sábado, 4 de agosto de 2012

AS CONCLUSÕES EVOLUTIVAS DE TEILHARD DE CHARDIN

                                       

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LIVRO VI

PITÁGORAS
Os Mistérios de Delfos

Conhece-te a ti mesmo
 – e conhecerás o Universo e os Deuses.

Inscrição do templo de Delfos
O Sono, o Sonho e o Êxtase 
são as três portas para o Além, 
de onde nos vêm a ciência da alma 
e a arte da adivinhação.

A Evolução é a lei da Vida.
O Número é a lei do Universo.
A Unidade é a lei de Deus.

PITÁGORAS
Os Mistérios de Delfos

 

 

As conclusões evolutivas de Teilhard de Chardin 


 



“As conclusões evolutivas de Teilhard de Chardin vão de encontro às teorias lamarckista e darwinistas. A sua originalidade se revela de forma mais intensa no esforço de apresentar, com o máximo de precisão, as verdades fundamentais oriundas de sua nova visão de mundo. Uma colocação teológica que difere, em muito, de todas as que já tenham sido esboçadas; é aquela no sentido de unir Matéria e Espírito. Mas é, sobretudo na cristologia, que Teilhard de Chardin se excede, mostrando que Cristo não é um objeto parado, estático, em um mundo já acabado. 

Ao contrário, é alvo de um mundo em desenvolvimento, que Ele procura orientá-lo e prepará-lo, apresentando-se como o ponto Ômega. Uma evolução cristológica que envolve tanto a ciência como a teologia. Todavia, alguns se chocam com algumas colocações teilhardianas, como é o caso citado por Rezek: “O comentador imagina que é uma grande falta de “Teilhard estender e aplicar mais uma vez à ordem sobrenatural o seu conceito de unidade, de ação unificadora, que está estritamente ligada à sua teoria evolucionista” (REZEK, 1986, p. 138). E mais adiante, Rezek coloca a razão de ser e a possibilidade de compreender melhor quando cita, da seguinte maneira, a convicção de Teilhard de Chardin: “toda minha alegria e meu sucesso, toda minha razão de ser e meu gosto de viver, meu Deus, depende desta visão fundamental: Vós estais unido ao Universo”. (Ibid, p, 139). Em outras oportunidades, vamos encontrar Teilhard de Chardin com essa convicção de conhecimento, de fé na unidade do Universo. Mais uma vez Rezek nos mostra essa realidade citando o seguinte:
No meu universo evolutivo, eu constatei que o dualismo em que me haviam mantido se dissipara como bruma ao nascer do sol. Matéria e Espírito: não são em absoluto duas coisas, mas dois estados, duas faces de um mesmo estofo cósmico, no sentido em que (como teria dito Bergson) ele se faz, - ou pelo contrário no sentido segundo o qual ele se desfaz. ... Duas imensas Unidades vivas começavam a subir no meu horizonte interno – unidades de dimensões planetárias onde, por excesso justamente de composição e de organicidade, eu podia ver se manifestar no seio do Estofo cósmico, um extraordinário poder de consolidação por complexificação (CHARDIN, apud REZEK, 1986, p 67).

Nessa visão, mais uma vez está arraigada uma convicção que, em sendo convicção de quem é cientista e tem fé, entende-se que somente outro, com as mesmas características, teria condições de contestar. Mormente porque Teilhard de Chardin encontrou a convergência entre ciência e fé, com base no movimento evolucionista que acabara de surgir, e alguns cientistas materialistas se aproveitavam do fato para escarnecer da fé. Ele, sem maiores pretensões, abraça a teologia e a ciência e é levado, segundo suas afirmações, a descobrir o grande segredo com o qual pode, senão apagar de vez, ao menos abafar a fúria que se criara em relação ao fato. Teilhard de Chardin abraça a evolução, procurando modificá-la e aprofundá-la, cada vez mais, dando-lhe uma conotação abrangente, envolvendo os elementos em atrito, conforme nos escreve Urbano Zilles:

Teilhard de Chardin não só toma posição definida perante a teoria do evolucionismo. Reformula-a, aprofunda-a e precisa-a sob novos aspectos. Parte do pressuposto de que os dois conceitos fundamentais de criação e de evolução são distintos, mas não se contradizem, nem se exclui mutuamente. A “criação do nada” é um conceito bíblico. Não o encontramos nas filosofias dos antigos povos orientais. A evolução é uma categoria da ciência positiva. Criação e evolução encontram-se em tal relação de dependência que o segundo conceito pressupõe o primeiro (ZILLES, 2001, p, 54).

Teilhard de Chardin apresenta um evolucionismo amplo, profundo, em que a Natureza está envolvida com o espírito, buscando o cumprimento e o complemento um do outro, através de um transformismo espiritualista em que Matéria e Espírito estão unidos para serem vistos não apenas por um ângulo, mas em seu todo, o Dentro e o Fora, como ele mesmo relata: “ ... E eu creio na Ciência. Mas até aqui, terá a Ciência jamais se dado ao trabalho de olhar o Mundo de outro modo que não seja pelo “Fora das coisas (CHARDIN, 2005, p. 49). Esse pequeno detalhe faz a diferença do evolucionismo teilhardiano para as demais teorias. Ele inicia como todas as outras teorias do Mundo anorgânico, onde se originou a vida orgânica. Através de uma biogênese que representa o processo de aparecimento e desenvolvimento da vida evolutiva, como resultado final do transformismo, conforme ele nos relata na obra “O Fenômeno Humano”:

Como todas as coisas num Universo onde o Tempo se instalou definitivamente [...] a título de quarta dimensão, a Vida é e não pode ser senão uma grandeza de natureza ou dimensões evolutivas [...]. Neste grau de generalidade, pode-se dizer que a “questão transformista” não existe mais. Ela está definitivamente estabelecida. Para abalar, daqui por diante, nossa convicção da realidade de uma Biogênese, seria preciso desenraizar a Árvore da Vida, minando toda estrutura do Mundo (CHARDIN, 2005, p, 139).

Com esses fundamentos, Teilhard de Chardin demonstra que o evolucionismo é uma realidade irrefutável, e que, neste estágio, no qual Teilhard de Chardin entende que está explicado o fato da evolução humana através do transformismo. Todavia ficou algo a ser explicado com maior precisão, o que se comprova com a explicação narrada na revisão n. 1, do “Fenômeno Humano”, quando se expressa: “[...] depois de haver lamentado que eu não fale de “uma interpretação especial” de Deus na criação do Homem, acrescenta que esta intervenção não é “talvez desvendável no plano fenomenal” (CHARDIN, 2005, p, 382).

Mesmo havendo o transformismo cumprido o seu papel, a matéria, contudo, não está morta como muitos pensam. Existe algo mais incluído na evolução, a fim de dar suporte ao seu devenir. Essa a novidade que a ciência, nem sempre está disposta a aceitar, uma evolução não tão somente contínua, mas também convergente. A matéria, como a base física do ser, na dimensão evolutiva, transforma-se a ponto de não existir mais matéria pura, como também, na ação evolutiva, não existe espírito puro e sim espírito-matéria. 


Teilhard de Chardin, com olhos também de místico, enxerga não a Matéria morta mas o Espírito nela convergindo em seu interior psíquico, que vai, identificando-se e apresentando seus aparentes segredos. Revela sempre a verdade como disse e já citamos antes: “A verdade do Homem é a verdade do Universo para o Homem”. Pois é o homem quem ocupa uma posição polar, uma vez que, em sendo incluído no processo evolutivo, foi-lhe dada a consciência-reflexiva, tornando-se o único ser capaz de notar e anotar o processo evolutivo, fato que o torna diferente dos demais animais, mesmo que se olhe apenas pelo lado biológico. Pois não são os determinismos da matéria que dão consistência ao universo, essa procede das combinações do espírito. Porque inexiste consciência-reflexiva nos outros animais, apesar de alguma divergência científica na biologia e na psicologia, no caso, sobre a inteligência dos outros animais, Teilhard de Chardin responde da seguinte forma:
Isto posto, eu pergunto. Se, como decorre do que foi dito, é o fato de se encontrar “refletido” que constitui o ser verdadeiramente “inteligente”, podemos nós seriamente duvidar de que a inteligência seja o apanágio evolutivo do Homem e só do Homem? E podemos nós, por conseguinte, hesitar em reconhecer, por não sei que falsa modéstia, que sua posse representa para o Homem um avanço radical em relação a toda a Vida antes dele? 


O animal sabe, bem entendido. Mas, certamente, ele não sabe que sabe (CHARDIN, 2005, p. 186/187).

Destarte, fica mais nítido o pensamento de Teilhard de Chardin sobre a evolução, quando coloca o homem numa posição central do processo evolutivo e com ele o crescimento da vida psíquica no universo, e com esse crescimento uma maior convergência entre matéria e espírito, o que vem contribuir mais e mais para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento do processo evolutivo. Teilhard de Chardin chega a dizer que o aparecimento da reflexão no homem constitui, em certo sentido, “uma mudança de zero ao todo”, sem intermediário. Trata-se da passagem da vida não refletida no animal, para a vida refletida no homem. 


O aparecimento do homem liberou uma nova força de vida na terra. É um salto prodigioso, que deve valer na história da terra como um acontecimento evolutivo de mui grande valor, uma passagem tão profunda e radicalmente nova que só o início da vida pode ser comparado a ele. É um novo mundo interior, o mundo do universal pensado, que se abre. Com a origem do homem, a corrente da vida passa por um ponto crítico, atinge um nível diferente. 

A vida humana é, ao mesmo tempo, um prolongamento da vida animal, embora heterogênea. O fato, para Teilhard de Chardin, é de tal importância que ele faz a seguinte reflexão:
Como fugir à evidencia de que desde o Pliocênio, a vida parece ter concentrado no Homem o melhor do que restava de seiva! Ao longo dos últimos dois milhões de anos, se é certo que notamos uma grande quantidade de desaparecimentos, nenhuma novidade autêntica ocorreu na Natureza desligada dos Hominídios. Só por si, este fato sintomático deveria chamar a nossa atenção, acordar as nossas dúvidas. Mas que dizer se passarmos agora a uma análise mais em pormenor do fenômeno? 

Que impulso, que exuberância, que originalidade neste último nado dos filhos da Terra! Um caso típico de mutação; foi assim que definimos, etiquetamos mais atrás a emergência do Homem no coração da mancha antropóide durante o Pliocénio (CHARDIN, 1997, p, 92).
Existe em Teilhard de Chardin um entendimento muito satisfatório da complexidade do homem em sua permanente e salutar união com o universo; esse universo que estende seus limites ao infinito, em dois sentidos. O primeiro é o homem Infinito em complexidade, e o segundo é que o homem também é infinito em consciência, dado que, como já explicamos, complexidade e consciência se correspondem perfeitamente. Sendo o homem o mais altamente complexo, é, ao mesmo tempo, o mais profundamente interiorizado. Em qualquer das linhas de conhecimento, não há como fugir da evolução e da condição privilegiada que o homem ocupa, mesmo que sua descendência animal ainda gere, por parte de alguns cientistas materialistas, algumas reservas, está bem claro no pensamento de Teilahrd de Chardin a sua origem, a sua evolução e o seu primado em tudo que existe. Por esse motivo, esse primado, que está contido nele, é a razão de ser de todos os outros fenômenos que pertencem à evolução, pois, através de seu transformismo, tão bem esclarecido, existe uma íntima ligação entre espírito e matéria. 


Todavia, também ficou claro que a ligação entre espírito e matéria é o homem, que, na condição de animal (matéria), é também espiritual, único a ter consciência dessa realidade. Único a ser visitado em sua condição de humano pela divindade, que, encarnando, tomou forma humana e deu todas as condições para o prosseguimento da evolução e deu oportunidade a toda a terra de ser o que na verdade tem sido e ainda será muito mais; pois, a evolução não acabou. No que tange às modificações introduzidas pela inteligência como apanágio único do homem, vale acrescentar que a inteligência é, entre todas os avanços ocorridos na evolução, aquele que constitui o mais elevado nível, a marca mais intensa que modificou totalmente e para sempre a história da evolução. Até porque, segundo Chardin,
no nível do Homem, enfim, o fenômeno se precipita e toma definitivamente figura. Com a “pessoa”, dotada pela “personalização” de um poder indefinido de evolução elementar, o ramo cessa de carregar no seu conjunto anônimo as promessas exclusivas do porvir. A célula tornou-se “alguém”. Depois do grão de Matéria, depois do grão da Vida, eis o grão do Pensamento
(CHARDIN, 2005, p, 191).

Teilhard de Chardin não se preocupa muito com a teoria bíblica da criação, com os elementos nela contidos, trata apenas de uma antropogênese, como sendo o processo evolutivo pelo qual aparece e se desenvolve o ser humano, que parte do cosmo como berço natural da vida e a vida como berço natural do homem. Esse Cosmo criado por Deus e tendo Cristo como o ponto Ômega, sempre com base nos escritos de São Paulo: “Ele é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste” (Col. 1, 17). Quando trata da encarnação de Cristo, faz uma referência muito interessante, citando Efésios 4, 9: “Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até às regiões inferiores da terra” e, finalmente, apresenta a abrangência participativa e salvadora de Cristo em Col. 3, 11:


“Onde não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos”. Encerrando Teilhard de Chardin faz a seguinte colocação:
Chamemos, para resumir, de ômega o Termo superior cósmico desvelado pela União criadora. Tudo quanto direi se reportará a três pontos:


A. O cristo revelado não é outra coisa senão ômega.


B. É enquanto ômega que ele se apresenta como atingível e como todas as coisas.


C. E é por ser constituído ômega, enfim, que ele, pelos labores de sua Encarnação, teve que conquistar e animar o Universo (CHARDIN, 1980, p,37).
Essa é a “forma mágica” em que Teilhard de Chardin coloca a criação divina e a evolução em uma antropogênese orientada pelo Ômega, que também é responsável pela cosmogênese, segundo João 1, 3: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele e sem ele nada do que foi feito se fez”. Verificando as colocações de Galbiati e Piazza, a segunda narrativa dá todas as condições para que a ciência trabalhe o fato da origem do homem: “ao contrário, na segunda narrativa, além da doutrina e do fato, parece encontrar-se também o modo [...] se o autor pretende falar do modo do aparecimento do homem sobre a terra, suas afirmações caem em um campo que a ciência torna objeto de suas pesquisas” (GALBIATI; PIAZZA, 1960, p, 94). Não há, como fica claro, uma linguagem que explicite o fato em detalhes, entretanto, fica bem claro que há evidências nas diversas argumentações da unidade existente na descendência do homem como dos outros animais e, mais precisamente, a descendência do homem diretamente de um primata. Ao mesmo tempo, encontra nele elementos que diferenciam, enormemente, a reflexão. Teilhard de Chardin acentua:

Por outras palavras, onde localizar, e como caracterizar cientificamente o passo da reflexão? Questão delicada e complexa, que me leva a desenvolver uma dupla série de considerações que oscilam, ambas, entre os dois pontos seguintes:


 1) No essencial, aos olhos da Ciência, o Homem apareceu exatamente em função do mesmo mecanismo (geográfico e morfológicos) que qualquer outra espécie.

 2) No entanto, desde a sua origem, apreendemos nele certas particularidades que denotam uma vitalidade superior à encontrada nas outras espécies (CHARDIN, 1997, p, 81/82).
De forma simples, com uma linguagem capaz de alcançar a todos, melhor ainda sem arrogância, da mais humilde possível, vamos encontrar, na teoria enraizada na mente de Teilhard de Chardin, uma cosmologia que vê em tudo a união de todos os elementos que vão convergindo de forma lenta e ascendente, partindo do elemento mais simples que vê o homem não mais como um enigma estéril ou uma nota dissonante na natureza; ao contrário, é visto como “a última harmonia”. Onde tudo se explica e tudo se configura, como nos relata Witold Skwara.

O Universo, segundo o sábio francês, pode ser visto por dois ângulos, a saber: numa perspectiva geométrica – nela o homem aparece a poeira insignificante perante o gigantismo do cosmo; porém, numa perspectiva bioquímica: nela o homem surge como a mais perfeita síntese e o mais perfeito complexo, alcançado pela matéria no seu vir-a-ser. Se o homem não é o centro espacial do Universo (...) ele encontra-se no pináculo do tempo, como a flecha que indica a direção da evolução, não tanto biológica, porque esta já terminou, quanto espiritual, porque essa se apresenta ainda “infantil”. (SKWARA, 2006, p. 143)

No transformismo teilhardiano, mostra-se, por todos os meios, a diferença existente entre o Animal Homem e os demais Animais. Surgindo do nada, e através de muitas transformações, chega a um estágio em que se liga às habilidades formais do homem, pois, para Paulo Meneses, “A curva da “complexidade-Consciência” manifesta a vinda de uma nova fase evolutiva; a socialização se define como “a forma última da evolução biológica em meio refletido” (MENESES, 2008, p. 109).

Resumindo, queremos tentar fazer a ligação entre tudo o que ficou esclarecido e a verdadeira colocação entre Fé e Ciência, entre Criacionismo e Evolucionismo. Inicialmente, verificamos que não há, nem pode haver, quaisquer discussões sobre o fato de ser o homem um animal, bem assim, que a diferença fundamental entre o homem e os outros animais é a Reflexão, a Consciência; que até hoje, pelo conhecimento científico que se tem, somente ao homem pertence.


 Esse fato, por si só, já nos orienta para verificarmos outro fato: o homem surgiu de uma forma diferenciada; pois, enquanto aqueles, apesar de fazerem parte da mesma cosmogênese, continuam sem a capacidade de compreender os fatos ou os fenômenos que o cercam, o homem foi privilegiado com um avanço reflexivo e a capacidade de tomar consciência das coisas e dos fatos que eram por ele vivenciados; com uma presença mais intensa do espírito, considerando que o espírito não se manifesta em estado puro, senão como um processo progressivo de espiritualização que somente ao homem privilegiou visando a alcançar um estado de autoreflexão até chegar ao ponto de atingir a plena consciência. Conforme já citamos, mas vamos repetir, esse pensamento se coaduna exemplarmente com as ideias de criacionismo e evolucionismo teilhardiano:
É a esse grande processo de sublimação que convém aplicar com toda a sua força, o termo de Hominização. Hominização, que é, de partida, se se quiser, o salto individual, instantâneo, do instinto para o pensamento. Mas hominização, que é também, num sentido mais lato, a espiritualização filética, progressiva, na civilização humana, de todas as forças contidas na animalidade (CHARDIN, 2005, p, 196).

Observe-se que Teilhard de Chardin coloca a hominização como um processo de sublimação, um salto individual e instantâneo, salto do instinto para o pensamento, do Tangencial para o Radial. Pois a evolução no conceito teilhardiano de complexidade-consciência culminará, indubitavelmente, na reflexão humana. Reflexão que tem um direcionamento, um vir-a-ser, que se eleva até ao ponto Ômega, que é o ponto máximo da evolução, com o encontro ou simbiose de Matéria e Espírito. Uma vez que, 


“... a função cósmica do Ômega 
consiste em suscitar e manter sob sua irradiação
 a unanimidade das partículas reflexivas do mundo” 
(CHARDIN, 2005, p, 300). 
 
Atingindo o Hiper-pessoal, alcança-se toda a humanidade, caracterizando como espécie única o ser humano completo possuidor de corpo e alma, um corpo material descendente de outras raças e uma alma que compreende, que usa o racional, que é inteligente e sensível, tudo em decorrência do espiritual, que descende da Divindade. É essa a marca que separa definitivamente o homem dos outros animais. Daí a insistência teilhardiana em colocar sempre os elementos que formam a essência do ser humano, para que se possa com clareza perceber, na verdade, o que diferencia o homem dos animais


A possibilidade cientifica, de sermos descendente de um primata, em nada afeta a fé e a maior aproximação de Teilhard de Chardin com a natureza, com a divindade e, conseqüentemente, com a fé. Uma fé que se traduz na certeza da ordem intelectual e religiosa; onde a “Matéria leva a Deus e Deus “brilha” no ápice da Matéria.” É esse aspecto que eleva cada vez mais seus sentimentos de religiosidade e de gratidão por fazer parte do único ramo da cosmogênese, que tem condições de entender a vida, de relacionar-se, de maneira inteligente com o próximo; de fazer projeto para o futuro; de lembrar-se do passado e de se comunicar com uma linguagem que é capaz de escrever grande parte de sua história para a posteridade. Enfim, por fazer parte desse grupo que é responsável por todas as outras criações e também, responsável ou co-responsável pela própria Matéria. Conforme o comentário de Luis Archanjo na Introdução do Tradutor revela muito claramente esta posição de Teilhard, quando escreve:
Para dizer numa palavra tudo, é nesse período e através desses escritos a consciência da Humanidade como totalidade tangível e concreta, capaz de manipular sua evolução e construir o seu próprio futuro; a conciliação definitiva do espírito e da matéria, no processo da Evolução, acontecendo no Homem e – nele, com ele e para ele – podendo avançar em perfeição (CHARDIN, 1980, p. 12).

Em estando a Matéria unida ao Espírito e sendo o homem a única Matéria- Espírito na cosmogênese, indubitavelmente recai sobre ele toda a responsabilidade, não tão somente pelo progresso da evolução, mas também pela Matéria. Assim é como Urbano Zilles interpreta o pensamento teilhardiano: “o evolucionismo de Teilhard é progressivo. Cientistas objetam-lhe que o progresso é questão meramente subjetiva. 


Teilhard expõe o critério subjetivo da complexidade-consciência da evolução orientada” (ZILLES, 2001, p, 203). Quando Zilles chama a atenção para um evolucionismo progressista, leva-nos ao pensamento de Teilhard de Chardin, a respeito do hominídeo, da biogênese, em que os primeiro seres vivos surgiram, não por um acaso, daí ele responder aos que defendem o acaso, com uma resposta clara de um direcionamento divino, dando sentido e orientação à evolução, e vale acrescentar, todo essa idéia como resultado de um conhecimento científico e o exercício da fé, pois a ciência não tem condições de recuar até as raízes da árvore da vida, a fim de provar, empírica ou objetivamente, sua teoria, embora também não se possa negar que a visão de Teilhard de Chardin, pertencente ao mundo moderno, alcança, com tão elevado sentido, aqueles fatos, decifrando-os com uma linguagem moderna. É talvez o que levou Urbano Zilles a fazer o seguinte comentário:
Evidentemente não devemos imaginar a transição do animal ao homem como se se tratasse do animal e do homem como os conhecemos hoje. Trata-se antes, do salto de um superanimal ao pré-hominídio. 


 A transição histórica entre o animal e o homem não é tão abrupta como a separação observada entre o animal e o homem de hoje. Sob o aspecto de complexidade, tal transição ter-se-ia processado lentamente. Na consciência ter-se-ia realizado o salto a reflexão (ZILLES, 2001, p. 205).

Tudo ocorre em função de um salto do nada para a consciência, esse salto não será na verdade o elo perdido? Tal elo, segundo Malone, a ciência não tem condições de esclarecer: “Comparados à nossa ignorância, nossos conhecimentos são insignificantes. Novas escavações arqueológicas e o desenvolvimento das técnicas de datação [...] podem vir nos dar ainda mais informações, mas parece que numerosos “elos perdidos” vão continuar...” (MALONE, 2005, p, 82). A ciência nunca vai encontrar esses “elos perdidos”, pois eles não podem ser explicados cientificamente, porque a sua explicação está contida em outra área do conhecimento; está naquele “salto individual de um superanimal ao pré-hominídeo”, observada por Zilles, e “a conciliação definitiva do espírito e da matéria, no processo da Evolução, acontecendo no Homem e – nele, com ele e para ele” - observada por Archanjo, na Introdução do Tradutor (CHARDIN, 1980, p. 12), no evolucionismo teilhardiano ou, como o próprio Teilhard de Chardin explica,


 “Hominização, 
que é, de partida, se se quiser,
 o salto individual,instantâneo, 
 do instinto para o pensamento”.

 Dessa forma, não há condições de a ciência fazer as ligações de forma satisfatória e assim encontrar esses elos perdidos. Falando ainda desse salto monumental, Malone assim se refere:
Alguma nova ligação ocorrida no cérebro humano, algum vínculo neural que os Neandertais não tinham, ocasionou o nascer da civilização. Como ocorreu essa ligação? Não sabemos, e poucos cientistas acreditam que um dia saberemos. É esse, em última análise, o verdadeiro elo perdido (MALONE, 2005, p, 84).

A cada novo argumento científico que possa aparecer, na tentativa de explicar o fenômeno do aparecimento do homem na terra, encontra sempre objeções por ausência de prova ou de lógica na argumentação, por falta de um eixo que faça a ligação entre o Hominídeo e o problema da complexidade-consciência; salto inexplicado pela ciência, que faz a verdadeira diferença entre o homem e o animal. Portanto, não restam quaisquer dúvidas de que a explicação e a solução estão no evolucionismo teilhardiano, quando esclarece, através de uma ação transformista, a presença divina junto à natureza para dar um coroamento à criação e, bem assim, à evolução, no salto da reflexão. Resta-nos concluir o pensamento teilhardiano com maior precisão, tarefa que iremos desenvolver em nossas conclusões."

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É isso!

Fonte:
DIRSON MACIEL DE BARROS: “CRIACIONISMO E EVOLUVIONISMO: uma possibilidade de equilíbrio a partir do transformismo de Teilhard de Chardin”. (Dissertação aprovada como exigência parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião, pela Universidade Católica de Pernambuco). Recife 2009.
 
 ENTRE IRMÃOS.NET
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Pablo Picasso
Li-Sol-30
Fonte:
TESES E DISSERTAÇÕES
http://www.ibamendes.com/2011/01/as-conclusoes-evolutivas-de-teilhard-de.html
 http://www.entreirmaos.net/wp-content/uploads/2011/10/Os-Grandes-Iniciados-Edouard-Schure.pdf

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