quarta-feira, 7 de agosto de 2013

ALQUIMIA ESPIRITUAL E A VIA INTERIOR -MÚSICA PARA MEDITAR .8:32:32




MÚSICA PARA MEDITAR Y RELAJARSE . 
MUSIC FOR MEDITATION AND RELAXATION 


"Alquimia Espiritual E a Via Interior"
Por Robert Ambelain 


INTRODUÇÃO
"Assim é Trindade em Unidade, e Unidade em Trindade,
pois onde estão Espírito, Alma e Corpo,
estão também Enxofre, Mercúrio e Sal..."

(Bernard Le Trévisan).

Integrados na trilogia tradicional expressa no triplo portal de nossas grandes metrópoles góticas em enigmáticos baixos-relevos, a Alquimia e suas irmãs, a Astrologia e a Mística, são conhecimentos tradicionais, e não ciências suscetíveis de decantação, evolução e de progresso.
Como tais, elas constituem, então, completa, total e absoluta, esta soma que chamamos as doutrinas de Hermes. Imutáveis em seus princípios (se elas não o são sempre em suas aplicações). È pois com sabedoria que aqueles que, espiritualmente e ocultamente, guiaram a mão dos Construtores medievais, associaram misteriosos guardiões do "Umbral", ao simbolismo esotérico da tripla entrada das Catedrais.


Em uma época onde o progresso de uma física e de uma química imprudentes, coloca nas mãos de homens destituídos de toda espiritualidade ou de toda moral, as chaves da morte com as quais eles podem, joguetes de sua própria anarquia interior, destruir o Mundo a qualquer momento, é importante, parece-nos, dissociar a Alquimia tradicional das caricaturas pelas quais se tem desejado faze-la a fonte longínqua dos conhecimentos destruidores anteriormente citados. A Alquimia não é, com efeito, só e unicamente, a procura da geração do Ouro material, mas também e sobretudo outra coisa.


Expressa primeiramente em postulados oriundos dos flancos fecundos de sua irmã a Mística, a Alquimia exige primeiramente do iniciado( ) que ele se ponha na escola da Natureza, antes de lhe confiar enfim as chaves do Adeptado( ).


È assim que tais postulados serão aplicados material e experimentalmente no segredo do laboratório do Hermetista. E isto, de acordo com procedimentos arcaicos e com meios materiais rigorosamente iguais aos das origens longínquas da Arte Real, no Egito, para uma "matéria prima" cujo nome, imutavelmente mantido em segredo, constitui desde já um primeiro arcano.
E estas mesmas regras seculares conduzirão pouco a pouco o filósofo perseverante aos mesmos resultados e às mesmas conclusões que seus antigos iniciadores. Como eles, ele passará pelas mesmas vias, balizadas pelas mesmas esperanças, e muitas vezes pelos mesmos reveses. O mesmo e imutável desenvolvimento simbólico da Obra, onde a mais extraordinária simplicidade dos meios materiais utilizados se alia a uma teoria que habita os planos mais obscuros, o levará lentamente, em um lapso de tempo condicionado pelos Astros, celestes promotores dos Metais, e por seu próprio saber, reflexo daquele do Adão Primeiro, até o último objetivo procurado.
E este objetivo é uma estranha substância, que a Química dos homens ignora, que ela jamais analisou, e que ignorará talvez para sempre. É um corpo que não descrevem as obras universitárias, e do qual o simples nome faz sorrir o profano, e esta substância é a "Chrysopéia', a pedra filosofal.


Para obter seu fino cristal, cor de rubi, ao qual as trevas restituem instantaneamente sua misteriosa luminescência, o artesão da Grande Obra terá primeiramente conhecido estranhos companheiros de caminhada. Eis os arcontes que guardam aos umbrais sucessivos dos mundos intermediários para melhor batizar o caminho ao sábio, com inumeráveis e simbólicos personagens( ): O Corvo e o Cisne, o Leão e o Dragão, o Rei e a Rainha, etc..., lhe proporão passo a passo seu enigma particular!


E não é senão após Ter compreendido o sentido secreto deles, que o peregrino merecerá ver enfim se elevar, radiante no seio das trevas metálicas, a estrela de Compostela, anunciadora do fim do périplo aurífero( ).


Embora, desprovido em aparência de bases racionais, e sem nenhuma possibilidade de aplicações industriais, o processo utilizado não constituirá senão um verdadeiro enriquecimento espiritual do Hermetista, pois a Vida lhe terá, enfim, confiado um de seus maiores segredos. E, transmutado por esta segunda Revelação, o iniciado enfim Adepto, poderá transpor, para o plano de sua espiritualidade interior, o Arcano enfim conquistado, para ser e estar sempre: iluminado.
E como a Pedra misteriosa se engendra e se multiplica ela própria em progressão matemática contínua, o iluminado, por sua vez, transmitirá sua própria luz espiritual aos que fizerem a si próprios, matéria prima inteligente e dócil, aceitando morrer chumbo para melhor renascer ouro...

OS IDEOGRAMAS HERMÉTICOS


GLOSSÁRIO DE TERMOS ALQUÍMICOS E HERMÉTICOS
Acredita-se ser útil dar, no início, um significado suficientemente geral dos termos habitualmente utilizados pelos autores que tem tratado de Alquimia. Este pequeno glossário permitirá, aos leitores desejosos de estudar profundamente a Alquimia material que, paralelamente à Alquimia espiritual, permitirá a compreensão de obras muito fechadas, como "O Livro das Imagens sem Palavras", ou Mutus Liber, "O Tratado Simbólico da Pedra Filosofal" de J. C. Barchunsen, "O Amfiteatro da Sabedoria Eterna", de Henry Khunrath. E, assim familiarizados com a significação geral destes termos um pouco obscuros, será mais fácil abordar as obras dos alquimistas modernos, e sobretudo do grande Jean-Julien-Hubert Champagne, aliás Fulcanelli( ). Em suas obras "O Mistério das Catedrais" e "As Moradas Filosofais", ele aborda o domínio material da Alquimia. Mas as significações que damos aqui serão utilmente completadas pelo aspecto prático que ele nos dá.


AFINAÇÃO: Operação pela qual separa-se de um metal tudo que lhe é estranho. Ela é praticada particularmente sobre o ouro e sobre a prata.
ÁGUA: Um dos quatro Elementos dos Antigos. Não possui nada em comum com a água vulgar.
ÁGUIA: Símbolo da volatilização, e também dos ácidos empregados na Obra. Uma águia devorando um leão significa a volatilização do fixo pelo volátil. Duas águias se combatendo possuem o mesmo significado.
ALBIFICAÇÃO: Calcinação ao branco ou ao vermelho.
ALLUDEL: Aparelho composto de vasos superpostos e comunicantes entre si, para se efetuar uma sublimação lenta.


AMALGAMAÇÃO: União íntima de diversos elementos metálicos em um todo homogêneo e bastante maleável.
ANIMAIS: Em regra geral, quando encontram-se na figura dois animais, de mesma espécie mas de sexo diferente (como leão e leoa, cachorro e cachorra), isto significa o Enxofre e o Mercúrio preparados em vista da Obra, ou ainda o fixo e o volátil. O macho representa então o fixo, o Enxofre, a fêmea representa o volátil, o Mercúrio. Unidos, os animais exprimem a conjunção, as núpcias, o casamento. Eles se combatendo: fixação do volátil ou volatilização do fixo. Ver as figuras de Basílio Valentin, em "As Doze Chaves da Filosofia Oculta"( ). Os animais podem ainda simbolizar os Elementos: Terra (leão, touro), Ar (águia), Água (peixe, baleia), Fogo (dragão, salamandra). Se um animal terrestre figura em uma imagem hermética com um animal aéreo, eles significam
respectivamente o fixo e o volátil.
ANJO: Simboliza por vezes a sublimação, ascensão de um princípio volátil, como nas figuras do
"Viatorium spagyricum".
APOLLO: O sol, o ouro.
AR: Um dos quatro elementos dos Antigos. Não tem nenhuma relação com as o ar que respiramos.
ÁRVORES: Uma árvore portando luas significa o pequeno magistério, a pedra ao branco. Se ela porta sóis, é a Grande Obra, a pedra ao vermelho. Se ela porta os símbolos dos sete metais, ou os signos do sol, da lua e cinco estrelas, significa então a matéria única de onde nascem os metais.
ATHANOR: Forno para reverberação.
BALÃO: Vaso de vidro amplo e redondo, destinado a receber os produtos da destilação.
BANHO: Símbolo: 1) da dissolução do ouro e da pedra; 2) da purificação destes dois metais.
BANHO-MARINHO( ): Aparelho disposto de forma que o vaso que contém a matéria esteja em banho com a água fervente.
BRANCO: Pedra ao branco, pedra ainda imperfeita, onde todas as possibilidades transmutatórias não foram ainda desenvolvidas e obtidas.
CADINHO: Vaso de argila refratária de forma aberta em cima, destinado à fusão de metais e de corpos duros.
CALCINAÇÃO: Redução dos corpos no calor. Ela pode ser seca ou úmida.
CALADIÇÃO: Calor.
CÂMARA: Símbolo do ovo filosófico, quando o Rei e a Rainha estão nele encerrados (Enxofre e Mercúrio).
CAOS: Símbolo da unidade da Matéria, por vezes da cor negra (primeiro estado da Obra), da putrefação.
CÃO: Símbolo do Enxofre, do Ouro. O cão devorado por um lobo, significa a purificação do ouro pelo antimônio. Cachorro e cachorra significam, associados, o fixo e o volátil.
CAPITEL: Cavidade de vidro munida de um bico, que adapta-se ao pescoço da cucurbita ou ao urinai, para poder destilar os espíritos minerais. Capitel, chapéu, chapeleta, alambique, são mais ou menos a mesma coisa.
CASAMENTO: União do Enxofre e do Mercúrio, do Fixo e do Volátil. O padre que celebra representa o Sal, meio de união entre eles.
CHUVA: Símbolo da cor branca na Obra, ou albificação. É também a imagem da condensação no curso da realização.
CIMENTAÇÃO: Operação pela qual, por meio de pós minerais denominados cimento, purificamos os metais ao ponto em que neles não ficam mais que a pura substância metálica.
CIRCULAÇÃO: Consiste em fazer circular os líquidos em um vaso fechado por efeito de um calor lento.
CIRCULATÓRIO: Ver Pelicano.
CIRCUNFERÊNCIA: Unidade da Matéria. Harmonia universal.
CISNE: Símbolo da Obra em branco, segundo estado após a putrefação e irisação. Esta última não figura no ternário clássico da Grande Obra: negro, branco e vermelho.
COOBAÇÃO: Ação de colocar o espírito metálico, destilado, sobre seu resíduo.
CORNIJA OU RETORTA: Vaso de vidro redondo, com o bico recurvado para baixo, servindo para destilar as matérias no curso da Obra.
COROA: Símbolo da realeza química, da perfeição metálica. No "La Margarita Préciosa", os seis metais são primeiramente representados como escravos, cabeças nuas aos pés do rei, o Ouro. Mas, após sua transmutação, eles são figurados com uma coroa na cabeça. Daí em alquimia espiritual, a frase de L.C. de Saint-Martin: "Todo homem é seu próprio rei...", quer dizer, todo homem traz em si a possibilidade do retorno à sua "realeza" perdida, no plano espiritual e angélico.
CORVO: Um dos primeiros estados da Obra: a putrefação.
CAUPELAÇÃO: Afinação ou controle alquímico do ouro e da prata pelo derretimento do chumbo em um cadinho.
CRIANÇA: Revestida com roupas reais, ou simplesmente coroada: símbolo da pedra filosofal, às vezes da Obra em vermelho.
CRISOPÉIA: A pedra filosofal, a Grande Obra realizada.
CUCURBITA: Vaso em forma de abóbora aberto para o alto, que se cobre com um capital para a destilação de vegetais e outras matérias.
DECREPITAÇÃO: Ação de aquecer o sal comum com um cadinho para tirar a umidade.
DELÍQUIO: Ou deliqüescência, Resolução natural dos sais em água por exposição em um lugar úmido.
DESFLEUGMAR: Consiste em separar a água contida nos corpos (ou fleugma), por evaporação ou destilação.
DESTILAÇÃO: Operação durante a qual se separam as partes sutis dos corpos sólidos ou líquidos, ou ainda o espírito da matéria que o engolira.
DIANA: Ver Lua.
DIGESTÃO: Desagregação, involução ou maturação da matéria obtida expondo-se o vaso que a contém ao calor do banho-marinho por um tempo conveniente.
DRAGÃO: Um dragão mordendo sua cauda: a unidade da Matéria. Um dragão nas chamas: símbolo do Fogo. Vários dragões se combatendo: a putrefação. Dragão sem asas: o Fixo. Dragão alado: o Volátil.
ENXOFRE: Um dos princípios ocultos constitutivos da Matéria. Não tem nada em comum com o corpo vulgar deste nome. É também o símbolo do Ouro, preparado para Obra final.
ESFERA: Designa a unidade da Matéria.
ESPADA: Símbolo do Fogo.
ESQUELETO: Putrefação, a Obra no estado da cor negra. Sinônimo do Corvo
ESTRATIFICAÇÃO: Superposição, por planos alternados, de diversas matérias submetidas a um fogo violento, em um vaso fechado. A mistura se opera então por fusão, mas a superposição não é deixada ao acaso, ela deve ser racional e científica.
FAULX: Símbolo do Fogo.
FÊNIX: Símbolo da cor vermelha na Obra. O Ovo da Fênix é o Ovo filosófico. A Fênix é também o Enxofre e o Mercúrio dos Sábios unidos e conjugados no fim da Obra.
FIXO: O Enxofre metálico, ou cão Corascene.
FLORES: Representam geralmente as cores sucessivas que aparecem no curso da Obra.
FOGO: Um dos quatro Elementos dos Antigos. Não tem nada em comum com o fogo vulgar.
FOGO DE RODA: Primeira fase da Segunda Obra, fogo brando e lento.
FOGO DE SAIBRO: Interposição de saibro entre o fogo e o vaso contendo a matéria a tratar.
FOGO SECRETO: Espírito universal encerrado no seio das trevas metálicas, centelha de vida oculta em tudo o que está em seu estado natural primitivo.
FONTE: Três fontes representam geralmente os três princípios: Enxofre, Mercúrio e Sal. Ver também Banho. Há ainda outros aspectos desta palavra, que demandariam um desenvolvimento um pouco mais longo. Nós os encontramos notavelmente descritos nas obras de Fulcanelli.
FRIO: Uma das quatro qualidades elementares da Natureza.
HERMAFRODITA: O resultado da conjunção do Enxofre e do Mercúrio, chamado também Rébis.
HOMEM E MULHER: Enxofre e Mercúrio. Nus, designam o ouro e a prata impuros. Suas núpcias: conjunção do Enxofre e do Mercúrio. Encerrados em um sepulcro: os dois princípios unidos no Ovo filosófico.
JÚPITER: Símbolo do estanho.
LEÃO: Só: símbolo do Fixo, do Enxofre. Alado: o Volátil, o Mercúrio. O leão representa ainda o mineral (ou vitriolo verde), de onde extrai-se o óleo de vitriolo (ácido sulfúrico) do qual se servem os alquimistas. O leão, oposto a três outros animais, simboliza a Terra. É ainda o símbolo da Crisopéia.
LEOA: O volátil, o Mercúrio.
LIQUAÇÃO: O Ovo filosófico.
LOBO: Símbolo do Antimônio.
LUA: O Volátil, o Mercúrio, a Prata dos Sábios.
LUTO: Produto feito de matérias espessas e gordurosas destinadas a obturar as juntas que ligam diversos vasos entre si.
MARMORIZAR: Trituração das matérias sobre o mármore, com a ajuda de um pilão. Se diz também porfirizar.
MARTE: O ferro, a nuance alaranjada na Obra.
MATRAZ: Vaso de vidro, redondo, oval ou achatado, munido de um longo pescoço. Nele se coloca para digerir a matéria preparada.
MÊNSTRUO: Águas vegetais ou minerais de propriedade dissolvente. Corrosivo.
MERCÚRIO: Um dos princípios ocultos constitutivos da Matéria. Não tem nada em comum com o corpo vulgar deste nome. É também o símbolo da Prata preparada para a Obra final.
MONTANHA: Forno dos filósofos. Ápice do Ovo filosófico.
MORTIFICAÇÃO: Alteração da matéria por trituração ou adição de um elemento ativo.
NEGRO: Simbolizado também pelo Corvo. Imagem da putrefação.
NETUNO: A Água.
NÚPCIAS: Ver Casamento.
OURO DOS SÁBIOS: Enxofre filosófico.
PADRE: Casando um homem e uma mulher ou um rei e uma rainha, simboliza o Sal princípio.
PALÁCIO: Entrada no Palácio fechado: descoberta do Agente capaz de operar a redução do Fixo, o retorno a uma forma análoga àquela de sua primitiva substância. Designa também o acesso ao Ouro Vivo, Ouro dos Sábios ou Enxofre filosófico, caso se trate do acesso ao Palácio fechado do Rei, e designa, ao contrário, a Prata Viva, a Prata dos Sábios ou Mercúrio filosófico, caso se trate da entrada no Palácio fechado da Rainha.
PÁSSARO: Elevando-se no céu: volatização, ascensão, sublimação. Voando em direção ao solo: precipitação, condensação. Estas duas imagens reunidas em uma mesma figura: a destilação. Pássaros opostos a animais terrestres, significam o Ar, ou o Volátil.
PASSAGEM ESTREITA: Orifício.
PELICANO: Cucurbita fechada munida de dois manípulos religando a cabeça ao ventre. Chama-se também circulatório em razão de sua função.
PRATA DOS SÁBIOS: Mercúrio dos Filósofos.
PRIMA MATÉRIA: Matéria prima da Obra hermética. Geralmente, pirita de ferro ou de chumbo (Galena).
QUADRADO: Símbolo dos quatro Elementos.
QUENTE: Uma das quatro qualidades elementares na Natureza.
RÉBIS: Resultado do amálgama do Ouro dos Sábios e do Mercúrio dos Sábios, matéria dupla, ao mesmo tempo úmida e seca, tendo recebido da Natureza e da Arte uma dupla propriedade oculta exatamente equilibrada.
RECIPIENTE: Designa neste caso um balão de vidro.
REI E RAINHA: Ver Homem e Mulher.
RESÍDUO: O que fica no fundo de um vaso após a destilação. Sinônimo de fezes, terra morta, terra condenada, caput mortem.
RETIFICAÇÃO: Última destilação para se obter um espírito metálico extremamente puro. Faz-se seguidamente em fogo bem vivo.
REVERBERAÇÃO: Exaltação da energia interna do espírito metálico pela ação de um fogo violento sobre a matéria que contém este espírito. Às vezes: dissecação total.
ROSA: Designa a cor vermelha, estado último da Obra. Uma rosa branca e uma vermelha: união do Fixo e do Volátil, do Enxofre e do Mercúrio. Às vezes, a rosa é o emblema de toda a Arte Hermética.
RUBIFICAÇÃO: Ação de destruir o Enxofre combustível, e de exteriorizar o Enxofre incombustível, princípio da aurificação dissimulada no seio do mineral.
RUBI MÁGICO: Agente energético, de uma sutilidade ígnea, revestido da cor e das múltiplas propriedades do fogo. Também chamado Óleo de Cristo, Óleo de Cristal, é ainda simbolizado pelo Lagarto heráldico, ou a Salamandra, que vive do fogo e nele engorda.
SAÍDA: Operação consistente em separar a prata do ouro por meio do salitre. É uma afinação.
SAL: Também chamado Arsênico, um dos três princípios misteriosos componentes dos corpos. Não tem nada em comum com um sal vulgar qualquer. Na união do Enxofre e do Mercúrio nos metais, se obtém ele como resultado. Como aliás, da ação recíproca do espírito e da alma, ou da alma e do duplo psíquico, se constitui o corpo dos seres humanos. O Sal pode ainda ser comparado ao "resultado" na adição de dois fatores.
SALAMANDRA: Simboliza o Fogo. Algumas vezes, ela significa a cor vermelha, estado último da Obra, ou mesmo a cor branca que a precede. Ver o Rubi Mágico.
SATURNO: Designa o chumbo. Igualmente, a cor negra da Obra, no estado de putrefação. Sinônimo do Corvo.
SECO: Uma das quatro qualidades elementares na Natureza.
SEPULCRO: Ovo Filosófico.
SEQUIDÃO: Aridez.
SERPENTE: Mesmas significações que para o Dragão. Três serpentes designam os três princípios: Sal, Enxofre e Mercúrio. Duas serpentes sobre o Caduceu: o Enxofre e o Mercúrio dos Sábios. Serpente alada: o Volátil. Sem asas: o Fixo. Serpente crucificada: representa a fixação do volátil.
SOL: Por vezes o ouro ordinário, preparado para a Obra, às vezes designa o Enxofre dos Sábios.
SUBLIMAÇÃO: Violenta ou lenta. A lenta é a melhor. A matéria é colocada em um vaso fechado com pescoço grande, sobre um fogo lento, de forma que as partes sutis (ou puras) se separem das partes grosseiras (ou impuras), subindo da parte de baixo do vaso para cima.
TERRA: Um dos quatro Elementos dos Antigos. Não tem nada a ver com o solo que pisamos.
TRIÂNGULO: Símbolo dos três princípios misteriosos constitutivos dos metais: Sal, Enxofre, Mercúrio.
ÚMIDO: Uma das quatro qualidades elementares na Natureza.
URINAL: Vaso parecido com uma cucurbita, mas um pouco mais longo. Serve para os mesmos fins.
VÊNUS: Designa o cobre.
VERMELHO: Estado último da Grande Obra. Simboliza também o Fogo.
VOLÁTIL: Imagem do Mercúrio. O que pode ser separado dos elementos fixos.
VOLATIZAÇÃO: Ação de transformar um corpo sólido em gás ou em vapor. Separação dos elementos voláteis dos fixos.
VULCÃO: Símbolo do fogo ordinário.
Resumem-se aqui, alguns dos termos que se encontram em um certo número de obras que tratam de alquimia. Particularmente, seguimos as significações dadas por Albert Poisson, em seu livro "Teorias e Símbolos", e pelo pesquisador erudito Jean Mavéric, em seu livro "A Arte Metálica dos Antigos". Quando o assunto valia a pena, recorremos às duas obras de Fulcanelli, "O Mistério das Catedrais" e "Demeures Philosophales", e aos "Cinco Livros" de Nicolas Valois, etc...


Capítulo I
NOÇÕES GERAIS SOBRE ALQUIMIA

"Basílio Valentin, monge beneditino, descreveu muito claramente a alma do metal,
que ele denominou enxofre, ou tintura; o corpo, sendo o sal;
e enfim o espírito, que ele chamou mercúrio..."

(J.B.Van Helmont: Ortus Medicinae, 1648).

A terminologia hermética emprega palavras e expressões que não tem nada em comum com suas equivalentes na linguagem profana. È pois, indispensável definir o que se entende aqui por certas palavras essenciais, que são os nomes dos elementos constitutivos da Matéria Prima, e de sua evolução em direção ao seu estado último: o Ouro, símbolo da perfeição no seio da vida metálica.


A - AS QUATRO QUALIDADES ELEMENTARES:
O Frio: Origem da fixação; manifesta-se por uma ausência total ou parcial da vibração, onde então o efeito é o de coagular ou de cristalizar a Matéria, em detrimento do princípio da expansão que está no calor (conservação). Sua ação é então adstringente, fixadora, cristalizadora, abrandante;


O Úmido: Origem da feminilidade, traduz-se por uma vibração de natureza atrativa, mutável, instável, amaciante, relaxante, umectante, que penetrando nos átomos, divide os homogêneos e une os heterogêneos, provocando assim a involução da Matéria, ou sua desagregação. Sua ação é temperante, amaciante, dispersante;


O Seco: Origem da reação, manifesta-se por uma vibração de natureza retentora, herética, irritante, que contraria e retém a impulsão dada. Sua ação é retrativa;


O Calor: Origem da masculinidade, traduz-se por uma vibração de natureza expansiva, dilatante, rarefeita, que provoca a evolução dos átomos. Sua ação é vitalizante, estimulante, dinâmica.


No homem , estas quatro qualidades dão:
Frio: Impassividade, ceticismo, egoísmo, desejo ativo de submissão;
Úmido: Passividade, variação, assimilação, desejo passivo de submissão;
Seco: Reação, oposição, retenção, desejo passivo de dominação;
Quente: Expansão, entusiasmo, ação, desejo ativo de persuasão.


B - OS QUATRO ELEMENTOS:
Terra: A ação reativa do Seco sobre o Frio lhe divide, e assim, se opondo à sua total fixação, o transforma no elemento Terra, princípio concentrador e receptor;
Água: A ação refrigerante, coaguladora, atônica e fixadora do Frio sobre o Úmido, o espessa, torna-o mais pesado, e o transforma em água, princípio da circulação;
Ar: A ação expansiva, dilatante e rarefeita do Calor sobre a Umidade transforma-a em Ar, princípio da atração molecular;


Fogo: A ação reativa, retentora, herética e irritante do Seco sobre o Calor transforma-o em Fogo, princípio de dinamização violenta e ativa.


No homem, estes quatro Elementos dão:
Terra: Inquietude, taciturnidade, reserva, prudência, ternura contida ou egoísmo, espírito concentrado ou pretensioso, desconfiado, reflexivo, engenhoso, estudioso, solitário;
Água: Passividade, indolência, desgosto, lassitude, submissão, inconsistência, versatilidade, preguiça, inconsciência, incerteza, timidez, medo;
Ar: Amabilidade, cortesia, serviçalidade, habilidade, sutileza, iniciativa, prontidão, assimilação, engenhosidade, harmonia;
Fogo: Violência, autoridade, ambição, entusiasmo, presunção, orgulho, irascibilidade, ardor, fervor, coragem, generosidade, paixão, prodigalidade, ímpeto, vaidade.


C - OS TRÊS PRINCÍPIOS DOS FILÓSOFOS:
Enxofre Princípio: O Calor, contido no Fogo e no Ar, engendra um princípio de natureza quente, fecundante, fermentativa, que se denomina de Enxofre. É o princípio Masculino de toda a semente, e dele nasce o sabor, a cor fundamental vermelha. No
Homem, corresponde ao Espírito;

Mercúrio Princípio: O Úmido, contido no Ar e na Água, engendra um princípio de natureza vaporosa, sutil, mutável, geradora, que se denomina Mercúrio. É o princípio
Feminino de toda semente, e dele nasce o odor, a cor fundamental azul. No homem corresponde à Alma;

Sal Princípio: O Seco, contido no Fogo e na Terra, engendra um princípio de natureza seca, coesiva, coaguladora, que se denomina Sal. É o princípio de unificação do Macho e da Fêmea, assim como o resultado desta união. Dele nascem então a forma e o peso, a cor fundamental amarela. No Homem, corresponde ao Corpo.
Eis então, os três princípios constitutivos que são, no vocabulário da Alquimia tradicional, a Substância próxima dos seres e das coisas.

D - OS DOIS METAIS DOS SÁBIOS:
Prata dos Sábios: Também chamada Mercúrio dos Sábios (por oposição ao Mercúrio dos Filósofos que o precede no estado anterior, ou ao Mercúrio dos Tolos, que é a prata viva vulgar), ou ainda Prata Filosófica. Resulta da absorção de uma certa quantidade de Enxofre Princípio por uma quantidade determinada de Mercúrio Princípio, ou mais exatamente, pela absorção de uma quantidade proporcional de Ouro vulgar por uma quantidade determinada de Mercúrio Princípio. Este Ouro vulgar não deve ter sofrido nem exaltação (sublimação ou volatilização), nem transfusão. Em uma palavra, ele não deve ter sido refundido ou ligado a ele próprio, deve ser virgem; 


Ouro dos Sábios: Também chamado Enxofre dos Sábios (por oposição ao Enxofre dos Filósofos que o precede no estado anterior, ou ao Enxofre dos Tolos, que é o enxofre vulgar), ou ainda, Ouro Filosófico. Ele resulta da absorção de uma certa quantidade de Sal Princípio por uma quantidade determinada de Enxofre Princípio, ou ainda, pela absorção de uma quantidade proporcional de Prata vulgar por uma quantidade determinada de Enxofre Princípio. Esta Prata não deve ter sofrido nem exaltação (sublimação ou volatização), nem Transfusão. Em uma palavra, não deve ter sido refundida ou ligada a ela própria, deve ser virgem.
Estas duas Operações resultam de uma série de cozimentos sucessivos (multiplicações).

E - A CRISOPÉIA OU PEDRA FILOSOFAL:
Crisopéia: É obtida pelo lento cozimento no Ovo Filosófico (matras), colocado em um banho de saibro, no selo de um Atanor (forno), da mistura e da co-destruição do Ouro dos Sábios e da Prata dos Sábios.


Figura 1.- A Tretraktys Alquímica: Vemos por este esquema, que o Frio e o Úmido geram a Água, o Úmido e o Calor geram o Ar, o Calor e o Seco geram o Fogo, e o Seco e o Frio geram a Terra. Por sua vez, a Água e o Ar geram o Mercúrio Princípio, o Ar e o Fogo geram o Enxofre Princípio, e o Fogo e a Terra geram o Sal Princípio. No segundo estado da Obra, o Mercúrio Princípio e o Enxofre Princípio geram a Prata Filosófica ou a Prata dos Sábios, e o Enxofre Princípio e o Sal Princípio geram o Ouro Filosófico ou o Ouro dos Sábios. A copulação destes dois dá então a Crisopéia.


Capítulo II
A ALQUIMIA ESPIRITUAL

Em relação a Unidade da Matéria, postulado de partida dos Hermetistas de antigamente, do qual tanto escarnecia-se, a física nuclear moderna nos tem dado provas incontestável. E a química igualmente, que nos demonstra, realizando matérias e produtos totalmente desconhecidos em outras épocas, que o adágio antigo tem razão ao dizer que "omnia ab uno, et in unum omnia...", o que significa dizer que em um está o todo, e no todo está o um. Basílio Valentin, de sua abadia beneditina, colocava já em princípio, esta unidade magistral:

"Todas as coisas vêm de uma mesma semente, elas têm todas
uma origem criada pela mesma Mãe...".

(Basílio Valentin, "O Carro do Triunfo do Antimônio").

E, no plano espiritual, Jacob Boehme é também afirmativo:


"A Alma do Homem, os Demônios, os Santos Anjos, todos provêm de uma única Fonte...
E o Homem contém em si a parte do Mundo Exterior que o Demônio
encerra igualmente em si, mas sob um princípio diferente...".

(Jacob Boehme, "Da Eleição da Graça").

Bem antes destes filósofos, a Gnose tradicional abordara já este assunto em sua afirmação da doutrina da Emanação, dizendo que as Criatura espirituais haviam sido emanadas de uma Fonte Única: Deus- Abismo, e não criadas do nada. O que significa que elas originaram-se, segundo esta doutrina, por desdobramentos sucessivos: Causas Segundas da Causa Primeira, Causas Terceiras das Causas Segundas, etc., a partir do UNO-ORIGINAL, que é Deus.
De acordo com esta doutrina, tudo o que é de origem divina e se encontra aqui em baixo, degenera em suas possibilidades espirituais, prisioneiro de um Mundo grosseiro, mas tudo isso pode ser renovado, e esta obra de regeneração se chama Reintegração.


A Alquimia se divide desde então em três etapas de provação:
a) A Obra, transmutatória dos metais imperfeitos em ouro puro;
b) O Elixir da Longa Vida: espécie de medicina universal, capaz de curar praticamente toda enfermidade ou doença, e de assegurar uma longevidade considerável, visando a imortalidade. Devemos tornar esta afirmação apenas em seu sentido espiritual;
c) A Reintegração Universal: ou seja, a regeneração do Cosmos todo, de todas as Criaturas Espirituais, fim último da Alquimia verdadeira.

Jacob Boehme nos disse em efeito o que segue, quanto ao último aspecto da Grande Obra:

"Não há nenhuma diferença essencial entre o Nascimento Eterno,
a Reintegração, e a descoberta da Pedra Filosofal. Tudo tendo saído da Unidade,
deve retornar a ela de forma semelhante...".
(Jacob Boehme: "De Signatura Rerum").


Concernente ao misterioso Elixir da Longa Vida, podemos encontrar um eco nas palavras de Eckhartshausen:
"O renascimento é triplo: primeiramente, o renascimento de nossa razão; segundo, aquele de nosso coração e de nossa vontade; terceiro, nosso renascimento corporal. Muitos homens piedosos, e que buscavam Deus, foram regenerados no espírito e na vontade, mas poucos conheceram o renascimento corporal...".
(D. Heckhartshausen, "A Nuvem sobre o Santuário").


Convém ainda distinguir entre Alquimistas e sopradores. Os primeiros, filósofos em posse de uma doutrina milenar (a gnose), tinham teorias particulares que não lhes permitiam ultrapassar certos limites em suas pesquisas. Seu campo de experimentação estava no mundo metálico.
Os segundos, ao contrário, pessoas desprovidas de conhecimentos esotéricos e de ciência, empíricos de primeira linha, faziam desfiar em suas retortas, produtos os mais heteróclitos dos três reinos, não hesitando de trabalhar sobre as substâncias mais estranhas tanto quanto sobre os resíduos naturais mais repugnantes.


Os alquimistas conservaram e demonstraram os limites do Hermetismo e da Alquimia. Os sopradores os ignoravam, mas criaram a Química.


A existência de uma Alquimia espiritual, elemento da Reintegração individual do Adepto, está provada sem contestação pela leitura dos autores antigos, sem dúvida foram eles bons cristãos! Mas a existência de uma alquimia espiritual não se deve ao fato de que eles haviam compreendido que Conhecimento e Sabedoria deviam andar juntos, e que o Conhecimento sem a Sabedoria é pior que a Ignorância sozinha?


É por isso que em sua raríssima obra "A Palavra Perdida", Bernard Le Trévisan nos diz: "Assim, é a Trindade na Unidade, e Unidade na Trindade, pois lá onde estão Espírito, Alma e Corpo, lá estão também Enxofre, Mercúrio e Sal...". E Albert Poisson então conclui que:
A Grande Obra tem um triplo objetivo no Mundo Material: a Transmutação dos Metais, para os fazer chegar a Ouro, à Perfeição; no Microcosmo, o aperfeiçoamento do Homem Moral; no Mundo Divino, a contemplação da Divindade em seu Esplendor. De acordo com a Segunda acepção, o Homem é então Athanor filosófico onde se realiza a elaboração das Virtudes, e então neste sentido, segundo os místicos, é que devemos entender estas palavras:


"...Pois a Obra está convosco e em vós, de sorte que, procurando em vós mesmos,
onde ela está continuamente, vós a tereis sempre, em qualquer parte que
estivéreis na terra ou no mar..." (Hermes Trimegisto, "Os Sete Capítulos")".

(Albert Poisson: "Teorias e Símbolos dos Alquimistas"). 

Citamos ainda Basílio Valentin:
"De tais coisas, saiba, meu amigo apaixonado pela Arte Química, que a Vida é unicamente verdadeiro Espírito e que, por conseqüência, tudo o que o vulgar ignorante julga estar morto, em verdade deve ser levado a uma vida incompreensível, visível, e espiritual e nesta ser conservado..."


(Basílio Valentin, "As Doze Chaves da Filosofia", Chave V).
"Se quiserdes realizar nossa Pedra, sê sem pecado, persevere na Virtude.
Que teu espírito seja esclarecido do Amor da Luz e da Verdade. Tomai a resolução,
após ter adquirido o Dom Divino que desejas, de estender a mão aos pobres
atolados, de ajudar e reerguer aqueles que estão na desgraça..."

(Basílio Valentin, "Le Rébis des Douze Clés").

De fato, e coisa curiosa, os elementos essenciais, auxiliares sucessivos desta transmutação, da Pirita metálica, e do Homem carnal, são às vezes de número, de classificação e de sucessão, exatamente semelhantes. Analisaremos então sucessivamente os dois aspectos da Obra.
Aos quatro Elementos naturais dos Antigos:


Fogo Ar Água Terra
(Oxigênio) (Azoto) (Hidrogênio) (Carbono)

Correspondem as quatro Qualidades:
Úmido Quente Seco Frio
E os quatro Temperamentos:
Sangüíneo Biliar Nervoso Linfático


É este o plano correspondente à realização denominada Alkaest. Do estágio imediatamente superior a esses quatro modos de manifestação da Vida na Matéria, os Alquimistas tiraram, por copulação, os três termos deste segundo plano, que eles nomearam de a realização do Azoto, ou seja, os três princípios essenciais de partida da Obra, que são:


Água + Ar Ar + Fogo Fogo + Terra
(Mercúrio Princípio) (Enxofre Princípio) (Sal Princípio)

Então, a Obra podia esperar passar do Negro ao Branco. E de fato, pela copulação do Mercúrio Princípio e do Enxofre Princípio, que o Adepto obtinha a Prata filosófica, ou Mercúrio dos Sábios, assim como da copulação do Enxofre Princípio e do Sal Princípio, ele extrai o Ouro Filosófico ou Enxofre dos Sábios:
Mercúrio Princípio + Enxofre Princípio = Prata Filosófica (Mercúrio dos Sábios).
Enxofre Princípio + Sal Princípio = Ouro Filosófico (Enxofre dos Sábios).
Enfim, pela copulação do Mercúrio dos Sábios e do Enxofre dos Sábios, a Obra passava do Branco ao Vermelho, o Adepto obtinha a Crisopéia, a Prata filosofal (fig.1).


A Rota do Mercúrio se chamava igualmente o Palácio da Rainha, porque ela levava à Esposa Branca (Mercúrio). E a Rota do Sal era o Palácio do Rei, porque ela levava ao Marido Vermelho (Enxofre).
Esta visão material e experimental se reveste então de uma visão espiritual, transcendental. Aos quatro Elementos de partida, correspondem então necessariamente as quatro Virtudes Cardeais da escolástica antiga, a saber:


O Fogo O Ar A Água A Terra
à Força à Justiça à Temperança à Prudência

Aos três Princípios saídos destes quatro Elementos, correspondem portanto as três Virtudes Teologais, que são:
Enxofre Princípio Mercúrio Princípio Sal Princípio
à Fé à Esperança à Caridade

Aos dois Metais Filosóficos (Prata dos Sábios e Ouro dos Sábios) nascidos da copulação dos três Princípios (Enxofre, Mercúrio e Sal), correspondem então as duas Virtudes Sublimais, a saber:
Enxofre dos Sábios Mercúrio dos Sábios
à Sabedoria à Inteligência

Estas duas Virtudes Sublimais, que a teologia clássica não reconhece como tais, quando conduzidas aos domínios dos dons do Espírito Santo (os quais seriam infinitamente melhor denominados de outro modo), têm significação proeminente na Escritura Santa:
"E Deus disse a Salomão: Porque tu não me pedistes uma longa vida, riquezas, nem a
morte de teus inimigos, mas pedistes a Inteligência e a Sabedoria para agir com Justiça,
Eu agirei segundo tua palavra, e te darei um coração pleno de Sabedoria e de Inteligência..."
(Reis III, 10-12).


Citamos também:
"Pois isto te fará Sábio e Inteligente aos olhos dos povos..."
(Deuteronômio, IV, 6).
"Para conhecer a Sabedoria e sua instrução, para compreender as palavras da Inteligência..."
(Provérbios, I, 2).
"O princípio da Sabedoria é a crença no Eterno, e a ciência dos santos é a Inteligência..."
(Provérbios, IX, 10).
"Se tu deixares teu ouvido atento à Sabedoria, e se tu inclinares teu coração à Inteligência..."
(Provérbios, II, 2, 3).


"É Ele que dá a Sabedoria dos Sábios, e a ciência aos que possuem a Inteligência..."
(Daniel, II, 21).


Sabemos que, no ternário superior do sistema sefirótico da cabala dos hebreus, Binah (Inteligência) é o atributo que corresponde à visão, intuição, penetração e informação. Como tal, a Inteligência é então também o Conhecimento (Gnoses) das Coisas Divinas absolutas.
Ela tem por par Hochmah (Sabedoria), que exprime muito bem a idéia da escolha do melhor dentre todos os dados acessíveis à inteligência (Binah). A Sabedoria pressupõe a inteligência, ela não opera em seu selo senão por eliminação. Ela é a submissão espontânea, inteligente, compreensiva, a um Bem que ela percebe como domínio dela própria. Como tal, a ciência das duas é a discriminação entre o Bem e o Mal.


Então, a Inteligência é o Conhecimento máximo, e a Sabedoria é a utilização que dela se faz. E, como da união do Enxofre e do Mercúrio dos Sábios, nasce, por conseguinte, no Ovo Filosófico (que os Alquimistas denominam também de Sublimatório), a "Pedra ao Vermelho", a Crisopéia, também nasce na Alma do Homem, este atanor (ou forno filosófico), onde o Coração é o Sublimatório (ou Ovo Filosófico), a iluminação total, fator decisivo da Reintegração (fig.4). E este fim último da Obra interior tem por nome a Luz Divina.


Os Alquimistas, tão reticentes a respeito de tudo o que concernia à Grande Obra, não faziam questão de serem claros sobre o fogo característico, nem sobre os graus de calor necessários ao êxito de seus trabalhos. O conhecimento do comportamento térmico, e dos seus graus, eram guardados por eles como uma das chaves mais importantes da Grande Obra. Escutemos Raimundo Lullo:


"Muitos Alquimistas estão errados, porque eles não conhecem a disposição do fogo,
que é a chave da Obra, pois ele dissolve e coagula ao mesmo tempo; o que eles
não podem saber, porque eles estão cegos pela sua ignorância..."

(Raimundo Lullo, "Vade Mecum ou Abrégé de I'Art Chimique").

De fato, a Matéria, uma vez preparada, somente o cozimento pode transformá-la em pedra filosofal:


"Eu não vos aconselho nada além de cozinhar; cozinhar no começo,
cozinhar no meio, cozinhar no fim, e não façais outra coisa..."

(Anônimo, "La Tourbe des Philosophes").

Os Alquimistas distinguiam várias espécies de fogo:
1 - O fogo úmido: é o banho-maria, que fornecia uma temperatura constante;
2 - O fogo sobrenatural: ou fogo artificial, que designava os ácidos. Advém daí o fato dos Alquimistas terem advertido que os ácidos produziam uma elevação de temperatura em suas diversas reações, e portanto que eles tinham sobre os corpos o mesmo efeito que o fogo. Eles desorganizam e destroem rapidamente o aspecto primitivo destes corpos;

3 - O fogo natural: ou fogo ordinário, obtido por uma combustão.

Em geral, os Alquimistas não empregavam nem carvão nem lenha para aquecer o Ovo Filosófico. Necessitava-se uma vigilância contínua, e era mais ou menos impossível obter-se uma temperatura constante. Por isso, Marc-Antônios se coloca contra os sopradores ignorantes que se serviam de carvão:
"Para que servem estas chamas violentas, porque os sábios não usam de carvão ardente,
nem de lenha inflamada, para fazer a Obra Hermética..."
(Marc-Antônio, "La Lumiére sortant par soi-même des Ténèbres").
Os filósofos Herméticos empregavam então uma lâmpada a óleo, com pavio de amianto, cuja manutenção é fácil, e que dá um calor mais ou menos uniforme. Eis o fogo que eles tanto queriam, e do qual somente alguns falavam abertamente, nos diz Albert Poisson.
No plano da Alquimia espiritual, o fogo é constituído pela Prece... "Ora et labora...", reza e trabalha, nos dizem os velhos Mestres.
Nosso Fogo não se identifica com aquelas práticas psíquicas, que repousem sobre posturas mais ou menos barrocas, ou sobre modos e ritmos particulares de respiração. Estas práticas, comumente definidas sob o termo geral de Hatha-Yoga, são geralmente apontadas no Ocidente como suscetíveis de conservar a juventude e a saúde. Mas a experiência prova, ao contrário, que os Europeus que a adotaram (somente por esnobismo), chegaram finalmente à iluminação, na verdade simplesmente ao misticismo, e seus conhecimentos transcendentais não aumentaram. Se tais aquisições se realizam é devido a outras práticas então: Bhakti-Yoga, Dhuani-Yoga, Karma-Yoga, Samadhi-Yoga, Raja-Yoga.
Os Alquimistas admitiam vários graus para seu fogo, conforme a Obra estivesse mais ou menos avançada.. Eles o regulavam aumentando o número de fios que compunham a mecha:
"Faça de início um fogo brando, como se não houvesse mais que quatro fios em tua mecha,
até que a Matéria comece a enegrecer. A seguir aumente, ponha então quatorze fios. A Matéria
se banha, ela se torna cinza. Enfim, ponha vinte e quatro fios, e terás a brancura perfeita..."
(Happellus, "Aphorismi Basiliani").
Aqui temos, no domínio da Alquimia espiritual, uma indicação preciosa em seu esoterismo. O fogo passa de quatro para quatorze, e de quatorze para vinte e quatro mechas. Ao quaternário de partida se une o denário, e depois outro denário, ou seja: tétrada + década + década.
Se estas palavras não evocam para nós a Gnose alexandrina e seus Eons, elas nos bastam para saber que o primeiro grau do fogo, aquele do começo da Obra, se chamava o fogo do Egito, porque ele devia se igualar (no ponto de vista material) à temperatura estival máxima desse país:
"Faça vosso fogo proporcional ao calor nos meses de junho e julho..."
(Anônimo, "Dialogue de Marie e d'Aros").
Ora, se o autor é anônimo, o manuscrito é belo e bem egípcio! Esta evolução progressiva do fogo da Obra é então representada na Alquimia espiritual por uma evolução progressiva da Prece e de toda a Acesse semelhante, de sua amplitude, de suas freqüência, e sobretudo de seus objetivos imediatos e sucessivos.
Querer queimar etapas (uma locução cheia de esoterismo!) seria de fato perigoso. Não falta, infelizmente, na história da Mística, neófitos que, mal preparados para o choque das revelações intuitivas, param ante tais realizações psíquicas não atendidas, e se perdem em vias irracionais. É, para evitar tais perigos, que as igrejas (latinas ou orientais), impuseram o princípio do "diretor da consciência", a seus fiéis desejosos de penetrar nesses domínios. Escutemos então aos velhos Mestres:
"Tu não deixarás jamais o vaso se aquecer muito, de forma que tu possas sempre lhe tocar com a mão nua sem perigo de queimar-te. E isto durará todo o tempo da solução..."
(Rypley, "Tratado das Doze Portas").
"Faça um fogo vaporizante, digerinte, contínuo, não violento, sutil, envolvente, aéreo, fechado, incombustível, alterante..."
(Bernard Le Trévisan, "O Livro da Filosofia Natural dos Metais").
"Uma parte de fogo possui mais energia potencial que cem partes de ar, e , por conseqüência,
uma parte de fogo pode facilmente vencer mil partes de terra..."
(Thomas de Aquino, "Tratado da Pedra Filosofal").
Veremos, em seguida, como deve ser manipulada a conduta de nosso Fogo, ou seja, a Prece, graças a qual podemos, de acordo com a expressão favorita de certos orientais: "queimar o Karma". Iremos agora estudar os Elementos de nossa Obra, os Princípios a desenvolver primeiramente, após, os que nascerão deles, ou seja, as Virtudes Essenciais, em número de nove:
- quatro denominadas cardeais (do latim cardo: porta, elemento essencial),
- três denominadas teologais, pois elas têm essencialmente Deus por objetivo,
- duas denominadas sublimais, porque elas são o resultado mais elevado da prática das sete primei-
ras, e são, de qualquer sorte, sua sublimação.
Todas correspondem às Entidades Espirituais ligadas ao Plano Divino, um pouco como as Idéias-Eternas de Platão.
Encontramos de fato no "O Pastor" , atribuído a Hermas de Cumes, um dos quatro Padres Apostólicos, herdeiros e sucessores imediatos dos Apóstolos, o seguinte quanto à tradição oral do Cristianismo:


"E estas Virgens, o que são?...- Elas são Espíritos de Santificação. Ninguém pode ser admitido no Reino de Deus, sem ter sido previamente revestido por elas de sua própria Vestimenta. Se receberes apenas o Nome do Filho de Deus, sem receber das mãos destas Virgens sua vestidura, isso de nada te servirá! Pois estas Virgens são Virtudes do Filho de Deus. Se tu portas seu Nome sem possuir Sua Virtude, é em vão que o portas..."
(Hermas: "O Pastor", IX, 13).


"Sem o auxílio destas Virgens, é impossível conservar seus Mandamentos. Eu vejo que elas se residem em tua "morada", unicamente para bem purificá-la! Elas terão prazer habitando em lugar próprio, porque são puras, castas, ativas e têm grande prestígio junto ao Senhor. Assim, a pureza reinará em tua "morada" e elas a habitarão. Mas à menor mancha que elas encontrarem, sairão logo, porque estas Virgens não podem sofrer a mais leve mácula..."
(Hermas, "O Pastor", X, 3).


O leitor atento saberá discernir sob o texto banal, o esoterismo muito belo destas passagens. Nós as completaremos por uma citação, extraída de um apócrifo gnóstico do segundo século:
"E em Bethel, após 62 dias, vi sete homens vestidos de branco, que me disseram: "Levanta-te. Veste a Túnica de Sacerdote, a Coroa da Justiça, o Racional da Inteligência, a Vestimenta da Verdade, o Diadema da Fé, a Mitra dos Prodígios, o Ephod da Profecia..." E cada um deles, portando um destes ornamentos, os colocam sobre mim, dizendo: "De hoje em diante, sois Sacerdote do Senhor, tu e tua Raça, até a Eternidade..."
("O Testamento dos Patriarcas", Levi, 8).


Capítulo III
A PUTREFAÇÃO

"Eis aqui um túmulo que não encerra cadáver, e um cadáver que não está encerrado
em um sepulcro, pois o cadáver e o sepulcro não são senão um ..."

(Nicolas Barnaud: "Theatrum Chimicum", tome III, p.744).

Em seu belo livro "O Mistério das Catedrais", consagrado única e totalmente à Arte Alquímica material, Fulcanelli nos diz o seguinte no prefácio, redigido por ele mesmo, e que fez após M. E. Cancellet( ) assinar:
"A Chave do Arcano Maior é dada, sem nenhuma ficção, por uma das figuras que ornamentam a presente obra. E esta Chave consiste unicamente em uma Cor, manifestada ao Artista desde o primeiro trabalho..."
"Esta cor é expressa pela primeira prancha do livro. No primeiro plano de uma paisagem do baixo Egito, onde se perfila uma Esfinge altiva, na noite que termina, ao lado de uma retorta, de um atanor, e do "Mutus Liber" aberto em sua primeira sentença, um corvo sardônico, asas estendidas, pousa sobre um crânio humano.


Este conjunto enigmático evoca Mênfis, capital do antigo Egito, fundada outrora por Menès, e Mênfis significa escurecer. É provável que se encontre esta etimologia no termo mefítico, designando um gás malcheiroso. Nós estamos aí em presença do estado hermético da putrefação. Se duvidamos, o corvo hermético lá está para nos comprovar, e o crânio nos faz então supor a palavra da Escritura: 


"Em verdade vos digo: se o grão de trigo não morre, ele fica só. Mas se ele morre, dá muitos frutos..." (João: Evangelho: XII, 24)".

Desta forma, no início da Obra deve aparecer a necessária Putrefação, simbolizada pela "Caput Corvi" (do latim "caput": cabeça, expressão que fala maravilhosamente). Os sete corpos passionais devem desaparecer, e com eles os sete pecados capitais, e os sete erros fundamentais, que escurecem a Alma. Eis aí as cabeças do Dragão do Apocalipse, em número de sete, portando dez cornos (nós os veremos novamente), que se opõem às sete Virtudes, quatro Cardeais e três teologais.


É totalmente inútil tentar ir adiante se esta fase imprescindível não foi realizada. Escutemos também, a voz dos velhos Mestres:
"É necessário primeiramente que o Corpo seja dissolvido, que as Portas sejam abertas, a fim de que a Natureza possa operar..."
(Séthon, O cosmopolita: "Novum lumem chymicum de lapide Philosophorum").
Pois:


"Segundo a pureza ou a impureza dos princípios componentes do Enxofre e do Mercúrio, se produzem metais perfeitos ou imperfeitos..."
(Roger Bacon: "Le Miroir d'Alchimie").
e:

"Não é possível haver alguma geração sem corrupção..."
(Huginus A. Barma, "A Pedra de Toque"). 


De fato, não é possível fazer evoluir o Aspirante no sentido em que entendemos, se ele não consente em admitir, de uma vez por todas, que tudo o que ele tenha podido adquirir em leituras mal digeridas, ou em ensinamentos desconformes com a doutrina que ele deseja seguir e aplicar, não fará nada além de se opor a sua caminhada mística. Os pseudo-conhecedores e a falsa sabedoria não têm nada a fazer aqui, ele deve admitir que:


"A química vulgar é a arte de destruir os compostos que a Natureza formou, e a Química Hermética é a arte de trabalhar com a Natureza para os aperfeiçoar..."
(Dom Pernety: "Fábulas Gregas e Egípcias").
"Tenha em mente que a conjunção do Marido e de sua Esposa não se faz a não ser que antes
eles tenham tirado seus hábitos e ornamentos, tanto do rosto quanto de todo o resto
do corpo, a fim de que eles entrem no túmulo da mesma forma que vieram ao mundo..."
(Basílio Valentin, "As Doze Chaves da Filosofia").


E somente após ter purificado as ruínas do edifício originalmente degradado, o Aspirante poderá reiniciar sobre uma rota interiormente nova para ele:
"Tu saberás que todo o Magistério não consiste senão em
uma dissolução, após em uma coagulação..."

(Albert Le Grand: "Le Livre des huit Chapitres").

A - DA MORTIFICAÇÃO DOS NOVE SENTIDOS:
Os sentidos são as faculdades (a antiga escolástica denominava-os de aparelhos) que colocam o homem em relação com o mundo exterior, e estão ligados a órgãos de seu corpo físico, os quais são seus instrumentos.


Considera-se, geralmente, apenas cinco sentidos físicos: a visão, o olfato, o paladar, o tato e a audição. A Teologia clássica, acrescenta-lhes dois sentidos internos: a imaginação e a memória. O Iluminismo clássico acrescenta a esse conjunto todo ainda dois sentidos superiores, psíquicos, que são a clarividência e a clariaudiência. Há então três séries de cinco, sete ou nove sentidos, segundo o plano onde os coloquemos com o intuito de estudá-los. É a série de nove que a Alquimia espiritual utiliza evidentemente, e é esta que nós estudaremos.


1 - O TATO:

O sentido do Tato não é perigoso, no mundo profano, a não ser quando ele desperta em nós paixões, ou contatos suscetíveis de ferir nossa saúde ou nossa vida (cirurgias e ferimentos). No mundo espiritual, ele é totalmente diferente. Assim, o contato de uma arma de fogo nas mãos de um adolescente, pode despertar nele um desejo de poder; nas mãos de um caçador ou de um invejoso, o desejo de matar. As carícias constituem, no domínio do Tato, apelos à volúpia dos sentidos, e como tais à Luxúria.

Para o Aspirante, e no domínio da Via Interior, o contato com certos objetos carregados de uma misteriosa potência pode ser eficiente tanto para o bem quanto para o mal. Evita-se pois, todo o contato com os objetos fúnebres (ossadas, crânios), cadáveres (transporte e sepultamento, a título de caridade, faz parte evidentemente de um outro domínio), coisas funerárias (mortalhas, tampa de caixão, terra de cemitério, etc...), manuscritos e livros tratando de magia inferior e suscetíveis de terem recebido uma consagração mágica que lhes torne espiritualmente maléficos. 


Neste mesmo campo, estão classificados os pantáculos de baixa Magia, objetos rituais vindos de um bruxo de aldeia, de um feiticeiro. A mais forte razão nos preserva da pior injúria ao Plano Divino, colocar as mãos sacrílegas sobre coisas consagradas e santas, onde o contato é vedado aos profanos, presunção que tem muitas vezes causado a ruína espiritual de alguns magistas, embora muito inteligentes. Igualmente, não consentimentos em sofrer, sob um vago pretexto Iniciático, toques em certos pontos corporais suscetíveis de despertar em nós, centros de força, que devem, muito ao contrário, permanecer definitivamente adormecidos. Nada é mais perigoso que este "despertar" psíquico, efetuado por semi profanos que desconhecem o seu alcance, ou que, dissimuladamente, tomam seu "discípulo" como objeto de experiência, sem nenhuma caridade...O sentido do Tato corresponde ao Elemento Terra.

2 - O PALADAR:

A Gula material não é, geralmente, um dos vícios preeminentes nos Aspirantes. É necessário, todavia, vigiar, vencer e reduzir. Mas, sobretudo, o sentido do paladar está a disciplinar, o qual transposto, nos faria dar uma maior importância, em lugar das paixões, às riquezas livrescas, aos ricos e belos relicários, como manuscritos e textos raros, e também à qualidade e ao número de nossos livros. É o Paladar que, uma vez controlado, nos evitará de ceder a tais manifestações, muito sedutoras, onde a doçura de palavras fechadas, o vôo de frases sem profundidade, o ineditismo de teorias assim enunciadas, não fazem senão mascarar o mais completo vazio, coisas que perigam nos afundar em pseudo-ensinamentos sem nenhum caráter Iniciático real.

O sentido do Paladar corresponde à Água elementar. E a Água, com suas misteriosas inteligências, que a cabala denomina de Ondinas, é o domínio da Sensibilidade. Evitemos pois, de ceder a uma susceptibilidade tão sem profundidade. O Amor é uma palavra sem sentido após muito uso indevido, uma palavra que não faz senão dissimular o vazio total. O verdadeiro Amor é construtivo, é o Ágape dos Gregos, ele não supõe indulgência ou falsidade comuns ao Erro, mas o zelo da Justiça e da Verdade.


3 - O OLFATO:

O uso sem moderação de perfumes do mundo profano, a influência que deixamos exercerem sobre nós, são apenas pretexto para satisfazer nossa sensualidade ou nos incitar à volúpia. Ele está também no domínio das combustões aromáticas familiares aos Ocultistas. As emissões perfumadas que se evolam dos incensórios e dos turíbulos são ondas de apelo, destinadas a "mundos" ontologicamente diferentes do nosso. Elas não são destinadas à satisfazer nosso olfato, nem nosso desejo inferior de ambiência mística. Menos ainda para surpreender o profano, dando-lhe a impressão de que possuímos o segredo de certas fumigações misteriosas, e lhe deixando supor que a evolução de seu misticismo e seu aperfeiçoamento espiritual dependem de banais impressões olfativas.

Por outro lado, existem emissões perfumadas suscetíveis de nos fazer tomar consciência de "mundos" e de Entidades Superiores, e outras que são suscetíveis de nos fazer descer em direção oposta: odores sui generis, incitando à sexualidade, perfumes mágicos que nos colocam em contato com planos demoníacos. E estas fumegações devem ser evidentemente evitadas, ou empregadas somente em casos prescritos por nosso Mestre.
O Olfato corresponde ao Ar elementar.


4 - A VISÃO:

Não há acontecimentos suscetíveis de despertar o desejo sexual que devam ser evitados por primeiro. É preciso, ao contrário, jamais exceder-se neste campo. E Saint Clément d'Alexandrie nos disse com justa razão que "Não devemos ter vergonha de órgãos que Deus não teve vergonha de nos dar...". Mas há, por todo mundo, acontecimentos doentios que fazem apelo aos instintos mais grosseiros do ser humano: rinhas de galo, corridas de touro, caçadas, massacres de animais sem justificativas, etc... Em estágio inferior de gravidade, as lutas de boxe e semelhantes, são seguidamente espetáculos pouco elevados para o homem.

Para o Ocultista, pode haver a visão de certos livros, bibliotecas, coleções de objetos, quadros, que excitem a Curiosidade, a Inveja, a Avareza: esquemas misteriosos, textos enigmáticos. Pode-se juntar a isso, a visão de certas roupas ou ornamentos mais ou menos pomposos, que incitem ao Orgulho ou à Inveja; leituras imprudentes (aspecto da Gula, se se deseja adquirir violentamente essas coisas ou livros), ou à Cólera (se nós nos opomos com violência, interior ou exteriormente por contradição), ou à Preguiça (se estas coisas nos incitarem a um incômodo quietismo). Há jornais ou livros que são verdadeiros venenos psíquicos, pelas reações que eles fazem nascer ou suscitam violentamente em nós: a imprensa política notadamente. 


5 - A AUDIÇÃO:

Esta mortificação (ainda um termo que evoca invencivelmente a Alquimia prática), ligada àquela da Palavra, nos incita a dizer que não entendemos nada que seja contrário à Caridade, à Pureza ou à Humildade. Mais ainda, nos domínios da Caridade, nada que desperte nos outros ou em nós algum eco capaz de suscitar um ou vários dos sete Pecados Capitais.

Evita-se, então, estender-se muito em relatos de certos fatos que possam desencadear nos outros a Cólera, o Rancor, a Luxúria, a Inveja. E entre os Ocultistas, esta prudência consistirá em não se discorrer longamente sobre certos procedimentos de ação (mágicos, teúrgicos, místicos), sobre o aspecto extraordinário de certas experiências espirituais ou psíquicas, ou sobre a raridade ou interesse de alguns textos ou livros. Isto a fim de não despertar na Alma do Aspirante um desejo de poder, uma curiosidade vã, uma avidez de posse, onde a Inveja, o Orgulho, a Avareza encontram terreno de ação.
Enfim, evitar-se-á o barulho em geral, ambiente no qual a Alma não saberia se encontrar nem se conhecer, as músicas de dança discordantes e não harmônicas, ligadas à sexualidade animal ou aquelas muito marciais, dissolventes de todo clima psíquico (marchas militares, fanfarras de caça, etc...).
A audição é análoga ao Sal Princípio.
Dois sentidos, nós dissemos, complementam o quinário sensual exterior. Iremos estudá-los agora.
6 e 7 - A IMAGINAÇÃO E A MEMÓRIA:
A Imaginação e a Memória são duas faculdades preciosas que fornecem: à inteligência os materiais dos os quais ela tem necessidade para se exercitar e trabalhar, à Sabedoria a possibilidade de expor a Verdade com imagens exemplos que a tornem mais impressionante, mais viva e , por isso mesmo, mais atraente.
Não se trata então, de atrofiar estas faculdades, mas de as disciplinar e de subordinar sua atividade ao império da razão e da vontade. Caso contrário, entregues a si mesmas, , elas povoarão a Alma com uma multidão de recordações e imagens, que a dissiparão e gastarão suas energias, lhe fazendo perder um tempo precioso e lhe suscitando mil tentações e recaídas.
É então absolutamente necessário discipliná-las e colocá-las a serviço das duas Virtudes Sublimais, que são, conforme já dissemos: a Inteligência e a Sabedoria.
Para melhor reprimir as divagações destes dois Sentidos interiores que são a Imaginação e a Memória, nos aplicaremos primeiramente em tirá-las de nossa consciência, desde o início de suas manifestações. As imagens ou as recordações perigosas, nos trazem possibilidades (futuras) ou realidades (passadas) que, nos transportando em meio as tentações do presente, do passado ou do futuro, são, ipso facto, uma fonte de fracassos e de quedas.
Mas, como há, por vezes, uma espécie de determinismo psicológico que nos faz passar das fantasias sem importância aos jogos perigosos de uma repentina imaginação invasora, nós nos preveniremos contra esse perigo rejeitando, imediatamente e de forma incessante, os pensamentos inúteis. Eles nos fazem perder um tempo precioso, e abrem caminho para outros pensamentos infinitamente mais perigosos.
O melhor método para ser bem sucedido neste tipo de "filtração" é, certamente, aplicar-se de forma total ao dever do momento, não importa o quão banal ele seja, por exemplo, o nosso trabalho, o nosso estudo, as nossas ocupações habituais, por mais modestas e materiais que elas sejam. Esta é a melhor maneira de se proceder, concentrando assim toda sua inteligência e sua atividade na ação do momento.
Enfim, a Imaginação e a Memória habitam um terreno que se acha no próprio Aspirante, o das ciências humanas, profanas e ocultas, sem eles, os aspectos do Conhecimento superior lhe permanecerão obscuros. E, também e sobretudo aquele das Escrituras iniciáticas tradicionais, nos quais, pela interpretação do esoterismo, a Imaginação poderá ter acesso às Verdades da Inteligência, e a Memória poderá preparar as Certezas da Sabedoria...
Estes dois Sentidos interiores correspondem, respectivamente a: Imaginação ao Mercúrio Princípio, e a Memória ao Enxofre Princípio.
8 e 9 - A CLARIVIDÊNCIA E A CLARIAUDIÊNCIA:
Não devemos confundir Profecia e Adivinhação. Neste último domínio, as mil e uma formas mânticas permitem, pela interpretação de Entidades mal definidas, jamais do Plano Divino (todas dos "planos" intermediários), acessar de modo razoavelmente exato a um futuro mais ou menos próximo, também (e, mais exatamente), de reencontrar os elementos de um passado mais ou menos próximo.
Neste caso, a Adivinhação se utiliza de uma espécie de convenção pela qual os elementos codificados fazem o adivinho ou a adivinha acessar o modo de expressão de Entidades às quais já nos referimos. Estas se expressam por um simbolismo convencional, arbitrado, implícita ou tacitamente com o adivinho.
De modo oposto, no plano profético, as Escrituras tradicionais se nos apresentam sob três aspectos e três gêneros de interpretação diferentes.
Há primeiramente, o rô'êh, ou vidente, aquele que vê, com os olhos do espírito, aquilo que os outros homens não vêem. Há também o hôzeh, que é análogo ao primeiro, mas que serve mais especificamente para designar os profetas e adivinhos dos falsos deuses. Há enfim o nâbi, ou intérprete de Deus, que não é apenas aquele que vê, mas aquele que fala, não obstante, a linguagem divina. Neste último caso, e na maior parte do tempo, é necessário que seu verbo seja o reflexo de uma audição interior, mesmo que ela seja instantaneamente associada ao verbo do nâbi.
Portanto, o rô'êh é o que vê, exprimindo então em sua linguagem pessoal e de acordo com a necessidade, o que ele viu, ou o que concluiu de sua visão. E o nâbi é o que ouve, aquele cuja audição e elocução se confundem.
O que caracteriza estes dois arautos do Plano Divino, é que eles não se manifestam jamais por coisas sem importância, por problemas individuais ou excessivamente humanos. Eles são suscitados unicamente para fins gerais e para a defesa de interesses superiores e coletivos.
Desta forma, o Aspirante que verá se desenvolver nele uma destas duas faculdades: clarividência ou clariaudiência, deverá evitar colocá-las a serviço de problemas sem interesse espiritual. Não deverá ainda se imaginar como estando em necessária relação psíquica com Deus, com a Virgem Maria, ou com os grandes Arcanjos! E é aí que o dom do discernimento dos espíritos lhe será indispensável. Ele se lembrará que todas as manifestações de Entidades inferiores, e especialmente de Espíritos Tenebrosos, é sempre em um ponto qualquer, marcada pelo grotesco, pela inconseqüência, onde residem os gérmens da anarquia. Se os períodos de manifestação destas faculdades coincidem com um clima geral interior imoral ou amoral, se a sexualidade se revela muito exigente, se as teorias de facilidades acompanham este gênero de Fenômenos, que o Aspirante saiba bem que está sendo joguete de Entidades inferiores. Ainda mais se ele emite teorias particulares, favorecendo assim seu orgulho, se tem a impressão de ter sido escolhido por seus méritos e por suas qualidades intelectuais, se se crê chamado à modificar ou completar um corpo religioso qualquer, na verdade para deturpar os ensinamentos tradicionais, conhecidos por sua excelência e sua alta espiritualidade. O que caracteriza de fato o profetismo, é que integrado no quadro de uma Revelação, se ele fala realmente em nome dela, não saberia transformar por ela um espírito de contradição e uma fonte de desordem
O profeta é sempre o "possuído" do Espírito Santo, o adivinho é sempre o "possuído" de um Espírito Intermediário, o médium é sempre o "possuído" de um Morto. Situar as fontes de suas vaticinações respectivas, é situar o nível de suas espiritualidades. A Clarividência corresponde ao Mercúrio dos Sábios, e a Clariaudiência ao Enxofre dos Sábios.
Em conclusão, a mortificação dos nove Sentidos do Homem deve abranger o conjunto de suas atividades biológicas e psíquicas, portanto, sobre o Corpo e sobre a Alma. Pois é o Homem como um todo que, se não for absolutamente disciplinado, estará vulnerável à queda.
Sem dúvida, não é verdadeiro dizer que é a vontade quem peca, mas ela tem por cúmplices e por instrumentos o Corpo, com seus sentidos exteriores, e a Alma com seus sentidos interiores. Então, novamente, o Espírito é prisioneiro, e de uma prisão ainda mais sombria que a de antes.
A PURIFICAÇÃO DO IMPULSO SEXUAL E SEU DOMÍNIO
Cremos ser útil acrescentar algumas prescrições particulares em um campo onde a luta é particularmente difícil e penosa, como aquele do desejo sexual e das violentas paixões amorosas que são, por vezes, fontes de tantos erros, e até mesmo de decadências e de crimes.
A chave desta liberação reside em uma justa apreciação do caráter não permanente da beleza corporal e das alegrias puramente carnais. Ela é bastante simples e antiga.
Tenha-se em mente, de antemão, que a necrose que ganha rapidamente no túmulo o despojo corporal, tão logo a alma o tenha deixado, consiste em um escurecimento progressivo das carnes, as quais mudam pouco a pouco, da nuance branco-rosada para um negro de ébano absoluto. Então, sobre estas carnes assim necrosadas, se desenvolvem estranhos cogumelos, de um verde-jade muito vivo, de sete a doze milímetros de diâmetro na copa, e de mais ou menos um centímetro de altura. Na obscuridade, estes cogumelos brilham com uma luminescência esverdeada.


A técnica purificadora do desejo sexual consiste, então, no curso das meditações, desprovidas de qualquer fumigação, em visualizar a "mulher ideal" (ou o homem ideal), a mesma que se imaginará então e para sempre, dotada de todo brilho e de todo o charme possíveis, se destacando em forma luminosa sobre um fundo totalmente obscuro, a silhueta parecendo iluminada do interior, e sentada, imóvel, na postura de "lótus" (é o assentar-se dito "à moda turca", mãos unidas sobre as coxas). Mas, apenas o rosto, o busto e os braços são dotados de uma perfeição ideal nesta visualização. As ancas, as pernas, o abdomem e as partes sexuais são necrosadas, conforme descrito acima. As unhas serão visualizadas muito grandes, enroladas sobre elas próprias, como na realidade (pelo fato do seu crescimento post-mortem e do descarnemento dos dedos, que faz com que desenvolvam também as raízes).


Os noviços de conventos tibetanos praticavam, até a pouco tempo, diante de uma carneira, o que seus mestres chamavam "a meditação sobre o Horrível". O treinamento consistia em visualizar, sob toda forma humana viva, o esqueleto que ela viria a ser fatalmente um dia, símbolo dessa Morte que o ser carrega nele em potência latente.


Pode-se, assim, à técnica descrita anteriormente, unir este último procedimento. Talvez, então, se consiga realizar a liberação obtida por Louis-Claude de Saint-Martin, sobre o qual um "vidente" da época poderia dizer, contemplando-o de longe: "aquele deixou o Mundo para trás..."


Figura 2 - Os Nove Sentidos: A purificação em modo sensual segue o mesmo processo que na figura 1.

B - OS SETE PECADOS CAPITAIS:

 

"Após, eu vi subir do mar uma Besta que tinha dez cornos e sete cabeças...
e sobre suas cabeças, nomes de blasfêmias..."

(João: Apocalipse, XIII, 1 ).

Na Cabala dos hebreus, é dito que a Árvore da Vida (Otz Chllm), corresponde no mundo manifestado, à Pequena Árvore da Vida, que se denomina Kallah, "a Noiva". Inversamente, e opondo-se a ela, acha-se a Pequena Árvore da Morte, "a Prostituta", Quliphah.


Sobre a Árvore da Vida florescem e brilham os Sephiroth, ou esferas da manifestação evolutiva. Sobre a Árvore da Morte florescem e brilham os Quliphoth, ou esferas da manifestação involutiva. Logo, é evidente que, às sete Virtudes essenciais (quatro cardeais e três teologais) correspondem sete Virtudes (do latim virtus: potência) opostas. São os sete pecados capitais. E como esta Héptada está coroada por duas Virtudes Sublimais, a Inteligência e a Sabedoria, duas manifestações tenebrosas a elas se opõem. São: à Inteligência, a Cegueira (de Espírito) ou Ignorância, e à Sabedoria, o Erro (fundamental).


Estudemos todo este conjunto maléfico, no plano espiritual.


1 - A AVAREZA

A Avareza levará o místico errante a um isolamento total e estéril. Desvelar, revelar, ensinar, transmitir, tudo o que ele recebeu ou aprendeu de outrem, será sempre algo doloroso e chocante. Ele acumulará livros e manuscritos, documentos e iniciações, mas não conceberá jamais que possa ser ele próprio um simples instrumento de transmissão. Às filiações iniciáticas que porventura a ele se ligarem, fracionar-las-á, multiplicando as provas, os graus, as classes, no único intuito de retardar o máximo possível, o instante em que estará na obrigação de concluir seu próprio papel e do discípulo de ontem, fazer seu igual hoje, e talvez seu superior amanhã.
A Avareza corresponde à Terra, e é o contrário da Prudência, seu excesso mesmo.


2 - A GULA

A Gula levará nosso Ocultista a devorar sem nenhuma medida todos os documentos, livros, tratados, esquemas, que lhe sejam acessíveis. As doutrinas mais estranhas, os ensinamentos mais disparatados, tantas misturas que não o repugnarão. Ávido de tudo o que favoreça sua curiosidade e seu apetite de conhecimentos, ele deglutirá tudo, valha o que valha, e , desta estranha mistura, se o Orgulho aí se mescla, ele tentará extrair uma doutrina pessoal que lhe assegure completar, em realidade modificar, as Tradições iniciais que ele tenha pilhado e misturado. Se, pelo contrário, é a Preguiça, que vem se misturar a seu apetite, o próprio excesso de seus conhecimentos disparatados, mal digeridos por um espírito preguiçoso, o fará um dia, subitamente, retornar ao materialismo, no qual ele desejará repousar.
A Gula corresponde à Água, e é contrário da Temperança.


Figura 3 - Os Nove Vícios: A degradação moral e espiritual segue, em modo inverso, a mesma progressão da figura 1.

3 - A LUXÚRIA

A Luxúria introduzirá um certo sensualismo nos domínios iniciáticos onde nosso Ocultista será levado a trabalhar. Ele será, a prior, hostil a doutrinas muito espirituais ou muito ascéticas, e sustentará a necessidade de conviver, de forma bastante liberal, com as exigências da natureza humana inferior. As religiões e as doutrinas onde a sexualidade cumpre um papel (tantrismo, gnosticismo licencioso, magia sexual, etc...), encontrarão nele um defensor. Para ele, uma organização iniciática mista será sempre muito superior a uma organização exclusivamente masculina ou feminina!

Mas sobretudo, este defeito se exercerá no terreno da facilidade. Ele transmitirá, inconsideravelmente, as iniciações e os ensinamentos dos quais for depositário, para suplicantes inadaptados, ou estranhos a essa corrente. Cederá facilmente os segredos iniciáticos aos indivíduos do sexo oposto, em troca de seus favores! Enfim, como para as fornicações e para adultério espirituais censurados a Israel pêlos profetas ou por Cristo, ele se fará sectário de doutrinas, de iniciações, de cerimônias, muitas vezes diametralmente opostas. Ele não hesitará, seu interesse ou seu prazer, visto que sua simples curiosidade o incitará a voltar-se para correntes inferiores tão logo ele perceba que as Forças Superiores não lhe servirão de nada em tais domínios.
A Luxúria corresponde ao Ar, e é oposta à Justiça.


4 - A PREGUIÇA

A Preguiça levará o Aspirante errante para uma espécie de quietismo que lhe fará considerar a perfeição no banal amor de Deus, na inação da Alma, e na ausência de toda obra exterior, nada mais. Ele ficará indiferente aos sofrimentos dos Seres à sua volta, se ele os percebe, nada fará para aliviá-los, estimando que os males aos quais estão submetidos são resultados proporcionais aos seus erros passados. Enfim, ele se desinteressará de si mesmo, entregando-se à Providência para facilitar seu acesso à perfeição moral, e considerará a ignorância como um caminho tão seguro quanto o Conhecimento.
A Preguiça corresponde ao Fogo (invertido) e se opõe à força.


5 - A INVEJA
A Inveja levará o pseudo-iniciado a desejar, não somente os primeiros lugares e as falsas honras, mas também não hesitará em retardar e, muitas vezes, impedir o avanço de outro, se ele vê neste outro uma superioridade que possa eclipsar a sua.
Ele manterá o abafador sobre as doutrinas, ensinamentos, livros e documentos suscetíveis de prejudicar seus interesses. Ele não deixará de querer possuir tudo o que os outros possuem, considerando como uma ofensa haver algo que ele não possa ter, mesmo se ele estiver decidido a não se servir disso, tendo em vista que tal coisa lhe é intelectualmente oposta.
A Inveja corresponde ao Sal Princípio, e se opõe à Caridade.


6 - A IRA
A Cólera se manifestando no Aspirante, faz com que ele perca o controle de si mesmo. Seu autoritarismo e sua atividade exacerbada não lhe permitirão admitir que seus semelhantes sejam mais bem aquinhoados que ele. Seus julgamentos serão tão prematuros quanto definitivos, e sua impaciência o levará a tratar com rudeza os fracos, os ignorantes. E se ele tiver a infelicidade de ser odioso (forma mais tenebrosa ainda de inveja), seus pseudo-conhecimentos poderão fazer dele um mago negro.
A Cólera corresponde ao Mercúrio Princípio, e se opõe à Esperança.


7 - O ORGULHO

É denominado pai de todos os Vícios, com Justa razão. Em nosso ocultista incipiente, o Orgulho levará a se imaginar moralmente superior a todo o profano, porque intelectualmente ele é mais rico. Ele se imaginará, vaidosamente, possuidor de segredos e de ensinamentos que foram revelados somente a ele, imaginar-se-á predestinado a uma preeminência certa, justificada por seus méritos. Além disso, afirmará seguidamente ter sido este ou aquele personagem importante ou célebre em pseudo-vidas anteriores. De todo este clima, ele adquirirá um sólido e orgulhoso desprezo por aquilo que chama de humanidade, e estará na impossibilidade de perceber, seguidamente dissimuladas na banalidade destas existências modestas, Almas de elite mil vezes superiores a sua. Em resumo, no Passado, no Presente e no Futuro, ele é aquele a quem tudo é devido e que, por conseqüência, pode tudo exigir.

O Orgulho corresponde ao Enxofre Princípio, e se opõe à Fé.
Sete Vícios duplicam os sete Pecados Capitais e, são deles, uma espécie de frutos. Hei-los: a Imprudência, fruto da Avareza; a Intemperança, fruto da Gula; a Injustiça, fruto da Luxúria; a Covardia, fruto da Preguiça; o Ódio, fruto da Inveja; a Presunção, fruto da Cólera; a Ignorância, fruto do Orgulho. Portanto, o Homem é punido por onde ele peca...


C - AS DUAS CRISTALIZAÇÕES ESPIRITUAIS:
Trataremos à parte as duas Virtudes Tenebrosas, que se opõem às duas Virtudes Sublimais, evocadas no capítulo precedente.
Como vimos, a Cegueira ou Ignorância se opõem à Inteligência, e à Prata dos Sábios, e o Erro à Sabedoria, ao Enxofre ou Ouro dos Sábios.


8 - A CEGUEIRA OU IGNORÂNCIA

Esta Potência Tenebrosa tira o discernimento dos Espíritos, coloca-nos na impossibilidade de perceber, dentre as espécies ou objetos materiais, aquele que se referem aos pólos opostos do Bem e do Mal, da Luz e das Trevas.

Ela nos obtura o sentido oculto das palavras, nos vela irremediavelmente o esoterismo e o sentido superior dos textos, nos faz preferir a letra que mata ao espírito que vivifica. Particularmente, ele nos impede de acessar ao sentido profundo das Escrituras cristãs, ou de qualquer Livro Santo, quando se trata de outra religião.


De fato, ela reina absoluta na Alma de todo materialista, de todo ateu, quando eles assim o são por um ato deliberado de sua vontade, e também por uma descida progressiva em direção à Cegueira ou Ignorância, em conseqüência de um deixar-se levar consciente.
Ela nos vela as realidades espirituais dissimuladas sob as aparências, e se pode dizer que, por ela, as Verdades Eternas tornam-se inacessíveis ao Homem errantes.


9 - O ERRO

Esta Potência Tenebrosa nos leva à confusão interior, nos tira o sentido do Bem e do Mal, do Justo e do Injusto, do Belo e do Feio. Nestes domínios, toda discriminação desaparece pouco a pouco. Ela se torna mais grave quando nos obscurece o sentido do verídico e do autêntico em matéria religiosa.

Pelo Erro, o Aspirante perdido não está mais em condições de perceber o que lhe é útil, e então a Alma caminha em direção às Trevas espirituais, dificilmente pode vislumbrar um retorno por seus próprios meios.


Na impossibilidade de distinguir o que ele perdeu, a aptidão de apreciar claramente a situação, o Aspirante perdido tomará facilmente o Mal pelo Bem, e imaginará, obstinadamente estar no caminho da Luz, mesmo estando no das Trevas. É na Alma do satanista ou do luciférico que esta Potência Tenebrosa brilha e irradia-se com maior amplitude.


SEGUNDA PARTE
Capítulo IV
O VITRIOLO FILOSÓFICO

 
"O primeiro agente magnético que serve para preparar o dissolvente (que alguns
têm chamado Alkaest) é denominado Leão Verde...É um fruto verde e amargo,
comparado ao fruto vermelho e maduro..."

(Fulcanelli: "O Mistério das Catedrais").

"Existem dois vitriolos, nos diz Tripled, ou ainda o vitriolo pode se apresentar
sob duas formas: o vitriolo puro e o vitriolo impuro ou grosseiro..."

(Tripled, "O Vitriolo Filosófico").

Efetivamente, segundo Paracelso, há a alma daquilo que ele chama o "Elemento predestinado", em todas as coisas. Este Elemento predestinado se compõe, segundo ele, de sal, enxofre e mercúrio, e está como que imerso e disseminado em uma massa formada de fleuma e de terra morta (ou "condenada"), e isso nos dá então o corpo, tal como nós o vemos. A terra morta é evidentemente a hylée dos Gnósticos.


Tem-se disso, um exemplo vivo nos vegetais. Que são os diversos alcalóides: quinino, aconitina, etc..., senão princípios, puros e ativos, destes vegetais, os quais, uma vez privados desses princípios, ficam sem força e sem ação?


Ora, no caso da Alquimia material, admite-se que, suprimindo esta fleuma e esta terra morta, tem-se então o vitriolo puro; do contrário, ter-se-á um vitriolo impuro, e a Obra será tanto mais difícil e longa quanto mais impuro seja o vitriolo, ou que o Elemento predestinado esteja em pequena quantidade.


Ora, o vitriolo puro é a base da Obra hermética, é a matéria prima da Arte, é o sal (e não o Selo) que, por uma série de operações, tomará a forma do Mercúrio ou Fogo Secreto, e por uma íntima união do Volátil com o Fixo, nos dará o Enxofre, o Amante Filosófico, atraindo o Espírito Universal, o sal amoníaco de Artéphius...


Esta seqüência operatória foi resumida em uma frase lapidar (as palavras têm estranhas ressonâncias !) célebre, de Basílio Valentin:


"Visita interiora Terrae, Rectificando, invenies Ocultum Lapidem...", de onde, segundo um procedimento bem conhecido de cabalistas hebreus se retira a palavra VITRIOLO. Em linguagem profana, esta frase, com ressonâncias misteriosas, significa: 


"Visita o Interior da Terra, e Encontrarás a Pedra Oculta..."

Desde então, começamos a entrever como deve se efetuar a primeira operação da Alquimia espiritual. Em sua pequena obra consagrada ao caminho esotérico do Absoluto, Grillot de Givry nos disse o que segue:


"...Não é necessário primeiro ter Fé, para depois pedir. Peça antes, e a Fé inundará tua alma!
Mas eu tenho falado bastante para que saibais que deves, doravante, formar um corpo místico,
que substituirá, em todos os atos, a teu corpo visível para empregar utilmente tuas
forças imateriais. E assim, tu viverás no hiperpsíquico, e aí está o Caminho..."

(Gillot de Givry, "A Grande Obra", II).

E antes, ele nos havia aconselhado de forma precisa.


"Coordena pois, todos tuas ações, a fim de formar um conjunto harmônico perfeito. Esforça-te para adquirir a extrema lucidez de teu entendimento. Afasta-te de tudo o que suja a vista, não escuta aquilo que polui o ouvido. Exalta em ti o sentimento da personalidade para em seguida, absorvê-la no selo do Absoluto..." (op.cit. II).


Precisos e profundos estes pensamentos. O Aspirante se desembaraçará inicialmente de todas as doutrinas estranhas, quase sempre contraditórias, que encobriam seu espírito até hoje. Que ele saiba bem que, para nós, homens do Ocidente, ligados a símbolos e formas de ensinamentos e transmissão tradicionais, é necessário antes de tudo, purificar a nós mesmos e ao que estiver em torno de nós. Que nossos cinco sentidos exteriores vejam desenrolar o jogo de suas atividades condicionadas e múltiplas, em um ambiente tradicionalmente ocidental, rosacruciano, hermético.
À Visão, não oferecemos nada além de leituras, gravuras e um quadro (oficina, laboratório e oratório), estritamente limitados a estas qualidades.


À Audição interior, textos com profunda ressonância nesses três modos. As palavras e as frases portam uma alma insuspeita. Um texto, profundamente pensado, lido e relido por centenas de adeptos antes de nós, e que deve possuir uma série de palavras de poder.
Ao Olfato, criaremos um clima particular por meio de fumegações freqüentes seja em nossas orações ou em nossas meditações. Baniremos toda mistura evocadora de um clima psíquico diferente, ou de doutrinas estrangeiras, e sobretudo aqueles ligados mais particularmente a determinadas operações de magia prática. Retornaremos ao problema das fumegações mais adiante.


Ao Tato, oferecemos o contato de velhos livros herméticos, lidos, relidos, meditados e conservados com amor por aqueles que nos precederam no Caminho. Um livro antigo é sempre superior a um livro novo. Todo objeto se carrega pouco a pouco no curso de sua vida inconsciente, a psicometria nos tem dado sobre isso, demonstrações definitivas. E o leitor deixa nele sempre, na compreensão e na incompreensão inevitavelmente misturadas, no curso de suas páginas, a potência de seu esforço que tende ao objetivo.


Ao Paladar reservamos a arte de escolher, com sabedoria e bom gosto, os elementos gerais deste ambiente essencialmente ocidental, rosacruciano e hermetista. E o que há de mais evocativo destas três correntes que a época medieval, esse quadro incomparável, onde se fundem as tradições célticas e os conhecimentos vindos da capital do espírito que foi Alexandria do Egito?
É nesse quadro que criaremos o clima interior indispensável, onde desaparecerão pouco a pouco as crenças, as leituras, os ensinamentos disparatados, que até então derrotavam nosso espírito e dispersavam nossos esforços. Tomaremos também o cuidado de não utilizar orações, demasiadamente marcadas de um credo exotérico qualquer. Existem em nossa Tradição, preces particularmente expressivas do Objetivo em direção ao qual marchamos. Desprezemos então essas fórmulas em ladainhas, onde não se diz nada de claro e de transparente. E não nos misturemos, por ritos e usos comuns, às massas que, embora caminhando para um Objetivo idêntico, não o fazem pela mesma via que nós. A força destas Egrégoras é tal, que se alguém, fora de Roma, celebrasse a missa segundo uma liturgia pessoal, acabaria, cedo ou tarde retornando à liturgia original. E temos numerosos exemplos de pessoas que, por terem curiosidade sobre certas correntes psíquicas ou espirituais, são finalmente pegas por elas e aí se fundem definitivamente: islã, budismo, bramanismo, etc...


Enfim, não basta limpar nossa morada material na qual vão se desenrolar nossos esforços. É necessário limpar também nossa morada espiritual! E, para finalizar, relembremos o conselho de Grillot de Givry já citado, e meditemos sobre ele seguidamente:


"Coordena pois, todas as tuas ações e impressões, a fim de formar um conjunto
harmônico e perfeito. Esforça-te para adquirir a extrema lucidez de teu entendimento.
Afasta-te de tudo o que suja a vista. Não escutse aquilo que polui o ouvido.
Exalta em ti o sentimento da personalidade, para absorvê-la no selo do absoluto".

(Grillot de Givry, "A Grande Obra", II).

Da mesma forma que o Céu e os influxos dos Astros lançarão seus raios regularmente, segundo um ciclo bem determinado, sobre a evolução da Obra hermética, também no seu "céu interior" o Aspirante verá se desenrolar uma sucessão de "estações" simbólicas.

À "estação" mística de cada Virtude Cardeal corresponderá uma estação terrestre, um Elemento, um Temperamento, um modo ascético, e até mesmo um aspecto tetramórfico do divino, com o Arcanjo correspondente, segundo a Tabela:


Assim, à Prudência, corresponde ao Silêncio, a Terra;
à Temperança, corresponde à Solidão, a Água;
à Justiça, corresponde à Fome, o Ar;
à Força, corresponde à Vigília, o Fogo.

Encontramos estas quatro mortificações igualmente no Cristianismo, no Budismo, Islamismo, e particularmente no simbolismo da Esfinge, com a tetralogia bem conhecida dos Ocultistas:

SABER QUERER OUSAR CALAR

(Água) (Ar) (Fogo) (Terra)

a qual comporta os quatro Elementos dispostos exatamente como na base da Tetractys hermética, na ordem clássica: Água-Ar-Fogo-Terra.

A - O SILÊNCIO
O Silêncio é de dois tipos:
1 - Silêncio da língua: Consistindo na abstenção de falar senão "Para Deus", ou "com Deus", ou "Um outro como Deus", estas condições são solidárias. Entendemos por "um outro como Deus", o contato com o Mestre da assembléia celeste, sobre o qual retornaremos;
2 - Silêncio do Coração: Consistindo na rejeição de qualquer outro pensamento relativo a Seres ou Coisas criadas.

O Silêncio, somente, procura e conduz ao Conhecimento de Deus. "Pensai em Deus mais seguidamente que tu respiras.", nos disse Epictète. É a primeira via do Aspirante. O Silêncio eqüivale à Terra e à Prudência.

B - A SOLIDÃO

A Solidão é o meio de assegurar o silêncio da língua. Ela consiste no fato de:
1 - Evitar misturar-se materialmente a outros, à turba profana, a preocupações fúteis. Por isso o islã, que, em sua heresia Sufi, ensina a necessidade das quatro vias, separa os homens das mulheres na vida normal, assim como no manaquismo cristão de antigamente. Eis aí a primeira via do iniciado;
2 - Evitar interiormente o contato com Seres e Coisas deste Mundo, esta é a primeira via do Adepto.

Ela objetiva a três condições:
A - evitar o mal proveniente dos Homens;
B - evitar o mal que podemos fazer ao Próximo;
C - ter a companhia permanente do Mestre da Assembléia Celeste.

A Solidão, somente, procura o Conhecimento do Mundo. Corresponde à Água e à Temperança

C - A FOME OU O JEJUM
A Fome, ou o Jejum, consiste na redução do alimento, e isto leva à diminuição natural das necessidades deste gênero. Ela deve ser assegurada através do espírito da pobreza, da modéstia, da docilidade, da calma, da pureza.
Que o Aspirante tome como exemplo o jejum de todos os grandes profetas e missionários da Escritura, e particularmente do jejum de quarenta dias, nas terríveis solidões do deserto de Judá, no fim do qual, ao Cristo apareceu o Príncipe das Trevas e lhe testou através de sua tripla tentação (Mateus, Evangelho, IV), ou ainda o insucesso dos Apóstolos na cura de um endemoninhado, e de seu recurso a Cristo, o qual lhes explicou que certos tipos de Demônios somente são expulsos através de jejum.
A Fome, somente, procura em efeito o Conhecimento de Satã. Ela eqüivale ao Ar, do qual ele é o Príncipe, e à Justiça. (Paul, "Epítre aux èphésiens", II, 2).

D - A VIGÍLIA
A Vigília é fruto do jejum, pois a fome expulsa o sono inútil, na maioria das vezes entorpecido por uma alimentação excessiva. Ora, os contatos entre o Homem e a Assembléia Celestes não podem se realizar com êxito a não ser durante o Sono, quando há um tipo de desdobramento da Alma fora do Corpo. O sono suscetível de liberar a Alma é aquele que tem lugar durante um importante jejum. Mas nossa Vigília tem outros objetivos. Há dois tipos de Vigília:
A - A Vigília do Coração, a qual busca instintivamente a contemplação;
B - A vigília do Olho (visão), que realiza e objetiva aquela no Coração (Templo interior e Ovo Filosófico), onde a fixa.
A Vigília somente procura o Conhecimento da Alma, eqüivale ao Fogo e à Fé . À vigília tem por objetivo a Meditação. Ela é uma espécie de processo de reflexão em diversos temas particularmente importantes para o gnóstico: o problema do Mal, estudo dos mistérios divinos, das relações entre Deus e o Homem, etc... Ela tem por elementos de base a razão, a consideração de elementos do problema e de seus argumentos. Ela repousa, necessariamente, sobre um perfeito conhecimento de textos sagrados tradicionais, sobre uma comparação justa e razoável dos argumentos analisados. Ela constitui a meditação discursiva, e deve sempre ser precedida de uma Oração que tem por objetivo entrar em contato com planos superiores. Esta Oração constitui a meditação purgativa.



Figura 4 - As Nove Virtudes: A progressão espiritual segue o mesmo processo que na via alquími-ca da figura 1.


Capítulo V
OS ELEMENTOS DA GRANDE OBRA

A - A Terra dos Filósofos: A Prudência
A Prudência é um princípio de ação moral que aperfeiçoa a razão prática do Homem, a fim de que em cada uma de suas ações ele disponha e ordene as coisas como lhe convém, ordenando a si mesmo (ou a todos cuja ação lhe seja subordinada e dependente), o que convém fazer a cada instante para a realização perfeita de cada Virtude. Ela é constituída, em suas aplicações correntes, de diversos aspectos, a saber:


A - a lembrança de coisas passadas, ou memória;
B - a visão clara de princípios de ação, gerais ou particulares;
C - a reverência das coisas determinadas pêlos sábios que nos precederam;
D - a sagacidade para descobrir o que seria impossível de perguntar subitamente aos outros;
E - o sadio exercício da razão, aplicado a cada ação;
F - a previdência, ou a determinação desejada no momento da ação, quanto à substância deste ato;
G - a circunspecção com respeito a tudo o que envolve o referido ato;
H - a precaução contra tudo o que poderia obstaculizar ou comprometer o resultado.
A Prudência é, apropriadamente falando, a virtude de comando:
.- comando de si próprio, ou prudência individual;
.- comando na família, ou prudência familiar;
.- comando na Sociedade, ou prudência real.


Um Dom do Espírito Santo corresponde à Virtude da Prudência e é o Dom de Conselho.
Compreende-se, sob este nome, uma disposição superior e transcendente que aperfeiçoa a razão prática do Homem. Esta disposição particular o deixa então pronto e dócil para receber o Espírito Santo (sem a procura particular), e tudo o que é necessário à iluminação final. Essa mesma disposição vem em auxílio da razão humana, cada vez que ela é necessária. Pois, mesmo provida das virtudes, adquiridas ou infundidas desde o nascimento, a razão humana está sempre sujeita a erros ou a surpresas (na infinita complexidade das circunstâncias que podem interessar sua ação), seja por ela mesma, seja por outrem. E aí reside, na maioria das vezes, o conjunto das armadilhas que a virtude da Prudência permite evitar! Como essencial ao desenvolvimento futuro, ela é a primeira a se adquirir, e antes de tudo o Dom de Conselho.


A Prudência e o Dom de Conselho se obtém pela prática do Silêncio, que corresponde à Terra Filosófica.
B - A Água dos Filósofos: A Temperança
A Temperança é uma virtude que mantém, em todas as coisas, a parte afetiva sensível ao comando da razão, a fim de que ela não se deixe levar pêlos prazeres que interessam mais particularmente aos cinco sentidos exteriores. Ela se manifesta em diversos aspectos, a saber:
A - a continência, consistindo na escolha de não seguir os movimentos violentos da paixão;
B - a clemência, consistindo em moderar ou regrar, segundo a virtude da Caridade, um modo de
corrigir o mal cometido por outros, e que a virtude da Justiça exige ver judiciosamente corrigido
e expiado, coisas inelutavelmente necessárias;
C - a mansidão, consistindo em descartar o movimento interior de paixão pela justiça, o qual não
seria nada além da Cólera;
D - a modéstia, consistindo em refrear, moderar ou regrar a parte afetiva em coisas menos difíceis
que as precedentes (ou seja, o desejo de sua própria excelência, o desejo de conhecer o que não
nos é imediatamente útil ou que é inútil para nossos fins, as ações e os movimentos exteriores do
corpo carnal e, enfim, a ordem exterior), quanto à maneira de se comportar com relação à
Virtude da Temperança. E este é o Dom do Temor.
O Dom do Temor consiste no fato de se ter presente, ante a Revelação Tradicional, uma imagem mais ou menos exata de Deus, com um santo respeito, em razão da excelência ou da bondade da Majestade Divina, da qual se tema afastar-se, por efeito de nossos erros e de nossas faltas. Consiste, também, no fato de considerar, relativamente à excelência dos fins últimos que nos propõe a Revelação Tradicional, todas as coisas baixas vindas dos prazeres dos sentidos, como perfeitamente inexistentes ou perigosas.
A Temperança e o Dom do Temor se obtém pela prática da Solidão, que corresponde à Água Filosófica.
C - O Ar dos Filósofos: A Justiça
A Justiça é uma virtude que tem por objetivo fazer reinar entre os Seres uma harmonia de relações, embaçada no respeito dos Seres entre si, e daquilo que constitui em diversos graus seus próprios bens, morais ou físicos, espirituais ou materiais.
Ela tem por objetivo principal regular nosso deveres em relação aos outros Seres. Como tal, ela se distingue da Caridade, que é de um espírito diferente e menos submisso a normas limitadoras. Ela faz reinar a paz e a ordem, tanto na vida individual, quanto na vida coletiva. Aplica-se tanto aos bens corporais, quanto à dignidade espiritual e reputação do próximo.
Um Dom do Espírito Santo corresponde à Virtude da Justiça, e é o Dom da Piedade.
A Piedade consiste numa disposição habitual da vontade, que faz com que o Homem esteja apto a receber a ação direta e pessoal do Espírito Santo, levando-o a tratar Deus, Causa Primeira, considerado nos mais longínquos mistérios de sua vida divina, como um "pai" ou um "chefe" terna e filialmente reverenciado, servido e obedecido. Igualmente, a tratar todos os homens da mesma forma com que trata outras Criaturas racionais (Anjos, Espíritos, Demônios), em suas relações exteriores com elas, de acordo com o Bem Divino e Superior que as une em diversos graus, à Causa Primeira como ao pai da grande família divina.
O Dom da Piedade é seguramente aquele que coloca o selo mais perfeito nas relações exteriores que os homens podem ou devem ter, seja entre eles, seja com Deus. É o coroamento da virtude da Justiça e de todos os seus anexos.
A Justiça e o Dom da Piedade se obtêm pela prática do Jejum, que corresponde ao Ar Filosófico.
D - O Fogo dos Filósofos: A Força
A Força é uma virtude que tem por objetivo a perfeição, de ordem moral, da parte afetiva sensível no Homem. Ela consiste em lutar contra os maiores temores, e, também, moderar os movimentos de audácia mais atrevidos, a fim de que o Homem, nestas ocasiões, não se desvie jamais de seu dever. Ela se manifesta em diversos aspectos, que são:
A - a magnanimidade, consistindo em fortalecer a esperança, no sentido das obras grandes e belas,
que desejaria concluir;
B - a magnificência, consistindo em uma disposição da parte afetiva, que fortalece ou regra o
mecanismo da esperança, em relação ao que é árduo e custoso de concluir;
C - a paciência, que é apropriada para suportar com estoicismo, em vista da Reintegração final, todas
as tristezas que possam nos vir na vida presente, e também, suportar mais particularmente a
intervenção hostil dos outros homens em suas relações conosco, ou ocasionalmente, aquelas do
Espírito do Mal;
D - a perseverança, que consiste em combater o medo da duração de um esforço em direção ao
Bem, ou seu fracasso.
Um Dom do Espírito Santo corresponde à virtude da Força é o Dom de mesmo nome, também denominado Coragem.
Mas ainda que a virtude deste nome não lembre senão os obstáculos e os perigos que estão ao alcance do Homem sobrepujar ou a eles sucumbir, o dom correspondente do Espírito Santo se endereça aos perigos e às maldades, cujo sobrepujar não está em poder apenas do Homem.
Assim, o Dom da Força (ou da Coragem) permite-lhe suplantar a dor que acompanha a separação, própria da Morte, de todos os bens e alegrias da vida presente, sem dar, por ele mesmo, o único bem superior que as compensaria e preencheria sua ausência ad infinitum, saber da Reintegração e da Vida eterna que dela decorre.
Esta substituição efetiva, fácil e desejada, da Reintegração em lugar de todos os males e misérias da vida terrestre, apesar das dificuldades e dos perigos que possam se por no caminho do Homem que marcha em direção ao Objetivo Supremo (aí compreendida a própria Morte, que resume a todos), é obra exclusiva do Espírito Santo, de sua ação própria. E segundo o Dom da Força (ou da Coragem), que o Homem é, então, amadurecido pelo Espírito Santo. Se bem que o objetivo essencial desse dom seja, de fato, a vitória do Homem sobre a Morte e sobre todos os terrores que ela inspira.
A Força e o dom deste nome (ou Coragem), se obtêm pela prática da Vigília, que corresponde ao Fogo Filosófico.
E - O Sal Princípio: A Caridade
A Caridade é uma virtude que nos eleva a uma vida de comunicações, primeiramente com as Potências Celestes intermediárias, depois, com o próprio Plano Divino, segundo sejamos merecedores e dignos de tal comunicação. A Caridade considerada sob o aspecto de contato, de comunicação mística, supõe em nós duas coisas:


A - Uma participação de Natureza Divina que, divinizando nossa própria natureza, nos elevará, a despeito de toda a ordem natural, seja humana, seja angélica (acima do mundo inicial de manifestação da Criação), até a ordem que é própria de Deus, fazendo de nós deuses (deuses secundários, evidentemente), e nos introduzindo em sua intimidade. Donde a frase do Salmo: "Deus se levanta na Assembléia Celeste, em meio aos deuses ele julga..." (SL. 82), e aquela do Evangelho: Eu vos digo: vós sois deuses..." (João, X, 34);


B - Princípios de ação, proporcionando por este estado divino, que nos põe em condições de agir como verdadeiros agentes secundários, filhos de Deus, como o próprio Deus age, conhecendo como ele conhece, amando como ele ama, alegrando-se como ele se alegra.
Estas duas realizações místicas estão intimamente ligadas à presença, na Alma do Adepto, da Caridade absoluta.


A Caridade absoluta decorre de um ato de amor total, pelo qual o homem deseja de Deus esse bem infinito que a Fé lhe revelou, e que ele deseja, para si e para os outros Homens, Bem este que é inseparável de Deus.


A Caridade comporta certos aspectos secundários:
1 - A Misericórdia, que faz com que se compadeça com a miséria dos Seres, em todos os aspectos ontológicos da vida, e que se sinta esta miséria e esse sofrimento a seus mesmos, a ponto de sofrê-los, real e intimamente;


2 - A Beneficência, que faz com que se estejamos, imediatamente e sempre, prontos a impedir o mal e a facilitar o bem, tanto no domínio espiritual quanto no domínio material. O Homem, ser dotado de uma consciência que não participa em seus próprios compromissos, não saberia em efeito nem ignorar o mal e o bem, mesmo conhecendo os dois, pretende situar-se "além" de um e de outro, ou seja, iludir suas próprias responsabilidades.

Um Dom do Espírito Santo corresponde à virtude da Caridade e é o Dom da Sabedoria que não deve ser confundido com a virtude sublimal de mesmo nome.

O Dom da Sabedoria (que não é, pois, A Sabedoria) faz com que o Homem, sob a ação oculta do Espírito Santo, julgue todas as coisas por sua inteligência, tomando como norma ou como regra própria de seus julgamentos, a mais alta e mais sublime de todas as Causas que é a própria Sabedoria Divina, tal qual ela tem se dignado a manifestar-se a nós pela Fé, o Enxofre dos Filósofos.


A Caridade corresponde, na vida iniciática, ao voto de Pobreza que é o primeiro postulado, que faz com que desprezemos os bens, as honras e as alegrias deste Mundo inferior. É pelo voto de Pobreza que obtemos igualmente o Dom da Sabedoria.
F - O Mercúrio Princípio: A Esperança
A Esperança é uma virtude que faz com que nossa vontade, apoiada sobre a ação divina, nos conduza para Verdades Eternas, que a Fé nos tem revelado, como aquilo que pode e deve ser um dia nossa iluminação total.
Esta virtude é absolutamente inacessível sem a Fé que ela pressupõe necessariamente, pois é somente a Fé que dá à Esperança o objetivo e o motivo sobre a qual ela se apoia.
Um Dom do Espírito Santo corresponde à virtude da Esperança e é o Dom da Ciência.
A Ciência sob a ação do Espírito Santo, deve poder julgar com uma certeza absoluta e uma verdade infalível (não usando aqui o procedimento natural da razão, mas instintivamente e de forma absolutamente intuitiva), o verdadeiro caráter das coisas criadas em suas relações com aquelas da Esperança segundo devam elas ser admitidas e professadas, ou devam servir de objetivo à nossa conduta, sabendo assim imediatamente o que, no Mundo material, está em harmonia com as Verdades Eternas ou, ao contrário, em oposição.


A Esperança corresponde, na via iniciática, ao voto de Castidade (que não é, segundo o casamento cristão, a continência sexual). O voto de Castidade que é seu primeiro postulado, permite ao Homem libertar-se pouco a pouco da escravidão dos sentidos, assim como ao casal humano ordinário, de trabalhar, de maneira natural e legítima, na perpetuação das formas da Espécie, sem depravar-se mutuamente.
É também pelo voto de Castidade que obtemos o Dom da Ciência.


G - O Enxofre Princípio: A Fé
A Fé é uma virtude que faz com que nossa inteligência se una, muito firmemente e sem receio de enganar-se mesmo que ela não perceba de forma inteligível, a tudo o que lhe chega pelo Canal da Revelação Tradicional, notadamente sobre Deus, sobre a sua vontade de comunicar ao homem a Reintegração como objetivo de seu derradeiro fim, sobre a existência de um Mundo invisível, do qual este aqui não é senão o reflexo imperfeito e invertido.
Um Dom do Espírito Santo correspondente à Fé é o Dom da Inteligência que não devemos confundir com uma das duas virtudes Sublimais deste nome.


O Dom da Inteligência (que não é a inteligência) ajuda a virtude da Fé no conhecimento da verdade divina, fazendo com que o Espírito do Homem, sob a ação do Espírito Santo, penetre o sentido dos termos que comportam as afirmações da Revelação Tradicional, de todas as proposições que possam levá-lo a compreendê-los de forma plena, ou ao menos (no caso dos mistérios profundos), poder aproximá-los, mas conservando intacta toda sua importância.
A Fé corresponde, na via iniciática, ao voto de Obediência que é seu primeiro postulado, e permite obter o Dom da Inteligência.


H - A Prata dos Sábios: A Inteligência
A Inteligência é o atributo daquilo que corresponde à visão, à intuição, à penetração e à informação. Como tal, a Inteligência é portanto o conhecimento (gnose) das Coisas Divinas Absolutas a Ciência do Bem e do Mal.
É ela que nos dá o discernimento dos Espíritos, a possibilidade de perceber, sob as espécies ou obje-tos materiais, aquilo que os relaciona aos pólos opostos do Bem e do Mal, da Luz e das Trevas ( ).
Ela nos faz penetrar o sentido oculto das palavras, o esoterismo dos textos, sua significação superior, e mais particularmente o sentido profundo das escrituras cristãs, ou dos Livros Santos de outras religiões.


Segundo Santo Tomás de Aquino , discípulo de Alberto o Grande, a Inteligência nos revela "o simbolismo superior dos Signos Sensíveis: ritos, símbolos, matérias sacramentais, etc.".
Ela nos faz perceber, sob as aparências as realidades espirituais e nos reflexos imperfeitos deste mundo, as realidades celestes deformadas ou veladas. Assim, no carpinteiro de Nazaré, o Logos Criador; depois, no Cristo deixando os Apóstolos na Ascensão, sua Glória futura na época da Parúsia, no Fim dos Tempos.


A Inteligência nos mostra os efeitos na causa, por exemplo, no sangue de Cristo, derramado no Calvário, a purificação de nossa Alma e nossa reconciliação, para empregar um termo bem conhecido de Martinez de Pasqually. E no flanco perfurado do Cristo, semelhante ao Pelicano hermético da Rosa-Cruz, ela nos revela a fonte invisível e única dos Sacramentos essenciais.

Figura 7

Figura 5 - Os Nove Dons do Espírito Santo: Os Dons do Espírito Santo seguem aqui a mesma progressão, em seu desenvolvimento, que a progressão alquímica da figura 1.
Os dois elementos superiores deixados em branco na figura (Mercúrio dos Sábios e Enxofre dos Sábios) são, provavelmente, o Dom da Integridade e o Dom da Graça. O Dom da Integridade comporta três privilégios: a ciência infusa, o domínio das paixões, a imortalidade do corpo. O Dom da Graça comporta a união com Deus, sua descida em nós.
Esta Virtude nos mostra as Realidades Eternas atingidas pela Fé sob uma clareza tal que, sem no entanto compreendê-las sempre de forma total, ela nos fortalece em nossa certeza, não mais intuitivamente como pela Fé, mas por um tipo de visão intuitiva e subconsciente.
Em um grau superior, ela nos dá uma visão parcial de Deus, não revelando-a totalmente, o que é impossível, mas nos fazendo compreender com uma certeza absoluta o que Ele não poderia ser. A Inteligência nos revela então, o que Denys o Aéropagita denominava a "treva divina".


I - O Ouro dos Sábios: A Sabedoria
A Sabedoria consiste na escolha do melhor entre as coisas acessíveis à Inteligência. A Sabedoria pressupõe a Inteligência, e opera nesta apenas por eliminação. Ela é a submissão espontânea, inteligente e compreensiva, a um bem que ela percebe como dominante, como tal, é uma discriminação entre o Bem e o Mal, a Ciência desses dois opostos.
Se a Inteligência é o Conhecimento total, a Sabedoria é, portanto, a utilização que dele se faz. È, de qualquer forma, um aspecto superior, por ser resultado da ação da Fé e da Caridade, do Mercúrio Princípio e do Sal Princípio.


A Sabedoria nos faz julgar todas as coisas segundo a mais alta das Causas, da qual todas as outras dependem, e ela mesma não depende de nenhuma. É, então, por tal virtude que o Adepto pode atingir o mais alto grau de conhecimento acessível ao ser humano neste mundo, visto que esse conhecimento não reside apenas em um fenômeno de percepção geral (como na Inteligência, Ciência do Bem e do Mal), mas em um fenômeno de percepção particular, que é, de fato, a Ciência apenas do Bem, de seu conhecimento absoluto.


E igualmente, é a Caridade que está na base do nascimento da Sabedoria em nós. Em efeito, a Caridade absoluta, nós já vimos, surge de um ato de amor total, pelo qual o Homem deseja de Deus, esse Bem infinito que a Fé lhe fez conhecer, e que ele deseja para si mesmo e para todos os outros Seres, Bem esse, inseparável de Deus.


A partir de então, não buscando senão esse Bem, tendo-o compreendido e definido, ele não poderá mais confundi-lo com seu oposto, e, em tudo o que possa arrastar sua inteligência das coisas, de sua visão de todas as "possibilidades" em Deus, é este ato de amor total que lhe servirá de pedra de toque. A Sabedoria será o filtro de ação da sua inteligência.


Capítulo VI
O FOGO DOS FILÓSOFOS: A PRECE

"Este Fogo...é um espírito ígneo, introduzido em um objeto de mesma natureza que a Pedra,
e sendo mediocremente excitado pelo fogo exterior, calcina-se, dissolve-se, sublima-se,
e se reduz à água seca, tal como diz o Cosmopolita..."
(Limojon de Saint-Didier. "O Triunfo Hermético").


O sentido do divino se expressa sobretudo pela emotividade religiosa, e por meio dos ritos, cerimônias e sacrifícios. Ele toma sua expressão mais alta na Prece, que acompanha este conjunto necessariamente. "Os homens santos de Deus, nos diz a tradição cabalística, quando desejam caminhar sobre os Trinta e dois Caminhos da Sabedoria, começam por meditar sobre os versículos sagrados, e se preparam convenientemente por meio de santas Orações..."( ).
(R.P.Kircher, "Oedipus Aegyptiacus").


Mas a Prece, com o sentido do Sagrado que ela exprime, é com toda a evidência um fenômeno espiritual. E, como nota judiciosamente o doutor Carrel em seu estudo, o Mundo Espiritual se acha fora do alcance de nossas técnicas experimentais modernas. Como então adquirir um conhecimento positivo da Prece? O domínio científico compreende, felizmente, a totalidade do observável. E este domínio pode, por intermédio da psicologia, estender-se até as manifestações do Espiritual. È então pela observação sistemática do Homem orando que nós aprendemos em que consiste o fenômeno da Oração, a técnica de sua produção e seus efeitos ( ).


De fato, a Prece representa o esforço do Homem para se comunicar com toda a Entidade incorpórea ou metafísica: ancestrais, guias, santos, arquétipos, deuses, etc..., ou com a Causa Primeira, ápice da pirâmide precedente. Longe de consistir em uma vã e monótona recitação de fórmulas, a verdadeira Prece representa um estado místico para o homem, um estado onde a consciência dele aborda o Absoluto. Este estado não é de natureza intelectual. Tão inacessível quanto incompreensível ao filósofo racionalista e ao sábio ordinário. Para orar, faz-se necessário o esforço de voltar-se para a Divindade. "Pense em Deus mais seguidamente que tu respiras...", nos diz Epictète. E curtas, mas freqüentes invocações mentais, podem manter o homem em presença de Deus.



" A Prece verdadeira é filha do Amor. Ela é o sal da Ciência; faz germinar a Ciência no
coração do homem, como em seu terreno natural. Ela transforma todos os infortúnios em
delícias; porque é filha do Amor, e é preciso amar para orar, e ser sublime e virtuoso para amar..."


"Mas esta Prece tão eficaz, pode ela jamais advir de nós? Não é necessário que ela nos seja
sugerida? Devemos somente escutá-la com atenção e repeti-la com exatidão...Quem nos
dera ser como uma criança, a espera da voz que nos fala?...".
(L. C. de Saint-Martin: "O Homem de Desejo").


Veremos mais tarde o que se deve entender aqui, por essa voz interior que fala em nós, e que vincula-se ao Fogo "introduzido em um objeto", do qual fala Limojon de Saint-Didier no epígrafe citado no início deste capítulo.


A Prece tem ainda uma outra função, é o seu papel construtivo, desempenhado em "regiões espirituais" que permanecem desconhecidas ou inexploradas: "Or et Labor...", diz a velha divisa hermética, "Ore e trabalhe...". E o adágio popular acrescenta: "Trabalhar é orar...". Concluímos que, talvez pela mesma ordem de idéias, orar eqüivale a trabalhar, ou seja, obrar. Pois nos diz São Paulo: "a Fé é a substância das coisas esperadas...".


Tudo depende do que se entende por esse termo. Talvez o homem que ora, o orador, construa em um outro mundo esta forma gloriosa, este "corpo de luz" do qual falavam os Maniqueus, e que é a sua Jerusalém Celeste, verdadeira "Cidade Celeste", nascida de seu "templo interior" (que lhe serviu de berço e protótipo inicial), em troca dos influxos celestes originais, por uma espécie de reversibilidade, de operação da obra terrestre no plano celeste.


A partir daí, podemos admitir que o homem que não ora, não tece sua própria imortalidade; ele se priva assim de um precioso tesouro. Neste caso, cada um de nós encontrará, depois da morte, aquilo que em sua vida carnal, tiver esperado aí encontrar. O ateu vai em direção ao nada, e aquele que crê, em direção a uma outra vida.


Psicologicamente, o senso do divino parece ser uma impulsão vinda do mais profundo de nossa natureza, uma atividade fundamental, e que se constata tanto no homem primitivo quanto no civilizado. E suas variações estão ligadas a diversas outras atividades fundamentais: senso moral, senso estético, vontade pessoal, etc...


O inverso é igualmente verdadeiro. E como bem observa A. Carrel, a história mostra que a perda do sentido moral e do sentido sagrado, na maioria dos elementos constitutivos de uma nação, conduz à sua decadência e rápida submissão aos povos vizinhos. Grécia e Roma são tristes exemplos disto. Devemos notar igualmente que o senso do divino levado ao estado de intolerância e fanatismo, conduzem também a tristes resultados.


Por outro lado, o homem é constituído de tecidos e líquidos orgânicos, permeados por um elemento imponderável chamado "consciência". Ora, o corpo vivente, soma dos tecidos e líquidos orgânicos, tem sua existência própria, ligada a uma relação regular com o universo contingente. Não é então permitido supor que a consciência, se ela reside nos órgãos materiais, prolonga-se fora do continuam físico? Nos é proibido acreditar que estamos mergulhados em um "Universo Espiritual" (pelo fato de nossa consciência, acessar a dois mundos diferentes), da mesma forma que nosso corpo carnal, que vive no universo material, donde ele tira os elementos para sua conservação: Oxigênio, Azoto, Hidrogênio, Carbono, e isto para o jogo das funções nutritivas e respiratórias?


Neste universo espiritual, onde nossa consciência extrai os princípios de sua própria conservação e saúde moral, é proibido ver o Ser imanente, a Causa Primeira que as religiões ordinárias chamam Deus? Em caso afirmativo, a Prece poderia, desde então, ser considerada como o agente das relações naturais entre nossa consciência e seu meio próprio, da mesma forma que a respiração e a nutrição para o corpo físico.


Assim, é tão vergonhoso orar quanto respirar, meditar, comer ou beber! Orar é portanto, equivalente a uma atividade biológica dependente de nossa estrutura, e seria uma função natural e normal de nosso espírito. Negligenciá-la é atrofiar nosso próprio "princípio", nossa alma em uma palavra.


E o grande psicanalista Jung nos assegura que, "a maioria das neuroses são causadas pelo fato de que muitas pessoas querem fechar os olhos às suas próprias aspirações religiosas, por força de uma paixão infantil pelas luzes da razão...".


Também é conveniente definir que neste campo, a recitação de fórmulas vagas e maçantes, sem a participação verdadeira do espírito, onde apenas os lábios têm uma atividade real, não é orar. É necessário também que o "Homem interior", aquele que Louis-Claude de Saint-Martin, à semelhança de seu mestre, Martinez de Pasqually, denominava de "Homem de Desejo", esteja atento e dinamize o que os lábios e o cérebro emitem conjuntamente.


Aliado à intuição, ao senso moral, ao senso estético e a inteligência, o "senso do Divino" dá à personalidade humana seu pleno desenvolvimento. Ora, é duvidoso que o sucesso na vida exija o desenvolvimento máximo e integral de cada uma de nossas atividades fisiológicas, intelectuais, afetivas e espirituais. O espírito é, ao mesmo tempo, razão e sentimento, e nós devemos amar a beleza e o conhecimento, tanto quanto a beleza moral. Nisto, Platão tem razão quando declara que, para merecer o nome de Homem, devemos "ter feito um filho, plantado uma árvore, escrito um livro...".


A Prece é pois, o complemento e a ferramenta essencial de toda esta transmutação do Homem. Ela é o Fogo e o Cadinho é o coração onde as austeridades e a ascese são os elementos combustíveis das impurezas iniciais.


A Obra é longa pela via úmida ( ). Ela dura, segundo a palavra da Escritura: "Até que o dia apareça e que a Estrela da manhã se eleve em nossos corações..." (Pedro, II Epistola 1, 19).

Capítulo VII
O ELIXIR DA LONGA VIDA

"E Melquisedeck, rei de Salém, trouxe pão e vinho, pois ele era sacrificador do Deus Altíssimo..."
(Gêneses: XIV, 18).


Esta frase, inocente em aparência, tem no entanto, no quadro da Tradição judaico-cristã, uma profundidade insuspeitável. Pois, tão logo Melquisedeck transmite a Abraão o rito sacrificial do Pão e do Vinho, do Trigo e da Videira, ele adquire poderes de sacrificador do Deus Altíssimo, e pelo fato da Gnose já existir, é que alguns sabiam da existência de um outro Deus além dos deuses comuns. Ainda, esta iniciação tem um Rito secreto e novo, que Abraão recebeu de Melquisedeck, e o transmitiu a toda sua posteridade, a toda futura Israel. Em efeito, no seio do Templo de Salomão, ao lado de sacrifícios sangrentos de animais, encontramos a oferenda de pães ázimos e do vinho. Isto se perpetuou com o rito do Seder, que comportava a presença de Matzah ou pão ázimo, e o rito do Kiddouch benção da taça de vinho. Assim que Cristo fez a base de todo ritual cristão, ele se denominou "sacrificador segundo a Ordem de Melquisedeck". Assim, seus Apóstolos e os Discípulos receberam dele uma "ordenação" que remonta à época de Abraão, a qual segundo a história, situa-se por volta da décima Segunda dinastia egípcia, dezenove séculos antes de nossa era, durante o período do Médio Império. Atualmente este rito misterioso repousa sobre elementos e tradições ocultas que tiveram origem há mais de quatro mil anos.
Tal antigüidade retira, evidentemente, toda a sustentação das ironias de mal gosto que os racionalistas não deixam jamais de associar, na tentativa de negar o valor deste Rito.
Veremos então este rito um pouco mais de perto.


Existe um axioma hermético bem conhecido, é aquele que, na célebre "Tábua de Esmeralda", atribuída a Hermes Trismegistos, afirma que o que está encima é igual ao que está em baixo.
Desde então, podemos admitir a prior que, da mesma forma que uma alimentação material é suscetível de sustentar nossa vida material, se ela é saudável, ou ao contrário, destruí-la, se for um veneno, pode existir uma alimentação espiritual e psíquica que sustente nossa vida espiritual e psíquica ou, ao contrário, que a destrua se for um veneno espiritual.


Constatamos de início que, em todos os tempos, as pessoas tentaram estabelecer uma comunhão (ou comum união) com Entidades sobre as quais se admitiam a existência e a presença, e que os ritos desta comunhão estão sempre revestidos de uma espécie de assimilação por via oral, nasal, sangüínea, visual (contemplação), etc... e por vezes, de uma assimilação material com fins espirituais.


"As Nações de Canaã, ao oferecerem sacrifícios aos Mortos sobre os túmulos, comungam em realidade com os Seres Maus e, por isso, suas Obras são más..."
("O Livro do Jubileo", XXII, 16, 17).


"Eu sou a oferenda, o sacrifício, a manteiga purificada, a erva do culto, o Fogo..."
(Bahgavad Gita IX, 16).


É de nossos dias ainda, o caso do Feiticeiro que transcrevia Signos secretos sobre uma pele, que ele lavava em seguida em uma água encantada, onde esses Signos se apagavam e se dissolviam com a tinta, e esta água era bebida pelo doente ou pelo enfeitiçado.
Era também, o geomancista árabe que colocava sob a vista do questionante um fogareiro de terra onde queimavam resinas mágicas (incenso, mirra, gálbano, etc...) destinadas a chamar os Gênios, a fim de que o questionante fosse então, momentânea e literalmente, possuído e conduzido por eles durante a jornada ao "lugar" das Figuras Geomânticas.
È a antropofagia ritual do negros que, mesmo não comendo carne de gado ou de caça, comem o coração de um guerreiro corajoso, a mão de um homem hábil, o cérebro de um homem inteligente.


É o sangue das incisões rituais que, misturado e bebido pêlos recém-casados, os unirá eternamente , segundo os Ciganos da Europa central.
São as vítimas animais, semi-consumidas sobre o altar dos holocaustos e pelos padres de Israel, que unirão espiritualmente eles com Iaveh, seu Deus.


São os Pães de Proposição, em número de doze (um por tribo), que passarão seis dias sobre a Tábua do Testemunho, rodeados por gotas de incenso puro, a fim de se impregnar no Tabernáculo da Aliança, da Shekinah (a "presença divina", o pneuma agion). E ao sétimo dia, aquele do Sabbat, os sacerdotes os consumiam ritualisticamente, com a oferenda, a benção e a absorção da taça de vinho. Á mesma época, o sacerdote de Osíris pousa seus lábios, no instante em que o sol nasce, sobre os da estátua do deus. Ele julga estar absorvendo o sopro de Osíris.


Por isso, Israel, apesar das mais horríveis torturas, recusou sempre queimar incenso ante os ídolos, bem como comer carnes consagradas ao "deuses das nações". Por isso, São Paulo recorda mais tarde:


"Os deuses das nações são demônios, e eu não quero que entreis em comunicação com os demônios..."
(Paulo, I Epistola aos Coríntios, X, 20).


Nos ritos agrários, de Dionísio, encontramos o cabrito, imagem do deus solar, esse carneiro virgem que, na Primavera, tempo de Renovação, passa (Páscoa: passagem), através do Horóscopo a Primeira Casa do Mundo, que é o Signo do Carneiro, a fim de reviver no neófito. Mas porque é necessário que entre eles, o Cordeiro seja substituído por sua antítese: o Cabrito, primícias do réprobo Azaël?... Trata-se aí, portanto, de uma Eucaristia inversa. É a ação de fazer reviver, nos Neófitos um deus morto, um deus caído, que deverá sua nova vida ao Homem!
Na Eucaristia cristã, como em sua antecessora judaica, trata-se de fazer reviver o Homem no Corpo Místico de Deus!


Podemos comparar a ressurreição de Hiram, no ritual maçônico, à ressurreição do Cristo, mas Hiram, como Dionísio ou Orfeu, revive no iniciado, por ele, graças a ele. Tem-se aí, matéria para meditação.


Este princípio de comunhão por absorção material era tão bem admitido, que mais tarde, no décimo quarto século, acusar-se-á os Templários de beberem as cinzas de seus irmãos mortos misturadas ao vinho e ao sangue de um gato preto!


Em nossos dias ainda, na terra do Islã, se procura beber ou comer restos alimentares abandonados por um santo homem ou por um sábio: chá, bolachas, etc... Se recebe assim clandestinamente a baraka ou benção, que é também uma iniciação furtivamente roubada. Por outro lado, há aquela que se transmite regularmente pelo rito da transferência de saliva, do muftî ao novo cheik, às vezes pela intromissão da língua na boca do recipiendário (um termo que diz perfeitamente o que significa), às vezes pela intromissão do dedo embebido de saliva, às vezes por um simples escarro, é assim que nossos amigos recebem a iniciação geomântica de um "daguèze" de Mogador! Existe aí, algumas vezes, uma prova iniciática e uma espécie de transmissão fluídica.


Ora, o que nos diz a tradição cristã?
Que a transubstanciação das espécies eucarísticas na liturgia (não importando se ela é oriental, ocidental, ortodoxa ou latina) é a transposição, em espécie ensangüentada e invisível, do sacrifício de Melquisedeck, perpetuado em Israel por Abraão, consagrado por Melquisedeck, chegando até ao Cristo, filho de Davi e portanto pontífice e rei, por meio do rito dos Pães de Proposição e da Taça do Kidoush.


Ora, o que foi a Ceia, senão uma cerimônia judaica bastante ortodoxa, composta primeiramente pela Páscoa anual (com a divisão e a mastigação do cordeiro e de ervas amargas), e depois pelo rito Melquisedético, puramente semanal. As "graças", que os Evangelhos nos dizem haver sido pronunciadas na abertura do banquete por Cristo, no instante da consagração do Pão e da Taça, eram preces ritualísticas. Elas figuram ainda nos ritos atuais destinados aos israelitas praticantes.


Este rito, certamente desconhecido pêlos cristãos comuns, nós o divulgaremos aqui a título de documentário, chamamos a atenção de nossos leitores no entanto, para o brilho e entonação que, na Liturgia Eterna, devem ser dados às palavras imutáveis ao longo dos séculos...
Kidoush ou Abertura do Sabbath
Sexta-feira à noite, após o Trabalho, senta-se à mesa, toma-se às mãos uma Taça repleta de Vinho e se diz:

"Era então o sexto Dia. E o Céu e a Terra e tudo o que eles continham estava terminado. Ao sétimo Dia, DEUS havia acabado Sua Obra, e ELE descansou no sétimo Dia de tudo o que havia feito. Deus abençoou o sétimo Dia e o santificou, porque neste Dia o SENHOR repousou de todas as Obras que havia realizado".


"Sois louvado, ó ETERNO nosso DEUS, Soberano do Universo, que criou o Fruto da Vinha!..."
"Sois louvado, ETERNO nosso DEUS, Soberano do Universo, que nos santificou por Teus Mandamentos; que nos aceitou por Teu Povo, e que, em Teu Amor nos deu o dia santo do Sabbath em comemoração pela Criação. Este Dia é o primeiro das solenidades, ele nos faz lembrar que Tu nos tirastes do Egito, que fomos nós quem Tu escolhestes e santificastes dentre todos os outros povos, e que em Teu Amor, nos destes por Herança o santo dia do Sabbath. Sois louvado ó ETERNO, que santificastes o Sabbath!..."


Após, pronuncia-se a Benção a seguir sobre dois Pães inteiros, partindo-os ao meio, comendo-se uma porção, e dando-se um pedaço a cada um dos assistentes:


"Sois louvado, ó ETERNO nosso DEUS, Soberano do Universo, que tira o Pão da Terra..."
Após a Refeição, se pronuncia o Salmo CXXVI (Cântico das Subidas: "Quando o Eterno fez voltar os Cativos de Sion, ficamos como quem sonha...), depois recitam-se as "Graças". Nós não as daremos aqui por serem muito longas. Pode-se encontrá-las na coletânea de "Preces Diárias" dos israelitas do Rito Askenaz (Tephillath Adath Yeschouroun: Edições Duriacher).
Mas como conceber o Oculto da Eucaristia?


Sem dúvida, não comemos a carne viva, sensível, celular, daquele que, no Jordão, segundo a palavra de Santo Agostinho, havia "revestido o Homem..." E nós não bebemos nada de seu sangue vermelho, quente, suscetível de coagulação como nas orgias religiosas da antiga Trácia. O Cristo não é dilacerado e dividido selvagemente por bacantes ébrios e furiosos.


Mas nós absorvemos uma substância sutil, oculta e mística, ligada de fato à própria Essência do Salvador por uma graça misteriosa, que impregna e transmuta a materialidade das espécies eucarísticas, em conseqüência de sua Promessa na Cela, e da potência que ELE conferiu livre e eternamente a um Rito Ordenado aos Apóstolos:


"Fazei isto em memória de Mim..."
(Lucas, Evangelho XXII, 19).


Como o açúcar depositado no açucareiro de porcelana continua açúcar e o açucareiro continua de porcelana, sem a recepção dos poderes legítimos e da pronúncia das palavras sagradas, as espécies eucarísticas continuam a ser o que eram quando de sua elaboração.
Mas quando o Divino se mistura, ligado por Sua Promessa, por Sua Ordem desde há vinte séculos, à semelhança da Pedra Filosofal que transforma chumbo em ouro, a liturgia eucarística ligará o suco da uva a essa Essência Salvadora à qual nos referimos. Desta forma, a transubstanciação se efetuará no invisível.


Então, como um açúcar transmutador fará com que, por seu depósito, o açucareiro de porcelana, por sua vez, transforme-se pouco a pouco; assim também, a substância psíquica e essência espiritual do Homem se transforma pouco a pouco por uma Segunda transubstanciação, análoga àquela de Deus. Esta é a incorporação ao "Corpo Místico" do Cristo, em seu primeiro estado.
Com a Eucaristia, nós absorvemos um "carga" oculta e mística, um filho de imortalidade, o qual, caso nos impregnemos suficiente e seguidamente no curso de nossa vida terrestre, poderá nos transmutar pouco a pouco, de ano em ano. Pois esta "carga", assimilada por nosso organismo, como qualquer alimento, passa do plano fisiológico para a psique, e da psique à alma.


É em efeito, por ser o sangue, o veículo das paixões dos seres, que os Judeus receberam no Sinal a ordem de não consumir carnes sangrentas. E pelo fato da Criação toda decaída com Adão (e o Coro da Alma preexistentes que o constituíam), se eleva com o Cristo e a Humanidade libertada pelo Demiurgo, é que Pedro recebeu em sonho (Ato dos Apóstolos: X, 9 a 15), a ordem de considerar doravante todos os alimentos, quais quer que sejam (animais, peixes, vegetais), como tendo sido purificados para sempre. Por sua vez, o Homem se transforma no atanor transmutador no qual a Criação remida deve passar e se integrar para retornar ao Divino. Donde a supressão das interdições concernentes ao sangue, a carne, etc..., e também do vegetarismo, em todos os ramos cristãos ( ).


A Reintegração, ou reconstituição do pleroma, consiste na elaboração lenta e progressiva da IGREJA PRÉ-EXISTENTE, dispersada pela Queda. Ora, esta IGREJA é o Corpo Místico do Cristo. Isto é figurado pelo pão eucarístico. Comer este pão é construir nosso próprio corpo místico, figurado pela "vestimenta de Glória" da qual falam os Cabalistas palestinos e os Padres da IGREJA. Sem essa "Vestimenta", nos dizem os Cabalistas, ninguém pode transpor o Fogo-Princípio que separa o Criado do incriado...


Mas uma vestimenta tem necessidade de ser utilizada, e deve haver algo para ser revestido. Um corpo tem necessidade de uma alma, daí o papel do Vinho eucarístico.
O Pão é o "corpo místico" do Cristo, o Vinho é a Alma Mística. E da mesma forma que as paixões bestiais dos animais consumidos passariam ao sangue dos israelitas com aquele dos animais impuros, assim também a Alma do Cristo passa por nós através do Vinho...


Assim, no Rito Latino, onde o fiel ordinário comunga sob uma única espécie: a Hóstia, a eucaristia do fiel não é a do padre, falta um dos dois elementos do mistério. Decidida no tempo das perseguições, a fim de salvaguardar o Vinho de sacrilégios involuntários (quedas, quebras de taça, etc...), a ausência do vinho não tem mais, no Rito Latino, nenhuma razão de ser, é uma anomalia deste Rito. Por outro lado, o Rito Oriental, comportando a comunhão sob as duas espécies para todos os fiéis, tem em nosso ponto de vista, uma falha ao utilizar pão ordinário ao invés dos ázimos do Rito Latino. Os Ocultistas sérios nos compreenderão se declararmos considerar a Hóstia como um símbolo infinitamente superior ao pão comum.
Á Missa Pontifical, celebrada exclusivamente pelo Bispo, possui igualmente um valor oculto diferente.


Os Ocultistas não ignoram o papel oculto da cera de abelha, boa e fiel registradora de radiações. Donde os bonecos de cera utilizados pêlos feiticeiros, ou os membros de cera empregados pêlos médicos spagyristas, como o ilustre Paracelso. Ninguém ignora mais o papel evocatório da chama saída de uma cera (ou de um círio de cera), previamente acesa sobre um túmulo. Toda a Europa Central põe esta tradição em ação com suas velas que tremulam sobre cada túmulo, na noite de todos os santos! Martinez de Pascuallys utilizava velas, acesas sobre os Nomes Divinos, Angélicos, etc..., em suas Operações teúrgicas.


Ora, este conhecimento oculto é utilizado sobre altar cristão. E é bem provável que isto tenha permitido conservar o Sudário de Cristo, secretamente colocado em segurança pêlos Discípulos desejosos de restabelecer o contato com o Mestre morto na carne. Assim como a maioria das relíquias da Paixão aliás. Falamos aqui "em princípio", mas quantas relíquias foram fabricadas depois por falsários interesseiros!


Sobre o altar cristão, o Crucifixo (ou o Tau) erigido, evoca e manifesta a presença do Salvador, os dois círios de cera, sem os quais uma Missa seria "vã" dispostos à direita e à esquerda do Crucifixo, evocam a presença do Mundo Angélico, com os dois grandes Arcanjos, Miguel e Gabriel, tipos solar e lunar. E estes paradigmas se tornam vivos porque eles são erigidos sobre um túmulo em redução, com a pedra do altar contendo necessariamente parcelas de ossamentas de santos.
Essas relíquias colocam o todo em contato com a Cidade Celestes, inversamente, o crânio do qual se serve o mago negro, colocando sobre uma toalha proveniente de uma mortalha funerária, ladeado por dois círios negros acesos, colocam o necromante em ligação psíquica com a Cidade das Profundezas.


No Oriente, a pedra do altar do Rito Latino é substituída por uma toalha de linho, quadrada, contendo ao centro relíquias idênticas. Ela se denomina a antimension (ou seja, "contra a cidade"). O corporal do rito católico é uma deformação. Todos os dois se prendem em nove quadrados, e isso lembra exatamente, o quadrado mágico de Saturno!


Esse rito de utilização de ossos, apareceu muito cedo no Oriente, nós o equiparamos às missas Romanas realizadas sobre os túmulos das catacumbas. É imediatamente contemporâneo da primeira liturgia conhecida, aquela dita de Jerusalém ou de Santiago. Os primeiros liturgistas cristãos sabiam o que faziam, donde a nossa Hipótese sobre a conservação, cuidadosa das relíquias da Paixão: pregos, sudário, coroa de espinhos, etc... Não esqueçamos que havia um verdadeiro tráfico na antigüidade, destes objetos, procurados por todos os mágicos e necromantes. Ora, os primeiros cristãos constituíam uma seita à parte, nem fariseus, nem saduceus, nem mesmo essênios (as doutrinas o provam), O cristão está tão fora da estrita religião judaica que Flávio Josepho, evocando sua existência, recusa-se a nomeá-la! Não é pois, nada de espantoso que a "tábua do cadáver" tivesse seu lugar na primeira comunidade cristã. A utilização (e a procura) das relíquias da Paixão não tem nada de contrário à lógica. Os discípulos conheciam, certamente, a tradição judaica sobre o habal há garbin, ou "espírito dos ossos".


Abordamos até agora somente estágio da Missa do padre comum. O Bispo, deve obrigatoriamente acender um terceiro círio de cera (atrás do Crucifixo erigido, na Liturgia gnóstica, constituindo assim um trigone de luz, do qual o Crucifixo é o centro. Assim, a tradição teúrgica de toda evocação é respeitada). Nos dias de hoje, não há senão uma chama em um castiçal, colocado fora de toda a disposição pentacular...Assim são os arcanos, na Igreja moderna. Desta forma, o terceiro círio de cera evoca ritualísticamente, a "presença" do Apóstolo do qual descende, imutável e necessariamente o Bispo celebrante. Sabemos que toda a filiação ou "sucessão" apostólica, deve remontar necessariamente a um dos Doze Apóstolos. Devemos atentar-nos desde hoje, para o fato das grandes Igrejas terem tido suas filiações próprias, em relação às de suas concorrentes... Existem obras específicas sobre estes assuntos.


Desta forma, com esta terceira chama, a "Comunhão dos Santos", que Stanislas de Guaita denominava lona, está então presente invisivelmente, com o coro dos Ischim da Kabala.
E eis aí a verdadeira Pedra Filosofal da Alquimia Espiritual, a Eucaristia na qual a Água, imagem do Mercúrio dos Sábios e da IGREJA, se une, no Cálice, imagem do Cadinho, ao Vinho, símbolo do Enxofre dos Sábios e do CRISTO. Em outras palavras, é a união do SOL FILISÓFICO (o Vinho) e da LUA FILOSÓFICA (a Água). A essas núpcias do "Marido Vermelho" e da "Esposa Branca", segundo o tratado de Ripley, vem ainda se juntar a TERRA FILOSÓFICA (o Trigo), símbolo do Sal dos Sábios...( ).


E é a fusão destes três termos que constitui então, a Chrysopéia Espiritual, por meio da qual, o Homem se identifica com DEUS, da mesma forma que o Chumbo torna-se Ouro no seio do Matraz...


Daí, no astral, esta cor vermelho rubi, que é aquela da Pedra em Vermelho, a Pedra Perfeita, brilhando no Cristal submetido aos Clarividentes.
Para terminar com este assunto, daremos um extrato de um apócrifo gnóstico intitulado "O Apocalipse de Adão", esta obra remonta ao primeiro século. Observa-se que, de acordo com o autor anônimo, foi sobre o túmulo de Adão que Melquisedeck e Sem celebraram o primeiro sacrifício do Pão e do Vinho.


Então, Adão estando próximo da morte corporal, fez vir até ele, seu filho Seth, Enoch filho de Seth, Cainam filho de Enoch, e Malalahel filho de Cainam, e lhes deixou seu testamento dizendo:
"Eis aqui o procedimento que todos os vossos filhos e os filhos dos vossos filhos deverão observar. Assim que eu estiver morto, vocês embalsamarão meu corpo com Mirra, Incenso e Canela, e o depositarão em uma Caverna oculta. E aquele de meus filhos que se encontrar ainda vivo quando tiver que deixar as proximidades do Éden, tome consigo meus despojos, e deposite no ponto central da Terra, pois é desse Lugar Misterioso que, mais tarde, quando vierem os Tempos, sairá minha Salvação e a de todos os meus Descendentes.


"E os filhos de Adão fizeram como ele lhes havia prescrito. E eis que um dia, o Anjo do Eterno desceu próximo de Sem e de Melquisedeck, e apareceu para eles, após haver previamente fortificado seus corações. Ele disse então a Melquisedeck: "Tomai o Pão e o Vinho que Sem tem em suas mãos...", e Melquisedeck pegou estas coisas, como o Anjo lhe havia dito para fazer, e eles permaneceram próximo ao Túmulo de Adão até ao anoitecer. E assim que a noite veio, eles viram então, uma grande claridade acima do Corpo de nosso Pai Comum. Eles cantaram, repletos de alegria. E assim que o sol surgiu, a Voz do Eterno falou a Melquisedeck, dizendo o seguinte:


"Levanta-te, Melquisedeck, e toma doze pedras, e com elas, eleva um altar para mim. Tu colocarás sobre ele o Pão e o Vinho que Sem te deu. Após, vocês comungarão." Melquisedeck assim o fez. E ele suplicou a Deus para aceitar suas oferendas. E o Espírito de Deus desceu então sobre as hóstias do sacrifício, e a montanha resplandeceu com uma santa luminosidade".
"Então, os Anjos disseram entre eles:


"Louvor a Ele, que criou essas Criaturas que se denominam Homens, às quais revelou tão profundos Mistérios..."

"Foi então que o Verbo de Deus apareceu a Melquisedeck, e lhe disse: "Eis que te fiz Sacerdote. Sem e tu, comungaram no Primeiro Sacrifício que tu ofertastes, e da mesma forma que empregastes doze pedras para erigir este altar, assim também, quando os Tempos forem chegados, Eu tomarei doze Apóstolos por Colunas sólidas do Mundo. E como tu ofertastes o Pão e o Vinho, eu ofertarei Minha Carne e Meu Sangue. E farei santo o lugar onde ofertastes este primeiro sacrifício, aí mesmo onde está enterrado o Corpo de vosso Pai: Adão... E Eu concederei grandes graças aos que vierem..."

("Apocalipse de Adão", apócrifo gnóstico).
Observa-se o belo esoterismo deste fragmento. Pois, segundo a lenda, Adão foi sepultado no mesmo lugar onde mais tarde se deu a morte de Cristo, e este monte, nas proximidades dos muros de Jerusalém, era também chamado golgotha (que significa "crânio" em hebreu), por causa de sua conformação...


Daí esses crucifixos bastante simbólicos, onde se vê a cruz erigida sobre um crânio humano, de onde, às vezes, uma serpente se enrola nas órbitas.
E os que souberem traçar sobre um planisfério, algumas linhas geodésicas passando por Jerusalém, constatarão com surpresa estranhas coincidências...
Àqueles que manifestaram uma dúvida qualquer sobre o caráter imprescritível do rito eucarístico para o Cristão, nos limitaremos a lembrar as palavras do próprio Cristo:


"Se vós não comerdes da carne do Filho do Homem, e se não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a Minha carne e bebe Meu sangue tem a Vida Eterna e Eu o ressuscitarei no último dia... Pois Minha carne é verdadeira comida, e Meu sangue é verdadeira bebida... Quem come Minha carne e bebe Meu sangue, permanece em Mim e Eu nele... Assim como Meu Pai, que vive, me enviou, e Eu vivo pelo Meu Pai, também aquele que comer de mim viverá por Mim! Quem come este pão viverá eternamente..."
(João, Evangelho, VI, 53 - 58).


"Façam isto em memória de Mim..."
(Lucas, Evangelho, XXII, 19).


Que significa isto? Que Cristo tenha, talvez, reiterado a prova do Jardim do Éden, recusando-se a nos obrigar ao rito misterioso da Eucaristia, que nossas fracas inteligências humanas não conseguem compreender e seguir nos desdobramentos vertiginosos que ela implica. Nós reiteramos, sem dúvida, o fatal e orgulhoso erro do Adão-Eva primitivo.
Na proibição absoluta de acessar à Ciência do Bem e do Mal, por um mandamento espiritual que devia ser fatal ao Primeiro-Homem, nós nos associamos pela recusa de acessar à Ciência da Salvação por um mandamento análogo... Mais ainda, nós o agravamos reiterando-o de modo inverso!


Da mesma forma que a madeira da Árvore simbólica foi para nós o símbolo da nossa morte espiritual, assim também ela se tornou representação ignominiosa da Cruz (na qual ele foi colocado, segundo a bela lenda esotérica), vem daí o símbolo da nossa libertação. Por quê os antípodas de toda espiritualidade metafísica, dois "filtros", um de morte e outro de imortalidade, não se oporiam, como se opuseram, com o Homem por conquista, o Cristo e seu Adversário?...
Lembremo-nos aqui que o termo IGREJA não designa, uma igreja humana qualquer, católica, ortodoxa, reformada, etc., trata-se do conjunto das Almas Preexistentes, é o PLEROMA.


Capítulo VIII
A REINTEGRAÇÃO UNIVERSAL


"Nada pode repousar em si mesmo, a menos que retorne para o lugar de onde saiu..."
(Jacob Boehme: "Misterium Magnum", Resumo Final).


Sabemos que a reintegração do Cosmos, de todas as Criaturas espirituais ou materiais é o fim último da Alquimia verdadeira.


Segundo a tradição rosacruciana autêntica, em efeito, o Universo todo se degradou com o Homem, seu guardião inicial. Há, no Gênesis, uma frase à qual se dá pouca atenção nos meios cristãos ordinários. Hei-la aqui:


"Doravante, o solo ( ) não produzirá nada além de espinhos e cardos, a Terra será maldita por causa de ti..."
(Gênesis: III, 17, 18).

Esta frase evoca certamente o hylé dos gnósticos, que designavam a matéria prima do Mundo inferior, do Universo. No Grego antigo, a palavra hylé era utilizada para designar o bosque, a mata, a floresta, inexplorada. Este termo se opõe ao Éden Bíblico, palavra que significa um jardim, e por extensão, oriente a luz. Adão estava primitivamente no Éden, mas após sua queda moral, tendo desejado conhecer o Bem e o Mal, o Éden se transformou no Hylé. Da mesma forma que ele havia se revestido de folhas (sua integração no plano vegetal), depois de peles de animais (sua integração no plano animal) (Gênesis: II, 7 e II, 21), assim também o Éden se cristaliza e se obscurece. Ao jardim de luz, situado num "plano" superior, sucede um Universo material, tenebroso, no qual todos os elementos se densificam e se materializam.
Escutemos aqui a Louis-Claude de Saint-Martin:


"Homem, o mal é ainda muito grande. Não diga mais que o Universo está sobre o seu leito de dores, diga: o Universo está sobre seu leito de morte, e é a ti que restam os seus últimos deveres; é a ti que cabe reconciliá-lo com a Fonte Pura de onde ele caiu, Fonte esta, que não é Deus, mas é um dos eternos órgãos de Sua Potência, e do qual o Universo jamais deveria ter se separado. É a ti que cabe reconciliá-lo com ela, purgando-o de todas as substâncias impuras das quais ele não cessa de se impregnar desde a Queda, e purificá-lo de haver passado todos seus dias na vaidade..."


(L. C. de Saint-Martin: "Ministério do Homem Espírito").
"Aprendei aqui um segredo imenso e terrível: Coração do Homem, tu és o único caminho por onde o Rio da Mentira e da Morte se introduz diariamente sobre a Terra... Coração do Homem, quantos séculos levarás para tirar de ti esta estranha larva que te infecta? Compreendei os esforços dolorosos e lancinantes que fazem os mortais para vomitar essa semente de morte? Choras, pois o Coração do Homem, que devia ser o obstáculo das Trevas e do Mal ( ), tornou-se a luz da abominação e o guia do Erro... Choras, pois o Mal encontra fechadas todas as saídas, e se reduz a vagar cegamente na espessa noite de suas tenebrosas Cavernas..."
(L.C. de Saint Martin: "O Homem de Desejo").


Os Mestres misteriosos que suscitaram primeiramente a Martinez de Pasqually, lhe confiaram as chaves da regeneração universal, como veremos mais tarde. A seguir, eles suscitaram L.C. de Saint Martin, seu discípulo mais próximo, e lhe confiaram a chaves da reconciliação individual. Mas, evidentemente, é inútil ater-se ao problema da regeneração do Universo e de seus componentes, se nós não conduzimos uma ação semelhante e paralela dentro de nós mesmos!
Entretanto, como já foi visto, tudo se acha harmoniosamente neste conjunto. E nós reencontramos novamente a venerável ciência que nos guiou nas páginas anteriores, e que se limita à regeneração no mundo metálico.


A Alquimia tende a reproduzir, nesta miniatura do Universo que é o matraz, a ação do Artesão Universal, tomando os elementos desorganizados e corrompidos, harmonizando-os e amalgamando-os, para conduzi-los até à perfeição final. Assim, por esse ensinamento experimental, esta Operação de longo cozimento que constitui a Grande Obra aurífera, coloca seu discípulos na condição de seguir, e reproduzir todo o processo misterioso pelo qual o Animador Divino joga seu "jogo de Amor". Tal é, verdadeiramente, o magistério filosófico por excelência, pois é somente a Alquimia que pode ensinar ao Homem esses rudimentos experimentais e probatórios que o conduzirão para a Certeza Absoluta. E é ela também, a mestra verdadeira que lhe dará, primeiramente uma gnose, depois uma fé.



As técnicas dos Elus-Cohen de Martinez de Pasqually comportam três elementos distintos:
a) Dos Exorcismos, destinadas a jugular a ação demoníaca do seio do Cosmo, e a entravar sua ação sobre os homens, a romper seu poder sobre o Operador e seus discípulos, a obter o fim ou a limitação de certos flagelos, a aniquilar as Operações de Magia Negra; 


b) Das Conjurações, destinadas a estabelecer um contato com o Mundo Angélico e com a Comunhão dos Santos; Nestes últimos, o Operador escolhe "patronos" particulares, e no Mundo Angélico, Guardiães e Guias. Conforme suas Ordenações sucessivas, o Cohen toma pouco a pouco contato com as Hierarquias cada vez mais elevadas. O primeiro sendo o dos apelos, para usar de um exemplo utilizado pelo próprio Pasqually, destinados a permitir ascender a Seres crescentemente mais elevados. 


c) Das Preces, dirigidas a Deus, as três Pessoas da Santíssima Trindade, destinadas a obter Sua Graça e Sua Misericórdia, visando a Reintegração. Elas são integradas nos rituais conjuratórios, que precedem, as quais são destinadas a canaliza-las e amplia-las. O conjunto constitui o que Pasqually nomeava o "culto", sendo, portanto, uma liturgia.

O conjunto deste "culto" compreende dez tipos de Operações:

1) Culto de Expiação: O Homem manifesta seu arrependimento, tanto de suas próprias faltas, quanto da Queda do Protótipo inicial, o Adão Primordial, córrego do coro das Almas Preexistentes. Derivando uma ascese e um ritual penitencial. (Sephira: Malkut) .


2) Culto da Graça Particular geral: Operações destinadas a substituir o conjunto da Humanidade terrestre do momento, e fazê-la participar dos frutos da Operação individual. (Sephira: Yesod).


3) Culto de Operação contra os Demônios: Em torno da degradação inicial, no princípio dos tempos, estes tendem a manter e agravar seu jugo sobre a Humanidade total. Pelos Exorcismos (as célebres Operações de equinócio), o Cohen os combate e os lança fora da aura terrestre.
(Sephira: Hod). 


4) Culto de Prevaricação e de Conservação: Continuação do precedente. Esta Operação consiste em combater e punir os seguidores da magia negra, da feitiçaria, e, sobretudo, castigar os Espíritos Decaídos que são seus colaboradores. (Sephira: Netzah). 


5) Culto contra a Guerra: O homicídio é o maior dos crimes, o homicídio coletivo é evidentemente o mais grave. O Cohen luta contra as Potências da Raiva entre as Nações e tenta detonar sua ação. Em caso de impossibilidade, utiliza os recursos de sua Teurgia na defesa da parte injustamente agredida, ou na qual representa indiscutivelmente o direito moral superior, fora de qualquer interesse político ou material. (Sephira: Tiphereth).


6) Culto de Oposição aos Inimigos da Lei Divina: Operação teúrgica objetivando lutar contra as ações humanas difusoras do ateísmo, satanismo, luciferismo, sob a forma igualmente humana. (livros, revistas, propaganda, seitas, etc...). (Sephira: Geburah).


7) Culto para obter a descida do Espírito-Santo: Operação visando a infusão do Espírito-Santo e de seus Dons. É mais especificamente a "Via Interior", estudada nestas páginas, a Alquimia Espiritual. (Sephira: Hesed).
8) Culto de fortalecimento da Fé e da Perseverança na Virtude Espiritual divina: Operação visando a compreensão dos Mistérios Divinos, compreensão permitindo ao Emule de afirmar sua fé de maneira absoluta e definitiva. (Sephira: Binah).


9) Culto para a fixação do Espírito Conciliador Divino em Si: É a recepção total do Espírito-Santo, a descida "das línguas de fogo do Pentecostes", a iluminação final, com os privilégios que ela comporta. Podemos lhe aplicar as palavras do sacramentário católico romano, na sagração de bispo: "Dai-lhe, Senhor, de ser o artesão da Reconciliação, em palavras e obras, pela potência dos Signos e dos prodígios...". ( Sephira : Hocmah)


10) Culto de Consagração anual de todas as Operações ao Criador: Esta parte compreende o conjunto das consagrações, benções, etc... Pelas quais o Operador tenta sacralizar o conjunto das ações humanas suscetíveis de ser [consagrados]. Em virtude do princípio mesmo da Reintegração Universal, todo ato deve ser inserido em um quadro visando precisamente este objetivo. Daí a benção dos frutos da terra, das colheitas, dos animais domésticos, dos ritos religiosos ou iniciáticos, a constituição dos sacramentários, etc...

Viu-se por esta exposição sucinta, que as Operações do Martinezismo (para usar o neologismo criado por Papus), são paralelas as cerimonias religiosas (1) por possuírem os mesmos objetivos.

1. Observa-se que a técnica da 'Via Interior' (trabalho com os Salmos penitenciais e o ofício do Espírito-Santo) é preliminar e concomitante em todo Martinismo Operativo. O estudo dos antigos documentos do Martinismo primitivo mostra que Dom Pasqually o impunha de maneira permanente à seus emules pertencentes à Via teúrgica.


Estas últimas comportam de outros Ritos que são raramente utilizados, infelizmente, pela falta dos poderes civis ou pela negligência das autoridades religiosas: bênçãos dos trabalhos de arte (barragens, pontes, monumentos), exorcismo contra os sismos, os desperdícios d'água, as inundações, as secas, etc...(2)


É a aplicação da palavra do apóstolo Paulo:
"Eu vos conjuro, pois, antes de tudo, que se façam pedidos, orações, súplicas e ações de graça, por todos os homens, pelos reis e todos os que detêm a autoridade, a fim de que levemos uma vida calma e serena..." (Paulo: Timóteo, II: 1-2).


A Antiga Aliança foi cumprida:
" Procurai a paz da cidade, para onde eu vos deportei; rogai por ela a Iahweh, porque a sua paz será a vossa paz..." ( Jeremias: XXIX, 7).
Eis, lá ainda, a verdadeira via rosacruziana. (3) 


2. O fato das autoridades civis, ligadas por um neutralismo de Estado, não apelarem às autoridades religiosas em tais circunstâncias, não ameniza em nada a responsabilidade dos mesmos. Quando a mãe do guarda da barragem de Malpasset se atirou no lago artificial criado por eles amaldiçoando a dita barragem, caberia as autoridades religiosas neutralizar esta maldição através de ritos apropriados. Mas estariam estas autoridades em condições de compreender que a alma da suicida, mergulhada em um vórtice de raiva e acrescentando, no ultimo, instante a potência de seu verbo, tornara-se ipso facto um demônio?...O segundo aniversário da barragem foi seguido de uma nova catástrofe !
3. Ver Ambelain: "La Magie Sacrée, ou Livre d'Abramelin le Mage", págs 11 a 35. Niclaus éditeurs.








 Li-Sol-30
Fontes:
http://www.hermanubis.com.br/LivrosVirtuais/LV002AlquimiaEspiritualEaViaInterior.htm
Pedro J. Pérez Pedro J. Pérez·126 vídeos

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