3. A subjetividade como alternativa
Seja com materialismo dialético de Karl Marx (1818-1883) ou o idealismo de Friedrich Hegel (1870-1831), os filósofos modernos buscaram substituir o filosofar metafísico da Idade Média por um filosofar que redescobre a História.
Esta, por sua vez, é vista por estes pensadores modernos como uma construção ainda inacabada. Há, nesta lógica, algo a se fazer, algo a se mudar. Tanto Marx como Hegel, materialista e idealista, respectivamente, não perceberam, porém, que os seus pensamentos estavam sendo condicionados pelo “clima” propício da modernidade, onde tudo parecia novo e festivo.
Não pode haver, para Cioran,
sinal de lucidez na Filosofia,
pelo menos enquanto tradição.
Qualquer pessoa que tem um pensamento coerente com alguma academia deixa de sentir a verdade fisiológica. Quando se escreve um ensaio filosófico aprovado pela academia, o autor não põe no mesmo a verdade que habita no seu interior. Isto porque o pensamento sistemático é objetivado, enquanto que a lucidez se dá no maior grau de subjetividade:
Se minha dependência da fisiologia não fosse tão grande, nunca poderia ter tido que utilizar esta alegria aparente. (…) Conta Kierkegaard que, ao regressar a sua casa, depois de haver estado a rir a todo instante no salão, só tinha desejo de se suicidar. Crise existencial que é comprovado em muitas ocasiões (CIORAN, 1983, entrevista).
A poesia, em contrapartida, pode ser lúcida, segundo afirma Cioran em entrevistas. Se precisa, contudo, conhecer o grau de subjetividade do autor. Despido dos pecados da academia, um poeta que também não se preocupa com o lucro da sua obra pode não estar distante da real face do mundo.
A “vagabundagem”, a falta de compromisso que, vez por outra, fazem parte da conduta de poetas é sinal de lucidez. Não há, pois, lugar, estado, nação ou planeta que possa ser alvo de alguém que tem em si a revelação da realidade por meio da noite. A vigília nas ruas sujas e fétidas fazem do insone um ser que, mais que versos direcionados, recita, com gemidos, os poemas soturnos escritos no seu corpo pelo Ser:
A morte é um tema na história da filosofia, mas não como vivência íntima.
Em Baudelaire existe a morte, em Sartre não. Os filósofos têm-se esquivado da morte fazendo dela uma questão, ao invés de experimentá-la como algo existente. Não a consideram como algo absoluto, mas entre os poetas é diferente. Eles adentram profundamente o fenômeno, rastreando-o. Um poeta sem sentimento de morte não é um grande poeta. Parece exagerado, mas é assim (CIORAN, 1995, entrevista)[4].
( Só continuamos a viver
porque morremos todos os dias
- assim como o Sol )
O pensar filosófico só pode encontrar alguma relevância para Cioran se os sistemas forem abandonados. A instituição, a academia, objetiva. Por isso, é “má”. Objetivar, agir segundo normas, segundo tradições, é perder-se na ilusão. Da mesma forma, pensar que as tradições podem ser destruídas, ter utopias, são ações vãs. A História não muda. Tanto a passividade quanto o ativismo são erros. No entender do autor franco-romeno tem-se que “não ser” para que o Ser se lhe revele:
Quando Cristo assegurou que o ‘reino de Deus’ não era ‘aqui’ e nem ‘lá’, mas dentro de nós, condenava de antemão as construções utópicas para as quais todo o ‘reino’ é necessariamente exterior, sem nenhuma relação com nosso eu profundo ou com nossa salvação individual. Quanto mais as utopias nos tenham marcado, mais esperamos nossa libertação de fora, do curso das coisas ou da marcha das coletividades. Assim se delineou o sentido da história, cujo sucesso superou o do Progresso, sem acrescentar-lhe nada de novo (CIORAN, 1994, p. 112).
Por fim, mediante História e Utopia, Breviário de Decomposição e conhecimento de outras obras e entrevistas, pode-se concluir que Cioran apresenta ao mundo contemporâneo um filosofar “pré-histórico”.
Tal “filosofia” não se efetua na consciência,
senão no corpo e no espaço.
Ao abster-se de qualquer pensamento sistemático, sem, no entanto, desejar fazer parte de qualquer “tendência” literária, Cioran mostra que é na total negação, na plena abstinência da história, que a lucidez se revela.
Portanto, torna-se evidente a importância do autor franco-romeno para o leitor contemporâneo, pois as suas obras revelam onde os sistemas e as utopias do mundo pós-moderno conduzirão a humanidade. E não é para o Paraíso!
Vídeo: ATEUS.NET
Texto: CONSCIÊNCIA:.ORG
http://ateus.net/artigos/filosofia/o-mito-de-sisifo-ensaio-sobre-o-absurdo/
Sejam felizes todos os seres.Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
ABENÇOANDO SOMOS ABENÇOADOS
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