“UMA LONGA VIAGEM SEMPRE
COMEÇA COM UM PASSO”
PROVÉRBIO CHINÊS
Na palestra precedente vimos que a Mente Cósmica isola um tanto de Si constituindo-se assim a mente individual, e depois a “personal”.
Quando a Mente Ilimitada e única se vivencia como um ser independente este se sente sozinho, isolado do Todo, limitado, e conseqüentemente paira sobre Si um estado de insegurança. Esse estado gera angústia conhecida pelo nome de “angustia existencial”, aquele estado é semelhante ao de Adão que perdeu o Paraíso.
A consciência deixa de ser clara e ilimitada para ser limitada e opaca. A Consciência Cósmica ao se limitar Ela deixa de se sentir como um Todo, e passa a se sentir como parte, considera-se um “eu” e ilusoriamente aceitando a existência de outros “eus”.
Sentindo-se fazer parte de um mundo em que ele acredita existir e onde ele é apenas um “eu” entre muitos outros “eus” é natural que ocorra a manifestação de um estado de “insegurança existencial” ante o que ele sente a necessidade de estabelecer mecanismos de defesa para a conservação da integridade do “eu”.
Esta fase que descrevemos corresponde exatamente à da Manifestação da Primeira Luz. Vamos voltar a uma analogia que fizemos em algumas palestras anteriores em que comparamos o Mundo Imanente com um videogame. Então, podemos dizer que ao serem escolhidas as cenas para compor o jogo que vivenciamos (que pode até ser denominado de “A História do Mundo Imanente”), a Consciência Ilimitada se limitou, e assim a “Luz Infinita” se manifestou limitadamente como “Primeira Luz” que se polarizou, formando-se, uma Trindade (Trimûrti).
No mencionado estágio, a Consciência Cósmica limitou-se em todos os sentidos presentes neste mundo (jogo escolhido) e tudo se polarizou. Na Primeira manifestação estava contido o potencial de tudo quanto há, mas já de forma limitada e apta a se polarizar. Todos os elementos constitutivos presentes na Primeira Luz se polarizaram. Assim se pode dizer que A primeira Luz se manifestou de forma trina.
Segurança e insegurança existencial são condições opostas da polarização. A segurança existencial constitui um dos pólos e a insegurança o oposto. Tudo só se manifesta pelos opostos (polaridade) e assim sendo podemos dizer a “segurança” como tal, se manifesta num pólo e como “insegurança” no pólo oposto.
Ao se manifestar, a “Consciência” o faz limitadamente, mas isto não indica que parte da Sua natureza fique na Transcendência. Na verdade todo o seu potencial na Transcendência permanece na Imanência apenas manifestando-se de forma limitada.
Se a certeza de algo é um dos pólos, a incerteza é o pólo oposto. A certeza da segurança constitui um dos pólos a incerteza, o outro. Resumindo: Num pólo a segurança existencial e no outro a insegurança existencial.
Todas as expressões existentes no mundo são oriundas de Binah (fig.1) como já foi estudado em diversas palestras. O “raio criador”, também chamado de “relâmpago” pelos cabalistas, tem origem a partir de Binah, ou seja, do pólo “negativo”.
Como tudo se manifesta pela polarização, então a consciência limitada pela creação sempre se defronta com a dualidade do ser e do não ser algo possível. Assim ao nível de Kether ele tem os potenciais do “se sentir seguro” e do não se sentir seguro; num pólo é uma coisa e no outro o oposto. As polaridades podem ser chamadas de polaridade do “ser” (positiva) e do não ser (negativa).
Figura 1
Como todos dos desdobramentos da natureza partem da polaridade chamada de negativa, conforme já estudamos em diversas palestras, e que na “Árvore da Vida” está representada pela projeção do “Raio Criador”, ou como a Cabala o “Relâmpago”. Vide fig. 2
Figura 2
Pela “Árvore da Vida” desde a Tríade Superior em Binah ela já está diante do dilema do “ser uma” e do “ser parte de uma multiplicidade”. Mas, em nível de Binah ela já vivencia intensamente a dualidade da imanência. Um pólo é a certeza do uno e o outro a incerteza; num pólo a certeza da existência do “eu” único, e no outro a ilusão dos múltiplos “eus”. Podemos dizer então haver a desobediência da consciência em nível de Binah optar por aceitar a dualidade como verdade e aceitar a ilusão da dualidade (multiplicidade). A partir daí tudo o que derivar de Binah será baseado na ilusão e não na realidade, a começar com a própria existência do “eu” e dos “outros”. Surge assim a ilusão da multiplicidade do “eu” e de tudo o que estrutura a creação.
Ao sair do estado de unicidade a consciência se limita, se dualiza (pluraliza) e isto significa a individualização. Vemos que esta condição gerou um mundo totalmente ilusório, mas que a Mente limitada tem como verdadeira. Vemos assim que toda a creação se tornou uma ilusão, um erro de avaliação por parte da Mente limitada. Surgiu a ilusão do dualismo. Antes só existia “um” conceito real, depois ocorre a aceitação do “muitos” (conceito ilusório).
Uma das primeiras conseqüências disso é que o ser (espírito) deixa de se sentir “um só” - abandono da unicidade - para se sentir um no meio de muitos - dualidade. Esta condição é exatamente o que caracteriza o ser como individualidade. No sentido do desenvolvimento espiritual é o ponto de origem da “individualização” que, numa etapa posterior, vai assumir o estado de “personalização”.
Na escala humana, há uma primeira fase em que ocorre a individualização quando então ocorre a ilusão de um “eu” separado dos “outros”, embora que esse “eu” ainda esteja pouco elaborado como individualidade. Um animal placentário, por exemplo, sente que há o “ele” e há o “outro”, mas não apresenta as características da constituição de uma pessoa, pois ainda lhe falta a ilusão da auto-imagem, ou seja, a elaboração do “ego”. Na verdade já existe nele a angustia existencial que é expressa pelo instinto de conservação da espécie, da defesa, da competição, mas tudo isto apenas como instinto e não como racionalidade.
Estabelecido a individualização surge a “angustia existencial”, o “medo” de passar da condição de “ser” para a de “não ser”, mas já de uma forma diferente, já não se tratando apenas de um instinto, mas sim de um estado de racionalidade em que há uma intenção declarada, um propósito. A consciência se dá conta de que algo tem que ser feito ante as distintas situações vivenciais afim de que o “eu”, a individualidade, seja preservada.
Eis o primeiro esboço do “ego” é a consciência de si mesmo com a necessidade de autopreservação.
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Fonte:
José Laércio do Egito
http://www.laerciodoegito.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=409:a-individuacao&catid=35:ego&Itemid=100
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TEMA 1.282
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