Em Salzburgo duas obras de infância de Mozart
A Fundação Internacional Mozarteum, sediada em Salzburgo, Áustria, apresentou neste domingo (02/08) duas peças apenas recentemente identificadas como de autoria do jovem Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791).
Trata-se de um prelúdio e do primeiro movimento de um concerto para piano, ambos em sol maior, e com um e cinco minutos de duração, respectivamente. O pianista Florian Birsak os executou no hammerflügel – um antepassado do piano de cauda moderno – do próprio Mozart, para uma audiência seleta, na antiga residência do compositor.
As obras já eram conhecidas, porém até pouco constavam como composições anônimas. Elas se encontram no fim do chamado Caderno de Nannerl, na grafia musical do pai de Mozart, Leopold.
Músico e compositor de profissão, e preceptor musical dos filhos, ele reunia aqui, desde 1759, peças e exercícios para os estudos de piano de Maria Anna ("Nannerl"), cinco anos mais velha do que Wolfgang. Além de exercícios, no Caderno de Nannerl estão anotadas as primeiras composições do pequeno Mozart.
Bildunterschrift: Facsímile do 'Prelúdio em sol maior'
Elo perdido
Desde logo excluíra-se a possibilidade de as peças em questão serem de Leopold Mozart. Segundo o diretor científico do Mozarteum, Ulrich Leisinger, apesar de muito virtuosístico, o movimento de concerto – Molto allegro – apresenta "uma discrepância notável entre altas exigências técnicas e uma falta de experiência composicional".
Após análise detalhada das peças e com base em critérios estilísticos, Leisinger e sua equipe chegaram à conclusão, "com probabilidade que beira a certeza", que o Molto allegro e o prelúdio em sol maior são obras de Wolfgang Amadeus. Não é possível determinar com precisão a data de composição, mas estima-se que o pequeno músico teria, na época, entre 7 e 8 anos.
Sobretudo o movimento de concerto é uma espécie de elo perdido entre as miniaturas de Wolfgang contidas no Caderno de Nannerl e as grandes formas musicais (sonata, sinfonia e concerto), a que começa a se dedicar no verão de 1763.
"Estudar até acertar"
Mozart começou a compor com apenas 5 anos de idade, e completou sua primeira sinfonia já em 1764-65, em Londres. Segundo uma anedota recolhida por Maria Anna Mozart (1751-1829), certo dia seu pai pegou Wolfgang ocupado com pena e tinta. Indagado sobre o que fazia, ele replicou: "Estou escrevendo um concerto para cravo".
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Leopold Johann Georg Mozart (1719-1787)
A notação musical era tosca e cheia de manchas, porém Leopold emocionou-se ao ver quão bem o filho trabalhara. Ao mesmo tempo, criticou o fato de a obra ser de execução tão difícil "que ninguém será capaz de tocá-la". O menino respondeu: "Por isso é um concerto, a pessoa precisa estudar bastante até acertar".
Não há indícios de que a peça citada na anedota seja o Molto allegro em sol maior. Contudo, segundo o pianista e professor da Universidade de Harvard Robert D. Levin, o movimento de concerto é a prova concreta de que "os pequenos Mozart dispunham de uma técnica pianística estupenda".
"O que o compositor impinge ao executante, com passagens ultravelozes, cruzamento de mãos e saltos gigantes, é um pouco maluco. Acho verossímil que o movimento seja obra do jovem Mozart, querendo mostrar tudo aquilo de que era capaz", comenta Levin.
Anotações a lápis na partitura levam os musicólogos a crer que o miniconcerto chegou a ser executado em público na época. Assim, o Mozarteum encarregou Robert D. Levin de preparar uma versão do Molto allegro com acompanhamento orquestral.
Para tal, ele se baseou na parte solista, simplificando o material melódico. O pianista e musicólogo já reconstruiu várias obras de Mozart a partir de fragmentos, entre as quais a Grande missa em dó menor, KV 427 e o Movimento para quinteto de clarinete em lá maior, KV 581a.
Sua versão do possível primeiro concerto mozartiano será apresentada no festival Mozartwoche 2010 de Salzburgo, em janeiro próximo.
Fonte: AV/dw/ots
Revisão: Alexandre Schossler
Revisão: Alexandre Schossler
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