SELF (SI-MESMO)
Uma IMAGEM arquetípica do potencial mais pleno do homem e a unidade da personalidade como um todo. O self, como um princípio unificador dentro da psique humana, ocupa a posição central de autoridade com relação à vida psicológica e, portanto, do destino do indivíduo.
Às vezes Jung fala self como origem da vida psíquica;
outras vezes refere-se a sua realização como o objetivo. Sublinhava que era
um conceito e não uma formulação filosófica ou teológica, porém a semelhança de suas opiniões com uma hipótese religiosa precisaram
de uma elucidação. Não se pode considerar o conceito do self separadamente de sua semelhança com uma IMAGEM DE DEUS
e, conseqüentemente, a PSICOLOGIA
ANALÍTICA foi confrontada tanto por aqueles que saúdam
uma aceitação dela como um reconhecimento da natureza religiosa do homem,
como por outros, seja médicos, cientistas ou religiosos dogmáticos, que
consideram inaceitável uma tal formulação psicológica.
“O self não é somente o centro, escreve Jung, “mas
também a circunferência total que abrange tanto o consciente como o INCONSCIENTE;
é o centro dessa totalidade, como EGO
é centro da mente consciente” (CW
12, parág. 444). Na vida, o self
exige ser reconhecido, integrado, realizado; porém, não há esperança de
incorporar mais que um fragmento de uma totalidade tão vasta no limitado
âmbito da CONSCIÊNCIA
humana. Portanto, o relacionamento do ego com o self é um processo incessante.
O processo carrega consigo um
perigo de inflação, a não ser que o EGO
seja tão flexível quanto capaz de estabelecer fronteiras individuais e
conscientes (em oposição a arquetípicas e inconscientes). A interação
permanente entre o ego e self,
envolvendo um processo contínuo de referência ego-self, expressa-se na individualidade da vida de uma pessoa
(ver EIXO EGO-SELF;
INDIVIDUAÇÃO).
Para que o self não pareça ser inteiramente benigno, Jung enfatizava que
deveria ser comparado a um demônio, um poder determinante sem consciência; as
decisões éticas são relegadas ao homem (ver MORALIDADE).
Portanto,
com relação a intervenções do self,
que podem advir através de SONHOS, por exemplo, Jung advertia que uma
pessoa deve, tanto quanto possível, estar cônscia daquilo que ela decide e do
que faz. Depois, se responde positivamente, não está simplesmente submissa ao
ARQUÉTIPO
nem obedecendo a seu próprio capricho; ou, se se
desvia, fica consciente de que pode estar destruindo não apenas alguma coisa
de sua própria invenção, mas uma oportunidade de valor indeterminado.
O poder
de exercer tal discriminação
é a função da consciência.
Acompanhando Jung conceitualmente,
o self pode ser definido como uma
incitação arquetípica para coordenar, relativizar e intermediar a tensão dos OPOSTOS.
Por meio do self, é-se posto em
confronto com a polaridade de bem e MAL,
humano e divino (ver SOMBRA).
A interação exige um exercício da liberdade humana máxima perante
solicitações aparentemente incompatíveis da vida; o único, exclusivo e
decisivo árbitro é a descoberta do SIGNIFICADO.
A
capacidade de uma pessoa de integrar tal imagem sem mediação sacerdotal foi
questionada pelo clero, e teólogos criticaram a inclusão de elementos, tanto
positivos como negativos, na imagem de Deus. Porém, Jung defendia com firmeza
sua posição apontando que a ênfase cristã só sobre “o bem” havia deixado o
homem ocidental alienado e dividido dentro de si próprio.
Os símbolos do self muitas vezes possuem uma numinosidade
(ver NUMINOSO)
e conduzem um sentimento de necessidade que lhes dá uma prioridade
transcendente na vida psíquica. Portam a autoridade de uma imagem de Deus, e
Jung percebia que não havia dúvida de que as afirmações dos alquimistas sobre
o lapis, considerado
psicologicamente, descrevem o arquétipo do self (ver ALQUIMIA).
Muito embora alegasse haver observado intenção e propósito em manifestações
psíquicas do self, abstinha-se de
fazer qualquer afirmação com respeito à fonte última daquele propósito (ver RELIGIÃO).
A obra teórica de Jung sobre o self foi expandida e usada como
conceito de desenvolvimento (Fordham, 1969, 1976). Ver DESENVOLVIMENTO.
Um self primário ou original é
postulado como existente no começo da vida. Esse self primário contém todos os potenciais arquetípicos, inatos,
que podem receber expressão de uma pessoa. Em um meio ambiente apropriado,
esses potenciais iniciam um processo de deintegração
emergente do integrado inconsciente original. Buscam correspondências no
mundo externo. O acoplamento resultante de um potencial arquetípico de um
bebê ativo com as respostas reativas da mãe é então reintegrado para se tornar um objeto internalizado.
O processo deintegração/reintegração
continua por toda a vida.
Na tenra infância, o grau de
excitação criada pela deintegração requer prolongados períodos de sono
reintegrador. Gradativamente, os fragmentos do ego presentes nos deintegrados
combinam-se para formar o ego.
Diz-se que o self primário tem sua própria organização defensiva, que
funciona da forma mais marcante em situações em que, do ponto de vista do
bebê, houve uma falha ambiental. Tais defesas protegem o self, não só de um sentido de ataque e perseguição externos, mas
também do medo de implosão gerada por um nível incontrolável de raiva
correspondente uma expectativa não satisfeita, sendo que a privação é
experimentada como ataque.
Como as defesas do ego, as defesas
do self podem ser consideradas
normais, na opinião de Fordham. Porém, se persistem ou se tornam
superdeterminadas, desenvolve-se uma tendência para a onipotência que leva à
grandiosidade e rigidez; isto é, resultado em um distúrbio narcísico da
personalidade (ver NARCISISMO).
Podem, por outro lado, resultar em autismo. Em um outro caso, o indivíduo é
excluído das satisfações do relacionamento porque é a própria diversidade, a condição de outro, que
é sentida como persecutória.
Uma
segunda aplicação da tese de Jung ao desenvolvimento foi formulado
por Neumann (1973, escrita em 1959-60). Neumann vê a mãe como portadora da
imagem do self do bebê na PROJEÇÃO
inconsciente ou mesmo funcionando “como” o self do bebê. Uma vez que, na tenra infância, a criança não pode
experimentar as características de um self
adulto, a mãe reflete ou atua como “espelho” do self de seu filho. As primeiras experiências conscientes do self derivam de percepções dela e
interações com ela.
Ampliando a tese de Neumann, a gradativa separação do
bebê de sua mãe pode ser comparada à emergência do ego a partir do self, e a imagem que ele desenvolve de
seu relacionamento com sua mãe forma a base de sua subseqüente atitude com
relação ao self e ao INCONSCIENTE
em geral (ver GRANDE MÃE;
IMAGO).
Está claro que existe uma
diferença conceitual entre os psicólogos analíticos. Alguns tendem a definir
o self como o estado original de
integração do organismo. Outros o vêem como uma imagem de
um princípio unificador supra-ordenador. Ambos os grupos fazem uso das
freqüentes referências de Jung à personalidade individual como “emergente”
dos potenciais arquetípicos contidos no self.
A obra de Neumann representa uma abordagem imagística; a de Frodham fornece
um modelo.
(CW 9ii é dedicado à fenomenologia do self. Sobre uma comparação das opiniões de Frodham e Neumann, ver
Samuels, 1985a.).
Como escreveu Jung, embora “o ego esteja para o self como o movido para o movedor, ou como o objeto para o sujeito” (CW 11, parág. 391), ele também reconhece que dois grandes sistemas psíquicos necessitam um do outro. Isso porque, sem o poder analisador do EGO e sua capacidade de facilitar uma vida independente, separada da dependência infantil e de outras dependências, o SELF fica sem presença no mundo cotidiano. Com a ajuda do ego, as tendências do self para fomentar a vida em maior profundidade e em maior nível de integração tornam-se disponíveis para um homem ou uma mulher (cf. Edinger, 1972, cunhou a expressão “eixo ego-self”).
De um ponto de vista que
privilegie o desenvolvimento, um eixo ego-self
vigoroso e viável forma-se no indivíduo, em função da qualidade do relacionamento
entre a mãe e o bebê, com um equilíbrio entre união (estar junto) e
separação, entre a evolução e aprovação de habilidades específicas e
aceitação do bebê como um todo, entre exploração do mundo externo e
auto-reflexão. Porém o inverso também ocorre e algumas das dinâmicas
inerentes ao eixo do ego-self são
projetadas no relacionamento entre um bebê e sua mãe (ver DESENVOLVIMENTO;
TENRA
INFÂNCIA E INFÂNCIA).
EGO
Em seu mapa da PSIQUE, Jung encontrou dificuldade em distinguir o lugar do ego diferente do especificado por Freud. Percebeu-o como o centro da CONSCIÊNCIA, porém também sublinhou as limitações e a incompletude do ego como algo menor que a personalidade inteira. Embora o ego tenha a ver com assuntos tais como identidade pessoal, manutenção da personalidade, continuidade além do tempo, mediação entre campos conscientes e INCONSCIENTES, conhecimento e testes da realidade, também deve ser considerado como uma instância que responde às necessidades de uma outra que lhe é superior. Esta é o SELF, o princípio ordenador da personalidade inteira. A relação do self com o ego é comparada àquela do “que move com o que é movido”.
Inicialmente o ego está fundido
com o self, porém, depois, dele se
diferencia. Jung descreve uma interdependência dos dois: o self possui uma visão mais holista e
é, portanto, supremo, mas a função do ego é confrontar ou satisfazer às
exigências dessa supremacia. O confronto entre o ego e o self foi identificado por Jung como característico da segunda
metade da vida (ver EIXO
EGO-SELF; ESTÁGIOS DA VIDA).
O ego também é visto por Jung como
resultante do choque entre as limitações corporais da criança e a realidade
ambiente. A frustração ajuda a formar ilhotas de consciência que se juntam no
ego propriamente dito. Aqui, as idéias de Jung sobre a data da emergência do
ego refletem uma contínua tendência das idéias anteriores de Freud. O ego, assevera Jung, adquire sua plena existência durante o
terceiro ou quarto ano. Psicanalistas e psicólogos analíticos hoje concordam
em que um elemento de organização perceptiva está presente ao menos a partir
do nascimento e em que, antes do final do primeiro ano de vida, uma estrutura
de ego relativamente sofisticada se encontra atuando.
A tendência de Jung de equiparar o
ego à consciência torna difícil a conceitualização de aspectos inconscientes
da estrutura do ego, ou seja, das defesas. A consciência é a característica
distintiva do ego, porém isso é proporcional à inconsciência. De fato, quanto
maior for o grau de consciência do ego, maior a possibilidade de se sentir o
que não é conhecido. A tarefa do ego com relação à SOMBRA é reconhecê-la e
integrá-la, mais que dividi-la mediante a PROJEÇÃO.
Jung concebia a PSICOLOGIA
ANALÍTICA como uma relação a uma abordagem
super-racional e superconsciente que isola o homem de seu mundo natural,
inclusive sua própria natureza e, assim, limita-o. Por outro lado, insistia
em que os SONHOS
e as imagens de FANTASIA
não podem ser usados diretamente para intensificar a vida. São
uma espécie de matéria-prima, uma fonte de símbolos, que podem ser traduzidos
para a linguagem da consciência e integrados pelo ego.
Neste trabalho
a FUNÇÃO
TRANSCENDENTE estabelece os vínculos entre as oposições. O
papel do ego é discriminar os OPOSTOS,
resistir a suas tensões, permitir que se resolvam e, e finalmente, proteger
aquilo que emerge, que expandirá e intensificará o que antes eram os limites
do ego.
No que concerne à PSICOPATOLOGIA,
existe determinado número de perigos reconhecidos:
(1) De que o ego não venha a emergir de sua identidade primária como self, o que o tornará incapaz de satisfazer às exigências do mundo externo.
(2) De que o ego venha a ficar equiparado ao self, levando uma INFLAÇÃO da consciência. (3) De que o ego possa vir a assumir uma atitude rígida e extremada, abandonando como referencial o self e ignorando a possibilidade de transformação pela função transcendente.
(4) De que o ego possa vir a não ser capaz de se relacionar a um COMPLEXO em particular devido à tensão gerada. Isso acarreta a dissociação do complexo e sua dominação da vida do indivíduo.
(5) De que o ego poderá ser subjugado por um conteúdo interno oriundo do inconsciente.
(6) De que a FUNÇÃO INFERIOR poderá permanecer não integrada e não disponível para o ego, levando a um comportamento claramente inconsciente e um empobrecimento geral da personalidade (ver TIPOLOGIA).
Usado por Jung intercambiavelmente com a palavra alemã Seele*, que em inglês não tem um equivalente único, conforme observou o tradutor das Collected Works (CW 12, parág. 9n.).
Com sua definição básica da psique
como a “tonalidade de todos os processos psíquicos, conscientes como também
inconscientes” (CW 6, pra´g. 797),
Jung pretendia delinear a área de interesse da PSICOLOGIA ANALÍTICA. Seria
algo diferente da filosofia, biologia, teologia e de uma psicologia limitada
ao estudo ou do INSTINTO
ou do comportamento.
A natureza algo tautológica da definição enfatiza um
problema em particular da exploração psicológica: Jung faz freqüentes
referências à “equação pessoal”, o impacto que a personalidade e o contexto
do observador exercem sobre suas observações. Além da vinculação dos
processos consciente e inconsciente, Jung, de modo específico,
incluía na “psique” a superposição e tensão entre os elementos pessoais e COLETIVOS
no homem (ver INCONSCIENTE).
A psique também pode ser vista
como uma perspectiva sobre os fenômenos. Essa é, em primeiro lugar,
caracterizada por uma atenção à profundidade e intensidade e, daí, a
diferença entre uma experiência e um mero evento (ver PSICOLOGIA PROFUNDA).
Aqui a palavra “ALMA”
se torna relevante e é em conexão com tal perspectiva profunda que Jung a
usa, de preferência a uma maneira convencionalmente cristã (ANIMA
E ANIMUS). Depois, existe a questão da pluralidade e
fluidez da psique, a existência de componentes relativamente autônomos nela,
e sua tendência para funcionar por meio de imagens e rápidas transições
associativas (ver ASSOCIAÇÃO;
COMPLEXO;
IMAGEM;
METÁFORA;
PERSONIFICAÇÃO).
Finalmente, a psique pode ser considerada como uma perspectiva com exigências
de padrão e SIGNIFICADO,
não ao ponto de estabelecer uma predestinação fixa,
mas que nem por isso deixa de ser discernível pelo indivíduo.
Afirmar o pluralismo da pisque
leva a questões quanto a sua estrutura. A tendência de Jung em organizar seu
pensamento em termos OPOSTOS
levou-o a delinear a psique de um modo talvez congruente demais. Por exemplo,
ANIMA E ANIMUS
equilibram a PERSONA,
EGO e SOMBRA
são emparelhados e ego e SELF
definidos de modo que realçam sua complementaridade.
Por outro lado, o
pensamento de Jung sobre a psique também é sistêmico e flexível admitido que
desenvolvimentos em determinado ponto propagam-se pelo sistema inteiro. O que
vemos é uma tensão nas idéias de Jung entre estrutura e dinâmica. Até certo
ponto, isso se resolve na descrição, por Jung, da psique, em que sugere ser
esta uma estrutura feita para o movimento, crescimento, mudança e TRANSFORMAÇÃO.
Refere-se a estas capacidades da psique humana como suas características
distintivas. Portanto, um grau da evolução para a auto-realização está
implícito em todos os processos psíquicos. Esta idéia contém seu próprio
problema. Deve o homem ser visto desenvolvendo-se a partir de algum estado
inconsciente original de totalidade, realizando cada vez mais seu potencial?
Ou
movendo-se com maior ou menor regularidade em direção a um objetivo que, de
qualquer modo, é demarcado para ele – a “pessoa que haveria de pretender ser”
(ver PONTO DE
VISTA TELEOLÓGICO; TOTALIDADE)? Ou
atuando de maneira anárquica de crise em crise, lutando por se entender com
aquilo que lhe está ocorrendo? É simples dizer que todas as três
possibilidades estão misturadas. Porém, cada uma tem seu próprio impacto e contribuição psicológicos. A relevância dada a cada uma
desempenha um papel fundamental em debates sobre o self e a INDIVIDUAÇÃO.
A psique, como a maioria dos
sistemas naturais, tais como o corpo, luta para se manter em equilíbrio. Fará
isso, mesmo quando suscita sintomas desagradáveis, SONHOS assustadores ou problemas
da vida aparentemente insolúveis. Se o desenvolvimento de uma pessoa foi
unilateral, a psique contém em si todo o necessário para retificar essa
condição (ver COMPENSAÇÃO;
TENRA
INFÂNCIA E INFÂNCIA). Aqui devem ser evitados
otimismo excessivo ou fé cega; manter em equilíbrio exige trabalho, e
escolhas penosas ou difíceis muitas vezes têm de ser feitas (ver MORALIDADE;
SÍMBOLO;
FUNÇÃO
TRANSCENDENTE).
As especulações de Jung sobre a
natureza da psique levaram-no a considerá-la uma força no universo. O
psicológico assume seu lugar como um campo separado além das dimensões biológica
e espiritual da existência. Importante é o relacionamento entre estas
dimensões, que ganha existência na psique (ver REALIDADE PSÍQUICA; RELIGIÃO).
As idéias de Jung sobre o relacionamento da psique e corpo envolvem a psique
como baseada no CORPO,
derivada dele, análoga ou correlacionada com ele, mas como um parceiro dele
(ver INCONSCIENTE
PSICÓIDE). Um relacionamento semelhante é proposto com mundo
não-orgânico (ver SINCRONICIDADE).
A superposição conceitual entre a
psique e o self pode
ser resolvida da seguinte forma. Embora o self se refira à totalidade da
personalidade, como um conceito transcendente, ele também possui a capacidade
paradoxal de se relacionar com seus vários componentes, por exemplo, o ego
(ver EIXO EGO-SELF).
A psique abrange esses relacionamentos e pode-se mesmo dizer que é formada
desses dinamismos.
As constantes referências de Jung
à impossibilidade de se chegar a um conhecimento final da psique exemplificam
sua disposição de nela incluir aqueles fenômenos muitas vezes referidos como
parapsicológicos ou telepáticos.
* No uso coloquial do idioma
alemão esta palavra pode ser traduzida por “alma”, em oposição a “Korper” (“corpo físico”). Tem a acepção psicológica de
“mente”, também. [N. do T.]
Quando Jung escreve sobre o instinto de vida, está necessariamente falando também sobre o INSTINTO DE MORTE. Isto porque seu interesse estava no modo como forças progressivas e regressivas se misturam na PSIQUE. Por exemplo, símbolos e imagens de morte podem ser compreendidos em termos de sua significação e sentido para a vida, ao passo que experiências e solicitações de vida necessitam ser compreendidas em seus aspectos relacionados com a morte. A vida vista como uma preparação para a morte, a morte como integrante da vida, resume sua perspectiva (ver INDIVIDUAÇÃO; INICIAÇÃO; RENASCIMENTO).
O uso de Jung do termo “instinto
de vida” não é tão preciso quanto o de Freud. Enfatiza pouco a tensão entre
os instintos autopreservativos e a sexualidade. (O
“instinto de vida” de Jung lembra mais o “Eros” de Freud – isto é, uma
observação mais abrangente da tendência do homem de reunião, consolidação,
unidade e daí, progresso.). Entretanto, as referências de Jung ao instinto de
vida relacionam-se mais com uma ENERGIA
geral de vida, um élan vital ou
animação. Contudo, isso provoca um problema conceitual; pois, se a energia é equiparada ao instinto de vida, mas ao
mesmo tempo alimenta o instinto de
morte, então a conclusão teria de ser que o instinto de vida é que abastece o
instinto de morte.
O dualismo seria substituído por um modelo em que o
instinto de vida é primário. Para evitar isso, Jung normalmente retornava à
idéia da energia como neutra, servindo indiferentemente aos instintos de vida
e de morte – e ambos os instintos então são vistos servindo à psique e/ ou ao
homem (ver EROS).
A iniciação ocorre quando se ousa agir contra instintos naturais e o indivíduo se permite ser induzido em direção à CONSCIÊNCIA. Desde tempos imemoriais, os ritos de iniciação têm sido transmitidos preparando e fazendo paralelismo com as transições significativas da vida que envolvem tanto o corpo como o espírito; como, por exemplo, na puberdade (ver RITUAL).
A complexidade de tais cerimônias sugere a amplitude e profundidade do continente ritual necessário quando a ENERGIA psíquica precisa ser desviada de um hábito adquirido para uma atividade nova e inabitual.
O que ocorre para o iniciado
é uma mudança ontológica,
mais tarde refletida
em uma mudança
reconhecida também em um status
externo.
Ademais, usando a puberdade como exemplo, um menino se torna um
homem, assume responsabilidade e se afasta da casa de seu pai. De um modo
significativo, o indivíduo é iniciado não no conhecimento, mas no mistério, e
o “conhecimento” assim adquirido pode ser designado
de gnose.
Todas as iniciações envolvem a
morte de uma condição menos adequada e o RENASCIMENTO de uma
condição renovada e mais adequada (isto é, TRANSFORMAÇÃO); daí os
rituais são tão misteriosos como aterradores, pois o indivíduo é levado
frente a frente com a numinosidade da IMAGEM DE DEUS ou do SELF,
sendo compelido pelo INCONSCIENTE
em direção à CONSCIÊNCIA
(ver NUMINOSO).
Relaciona-se ao SACRIFÍCIO
e é esse sacrifício, mais que quaisquer tormentos ou torturas, o que produz o
sofrimento. Portanto, os ritos antecipam um estado liminar ou transitório,
correspondente à perda temporária do EGO.
Em virtude disso, o iniciado precisa estar acompanhado por alguém, sacerdote
ou mentor, uma PERSONALIDADE
MANA, capaz de
assumir a TRANSFERÊNCIA projetada daquilo em que o
iniciado irá se tornar, embora, de início, o conteúdo da projeção possa
tornar a forma de alguém que está impedindo aquele mesmo iniciado de se
transformar. O relacionamento entre os dois, iniciado e iniciador, é
simbólico. Durante o processo iniciatório realiza-se uma combinação de OPOSTOS,
uma CONIUNCTIO
envolvendo espírito e matéria.
A iniciação é de fundamental
importância na vida psicológica, e todas as cerimônias externas adaptam-se a
um padrão psicológico inato de mudança e crescimento. O rito ou a cerimônia
simplesmente salvaguarda a pessoa ou a sociedade contra a desintegração
enquanto uma profunda e penetrante mudança se realiza.
Portanto, não é surpreendente o que escreve Jung:
A
transformação do inconsciente que ocorre sob a ANÁLISE a torna um análogo natural
das cerimônias religiosas de iniciação, que, entretanto, em princípio,
diferem do processo natural no fato de que antecipam o curso natural do
desenvolvimento e substituem a produção espontânea de símbolos por um
conjunto de símbolos deliberadamente selecionados, prescritos pela tradição (CW 11, parág. 854).
Também não surpreende quando ele
alega que “o único ‘processo de iniciação’ que ainda está vivo e é hoje
praticado no Ocidente é a análise do inconsciente, usado
pelos médicos para fins terapêuticos” (CW 11, parág. 842). Ver PSICOTERAPIA.
A iniciação era uma poderosa
imagem para muitos da primeira geração de psicólogos analíticos e, talvez por
causa disso, a dicotomia entre abordagens psicológicas e dogmáticas se
tornava aparente. Gradativamente, uma confiança na iniciação como um processo imprevisível e imprevisto indicado pelo inconsciente
deu margem ao delineamento de estágios da ANÁLISE, a esboço de fases no
processo da INDIVIDUAÇÃO,
e além disso, a determinação de níveis no treinamento de analistas (ver PSICOLOGIA ANALÍTICA).
Após a morte de Jung, Eliade, antropólogo e especialista em religiões
comparada, que era um amigo íntimo e antigo colaborador, contínuou
trabalhando nos paralelismos entre a psicologia, a antropologia e a religião
comparada (1968). Jung havia chamado a atenção para o fato de que a iniciação
está ligada ao PROCESSO
DE CURA; isto é, quando uma orientação psicológica
ultrapassa sua vida útil, mas não lhe é permitido transformar-se, putrefaz-se
e infecta todo o organismo psíquico. Escreveram sobre a iniciação e sua
função puramente psicológica: Henderson (1967), Micklem (1980) e Kirsch (1982).
RENASCIMENTO
"Nós não nascemos com um pecado original.Nós nascemos com um pecado nos originais.Os nossos originais têm defeito de fábrica!"Concordo até aí, mas como somos similares ao Universo em expansão somos/nascemos e estamos imperfeitos e aí é que está a graça da vida da semente que vai na batalha rompendo escuridões pra se compor e ser :NÓS! Nós da infinita rede ,primeiro uma humanidade consciente,depois, LUZEIROS deste maravilhoso Sistema chamado de Vida. SEMENTES DIVINAS plantadas na Terra SOMOS !!!
(Ade.)
Li-Sol-30
Fontes
http://www.rubedo.psc.br/dicjung/verbetes/renasci.htm
Sejam felizes todos os seres.Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
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