terça-feira, 16 de agosto de 2011

KEN WILBER - Teoria de Tudo (2000), Capítulo 6






Tradução de Ari Raynsford
  Theory of Everything (2000), Capítulo 6

 Uma síntese integral, para ser realmente integral, deve achar um caminho para mostrar que as principais visões de mundo são, basicamente, verdadeiras (embora parciais). Não é que os níveis mais elevados proporcionem visões mais acuradas e os níveis mais baixos, falsidades, superstições ou absurdos primitivos.
Devemos entender que mesmo a mágica “infantil” e os mitos de Papai Noel são verdadeiros. Porque essas visões de mundo são, simplesmente, a maneira como o mundo aparece naquele nível, ou naquela onda, 
1 e todas as ondas são ingredientes cruciais do Kosmos. 
2 No nível mítico, Papai Noel (ou Zeus, ou Apolo, ou astrologia) é uma realidade fenomenológica. Não leva a nada dizer-se: “bem, evoluímos além desse estágio e hoje sabemos que Papai Noel não é real”, porque se isso fosse verdadeiro – e todos os estágios se mostram primitivos e falsos à luz da evolução – então teríamos que admitir que nossas próprias visões, exatamente agora, também são falsas (uma vez que serão substituídas com a continuidade do processo evolutivo). 
Não é que haja somente um nível de realidade e que todas as outras visões sejam versões primitivas e incorretas deste nível. Cada uma dessas visões é correta num nível inferior, embora fundamentalmente importante, e não uma visão incorreta do único nível real. O conceito de desenvolvimento permite-nos reconhecer verdades em ninhos, não superstições primitivas.

1 O espectro da consciência é apresentado por Wilber em sua obra sob diversas formas equivalentes. Neste texto, talvez facilite considerar três níveis (ou ondas) gerais que englobam os níveis entre parênteses: pré-racional (arcaico, mágico e mítico), racional (persona, ego e centauro) e transracional (psíquico, sutil, causal e supremo ou não-dual), correspondendo, respectivamente, aos níveis pré-pessoais, pessoais e transpessoais. 
Na verdade, com esta divisão, por razões didáticas, estamos considerando a linha de desenvolvimento de visões de mundo para o pré-racional e a linha de desenvolvimento do eu para o racional e o transracional. (N.T.)

2 Wilber reapresenta esta palavra em seu livro Sex, Ecology, Spirituality com a seguinte observação: “Os Pitagóricos introduziram a palavra Kosmos que, normalmente, traduzimos como ‘cosmos’. Mas o significado original de Kosmos era a natureza de padrões ou de processos de todos os domínios da existência, da matéria para a matemática para o divino, e não simplesmente o universo físico, que é o significado usual das palavras ‘cosmos’ e ‘universo’ hoje… O Kosmos contém o cosmos (ou fisiosfera), bio (ou biosfera), noo (ou noosfera) e teo (teosfera ou domínio divino)…” (N.T.)

 Theory of Everything (2000), Nota 5 do Capítulo 6


Naturalmente, se visões de mundo de níveis mais baixos fizerem afirmações sobre níveis mais elevados, elas deverão ser testadas usando critérios dos níveis superiores. Por exemplo, se a astrologia faz afirmações empírico-racionais, então essas afirmações necessitam ser testadas por meios empírico-racionais; usualmente, quando esse teste é realizado, elas falham dramaticamente. Mas a astrologia é uma das numerosas visões de mundo válidas que estão disponíveis no nível de consciência mítico e cumpre o papel que é esperado dela nesse nível – prover significado, um sentido de conexão com o cosmos e um papel para o eu na vastidão do universo. Entretanto, não é uma ciência racional com capacidade de predição (daí falhar consistentemente nos testes empíricos).

Pela mesma razão, não precisamos dar muita atenção ao que a ciência tem a dizer sobre os níveis psíquico, sutil e causal.

Quando afirmo que “todos os níveis são corretos”, digo isso no sentido geral de que cada nível possui suas verdades essenciais que não só desvelam aquele nível, como também agem como importantes e necessários ingredientes dos níveis superiores (quando diferenciadas e integradas, ou transcendidas e incluídas). Do nível mítico queremos preservar a experiência de pertencer e a capacidade de integração numa comunidade. 
 Mas em cada nível de realidade há visões mais ou menos válidas, determinadas pelos critérios daquele nível. Por exemplo, a astrologia é parte do nível mítico e há bons e maus astrólogos. Embora nenhum deles tenha passado com sucesso em testes empírico-racionais, este não é o critério verdadeiro do nível mítico. 
O nível mítico, como todos os outros, tenta prover coerência, significado, conexão com o cosmos, preocupação com os demais seres e diretrizes pragmáticas. A versão mitológica disto (da qual a astrologia é um subconjunto) é um esquema interpretativo que provê significado, etos, mitos e sanção para o eu daquele nível. 
A mitologia e a astrologia falam naquele nível a todos nós, e quando estamos em contato com ele, provêem uma ligação maravilhosa com nossas raízes vitais. Bons astrólogos fazem isso de um modo válido e proveitoso, maus astrólogos, não (julgados de acordo com os critérios daquele nível). Obviamente, uma coisa é ligar-se àquele nível mais baixo, outra é permanecer lá (ou defendê-lo como se fosse o derradeiro nível de realidade). Aqueles que fazem absolutas afirmações sobre astrologia, quando elas não podem ser comprovadas, são de, algum modo, suspeitos.

Por outro lado, um cientista racional que despreza cada variedade de mitologia porque vem de um nível inferior (e não consegue passar em testes empírico-racionais) é, simplesmente, alguém fora de contato com suas raízes. Indivíduos integrais sentem-se confortáveis em todos os níveis de realidade que se manifestam neles e através deles, e podem falar as línguas desses níveis quando as várias situações o exigem. Como sempre, é somente a fixação exclusiva num nível que causa a maioria dos problemas.

 One Taste (1999), terça-feira, 29 de julho

  eventos terrestres.
O processo completo não é mecanicistamente causal, mas é mais um processo unificador que se desdobra holograficamente e de modo simultâneo em múltiplos níveis holônicos – daí permitindo a observação de correlações temporais.”

6 Holarquia é uma hierarquia de hólons (hierarquia natural de crescimento, diferentemente de uma hierarquia humana de poder). Hólons são totalidades num nível e partes num nível superior. Como exemplo, consideremos a holarquia do corpo humano: ele é formado por órgãos, que são formados por tecidos, que são formados por células, que são formadas por moléculas, que são formadas por átomos, que são formados por partículas subatômicas, que são formadas por quarks, e assim por diante.
  Uma das características básicas de uma holarquia é que cada nível superior transcende, mas inclui os níveis inferiores. Assim, uma holarquia sinaliza a direção da evolução: moléculas contêm átomos, porém átomos não contêm moléculas. (N.T.)


  Alma do Mundo 
ou Superhólon Kósmico 
ou super-hólon do nível psíquico 

 Discursão do Grupo Transconhecimento
Um pequeno trecho do livro 
UMA BREVE HISTÓRIA DO UNIVERSO,
de Ken Wilber.
 


P.Seguiremos o curso da evolução à medida que se desenvolve através dos
diferentes domínios, da matéria à vida, à mente. Chamamos estes grandes
domínios de matéria ou cosmos, vida ou biosfera, mente ou psique. Todos
esses domínios juntos são denominados de "Kosmos"?

KW: Sim, os pitagoristas criaram o termo "Kosmos", que geralmente
traduzimos por cosmos. Mas o significado original de Kosmos era a natureza
ou o processo padronizado de todos os domínios da existência, da matéria à
mente, a Deus, e não somente o universo físico, que é o significado atual
de "cosmos" e "universo".

Gostaria, então, de reintroduzir o termo Kosmos. E, conforme você
ressaltou, o Kosmos contém o cosmos (ou fisiosfera), o bios (ou biosfera), a
psique ou nóos (a noosfera) e o teos (ou teosfera ou domínio divino).
Então, por exemplo, devemos discutir onde, exatamente, a matéria se
transforma em vida - ou o cosmos se transforma em bios -, porém, como
Francisco Varela ressalta, a autocriação (ou auto-replicação) só ocorre nos
sistemas vitais. Ela não acontece em lugar algum do cosmos, somente no bios.
Trata-se de um emergente grande e intenso - algo surpreendentemente novo - e eu investigo vários desses tipos de transformações ou emergentes profundos, no curso da evolução no Kosmos.


Gustavo Gitti:
Quando Stephen Hawking fala em "universo",
ele se refere ao cosmos, à fisiosfera. Se olharmos
para o cosmos, veremos apenas matéria, átomos,
elétrons. Mas isso é apenas a parte mais grosseira
do Kosmos, que é também a biosfera e a noosfera
(aqui não só como domínios do nosso planeta, mas
como abrangendo o reino da matéria, da vida e da mente)

Abner:
E o teos (a teosfera ou domínio divino), conforme salienta Wilber.

Gustavo:
Se os físicos concluírem que o universo (cosmos)
tem um limite, isso não impede que o Universo
(Kosmos) seja ilimitado.

O Kosmos é causa em si, ilimitado e infinito.

1. "Por causa em si entendo aquilo cuja essência envolve a existência; ou,
por outras palavras, aquilo cuja natureza não pode ser concebida senão como
existente."


2. "Diz-se que uma coisa é finita 
no seu gênero quando pode ser limitada  
por outra da mesma natureza."

ÉTICA - Bento de Espinosa]

Um abraço,
Abner.

 EXISTE LIMITE NO UNIVERSO?
Para os que entendem do assunto [eu sou de outra área, portanto leigo em
assuntos de física e astronomia, embora goste de conhecer as teorias mais
modernas], transcrevo um pequeno trecho de uma entrevista de Stephen Hawking com a jornalista Renée Weber, publicada no livro DIÁLOGOS COM CIENTISTAS E SÁBIOS.


"Weber: - Por que o senhor se interessa tanto pelo universo primordial?
Hawking: - Penso que todas pessoas querem saber de onde vieram e como nasceu o universo.

Weber: - Uma vez que isso é completamente inferencial e deve cobrir uma
distância temporal tão grande, podemos confiar em nossas inferências?
Hawking: - É claro, podemos confiar mais em algumas coisas que em outras, mas acho que podemos acreditar que conhecemos a história do universo até o primeiro segundo depois da Grande Explosão. O que sucedeu antes disso é de natureza muito mais especulativa. Temos diversas idéias, todas erradas, talvez. Mas estou certo de que conhecemos a teoria quanto ao que aconteceu depois do primeiro segundo.

Weber: - Estou sobretudo interessada nesse primeiro segundo.
Hawking: - Sim, é a questão mais interessante. Mas, se soubéssemos o que
aconteceu nesse segundo, seria muito menos interessante, pois então saberíamos tudo. Resolveríamos todos os problemas, e isso seria muito enfadonho.

Weber: - Saberíamos a origem da matéria-prima que originou a Grande Explosão? A singularidade?
Hawking: - Podemos muito bem aceitar que não houve singularidade alguma. A matéria-prima não deve necessariamente provir de alguma parte. Campos
gravitacionais muito poderosos podem criar matéria.

Weber: - Mas isso seria reconhecer que já havia alguma coisa, os poderosos
campos gravitacionais que são a fonte da matéria.
Hawking: - Pode ser que realmente existam quantidades constantes no tempo, no universo. A quantidade de matéria não é constante, pois ela pode ser criada e destruída. Mas poderíamos dizer que a quantidade de energia é constante no universo, pois, para criar matéria, é necessário energia. Num sentido, a energia do universo é constante, uma constante de valor zero. À energia positiva da matéria corresponde exatamente a energia negativa do campo gravitacional.
Portanto, o universo pode começar com zero de energia e ainda assim criar a
matéria. Obviamente, ele começou em certa época. Pode-se perguntar: o que foi responsável por tudo isso?

Weber: - Sim. Afinal de contas, pensamos em termos de causalidade.
Hawking: - O universo não precisa necessariamente ter um começo. Pode ser que o tempo e o espaço, juntos, sejam como a superfície da terra, mas com duas dimensões a mais, desempenhando os graus de latitude o papel do tempo. Nesse sentido, pode-se dizer que a superfície da terra começa num único ponto no pólo norte, e, à medida que se desce em latitude, o círculo se amplia - o que corresponde à expansão do universo. No equador, tem-se o tamanho máximo - o que corresponde ao universo atingindo sua maior proporção.

Weber: - Por que é tão importante saber se existe ou não um limite para o
espaço-tempo?
Hawking: - Importa muito, pois, se houver um limite, algo acontece ali. E
então é preciso invocar Deus.

Weber: - O que se segue disso?
Hawking: - Seria, digamos assim, uma tautologia. Poder-se-ia definir Deus como o limite do universo, o agente responsável por tudo isso ter sido posto em movimento.

Weber: - Invoca-se Deus porque precisamos de um princípio explicativo para o
limite.
Hawking: - Sim. Para uma teoria completa, deveremos saber o que acontece no limite. De outra forma não resolveremos as equações.

Weber: - No sentido que o senhor atribui a Deus, Ele é sinônimo de leis do
universo, não necessariamente um ser moral.
Hawking: - A conexão com a moralidade é desnecessária.

Weber: - O senhor utiliza Deus como princípio lógico e causal.
Hawking: - Sim.

Weber: - Conforme suas palavras, se há um limite temos de invocar Deus. Acha que existem evidências para o limite.
Hawking: - No momento, não. Parece que podemos explicar o estado atual do
universo presumindo que não há limite algum."


Abner Brasil.
 Fontes:
EspaçoAstrológico
GrupoTransconhecimento
http://br.groups.yahoo.com/group/transconhecimento/message/626
http://espacoastrologico.wordpress.com/2011/07/17/ken-wilber-e-a-astrologia/
        Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres.

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