Escrito por José Laércio do Egito | |||
“A COISA MAIS DIFÍCIL PARA O HOMEM É O CONHECIMENTO DE SI PRÓPRIO.” PROVÉRBIO ÁRABENa palestra anterior vimos que na individuação se dá o início da estruturação do “ego” mas, por certo, é na fase de personalização que esse processo se intensifica acentuadamente. A partir do momento que o Ser não mais de dá conta de que é uma só, de que ela representa um “eu” dentre muitos outros, então surge o impulso de autoproteção dessa individualidade. A perda da capacidade de do ser se sentir parte da unicidade motiva-o a se proteger, a se encastelar como “eu” dando assim surgimento ao “ego”. O “ego” basicamente um estado mental que pode ser caracterizado como o “Eu único fracionado”. O fracionamento é a única forma possível de existir na Imanência. que é regida por certos princípios, chamados de Princípios Herméticos, sendo um deles o da descontinuidade.Não tem sentido o mundo sem partes separadas, mesmo que isto seja em nível relativo. Sem fracionamento não existiriam coisas e nem individualidades distintas. Tudo que existe como parte integrante do mundo imanente se apresenta fragmentariamente, até mesmo a consciência Una. Na verdade esta não se fragmenta, embora se nos pareça que sim. Isto acontece porque ela não pode se manifestar sozinha, para isto ela requer um suporte. Os suportes, em que a consciência se faz sentir, são as coisas que resultam da fragmentação parcial do Uno[1]. A consciência cria as coisas como Prakriti e então ela neles se manifesta. Se não houvesse as coisas como a consciência poderia se fazer presente? A Consciência sempre se manifesta em algo, desde uma simples partícula a uma galáxia ou algo mais. O que muda é a forma de manifestação, é natural que o modo de manifestação em um inseto é diferente da que se manifesta em um ser humano, em um planeta e assim por diante. A consciência é a mesma, porém o meio de expressão é que muda, mesmo assim a origem dos meios de expressão está na consciência em nível transcendente. ( Fig. 1 Tema 1279) A Consciência se manifesta em todas as coisas que existem, entre elas nos chamados seres vivos em gera,l e no ser humano em particular. Expressa no ser humano, a Consciência limitada, não podendo se dar conta de que é ilimitada e transcendental, procura reforçar sua suposta posição, procura reforçar os elementos de Prakriti em que se manifesta. Ela desenvolve o conceito de uma existência separada, percebe Prakriti como “os outros” diferentes de si, como as “outras coisas”, como algo independente de si mesma, quando na verdade isto é uma ilusão, uma peça pregada pela mente limitada, desde que tanto Prakriti quanto Purucha são uma coisa só, ou seja, forma de expressão da Consciência Transcendental. Para a consciência se manifestar como pessoa ela tem que assumir uma forma física, geralmente densa. Em essência a alma é Puruska - consciência limitada - que, para se expressar no mundo denso utiliza-se de uma forma física adequada constituída pelos elementos de Prakriti estruturados como corpo. Sendo este algo limitado, naturalmente a consciência só pode se apresentar também limitadamente, segundo a capacidade e eficiência desse corpo. Na Transcendência aquilo que era Uno e Ilimitado, na Imanência tende a se sentir limitado e só, então ele busca criar uma estrutura, não apenas física, mas, em especial, psicológica. A mente pouco clara tende a associar a idéia de que ela e o corpo físico são uma mesma unidade; de ser uma estrutura dotada de atributos mentais como razão, inteligência, sentimentos, memória, etc. Não se apercebe de que tudo isto não é diretamente um atributo do corpo - Prakriti - e sim da própria consciência - Purucha. Não vê que o corpo é apenas o cenário em que a consciência se dá a conhecer - Manifestação de Purucha em Prakriti. Esta é a causa primeira da insegurança existencial, ou como refere a Doutrina da Homeopatia, a Psora Latente, causa potencial de todos as doenças. Na aceitação de que é algo separado, um “eu” independente dos demais “eus” a mente cria conceitos de ameaças, pois se considera vulnerável e como tal tem que defender a sua integridade. A fim de se sentir segura a mente vai estruturando um halo defensivo contra um mundo que a ameaça e vai ampliando essa estrutura formando assim o ego. No inicio antes da creação era consciência pura ilimitada, com a criação da imanência se torna consciência limitada. Toda complicação existencial começa a partir do momento em que o espírito erroneamente se dá conta da existência de um “eu” separado, exatamente quando surge ilusão do “eu individualizado”. Isto na linguagem da filosofia místico-religiosa equivale ao estabelecimento da alma, do espírito humano. Nas circunstâncias descritas, o ser humano, como expressão limitada de consciência, busca proteger a idéia da individualidade criada por ela mesma. Desenvolve então todo um sistema de reforço para a proteção dessa individualidade, para a conservação da integridade do “eu”. Por meio de inúmeros artifícios ela constrói um sistema protetor que vai constituir aquilo que se chama de “ego”. A partir desta etapa o ser já deixou de se sentir Um e passou a se sentir como um “eu” diferente do “ele”, ignorando que o “ele” é o próprio “eu” ilusoriamente fragmentado. Daí o ser se torna uma entidade individual e passa a experimentar o mundo sob a forma dualista, em vez de experimentá-lo como a real forma Unista. Baseado nesse erro essencial, com o passar do tempo, vai sendo criando uma estrutura cada vez mais densa, com múltiplos aspectos, que é o “ego”. A mente limitada, então, cria inúmeras formas, assume posições, elabora coisas, se apossa de coisas, etc. tudo isto visando à proteção do “ego”. A psicologia enumera uma série de mecanismos de proteção do ego, de fórmulas através dos quais a pessoa pode ampliar a autoconfiança, mas o faz através do reforço desses mecanismos apenas. Assim, amplia a descontinuidade, aumenta a separação, relega a verdadeira natureza do ser a um plano de inexistência, não importando com a problemática dos demais. O que importa é que a pessoa se sinta bem independente dos demais. Trata-se de um sistema altamente egóico, pois o que importa é a “parte”, a pessoa, que ela própria acredita existir como entidade separada da Natureza Única. Isto não é muito diferente do que estabelecem as religiões. Elas também agem protegendo a integridade do “eu” através do “ego”, mas de um modo diferente daquele instituído pela psicologia, pois consideram o “outro”, mas acrescentando um componente que chamam de altruísmo. Como disse Jesus “Amai ao teu próximo” essa expressão tem uma conotação plenamente dualista, diferindo da segunda parte que diz “como a ti mesmo” cuja conotação é unista. Mesmo considerando o altruísmo, as religiões pregam o dualismo, pregam a separação, afastando a pessoa da Realidade Única, tirando-a do caminho da libertação e orientando-a para o alvo da acomodação. Grande fonte de sofrimentos é a insegurança existencial, o sentir-se um “eu” desprotegido, vulnerável por todos dos lados. Isto faz com que o ser de muitos modos tente proteger a pseudo-idéia do “eu” individual, fortificando o quanto pode as qualidades que caracterizam o “ego”. O sentir o “eu” desprotegido gera a grande ansiedade existencial que é a causa da grande confusão vivenciada pelos seres humanos. Na tentativa de minorar tal situação a pessoa tenta se defender através de mecanismos psicológicos diversos que serão estudados nas próximas palestras. [1] Na verdade nem mesmo esse suporte é fragmentário, pois o Universo é Uno.
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Fonte:
José Laércio do Egito
http://www.laerciodoegito.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=410:a-estruturacao-do-ego&catid=35:ego&Itemid=100
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TEMA 1.283
Sáb, 13 de Fevereiro de 2010 17:04
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