuramente, formaria a República Federativa Brasileira.

Na cultura popular

Romances

  • Carlos de Oliveira Gomes, A Solidão Segundo Solano López, Civilização Brasileira, 1980;25 Círculo do Livro, 1982.
  • Joseph Eskenazi Pernidji e Mauricio Eskenazi e Pernidji. Homens e Mulheres na Guerra do Paraguai. Imago, 2003.
  • Lily Tuck. The News From Paraguay. Harper Perennial, 2004.
  • DORATIOTO, Francisco. Maldita guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

Filmes

 Feridas abertas da Guerra do Paraguai

Reportagem: Diego Antonelli. Fotos: Marcelo Andrade.
Parte 1: 15 de dezembro de 2014

Cento e cinquenta anos depois, a Guerra do Paraguai ainda é uma ferida aberta de cicatrização lenta. Os rancores da batalha mais sangrenta da América do Sul, que matou cerca de 270 mil paraguaios e 100 mil aliados, persistem até hoje. Um dos conflitos não resolvidos está ligado às divergentes versões de paraguaios e brasileiros para explicar as causas do confronto. Do outro lado da trincheira, estão os embates diplomáticos sobre a não devolução dos troféus de uma guerra iniciada em 1864 e que se estendeu até 1870.

O exemplo mais simbólico dessa história é o canhão “El Cristiano” (O Cristão), que está no Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro. Na década de 1980, o Brasil chegou a devolver alguns objetos da guerra, como uma espada usada pelo então presidente paraguaio Solano López e documentos confiscados durante o conflito. Mas não o canhão de 12 toneladas. E isso ainda incomoda.

Como faz parte do patrimônio histórico brasileiro, o canhão teria de passar por um processo de “destombamento”. Retirado da Fortaleza de Humaitá, o armamento ganhou esse nome por ter sido construído a partir de metal fundido de sinos de igrejas de Assunção. Em contrapartida, o país vizinho ainda tem o navio brasileiro Anhabahy exposto como troféu na cidade de Vapor Cué.

“Como um pedaço de ferro
 pode ser maior que as relações diplomáticas entre os dois países?
 Uma troca fortaleceria o Mercosul. Como confiar na base da desconfiança?”
, indaga o pesquisador Eduardo 

Nakayama, membro da Academia Paraguaia de História. O historiador Ricardo Salles, por sua vez, afirma que poucos países devolvem troféus de guerra. “Mas acho que isso deveria ser feito. É uma reivindicação justa”, afirma.

Para Nakayama, o gesto simbólico de devolver o canhão poderia intensificar as negociações políticas e econômicas entre Brasil e Paraguai, selando uma cooperação mais confiável em todo o Mercosul. Além disso, o professor da Universidad Nacional de Asunción Herib Caballero acredita que o gesto de devolver o canhão ajudaria a encerrar definitivamente o conflito, “cuja recordação é sinônimo de dor e desesperança na memória coletiva dos paraguaios”. Ainda não há uma definição se algum dos governos irá ceder a essa batalha que já avançou para o século 21. O Itamaraty afirma que não há negociação em curso sobre o assunto.
Imagem - O Museu Militar, em Assunção, guarda diversos quadros e objetos referentes à Guerra do Paraguai

O Museu Militar, em Assunção, guarda diversos quadros e objetos referentes à Guerra do Paraguai.
Imagem - Parte do acervo corresponde à doações de troféus de guerra devolvidos por uruguaios e argentinos

Algumas espadas que foram utilizadas pelos combatentes durante a guerra.
Imagem - Canhões que foram utilizados no conflito. Ao fundo bandeiras dos regimentos paraguaios, que foram devolvidas pelo argentino Perón em 1954
Canhões que foram utilizados no conflito. Ao fundo bandeiras dos regimentos paraguaios, que foram devolvidas pelo argentino Perón em 1954.
Imagem - Balas de canhão e canhões que foram usados durante a guerra
Balas de canhão e canhões que foram usados durante a guerra.
Imagem - Roupas usadas na guerra por combatentes paraguaios
Roupas usadas na guerra por combatentes paraguaios.

Visões
Outro “conflito” está arraigado nos livros de História. Versões antagônicas para explicar os motivos da guerra foram disseminadas ao longo de um século e meio. Basicamente, há quem acredite que tudo começou devido ao imperialismo da Inglaterra, que queria impedir que um Paraguai autossuficiente prosperasse no Cone Sul sem os produtos industrializados ingleses. Do outro, os que apontam que os atritos começaram por causa da consolidação das fronteiras nacionais e, principalmente, pela hegemonia no Rio da Prata.

Quem defende a primeira versão afirma que o Paraguai era um país em avanço econômico que colocaria em perigo as relações inglesas com os demais países da América do Sul. O historiador do Museu Militar de Assunção, Stanislau Diego Esquivel, diz que o país já tinha fundições de ferro e ferrovias. “O governo britânico queria destruir e desmantelar o Paraguai antes que virasse uma potência. Por isso financiaram os aliados. Era um interesse econômico.”

Porém, essa versão foi revisada inclusive por historiadores paraguaios contemporâneos. Para Caballero, o conflito teve muitas causas. “Havia problemas de limites e as disputas políticas internas do Uruguai. A Inglaterra não participou como Estado. O que havia eram bancos que emprestaram dinheiro ao Brasil.” Ele acrescenta que não é possível cravar que o Paraguai era uma potência regional.

O historiador Francisco Doratioto, da Universidade de Brasília, e autor de Maldita Guerra, ressalta que as razões do conflito foram distorcidas durante anos. “O Paraguai não era uma potência econômica como se propagou. Havia ferrovia, telégrafo e fundição de ferro, que no Brasil já tinha desde o século 18. A guerra está inserida em um contexto histórico regional.”

Ficha dos países - Império do Brazil  Ficha dos países - República Argentina  Ficha dos países - Estado Oriental del Uruguay  Ficha dos países - República del Paraguay

Interpretação
Imagem - Marina Rotela, 51 anos, natural de Assunção
Marina Rotela, 51 anos, natural de Assunção
Nas ruas de Assunção, capital paraguaia, é perceptível que pelo menos parte da população ainda tende a culpar a Inglaterra pela guerra e a crer que o Paraguai era uma potência regional à época: uma visão amarrada com a historiografia mais antiga e amplamente difundida no país durante anos.
Na mesma praça em que estão a estátua de Solano López e dois canhões usados na guerra, a dona de casa Marina Rotela (foto), 51 anos, natural de Assunção, é categórica ao afirmar que o país estava em progresso econômico e que havia chances de ele ser uma potência nos dias de hoje. “Seríamos um país melhor economicamente, sem dúvida”, diz.

Já o auxiliar de produção Julio Rojas, 38 anos, credita a guerra aos supostos interesses econômicos dos ingleses. “O Paraguai estava em um grande progresso e se não tivesse a guerra poderia ser uma Suíça da América do Sul.”
Imagem - Manchete do Jornal - Paraguai declara guera
Tudo começou no Uruguai com a deflagração de uma guerra civil iniciada em abril de 1863 em que os colorados lutavam pela derrubada do governo dos blancos, eleito em 1860.
Brasil e Argentina

O Brasil estava interessado na abertura do Rio Paraguai à livre navegação e preocupado com os limites fronteiriços com a província do Mato Grosso. Havia uma disputa territorial entre o Império Brasileiro e o Paraguai nessa região, que remonta a 1856, quando fora firmado um tratado entre os dois governos estabelecendo um prazo de seis anos para se definir o limite entre os países. Passou o prazo e nada foi feito. Também havia um problema de fronteira entre o Paraguai e a Argentina, na região de Misiones e no Chaco.

Nova política
Ao assumir o poder em 1862, Solano López queria que seu país fosse protagonista na América do Sul. Para isso, ele costurou alianças com o general Urquiza, opositor do governo de Bartolomeu Mitre em Buenos Aires, e com o governo blanco do Uruguai. Segundo o historiador Francisco Doratioto, o Paraguai também buscava acesso ao mercado internacional através do Porto de Montevidéu.

Vizinhos unidos
Argentina e Brasil estavam juntos apoiando os colorados uruguaios. O presidente argentino tomou essa decisão porque os blancos simbolizavam o risco de uma oposição federalista em uma República Argentina recém-unificada.

Pretexto fraco
Doratioto conta que cerca de 40 mil brasileiros moravam no Uruguai, onde transportavam gado com o uso de escravos para o lado brasileiro. Nessa época, os uruguaios já não conviviam com a escravidão. “Antes, esses brasileiros tinham apoio dos colorados e usavam a região como se fosse extensão do Brasil. Os blancos tentaram pôr um fim a isso.” Esses estancieiros rio-grandenses foram até o Império alegar que cabeças de gado eram roubadas e brasileiros eram assassinados no Uruguai. “Mas é um pretexto que não se sustenta”, observa Doratioto. O governo imperial apoiava esses interesses privados, pois a região era estratégica para manter sua preeminência política.
Invasão

Os blancos uruguaios, apoiados pelo Paraguai, resistiram às pressões do Brasil para indenizar as supostas perdas dos brasileiros. Apoiando os colorados, as tropas imperiais invadiram o Uruguai em outubro de 1864. No dia 12 de novembro, Solano López, que já havia advertido o Brasil de que qualquer invasão ao Uruguai significaria guerra, ordenou capturar um navio brasileiro que saía de Assunção para Corumbá, levando o presidente de Mato Grosso a bordo. No dia 13 de dezembro, López declarou guerra ao Brasil e invadiu a província do Mato Grosso.


2 - Voluntários” de uma pátria despreparada
Reportagem: Diego Antonelli Fotos: Marcelo Andrade
Parte 2: 16 de dezembro de 2014

Ao invadir o Mato Grosso em dezembro de 1864, Solano López estava convicto de sua atitude. Bastava olhar para o exército paraguaio, com cerca de 70 mil homens prontos para a batalha. No Brasil, as tropas não chegavam à metade do contingente do adversário: 18 mil membros. A Argentina, por sua vez, tinha seis mil soldados, segundo o historiador Francisco Doratioto.
Se o império brasileiro não quisesse sair derrotado, era preciso reverter o quadro. Nessa época, não havia obrigatoriedade do serviço militar. O alistamento só passou a ser obrigatório por lei em 1908. A “solução” foi baixar o decreto 3.371 de 7 de janeiro de 1865, determinando a formação dos Voluntários da Pátria. Ou seja, civis que não tinham recebido qualquer treinamento militar durante a vida foram recrutados para uma sangrenta batalha. Era permitida a participação de todos os cidadãos maiores de 18 anos e com menos de 50.

Imagem - Soldado voluntário da pátria

Voluntário da Pátria
“Os Voluntários da Pátria foram uma resposta natural buscando mobilizar a população. No começo teve uma resposta espontânea da população, mas depois muitos foram forçados a ir para a batalha”, afirma Doratioto. Todos que se apresentassem ganhariam 300 réis diários depois da guerra e mais 2,5 alqueires de terra. Eles teriam baixa depois de terminada a guerra – se assim fosse de sua vontade. As famílias dos voluntários que morressem no campo de batalha, ou em consequência de ferimentos, teriam direito a uma pensão vitalícia. Os que ficassem inutilizados por ferimentos receberiam soldo dobrado.

Além de se valer dos “voluntários”, o Brasil conseguiu aumentar para 60 mil a 70 mil homens no primeiro ano das hostilidades com o uso do efetivo da Guarda Nacional. No país, calcula-se que entre 120 mil a 150 mil homens foram mobilizados para a guerra. Alguns pesquisadores chegam a estimar que 200 mil brasileiros foram para a batalha.

O historiador Ricardo Salles, autor de Guerra do Paraguai – Escravidão e Cidadania na Formação do Exército, ressalta que as tropas dos voluntários eram pouco preparadas antes de ir para os campos de batalha. “O corpo dos voluntários foi engrossado pelo da polícia e o recrutamento de civis.”


      Soldado Uruguaio 
Imagem - Soldado UruguaioImagem - Soldado Argentino  Soldado Argentino                                        
Imagem - Soldado ParaguaioSoldado                     Soldado Paraguaio

Imagem - Soldado Brasileiro
Soldado Brasileiro

Insuficiente
Porém, o efetivo mostrou-se insuficiente. Uma das respostas encontrada pelas forças imperiais foi arregimentar escravos de propriedade do Estado e alguns de propriedade particular (libertados em troca dos serviços na guerra). “Escravos também se apresentaram ou foram recrutados. Muitos fugiam e se alistavam como homens livres, outros eram libertados para a guerra por seus senhores, como substitutos, isto é, no lugar de outra pessoa; em troca de indenização pelo governo”, explica Salles.

Segundo ele, entre 7% e 10% dos combatentes eram formados por pessoas libertas. Salles salienta ainda que um número elevado de soldados, não menos que 50 mil (alguns estimam em até 100 mil) não voltaram. Muitos morreram em consequência de doenças, fome, variações climáticas e exaustão física.
Armas utilizadas
 Baioneta usada pelas tropas
Baioneta usada pelas tropas
  Carabina para infantaria que combateu a pé
Carabina para infantaria que combateu a pé
  Carabina usada por tropas de cavalaria
Carabina usada por tropas de cavalaria
 Clavina Spencer usada por tropas da cavalaria
Clavina Spencer usada por tropas da cavalaria
  Espingarda utilizados por fuzileiros
Espingarda utilizados por fuzileiros
  Fuzil Dreise, de modelo prussiano de 1857
Fuzil Dreise, de modelo prussiano de 1857
 Pistola também utilizada pela cavalaria
Pistola também utilizada pela cavalaria
  Revólver usado por oficiais
Revólver usado por oficiais
  Baioneta utilizada pelas tropas
Baioneta utilizada pelas tropas
 Arma - Balão Paraguaio
Tática do balão

Foi durante a guerra, em 1867, que houve o primeiro uso militar de balões de observação na América do Sul. A tática foi usada pelas forças brasileiras. O balão era sempre mantido fora do alcance dos canhões paraguaios, que mesmo assim disparavam contra ele. Sempre que o balão aparecia, os paraguaios faziam muita fumaça em frente às suas trincheiras para ocultá-las.
“Desajustados” encorparam as tropas do Império

O recrutamento para encorpar as tropas de voluntários recaía, geralmente, sobre a população mais humilde. “Pobres, vadios, mendigos, ciganos, enfim, os que não estavam ajustados às normas da sociedade imperial eram os que mais sofriam”, diz o historiador Edilson Brito.

A partir de julho de 1865, o processo se intensificou de tal modo que qualquer indivíduo passou a ser passível de recrutamento. “Para o governo, o recrutamento deixou de ser uma profilaxia social usada para restringir a mobilidade dos pobres livres, ou uma forma de punição aos ‘indesejáveis’ da sociedade. Em relação à população, deixou de ser uma eventualidade para tornar-se um medo constante.”

Segundo Paulo Queiroz Duarte, o primeiro batalhão de voluntários (743 homens oriundos do Rio de Janeiro), embarcou para o Rio Grande do Sul em 5 de março de 1865, dois meses após o decreto. O Ministério da Guerra alistou 10 mil voluntários no primeiro ano.

Militares Brasileiros
Almirante Tamandaré, Joaquim Marques Lisboa General Osório, Manuel Luís Osório Duque de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva Almirante Barroso, Francisco Manoel Barroso da Silva

 Almirante Tamandaré, Joaquim Marques Lisboa  General Osório, Manuel Luís Osório  Duque de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva  Almirante Barroso, Francisco Manoel Barroso da Silva

Em fevereiro de 1865, os colorados conseguiram derrubar os blancos do governo uruguaio e mantiveram a aliança com Argentina e Brasil na ofensiva contra o Paraguai, formando a Tríplice Aliança. Os objetivos dessa união, assinada em 1º de maio de 1865, eram: derrubar a ditadura de López; ter livre navegação nos rios Paraguai e Paraná; anexar o território reivindicado pelo Brasil no nordeste do Paraguai e pela Argentina no leste e no oeste paraguaio.

O mito Solano López

Imagem - Solano Lopez - Créditos: Aurelio García
Imagem - Solano Lopez - Créditos: Aurelio García
Solano López - Pintura de Aurelio García

Na visão histórica nacionalista difundida por anos pelo governo paraguaio, Solano López, morto em 1º de março de 1870, é visto como um mártir, que tentou desenvolver o Paraguai de forma autônoma. “Nessa perspectiva, ele é o que os paraguaios queriam que tivesse sido. É um herói inventado”, diz o historiador Francisco Doratioto. Segundo o também historiador Herib Caballero, da Universidad de Asunción, López divide opiniões até hoje. “Para alguns foi um tirano que foi culpado pela guerra. Para outros é o máximo de nacionalidade.” Para o especialista, é preciso interpretar López em seu tempo como um homem imbuído de ideais românticos, convencido que tem de sacrificar sua vida pela pátria. “A visão clássica é de que sua entidade é um herói. Dentro da visão antilopista, se quis culpar ele pela guerra durante muito tempo. É impossível que uma só pessoa seja responsável por uma guerra que reuniu tantos países.”

Luiz Floretin, 69 anos, aposentado
O aposentado Luiz Floretin, 69 anos, acha que López não soube dialogar com outros países durante a guerra.

 “O Paraguai 
não tinha tropa militar para entrar nesta guerra.
 Muitas pessoas morreram de enfermidades,
 fome e sede. Foi uma lástima para o país.”

Victor Velasquez, 28 anos, estudante de sociologia na capital paraguaia, considera López um homem fiel, “que defendeu a terra guarani”.

 “O Paraguai estava em processo de desenvolvimento.
 Pelos padrões da época, era uma potência na região.
 Um conflito marcado pelo interesse econômico.
 Se não tivesse a guerra,
 creio que haveria outra forma
 para estrangular o crescimento paraguaio.”

O Paraná vai à luta no maior conflito da América do Sul

Reportagem: Diego Antonelli. Fotos: Marcelo Andrade.
Parte 3: 17 de dezembro de 2014

Imagem - No Paraguai, os mortos na guerra são lembrados e homenageados no Panteão dos Heróis

Imagem - No Paraguai, os mortos na guerra são lembrados 
e homenageados no Panteão dos Heróis

No Paraguai, os mortos na guerra são lembrados 
e homenageados no Panteão dos Heróis

As ruas de Curitiba estavam tomadas. Os moradores em estado de êxtase. Os primeiros sobreviventes paranaenses da mais terrível guerra que a América do Sul presenciou retornavam para suas casas. No dia 27 de abril de 1870 regressaram 51 Voluntários da Pátria que enfrentaram os horrores do campo de batalha da Guerra do Paraguai – chamada nos países de língua espanhola de “Guerra da Tríplice Aliança”.

Recebidos como heróis, foram homenageados com festas que se prolongaram até o dia 29 daquele mês. Fogos de artifício, música e recitais de poesia animavam o povo e os soldados do Paraná. Um cenário completamente oposto ao que haviam presenciado pouco tempo antes.

Durante a guerra, que durou de 1864 a 1870, esses soldados – muitos deles despreparados para enfrentar as barbáries do conflito – se depararam com milhares de mortos, prisões, tiros, casas incendiadas e localidades em ruínas. A maioria dos enviados da província era formada por jovens que moravam nas comarcas de Curitiba, Castro e Guarapuava.

Com o decreto 3.371, de 7 de janeiro de 1865, determinando a formação dos Voluntários da Pátria, civis sem prática militar foram recrutados para encorpar as tropas do Império Brasileiro.

Mapa - Estimativas do número de voluntários e guardas nacionais enviados pelas províncias na Guerra do Paraguai

Front
Mapa - Estimativas do número de voluntários e guardas nacionais enviados pelas províncias na Guerra do Paraguai
Segundo estimativas do historiador David Carneiro, o Paraná cedeu cerca de 2.020 pessoas, sendo quase 500 como “voluntários”. Ao todo, a Região Sul forneceu 9,7 mil homens e mais 1,5 mil escravos.

No entanto, o historiador e pesquisador Edilson Pereira Brito, autor de uma dissertação de mestrado sobre o tema pela Universidade Federal de Santa Catarina, acredita que o número é incerto. Utilizando os dados do Relatório do Ministério da Guerra de 1872, que foi uma espécie de balanço da Guerra do Paraguai, o número total seria de 1.926. Sendo 1,2 mil guardas nacionais; 230 voluntários e um substituto; além de 11 escravos libertos. “Tais dados representam 2,2% da população masculina da Província, incluindo os escravos”, afirma.

Porém, Brito ressalta que os dados de paranaenses que foram designados para a Guerra do Paraguai não são totalmente confiáveis e tendem a ser subestimados.

O relatório apresentado pelo governo da Província do Paraná em 1867, relativo ao ano de 1866, aponta que 1.513 paranaenses já teriam ido à guerra. “Se somarmos apenas os dois primeiros anos do conflito, a Província do Paraná havia enviado quase 80% do número total dos soldados computados pelo Ministério da Guerra. Ficando desta forma apenas 413 soldados para os quatros anos finais do confronto. Este número não é condizente com o contexto da guerra no período. Provavelmente, o número de recrutados foi bem superior ao indicado pelo relatório”, ressalta o pesquisador.

Voluntários fizeram a “ponte” no RJ e SC antes de ir ao front
No Paraná, o aviso do decreto de convocação dos voluntários foi dado durante a formatura de soldados da Guarda Nacional na Lapa. Nesse período, o presidente da Província era Pádua Fleury. Durante um discurso na Assembleia Provincial, em janeiro de 1865, ele declarou que

 “graças ao civismo dos briosos paranaenses 
já desembarcou na Corte a primeira companhia organizada 
nesta capital [Curitiba] com 75 praças e três oficiais”.

Essa primeira leva seguiu para a guerra depois de um curto estágio no Rio de Janeiro, onde se incorporou a outras forças voluntárias. A companhia paranaense foi incluída no 4.° Batalhão de Voluntários.

Já o primeiro corpo completo constituído no Paraná foi formalizado em maio de 1865. No mês seguinte, embarcaram para Santa Catarina, no vapor Dom Pedro II, para posteriormente seguirem para o front de batalha.
Além deste batalhão, seguiu uma segunda companhia isolada. David Carneiro escreve que esse grupo foi incorporado ao 25.° Batalhão de Voluntários da Pátria, também em território catarinense, e depois foram ao Paraguai. O grupo era formado por 17 oficiais, 250 praças e 22 mulheres. No início de julho, a tropa que totalizava 450 pessoas, somando com os de Santa Catarina, rumou para a guerra.

Recompensas da Guerra
Amplie e veja detalhesDavid dos Santos Pacheco, Barão dos Campos Gerais Antonio de Sá Camargo, Visconde de Guarapuava Caetano José Munhoz, Recebeu o título da Ordem da Rosa

 David dos Santos Pacheco, Barão dos Campos Gerais  Antonio de Sá Camargo, Visconde de Guarapuava  Caetano José Munhoz, Recebeu o título da Ordem da Rosa

Muitos paranaenses tiveram participação importante no conflito, mas não há um herói simbólico. Para o historiador Edilson Pereira Brito, quem se beneficiou durante o conflito foi a elite provincial, representada, sobretudo, pelos ervateiros do litoral e pelos proprietários rurais da região dos Campos Gerais. 

“Para essa elite a Guerra representou 
um momento de reforçar lealdades com o governo geral. 
Logo, tais homens que ocupavam postos importantes mobilizaram a sua clientela (empregados, agregadas e outros de forma geral)
 para a Guerra, obtendo certo sucesso 
e depois recebendo títulos do Imperador”, 
afirma.

O paranaense David dos Santos Pacheco, por exemplo, ofereceu cem reses de sua fazenda em Passo Fundo para manter as forças no Rio Grande do Sul, e organizou uma companhia de 85 praças de voluntários. Mais tarde, em 1880, recebeu o título de Barão dos Campos Gerais, sendo lembrado por sua atuação durante a Guerra do Paraguai.

Índios e escravos

Ilustração - Indígena paranaense~~~~~~~~~~~~~~~~~~Ilustração - Escravo Paranaense

                       Indígena Paranaense   -   Escravo Paranaense

Escravo Paranaense
O historiador e pesquisador Edilson Pereira Brito revela que muitos indígenas do Paraná foram utilizados e recrutados para a batalha no Paraguai. Outros eram arregimentados para fazer a segurança das cidades sem policiamento. Um desses exemplos está em uma carta do diretor geral do aldeamento indígena para o governo provincial solicitando o pagamento de 23 indígenas, que se encontravam realizando o trabalho de guarnição na Comarca de Guarapuava em 1865.

Segundo um anúncio no jornal Dezenove de Dezembro, durante a guerra um escravo fugiu de seu proprietário para se alistar no Exército. “Isso mostra como a escravidão no Brasil era perversa, já que muitos escolhiam servir na guerra do que viver sob o jugo do cativeiro”, afirma Edilson Brito.

Imagem - Manchete do Jornal - Morre Solano López no campo de batalha!
O começo da Guerra do Paraguai foi marcado pelas ofensivas das tropas de Solano López no Mato Grosso, em dezembro de 1864, e em Corrientes, na Argentina, em abril de 1865. Em maio daquele ano, o Paraguai conseguiu atravessar Misiones e invadiu o Rio Grande do Sul.

De início, a invasão teve sucesso, mas depois foi contida pelas forças aliadas. “López foi ousado. Se não tivesse invadido a Argentina, a condução da guerra seria outra. No momento que ele invade, ele arrisca. Tinha lógica para combater as duas nações inimigas, mas as possibilidades [de dar certo] eram remotas”, diz o historiador Francisco Doratioto. Segundo o também historiador Herib Caballero, Solano acreditava que se o Brasil invadisse o Uruguai estaria colocando em risco o equilíbrio dos países no Rio da Prata. 

“Ele invade o Mato Grosso como resposta.
. A partir disso, as cartas estavam jogadas.”

Batalha do Riachuelo
Em junho, ocorreu a Batalha do Riachuelo, no Rio Paraná, o único grande confronto naval da guerra, no qual as tropas brasileiras venceram. Já em abril de 1866, as tropas aliadas invadiram o Paraguai e instalaram um quartel-general no Tuiuti, na confluência dos rios Paraná e Paraguai. Em 24 de maio, repeliram uma investida paraguaia e venceram a primeira grande batalha em terra.

Proposta rejeitada
Em setembro de 1866, Solano López chegou a propor concessões, inclusive territoriais, para terminar a guerra, desde que o Paraguai não fosse totalmente desmembrado ou ocupado em caráter permanente. A proposta foi rejeitada. No mesmo mês, em uma batalha em Curupaiti, os aliados foram massacrados. Mas em julho do ano seguinte, iniciou-se uma movimentação para cercar a fortaleza fluvial de Humaitá, que bloqueou o acesso ao Rio Paraguai e a Assunção. Mesmo assim, passou-se mais de um ano para que os aliados ocupassem Humaitá, em agosto de 1868. “A fortaleza resistiu por quase quatro anos. Ela caiu porque os soldados estavam passando fome”, afirma o pesquisador paraguaio Eduardo Nakayama. Assunção foi ocupada em 1º de janeiro de 1869.

Morte em Cerro Corá
Solano López tentou resistir por mais de um ano, mas acabou sendo morto em Cerro Corá, no nordeste do Paraguai, em 1º de março de 1870. Em 27 de julho, foi assinado um tratado de paz preliminar.


Adiós, Paraguai!
Reportagem: Diego Antonelli. Fotos: Marcelo Andrade.
Parte 4: 18 de dezembro de 2014

Ao invadir a capital paraguaia no dia 1.º de março de 1869, as tropas brasileiras não pensaram duas vezes e ocuparam o Palácio de los López, onde hoje é a sede do poder executivo. A bandeira brasileira chegou a ser hasteada no alto de um dos prédios mais imponentes de Assunção. Essa foi uma das primeiras ações do Império Brasileiro, que ficou no país por quase sete anos.
Imagem ilustrativa do Palácio de los López invadido por tropas brasileiras
Imagem ilustrativa do Palácio de los López invadido por tropas brasileiras
Ao longo desse tempo, a barbárie assombrou os sobreviventes do país vizinho. Como relata o historiador da Universidad de Asunción Herib Caballero, o cemitério municipal teve suas tumbas profanadas em busca de bens preciosos sepultados com os cadáveres e espaços comerciais foram saqueados.

 Ao longo deste período, a falta de comida castigou e matou os paraguaios. Aliada à miséria, mulheres eram estupradas e crianças chegaram a ser sequestradas. 

“As crianças eram sequestradas 
por soldados brasileiros e argentinos e enviados como ‘presentes’ 
para servirem como escravos ou ainda 
eram colocados preços para resgate”, conta Caballero.


Soma-se a isso a morte de pelo menos 80% da população masculina do Paraguai. A força produtiva daquela época morreu”, afirma o membro da Academia Paraguaia de História, Eduardo Nakayama. Este fato, por si só, dificultou a recuperação econômica e social do país vizinho.

Monumentos de Assunção
Imagem - O Parque de la Victoria guarda uma estátua imponente de Solano López e dois canhões que foram utilizados na Guerra do Paraguai
O Parque de la Victoria guarda uma estátua imponente de Solano López e dois canhões que foram utilizados na Guerra do Paraguai.
Imagem - No interior do Panteão Nacional dos Heróis há restos mortais de soldados e generais que morreram na guerra, inclusive de Solano López
No interior do Panteão Nacional dos Heróis há restos mortais de soldados e generais que morreram na guerra, inclusive de Solano López.

Imagem - O Palácio de los Lopez é a atual sede do governo da República do Paraguai. Foi construído por ordem do presidente Carlos Antonio López, para servir de residência para seu filho Francisco Solano López. Durante a Guerra do Paraguai tropas brasileiras invadiram o espaço.

O Palácio de los Lopez é a atual sede do governo da República do Paraguai. Foi construído por ordem do presidente Carlos Antonio López, para servir de residência para seu filho Francisco Solano López. Durante a Guerra do Paraguai tropas brasileiras invadiram o espaço.

Imagem - O Cabildo é um dos edifícios históricos da Assunção. O prédio abrigou o Palácio do Governo e o Senado do Paraguai. Hoje o edifício sedia o Centro Cultural da República.

O Cabildo é um dos edifícios históricos da Assunção. O prédio abrigou o Palácio do Governo e o Senado do Paraguai. Hoje o edifício sedia o Centro Cultural da República.

Imagem - Muitas placas relacionadas ao conflito e estátuas fazem parte da decoração do espaço. Na foto, a estátua de Solano López.

Muitas placas relacionadas ao conflito e estátuas fazem parte da decoração do espaço. Na foto, a estátua de Solano López.

Imagem - O Panteão Nacional dos Heróis começou a ser construído em 1863, um ano antes do início da guerra.

O Panteão Nacional dos Heróis começou a ser construído em 1863, um ano antes do início da guerra.

Imagem - O prédio do Ministério de Defesa, em Assunção, é sede do Museu Militar, onde há diversos objetos da Guerra do Paraguai.
O prédio do Ministério de Defesa, em Assunção, é sede do Museu Militar, onde há diversos objetos da Guerra do Paraguai.

Gráfico - Dívida de guerra do Brasil

Gráfico - Dívida de guerra do Brasil
Caballero, no entanto, é cuidadoso ao responsabilizar só a guerra pelas dificuldades atuais que vive o Paraguai. “Não podemos continuar culpando a guerra pela situação atual. Era fato que o país estava se modernizando e foi interrompido pela guerra, mas os males não podem ficar restritos ao conflito.” Mesmo porque, por exemplo, quase 60 anos depois do término da batalha, o Paraguai se envolveu em um novo confronto, dessa vez contra a Bolívia, na Guerra do Chaco.

Mesmo assim, a “Guerra da Tríplice Aliança” – cuja “culpa” recai sobre os quatro países envolvidos, segundo Caballero – retorna com certa facilidade à lembrança dos paraguaios. Quando o Paraguai foi suspenso do Mercosul em 2012, por exemplo, os periódicos de Assunção fizeram analogia com a guerra iniciada há 150 anos, alegando que um bloco estaria sendo formado contra o país.
 “Dependendo dos momentos, 
a guerra está aí. É uma recordação muito recente”, 
salienta o historiador.

Por isso, tanto Nakayama quanto Caballero são enfáticos ao afirmar que a Guerra do Paraguai significa uma ferida aberta para os paraguaios. Ainda mais que dentro da visão histórica nacionalista costuma-se apregoar que o baixo desenvolvimento paraguaio é culpa exclusiva da guerra. “O problema foi a quantidade de mortos. Uma sociedade que perde tudo isso de população é muito golpeada e demora para se recompor. Mas é insuficiente para explicar a realidade do país”, ressalta.

Vitorioso
O historiador Ricardo Salles afirma que se Solano López ganhasse a guerra, o Paraguai ficaria com as regiões que estavam em litígio com Brasil e Argentina (parte do Mato Grosso e Misiones). “Mas ele não declarou a guerra nem invadiu a Argentina por isso, e sim para socorrer o governo uruguaio”, ressalta. A invasão paraguaia no Mato Grosso foi uma estratégia também para se apoderar do território, obter recursos e porque era uma região de fácil acesso e sem muitos riscos.

Ao pé da estátua de Solano López, no Panteão dos Heróis, em Assunção, Fausto Martinez Gonzalez, 72 anos, parece imaginar seu bisavô no campo de batalha. 

“Ele lutou no conflito, 
mas não sei dizer se morreu no combate. 
A guerra foi um desastre que não tinha sentido”, 
desabafa.

 Por coincidência, Fausto é natural de Cerro Corá, cidade onde Solano López foi assassinado. 

“A presença da luta dele pelo Paraguai é forte na cidade”, 

diz. O aposentado acredita que o líder paraguaio é uma personalidade controversa. 

“Ele é um nome histórico e é um herói nacional para muitos.
 Prometeu não entregar o país e lutou para isso até a morte.
 Mas ele poderia ter evitado algumas mortes.”


Imagem - Manchete do Jornal -
 70% da população paraguaia morre

Segundo o historiador Francisco Doratioto
, há estudos que estimam que as perdas paraguaias na guerra
 variaram de 8,7% a 70% da população.

 Ele aponta os dados divergentes devido ao número de habitantes do Paraguai no pré-guerra. A estimativa varia de 285.715 a 450 mil pessoas. Ou seja, teria sido de 28.286, no mínimo, a 278.649 o número de mortes de paraguaios ao fim dos cinco anos de guerra. 

Muitos paraguaios dados como desaparecidos emigraram para Argentina ou Brasil. Vale ressaltar que crianças também foram usadas para encorpar as tropas paraguaias. No entanto, o pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Ricardo Salles acredita que os dados mais confiáveis apontam que os paraguaios devem ter perdido cerca de 270 mil pessoas. “As outras estimativas para baixo são irreais”, pontua.

Gráfico - Saldo de Mortos - Os números mais precisos dão conta de que quase 400mil pessoas, entre militares e civis, foram mortas na batalha

Gráfico - Saldo de Mortos - Os números mais precisos dão conta de que quase 400mil pessoas, entre militares e civis, foram mortas na batalha

Outros países
Doratioto escreve que o Uruguai participou da guerra com cerca de 5,5 mil soldados. Ao fim do conflito morreram cerca de 3,1 mil. Já a Argentina, que contava no início com 30 mil homens, sofreu uma baixa estimada de 18 mil soldados. Dessa forma, é impossível contabilizar um número exato de mortos durante a “Guerra da Tríplice Aliança”. A mortes brasileiras são estimadas entre 50 mil e 100 mil.

Saldo negativo
Nos anos de guerra, o Império Brasileiro dedicou-se integralmente ao combate. Estima-se que foram gastos 614 mil contos de réis na luta (11 vezes o orçamento governamental para o ano de 1864). 

Os gastos com o Ministério da Guerra saltaram de 21,9% em 1864 para 49,6% no ano seguinte. Nos demais anos de conflito mantiveram-se porcentagens acima de 41%.






Fontes:
Wikipédia
Publicado em 9 de set de 2012- Licença padrão do YouTube
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/especial-guerra-do-paraguai/index.phtml
 Sejam felizes todos os seres.Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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