domingo, 31 de julho de 2011

A OBRA DE TEILHARD DE CHARDIN


A obra de Teilhard de Chardin

Por Ana Lúcia Santana


O jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês Pierre de Teilhard de Chardin  nasceu na comuna de Orcines, no dia 1 de maio de 1881.

  Ele tentou, em sua época, realizar um feito então quase impossível, e até hoje difícil de se concretizar, conciliar as visões científica e teológica por meio de suas publicações.
 Pierre Teilhard de Chardin

Este empreendimento, porém, custou-lhe incompreensão e intolerância de ambas as partes, pois nem a ciência via com bons olhos seus escritos, acusando-o de defender um ponto de vista místico, assim como a instituição católica o discriminava, impedindo-o de dar aulas e de lançar seus trabalhos teológicos.

Chardin constituiu sua espiritualidade a partir dos ensinamentos de Inácio de Loyola na ordem que escolheu para seguir o sacerdócio, e esta escolha marcaria essencialmente sua forma de interagir com a era moderna. Mas o núcleo de sua teologia seria definido por seu encontro com a mística desenvolvida por Paulo de Tarso, estruturada em torno do ‘ser em Cristo’ e do Messias cósmico. Através deste discurso pauliniano ele constrói seu próprio mistério cristão.
A árdua trilha percorrida por Teilhard
passa necessariamente por essas referências teológicas;
somente com este instrumental ele pode enfrentar
o inóspito território pós-moderno
em sua procura de Deus.

Sua formação científica no campo da geopaleontologia lhe fornecia as bases fundamentais para a compreensão do desenvolvimento planetário e da humanidade.

Por outro lado, sua vivência religiosa lhe propiciava a clara ciência de que é imprescindível a construção de uma espécie de metacristianismo, pois esta esfera cumpriria seu papel nos esforços para a preservação do Planeta e do ser humano.

Ele via a evolução como um processo que se desenrola desde o estágio caótico do Universo até a emersão da consciência humana no Globo terrestre, a qual precede o momento da Noogênese, quando todos os pensamentos irradiados por uma mente humana desenvolvida constituirão uma tessitura inteligente única. Neste momento um estrato a mais envolverá o Planeta, a Noosfera.
Para Teilhard, um fio condutor interior
à matéria conduz este mecanismo evolutivo
rumo a um centro de convergência:
o Ponto Ômega.

Neste sentido, pode-se dizer que seu pensamento é panenteísta, já que ele crê em todo o Cosmos abrigado em Deus, mas a divindade transcende tudo que engloba, sem, porém, se despojar do sentido de unidade. Esta concepção difere, em alguns pontos, do Panteísmo, filosofia segundo a qual o Criador e o Universo se ajustam completamente.

A teoria de Teilhard é elaborada justamente sobre o ponto em que se cruzam o ancestral cosmologismo e a concepção contemporânea de fenômeno. Ou seja, o Universo de Galileu se desnuda diante de todos que desejam desvendar seus códigos, mas isso não é possível sem a contribuição do pensamento científico da modernidade, o qual passa necessariamente pelo âmbito empírico, instrumento essencial para se decifrar a Natureza.
Assim, lado a lado vê-se o mundo
enquanto evento fenomênico e a Ciência
como chave do entendimento deste universo.

O eco de Teilhard de Chardin        

Jacques Chirac

                    Cientista político e Presidente da França

Nos ocupa, nesta data, a lembrança de Pierre Teilhard de Chardin. Em 10 de Abril se cumpre meio século de sua morte. Um homem que, inspirado pela sua fé e apoiado na sua experiência de homem de ciência, percebeu as urgentes necessidades de nosso tempo e lutou a favor de um determinado movimento solidário no mundo. Cinqüenta anos depois, a obra de Pierre Teilhard de Chardin encontra um eco singular.

Ele esteve entre os primeiros a chamar a atenção da Humanidade contra – de acordo com a sua própria expressão – o perigo de “submeter o Planeta à pilhagem”; a entrever a exigência do desenvolvimento sustentável, que estava já presente na sua obra, enquanto os homens ainda tomavam consciência dos limites físicos, materiais e ecológicos de nosso Planeta. De face ao aquecimento do clima, à erosão da biodiversidade, entendemos hoje que a nossa riqueza, o nosso crescimento, podem ser os nossos maiores inimigos.
Que os apetites da modernidade
hipotecam o porvir

Que os desequilíbrios gerados pelas nossas ações, pela superexploração da natureza, pela busca desenfreada do lucro, possivelmente não terão um ponto de retorno.

Nós apenas começamos a compreender que é necessário inventar uma nova ligação entre o Homem e a Natureza. Movido por uma paixão “ciosa, desbordante, absorvente” pela geologia e pelas origens do Homem, Teilhard de Chardin, durante muito tempo, se aventurou pelos vulcões de Auvergne, na França, pelos desertos do Egito, passando pelas estepes da Ásia, em busca do “por que” e do “como” da construção da Terra.

Ele se perguntava, depois da descoberta do “Homem de Pequim”, sobre a evolução da nossa espécie e sobre o lugar do Homem no Universo. Ele elaborou uma nova filosofia do progresso apoiada numa relação harmoniosa entre o Homem e a Natureza e redefiniu uma ética da solidariedade em escala planetária.

Primeiro país no mundo a incluir uma Carta do Meio Ambiente na sua Constituição, a França colocou esses valores de solidariedade e de responsabilidade ambiental no coração do seu próprio pacto social e, ao mesmo tempo, nos seus esforços na cena internacional.
Pelo seu engajamento, ela se funde às intuições de Pierre Teilhard de Chardin.

Ele pressentiu esta convergência que marca o nosso mundo, este aquecimento do Planeta sobre ele mesmo. Ele almejava um progresso da consciência, um caminhar da Humanidade na direção de uma maior solidariedade.
Aquilo que hoje denominamos de globalização, Teilhard de Chardin a percebeu como a expressão de uma unicidade do Planeta, afirmando a emergência mais do que necessária de uma consciência universal, de uma cidadania mundial.

Teilhard de Chardin desejava veementemente a implementação de um arco de sustentação no sistema mundial. Ele insistiu no sentido do papel preventivo de um âmbito internacional capaz de reagir de forma coletiva e solidária. Seu ideal de convergência conjuga os imperativos de hoje que amalgamam a exigência moral de dignidade e de eqüidade, a exigência da paz e da segurança, o interesse econômico e a preservação do futuro.

Essa proposta, materializada na criação da ONU lançaram as bases há 60 anos. Cada dia que passa, com a globalização em marcha, confirma a pertinência e a necessidade dela.

Com a reforma da ONU atualmente em curso; com a nossa proposta de criação de uma Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente; com a idéia lançada pelo nosso país em Monterrey de uma instância por uma melhor governança econômica e social da globalização, ela fez pacientemente o seu caminho.

Todas essas evoluções são obras para mais adiante: se sustentam no imperativo da solidariedade e na idéia de compartilhar; os nossos obstinados esforços no sentido de que a globalização signifique mais progresso e prosperidade para todos: tudo isso conflui para a premonição de um Teilhard de Chardin.

Eu não tenho dúvida da felicidade que ele sentiria hoje ao perceber tanta energia se mobilizando; de ver uma consciência planetária emergindo e tomando forma com o desejo de estabelecer uma governança política mundial, com a afirmação dos valores universais e o estabelecimento de regras em escala planetária.

Fonte:
Revista ECO-21-PUC-Rio
http://www.clfc.puc-rio.br/pdf/fc12.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teilhard_de_Chardin
http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp?ID=1113
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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