domingo, 17 de fevereiro de 2013

A PSICOLOGIA DE C G JUNG 1



Enviado por em 10/11/2010


"Nenhuma circunstância exterior substitui a experiência interna. 
E é só à luz dos acontecimentos internos que entendo a mim mesmo.
 São eles que constituem a singularidade de minha vida".
 (C.G.Jung)
Psicologia Junguiana
A busca de si mesmo


A “psicologia junguiana” 
tem como propósito “tornar o indivíduo si mesmo”.
A psicologia de Jung baseia-se em dois aspectos: 
a individuação (que é o próprio processo de tornar-se a si mesmo) 
e os tipos psicológicos
 (que é a maneira como o indivíduo apreende o mundo). 

A terapia analítica é baseada no equilíbrio entre os opostos. Há também na Psicologia Analítica o estudo dos sonhos e dos símbolos, como formas pelas quais se expressa o inconsciente.

 Outra ferramenta da Psicologia Analítica 
são os grandes temas culturais ou mitológicos universais.

JUNG-VERBETES

INCONSCIENTE

Como Freud, Jung usa o termo “inconsciente” tanto para descrever conteúdos mentais que são inacessíveis ao ego, como para delimitar um lugar psíquico com seu caráter, suas leis e funções próprias.


Jung não considerava o inconsciente exclusivamente como um repositório da experiência pessoal, reprimida e infantil, mas também como um lugar central da atividade psicológica que difere da experiência pessoal e era mais objetiva que ela, desde que se referia diretamente às bases filogenéticas, instintivas, da raça humana. 

O primeiro, o inconsciente pessoal,
  era visto como fundando-se no segundo, 
o inconsciente coletivo

Os conteúdos do inconsciente coletivo jamais estiveram na consciência e refletem processos arquetípicos (ver ARQUÉTIPO). Tanto quanto o inconsciente é um conceito psicológico, seus conteúdos, como um todo, são de natureza psicológica, não importa que conexão suas raízes possam ter com o instinto. Imagens, símbolos e fantasias podem ser designados como a linguagem do inconsciente (ver FANTASIA; IMAGEM; METÁFORA; SÍMBOLO). 

O inconsciente coletivo opera independentemente do EGO por causa de sua origem na estrutura herdada do CÉREBRO. Suas manifestações aparecem na CULTURA como motivos universais que possuem graus de atração próprio (ver NUMINOSO).


Foi apontado que essa distinção de Jung é um tanto acadêmica, pois os conteúdos do inconsciente coletivo exigem o envolvimento de elementos do inconsciente  pessoal para sua manifestação no comportamento; os dois tipos de inconscientes são, portanto, indivisíveis (Williams, 1963a). Por outro lado, o conceito do inconsciente coletivo pode ser usado na análise para discriminá-lo da experiência pessoal, e se avaliarem suas conexões não-pessoais (ver AMPLIFICAÇÃO; ASSOCIAÇÃO). O ego então pode se relacionar com estas de modo diferente (Hillman, 1975). O diálogo no âmbito da psicologia analítica se verifica entre uma perspectiva pessoal e a realidade de uma perspectiva não-pessoal (ver PSIQUE OBJETIVA).


Em termos de estrutura psíquica, concebem-se a anima ou o animus como ligando o ego com o inconsciente (ver ANIMA E ANIMUS; PSIQUE; PSICOPOMPO). A relação entre a consciência e o inconsciente é expressa usualmente por Jung em termos de COMPENSAÇÃO.


A REFLEXÃO sobre o inconsciente conduz a uma consideração da razão por que algumas partes se tornam conscientes e algumas não. A conclusão tentada por Jung era de que (a) o quantum de energia é variável e (b) a força do ego determina o que pode passar para a CONSCIÊNCIA. Com respeito ao ego, o fator crucial é sua capacidade de manter um diálogo e interagir com possibilidades reveladas pelo inconsciente. 

Se o ego é relativamente forte, ele permitirá a passagem seletiva de conteúdos inconscientes para a consciência (ver FUNÇÃO TRANSCENDENTE). Com o passar do tempo, tais conteúdos podem ser considerados intensificadores do desenvolvimento da personalidade de um modo único e individual (ver INDIVIDUAÇÃO; TRANSFORMAÇÃO).

 Pode-se verificar que existe uma diferença em ênfase entre Freud e Jung com relação ao inconsciente. A opinião de Jung é de que o inconsciente é, primariamente ou potencialmente, criativo, funcionando a serviço do indivíduo e da espécie. (Sobre uma discussão quanto aos pontos de vista de Freud sobre os aspectos filogenéticos do inconsciente, ver ARQUÉTIPO.)


Até aqui mencionou-se que o inconsciente tem seu lugar na estrutura psíquica, tem sua própria estrutura interna, sua linguagem e uma disposição geral da criatividade. Além disso, embora alguma decodificação possa ser necessária, Jung atribui ao inconsciente uma forma de  conhecimento, até de pensamento. Pode-se expressar esse fato na linguagem da filosofia dizendo-se que contém a “causa final” de uma tendência psicológica ou linha de desenvolvimento psicológico. Poderíamos julgar isso como a razão ou o propósito para alguma coisa acontecer, a “finalidade” para a qual acontece ou se realiza. Na consciência, uma causa final seria uma esperança, aspiração ou intenção. 

É difícil denominar as causas finais que operam no inconsciente, mas estas podem ser experimentadas pela pessoa como promovendo a expressão e o SIGNIFICADO de sua vida individual. Este aspecto do inconsciente encerra o chamado PONTO DE VISTA TELEOLÓGICO. Dever-se-ia observar que Jung não está nem dizendo que o inconsciente causa a ocorrência de coisas, nem que sua atuação e influência são necessariamente benéficas (ver SINCRONICIDADE).


Para uma discussão do pensamento inconsciente, ver PENSAMENTO DIRIGIDO E DE FANTASIA.


COLETIVO-

O  muitos em contraste com o um.

 A partir da distinção entre a CONSCIÊNCIA e o INCONSCIENTE, feita pelos precursores do movimento psicanalítico, Jung desenvolveu suas próprias teorias do inconsciente coletivo como o repositório da herança e possibilidades psíquicas do homem (ver ARQUÉTIPO). Via o coletivo como o oposto do individual, aquele do qual o indivíduo, também, se deve diferenciar e como um repositório de tudo aquilo que pode ter sido, em alguma ocasião, individualmente expresso, adaptado ou influenciado.


Quanto mais uma pessoa se torna ela própria, isto é, quanto mais se submete à INDIVIDUAÇÃO, mais distintamente irá variar sua conduta em relação a normas, padrões, preceitos, costumes e valores coletivos. Muito embora compartilhe do coletivo como um membro da SOCIEDADE e de uma CULTURA em particular, ela representa uma combinação única dos potenciais existentes no coletivo como um todo. Tal desenvolvimento e diferenciação eram vistos por Jung como instintivos e essenciais. Embora fundamentasse sua alegação empiricamente, sua posição o levou a adotar um PONTO DE VISTA TELEOLÓGICO com relação a este aspecto.


Quando o coletivo é considerado como um reservatório de possibilidades psíquicas, é uma força gigantesca capaz de fomentar delírios grandiosos e psicoses de massa. O oposto da individualidade era considerado por Jung uma IDENTIFICAÇÃO com o ideal coletivo, levando à INFLAÇÃO e, no extremo, à megalomania. Ele acreditava que o efetuador real de mudanças era o indivíduo, uma vez que a massa como um todo é incapaz de consciência.

A parte herdada da PSIQUE; padrões de estruturação do desempenho psicológico ligados ao INSTINTO; uma entidade hipotética irrepresentável em si mesma e evidente somente através de suas manifestações.


INDIVIDUAÇÃO

Uma pessoa tornar-se si mesma, inteira, indivisível e distinta de outras pessoas ou da psicologia coletiva (embora também em relação com estas).
Este é o conceito chave da contribuição de Jung para as teorias do desenvolvimento da personalidade. Como tal, está inextricavelmente entrelaçada com outros, sobretudo SELF, EGO e ARQUÉTIPO, como também com a síntese de elementos CONSCIENTES e INCONSCIENTES.

 Um modo simplificado de expressar o relacionamento dos conceitos mais importantes envolvidos seria: o ego está para a INTEGRAÇÃO (vista socialmente como ADAPTAÇÃO) como o self está para a individuação (auto-experiência e auto-realização). Enquanto a consciência aumenta com a análise das defesas (por exemplo, PROJEÇÃO da SOMBRA), o processo de individuação é uma CIRCUMAMBULAÇÃO do self como o centro da personalidade que, com isso, vai sendo unificada. Em outras palavras, a pessoa se torna consciente no que tange a ela ser tanto um ser humano único como, ao mesmo tempo, não mais que um homem ou uma mulher comum.

Devido a esse paradoxo inerente, as definições abundam, tanto por toda a obra de Jung como também nas dos “pós-junguianos” (Samuels, 1985a). O termo “individuação” foi adotado por Jung através do filósofo Schopenhauer, porém reporta-se a Gerard Dorn, um alquimista do século XVI. Ambos falam do principium individuationis. Jung aplicou o princípio à psicologia. 

Em Psychological Types, publicado em 1921, porém em composição desde 1913, encontramos a definição pela primeira vez publicada (CW 6, parágs. 757-762). Os atributos enfatizados são: (1) o objetivo do processo é o desenvolvimento da personalidade; (2) pressupõe e inclui relacionamentos COLETIVOS, isto é, não ocorre em um estado de isolamento; (3) a individuação envolve um grau de oposição a normas sociais que não têm uma validade absoluta: “Quanto mais a vida de um homem é moldada pela norma coletiva, maior é sua imoralidade individual” (ibid.). Ver MORALIDADE.

O aspecto unificador da individuação é enfatizado por sua etimologia. “Uso o termo ‘individuação’ para denotar o processo pelo qual uma pessoa se torna ‘in-dividual’, isto é, uma unidade indivisível ou um ‘todo’” (CW, parág. 490). Os fenômenos descritos por Jung em uma variedade de contextos estão sempre ligados a sua própria experiência pessoal, seu trabalho com pacientes e suas pesquisas, especialmente da ALQUIMIA e das mentes dos alquimistas.

 As definições ou descrições da individuação, portanto, variam de ênfase de acordo com a fonte da qual Jung estivesse mais próximo na ocasião.
Um livro mais recente (CW 8, parág. 432) refere-se à dificuldade que aparentemente persistia na distinção entre a integração e a individuação: 

“cada vez mais noto 
que o processo de individuação é confundido 
com o advento do ego à consciência 
e que o ego é, em conseqüência, identificado com o self
o que naturalmente produz um distúrbio incorrigível.

 A individuação 
fica sendo então apenas egocentrismo e auto-erotismo...
 A individuação não exclui do mundo, 
mas aproxima o mundo para o indivíduo”.

 É claro que é tão importante descrever quais são as manifestações da individuação, como dizer quais não são (as referências ao auto-erotismo, isto é, o NARCISISMO). Além disso, “individualismo significa enfatizar deliberadamente e dar proeminência a alguma suposta particularidade, mais que a considerações e obrigações coletivas. Porém, a individuação significa precisamente preenchimento melhor e mais completo de qualidades coletivas”(CW 7, parág. 267, grifo acrescentado). Ou então: “O objetivo da individuação é nada menos que despir o self dos falsos invólucros da PERSONA, por um lado, e do poder sugestivo de imagens primordiais, pelo outro” (CW 7, parág. 269). Ver ARQUÉTIPO.

Sabemos que Jung começou a pintar MANDALAS em torno de 1916, durante um período tempestuoso de sua vida, não muito tempo depois do rompimento com Freud. Um capítulo inteiro de CW 9i é chamado “A Study in the Process of Individuatione é baseado em um estudo de caso clínico em que as PINTURAS do paciente desempenhavam um papel proeminente. Não surpreende que, com a introversão de Jung e a ênfase daquele período inicial no material intrapsíquico, possa ter-se verificado a impressão de que a experiência do mundo psíquico  interno estava assumindo precedência sobre relacionamentos interpessoais durante o processo. Jung depois ilustra a individuação de Cristo em "Transformation Symbolism in the Mass (CW 11) e isto, junto com declarações no sentido de que a individuação não era para todo mundo, pode ter levado à noção de que se estava lidando com um conceito elitista.

Jung pode involuntariamente ter contribuído para esse equívoco afirmando que o processo é uma ocorrência relativamente rara. Muito embora o processo possa ser demonstrado com mais facilidade mediante escolha de exemplos dramáticos, freqüentemente ocorre em circunstâncias moderadas. A transformação que ocorre pode resultar tanto de um evento natural (por exemplo, nascimento ou morte) como, às vezes, de um processo técnico.

 O procedimento dialético da ANÁLISE oferece, em nossos dias e em nossa época, um exemplo proeminente do último tipo, no qual o analista já não se torna mais o agente, mas um participante amigo no processo. Nesse caso, o trabalho apropriado com a transferência pode ser de capital importância (ver ANALISTA E PACIENTE).

O perigo de um envolvimento intenso com o mundo e suas imagens fascinantes é que ele pode acarretar uma preocupação narcisista. Outro perigo seria considerar todas as manifestações, inclusive atividades anti-sociais e mesmo colapsos psicóticos, como resultados justificáveis de um processo de individuação. Desde que a transferência na análise desempenha um papel decisivo, há que acrescentar que a individuação é, na linguagem da alquimia, um trabalho contra a natureza (opus contra naturam). Quer dizer, o INCESTO ou libido de consangüinidade não pode obter concessões. Por outro lado, não deve ser desprezado, porque é a força de um impulso essencial.
No que concerne à metodologia, a individuação não pode ser induzida pelo analista nem, naturalmente, exigida. 

A análise simplesmente cria um ambiente de facilitação para o processo: a individuação não é o resultado de uma técnica correta. Contudo, significa que o analista deve ter mais que apenas intuições a respeito da individuação (e/ou da falta dela) a partir de sua experiência pessoal, a fim de ter uma mente aberta para o possível significado, para o paciente, de suas produções inconscientes que se estendem desde sintomas físicos até SONHOS, VISÕES ou pinturas (ver IMAGINAÇÃO ATIVA). Certamente se pode falar de uma psicopatologia da individuação, o que Jung claramente faz (por exemplo, ver CW 9i, parág. 290). Os perigos normais durante a individuação são a INFLAÇÃO (hipomania), de um lado, e a DEPRESSÃO, do outro. Colapsos esquizofrênicos também são conhecidos.

Jung refere-se a idéias psicóticas que, ao contrário de conteúdos neuróticos, não podem ser integradas (CW 9i, parág. 495). Mantêm-se inacessíveis e podem assoberbar o ego; sua natureza é instável. É concebível que o centro da personalidade (o self) seja expresso por idéias e imagens que, neste sentido, são “psicóticas”. A individuação é considerada uma questão inevitável e o analista pouco mais pode fazer que assistir com toda a paciência e simpatia que é capaz de reunir. O resultado, em todo caso, é incerto. A individuação não é senão um objetivo em potencial, cuja idealização é mais fácil que sua realização.

 Espiral-Vida

 Cristais de gelo


Mandalas e sonhos sugerem o simbolismo do self sempre onde aparecem em centro e um círculo (normalmente em um quadrado). E os símbolos do self, muitos dos quais estão registrados e ilustrados na obra de Jung, ocorrem sempre onde o processo de individuação “se torna o objeto de escrutínio consciente, ou onde, como na PSICOSE, o inconsciente coletivo povoa a mente consciente com figuras arquetípicas” (CW 16, parág. 474). 


 Lótus - Símbolo da alma humana

Meduza de macarrão -Vitor Muniz

Obra de Jung - Olhos (detalhe,Mosaico)
 Jung - BookRed
Olívea

Os símbolos do self às vezes são idênticos à deidade (tanto oriental como ocidental) e existem sobretons “religiosos” para alguns conteúdos psicóticos, embora a distinção possa ser útil. Em certo ponto, Jung respondia à questão feita a ele, replicando: “Individuação é a vida em Deus, como a psicologia da mandala mostra claramente” (CW 18, parág. 1.624, grifo acrescentado).

Análise e casamento são exemplos específicos de situações de natureza interpessoal que se prestam ao trabalho de individuação. Ambos requerem devotamento e são árduas jornadas. Alguns analistas consideramo o tipo psicológico de cada parceiro de importância capital (ver TIPOLOGIA). Sem dúvida existem outros relacionamentos interpessoais que, combinados com uma observação mais ou menos consciente de eventos intrafísicos, poderiam facilitar a individuação. O mais importante desenvolvimento teórico desde que Jung afirmou que a individuação fazia parte da segunda metade da vida foi a extensão do termo que passou a abranger também o começo da vida (Fordham, 1969).

Uma pergunta, sem resposta ainda, é saber se a integração deve, necessariamente, preceder a individuação. Obviamente, as chances são melhores para o ego que é forte (integrado) bastante para resistir à individuação quando esta irrompe subitamente, ao invés de se introduzir calmamente na personalidade. Grandes artistas, cuja auto-realização dificilmente pode ser posta em dúvida (por exemplo, Mozart, van Gogh, Gauguin), às vezes parecem ter preservado uma formação de caráter infantil e/ou traços psicóticos infantis. Eram individuados? Em termos de perfeição de seus talentos que se tornaram amalgamados com suas personalidades, a resposta é sim; em termos de completude e relacionamentos pessoais, provavelmente não.

Finalmente, há uma pergunta relativa à individuação que concerne a toda análise profunda, e à sociedade como um todo: fará alguma diferença para o resto da humanidade se um número infinitesimalmente pequeno empreende essa árdua jornada? Jung responde positivamente que o analista não está trabalhando somente para o paciente, mas também para o bem de sua própria alma, e acrescenta que “por pequena e invisível que possa ser a contribuição, ela, contudo, é um magnum opus* ... As questões decisivas da PSICOTERAPIA não são um assunto de interesse privado – representam uma responsabilidade maior ”(CW 16, parág. 449).

* a composição realizadora no processo alquímica: a obra [N. do T. ]




 Li-Sol-30
 Fonte:
http://www.rubedo.psc.br/dicjung/listaver.htm 


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